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Veiga Valle

JOSÉ JOAQUIM DA VEIGA VALLE
(67 anos)
Escultor, Dourador, Pintor e Político

* Arraial da Meia Ponte (Atual Pirenópolis), GO (09/09/1806)
+ Goiás (Cidade de Goiás ou Goiás Velho), GO (29/01/1874)

José Joaquim da Veiga Valle, em geral conhecido simplesmente por Veiga Valle, foi um artista plástico pouco comentado nos livros de História da Arte do Brasil, cujo trabalho de apurado estilo artístico merece, sem dúvida, maior atenção por parte dos estudiosos da arte produzida nesse país tão rico e vasto de diversidade e sincretismo cultural que é o Brasil.

Nascido em Arraial da Meia Ponte, atualmente Pirenópolis, GO, de família simples, mas de projeção local (seu pai exercia várias atividades políticas, religiosas e comerciais), quase nada se sabe sobre sua infância e adolescência. Não frequentou ensino formal e acredita-se que tenha começado a conceber sua obra no fértil ambiente artístico e religioso em que vivia.

José Joaquim da Veiga Valle nos legou grande acervo de esculturas, hoje catalogadas em torno de trezentas peças, produzidas em meio ao sertão do cerrado, isolado das principais escolas artísticas do país.

Seguindo as inúmeras atividades do pai, em 1833 entrou para a Irmandade do Santíssimo Sacramento e, em 1837, foi eleito vereador da cidade. Mudou-se para a cidade de Goiás em 1841, a convite do então presidente da Província, José Rodrigues Jardim, com a função de dourar os altares da matriz da capital. Hospedado na casa do presidente, Veiga Valle casou-se no mesmo ano com a filha desse, Joaquina Porfíria Jardim, com quem teve oito filhos.

Em Goiás iniciou os trabalhos que mais tarde o fariam ser reconhecido como maior escultor da região. Trabalhava quase sempre com madeira cedro, que é macia, cheirosa e de grande durabilidade. Suas esculturas eram feitas em partes separadas, que depois eram encaixadas. A delicadeza de detalhes, proporções reais e impressão de movimento das esculturas são algumas das características de sua obra.

Esculpiu uma enorme variedade de santos, a maioria encomendada pelos moradores da cidade. Os mais populares eram as Madonas (representações de Nossa Senhora), Meninos Jesus, Santo Antônio e São José de Botas, padroeiro dos bandeirantes e desbravadores. Fiel seguidor da estética cristã, fez apenas uma obra profana: um nu artístico, inacabado, que mede 25 cm. Produziu de 1820 a 1873, provavelmente com ajuda de seu filho Henrique, única pessoa a quem transmitiu seus conhecimentos.

"A obra de Veiga Valle é singular por seus aspectos formais e históricos. Suas imagens são eruditas e aparentemente anacrônicas. No século XIX, a província de Goiás não passa de mera 'expressão geográfica' sem peso maior na cultura do Império. Veiga Valle é a sua manifestação isolada: uma arte que recebe a marca do extemporâneo quando referida a um modelo abstrato de estilo."
(Heliana Angotti Salgueiro "A Singularidade da Obra de Veiga Valle" - 1983, p. 25)

Suas imagens podem ser reconhecidas facilmente: a característica de seu estilo, formas e cores é singular, inconfundível, escapa à arte anônima serial que existe na estatuária religiosa. São marcadas por soluções muito particulares, tanto da técnica - desenho, cromatismo, acabamento - quanto da expressividade - fisionomia e gestualidade.

Veiga Valle é o mais destacado artista que viveu em Goiás no século XIX. Há registros de outros artistas, como o pintor Alferes Bento José de Souza, de 1782, anterior a Veiga Valle; passou dezessete anos no local, confeccionando retábulos para igrejas. Há registro de que, no fim do século XIX, o pintor André Antônio da Conceição foi à Cidade de Goiás para pintar o forro da Igreja São Francisco de Paula. Benevenuto Sardinha da Costa foi outro pintor que executou painéis documentados no Museu das Bandeiras, na mesma cidade. Dentre esses artistas, o que maior destaque obteve foi Cândido de Cássia Oliveira, professor de desenho de ornatos e figuras no Liceu de Goiás, em 1872, escultor e profundo admirador da obra de Veiga Valle.

Santa Bárbara - Acervo do Museu de Arte Sacra da Igreja da Boa Morte, Cidade de Goiás
Influências Artísticas

Pouco se sabe a respeito da iniciação artística de Veiga Valle, mas o mais provável é que tenha recebido ensinamentos do padre Manuel Amâncio da Luz. Não há relatos que comprovem os dotes artísticos do padre, e o que se nota é que o aluno superou seu mestre.

Em uma época em que o interior do Brasil encontrava-se totalmente isolado das principais correntes e produções culturais, o acesso aos meios de comunicação era bastante difícil. Desta feita, eram raros os livros, gravuras, desenhos e pinturas em Goiás.

Há registros de que Veiga Valle nunca saiu do interior do Estado, desta forma as fontes de sua inspiração artística foram, sobretudo, as imagens sacras que chegavam de Portugal, do Rio de Janeiro ou da Bahia, em direção às igrejas e oratórios particulares. Haviam também outros ornamentos, como altos-relevos na prataria portuguesa, baiana e carioca que enfeitavam as igrejas, identificados como folhas de acanto, conchas, guirlandas, treliças ou guilhochês, elementos presentes também em algumas de suas obras.

Outras fontes podem ser as porcelanas importadas, os bordados dos paramentos religiosos e da indumentária litúrgica vindas de Portugal, França e Itália, e também os livros de preces e devoção, as Bíblias ilustradas. Desta forma, mantinha contato com a iconografia religiosa, as simbologias e códigos canônicos. Como se pode notar, era vasta sua fonte de inspiração, somando-se a isso um gênio de intensa criatividade, apurado rigor técnico e refinado senso estético.

