Humberto Mauro

HUMBERTO MAURO
(86 anos)
Cineasta

* Volta Grande, MG (30/04/1897)
+ Volta Grande, MG (05/11/1983)

Humberto Mauro foi um dos pioneiros do cinema brasileiro. Fez filmes entre 1925 e 1974 sempre com temas brasileiros.

Filho de Gaetano Mauro, imigrante italiano, e de Teresa Duarte, mineira culta e poliglota, ele nasceu na Zona da Mata mineira dois anos depois da histórica sessão cinematográfica promovida pelos irmãos Lumière, em Paris. Quando criança, mudou-se com a família para Cataguases.


O Começo: O Ciclo de Cataguases

Desde cedo se dedicou à música, tocando o violino e o bandolim. Interessado também em mecânica, ingressou no curso de engenharia em Belo Horizonte, que abandonou um anos depois para voltar a Cataguases. Como as linhas de transmissão de eletricidade chegavam à região, trabalhou na instalação de energia elétrica nas fazendas.

Foi para o Rio de Janeiro em 1916, onde trabalhou como eletricista, retornando a Cataguases em 1920. Neste mesmo ano casou com Maria Vilela de Almeida (Dona Bebê), com quem permaneceu casado pelo resto da vida.

Em 1923, passou a se interessar por fotografia. Adquiriu uma câmera Kodak de Pedro Comello, pai da atriz Eva Nill, imigrante italiano a quem convenceu a se instalar em Cataguases como fotógrafo e de quem se tornaria amigo inseparável. Ambos compartilhavam de uma paixão pelo cinema, principalmente pelos filmes americanos de aventura. Admirava D.W. Griffith e King Vidor.

Em 1925, Humberto Mauro e Pedro Comello compraram uma câmara cinematográfica de 9,5 mm, marca Pathé, com a qual Humberto Mauro filmou um curta-metragem cômico de apenas 5 minutos de duração. Mostraram esse filme a comerciantes locais, tentando convencê-los a investir numa companhia produtora de filmes em Cataguases. Com o apoio financeiro de Homero Domingues compraram uma câmara de 35 mm e centenas de metros de filme. Mas o filme que resolveram fazer ficou inacabado.

Ainda em 1925, com a participação do negociante Agenor Cortes de Barros, fundaram em Cataguases a Phebo Sul América. Em 1926 realizam "Na Primavera da Vida" e em seguida "Thesouro Perdido", um filme nos moldes dos filmes de aventura americanos, com muitas e complicadas cenas de ação. Foi premiado como o melhor filme brasileiro de 1927. Este filme contou com a única participação nas telas da mulher de Humberto Mauro, com o nome artístico de Lola Lys.

Com o sucesso de "Thesouro Perdido", Humberto Mauro pôde ampliar sua produtora, rebatizada de Phebo Brasil, e desenvolver filmes de acordo com sua visão pessoal. Seu trabalho seguinte, "Brasa Dormida", é uma bem sucedida mistura de aventura e romance, com excelente aproveitamento dos cenários naturais, em que não falta uma excitante, para os padrões da época, cena erótica. Lançada em 1929, foi distribuída para todo o país.

Seu longa-metragem seguinte, seu último para a  Phebo Brasil, "Sangue Mineiro" é considerado sua obra-prima em Cataguases. Lançado em julho de 1929, percorreu todo o país com sucesso de crítica e público. Aqui ele deixa de lado a aventura e faz um filme intimista, em que os únicos conflitos são os do coração.

Humberto Mauro manteve estreitas ligações com poetas e escritores modernistas da época, especialmente com os integrante do chamado Movimento Verde. Criado em Cataguases após a Semana de Arte Moderna de 1922, tinha como integrantes Rosário Fusco, Francisco Inácio Peixoto, Ascânio Lopes e Guilhermino César, dentre outros, que eram responsáveis pela edição da Revista Verde, um dos marcos da literatura modernista brasileira.

Humberto Mauro e Ronaldo Werneck (1975)
Cinédia

Com o surgimento da Cinédia, em 1929 ele vai para o Rio de Janeiro e começa a trabalhar com Adhemar Gonzaga, dirigindo as primeiras produções do estúdio, "Barro Humano" e "Lábios Sem Beijos", mostrando domínio na técnica do cinema falado.

O sucesso desses filmes tornou a Cinédia o estúdio mais importante da época. Em 1931 foi lançado "Mulher", na qual Humberto Mauro atuou como câmera, cabendo a direção a Octavio Gabus Mendes. Seu filme seguinte, "Ganga Bruta", teve dificuldades na sua realização que se prolongou de 1931 a 1933. Era um filme de estrutura narrativa revolucionária para a época, com flashbacks e cortes rápidos.

Depois de dirigir a "Voz do Carnaval" (1933), seu primeiro musical, troca a Cinédia pela Brasil Vita Filmes (1934), um estúdio fundado pela atriz Carmen Santos, estrela de vários filmes de Humberto Mauro. Na nova casa, fez "Favela dos Meus Amores" (1935) e "Cidade Mulher" (1936).

Instituto Nacional do Cinema Educativo

A convite de Edgar Roquette-Pinto, Humberto Mauro se junta ao Instituto Nacional do Cinema Educativo, onde por décadas realizou documentários sobre temas tão variados como astronomia, agricultura e música.

Enquanto trabalhou no Instituto Nacional do Cinema Educativo, Humberto Mauro dirigiu apenas três longas metragens: "Descobrimento do Brasil" (1937), com música de Villa-Lobos, "Argila" (1940) e "Canto da Saudade" (1952), onde também trabalha como ator, num papel secundário.

Afastado do cinema desde 1974, quando fez o curta-metragem "Carro de Bois", passou a viver em seu sítio Rancho Alegre, em Volta Grande, onde morreu, aos 86 anos, quase que completamente cego, após uma forte pneumonia.

Humberto Mauro é autor do mais significativo ciclo regional do cinema brasileiro, iniciado em 1926 com "Na Primavera da Vida". Durante seus últimos anos de vida, Humberto Mauro foi a inspiração principal da geração do Cinema Novo. Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha eram seus admiradores declarados.

Mesmo sem dirigir, deu colaboração informal a cineastas como o próprio  Nelson Pereira, para quem escreveu os diálogos em tupi-guarani de "Como era Gostoso o Meu Francês", Paulo César Saraceni e Alex Vianny.

Apesar de não ter feito carreira internacional, devido às limitações da época, foi homenageado no Festival de Cannes como um dos cineastas mais importantes do século XX.

Em 1936 a carreira de Humberto Mauro sofreu mudança, ele se rendeu ao documentário. A pedido do então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, o professor Edgar Roquette-Pinto criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo e convidou Humberto Mauro. Filmou mais de 300 documentários de curta, entre 1936 e 1964: "Dia da Pátria", "Lição de Taxidermia", "Vacina Contra Raiva", "A Velha a Fiar" e "Higiene Doméstica", e, a série "As Brasilianas", na qual registrou exibições de músicas folclóricas.

Fonte: Wikipédia