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Roquette-Pinto

EDGAR ROQUETTE CARNEIRO DE MENDONÇA PINTO VIEIRA DE MELLO
(70 anos)
Médico, Professor, Antropólogo, Etnólogo, Escritor, Arqueólogo e Ensaísta

* Rio de Janeiro, RJ (25/09/1884)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/10/1954)

Filho de Manuel Menelio Pinto e Josefina Roquette Carneiro de Mendonça, nasceu a 25 de setembro de 1884, em Botafogo, Rio de Janeiro.

Foi criado pelos avós maternos na Fazenda Bela Fama, próxima de Juiz de Fora, em Minas Gerais, até aos 10 anos, quando retornou ao Rio de Janeiro com os pais.

Fez o curso de humanidades no Colégio Aquino, entrando depois na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1905 com a tese O Exercício da Medicina Entre os Indígenas da América. O pouco contacto com a família do pai levou-o a alterar o nome de registo para Edgard Roquette-Pinto, que legalizou em 1905.

Além do avô João Roquette, que lhe pagou os estudos e lhe incutiu o gosto pela natureza, marcaram o seu destino o biólogo Francisco de Castro, que o fez desistir da ideia de ser oficial da Marinha e o orientou para a Medicina e a Biologia e o médico Henrique Batista, que o converteu ao Positivismo – doutrina fundada por Auguste Comte (1798-1857), segundo o qual a redenção do homem se daria pelo conhecimento. Embora estudioso, seguiu o trabalho de campo até à Antropologia.

Em 1906 torna-se professor assistente de Antropologia no Museu Nacional e foi, em setembro, ao Rio Grande do Sul, estudar os sambaquis – jazidas de conchas, ossos e utensílios do homem pré-histórico do litoral da América.

É nomeado médico-legista com o trabalho Fauna Cadavérica do Rio de Janeiro em 1908, abrindo um laboratório de análises clínicas. Neste ano, casa com Riza Batista, com quem teve os filhos Beatriz e Paulo Roquette-Pinto.

Após alguns anos como assistente de Henrique Batista e médico-legista, passa, por concurso, a professor de Antropologia e Etnografia do Museu Nacional, onde organizou a Sala Dom Pedro II em 1910.

Delegado do Brasil no Congresso de Raças, em Londres (1911), estuda na Europa com os professores Richet, Brumpt, Tuffier, Perrier e Luschan.

Expedições Com Rondon

Em 1907 surge a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, chamada Comissão Rondon devido à fama do Tenente-Coronel Rondon (1865-1958), que a comandava. Iria ligar pelo fio telegráfico os territórios do Amazonas, Acre, Alto Purus e Alto Juruá à capital do Mato Grosso, com os pontos extremos em Cuiabá e Santo António do Madeira.

Colaboraram militares, para execução de serviços técnicos e cientistas civis, para fazer o levantamento geográfico, botânico, zoológico, etnológico e antropológico da região a desbravar.

Ao voltar das expedições, Rondon depositava amostras de objectos paleolíticos no Museu Nacional. Roquette estudou vários e escreveu a Nota Sobre os Índios Nhambiquaras do Brasil Central. Fascinado, trabalhou alguns meses com Rondon em 1910, que o influenciou e lhe incutiu o desejo de estudar aquelas terras.

Roquette integrou a comitiva que seguiu, em Julho de 1912, ao encontro da Comissão à Serra do Norte, em Mato Grosso. Na expedição foi etnógrafo, sociólogo, antropólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, linguista, médico, farmacêutico, legista, fotógrafo, cineasta e folclorista. Anotou a aparência da região – da floresta à árvore e à folha – composição dos solos, contorno das montanhas, fluxo dos rios, intensidade das quedas e variedade da fauna.

Nas visitas às tribos, mediu os crânios dos índios, comparou o seu peso e altura, analisou doenças, efectuou a primeira dissecação de um indígena e relatou as formas de produção, comércio e transporte. Registou conhecimentos científicos, relações familiares, organização política, hábitos religiosos, formas linguisticas, habilidade manual e danças. Anotou musicalmente os cantos dos nativos e fez gravações in loco com o Fonógrafo portátil. Nos fonogramas, cilindros de cera, registou melodias indígenas Nhambiquaras e Parecís e música popular mato-grossense (Cururu e canções Sertanejas).

Filmou o que pôde e fotografou ou desenhou o resto. Recolheu pedras, pontas de setas e objectos indígenas levados por milhares de quilómetros através de rios, pântanos e picadas abertas na selva. Apressou-se a estudar a região pois temia a perda dos fenómenos etnográficos, usos, costumes, indústrias, técnicas, arte, religião e política dos povos, que cedo ocorreria, devido à chegada e influência de objectos da civilização.