O professor Bruno Correia Lima, em seu livro "O Genial Santeiro em Goiás", diz que:

"a par de sua extraordinária sensibilidade artística, deve ter sofrido influência também das produções neoclássicas do ambiente em que viveu (…). Provavelmente apoiou-se nos santos existentes, pelo menos quanto à indumentária e simbolismo, além da natural obediência que os artistas devem ter à iconografia cristã."
(
Elder Camargo de Passos "Veiga Valle: Seu Ciclo Criativo" - 
1997, p. 117)

"Veiga Valle é artista do Império. Não obstante, sua escultura é ambivalente: pautando-se por padrões estilísticos do Neoclassicismo, é moderna; prolongando a codificação barroca, está aparentemente deslocada. Singular porque trabalha isolado, desprovido do apoio de prática anterior e local, é escultor de vulto: dominando dois estilos, não raro os combina numa única imagem ( … ) Erudita, não é extemporânea a obra de Veiga Valle. Não é por ser realizada em província estagnada e distante que o seu barroco pode receber o apelativo tardio."
(Heliana Angotti Salgueiro "A Singularidade da Obra de Veiga Valle - 1983, p. 19)

São Miguel Arcanjo - Madeira policromada. Acervo do Museu de Arte Sacra da Igreja da Boa Morte, Cidade de Goiás.
A Técnica

A execução de imagens pode ser dividida em três etapas distintas: primeiro, a estrutura ou o suporte, que são a madeira e o entalhe; segundo, uma base intermediária entre a madeira e a capa de douração e pintura: o aparelho; e por fim a douração, a policromia e o esgrafiado. A separação entre os ofícios de entalhador, dourador e pintor foi menos efetiva no Brasil do que em Portugal, pois como se pode perceber, Veiga Valle ocupava-se de todas as etapas do processo.

Ele esculpia, principalmente, em madeira cedro, pois a considerava macia, cheirosa e de grande durabilidade, mas utilizou também o bálsamo e o jatobá. A madeira era abatida na lua minguante, época em que a seiva encontra-se recolhida na raiz, para evitar a incidência de caruncho. Depois os troncos permaneciam em repouso por cerca de oito meses na sombra, quando eram cortados em tamanhos diversos e então passavam por um processo rudimentar de imunização, cozidos em tacho de cobre, em água misturada a vários vegetais, com o objetivo de retirar as resinas restantes e proporcionar maior dilatação dos poros da madeira, tornando-a mais resistente ao clima árido do cerrado. Após a secagem dos cepos, iniciava-se o processo escultórico.

As suas imagens não se constituíam, na sua maioria, de peças inteiriças: os membros eram esculpidos separadamente e depois encaixados. Após o término do talhe, a peça era preparada para a carnação e a policromia. As falhas na madeira eram cobertas com camadas de gesso e cola à base de clara de ovo ou boldo africano. Após a fase de aplicação e polimento do aparelho, colocava-se o "bolo armênio" ou "francês": óxido de ferro hidratado. Todas as misturas, tintas, colas e banhos eram preparados pelo artista.

Fazia o douramento com folhetas de ouro e prata importados da Alemanha ou vindas do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. A douração e a prateação eram feitas pelo mesmo processo, em que as folhas eram espanejadas com uma broxa fina. Após a secagem fazia-se a brunidura, depois envernizava-se para evitar a oxidação. A fixação das folhetas era feita nos mantos, véus e camisolas, porém algumas de suas peças são totalmente douradas.

A próxima etapa é a pintura, ou policromia, por cima da douração. A pigmentação de sua paleta se compunha de materiais naturais, em maior parte; em menores quantidades, importada da Europa.

Da vegetação - urucum, ruibarbo, açafrão, resinas, etc. - extraía cores como amarelo e vermelho, um pouco de azul e muito raramente o verde. Os matizes eram obtidos pela mistura dos pigmentos. Alguns animais eram usados como fonte de corantes, como um inseto chamado cochonilha, que dá um tom escarlate brilhante, ou moluscos de tom sépia e púrpura. Os corantes minerais mais empregados foram o óxido de ferro, de cor vermelho-escuro, popularmente conhecido como sangue-de-boi, ou terra de cor amarela, violeta e vermelha. Alguns tons mais raros na natureza, como matizes de verde e azul, eram trazidas do Rio de Janeiro: tintas importadas da Europa, uma vez que não haviam, ainda, indústrias no país.

Após a aplicação da tinta na imagem dourada, segue-se para a ornamentação: o esgrafiado ou estofamento. Os desenhos são feitos com o esgrafito, um tipo de estilete, retirando a camada externa de tinta seca e deixando em evidência a camada interna, o "pão-de-ouro" brunido, revelando os ornamentos feitos do contraste entre a pigmentação e o dourado.

No esgrafiado o artista compõe desenhos de traços finos regulares e contínuos, caracteristicamente rococó, onde se observam os buquês de flores, medalhões ovais, volutas, formas de conchas, folhas de acanto, palmas. Há ornamentos planos e em alto relevo, que remetem a trabalhos de ourivesaria, com fineza de execução.

A carnação é o nome dado ao tom de pele que se colocava nas partes descobertas do corpo, como o rosto, braços, mãos, pés e pernas. Os olhos, em uma fase mais avançada, passaram a ser feitos de vidro. A última etapa era o envernizamento. Os vernizes eram feitos de resinas, gomas ou bálsamos em álcool, terebintina ou óleo de linhaça.

São Joaquim com bastão - Madeira policromada
O Estilo

Podemos observar a influência Veiga Valle em outros artistas. Mas, ao que tudo consta, não teve alunos em sua oficina: ele trabalhava sozinho, ou provavelmente com a ajuda de seu filho Henrique.

Sua obra caracteriza-se, sobretudo, pela produção de imagens sacras, que eram produzidas por encomenda da igreja e de particulares. O artista atendia não só ao público local como também recebia encomendas de outros estados. Os santos que esculpia variavam de acordo com o gosto de cada cliente. As imagens de maior destaque eram as madonas, que eram representadas por Nossa Senhora da ConceiçãoNossa Senhora D’AbadiaNossa Senhora dos RemédiosNossa Senhora das DoresNossa Senhora da PenhaNossa Senhora do Bom PartoNossa Senhora das MercêsNossa Senhora da GuiaNossa Senhora do CarmoNossa Senhora do Rosário, etc.

O acervo levantado por Elder Passos comprova que as imagens de Nossa Senhora da ConceiçãoNossa Senhora D’Abadia eram as de maior devoção popular. Segundo o autor, a madona é, por si, um tema barroco por excelência. Os santos são personagens históricos ou legendários, enquanto que a virgem é um ser celestial, de transcendência pura, elevando a devoção ao nível da comunhão com o transcendente, com Deus.

Esse é o traço mais marcante da produção denominada barroca: a supremacia da igreja católica, haja vista que a arte barroca se caracteriza sobretudo pelo tema religioso. Por meio da riqueza e profusão de cores e imagens presentes nas igrejas, atraíam-se os fiéis em busca da salvação. Quando se fala de arte barroca no Brasil estamos, necessariamente, remetendo à arte sacra.

