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Alexandre Vannucchi

ALEXANDRE VANNUCCHI LEME
(22 anos)
Líder Estudantil e Militante da ALN

* Sorocaba, SP (05/10/1950)
+ São Paulo, SP (17/03/1973)

Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Era filho de José de Oliveira Leme e Egle Maria Vannucchi Leme.

Fez o ginasial no Instituto de Educação Estadual Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, em Sorocaba. Cursava o 4° ano de Geologia na USP quando foi assassinado. Foi preso por agentes do DOI/CODI-SP no dia 16 de março de 1973, por volta das 11:00 hs. As torturas inflingidas a Alexandre Vannucchi iniciaram-se assim que deu entrada nas dependências do DOI/CODI, tendo sido a equipe C a primeira a torturá-lo.

Tal equipe era chefiada pelo delegado de polícia conhecido pelo nome de Dr. Jorge e composta pelos seguintes elementos: escrivão de polícia Gaeta, tenente da PM Mário, investigador de polícia conhecido como Oberdan e o carcereiro policial do DOI/CODI conhecido como Marechal.

No dia seguinte, Alexandre Vannucchi foi torturado pelos membros da equipe A, chefiada pelo torturador de nome Dr. José e pelo investigador conhecido por Dr. Tomé e composta por: Caio ou Alemão, Dr. Jacó, Silva, Rubens, todos orientados diretamente pelo comandante daquele departamento, o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Os pais de Alexandre Vannucchi
As torturas prolongaram-se até pouco depois do meio-dia, tendo então Alexandre Vannucchi sido colocado na cela-forte.

Por volta das 17 horas, o carcereiro conhecido pelo nome de Peninha, foi retirá-lo da cela para levá-lo para mais uma sessão de tortura. Alexandre Vannucchi não respondia aos gritos do carcereiro que, intrigado, entrou na escura cela-forte e constatou que estava morto, saindo da cela aos gritos de "o homem morreu". Os torturadores correram todos para ver o corpo de Alexandre Vannucchi e o retiraram da cela-forte, arrastando-o pelas pernas.

Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI/CODI naquele dia, era brutal: Alexandre Vannucchi, sangrava abundantemente na região do abdômen.

A morte de Alexandre Vannucchi foi justificada pelos torturadores, perante a acusação dos demais presos, como tendo sido provocada por suicídio com auxílio de uma lâmina de barbear. Somente no dia 23 de março os órgãos de segurança divulgaram sua morte, com a notícia de que fora atropelado ao tentar fugir à prisão.

Tal versão foi desmentida categoricamente nos depoimentos prestados no mês de julho de 1973, perante a 1ª Auditoria Militar, pelos seguintes presos políticos: Luis Vergatti, Cesar Roman dos Anjos Carneiro, Leopoldina Brás Duarte, Carlos Vítor Alves Delamônica, Walkiria Queiroz Costa, Roberto Ribeiro Martins, José Augusto Pereira, Luís Basílio Rossi e Neide Richopo. Tais depoimentos foram citados pelo ministro do Superior Tribunal Militar, Rodrigo Otávio Jordão Ramos no dia 26 de abril de 1978.

Como a nota oficial só foi divulgada vários dias após o assassinato de Alexandre Vannucchi, sua família só pôde localizar o corpo quando este já se encontrava enterrado. Detalhe bastante significativo é que Alexandre Vannucchi fora enterrado sem qualquer espécie de caixão, em cova rasa e forrada de cal-virgem, a fim de que a decomposição do corpo fosse acelerada e apagadas as marcas evidentes das torturas que o levaram à morte.


Um fato importante que evidencia a farsa montada para encobrir o assassinato de Alexandre Vannucchi sob tortura é a declaração do delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury à família Vanucchi Leme que, em evidente e cínica confissão de "fracasso" dizia "não ter sido possível obter de Alexandre sequer o local de sua própria residência".

Segundo o livro "Gritos de Justiça", de Mário Simas, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, seus pais, em 20 de março de 1973, receberam um telefonema anônimo informando que Alexandre Vannucchi se encontrava preso no DOPS/SP. Lá e em outros órgãos da repressão onde o procuraram sempre ouviram negativas. Dias depois, quando sua morte já havia sido publicada pela imprensa, no IML/SP, foram informados que havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus.

Apesar de haverem constituído advogado imediatamente após a notícia de sua prisão, somente 10 anos depois puderam resgatar seus restos mortais. Foi instaurado um inquérito pelo Departamento de Ordem Política e Social para apurar a morte de Alexandre Vannucchi e encaminhado para a 2ª Auditoria Militar, onde o juiz auditor Nelson da Silva Machado Guimarães encaminhou para o comandante do II Exército e, como era de se esperar, foi arquivado sem solução.

