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Ana Néri

ANA JUSTINA FERREIRA NÉRI
(65 anos)
Enfermeira, Heroina e Patrona da Enfermagem

* Cachoeira, BA (13/12/1814)
+ Rio de Janeiro, RJ (20/05/1880)

Ana Néri foi uma enfermeira brasileira e foi a pioneira brasileira da enfermagem.

Era filha de José Ferreira de Jesus e de Luísa Maria das Virgens. Casou-se com capitão-de-fragata Isidoro Antônio Néri. O marido morreu em 1843, deixando-a com três filhos: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Néri Filho. Dois filhos eram oficiais do Exército.

Tempos de Guerra

Em 1865, o Brasil formava a Tríplice Aliança com a Argentina e o Uruguai. Quando estourou a Guerra do Paraguai, os filhos de Ana Néri foram convocados, assim como dois de seus irmãos. Um sobrinho ofereceu-se como voluntário e também seguiu como soldado. Ver seus parentes indo à luta armada mexeu muito com a matriarca de 51 anos de idade. Tocada, escreveu ao presidente da província, cargo equivalente ao de governador nos dias de hoje. Requeria um posto na guerra como voluntária, alegando querer ficar perto dos filhos e atenuar o sofrimento dos combatentes como enfermeira, trabalho que dominava com muita propriedade. Aprendeu em um hospital local o ofício da enfermagem, ajudando sempre que podia, com muita presteza, em uma época em que não existiam cursos de formação para enfermeiros no país.

Entretanto, Ana Néri não esperou a resposta do presidente baiano. Viajou para o Rio Grande do Sul, principal base brasileira para os militares que seguiam para o front e tornava-se a primeira mulher brasileira a exercer a profissão oficialmente. Ajudava-lhe muito seus amplos conhecimentos de fitoterapia, a arte de utilizar matérias-primas naturais para fins medicinais.

Na frente de batalha, Ana Néri demonstrou muita garra, coragem e amor ao próximo, ajudando muitos feridos. Vários puderam voltar para suas famílias por terem sido prontamente tratados pela enfermeira. Seus conhecimentos sobre cauterização pouparam muitos combatentes que poderiam sucumbir a ferimentos.

Sem Olhar a Quem

Ficou no front por quase 5 anos, tornando-se famosa por onde passava por causa de sua tenacidade, compaixão e competência. Ver tantas mortes de ambos os lados não a fez parar, embora ela tenha perdido um filho e um sobrinho nos combates. As mortes dos paraguaios aumentavam aos montes, massacrados pelo exército da Aliança em um dos episódios mais sangrentos e vergonhosos da história sul-americana. Seu dever se sobrepunha inclusive ao patriotismo: tratava com a mesma compaixão soldados paraguaios que encontrava feridos, inclusive os torturados, o que não era muito bem visto por alguns militares brasileiros (ajudava-a o fato de seus dois irmãos serem oficiais de alta patente). Mesmo assim, arriscava-se e exercia sua função sem olhar a quem beneficiava. Salvou muitas vidas de soldados e civis dos quatro países que participavam do embate, incluindo crianças do lado paraguaio "convocadas" para guerrear, e muitos foram os menores mutilados e mortos na carnificina.

Assunção, capital do Paraguai, foi sitiada pelo Brasil. Usando recursos financeiros próprios, oriundos de herança familiar, Ana Néri montou uma enfermaria-modelo no local. Em meio a muito trabalho, a brasileira adotou três crianças - filhos de pais desaparecidos em combate. No fim da guerra, levou-os com ela para o Brasil. Recebeu do imperador Dom Pedro II uma medalha e uma pensão vitalícia para cuidar dos novos filhos.

Mas a homenagem não foi dada somente pela corte. O povo da capital brasileira, então o Rio de Janeiro, a recebeu com uma calorosa festa nas ruas. Foi acolhida com uma chuva de pétalas de rosas. Uma numerosa caravana de baianos seguiu para a corte para a recepção. Na Bahia, em 1870, recebeu condecorações da província e ocupou lugar de honra na Câmara Municipal de Salvador.


O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.  Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício do Paço Municipal.

O médico Carlos Chagas, então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, homenageou-a, colocando o nome da valorosa combatente na primeira escola de enfermagem do Brasil, que primava pela qualidade. A antes chamada Rua da Matriz, onde a enfermeira nasceu, foi renomeada Rua Ana Néri.