Com uma breve descrição das imagens de Nossa Senhora, observem-se algumas das principais características de Veiga Valle. No ápice da imagem, véu esvoaçante decorado com flores, estrelas, pontos, etc, na beirada dos mantos, como acabamento aparece uma tarja dourada com cunhos de baixo-relevo, emoldurando cabelos castanhos repartidos ao meio. Sobre os ombros, um xale ornado em listras de várias cores e dourado. As túnicas que cobrem as peças prendem-se à cintura com faixas ou cintos decorados com motivos florais variados. Os espaços vazios são preenchidos com linhas horizontais, verticais, transversais, côncavas, de acordo com a dobra do tecido e sua inventividade.

Conforme o tamanho da peça, eram variáveis a decoração e os ornamentos. As peças maiores apresentam túnica com larga faixa desenhada em alto relevo feito de gesso com douramentos. As mangas do vestuário embaixo da túnica são visíveis entre o cotovelo e o punho, de cores e desenhos contrastantes com a tonalidade suave e homogênea da túnica, geralmente em tom rosa-forte com xadrez dourado. As mangas da túnica têm contorno verde metálico. Vendo-se a peça de frente, observa-se a frente e o verso dos mantos, com o verso em tom mais forte criando contraste e dando destaque à beleza do conjunto. A imagem está pisando, geralmente, numa esfera de cor azul-marinho, com aplicações de cabeças de querubins com asas.

O seu período de atividade artística compreendeu a época entre 1820 e 1873. Veiga Valle teve que interromper a produção de suas obras em decorrência da doença que o abalou, vindo a falecer alguns meses depois, aos 68 anos, em 29 de janeiro de 1874, na Cidade de Goiás.

Nas comemorações do centenário de morte, sua sepultura foi transferida para o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, onde está exposta boa parte de sua obra.

Imaginário erudito, profundo conhecedor de anatomia, iconografia, valores espaciais, entalhadura, douração, pintura, esgrafiado e dos segredos dos materiais, se o artista não frequentou escolas, isso não o fez menos genial, e a expressão de sua sensibilidade artística é fato comprovado pelo legado de sua obra.

Até o ano de 1940 a arte de Veiga Valle permaneceu no anonimato, e as suas obras eram conhecidas apenas nas igrejas e oratórios em Goiás e Mato Grosso, onde muitas vezes seus proprietários ignoravam o valor artístico de suas peças. Foi quando apareceu em Goiás o artista plástico João José Rescala, que conheceu o trabalho do escultor e ficou admirado pela qualidade das peças. Teve então a iniciativa de organizar a primeira exposição da obra de Veiga Valle, realizando uma catalogação de grande parte do acervo. A partir de então a arte de Veiga Valle começou a se difundir entre os historiadores de arte, realizaram-se exposições e foram editados artigos em revistas e livros, alguns dos quais são utilizados como fonte deste trabalho.

O que se pode observar é que as pesquisas sobre a imaginária brasileira ainda estão incompletas. Há com certeza um rico patrimônio artístico a ser ainda descoberto e estudado, para que se possa ter um panorama cada vez mais abrangente da variedade artística e cultural existente do Brasil.

Fonte: Biapó e Wikipédia

Almeida Júnior

JOSÉ FERRAZ DE ALMEIDA JÚNIOR
(49 anos)
Pintor e Desenhista

* Itu, SP (08/05/1850)
+ Piracicaba, SP (13/11/1899)

José Ferraz de Almeida Júnior foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.

Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato.

O Dia do Artista Plástico Brasileiro é comemorado a 8 de maio, data de nascimento do pintor.

Caipira Picando Fumo
A Formação de Almeida Júnior

Almeida Júnior cresceu em sua cidade natal, Itu, como artista precoce. Seu primeiro incentivador foi o padre Miguel Correa Pacheco, quando o pintor ainda trabalhava como sineiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, para a qual produziu algumas obras de temática sacra. Uma coleta de fundos organizada pelo padre forneceu as condições para que o jovem artista, então com 19 anos de idade, pudesse embarcar para o Rio de Janeiro, a fim de completar seu estudo.

Em 1869, Almeida Júnior encontrava-se inscrito na Academia Imperial de Belas Artes. Foi aluno de Jules Le Chevrel, Victor Meirelles e, possivelmente, Pedro Américo. Diversas crônicas relatam que seu jeito simplório e linguajar matuto causavam espanto aos membros da Academia Imperial de Belas Artes. Nas palavras de Gastão Pereira da Silva:

"Era o mais autêntico e genuíno representante do tradicional tipo paulista. Mas sem nenhum traquejo de homem de cidade. Falava como os primitivos provincianos e tal qual estes vestia-se, andava, retraía-se. Mas isso não impediria que fizesse um curso brilhantíssimo, durante o qual recebeu diversas premiações em desenho figurado, pintura histórica e modelo vivo, inclusive, em 1874, a grande medalha de ouro com o quadro Ressurreição do Senhor."
(Gastão Pereira da Silva)

Após concluir o curso, Almeida Júnior optou por não concorrer ao prêmio de viagem à Europa. Retornou a Itu e abriu ateliê nessa cidade, passando a trabalhar como retratista e professor de desenho.

O Derrubador Brasileiro
O Pintor Em Paris

Em 1876, durante uma viagem ao interior paulista, o Imperador Dom Pedro II, impressionado com seu trabalho, ofereceu pessoalmente a Almeida Júnior o custeio de uma viagem a Europa, para aperfeiçoar seus estudos. No ano seguinte, um decreto de 23 de março da Mordomia da Casa Imperial abriu um crédito de 300 francos mensais para que o pintor fosse estudar em Roma ou Paris.

Em 4 de novembro de 1876, Almeida Júnior embarcou no navio Panamá rumo à França, fixando residência no bairro parisiense de Montmartre. No mês seguinte, matriculou-se na École National Supérieure des Beaux-Arts. Nesta instituição, foi aluno de Alexandre Cabanel e de Lequien Fils, notabilizando-se, desde muito cedo, em desenho anatômico e de ornamentos.

Almeida Júnior participou de quatro edições do Salon de Paris, entre 1879 e 1882. É desse período que datam algumas de suas maiores obras-primas, como "O Derrubador Brasileiro" e "Remorso de Judas" (Salon de 1880), "A Fuga Para o Egito" (Salon de 1881) e "O Descanso do Modelo" (Salon de 1882). Outras obras emblemáticas do período francês do pintor são "Arredores de Paris" e "Arredores do Louvre", além de, possivelmente, um conjunto de dezesseis telas retratando o bairro de Montmartre, cuja localização é atualmente desconhecida.