A morte foi constante no percurso pelas selvas do Mato Grosso, Amazonas e nas bacias dos rios Paraguai, Juruena e Ji-Paraná, pelas dificuldades climáticas, geográficas e humanas. Os Nhambiquaras eram hostis, matando expedicionários e haviam as ameaças da selva: animais e doenças – varíola, beribéri, paludismo. Burros, cavalos e bois morriam, os homens eram enterrados pelo caminho e os locais batizados com os seus nomes. A sobrevivência deste intelectual da cidade à vida difícil da selva surpreendeu tudo e todos, devendo-se talvez à infância passada na fazenda (note-se a diferença entre mato e sertão!) e a ser jovem e saudável. Mas a principal razão terá sido a firme determinação em cumprir a tarefa a que se propôs.

Roquette dizia que Marechal Cândido Rondon era o "ideal feito homem". Mameluco por parte de avós indígenas, falava dialectos de várias tribos, passando aos índios a sua mensagem de paz. Roquette extraiu assim, uma compreensão do problema do índio ainda revolucionária: para ele, os índios deviam ser protegidos como tal e não forçados a ser brasileiros, sendo o papel da nação protegê-los como aos menores abandonados, presos ou doentes.

Os Nhambiquaras contactados viviam na Idade da Pedra: tinham machados de pedra mal polida e as facas eram lascas de madeira. Desconheciam navegação, cerâmica ou redes de dormir – atravessavam os rios a nado, comiam de mão em mão e dormiam no chão. Cobertos por bernes, pulgas e piolhos, não conheciam um homem branco ou negro. O mal que faziam era, às vezes, por ignorância. De volta ao Rio de Janeiro, em novembro desse ano, Roquette depositou no Museu Nacional cerca de tonelada e meia de objectos que trouxe da Serra do Norte, entre observações, fichas antropométricas, croquis, filmes documentais, material etnográfico, etc. Roquette trouxe também o paludismo, cujas sequelas contribuíram para a espondilose de que sofreu mais tarde.

Em 1915, propôs numa conferência do Museu Nacional a designação de Rondônia à região do Noroeste do Brasil limitada pelos meridianos 54 e 65 oeste, Greenwich e entre os paralelos 8 e 15 ao sul do Equador, cortada entre os rios Juruena e Madeira pela estrada Rondon, como homenagem a Rondon.

Com os resultados das suas investigações sobre Parecís e Nhambiquaras escreveu Rondônia (1916), tratado antropológico, botânico, geológico, etnográfico e climático da região compreendida entre os rios Juruena e Madeira, incluindo partes de Mato Grosso, Amazonas, Pará, Acre e Guaporé.

A vivência com índios e homens do sertão foi a base da sua campanha anti-racista contra o arianismo no Brasil. Segundo ele, o homem no Brasil precisava de "ser educado e não substituído".

Em 1915 concorre para Livre-Docente de História Natural, na Faculdade de Medicina, com o trabalho sobre Dinoponera Grandis, a formiga amazônica, continuando a atividade de pesquisa e ensino, lecionando História Natural na Escola Normal e no Colégio Aquino.

Empenhou-se na Fisiologia, sendo convidado, em 1920, como professor visitante para inaugurar a cadeira de Fisiologia Experimental na Faculdade de Medicina da Universidade de Assunção, conseguindo a admiração do povo numa época conturbada entre Brasil e Paraguai.

Fascínio Pela Rádio e Pelo Cinema

Prevendo a importância da rádio na educação do povo fundou, a 20 de Abril de 1923, na Academia Brasileira de Ciências (de que era membro, bem como de outras associações nacionais e estrangeiras), a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, só com fins educacionais e culturais. O fascínio de Roquette pela rádio deve-se, em parte, pela entrega à causa positivista e à profissionalização como antropólogo, factores que o colocaram ao serviço de causas científicas e sociais.

"A rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler; (...) é o divertimento gratuito do pobre; (...) desde que o realizem com espírito altruísta e elevado."

E concluía sempre a sua emissão com o lema:

"Pela cultura dos que vivem em nossa terra. Pelo progresso do Brasil".

Em 1924 participa no Congresso Internacional de Americanistas, na Suécia, tornando-se responsável pela Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional, do qual foi director de 1926 a 1935.

Candidata-se à Academia Brasileira de Letras em 1927 na vaga de Osório Estrada (cadeira 17), é eleito a 20 de outubro.

Em 1929 presidiu o 1º Congresso Brasileiro de Eugenia e realizou as primeiras demonstrações televisivas no Brasil.

Em 1932 funda a Revista Nacional de Educação e o Serviço de Censura Cinematográfica, criando em 1934 a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro com Anísio Teixeira.

Em 1936 fundou e dirigiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo onde esteve com Humberto Mauro, aposentando-se em 1947.

Orientou a parte histórica do filme O Descobrimento do Brasil (1937), dirigiu e gravou o comentário sobre arte marajoara do filme Argila (1940) e o filme Rondônia.