Em 20 de maio de 1880, Ana Néri morre aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Foi sepultada com muitas honras por parte das autoridades e do povo.

Em 1938, Getúlio Vargas, assinou o Decreto n.º 2.956, que instituía o Dia do Enfermeiro, a ser celebrado a 12 de maio, devendo nesta data ser prestadas homenagens especiais à memória de Anna Nery, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do país. 

Em 2009, por intermédio da Lei n.º 12.105, de 2 de dezembro de 2009, Anna Justina Ferreira Nery entrou para o Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Maria Quitéria

MARIA QUITÉRIA DE JESUS MEDEIROS
(61 anos)
Militar e Heroína

* Feira de Santana, BA (27/07/1792)
+ Salvador, BA (21/08/1853)

Foi uma militar brasileira, heroína da Guerra da independência do Brasil. Considerada a Joana d'Arc brasileira, é a patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro (Decreto de 28/06/1996).

Infância e Juventude

Maria Quitéria nasceu no Sítio do Licurizeiro, uma pequena propriedade no Arraial de São José das Itapororocas, na comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, atual município de Feira de Santana no estado da Bahia. Foi a filha primogênita dos brasileiros Gonçalo Alves de Almeida e Quitéria Maria de Jesus. A data mais aceita pelos pesquisadores para o seu nascimento é a de 1792.

Em 1803, tendo cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe. Cinco meses após enviuvar, o pai casou-se em segundas núpcias com Eugênia Maria dos Santos, que veio a falecer pouco tempo depois, sem que da união nascessem filhos. A família mudou-se então para a Fazenda Serra da Agulha.

Na nova residência, Gonçalo Alves casou-se pela terceira vez, com Maria Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta, afirma-se, nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria. Embora sem uma educação formal, uma vez que à época as escolas eram poucas e restritas aos grandes centros urbanos, Maria Quitéria aprendera a montar, a caçar e a usar armas de fogo, conhecimentos essenciais à época.

As Lutas Pela Independência

Maria Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em Janeiro de 1822 transferiram-se para Salvador as tropas portuguesas, sob o comando do Governador das Armas Inácio Luís Madeira de Melo, registrando-se em fevereiro o martírio de Joana Angélica, no Convento da Lapa, naquela Capital.

Em 25 de junho, a Câmara Municipal da Vila de Cachoeira aclamou o Príncipe Regente Dom Pedro I como "Regente Perpétuo" do Brasil. Por essa razão, em julho, uma canhoneira portuguesa, fundeada na barra do Rio Paraguaçu, alvejou Vila de Cachoeira, reduto dos independistas baianos. A 6 de setembro, instalou-se na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que defendia o movimento pró-independência da Bahia ativamente, enviando emissários a toda a Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um Exército Libertador.

Praça da Soledade - Bairro da Liberdade, Salvador, BA
O "Soldado Medeiros"

Tendo o velho Gonçalo, viúvo, sem filho varão, se escusado a colaborar, para a sua surpresa, a filha Maria Quitéria, pediu-lhe autorização para se alistar. Tendo o pedido negado pelo pai, fugiu, dirigindo-se a casa de sua meia-irmã Teresa Maria, casada com José Cordeiro de Medeiros e, com o auxílio de ambos, cortou os cabelos. Vestindo-se como um homem, dirigiu-se à Vila de Cachoeira, onde se alistou sob o nome de Medeiros, no Regimento de Artilharia, onde permaneceu até ser descoberta pelo pai, duas semanas mais tarde.

Defendida pelo major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro Alves), comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe (popularmente apelidado de Batalhão dos Periquitos, devido aos punhos e gola de cor verde de seu uniforme), foi incorporada a esta tropa, em virtude de sua facilidade no manejo das armas e de sua reconhecida disciplina militar. Aqui, ao seu uniforme, foi acrescentado um saiote à escocesa.

A 29 de outubro seguiu com o seu batalhão para participar da defesa da Ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapuã, integrando a Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses (dois, segundo alguns autores), escoltando-os, sozinha, ao acampamento.

Em 31 de março, no posto de cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios.

Finalmente, a 2 de julho de 1823, quando o Exército Libertador entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de cadete, envergava uniforme de cor azul, com saiote por ela elaborado, além de capacete com penacho.