Almeida Júnior permaneceu em Paris até 1882. Nesse ano, fez uma breve viagem à Itália, onde teve contato com os irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli.

Leitura
A Consagração No Brasil

De volta ao Brasil em 1882, Almeida Júnior realizou sua primeira mostra individual na Academia Imperial de Belas Artes, exibindo sua produção parisiense. No ano seguinte, abriu seu ateliê na Rua da Glória, em São Paulo, por meio do qual iria contribuir para a formação de novas gerações de pintores, dentre os quais, Pedro Alexandrino.

Em São Paulo, Almeida Júnior promoveu vernissages exclusivas para a imprensa e potenciais compradores. Executou retratos de barões do café, de professores da Faculdade de Direito de São Paulo e de partidários do movimento republicano, além de paisagens e pinturas de gênero. Sua atuação como artista consagrado em São Paulo contribuiu decisivamente para o amadurecimento artístico da capital paulista.

Em 1884, expos novamente suas telas do período parisiense na 26ª Exposição Geral de Belas Artes da Academia Imperial de Belas Artes que foi a última e certamente a mais importante exposição realizada no período imperial. Por ocasião de seu envio, o crítico de arte Duque Estrada, teceria o seguinte comentário:

"Almeida Júnior é o mais pessoal e, sem dúvida, um dos que melhor sabem expressar, com toda clareza e nitidez de um estilo à Breton, os assuntos tomados de improviso a uma página da Bíblia, da História, ou simplesmente da vida de todos os dias e de todos os homens."
(Luiz Gonzaga Duque Estrada)

Em 1884, o pintor recebeu o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, concedido pelo governo imperial. No ano seguinte, recusou o convite de Victor Meirelles para ocupar sua vaga de professor de pintura histórica da Academia Imperial de Belas Artes, permanecendo em São Paulo. Entre 1887 e 1896, realizou outras três viagens à Europa, a última delas em companhia de seu discípulo, Pedro Alexandrino, então agraciado com uma bolsa de estudos do governo paulista.

No seu último período, Almeida Júnior iria progressivamente substituir os temas bíblicos e históricos pelas obras de temática regionalista, justamente as que lhe granjeariam no futuro sua posição de precursor do Realismo na história da arte brasileira. Em pinturas como "Caipira Picando Fumo" (1893), "Amolação Interrompida" (1894) e "O Violeiro" (1899), o artista revela seu desejo de aproximar-se do cotidiano do homem do interior, distanciando-se das fórmulas generalistas da pintura acadêmica e aproximando-se cada vez mais da abordagem pictórica naturalista. Não obstante sua nova orientação estilística, seu prestígio permaneceu inconteste na Academia Imperial de Belas Artes, que expos obras de sua fase regionalista, "Leitura" e "Piquenique no Rio das Pedras" (1892), e lhe concedeu a medalha de ouro por "A Partida da Monção" (1894), exposta no Salão de 1898.

Auto Retrato
O Assassinato

Almeida Júnior morreu precocemente, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899. Foi apunhalado em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura do Amaral Gurgel, com quem o pintor manteve um relacionamento secreto por vários anos.

Principais Obras

Almeida Júnior é considerado um importante "pintor do nacional" por uma parcela da crítica brasileira, por retratar em muitas de suas obras o caipira paulista. Também a forma como trata seus temas, distanciando-se das alegorias românticas ou do ufanismo nacionalista histórico dos pintores da Academia Imperial de Belas Artes, aproximando-se do ser humano comum, leva alguns críticos a traçarem uma semelhança de sua obra com a do pintor francês Gustave Courbet, artista cuja obra Almeida Júnior teria visto em suas viagens para a Europa. Também é digno de nota que na mesma época que Almeida Júnior esteve na França, o movimento impressionista estava em plena atividade, no entanto, não causou nenhum entusiasmo no pintor brasileiro, que não adotou nenhum elemento dele.

O clareamento da paleta e a adoção da luz brasileira não o fizeram abandonar, no entanto, o rigor acadêmico com o desenho e a anatomia.

Algumas pinturas de Almeida Junior são: "Caipira Picando Fumo", "A Partida da Monção", "Caipiras Negaceando", "O Descanso do Modelo", "Leitura", "A Pintura (Alegoria)" e "A Fuga Para o Egito".

O tema "O Descanso do Modelo" foi pintado quatro vezes em diferentes tamanhos. "Caipira Picando Fumo", duas. "A Partida da Monção" foi pintada duas vezes, uma como estudo, presente na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e outra, a versão definitiva, presente no Museu Paulista por empenho do diretor Afonso de Taunay que entendia imprescindível ter aquela obra na Instituição.

Fonte: Wikipédia

Darcy Penteado

DARCY PENTEADO
(61 anos)
Desenhista, Artista Plástico, Pintor, Escritor, Cenógrafo, Figurinista, Autor Teatral e Militante do Movimento LGBTTTs

* São Roque, SP (1926)
+ São Paulo, SP (02/12/1987)

Distinguindo-se sempre pelos elegantes desenhos a bico de pena, trabalhou primeiro em publicidade e como figurinista, ilustrando revistas de moda, passando logo a trabalhar em teatro, como figurinista e cenógrafo, tendo participado, na década de 1950, do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).

Participou de inúmeras exposições, ilustrou livros e foi uma figura presente na cena cultural da cidade de São Paulo entre a década de 1950 e década de 1980. Foi reconhecido em Nova York como um dos dez melhores retratistas do mundo.


Em 1973 participou da XII Bienal com um audiovisual que propunha uma tese em termos estéticos contra a violência e a intolerância. Nesse ano foi produzido um filme documentário de curta metragem intitulado "Via Crucis Segundo Darcy Penteado".

Em 1976 publicou o seu primeiro livro de contos "A Meta" e a partir desse mesmo ano iniciou o ativismo na luta contra a discriminação aos homossexuais. Participou ativamente, durante os anos de repressão da ditadura militar, do jornal O Lampião, publicação pioneira para os gays brasileiros, ativo na defesa dos direitos dos homossexuais.


Por anos Darcy carregou sozinho a bandeira dos homossexuais no Brasil. Foi dele, ainda no início da década de 1980, a primeira tentativa de arrecadação de fundos em benefício da pesquisa sobre a AIDS no Brasil, através de um leilão. Apesar de desiludido com os resultados, participou de diversas campanhas de conscientização da doença. Gravou uma chamada para a televisão, de alerta ao público.

Na literatura, Darcy Penteado ilustrou o primeiro livro de Jorge Amado, "O País do Carnaval" e "Navegação de Cabotagem".

