Mostrando postagens com marcador Etnólogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Etnólogo. Mostrar todas as postagens

Roquette-Pinto

EDGAR ROQUETTE CARNEIRO DE MENDONÇA PINTO VIEIRA DE MELLO
(70 anos)
Médico, Professor, Antropólogo, Etnólogo, Escritor, Arqueólogo e Ensaísta

* Rio de Janeiro, RJ (25/09/1884)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/10/1954)

Filho de Manuel Menelio Pinto e Josefina Roquette Carneiro de Mendonça, nasceu a 25 de setembro de 1884, em Botafogo, Rio de Janeiro.

Foi criado pelos avós maternos na Fazenda Bela Fama, próxima de Juiz de Fora, em Minas Gerais, até aos 10 anos, quando retornou ao Rio de Janeiro com os pais.

Fez o curso de humanidades no Colégio Aquino, entrando depois na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1905 com a tese O Exercício da Medicina Entre os Indígenas da América. O pouco contacto com a família do pai levou-o a alterar o nome de registo para Edgard Roquette-Pinto, que legalizou em 1905.

Além do avô João Roquette, que lhe pagou os estudos e lhe incutiu o gosto pela natureza, marcaram o seu destino o biólogo Francisco de Castro, que o fez desistir da ideia de ser oficial da Marinha e o orientou para a Medicina e a Biologia e o médico Henrique Batista, que o converteu ao Positivismo – doutrina fundada por Auguste Comte (1798-1857), segundo o qual a redenção do homem se daria pelo conhecimento. Embora estudioso, seguiu o trabalho de campo até à Antropologia.

Em 1906 torna-se professor assistente de Antropologia no Museu Nacional e foi, em setembro, ao Rio Grande do Sul, estudar os sambaquis – jazidas de conchas, ossos e utensílios do homem pré-histórico do litoral da América.

É nomeado médico-legista com o trabalho Fauna Cadavérica do Rio de Janeiro em 1908, abrindo um laboratório de análises clínicas. Neste ano, casa com Riza Batista, com quem teve os filhos Beatriz e Paulo Roquette-Pinto.

Após alguns anos como assistente de Henrique Batista e médico-legista, passa, por concurso, a professor de Antropologia e Etnografia do Museu Nacional, onde organizou a Sala Dom Pedro II em 1910.

Delegado do Brasil no Congresso de Raças, em Londres (1911), estuda na Europa com os professores Richet, Brumpt, Tuffier, Perrier e Luschan.

Expedições Com Rondon

Em 1907 surge a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, chamada Comissão Rondon devido à fama do Tenente-Coronel Rondon (1865-1958), que a comandava. Iria ligar pelo fio telegráfico os territórios do Amazonas, Acre, Alto Purus e Alto Juruá à capital do Mato Grosso, com os pontos extremos em Cuiabá e Santo António do Madeira.

Colaboraram militares, para execução de serviços técnicos e cientistas civis, para fazer o levantamento geográfico, botânico, zoológico, etnológico e antropológico da região a desbravar.

Ao voltar das expedições, Rondon depositava amostras de objectos paleolíticos no Museu Nacional. Roquette estudou vários e escreveu a Nota Sobre os Índios Nhambiquaras do Brasil Central. Fascinado, trabalhou alguns meses com Rondon em 1910, que o influenciou e lhe incutiu o desejo de estudar aquelas terras.

Roquette integrou a comitiva que seguiu, em Julho de 1912, ao encontro da Comissão à Serra do Norte, em Mato Grosso. Na expedição foi etnógrafo, sociólogo, antropólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, linguista, médico, farmacêutico, legista, fotógrafo, cineasta e folclorista. Anotou a aparência da região – da floresta à árvore e à folha – composição dos solos, contorno das montanhas, fluxo dos rios, intensidade das quedas e variedade da fauna.

Nas visitas às tribos, mediu os crânios dos índios, comparou o seu peso e altura, analisou doenças, efectuou a primeira dissecação de um indígena e relatou as formas de produção, comércio e transporte. Registou conhecimentos científicos, relações familiares, organização política, hábitos religiosos, formas linguisticas, habilidade manual e danças. Anotou musicalmente os cantos dos nativos e fez gravações in loco com o Fonógrafo portátil. Nos fonogramas, cilindros de cera, registou melodias indígenas Nhambiquaras e Parecís e música popular mato-grossense (Cururu e canções Sertanejas).

Filmou o que pôde e fotografou ou desenhou o resto. Recolheu pedras, pontas de setas e objectos indígenas levados por milhares de quilómetros através de rios, pântanos e picadas abertas na selva. Apressou-se a estudar a região pois temia a perda dos fenómenos etnográficos, usos, costumes, indústrias, técnicas, arte, religião e política dos povos, que cedo ocorreria, devido à chegada e influência de objectos da civilização.

A morte foi constante no percurso pelas selvas do Mato Grosso, Amazonas e nas bacias dos rios Paraguai, Juruena e Ji-Paraná, pelas dificuldades climáticas, geográficas e humanas. Os Nhambiquaras eram hostis, matando expedicionários e haviam as ameaças da selva: animais e doenças – varíola, beribéri, paludismo. Burros, cavalos e bois morriam, os homens eram enterrados pelo caminho e os locais batizados com os seus nomes. A sobrevivência deste intelectual da cidade à vida difícil da selva surpreendeu tudo e todos, devendo-se talvez à infância passada na fazenda (note-se a diferença entre mato e sertão!) e a ser jovem e saudável. Mas a principal razão terá sido a firme determinação em cumprir a tarefa a que se propôs.