A Heroína da Independência

Por seus atos de bravura em combate, o general Pedro Labatut, enviado por Dom Pedro I para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete.

No dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo Imperador em pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro, com seguinte pronunciamento:

"Querendo conceder a Dona Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro."

Além da comenda, foi promovida a Alferes de Linha, posto em que se reformou, tendo aproveitado a ocasião para pedir ao Imperador uma carta solicitando ao pai que a perdoasse por sua desobediência.

Os Últimos Anos

Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.

Viúva, mudou-se para Feira de Santana em 1835, onde tentou receber a parte que lhe cabia na herança pelo falecimento do pai no ano anterior. Desistindo do inventário, devido à morosidade da justiça, mudou-se com a filha para Salvador, nas imediações de onde veio a falecer aos 61 anos de idade, quase cega e no anonimato.

Os seus restos mortais estão sepultados na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana, no bairro de Nazaré em Salvador.

Testemunhos

O pesquisador Aristides Milton, nas Efemérides Cachoeiranas, considera Maria Quitéria "tão valente quanto honesta senhora".

A inglesa Maria Graham, por sua vez, deixou registrado:

"Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis." (Journal Of a Voyage To Brazil)

Homenagens

Maria Quitéria é homenageada por uma medalha militar e por uma comenda com o seu nome, na Câmara Municipal de Salvador. Do mesmo modo, a Câmara Municipal de Feira de Santana instituiu a Comenda Maria Quitéria, para distinguir personalidades com reconhecida contribuição à municipalidade, e ergueu-lhe um monumento na cidade, no cruzamento da avenida Maria Quitéria com a Getúlio Vargas.

A sua iconografia mais conhecida é um retrato de corpo inteiro, pintado por Domenico Failutti (1920). Presenteado pela Câmara Municipal de Cachoeira, integra atualmente o acervo do Museu Paulista, em São Paulo.

Por decreto da Presidência da República, datado de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria foi reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. A sua imagem encontra-se em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares da Força, por determinação ministerial.

Fonte: Wikipédia

Maria Felipa

MARIA FELIPA DE OLIVEIRA
Heroína da Independência da Bahia

☼ Ilha de Itaparica, BA
┼ Bahia (04/01/1873)

Maria Felipa era descendente de africanos sudaneses.

Natural de Itaparica, Maria Felipa foi uma mulher de muita coragem, de beleza por porte físico exuberante, habilidade de capoeirista e trabalhadora marisqueira, muito querida da pela população da Ilha de Itaparica, onde participou das lutas pela Independência na Bahia.

Maria Felipa comandou cerca de 40 mulheres num ato de ousadia e muito desembaraço, onde queimaram 42 barcos da esquadra portuguesa, permitindo ao povo de Salvador a supremacia nos embates e a definição da situação, com a vitória sobre as tropas da dominação Portuguesa.

Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de Cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas.

"Maria Felipa foi uma guerreira negra que junto com cerca de 40 mulheres seduziram os portugueses e quando eles estavam completamente envolvidos, e sem roupa, deram-lhes uma surra de Cansanção."
(Hilda Virgens, da Casa de Maria Felipa)

Maira Felipa, ainda que pouco conhecida, é estudada hoje em Faculdades e Universidades. Esta mulher negra que lutou pela independência da Bahia ainda não foi devidamente reconhecida na História da Independência da Bahia.

Atualmente, Maria Filipa é considerada matriarca da Independência de Itaparica, devido a seu ato de bravura contra os portugueses nas praias da Ilha. Seus feitos heroicos foram mencionados, inicialmente, nos estudos do historiador Ubaldo Osório Pimentel.

Em 2007, a heroína entrou no circuito oficial das comemorações do 2 de Julho, como uma das grandes homenageadas pela Independência Baiana.

Resgate

Segundo pesquisa de Eny Farias, Ubaldo Osório relata que em janeiro de 1905 o Conselho Municipal da Ilha de Itaparica recebe um abaixo assinado, solicitando que determinada rua passe a ter o nome de Maria Felipa.

Uma das ruas de Itaparica tem o nome de Maria Felipa, porém isto só ocorreu em 2007, ou seja, em mais de um século. O silêncio que faz calar o nome de Maria Felipa faz lembrar a autora Neusa Souza, que escreveu a obra "Tornar-se Negro", na qual afirma que "saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas".