Darcy Penteado faleceu em dezembro de 1987, aos 61 anos vitimado pela AIDS.

Atualmente, suas obras podem ser vistas no museu mantido pelo Centro Cultural Brasital, no município de São Roque, em São Paulo.


Em frente a entrada principal do Edifício Copan, na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Major Sertório, centro de São Paulo, existe ali uma praça com o nome de Praça Darcy Penteado. Uma justa homenagem a este pioneiro no combate à intolerância.

Para finalizar, uma frase de Darcy Penteado escrita em uma de suas obras de 1985:

"Subsistir apenas, não basta. É preciso dignificar a vida!"
(Darcy Penteado)

Fonte: Blog Grisalhos e Wikipédia

Bajado

EUCLÍDES FRANCISCO AMÂNCIO
(83 anos)
 Artista Plástico, Chargista, Letreirista, Cartazista e Pintor de Quadros e Murais 

* Maraial, PE (09/12/1912)
+ Olinda, PE (15/11/1996)

Euclides Francisco Amâncio, artista plástico, chargista, letreirista, cartazista, pintor de quadros e murais, conhecido mundialmente como Bajado, nasceu no dia 9 de dezembro de 1912, no município de Maraial, no Estado de Pernambuco.

O apelido Bajado surgiu na infância por causa de uma brincadeira, durante um jogo de bicho, seu passatempo preferido.

Bajado mudou-se para Catende, outro município pernambucano, ainda adolescente, indo trabalhar como ajudante e pintor de cartazes de filmes de faroeste, onde ficou até 1930.

Quatro anos depois, foi morar no Recife, onde arranjou um emprego como letreirista de cartazes e operador de máquina do Cine Olinda, função que exerceu até 1950.

Nas horas vagas pintava letreiros, fachadas e interiores de lojas comerciais, restaurantes e botequins, ornamentando-os com figuras ou compondo painéis e quadros.


O artista prestou uma grande homenagem ao bloco carnavalesco Donzelinhos dos Milagres que estava encerrando, para sempre, os seus festejos de carnaval, pintando na parede de sua sede os versos: "O mar que levou a praia, levou também Donzelinhos."

O gosto pela arte se manifestou quando Bajado retratou os clubes carnavalescos de Olinda, Pernambuco, Pitombeira dos Quatro Cantos, Elefante, O Homem da Meia-Noite, Cariri, Vassourinhas, assim como o frevo rasgado na Ribeira, Largo do Amparo, Varadouro, Praça do Carmo.

Em 1964, junto com alguns amigos de profissão, inaugurou o Movimento de Arte da Ribeira, em Olinda, onde passou a expor seus trabalhos.


Dentre uma mistura de cores e tintas, Bajado foi capaz de reproduzir inúmeras telas sobre a vida cotidiana, o sofrimento, as emoções e a cultura do povo pernambucano.

O artista possuía um temperamento calmo e brincalhão. Fluiu na arte, com a simplicidade de um homem humilde. Era considerado um artista primitivo, inserido no estilo da arte contemporânea. Sua tendência artística era a liberdade de estética, comum na arte moderna, e suas obras retratavam tanto os folguedos carnavalescos, como também reverenciavam políticos e personalidades ilustres da sociedade pernambucana: Agamenon Magalhães, o presidente Jânio Quadros, o general Teixeira Lott, entre outros.

Na década de 1970, um turista italiano, Giuseppe Baccaro, ao ver as suas pinturas e quadros a óleo expostos nas residências e estabelecimentos comerciais de Olinda, ficou impressionado diante do primitivismo artístico do pintor que assinava da seguinte maneira as suas obras: "Bajado um artista de Olinda". Contactando-o, lançou-se como divulgador e administrador dos seus trabalhos.

Bajado (Acervo: www.onordeste.com)
Em decorrência disso, alguns meses depois, começaram a aparecer as suas primeiras exposições e mostras no Recife, na Casa da Cultura, na Fundação Joaquim Nabuco, na Caixa Econômica Federal, no Lions Club, no Cabanga Iate Clube.

Novas oportunidades continuaram a surgir, desta vez para o artista expor em outras capitais brasileiras como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Vitória. Do exterior, Bajado recebeu vários convites para ir apresentar as suas obras. Neste sentido, iniciou pela França uma maratona artística, passando pela Itália, Espanha, Holanda e Tchecoslováquia, atual República Tcheca.

Em 1994, no limiar dos 80 anos, Bajado foi homenageado com uma mostra internacional na sede da Unesco, em Paris, com a participação de diversos artistas internacionais.

Contido, apesar da sua fama e do seu talento artístico, ele sempre viveu humildemente. Tinha como o maior prazer da vida a expressão da sua arte primitiva, a alegria do seu povo.


Bajado passou seus últimos dias assistindo filmes antigos na televisão e recordando as peripécias da sua mocidade. O artista plástico, faleceu em 1996, aos 83 anos de idade, em sua residência localizada na Rua do Amparo, nº 186, em Olinda, imóvel este que lhe foi doado por  Giuseppe Baccaro, o seu marchand italiano.

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais e Machado, Regina Coeli Vieira. Bajado. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Acesso em: 13 out. 2012.
Indicação: Gilson Oliveira

Anita Malfatti

ANITA CATARINA MALFATTI
(74 anos)
Pintora, Desenhista, Gravurista e Professora

* São Paulo, SP (02/12/1889)
+ São Paulo, SP (06/11/1964) 

Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de mãe norte-americana Betty Krug, Anita Malfatti nasceu no ano de 1889, em São Paulo. Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita. Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita Malfatti teve que carregar essa deficiência pelo resto da sua vida. Voltando ao Brasil, teve a sua disposição Miss Browne, uma governanta inglesa, que a ajudou no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte e da escrita.

Iniciou seus estudos em 1897 no Colégio São José de freiras católicas, situado à Rua da Glória. Aí foi alfabetizada. Posteriormente passou a estudar em escolas protestantes: na Escola Americana e em seguida no Mackenzie College onde, em 1906, recebeu o diploma de normalista.


Surge a Pintora

Nesse meio tempo faleceu Samuel Malfatti, esteio moral e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Dona Betty Krug passa a dar aulas particulares de idiomas e também de desenho e pintura. Chegou a submeter-se à orientação do pintor Carlo de Servi para com mais segurança ensinar suas discípulas. Anita Malfatti acompanhava as aulas e nelas tomava parte. Foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.

"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade (...) Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura."
(Anita Malfatti)

Anita Malfatti  -  "A Estudante"
Alemanha

Anita Malfatti pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do pai, parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama e sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.

