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Joaquim Rolla

JOAQUIM ROLLA
(72 anos)
Tropeiro e Empresário

* São Tomé - Distrito de Dom Silvério, MG (15/08/1899)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/07/1972)

Joaquim Rolla foi um tropeiro e, posteriormente, empreendedor brasileiro do ramo dos jogos e turismo.

Nascido no interior de Minas Gerais, Joaquim Rolla estudou apenas o primário e logo sua veia empreendedora atinou para que vendesse gasosa (tipo de bebida alcoólica obtida do abacaxi) aos imigrantes alemães estabelecidos desde o início do século em São Domingos do Prata, cidade onde cresceu e foi criado.

Joaquim Rolla era sobrinho do cacique político local, o coronel Francisco Leôncio Rolla, do Partido Republicano Mineiro. Ainda adolescente foi agraciado por ele com uma tropa de burros para escoar a produção de sua região e trazer de fora todo tipo de mantimento que não se produzia ali. Virou um grande tropeiro e logo suas viagens pelos sertões da região centro-leste de Minas Gerais fez que brotasse em Joaquim o sentimento pelo jogo de cartas. Perdeu e ganhou todo seu escoamento, tropa e tudo que possuía por algumas vezes, mas logo recuperava tudo, sonhava mais alto e foi seguir seu tino empreendendo prestação de serviços ao governo.

Começou a construir diversas estradas por sua região, através de contatos com o ex-presidente Artur Bernardes. No fim da década de 1920, seguiu para Belo Horizonte, onde fundou com seu irmão João Rolla o Mundo das Meias e logo declinou do negócio a favor do irmão. Em 1953 a loja passou a se denominar Casa Rolla e até os dias atuais persiste. Arriscou em Belo Horizonte como proprietário de alguns jornais.

Na Revolução de 1930, a pedido do então governador Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, liderou uma tropa de soldados a favor do vitorioso golpe para garantir a condução de Getúlio Vargas ao poder. Na Revolução Constitucionalista de 1932, apoiou os paulistas ao lado de Artur Bernardes e permaneceu preso por um período.

Logo depois dos acontecimentos políticos que abalaram o país, visitou o Rio de Janeiro com grande frequência, tendo nos cassinos o seu maior interesse. O Cassino da Urca era o seu predileto. Não era o maior da cidade, mas tinha lá o seu glamour.

Um dia sentou na mesa com alguns políticos notáveis e manifestou a eles o desejo de comprar aquele cassino. Eles ficaram admirados de um jovem com pouco mais de 30 anos querer comprar um cassino, não acreditaram muito naquela história, mas gostaram da idéia daquele mineiro visionário. Conferida a autenticidade do seu desejo em comprar o cassino, os políticos topam uma "Sociedade Anônima" com Joaquim Rolla, que na verdade era um tipo de proteção política para um negócio com tantos inimigos.

Joaquim Rolla fundou o Cassino da Urca, em 1933, e transformou a história do entretenimento nacional. Ele foi pioneiro na contratatação de artistas estrangeiros de renome para apresentações tanto no seu cassino quanto na Rádio Tupi, do amigo Assis Chateaubriand


O Cassino da Urca deu certo e o jovem empreendedor ampliou o seu leque de negócios em Belo Horizonte, no complexo da Pampulha, em Niterói com o Cassino de Icaraí, além de estâncias hidrominerais como Araxá, Poços de Caldas e Lambari, que só funcionou por uma noite.

Nos anos dourados em que o rádio reinava no Brasil, havia uma ética na propaganda, não se podia fazer uma panfletagem apenas do produto, era necessário um acompanhamento artístico ligando o jogo a cultura, de modo que no caso dos cassinos tinham em seus números musicais o seu maior filão para poder fazer publicidade nos jornais e rádios cariocas daquele tempo. Artistas internacionais do calibre de Glenn Miller faziam apresentações pelos cassinos e pelas rádios locais, descendo dos cruzeiros que passavam pela cidade maravilhosa. Como o cachê não era barato, o que fazia os artistas descerem dos luxuosos transatlânticos era uma certa sociedade entre Joaquim Rolla e Assis Chateaubriand para que as estrelas cantassem nas rádios do Grupo Diários Associados durante o dia e fizessem apresentações no cassino durante a noite.

Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, as viagens de artistas internacionais começaram a escassear gradativamente com o medo de bombardeios navais cada vez mais frequentes e os voos cada vez mais perigosos. Os cassinos então passaram a investir na carreira de artistas nacionais para poder continuar com suas campanhas publicitárias de grande apelo. Carmem Miranda e Grande Otelo são alguns dos símbolos dessa época de ouro. Agências de publicidade foram fundadas por Joaquim Rolla no intuito único e exclusivo de ampliar o leque publicitário de seus cassinos.

Palácio Quitandinha
Palácio Quitandinha e o Edifício JK

E foi em 1941 que Joaquim Rolla começou a realização de seu maior sonho: o Cassino Quitandinha, na cidade de Petrópolis. Nas dependências deste luxuoso cassino ocorreu a assinatura da declaração de guerra dos países americanos as Potências do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial. Caso estivesse funcionando como local de jogo hoje, ainda seria o maior cassino da América Latina. O lago em toda a extensão de sua imponente fachada possui o formato do mapa do Brasil e foi construído como único suporte viável no caso de um inesperado incêndio. 


O cassino teve suas atividades suspensas em 30 de abril de 1946, com a proibição do jogo no Brasil pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. A partir de então, passou a ser hotel, conhecido como Palácio Quitandinha. Mas o Quitandinha não conseguiu sobreviver apenas como hotel por muito tempo. Funciona como local para congressos, eventos, shows e feiras.

Em 1952, começou a ser projetado em Belo Horizonte, um novo empreendimento de Joaquim Rolla. O Edifício JK, ainda hoje o maior prédio da capital mineira, foi encomendado ao arquiteto Oscar Niemeyer para realçar o nome daquele que seria o próximo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira. São dois edifícios um de 23 e outro com 36 andares totalizando 1086 apartamentos. A população do Edifício JK são cerca de 5.000 moradores.

No fim da década de 1950, encomendou ao arquiteto Sérgio Bernardes o projeto do Pavilhão de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, como espaço permanente de Exposição Internacional ligando as Indústrias Cariocas com o comércio. O vão protegido com uma cobertura circular semi-rígida com dupla curvatura cobria o maior vão livre do mundo. Com a falência das indústrias cariocas e a falta de conservação desse pavilhão, o telhado "em forma de uma sela de cavalo" veio a tombar sendo que no local restou só as ruínas onde anos depois, aproveitando as paredes, instalou-se  um reduto nordestino em terras cariocas em homenagem ao artista Luiz Gonzaga.

Joaquim Rolla faleceu em 29 de julho de 1972 no seu apartamento em Ipanema, Rio de Janeiro, logo após uma partida de peteca.


A Biografia de Joaquim Rolla

Baseado em fatos verídicos, o livro "O Rei da Roleta: A Incrível Vida de Joaquim Rolla" (Casa da Palavra). João Perdigão, sobrinho-bisneto do biografado, dividiu os créditos da criação com Euler Corradi, depois de mais de seis anos de pesquisa, com direito a entrevistas e a arquivos revirados. Trata-se de um relato sobre a trajetória pessoal e profissional do personagem mineiro, que teve sorte e azar em momentos importantes para a cultura e a história do Brasil.

Preso três vezes e auto-exilado no Rio de Janeiro por motivos políticos, Joaquim Rolla fundou o Cassino da Urca, em 1933. Ele foi pioneiro na contratatação de artistas estrangeiros de renome para apresentações tanto no seu cassino quanto na Rádio Tupi, do amigo Assis Chateaubriand. Entre as celebridades que o cercaram pode-se destacar Josephine Baker e Bing Crosby.

Também foi em seu estabelecimento que Carmen Miranda se consagrou como a artista mais bem paga do país e que Orson Welles rodou parte do filme "It's All True".

Joaquim Rolla foi responsável ainda por outras construções importantes em território brasileiro, em parceria com arquitetos famosos do quilate de Oscar Niemeyer.

Fonte: Wikipédia

Tiradentes

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER
(45 anos)
Dentista, Tropeiro, Minerador, Comerciante, Militar e Ativista Político

* Fazenda do Pombal, MG (Batizado em 12/11/1746)
+ Rio de Janeiro, RJ (21/04/1792)

Ativista político, atuou no Brasil colonial, mais especificamente nas capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Brasil, é reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira, patrono cívico do Brasil, patrono também das Polícias Militares dos Estados e herói nacional.

O dia de sua execução, 21 de abril, é feriado nacional. A cidade mineira de Tiradentes, antiga Vila de São José do Rio das Mortes, foi renomeada em sua homenagem.