A necrópsia, feita no IML/SP, em 22 de março de 1973, pelos doutores Isaac Abramovitch e Orlando Brandão, confirma a falsa versão oficial publicada de que teria se atirado sob um veículo, sofrendo contusão na cabeça. A certidão de óbito, falsamente atesta sua morte em 17 de março de 1973, após atropelamento na Rua Bresser, SP, quando era levado ao Hospital das Clínicas.

Em 1983, finalmente os restos mortais de Alexandre Vannucchi foram trasladados para Sorocaba, sua terra natal.

Alguns trechos de matéria sobre ele publiclado no O Jornal do Campus (USP):

"Desde muito cedo revelou inteligência viva, muito aberta a todos os conhecimentos humanos. Interessava-se por tudo e, assim que foi alfabetizado, foi tomado por um gosto enorme pela leitura. Não parou mais de ler.

Só depois de sua morte, seus pais souberam que Alexandre fora classificado em 1° lugar no vestibular para a Geologia da USP. Era um típico sorocabano, caipirão. Andava sempre com umas botinhas de cano curto, calças curtas. Era um nativo. Cara gozador, colocava apelido na escola inteira. Tirava um sarro de todo o mundo que não se adaptava às condições de campo nas excursões da Geologia. Cara que não conhecesse passarinho, cobra e história de assombração, ele pegava no pé do coitado. Uma antiga tradição da Geologia, da USP, reza que todo calouro deve receber um apelido. Alexandre ficou conhecido como Minhoca, talvez por ser baixinho, franzino e pelo grande interesse que demonstrou pela profissão. Tinha uma coisa que ele gostava de fazer: traduzir artigos estrangeiros sobre filosofia, política, economia. Ele já estava se especializando em teorias economicas do 3° mundo, questões do subdesenvolvimento ou análise da história da pobreza.

Partilhava de todas as lutas comuns aos estudantes da época: contra o ensino pago, contra a falta de verbas, contra o fechamento do CRUSP. Por outro lado, como estudante de Geologia, foi extremamente preocupado com a questão dos recursos naturais do país devastados pelo capital estrangeiro. Sobre o ciclo da exploração do ferro, editou um boletim especial do Centro Acadêmico da Escola, no qual enumerava as principais jazidas e empresas exploradoras. Tomou posição contra a Transamazônica, do modo como estava sendo feita. E passou a fazer, junto com outros colegas, exposições e palestras em outras faculdades e escolas do 2° grau. Ninguém viu Alexandre ser preso, mas no dia 16 de março de 1973, ele já estava sendo torturado na Operação Bandeirantes (DOI-CODI/SP). Seus gritos o testemunhavam. Para a cela, voltou carregado da sala de torturas. Ainda pode dizer aos outros presos: “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme, sou estudante de Geologia, me acusam de ser da ALN... eu só disse meu nome...

No final da tarde do dia 17, os presos foram obrigados a ficar no fundo das celas, de costas. Mesmo assim, puderam ver um corpo ser arrastado, espalhando sangue por todo o pátio da carceragem. Alexandre fora assassinado.

No dia 30 de março de 1973, foi celebrada uma missa, na Catedral da Sé, por D. Paulo Evaristo Arns com a presença de 3 mil pessoas que chegaram até a Igreja, apesar da intensa repressão policial.

No dia seguinte, 31 de março, o governo comemorou o aniversário do Golpe de Estado de 64, a seleção brasileira jogou, as Forças Armadas marcharam e o general Médici discursou. A nota oficial de sua morte divulgada pelos órgãos de segurança nacional e publicada na grande imprensa informava que Alexandre era terrorista, membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) - dissidência do PCB que tentou a luta armada - e morreu atropelado.

As práticas terroristas das quais foi acusado, ocorreram quando Alexandre convalescia de uma operação de apendicite conforme testemunhou seu médico, Dr. Cássio Rosa; ou quando assistia às aulas, como testemunharam colegas e professores. Os presos políticos na época, declararam ao Superior Tribunal Militar que foram testemunhas da morte de Alexandre Vannucchi Leme nas dependências da Operação Bandeirantes, sob torturas. Mesmo diante de tantas provas, o caso foi arquivado. O Ministro Rodrigo Otávio Jordão tentou reabri-lo em 1978, mas seu voto foi vencido por 13 a 1."