Anita Malfatti tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que iam viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou financiar a viagem.

Anita Malfatti e as Shalders chegaram em Berlim em 1910, ano marcante na história da Arte Moderna Alemã.

"Os acontecimentos precipitavam-se tão depressa, que eu me lembro de ter vivido como dentro de um sonho. Nada do que acontecia se assemelhava com o que havia acontecido no Brasil."

"Comprei incontinente uma porção de tintas, e a festa começou."
(Anita Malfatti)

Berlim era então o grande centro musical da Europa. O grupo Die Brucke fazia diversas exposições expressionistas e foi na Alemanha que Anita Malfatti travou contato com a vanguarda europeia. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, acabou recebendo a sugestão para estudar no ateliê do artista Fritz Burger.

Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica impressionista. Foi o primeiro mestre de Anita Malfatti. Ao mesmo tempo, ela prestou os exames para ingressar na Real Academia de Belas Artes o que efetivamente aconteceu no início do ano letivo.

Durante as férias de verão, Anita Malfatti e as amigas foram às montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos, incluindo-se o até hoje tão admirado Van Gogh.

Teve aulas também com Lovis Corinth nome bem mais conhecido do que seu primeiro mestre. Lovis Corinth, um tipo bem germânico, não tinha a menor paciência com seus alunos. Mas com Anita Malfatti era diferente. Talvez porque se identificasse com ela. Alguns anos antes sofrera um AVC que, como sequela, tal como a aluna, lhe deixara alguma dificuldade motora na mão direita.

Anita Malfatti estava cada vez mais interessada pela pintura expressionista, desejava aprender sua técnica. Em 1913, iniciou aulas com o professor Ernest Bischoff Culm da mesma escola de Lovis Corinth.

Com a instabilidade causada pela aproximação da guerra, Anita Malfatti resolveu deixar Berlim, antes passando por Paris.

Anita Malfatti  -  "A Boba"
1914 - Primeira Exposição Individual

"Voltando ao Brasil, só me perguntavam pela Mona Lisa, pela glória da Renascença, e eu… nada."

"Minha família e meus amigos, eram de opinião de que eu deveria continuar meus estudos de pintura. Achavam meus quadros muito crus, mas, felizmente, muito fortes, o que prometia para o futuro uma pintura suave, quando a técnica melhorasse."
(Anita Malfatti)

São Paulo, 1914, Anita Malfatti tinha 24 anos e, com mais de quatro anos de estudo na Europa, finalmente voltava para o seio familiar. A cidade crescia, mas o ambiente artístico ainda era incipiente, o gosto predominante ainda era pela arte acadêmica. Ao mostrar suas obras - nada acadêmicas - Anita Malfatti tentava explicar os avanços da arte na Europa, onde os jovens haviam levado às últimas consequências as conquistas vindas do impressionismo.

Anita Malfatti ainda continuava firme no desejo de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho.

O senador José de Freitas Valle foi visitar essa exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não gostou das obras de Anita Malfatti, chegando a criticá-las publicamente. Entretanto, independentemente da opinião do senador, a bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa, fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez, financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita Malfatti embarcou para os Estados Unidos.

Anita Malfatti  -  "O Farol"
Estados Unidos

"Aí começa o período maravilhoso de minha vida. Entrei na Independent School of Art de Homer Boss, quase mais filósofo que professor. (…) O maior progresso que fiz na minha vida foi nesta ilha e nesta época de ambientes muito especiais. Eu vivia encantada com a vida e com a pintura."

" Era a poesia plástica da vida, era festa da forma e era a festa da cor."
(Anita Malfatti)

No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em Nova York e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita Malfatti ia de um professor a outro na tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos. Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso de pintura ou desenho nessa instituição por demais conservadora, reservando-a apenas para os estudos de gravura. Trazendo em sua pintura a marcas do expressionismo, dificilmente Anita Malfatti conseguiria adaptar-se a uma academia de ensino tradicional. Sobre sua experiência na instituição, escreveria de forma lacônica, mas muito claramente:

"Fui aos Estados Unidos, entrei numa academia para continuar meus estudos, e que desilusão! O professor foi ficando com raiva de mim, e eu dele, até que um dia, a luz brilhou de novo. Uma colega me contou na surdina que havia um professor moderno, um grande filósofo, incompreendido e que deixava os alunos pintar à vontade. Na mesma tarde procuramos e professor, claro."

O tal professor da Independent School Of Art, era Homer Boss, artista hoje quase esquecido pelos estudiosos da arte norte-americana.

Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse estado litorâneo mais ao nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas. Foi nessa pitoresca ilha que a ainda não famosa aluna de Homer Boss pintou, entre outras, a belíssima paisagem intitulada "O Farol", uma de suas obras primas. Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916, preparava-se para voltar ao Brasil.

Anita Malfatti  -  "A Ventania"
De Volta ao Brasil

Em 1916, Anita Malfatti se encontrava de novo em casa, no aconchego familiar.

"Eram caixões de obras de arte, desenhos, gravuras e quadros de todos os tamanhos. Minha família e meus amigos estavam curiosos para ver meus trabalhos. Mas que efeito!"
(Anita Malfatti)

Nada daquilo que Anita Malfatti trazia dos Estados Unidos, se assemelhava à "pintura suave", nada daquilo esperado e imaginado por seus amigos e parentes. Sua força masculina, que causara estranheza na sua primeira individual em 1914, atingira o ponto máximo de exagero. Anita Malfatti inconscientemente, "rompera" com as regras da pintura acadêmica tão apreciada por seus parentes. A surpresa e a incompreensão foram inevitáveis. As obras que a pintora trouxe dos Estados Unidos, deixaram em sua família uma sensação tão grotesca, que o mal estar durou por anos. É fato que o assunto tornou-se "tabu" entre os membros da família e Anita Malfatti diria depois laconicamente:

"Quando viram minhas telas, todos acharam-nas feias, dantescas, e todos ficaram tristes, não eram os santinhos dos colégios. Guardei as telas."