Os diálogos na Ilha apontam o fato de Maria Felipa ter sido negra como motivo para seu esquecimento nos livros didáticos e nas comemorações. Contudo, lembramos mais uma vez Neusa Souza quando comenta que a experiência de ser negra é de igual modo "comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades".

A heroína excluída das festividades no dia em que se comemora a independência da Bahia é historiada por Ubaldo Osório, que, inclusive, presta homenagem a Maria Felipa ao colocar o seu nome na primeira filha. Outro autor que comenta sobre ela é Xavier Marques em seu livro "Sargento Pedro", premiado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1920.

Jurandir Pires Pereira cita seu nome, considerando-a como heroína, e, em 1985, João Ubaldo Ribeiro trata de Maria Felipa como Maria da Fé, atribuindo-lhe diversas atitudes políticas no seu famoso livro "Viva o Povo Brasileiro", e conclui:

"As Faculdades Integradas Olga Mettig se orgulham em ter retomado as pesquisas sobre a heroína e de ter somado novas revelações com a Irmandade do Rosário do Pelourinho, na criação da Casa Maria Felipa, quando coordenou o Curuzu: Corredor Cultural da Liberdade, quando divulgou em jornais de Salvador os feitos desta mulher negra e apresentou trabalhos em dois eventos: I Congresso de Pesquisadores Negros da Bahia e no Seminário A Abolição Inacabada."

É preciso divulgar mais os valores da nossa terra.

Excluída dos livros didáticos e esquecida pela maioria dos historiadores, a guerreira Maria Felipa é, agora, finalmente enaltecida no livro "Maria Felipa de Oliveira - Heroína da Independência da Bahia", de Eny Kleyde Vasconcelos Farias, educadora.

Sobre a Foto Publicada

Retrato de Maria Felipa. Desenho da artista plástica Filomena Orge, com base em relatos históricos, pesquisa e fotos de descendentes vivos da heroína negra. A imagem foi feita em 2005 e não retrata com 100% de certeza o rosto de Maria Felipa, mas faz uma projeção de como ela seria.

Aracy Guimarães Rosa

ARACY MOEBIUS DE CARVALHO GUIMARÃES ROSA
(102 anos)
Poliglota e Tem Seu Nome Inscrito no Jardim dos Justos Entre as Nações
"O Anjo de Hamburgo"

* Rio Negro, PR (05/12/1908)
+ São Paulo, SP (03/03/2011)

O nome de João Guimarães Rosa é conhecido de norte a sul do Brasil. Um dos maiores escritores do país, seus personagens são inesquecíveis. Mas e de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, alguém já ouviu falar?

Para quem não sabe, Araci foi o grande amor e a grande companheira do escritor. Dizem que o personagem Diadorim do livro Grande Sertão, Veredas foi inspirado nela.

Foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty, tornando-se a segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa. Aracy também é conhecida por ter seu nome escrito no Jardim dos Justos Entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. A homenagem foi prestada em 8 de julho de 1982, ocasião em que também foi homenageado o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas. Ela é uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto de Washington (EUA).

Paranaense, nasceu em Rio Negro (PR), e ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, Aracy casou com o alemão Johan von Teff, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Teff, mas cinco anos depois se separou, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha. Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Seção de Passaportes.

No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no país. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu.

Nessa época, João Guimarães Rosa era cônsul adjunto (ainda não eram casados). Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.

Seu coração generoso foi mais além. Na época, a Alemanha vivia um racionamento de comida e, os judeus recebiam uma quantidade menor de alimentos. Aracy passou a alimentá-los com a cota extra que recebia no Consulado. Ia de casa em casa distribuindo comida. Dizem que Guimarães Rosa a acompanhava nessas distribuições, mesmo morrendo de medo pelo que poderia acontecer com sua mulher.

Aracy é a única mulher brasileira que tem o nome no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Lá, há uma árvore plantada em sua homenagem no chamado Jardim dos Justos, onde são citados outros protetores famosos, como Oskar Schindler.

Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados. Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. João Guimarães Rosa ficaram quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas alemães. Aracy e João Guimarães Rosa casaram, então, no México, por não haver ainda, no Brasil, o divórcio.

Sua biografia inclui também ajuda a compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga.

Aracy enviuvou no ano de 1967 e não se casou novamente. Sofria de Mal de Alzheimer e morreu no dia 3 de março de 2011 em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos.