Riachão

CLEMENTINO ROGRIGUES
(98 anos)
Cantor e Compositor

☼ Salvador, BA (14/11/1921)
┼ Salvador, BA (30/03/2020)

Clementino Rodrigues, mais conhecido pelo apelido de Riachão, foi um cantor e compositor nascido em Salvador, BA, no dia 14/11/1921. Foi um sambista dos mais reconhecidos do país, ao lado de Nelson Sargento, Dona Ivone Lara, Cartola e outros da velha guarda.

Por se inspirar em episódios extravagantes da capital baiana (como a exposição de uma baleia na Praça da Sé), ele passou a ser chamado de cronista musical. Expoente da era de ouro do rádio baiano nas décadas de 1940 e 1950, seus sambas irreverentes, tais como "Retrato da Bahia" e "Bochechuda e Papuda", o tornaram ganhador do Troféu Gonzaga.

Riachão nasceu na rua Língua de Vaca, no bairro de Garcia em Salvador, BA.

Riachão tinha um estilo muito peculiar de compor, com características de crônica. Nas suas letras irreverentes retrata o povo baiano de sua amada cidade de Salvador e seus personagens típicos como a baiana do acarajé, capoeiristas e os malandros de terno branco.


Seu apelido veio na adolescência. O termo riachão era usado pelos baianos para falar de gente de caráter difícil. Segundo ele mesmo em depoimento para o extinto jornal Diário de Notícias:
"Quando era menino eu gostava muito de brigar. Mal acabava uma peleja já estava eu disputando outra. E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: 'Você é algum riachão que não se possa atravessar?'"
Desde os nove anos, Riachão já cantava nas serenatas, nos aniversários ou nas batucadas com os amigos do bairro onde nasceu, Garcia. Batucava em latas de água onde tamborilava seus sambas. A primeira composição veio aos 12 anos, um samba sem título que dizia: "Eu sei que sou moleque, eu sei, conheço o meu proceder / Deixe o dia raiar que a minha turma, ela é boa para batucar".

Com 23 anos ingressou na Rádio Sociedade onde se juntou a um trio vocal que se apresentava no programa de auditório "Show Pindorama" da emissora de rádio Sociedade AM. No trio interpretava de serestas a toadas sertanejas. Ficou pouco tempo no trio porque queria se dedicar ao samba, seguindo para uma carreira solo. Já tinha, por essa época, constituído a sua imagem artística, uma figura que sempre usava anéis, lenços, boné e a indispensável toalha no pescoço.


Entre 1948 e 1959 compôs músicas como "A Morte do Motorista da Praça da Sé", "A Tartaruga", "Visita da Rainha Elisabeth" (por ocasião da visita da rainha Elisabeth a Bahia em 1968) e "Incêndio no Mercado Modelo".

Nos anos 50 várias canções suas foram gravadas por Jackson do Pandeiro, como "Meu Patrão", "Saia" e "Judas Traidor". Outros que gravaram suas composições foram Marinês, "Terra Santa" e Eraldo Oliveira, "A Nega Não Quer Nada".

Nos anos 60 virou ator e participou de filmes como "A Grande Feira" de Roberto Pires em 1961, "Os Pastores da Noite", de Marcel Camus, em 1972, e "J.S. Brown, o Último Herói" de 1980. "Pastores Da Noite" foi um filme baseado na obra de seu amigo Jorge Amado.

Riachão trabalhou na Rádio Sociedade da Bahia até 1971 onde cantou e apresentou programas. De lá conseguiu um emprego de contínuo no Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco) por intermédio de Antonio Carlos Magalhães.
"Aí acabou o rádio, por causa da TV. Aqueles artistas todos perderam seu espaço, muitos morreram apaixonados!"

E foi com patrocínio do Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco) que lançou seu primeiro LP, "Sonho de Malandro" em 1973. Nesse disco se destaca a música "Eu Também Quero" onde relata o aparecimento do tíquete-refeição. Este e outros discos posteriores venderam pouco e Riachão caiu num ostracismo artístico, se apresentando apenas para plateias universitárias no Rio de Janeiro.

Riachão teve várias das suas músicas interpretadas por cantores nacionais, uma das mais conhecidas foi "Vá Morar Com o Diabo", interpretada por Cássia Eller. Também é de sua autoria a famosa música "Cada Macaco no Seu Galho", escolhida por Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1972, para marcar o retorno de ambos ao Brasil depois de exílio político durante o regime militar no Brasil, e que gravaram posteriormente.

Em 1976, Riachão teve um samba proibido pela censura. A letra da música "Barriga Vazia" falava da fome: "Eu, de fome, vou morrer primeiro / você, de barriga, também vai morrer um dia".

A notícia da censura correu a cidade e, num show no ICBA, em 1976, a plateia universitária frequentadora contumaz do espaço cultural, localizado em um bairro de elite em Salvador, exigiu que Riachão a cantasse.


Em 2000, finalmente lançou o seu primeiro CD, a um mês de completar 80 anos de idade. "Humanenochum" contou com participações de Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Tom Zé, Dona Ivone Lara e Armandinho, e trouxe alguns de seus grandes sucessos como "Vá Morar Com o Diabo", "Pitada de Tabaco" e "Cada Macaco no Seu Galho". Segundo Riachão o título quer dizer "homem humano que ama a mulher e não a maltrata", uma homenagem a Dalva, companheira de 30 anos de convivência.

Em 2001, no Festival de Brasília, foi exibido o documentário "Samba Riachão", de Jorge Alfredo, que conta a sua história.

Em 2002, fez participação especial no seriado "Pastores da Noite", da TV Globo, baseado no filme.

Em 2008, Riachão sofreu uma tragédia: Dalva, dois filhos, genro e cunhada morreram em um acidente de carro no interior do Rio de Janeiro. Outra perda irreparável foram a maioria das 500 músicas que calcula ter escrito nos anos 1930 e 1940 que se foram em "um incêndio pequenino lá na rádio". Como muitas delas eram baseadas em improviso não ficaram em sua memória.


Em 2013, lançou o CD "Mundão de Ouro" em colaboração com a cantora Vânia Abreu, gravado num estúdio de São Paulo, contando com quinze faixas, sendo 13 inéditas e incluindo os sucessos de sempre, "Vá Morar com o Diabo" e "Cada Macaco no Seu Galho".

No ano de 2017 prestou depoimento na série "Depoimentos Para a Posteridade", do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS), na sede da Praça XV.

Apesar de sua produção incessante, deixou uma pequena discografia de apenas sete álbuns: "Sonho de Malandro" (1973), "Samba da Bahia" (1975, álbum dividido com Batatinha e Panela), "Sonho de Malandro" (1981), "Diplomacia" (1998), "Humanenochum" (2000), "Riachão" (2001) e "Mundão de Ouro" (2012).

O disco mais recente de Riachão, "Mundão de Ouro", foi produzido pela cantora e produtora musical Vânia Abreu. Esse disco incluiu a música "Meu Dia Vem Aí", uma homenagem ao seu colega compositor Batatinha, falecido em 03/01/1997. Riachão gravou a música batucando uma caixinha de fósforos, marca registrada de Batatinha.

Morte

Riachão faleceu na madrugada de segunda-feira, 30/03/2020, aos 98 anos, de causas naturais, em Salvador, BA.

Segundo a família, Riachão sentiu dores no abdômen no domingo, 29/03/2020, e precisou de atendimento médico. Ele foi medicado e depois dormiu. A morte de Riachão só foi descoberta pela manhã, quando os familiares foram ver como ele estava.
"Ele sentiu uma dor. Então, ele foi medicado e sentiu alívio, uma estabilizada. Ele então foi dormir. Eu estava presente. Quando foi nesta madrugada, ele veio a falecer. Faleceu dormindo!"
(Milton Gonçalves Souza Júnior, neto de Riachão)

Discografia

  • Década de 1960 - Umbigada da Baleia (Disco de 78 rotações)
  • 1973 - Sonho de Malandro
  • 1973 - Samba da Bahia - Riachão, Batatinha e Panela
  • 1981 - Sonho de Malandro (Relançamento)
  • 1998 - Diplomacia
  • 2000 - Humanenochum
  • 2001 - Riachão
  • 2012 - Mundão de Ouro


Prêmios e Indicações

  • 2002 - 3º Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode por "Humanenochum (Indicado)
  • 2002 - Melhor Canção em Língua Portuguesa por "Vá Morar Com o Diabo" (Indicado Compositor)
  • 2013 - 25º Prêmio da Música Brasileira  na categoria Álbum de Samba por "Mundão de Ouro" (Indicado)
  • 2013 - 25º Prêmio da Música Brasileira  na categoria Cantor por "Mundão de Ouro" (Indicado)

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