Depois, seria mais específica, dizendo:

"Ficaram desapontados e tristes. Meu tio, Dr. Jorge Krug, que tanto interesse teve na minha educação, ficou muito aborrecido. Disse ele: 'Isto não é pintura, são coisas dantescas'"

A expressão "coisas dantescas", ficaria para sempre gravada na mente e no coração de Anita Malfatti. A incompreensão foi geral. Ela logo se deu conta do quanto suas telas, que traduziam sua alma, estavam distantes das do ambiente acadêmico que a rodeava. No mesmo depoimento de 1951, a pintora lembraria:

"Então, pela primeira vez em minha vida, comecei a entristecer-me pois estava certa de que meu trabalho era bom; tanto os modernos franceses como os americanos haviam dito espontaneamente, desinteressadamente. Só desejei esconder meus quadros, já que, para me consolar, ou outros acharam que eu podia pintar como quisesse. Eles estavam desconsolados, porque me queriam bem. Entretanto eu sabia que aquela crítica não tinha fundamento, especialmente porque estava dentro de um regime completamente emocional. Eu nunca havia imitado a ninguém; só esperava com alegria que surgisse, dentro da forma e da cor aparente a mudança; eu pintava num diapasão diferente e era essa música da cor que me confortava e enriquecia minha vida."
(Anita Malfatti)

Anita Malfatti  -  "A Onda"
1917 - Segunda Exposição Individual

Em 1917 Anita Malfatti resolveu promover sua segunda exposição individual.

"A exposição da senhorita Malfatti, toda ela de pintura moderna, apresenta um aspecto original e bizarro, desde a disposição dos quadros aos motivos tratados em cada um deles. De uma rápida visita ao catálogo, o visitante há de inteirar-se logo do artista que vai observar. Tropical e Sinfonia colorida, são nomes que qualquer pintor daria até a uma paisagem, menos a uma figura, como tão bem fez a visão impressionista de sua autora. Essencialmente moderna, a arte da senhorita Malfatti, se distancia consideravelmente dos métodos clássicos. A figura ressalta, do fundo do quadro, como se nos apresentasse, em cada traço, quase violento, uma aresta do caráter do retratado. A paisagem é larga, iluminada, quase sempre tocada de uma luz crua, meridiana, que põe em relevo as paredes alvas, num embaralhamento de vilas sertanejas, onde a minudência se afasta para a mais forte impressão do conjunto."

Os acontecimentos a partir da primeira semana se deram de forma tão rápida e surpreendente, que Anita Malfatti só se atreveria a narrá-los 34 anos depois:

"A princípio foram os meus quadros muito bem aceitos, e vendi, nos primeiros dias, oito quadros. Em geral depois da primeira surpresa, acharam minha pintura perfeitamente normal. Qual não foi a minha surpresa quando apareceu o artigo crítico de Monteiro Lobato."
(Anita Malfatti)

"Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura… Se Anita retrata uma senhora com cabelos geometricamente verdes e amarelos, ela se deixou influenciar pela extravagância de Picasso e companhia - a tal chamada arte moderna."
(Monteiro Lobato)

Após a crítica de Monteiro Lobato, publicada em O Estado de São Paulo, edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de "A Propósito da Exposição Malfatti", as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram destruídas a bengaladas; o artigo gerou uma verdadeira catilinária em artigos de jornais, contra Anita Malfatti. A primeira voz que se levantou em defesa da pintora, ainda que timidamente, foi a de Oswald de Andrade.

Num artigo de jornal, ele elogiou o talento de Anita Malfatti e parabenizou pelo simples fato dela não ter feito cópias. Pouco depois, jovens artistas e escritores, começando a entender aquele jeito de pintar e possuídos pelo desejo de mudança que as obras de Anita Malfatti suscitaram, uniram-se a ela, como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida.

Anita Malfatti iniciou estudos com o pintor acadêmico Pedro Alexandrino no ano de 1919, e também com o alemão George Fischer Elpons um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os mesmos professores.

Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado tanto, também faleceu e Anita Malfatti precisou buscar caminhos para vender suas obras. Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com muita facilidade seus trabalhos. Anita Malfatti buscou essa aproximação sendo sua aluna, embora muitas interpretações apontem para a versão de que ela o procurou para reestruturar sua pintura.

Seus biógrafos acreditam que o artigo de   Monteiro Lobato foi agressivo e até maldoso e que deixou marcas profundas na vida e na obra da artista. Mas, essa versão é contestada por alguns poucos, pois ao ler na íntegra a crítica de Monteiro Lobato, verificamos que o título original nunca foi "Paranoia ou Mistificação" e sim, "A Propósito da Exposição Malfatti", e em muitos trechos Anita Malfatti é elogiada pelo crítico. Mas o certo é que ela ficou arrasada com a crítica de Monteiro Lobato. Ficou magoada pelo resto da vida, mas não o suficiente para destruir sua força de mulher destemida e ousada.

Apesar da mágoa, Anita Malfatti ilustrou livros de Monteiro Lobato e na década de 40 participou de um programa na Rádio Cultura chamado "Desafiando os Catedráticos", juntamente com Menotti Del Picchia e Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio respondesse.


A Semana de Arte Moderna de 1922

Após a enorme confusão causada por Monteiro Lobato, a vida de Anita Malfatti começou a ter certa normalidade. O tempo que se seguiu após a exposição, foi de assimilação do novo, da percepção daquilo que até então não fora nem sonhado.

"Parece absurdo, mas aqueles quadros foram a revelação. E ilhados na enchente que tomara conta da cidade, nós, três ou quatro, delirávamos de êxtase diante de obras que se chamavam O homem amarelo, A mulher de cabelos verdes."

"Assisti bem de perto essa luta sagrada e palavra que considero a vida artística de Anita Malfatti um desses dramas pesados que o isolamento dos indivíduos apaga para sempre feito segredo mortal. O povo passa, povo olha o quadro e tudo neste mostra vontade e calma bem definidas. O povo segue seu caminho depois de ter aplaudido a obra boa sem saber que poder de miserinhas cotidianas maiores que o Pão de Açúcar aquela artista bebeu diariamente com o café da manhã."
(Mário de Andrade)

Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita Malfatti participou dela com 22 trabalhos.

"Recordo-me que no dia da inauguração, o velho conselheiro Antônio Prado, com grande espanto da comitiva, quis comprar meu quadro 'O Homem Amarelo', porém, Mário de Andrade acabava de adquiri-lo. A plantinha havia vingado."

"Foi a noitada das surpresas. O povo estava muito inquieto, mas não houve vaias. O teatro completamente cheio. Os ânimos estavam fermentando; o ambiente eletrizante, pois que não sabiam como nos enfrentar. Era o prenúncio da tempestade que arrebentaria na segunda noitada"

Anita Malfatti estava feliz entre o círculo modernista, uma vez que ele vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, entraria também para o comentado grupo dos cinco.

