Cilinho

OTACÍLIO PIRES DE CAMARGO
(80 anos)
Técnico de Futebol

☼ Campinas, SP (09/02/1939)
┼ Campinas, SP (28/11/2019)

Otacílio Pires de Camargo, mais conhecido como Cilinho, foi um técnico de futebol, nascido em Campinas, SP, no dia 09/02/1939.

Mesmo sendo considerado um dos melhores técnicos do país nos anos 80, Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, nunca comandou a Seleção Brasileira. O treinador chegou a ser convidado para o cargo, mas não aceitou algumas exigências da Confederação.

De personalidade forte, homem conhecedor do futebol, Cilinho fez fama no São Paulo nos anos 80.

A primeira chance de Cilinho em um clube grande foi na Portuguesa, que anunciou sua contratação em 23/08/1972. Dirigentes do clube foram até Campinas alguns dias antes, após a derrota para o Santos que custou o emprego de Wilson Francisco Alves, e conversaram com o técnico, que aceitou a oferta ali, mesmo. Wilson Francisco Alves só seria notificado três dias depois, porque comandaria o clube em um amistoso na quarta-feira.
"Conhecido por muitas pessoas como 'macumbeiro', introdutor de alguns hábitos novos dentro do futebol (realização de conferências para jogadores nas concentrações, obrigando-os a ler livros para aumentar sua cultura), uma das primeiras atitudes de Cilinho ao chegar à Portuguesa deverá ser a colocação de uma tabuleta na porta do vestiário, com o lema 'Nunca se realizou nada de grande sem muito entusiasmo'"
(Escreveu o jornal O Estado de S. Paulo, para descrever Cilinho)

Cilinho em 1982
A primeira recomendação dele ao novo clube foi que apressasse as obras dos novos alojamentos, pois ele queria poder servir café da manhã aos jogadores no próprio clube.

Osvaldo Teixeira Duarte, presidente da Portuguesa, falou sobre suas expectativas:
"Não poderia exigir muita coisa para o campeonato nacional, porque ele terá pouco tempo para dar uma estrutura ao time. Mas vou lhe pedir que faça um esforço e procure conseguir bons resultados no Nacional, porque a Portuguesa começa a ter algum sucesso. Tenho certeza de que não nos faltam jogadores e vou dar o máximo de apoio ao seu trabalho. Ele é um moço que sabe trabalhar com os jogadores, impondo-se pela argumentação, e é a pessoa que nós esperávamos."
Após o primeiro treino, Cilinho deu seu diagnóstico sobre o time: "Não há versatilidade no futebol da equipe!"

Em seguida, vaticinou seu prognóstico para o jogo contra o Corinthians, o último do clube no Campeonato Paulista: "Nós podemos ganhar, se houver muito empenho de todos os jogadores, mas será uma vitória estranha, porque o time está completamente desestruturado!"

Mesmo desestruturada, a Portuguesa venceu por 1 x 0.

Às vésperas da estreia no Brasileiro, O Estado considerava que os pedidos de reforços do técnico estavam sendo atendidos: "Em pouco mais de dez dias, Cilinho já alcançou todas as condições favoráveis para armar um esquema de trabalho". As contratações fizeram a frequência da torcida aumentar nos treinamentos do time. A partida de estreia, contudo, foi interrompida no intervalo, devido às fortes chuvas em Porto Alegre, local do confronto contra o Internacional. Sem abertura de contagem, a partida foi adiada e teria de ser jogada por inteiro novamente. Cilinho gostou do pouco que viu: "Fizemos uma excelente partida, apesar do campo inteiramente encharcado!".

Cilinho como técnico do Corinthians em 1991
Em março de 1973, na terceira rodada do Campeonato Paulista, a Portuguesa empatou com a Ferroviária, no Canindé, por 2 x 2, depois de estar vencendo por 2 x 0. O resultado aumentou a decepção pelo mau início no torneio (uma vitória, um empate e uma derrota em três jogos) e, após o jogo, parte da torcida pediu a demissão de Cilinho, na frente do acesso aos vestiários.

A diretoria não aguentou a pressão e demitiu o técnico, apesar de Duarte garantir ter sido contra a decisão:
"Eu estava apreciando o trabalho do Cilinho, que qualifico de extraordinário. Ele fez um trabalho de base e, ultimamente, estava, mesmo, comandando uma equipe que eu chamo de suporte para o futebol, representada por médicos, preparadores físicos e massagistas. Mas a torcida não entendeu assim e exigiu a sua saída!"
O presidente explicou por que a pressão da torcida foi tão determinante:
"Depois do jogo contra a Ferroviária, centenas de torcedores ficaram em frente aos vestiários pedindo a queda de Cilinho e, por isso, creio que não poderíamos segurá-lo. Se o segurássemos, correríamos o risco de fazer do Canindé uma verdadeira praça de guerra e de perdermos o apoio desses associados. Na fase em que estamos, não podemos perder o apoio de ninguém!"
Cilinho teve três passagens pelo XV de Jaú, sendo contratado em 1978, 1981 e 1996. As duas primeiras passagens só não foram uma única porque ele aceitou treinar a Ponte Preta em 1979.


Na segunda passagem, ajudou a levar o clube, pela primeira vez, ao Campeonato Brasileiro, classificado devido à boa campanha no Campeonato Paulista de 1981. Nessa campanha, o técnico chegou a recusar um convite para treinar o São Paulo, que tinha demitido Carlos Alberto Silva.
"Existem coisas mais importantes do que dinheiro e projeção. Particularmente, por uma questão de temperamento, sempre firmo os meus contratos verbalmente. É um problema de ética pessoal. Depois, o que considero de grande importância, respeito muito o aspecto ético e moral, em tudo aquilo que assumo. E eu tenho um compromisso nesse nível com os dirigentes do XV de Jaú. Pretendo cumpri-lo até o fim!"
(Cilinho)

Responsável pela descoberta de vários talentos, foi ele quem dirigiu o time do São Paulo que, na década de 1980, foi denominado "Menudos do Morumbi", nome este devido à baixa idade do grupo e ao sucesso do grupo musical porto-riquenho Menudo, conquistando os Campeonatos Paulistas de 1985 e 1987 e montando a equipe campeã brasileira de 1986, dentro de um estilo de jogo veloz e ofensivo.

Cilinho foi o principal responsável pela reformulação do elenco tricolor a partir de 1984. Jogadores experientes como Waldir Peres, Serginho Chulapa, Zé Sérgio, Humberto, Almir, Paulo César Capeta, Getúlio e Heriberto deixaram o clube do Morumbi. A substituição não foi por "medalhões", mas sim por jogadores mais jovens.

Cilinho em 1994
Silas, Muller, Sidney, Márcio Araújo e Nelsinho ganharam oportunidades ou se firmaram como titulares. O fato mais curioso aconteceu quando Paulo Roberto Falcão foi contratado. Apesar de ter o status de ser o Rei de Roma, o meio-campista revelado pelo Internacional não conseguiu ter regalias com Cilinho, que chegou a colocá-lo no banco de reservas de Márcio Araújo.

Além de dar chances a jogadores criados dentro do próprio clube, Cilinho era um bom observador. Vários jogadores indicados pelo treinador também fizeram sucesso no Tricolor, entre eles o volante Bernardo (ex-Marília), o lateral-direito Zé Teodoro (ex-Goiás) e o ponta-direita Mário Tilico (ex-Náutico).

Cilinho também foi o técnico do time do São Paulo que venceu o Paulistão de 1987. A equipe base tricolor, que bateu o Corinthians na final, era: Gilmar Rinaldi; Zé Teodoro, Adilson, Darío Pereyra e Nelsinho; Bernardo, Silas e Pita; Muller, e Edivaldo.

Além do São Paulo, onde mais se destacou, Cilinho dirigiu outras importantes equipes do futebol brasileiro, entre elas a Ponte Preta, o Guarani (equipe onde chegou a atuar como jogador nos juvenis), o Corinthians, a Portuguesa e o América de São José do Rio Preto, SP.


Como técnico profissional do Corinthians, Cilinho teve uma rápida passagem em 1991. O time alvinegro ficou com o vice-campeonato paulista (perdeu justamente para o ex-time de Cilinho, o São Paulo, a final). O desentendimento com o presidente Vicente Matheus e os meio-campistas Márcio e Neto pesaram para a sua saída do Parque São Jorge.

Cilinho comandou o time principal são-paulino em 243 jogos (108 vitórias, 85 empates e 50 derrotas), segundo números do "Almanaque do São Paulo" (Alexandre da Costa).

Como técnico do Corinthians, no Paulistão de 1991, Cilinho trabalhou em 36 partidas. Foram 16 vitórias, 16 empates e apenas quatro derrotas, números do "Almanaque do Corinthians" (Celso Unzelte).

Em novembro de 2007, ele assinou contrato com o Corinthians para ser coordenador das categorias de base do clube.

Em março de 2008, ele foi demitido pela diretoria corintiana. "O Cilinho foi importante no curto período em que esteve aqui. Mas agora já temos uma outra etapa", falou à época o presidente corintiano Andrés Sanchez.

Em 2011, já como um treinador experiente, Cilinho assumiu o desafio de treinar a equipe do Rio Branco, de Americana, que figurava na Série C do Campeonato Paulista.

Morte

Cilinho, foi internado no Hospital da PUC de Campinas em 15/04/2018, com um quadro de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Recebeu alta hospitalar em 20/07/2018, com sequelas (paralisia do lado esquerdo), para continuar o tratamento em casa. Cilinho faleceu na quinta-feira, 28/11/2019, aos 80 anos, em sua casa, em Campinas, SP.

Há aproximadamente dois meses, teve uma pneumonia, voltou a ser internado, mas retornou para casa, onde era acompanhado por uma equipe médica. Ele estava sendo submetido a tratamento especial e fazendo uso de cadeira de rodas.

O velório aconteceu no Salão Nobre do Estádio Moisés Lucarelli, da Ponte Preta, a partir das 23h00 de quinta-feira, 28/11/2019, para familiares e amigos mais próximos. O local será aberto para o público às 7h00 de sexta-feira, 29/11/2019.

O sepultamento ocorreu às 15h00 do dia 29/11/2019, no Cemitério da Saudade.

Cilinho tinha quatro filhos e seis netos.

Títulos

São Paulo

  • 1985 - Campeonato Paulista
  • 1987 - Campeonato Paulista

Indicação: Miguel Sampaio e Marcelo Furtado
#FamososQuePartiram #Cilinho

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