Roquette dizia que Marechal Cândido Rondon era o "ideal feito homem". Mameluco por parte de avós indígenas, falava dialectos de várias tribos, passando aos índios a sua mensagem de paz. Roquette extraiu assim, uma compreensão do problema do índio ainda revolucionária: para ele, os índios deviam ser protegidos como tal e não forçados a ser brasileiros, sendo o papel da nação protegê-los como aos menores abandonados, presos ou doentes.

Os Nhambiquaras contactados viviam na Idade da Pedra: tinham machados de pedra mal polida e as facas eram lascas de madeira. Desconheciam navegação, cerâmica ou redes de dormir – atravessavam os rios a nado, comiam de mão em mão e dormiam no chão. Cobertos por bernes, pulgas e piolhos, não conheciam um homem branco ou negro. O mal que faziam era, às vezes, por ignorância. De volta ao Rio de Janeiro, em novembro desse ano, Roquette depositou no Museu Nacional cerca de tonelada e meia de objectos que trouxe da Serra do Norte, entre observações, fichas antropométricas, croquis, filmes documentais, material etnográfico, etc. Roquette trouxe também o paludismo, cujas sequelas contribuíram para a espondilose de que sofreu mais tarde.

Em 1915, propôs numa conferência do Museu Nacional a designação de Rondônia à região do Noroeste do Brasil limitada pelos meridianos 54 e 65 oeste, Greenwich e entre os paralelos 8 e 15 ao sul do Equador, cortada entre os rios Juruena e Madeira pela estrada Rondon, como homenagem a Rondon.

Com os resultados das suas investigações sobre Parecís e Nhambiquaras escreveu Rondônia (1916), tratado antropológico, botânico, geológico, etnográfico e climático da região compreendida entre os rios Juruena e Madeira, incluindo partes de Mato Grosso, Amazonas, Pará, Acre e Guaporé.

A vivência com índios e homens do sertão foi a base da sua campanha anti-racista contra o arianismo no Brasil. Segundo ele, o homem no Brasil precisava de "ser educado e não substituído".

Em 1915 concorre para Livre-Docente de História Natural, na Faculdade de Medicina, com o trabalho sobre Dinoponera Grandis, a formiga amazônica, continuando a atividade de pesquisa e ensino, lecionando História Natural na Escola Normal e no Colégio Aquino.

Empenhou-se na Fisiologia, sendo convidado, em 1920, como professor visitante para inaugurar a cadeira de Fisiologia Experimental na Faculdade de Medicina da Universidade de Assunção, conseguindo a admiração do povo numa época conturbada entre Brasil e Paraguai.

Fascínio Pela Rádio e Pelo Cinema

Prevendo a importância da rádio na educação do povo fundou, a 20 de Abril de 1923, na Academia Brasileira de Ciências (de que era membro, bem como de outras associações nacionais e estrangeiras), a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, só com fins educacionais e culturais. O fascínio de Roquette pela rádio deve-se, em parte, pela entrega à causa positivista e à profissionalização como antropólogo, factores que o colocaram ao serviço de causas científicas e sociais.

"A rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler; (...) é o divertimento gratuito do pobre; (...) desde que o realizem com espírito altruísta e elevado."

E concluía sempre a sua emissão com o lema:

"Pela cultura dos que vivem em nossa terra. Pelo progresso do Brasil".

Em 1924 participa no Congresso Internacional de Americanistas, na Suécia, tornando-se responsável pela Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional, do qual foi director de 1926 a 1935.

Candidata-se à Academia Brasileira de Letras em 1927 na vaga de Osório Estrada (cadeira 17), é eleito a 20 de outubro.

Em 1929 presidiu o 1º Congresso Brasileiro de Eugenia e realizou as primeiras demonstrações televisivas no Brasil.

Em 1932 funda a Revista Nacional de Educação e o Serviço de Censura Cinematográfica, criando em 1934 a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro com Anísio Teixeira.

Em 1936 fundou e dirigiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo onde esteve com Humberto Mauro, aposentando-se em 1947.

Orientou a parte histórica do filme O Descobrimento do Brasil (1937), dirigiu e gravou o comentário sobre arte marajoara do filme Argila (1940) e o filme Rondônia.

Eleito diretor do Instituto Indigenista Americano do México em 1940, foi membro fundador do Partido Socialista Brasileiro, em 1947.

Como homenagem, vários naturalistas deram o seu nome a algumas espécies, como Phylloscartes Roquettei, ave do Brasil Central.

Entre as suas obras escritas estão Guia de Antropologia (1915), Elementos de Mineralogia (1918), Seixos Rolados (1927), Samambaia (1934), além de muitos trabalhos científicos, artigos e conferências, publicados em vários jornais e revistas.

A 18 de Outubro de 1954 sofre um Derrame fatal no seu apartamento, no Rio de Janeiro, quando escrevia um artigo para o Jornal do Brasil, em que dizia: Aquele que conhece, aquele que cria, aquele que ama.

Fonte: Wikipédia e Ana Fernandes (Trabalho realizado no âmbito da disciplina de História das Ciências, Licenciatura em Bioquímica, Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2002-2003)