Eleito diretor do Instituto Indigenista Americano do México em 1940, foi membro fundador do Partido Socialista Brasileiro, em 1947.

Como homenagem, vários naturalistas deram o seu nome a algumas espécies, como Phylloscartes Roquettei, ave do Brasil Central.

Entre as suas obras escritas estão Guia de Antropologia (1915), Elementos de Mineralogia (1918), Seixos Rolados (1927), Samambaia (1934), além de muitos trabalhos científicos, artigos e conferências, publicados em vários jornais e revistas.

A 18 de Outubro de 1954 sofre um Derrame fatal no seu apartamento, no Rio de Janeiro, quando escrevia um artigo para o Jornal do Brasil, em que dizia: Aquele que conhece, aquele que cria, aquele que ama.

Fonte: Wikipédia e Ana Fernandes (Trabalho realizado no âmbito da disciplina de História das Ciências, Licenciatura em Bioquímica, Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2002-2003)

Cassiano Ricardo

CASSIANO RICARDO LEITE
(78 anos)
Jornalista, Poeta e Ensaísta

* São José dos Campos, SP (26/07/1895)
+ Rio de Janeiro, RJ (14/01/1974)

Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado ao Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, foi o fundador do Grupo da Bandeira, reação de cunho social-democrata a estes grupos, tendo, sua obra se transformado até o final, evoluindo formalmente de acordo com as novas tendências dos anos de 1950 e tendo participação no movimento da poesia concreta.


Biografia e Produção Poética

Formou-se em direito no Rio de Janeiro, em 1917. Rumando para São Paulo, trabalhou como jornalista em diversas publicações, e chegou a fundar alguns jornais. Aproximou-se de Paulo Menotti Del Picchia e Plínio Salgado, à época da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1924 fundou a Novíssima, revista modernista. Em 1928 publica Martim Cererê, importante experiência modernista primitivista-nacionalista na linha mitológica de Macunaíma (de Mário de Andrade) e Cobra Norato (de Raul Bopp).

Afastando-se das idéias de Plínio Salgado, que por essa época já começavam a descaracterizar-se como nacionais e pareciam-se mais com imitações imperfeitas de dogmas nazistas, Cassiano Ricardo funda com Paulo Menotti Del Picchia o Grupo da Bandeira, em 1937. Neste ano ainda foi eleito para a cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, sendo o segundo modernista aceito na instituição (o primeiro havia sido Guilherme de Almeida, que foi encarregado de recebê-lo).

Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo, e entre 1953 e 1954 foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes.

Sua obra passa por diversos momentos: Inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a epopéia bandeirante, detendo-se, em seguida, em temas mais intimistas, cotidianos, ou mais próximos da realidade observável.

A partir da década de 1950, já no período daquelas tendências que têm sido chamadas por alguns críticos de Segunda Vanguarda, aproximando-se do grupo concretista das revistas Noigandres e Invenção, mostra claramente o seu espírito, desde sempre, vanguardista.

Em Jeremias Sem-Chorar (1964), Cassiano Ricardo mostra sua grande capacidade de reciclar-se, produzindo poemas tipográficos e visuais, sempre utilizando-se das possiblidades espaciais da página escrita, sem perder suas próprias características. Nas palavras do poeta, na introdução do livro, "Situa-se o poeta numa linha geral de vanguarda, na problemática da poesia de hoje, mas as suas soluções são nitidamente pessoais".

Detalhes Sobre Sua Participação em Grupos e Movimentos

Cassiano Ricardo declarou que, o Verde-Amarelismo, tendo resultado no Integralismo, não haveria mais nada a dizer-se a respeito. Eis aí uma causa de seu afastamento do Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta.

Quando foi um dos editores da revista concretista Invenção, sofria uma certa rejeição do grande grupo, por sua oposição, no passado, à Oswald de Andrade. Além disso, Cassiano considerava, compreensivelmente, em função das diferenças de fundo entre a poesia concreta e a sua, os poetas concretistas "radicais demais". Estes desacordos levaram ao seu afastamento do grupo.

Poesia

1915 - Dentro da Noite
1917 - Evangelho de Pan
1920 - Jardim das Hespérides
1924 - A Mentirosa de Olhos Verdes
1926 - Vamos Caçar Papagaios
1927 - Borrões de Verde e Amarelo
1928 - Martim Cererê
1931 - Deixa Estar, Jacaré
1930 - Canções da Minha Ternura
1940 - Marcha Para Oeste
1943 - O Sangue das Horas
1947 - Um Dia Depois do Outro
1950 - Poemas Murais
1950 - A Face Perdida
1956 - O Arranha-Céu de Vidro
1956 - João Torto e a Fábula
1957 - Poesias Completas
1960 - Montanha Russa
1960 - A Difícil Manhã
1964 - Jeremias Sem-Chorar
1971 - Os Sobreviventes