Anita Malfatti  -  "A Estudante Russa"
A Europa nos Loucos Anos 20

"Mário de Andrade lia uma conferência. Ao terminar a leitura, o Drº Freitas Valle num grande gesto levantou-se de seu trono e encaminhou-se para mim, o que me assustou de tal maneira que perdi o controle… Ele realmente chegou-se para junto de mim e disse mesmo de verdade que eu poderia embarcar para a Europa em viagem de estudos… - qualquer coisa me aconteceu, não sei se voei pelo telhado ou se afundei no chão… então surgiu uma dama, eu não a conhecia, que me reconfortou e rindo-se muito da minha confusão, afirmava ser aquilo verdade… Era Dona Olívia…"

Dessa forma, Anita Malfatti embarcava mais uma vez, em viagem de estudos para a Europa, ou melhor dizendo, para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o último e o mais longo período de Anita Malfatti fora do Brasil.

Em agosto de 1923, embarcando pelo vapor Mosella rumo à França, aquela jovem baixa, com o lenço displicentemente esquecido sobre a mão direita, tinha então 33 anos. Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da partida de Anita Malfatti, enviara-lhe o seguinte telegrama:

"Querida amiga choro de raiva automóvel maldito escrevo hoje contando minha saudade e desespero perdoa mil beijos nas tuas mãos divinas boa viagem felicidades. Mário. São Paulo-21-8-1923."

A guerra que perdurara por anos, pôs um ponto final aos hábitos e costumes da belle époque. Foi fatal também para o academismo. Agora seus antigos espaços eram ocupados pela arte moderna, que com grande vitória e sucesso se espalhara por todos os cantos e continuava em expansão acelerada nos salões, galerias e coleções. Há muito tempo, Paris atraia os artistas brasileiros - que eram e continuavam acadêmicos - mas agora, nesse 1923, o modernismo brasileiro estava em Paris, atualizando-se.

E Anita Malfatti estava lá, na tentativa incansável de encontrar-se. Apesar das muitas dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, Anita Malfatti não deixou de trabalhar, de produzir. Logo no início do estágio francês, ela parece ter se "aconselhado" com o pintor Maurice Denis, possivelmente atraída pelos aspectos da pintura religiosa.

Nesse último estágio, uma das características mais fortes de Anita Malfatti, era a busca por uma postura menos polêmica, em comparação com a época norte-americana. A impressão que se tem, é de que ela procurava por uma espécie de classicismo moderno. Na Escola de Paris, no pós-guerra, muitos pintores das mais diversas origens, passavam pela experiência da releitura da arte de séculos passados, como Picasso, por exemplo. Nessa fase, que pode-se dizer, "um aprender de novo", Anita Malfatti testou várias possibilidades, e frequentemente produzia obras interessantes. Estudou muito, aprendeu muito, mas perdeu um pouco da sua audácia, com aquela urgência constante de "se contar" à tela, agora se continha, obedecendo as ordens formais da pintura.

Nesses cinco anos, a crítica francesa notaria o trabalho da pioneira, algumas telas como "Interior de Mônaco", "A Dama de Azul", "Interior de Igreja" e "A mulher do Pará", seriam as obras mais destacadas pela crítica internacional nesses anos de estudo e apresentação. A crítica francesa seria unânime também nos elogios feitos aos desenhos:

"Sua personalidade única torna impossível toda tentativa de apadrinhamento, mesmo suntuoso. Quanto aos desenhos de nus, de uma fatura tão pessoal, tão nítida, poucos artistas de escola moderna podem apresentá-los tão notáveis. A crítica foi unânime a este respeito."

As telas interiores-exteriores, ocupados por uma figura feminina, e as exteriores-interiores, também com figuras femininas, seriam a produção mais válida e permanente de Anita Malfatti do estágio francês, com suas "mulheres" solitárias, reclinadas ao balcão. Assim, Anita Malfatti entremostrava sua solidão.


Brasil 1928

No final de setembro de 1928, Anita Malfatti já se encontrava no Brasil.

"A ilustre artista mudou muito a arte dela (...) Também (...) vem encontrar os companheiros antigos bastante modificados e reforçados. Terá agora mais facilidade em ser compreendida e estimada no seu valor."
(Mário de Andrade)

O ambiente artístico, encontrado por Anita Malfatti na volta, era bem diferente do que deixara em 1923. O grupo inicial evoluíra muito, surgiam novos adeptos e novos movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário de Andrade - o maior e melhor amigo de Anita Malfatti - noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era:

"O nome de Anita Malfatti já está definitivamente ligado à história das artes brasileiras pelo papel que a pintora representou no início do movimento renovador contemporâneo. Dotada duma inteligência cultivada e duma sensibilidade vasta, ela foi a primeira entre nós a sentir a precisão de buscar os caminhos mais contemporâneos de expressão artística, de que vivíamos totalmente divorciados, banzando num tradicionalismo acadêmico que já não correspondia mais a nenhuma realidade brasileira nem internacional."

Em 1929 abria em São Paulo, sua quarta individual. Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita Malfatti dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.

Podemos dividir as fases artísticas de Anita Malfatti em três:

  • A primeira seria quando define sua forma expressionista de pintar;
  • A segunda seria a das dúvidas de que caminho seguir na arte
  • Dos 20, 30 e início dos anos 40, quando depois da morte de Mário de Andrade e de sua mãe, Dona Betty, seria transformada numa terceira Anita Malfatti, e recolhida na sua chácara em Diadema. Iria finalmente, em paz consigo mesma "pintar à vontade", "à seu modo". A individual de 1945, prova essa unidade na pintura de Anita Malfatti. A artista estava decidida em seu caminho de paz, na sua reclusão.

"É verdade que eu já não pinto o que pintava há 30 anos. Hoje, faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir:arte popular com folclore… eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, os seus usos, o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas. Interpretar a alma popular (...) eu não pinto nem folclore, nem faço primitivismo. Faço arte popular brasileira."

Em 1964, na cidade de São Paulo, Anita Malfatti morreu, mas deixou um precioso legado para a arte brasileira introduzindo um novo estilo de pintar que, rejeitado a princípio, foi aos poucos adotado por toda uma geração de artistas. Marco divisório entre o antigo e o novo, a obra de Anita Malfatti constitui uma inestimável contribuição para a cultura brasileira.

Anita Malfatti  -  "A Mulher de Cabelos Verdes"
Representações da Artista em Outras Mídias

  • Na minissérie "Um Só Coração" (2004), de Maria Adelaide Amaral na Rede Globo, Anita Malfatti, foi representada pela atriz Betty Gofman.
  • "Anita Malfatti" - documentário - Premio Estímulo de Curta-metragem da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em 2001 - de Luzia Portinari Greggio.
  • Ilustrou o livro "Cafundó da Infância", de Carlos Lébeis em 1936

Fonte: Wikipédia