Nascido em uma fazenda no distrito de Pombal, próximo ao arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, à época território disputado entre as vilas de São João Del-Rei e São José do Rio das Mortes, na Minas Gerais. O nome da fazenda "Pombal" é uma ironia da história: O Marquês de Pombal foi arqui-inimigo de Dona Maria I contra a qual Tiradentes conspirou, e que comutou as penas dos inconfidentes.

Joaquim José da Silva Xavier era filho do reinol Domingos da Silva Santos, proprietário rural, e da brasileira Maria Antônia da Encarnação Xavier (prima em segundo grau de Antônio Joaquim Pereira de Magalhães), tendo sido o quarto dos sete filhos.

Em 1755, após o falecimento de sua mãe, segue junto a seu pai e irmãos para a sede da Vila de São José. Dois anos depois, já com onze anos, morre seu pai. Com a morte prematura dos pais, logo sua família perde as propriedades por dívidas. Não fez estudos regulares e ficou sob a tutela de um padrinho, que era cirurgião. Trabalhou como mascate e minerador, tornou-se sócio de uma botica de assistência à pobreza na ponte do Rosário, em Vila Rica, e se dedicou também às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe valeu o apelido de Tiradentes.

Com os conhecimentos que adquirira no trabalho de mineração, tornou-se técnico em reconhecimento de terrenos e na exploração dos seus recursos. Começou a trabalhar para o governo no reconhecimento e levantamento do sertão brasileiro. Em 1780, alistou-se na tropa da Capitania de Minas Gerais; em 1781, foi nomeado comandante do destacamento dos Dragões na patrulha do "Caminho Novo", estrada que servia como rota de escoamento da produção mineradora da capitania mineira ao porto Rio de Janeiro. Foi a partir desse período que Tiradentes começou a se aproximar de grupos que criticavam a exploração do Brasil pela metrópole, o que ficava evidente quando se confrontava o volume de riquezas tomadas pelos portugueses e a pobreza em que o povo permanecia. Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira militar, tendo alcançando apenas o posto de alferes, patente inicial do oficialato à época, e por ter perdido a função de comandante da patrulha do Caminho Novo, pediu licença da cavalaria em 1787.

Morou por volta de um ano na cidade carioca, período em que idealizou projetos de vulto, como a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para a melhoria do abastecimento de água no Rio de Janeiro; porém, não obteve aprovação para a execução das obras. Esse desprezo fez com que aumentasse seu desejo de liberdade para a colônia. De volta às Minas Gerais, começou a pregar em Vila Rica e arredores, a favor da independência daquela província. Fez parte de um movimento aliado a integrantes do clero e da elite mineira, como Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de governo, Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, minerador. O movimento ganhou reforço ideológico com a independência das colônias estadunidenses e a formação dos Estados Unidos da América. Ressalta-se que, à época, oito de cada dez alunos brasileiros em Coimbra eram oriundos das Minas Gerais, o que permitiu à elite regional acesso aos ideais liberais que circulavam na Europa.

A Inconfidência Mineira

Além das influências externas, fatores regionais e econômicos contribuíram também para a articulação da conspiração nas Minas Gerais. Com a constante queda na receita provincial, devido ao declínio da atividade da cana de açúcar, a administração de Martinho de Melo e Castro instituiu medidas que garantissem o Quinto, imposto que obrigava os moradores das Minas Gerais a pagar, anualmente, cem arrobas de prata, destinadas à Real Fazenda. A partir da nomeação de Antônio da Cunha Meneses como governador da província, em 1782, ocorreu a marginalização de parte da elite local em detrimento de seu grupo de amigos. O sentimento de revolta atingiu o máximo com a decretação da derrama, uma medida administrativa que permitia a cobrança forçada de impostos atrasados, mesmo que preciso fosse confiscar todo o dinheiro e bens do devedor, a ser executada pelo novo governador das Minas Gerais, Luís Antônio Furtado de Mendonça, 6.º Visconde de Barbacena (futuro Conde de Barbacena), o que afetou especialmente as elites mineiras. Isso se fez necessário para se saldar a dívida mineira acumulada, desde 1762, do quinto, que à altura somava 538 arrobas de ouro em impostos atrasados.

O movimento se iniciaria na noite da insurreição: os líderes da "inconfidência" sairiam às ruas de Vila Rica dando vivas à República, com o que ganhariam a imediata adesão da população. Porém, antes que a conspiração se transformasse em revolução, em 15 de março de 1789 foi delatada aos portugueses por Joaquim Silvério dos Reis, coronel, Basílio de Brito Malheiro do Lago, tenente-coronel, e Inácio Correia de Pamplona, luso-açoriano, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda. Anos depois, por sua delação e outros serviços prestados à Coroa, Silvério dos Reis receberia o título de Fidalgo.