Ensaio

1936 - O Brasil no Original
1938 - O Negro da Bandeira
1939 - A Academia e a Poesia Moderna
1940 - Marcha Para Oeste
1953 - A Poesia na Técnica do Romance
1954 - O Tratado de Petrópolis
1959 - Pequeno Ensaio de Bandeirologia
1962 - 22 e a Poesia de Hoje
1964 - Algumas Reflexões Sobre a Poética de Vanguarda

Fonte: Wikipédia

Aurélio Buarque de Holanda

AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA
(78 anos)
Crítico Literário, Lexicógrafo, Filólogo, Professor, Tradutor e Ensaista

* Passo de Camaragibe, AL (03/05/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/02/1989)

Em 1923, mudou-se para Maceió (AL), onde, aos 14 anos de idade, começou a dar aulas particulares de português. Aos 15, ingressou efetivamente no magistério. Foi convidado pelo Ginásio Primeiro de Março a lecionar em seu curso primário. Já naquela época passou a se interessar por língua e literatura portuguesas. Formou-se em direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1936. Nesse mesmo ano, tornou-se professor de Língua Portuguesa e Francesa e de Literatura no Colégio Estadual de Alagoas.

Passou a residir no Rio de Janeiro a partir de 1938, e continuou no magistério, como professor de Português e Literatura Brasileira, no Colégio Anglo-Americano em 1939 e 1940. Professor de Português no Colégio Pedro II, de 1940 a 1969 e professor de ensino médio do Estado do Rio de Janeiro de 1949 a 1980.

Aurélio Buarque de Holanda também publicou artigos, contos e crônicas na imprensa carioca. De 1939 a 1943, atuou como secretário da "Revista do Brasil". Em 1941, deu início a seu trabalho de Lexicógrafo, colaborando com o "Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa".

Em 1942, lançou o livro de contos "Dois Mundos", que foi premiado dois anos depois pela Academia Brasileira de Letras. No ano seguinte, trabalhou no "Dicionário Enciclopédico" do Instituto Nacional do Livro.

Em 1945, publicou o ensaio "Linguagem e Estilo de Eça de Queiroz". Nesse ano, participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, e lançou, juntamente com Paulo Rónai, o primeiro dos cinco volumes da coleção "Mar de Histórias", uma antologia de contos da literatura universal. Ainda em 1945, casou-se com Marina Baird, com quem teve dois filhos, Aurélio e Marisa Luísa, e cinco netos.

Entre 1947 e 1960, produziu textos para a seção "O Conto da Semana", do suplemento literário do "Diário de Notícias".

A partir de 1950, começou a escrever para a revista "Seleções" do Reader’s Digest, na seção "Enriqueça o Seu Vocabulário". Oito anos depois, reuniu todos os artigos que produziu para essa seção, publicando-os em um livro com o mesmo título.

De 1954 a 1955, lecionou Estudos Brasileiros na Universidade Autônoma do México, contratado pelo Ministério das Relações Exteriores.

A preocupação com a língua portuguesa e o amor pelas palavras levou-o a estudar e pesquisar o idioma durante muitos anos com o objetivo de lançar seu próprio dicionário. Finalmente, em 1975, foi publicado o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, conhecido como Dicionário Aurélio ou somente "Aurelião" ou "Aurélio".

Modesto, ele vetou a inclusão, na sua obra, do verbete "Aurélio" como sinônimo de dicionário. Em 1977, publicou o "Minidicionário da Língua Portuguesa", que também é chamado de "Mini-Aurélio".

Em 1989, lançou o "Dicionário Aurélio Infantil da Língua Portuguesa", com ilustrações do Ziraldo. O autor também traduziu várias obras, como "Poemas de Amor", de Amaru, "Pequenos Poemas em Prova", de Charles Baudelaire e os contos para a coleção "Mar de Histórias".

Aurélio Buarque de Holanda foi membro da "Associação Brasileira de Escritores" na seção do Rio de Janeiro (de 1944 a 1949), da Academia Brasileira de Filologia, do Pen Clube do Brasil (Centro Brasileiro da Associação Internacional dos Escritores), da Comissão Nacional do Folclore, da Academia Alagoana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Hispanic Society of America.

Aurélio Buarque de Holanda tinha ascendentes Neerlandeses. Ao contrário do que tem sido propagado na internet, ele era apenas um primo distante de Sérgio Buarque de Holanda, pai do músico Chico Buarques.

Morreu vítima do Mal de Parkinson que sofria desde 1981.

Fonte: Wikipédia


Vianinha

ODUVALDO VIANNA FILHO
(38 anos)
Ator, Diretor, Dramaturgo, Roteirista, Ensaísta, Ativista Político e Animador Cultural

* São Paulo, SP (04/06/1936)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/07/1974)

Oduvaldo Vianna, filho, o Vianninha, como é comumente chamado – para diferenciá-lo do pai, também Oduvaldo Viana. Atuou profissionalmente no teatro, no cinema e na televisão, marcando sua presença constante inclusive na imprensa, em entrevistas e em artigos teóricos. Sua mãe, Deuscélia Vianna, conta que o marido foi registrar o filho que acabara de nascer na Casa de Saúde São José, no dia 4 de junho de 1936, em um cartório no Centro do Rio de Janeiro e, extremamente vaidoso, deu ao menino o nome de Oduvaldo Vianna. O escrivão, igualmente distraído, esqueceu de acrescentar o "filho". Vianninha ficaria com o mesmo nome do pai para o resto da vida.

O talento artístico e a ideologia, digamos, ele herdou dos pais, ambos ligados à dramaturgia e à militância política. Ele, jornalista, dramaturgo, cineasta e radionovelista; ela, radionovelista e escritora. Logo que nasceu, aos três meses, Vianninha já aparecia numa cena de Bonequinha de Seda e, com um ano, fazia o papel da protagonista quando criança em Alegria, dois filmes dirigidos por seu pai.

A militância política teve início aos 9 anos, quando em plena Avenida Ipiranga, na capital paulista, Oduvaldo e Deuscélia vão encontrá-lo distribuindo "santinhos", cabalando votos para o pai – candidato a deputado estadual pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), por São Paulo – gritando: "Votem em Oduvaldo Vianna, o candidato do povo!".

Esta cena arrancou lágrimas dos pais, orgulhosos com o entusiasmo do filho. Só mais tarde, em 1950, ele entraria para a União da Juventude Comunista. Ainda aos 10 anos, Vianninha tenta escrever uma história, Zé Galinha Ganha no Boxe, Perde no Amor, mas não passa do segundo capítulo.

Teatro Paulista do Estudante (TPE)

Como filhos de intelectuais famosos, Vianninha e Gianfrancesco Guarnieri foram convocados pelo partido para organizar um grupo de teatro amador no setor estudantil. Nasce, daí, o TPE, orientado pelo diretor italiano Ruggero Jacobbi, cuja primeira sede foi o apartamento dos Vianna (1954). Vianninha entrara para a Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie (1953), mas entusiasmado e envolvido com o teatro, onde atuava como ator, abandona o curso (1955), para grande tristeza do pai que o adverte: "Teatro não é profissão que sustente ninguém". O TPE se fundiria algum tempo depois com o Teatro de Arena (1956) – que existia desde 1953 sob a direção de José Renato – mas com administrações independentes.

Teatro de Arena

Vianninha estreia como ator, no elenco oficial do Arena, com a peça "Escola de Maridos", de Molière, atuando em diversas montagens. Mas é por seu trabalho em "Juno, o Pavão", de Sean O´Casey, que ele recebe os prêmios Saci e Governador do Estado como melhor ator coadjuvante (1956). Casa-se com Vera Gertel (1957), com quem já namorava desde o TPE. Escreve a peça "Bilbao, via Copacabana", e com ela ganha o Prêmio Caixa Econômica Federal.

O ano de 1958 foi muito importante para Vianninha: além de nascer seu primeiro filho, Vinícius Vianna, sua atuação em "Eles Não Usam Black Tie", de Gianfrancesco Guarnieri , com direção de José Renato, propicia-lhe grande sucesso, recuperando e levantando o Arena que estava para fechar. É iniciado, nessa época, o processo que levaria a uma verdadeira revolução na arte cênica brasileira. Com a entrada de Augusto Boal, o Arena ficou nas mãos da juventude, que queria um teatro popular voltado para a nossa realidade. Vianninha atua em "Gente Como a Gente", de Roberto Freire, e "Revolução na América do Sul", de Boal. Do Seminário de Dramaturgia surge "Chapetuba Futebol Clube" (1959), considerada a melhor peça do ano, e Vianninha recebe os prêmios Saci, Governador do Estado e da Associação de Críticos Teatrais do Rio de Janeiro.

Apesar de todo o sucesso, o Arena vivia um ambiente de desencontros, com atritos e divergências políticas. Vera Gertel, que acompanhou de perto o esfacelamento do grupo, conclui:

"O Arena ficara pequeno para o Vianna [...] que queria alguma coisa mais. [Ele sentia] a necessidade de aliar a política ao teatro ideológico, participante. [...] O Arena era um teatro burguês e ele queria fazer um teatro popular".

No CPC, o Homem Político

Vianninha desliga-se do Teatro de Arena de São Paulo e retorna ao Rio de Janeiro (1960), onde já estavam morando seus pais. O pontapé para uma nova etapa foi dado com a sua mais recente criação: A Mais-valia Vai Acabar, Seu Edgar, encenada na areninha da Faculdade de Arquitetura, na Urca, com músicas de Carlos Lyra e direção de Chico de Assis.