Entrementes, em 14 de março, o Visconde de Barbacena já havia suspendido a derrama o que de esvaziara por completo o movimento. Ao tomar conhecimento da conspiração, Barbacena enviou Silvério dos Reis ao Rio para apresentar-se ao vice-rei, que imediatamente (em 7 de maio) abriu uma investigação (devassa). Avisado, o alferes Tiradentes, que estava em viagem licenciada ao Rio de Janeiro escondeu-se na casa de um amigo, mas foi descoberto ao tentar fazer contato com Silvério dos Reis e foi preso em 10 de maio. Dez dias depois o Visconde de Barbacena iniciava as prisões dos inconfidentes em Minas.

Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo e Melo, José da Silva e Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues da Costa, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante dos Dragões, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Joaquim José dos Reis (um dos delatores do movimento), os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor.

Os principais planos dos inconfidentes eram: estabelecer um governo republicano independente de Portugal, criar manufaturas no país que surgiria, uma universidade em Vila Rica e fazer de São João Del-Rei a capital. Seu primeiro presidente seria, durante três anos, Tomás Antônio Gonzaga, após o qual haveria eleições. Nessa república não haveria exército – em vez disso, toda a população deveria usar armas, e formar uma milícia quando necessária. Há que se ressaltar que os inconfidentes visavam a autonomia somente da província das Minas Gerais, e em seus planos não estava prevista a libertação dos escravos africanos, apenas daqueles nascidos no Brasil.

Julgamento e Sentença

Negando a princípio sua participação, Tiradentes foi o único a, posteriormente, assumir toda a responsabilidade pela "inconfidência", inocentando seus companheiros. Presos, todos os inconfidentes aguardaram durante três anos pela finalização do processo. Alguns foram condenados à morte e outros ao degredo; algumas horas depois, por carta de clemência de D. Maria I, todas as sentenças foram alteradas para degredo, à exceção apenas para Tiradentes, que continuou condenado à pena capital, porém não por morte cruel como previam as Ordenações do Reino: Tiradentes foi enforcado.

Os réus foram sentenciados pelo crime de "lesa-majestade", definida, pelas ordenações afonsinas e as Ordenações Filipinas, como traição contra o rei. Crime este comparado à hanseníase pelas Ordenações Filipinas:

"Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que é tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam, que o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que é apartado da comunicação da gente: assim o erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa."

Por igual crime de lesa-majestade, em 1759, no reinado de D. José I de Portugal, a família Távora, no processo dos Távora, havia padecido de morte cruel: tiveram os membros quebrados e foram queimados vivos, mesmo sendo os nobres mais importantes de Portugal. A Rainha Dona Maria I sofria pesadelos devido à cruel execução dos Távoras ordenado por seu pai D. José I e terminou por enlouquecer.

Em parte por ter sido o único a assumir a responsabilidade, em parte, provavelmente, por ser o inconfidente de posição social mais baixa, haja vista que todos os outros ou eram mais ricos, ou detinham patente militar superior. Por esse mesmo motivo é que se cogita que Tiradentes seria um dos poucos inconfidentes que não era tido como maçom.

E assim, numa manhã de sábado, 21 de abril de 1792, Tiradentes percorreu em procissão as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, no trajeto entre a cadeia pública e onde fora armado o patíbulo. O governo geral tratou de transformar aquela numa demonstração de força da coroa portuguesa, fazendo verdadeira encenação. A leitura da sentença estendeu-se por dezoito horas, após a qual houve discursos de aclamação à rainha, e o cortejo munido de verdadeira fanfarra e composta por toda a tropa local. Bóris Fausto aponta essa como uma das possíveis causas para a preservação da memória de Tiradentes, argumentando que todo esse espetáculo acabou por despertar a ira da população que presenciou o evento, quando a intenção era, ao contrário, intimidar a população para que não houvesse novas revoltas.

Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarados infames a sua memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, tendo sido rapidamente cooptada e nunca mais localizada; os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para que nada lá germinasse.

"Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável réu; [...]"
Sentença proferida contra os réus do levante e conjuração de Minas Gerais


Legado de Tiradentes Perante a História do Brasil

Tiradentes permaneceu, após a Independência do Brasil, uma personalidade histórica relativamente obscura, dado o fato de que o Brasil continuou sendo uma monarquia após a independência do Brasil, e, durante o Império, os dois monarcas, D. Pedro I e D. Pedro II, pertenciam à casa de Bragança, sendo, respectivamente, neto e bisneto de D. Maria I, contra a qual Tiradentes conspirara, e, que havia emitido a sentença de morte de Tiradentes e comutado as penas dos demais inconfidentes. Durante a fase imperial do Brasil, Tiradentes também não era aceito pelo fato de ele ser republicano. O "Código Criminal do Império do Brasil", sancionado em 16 de dezembro de 1830, também previa penas graves para quem conspirasse contra o imperador e contra a monarquia:

"Art. 87. Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o Imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."
Código Criminal de 1830

Foi a República – ou, mais precisamente, os ideólogos positivistas que presidiram sua fundação – que buscaram na figura de Tiradentes uma personificação da identidade republicana do Brasil, mitificando a sua biografia. Daí a sua iconografia tradicional, de barba e camisolão, à beira do cadafalso, vagamente assemelhada a Jesus Cristo e, obviamente, desprovida de verossimilhança. Como militar, o máximo que Tiradentes poder-se-ia permitir era um discreto bigode. Na prisão, onde passou os últimos três anos de sua vida, os detentos eram obrigados a raspar barba e cabelo a fim de evitar piolhos. Também, o nome do movimento, "Inconfidência Mineira", e de seus participantes, os "inconfidentes", foi cunhado posteriormente, denotando o caráter negativo da sublevação – inconfidente é aquele que trai a confiança. Outra versão diz que por inconfidência era termo usado na legislação portuguesa na época colonial e que "entendia-se por inconfidência a quebra da fidelidade devida ao rei, envolvendo, principalmente, os crimes de traição e conspiração contra a Coroa", e, que para julgar estes crimes eram criadas "juntas de inconfidência".

Historiadores como Francisco de Assis Cintra e o brasilianista Kenneth Maxwell procuram diminuir a importância de Tiradentes, enquanto autores mineiros como Oilian José e Waldemar de Almeida Barbosa procuram ressaltar sua importância histórica e seus feitos, baseando-se, especialmente, em documentos sobre ele existente no Arquivo Público Mineiro.

Atualmente, onde se encontrava sua prisão, funcionou a Câmara dos Deputados na chamada "Cadeia Velha", que foi demolida e no local foi erguido o Palácio Tiradentes que funcionava como Câmara dos Deputados até a transferência da capital federal para Brasília. No local onde foi enforcado ora se encontra a Praça Tiradentes e onde sua cabeça foi exposta fundou-se outra Praça Tiradentes. Em Ouro Preto, na antiga cadeia, hoje há o Museu da Inconfidência. Tiradentes é considerado atualmente Patrono Cívico do Brasil, sendo a data de sua morte, 21 de abril, feriado nacional. Seu nome consta no Livro de Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade, sendo considerado Herói Nacional.

Descendência

A questão da descendência de Tiradentes é controversa. Há poucas provas documentais sobre os mesmos.

Tiradentes nunca se casou. Teve um caso com Antónia Maria do Espírito Santo, a quem prometeu casamento e teve uma filha, Joaquina da Silva Xavier (31 de agosto de 1786). Constam autos do processo de Antónia Maria descobertos no Arquivo Público Mineiro que a mesma pediu a posse de um escravo que Tiradentes lhe havia dado e havia sido confiscado após sua morte. Ali é citada sua filha (cujo padrinho foi o também inconfidente Domingos de Abreu Vieira, rico comerciante) e faz dela a única descendente direta comprovada por documentação. Tiradentes também teria querido casar-se com uma moça de nome Maria, oriunda de São João del-Rei, filha de abastados portugueses que se opuseram à união.

Sem registros comprovados por documentação, Tiradentes teria tido com Eugênia Joaquina da Silva dois filhos, uma Joaquina que logo morreu e João de Almeida Beltrão, que teve oito filhos.

Para escapar das perseguições da coroa e da população, um destes netos trocou seu sobrenome para Zica, dos quais alguns descendentes recebem pensões.

Além destes, também foi concedida à sua tetraneta Lúcia de Oliveira Menezes, por meio da Lei federal 9.255/96, uma pensão especial do INSS no valor de R$ 200,00, o que causou polêmica sobre a natureza jurídica deste subsídio, mas solucionado pelo STF no agravo de instrumento 623.655.

Fonte: Wikipédia