Para Vianninha, a alternativa era produzir conscientização em massa, em escala industrial, para fazer frente ao poder econômico que produz alienação em massa. Surge então o Centro Popular de Cultura (CPC), em 1961, que se liga à União Nacional dos Estudantes (UNE), com Vianninha, Carlos Estevam (assistente de Álvaro Vieira Pinto, do Iseb), Leon Hirszman, Francisco de Assis, Carlos Lyra, Armando Costa, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Paulo Afonso Grisolli, Carlos Vereza, Joel Barcelos, Antônio Carlos Fontoura e, depois, Ferreira Gullar, Thereza Aragão, João das Neves, Pichin Plá e muitos outros. Vianninha atua no filme "Cinco Vezes Favela", no episódio dirigido por Cacá Diegues (1962).

Com o CPC foi criado o teatro de rua, que se apresentava em praças públicas, favelas, associações e sindicatos. Seu repertório era constituído por criações coletivas de esquetes relâmpagos e autos, como "Auto do Tutu", "Auto do Cassetete", "Auto dos 99%" ou de peças curtas, como "Brasil, Versão Brasileira", do próprio Vianninha, e "Miséria ao Alcance de Todos", de Arnaldo Jabor. "Quatro Quadras de Terra", escrita por Vianninha em 1963, ganha no ano seguinte o primeiro lugar no concurso de dramatização da Casa de las Americas (Cuba).

Com o golpe militar de 31 de março de 1964, Vianninha e a turma do CPC viram a invasão e o incêndio da UNE – com seu teatro recém-construído – tudo transformado em cinzas. Era o projeto de suas vidas que também desmoronava. Ainda em 1964, Vianninha voltaria a escrever duas telepeças: "O Matador" e "O Morto do Encantado Saúda e Pede Passagem", premiadas com o primeiro e o quinto lugares, respectivamente, em concursos no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Opinião: Uma Saída Musical

A situação do país alterara-se profundamente. Os ex-cepetistas formaram um grupo voltado para protestar contra a ditadura, um teatro de resistência que atingisse a classe média e os setores de oposição, tal como o Arena. O Opinião era formado pelo chamado Grupo dos Oito: Vianninha (liderando), Ferreira Gullar, Thereza Aragão, Armando Costa, Denoy de Oliveira, Paulo Pontes, João das Neves e Pichin Plá. Optaram por um show com músicas populares e texto escrito por Vianninha, Armando Costa e Paulo Pontes, abordando a vida de três personagens: uma moça de classe média da zona sul carioca, um favelado e um camponês. Os personagens falavam de seus conflitos sociais e discorrriam sobre os problemas do país. O elenco, composto por Nara Leão – depois substituída por Maria Bethânia – o sambista Zé Keti e o cantador maranhense João do Vale, contou com a direção de Augusto Boal. O show foi montado com muito sacrifício, no "shopping dos Antiquários", na Rua Siqueira Campos (Copacabana), no espaço antigamente ocupado pelo Arena de São Paulo. Opinião foi saudado pela imprensa como o acontecimento cultural mais importante do teatro brasileiro naquele ano. Uma verdadeira catarse. O espetáculo se constituiria em divisor de águas, como detonador da resistência cultural ao regime de exceção.

Em seguida, o grupo montaria "Liberdade, Liberdade" (1965), de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, tendo à frente do elenco Paulo Autran, Tereza Rachel e Vianninha. Nesse mesmo ano, Vianna Filho escreveu "Moço em Estado de Sítio" – considerada pelo crítico Yan Michalski "uma obra de ruptura, com estrutura ousada, numa dinâmica cinematográfica" – que permaneceu no anonimato durante 12 anos, depois de sofrer censura e ter proibida a sua encenação. Outra peça proibida e censurada foi o musical de Vianna Filho e Armando Costa, "Brasil Pede Passagem". Os dois autores fizeram então, juntamente com Sérgio Cabral, "Samba Pede Passagem", em homenagem a Noel Rosa, com uma colagem de textos de autores famosos.

Nesse mesmo ano, Vianninha atuou no filme "Desafio", de Paulo César Saraceni. Porém, o Opinião continuava a toda e seria montada a peça "Se Correr o Bicho Pega, se Ficar o Bicho Come", cujo roteiro foi inicialmente escrito de forma coletiva. Mais tarde, os três atos foram estruturados por Vianninha, e Ferreira Gullar reescreveria o texto sob a forma de versos de cordel. A peça foi dirigida por Gianni Ratto (1965). Nosso crítico de plantão, Michalski, mais uma vez diria: "Surpreendente e agradabilíssima teatralidade do espetáculo, que mereceu o Prêmio Molière, como melhores autores do ano, e ainda os prêmios Saci e Governador do Estado de São Paulo, como melhor peça do ano".

Paralelamente, Vianninha escrevia uma peça que fugia na época dos objetivos e das propostas do grupo: "Mão na Luva" ficou guardada por 18 anos. Segundo Yan Michalski, o autor escreveu "um apaixonadíssimo poema de amor, recitado através de diálogos de um lirismo desesperado" (27/07/1966). Para o Opinião, ele escrevia, em parceria com Thereza Aragão, o show "Telecoteco Opus nº 1"; e sozinho, "Os Azeredos mais os Benevides", que lhe valeu Menção Honrosa no concurso do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Atuou, ainda, em dois filmes – "A Derrota", de Mario Fiorani e "Mar Corrente", de Luís Paulino dos Santos – este último, ao lado de Odete Lara. Escreveu para o semanário Folha da Semana, ligado ao PCB, cujos redatores-chefes eram Sérgio Cabral e Maurício Azêdo.

O governo militar baixara uma portaria policialesca, que resultou na Semana de Protesto contra a Censura, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Isto, em 1967. A crise se estabeleceria no "Grupo Opinião", com a encenação de "Meia Volta Volver", de Vianninha. Nessa época, ele participava como ator em "A Saída? Onde Fica a Saída?", de Armando Costa, Antônio Carlos Fontoura e Ferreira Gullar (1968).

A Barra Começa a Pesar

Vianninha, Paulo Pontes e Armando Costa desligam-se do "Opinião" e se unem-se a Gianni Ratto e a Sérgio Fadel para formarem o Teatro do Autor Brasileiro (TAB). Estrearam com um musical, a revista "Dura Lex Sed Lex, no Cabelo só Gumex", que Vianninha escreveria em colaboração com Armando Costa e Paulo Pontes. O espetáculo não teve sucesso e o TAB fechou suas portas com dívidas no início de 1968.

Os teatros do eixo Rio-São Paulo entraram em greve de protesto por três dias. Artistas e intelectuais ocuparam as escadarias do Municipal carioca para denunciar o terrorismo cultural. Vianninha abriu uma faixa com os dizeres "Teatro brasileiro em greve contra a censura, pela cultura", improvisando comícios-relâmpago. Um crítico ferrenho seu comparece, surpreendendo a todos: Nelson Rodrigues.

Acontece a Passeata dos Cem Mil e a dissolução do Congresso da UNE, com a prisão de 700 estudantes. Vianna Filho escreveria, em meados desse ano, "Papa Highirte", vencendo o Concurso Nacional de Dramaturgia do SNT. Mas sua encenação foi proibida pela Censura, assim como a sua publicação, permanecendo 11 anos em silêncio.

Em dezembro de 1968 é editado o AI-5 e, a partir de 1969, a Lei de Segurança Nacional incluiria o banimento e até a pena de morte no país, com censura prévia nos jornais e nas revistas. Para Vianninha, a situação se tornara cada vez mais sufocante. Paulo Pontes decide então levá-lo para a TV Tupi, onde Bibi Ferreira apresentava o programa semanal "Bibi – Série Especial", numa época de muito preconceito – entre os intelectuais – contra a televisão.

Foi nesse clima que ele escreveria, para o teatro, "A Longa Noite de Cristal", conquistando o Prêmio Coroa como melhor texto de 1969. No ano seguinte, depois de estrear em São Paulo sob a direção de Celso Nunes, a peça conquista o Prêmio Molière em duas categorias: melhor autor e melhor diretor. Ainda em 1969, Vianninha – inspirado em scripts de seus pais para o rádio – escreveria "Brasil e Cia.", com os parceiros Armando Costa, Ferreira Gullar e Paulo Pontes.

Em 1970 casa-se com Maria Lúcia Marins. Atua ao lado de Glauce Rocha no filme "Um Homem sem Importância", de Alberto Salvá, e escreve "Corpo a Corpo", encenada no ano seguinte por Celso Nunes. Nesse mesmo ano, era escrita e encenada a sua peça "Em Família", dirigida por Sérgio Brito. Posteriormente, o texto seria transformado pelo autor em roteiro de filme, dirigido por Paulo Porto e merecedor da Medalha de Prata no Festival Internacional de Moscou (1971). O mesmo texto, reescrito em 1972 por Vianninha, teve seu título mudado para "Nossa Vida em Família". Nesse ano, há dois acontecimentos marcantes na vida do artista: a alegria pelo nascimento do segundo filho, Pedro Ivo e a tristeza pelo falecimento de seu querido pai, Oduvaldo Viana. Além disso, perderia o emprego na TV Tupi e, em contrapartida, teria uma nova peça encenada sob a direção de José Renato: "Allegro Desbum".

Convidado a trabalhar na TV Globo, passaria a sofrer pressões das "patrulhas ideológicas", que consideravam que o artista capitulara diante das tentações do sistema. Mas Vianninha responde: "Recusar-se a trabalhar em televisão em pleno século XX é, no mínimo, burrice". Vianninha começa, então, a fazer adaptações de obras clássicas para telepeças, no programa "Casos Especiais", da Globo: "Medéia", "Noites Brancas", "A Dama das Camélias" (com Gilberto Braga), "Mirandolina", "Ano Novo", "Vida Nova", "As Aventuras de uma Garrafa de Champanhe" (com Domingos Oliveira), além de adaptar um texto de sua autoria, "O Matador".

"A Grande Família" seria lançado em 1973, na mesma emissora, em forma de seriado. Baseado em uma sitcom americana, Vianninha escrevia os textos com Armando Costa e o programa tinha a direção de Paulo Afonso Grisolli. O diretor considera Vianninha como um dos que mais contribuíram para introduzir um conceito de dramaturgia brasileira na televisão.

Rasga Coração

No dia 11 de abril de 1973 – véspera de Vianninha ser operado para a retirada de um Tumor no Pulmão – nasce a filha Mariana Marins Vianna. Com uma aparente melhora, o artista passaria a se dedicar aos episódios de "A Grande Família", além de continuar pesquisando para o segundo ato de "Rasga Coração" e de atualizar uma comédia do pai, "O Homem que Nasceu Duas Vezes", rebatizada de "Mamãe, Papai Está Ficando Roxo!", que seria dirigida por Walter Avancini. Mas seu estado de saúde piora e, com a ajuda da TV Globo, Vianninha e sua mulher viajam para os Estados Unidos (fevereiro de 1974), para que ele se submeta a novo tratamento. Volta ao Brasil no final de março, 15 quilos mais magro, desenganado. Porém, como um obstinado, começa a ditar para um gravador o segundo ato de "Rasga Coração", que começara a escrever em 1971. Deuscélia fazia a transcrição, datilografava e levava para o filho corrigir à mão.

Vianninha piorou e foi internado no Hospital Silvestre. Mesmo em estado crítico, decidiu ainda concluir o programa-piloto de "Turma, Minha Doce Turma" para a Globo. Enquanto isso, a batalha empreendida por José Renato para liberar "Rasga Coração" fora perdida. Além de censurada, a peça teve sua encenação e publicação proibidas. Mesmo assim, "Rasga Coração" recebeu o primeiro prêmio no concurso do SNT, por unanimidade da banca, sendo liberada pela Censura apenas cinco anos depois. No prefácio da peça, escrito em 28/02/1972, o autor dedicaria ao "lutador anônimo político, aos campeões de lutas populares; preito de gratidão à ‘velha guarda’: à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do país".

Oduvaldo Vianna, filho, veio a falecer na manhã do dia 16 de julho de 1974, aos 38 anos. Sua obra "Rasga Coração" estreou em 21 de setembro de 1979 no Teatro Guaíra (Curitiba/PR). A crítica de teatro Ilka Zanotto assim descreveu a estreia:

"Recebeu, ao descer a cortina, 8 minutos de aplausos, uma apoteose. Na segunda noite, o público simplesmente se recusava a deixar o teatro, com aplausos intermináveis, gritos de 'bravo', lágrimas e abraços, numa fusão total entre palco e plateia, mergulhado numa catarse autêntica preconizada pelo velho Aristóteles".

Não poderia ter outro resultado: Prêmio Molière de 1979.

Nelson Rodrigues, um ultra-crítico de Vianninha, assim declarou: "Rasga Coração é uma das mais belas e fascinantes obras-primas do teatro brasileiro. Não posso ser mais conclusivo e definitivo". Vianninha foi um autor super-premiado – só o Molière, foram quatro – que revolucionou a arte cênica brasileira com uma dramaturgia que tem, pelo menos, duas obras-primas: "Rasga Coração" e "Papa Highirte". Ele buscou, infatigavelmente, imprimir sentido político à sua notável produção intelectual, vinculando-a, desde os primeiros escritos, aos deserdados, aos oprimidos e aos derrotados.

Em entrevista a Alfredo Souto de Almeida, Vianninha falou sobre a influência que recebeu do pai:

"Acho que aprendi sempre vendo meu pai ditar as peças dele, as novelas dele, durante toda a vida [...] E eu acho que foi através disso que fui muito influenciado, mesmo. Inclusive eu tenho a impressão de que a influência é direta até no tipo de tratamento, no tipo de diálogo, um pouco sincopado, uma série de coisas que meu pai teve como característica".

Carlos Estevam, um dos fundadores e dirigente do CPC, assim resumiu:

"Sei que vou dizer uma frase bombástica, mas não estou enganado ao guardar do Vianninha a certeza de que ele seria a espécie humana num futuro remoto. O homem evoluirá para ser como ele foi; alguém completamente disponível para as outras pessoas".

"Se tu queres ver a imensidão do céu e do mar/ refletindo a prismatização da luz solar/ rasga o coração, vem te debruçar/ sobre a vastidão do meu penar".
(Catulo da Paixão Cearense / Anacleto Medeiros)

Ele morreu de câncer com menos de 40 anos e em pleno sucesso profissional e estava casado pela segunda vez com Maria Lúcia Mariz, com quem teve dois filhos.

Fonte: Funarte