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Nhá Chica

FRANCISCA DE PAULA DE JESUS
(85 anos)
Leiga, Religiosa e Beata

☼ Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, MG (1808)
┼ Baependi, MG (14/06/1895)

Francisca de Paula de Jesus, conhecida popularmente como Nhá Chica, foi uma leiga, religiosa e beata, filha e neta de escravos, nascida na Porteira dos Vilellas, fazenda em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, a 13 km de São Del Rei, Minas Gerais, onde também foi batizada no dia 26/04/1810.

Pouco tempo depois sua família mudou-se para a cidade de Baependi, no Sul do Estado de Minas Gerais. Veio acompanhada por sua mãe e por seu irmão, Teotônio. Dentre os poucos pertences, trouxeram uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em Baependi, Nhá Chica viveu até 14/06/1895, data de seu falecimento.

Em 1818, com apenas 10 anos de idade, a mãe de Nhá Chica faleceu deixando aos cuidados de Deus e da Virgem Maria as duas crianças, Francisca de Paula de Jesus, com 10 anos e seu irmão, com então 12 anos, Teotônio. Órfãos de mãe, sozinhos no mundo, Francisca de Paula e Teotônio, cresceram sob os cuidados e a proteção de Nossa Senhora, que pouco a pouco foi conquistando o coração de Nhá Chica. Esta, a chamava carinhosamente de "Minha Sinhá" que quer dizer "Minha Senhora", e nada fazia sem primeiro consultá-la.

Nhá Chica soube administrar muito bem e fazer prosperar a herança espiritual que recebeu de sua mãe. Nunca se casou. Rejeitou com liberdade todas as propostas de casamento que lhes apareceram. Foi toda do Senhor. Se dava bem com os pobres, ricos e com os mais necessitados. Atendia a todos os que a procuravam, sem discriminar ninguém e, para todos tinha uma palavra de conforto, um conselho ou uma promessa de oração.


Ainda muito jovem, era procurada para dar conselhos, fazer orações e dar sugestões para pessoas que lidavam com negócios. Muitos, não tomavam decisões sem primeiro consultá-la, e para tantas pessoas, ela era considerada uma "santa", todavia em resposta para quem queria saber quem ela, realmente, era, respondia com tranquilidade: "... É porque eu rezo com fé!".

Sua fama de santidade foi se espalhando de tal modo que pessoas de muito longe começaram a visitar Baependi para conhecê-la, conversar com ela, falar-lhe de suas dores e necessidades e, sobretudo para pedir-lhe orações. A todos, atendia com a mesma paciência e dedicação, mas nas sextas feiras, não atendia a ninguém. Era o dia em que lavava as próprias roupas e se dedicava mais à oração e à penitência. Isso porque sexta-feira é o dia que se recorda a Paixão e a Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo para a salvação de todos nós. Às Três horas da tarde, intensificava suas orações e mantinha uma particular veneração à Virgem da Conceição, com a qual tratava familiarmente como a uma amiga.

Nhá Chica era analfabeta, pois não aprendeu a ler nem escrever, desejava somente ler as Escrituras Sagradas, mas alguém as lia para ela, e a fazia feliz. Compôs uma Novena à Nossa Senhora da Conceição e em sua honra, construiu, ao lado de sua casa, uma Igrejinha, onde venerava uma pequena Imagem de Nossa Senhora da Conceição que era de sua mãe e, diante da qual, rezava piedosamente para todos aqueles que a ela se recomendavam. Essa Imagem, ainda hoje, se encontra na sala da casinha onde ela viveu, sobre o altar da antiga Capela.

Em 1954, a igreja de Nhá Chica foi confiada à Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor. Desde então teve início bem ao lado da igreja, uma obra de assistência social para crianças necessitadas que vem sendo mantida por benfeitores devotos de Nhá Chica. Hoje o Instituto Nhá Chica (INC) acolhe mais de 150 crianças entre meninas e meninos.


A Igrejinha de Nhá Chica, depois de ter passado por algumas reformas, é hoje o Santuário Nossa Senhora da Conceição que acolhe peregrinos de todo o Brasil e de diversas partes do mundo. Muitos fiéis que visitam o lugar, pedem graças e oram com fé. Tantos voltam para agradecer e registram suas graças recebidas. Atualmente, no Registro de Graças do Santuário, podem-se ler aproximadamente 20.000 graças alcançadas por intercessão de Nhá Chica.

É considerada por muitos católicos como Santa, de modo que o processo de canonização tramitou no Vaticano.

Nhá Chica, já em vida, passou a ser aclamada pelo povo como a Santa de Baependi, por sua fé. O Processo Informativo Diocesano começou em 16/07/1993, tendo sido encerrado em 1995, quando foi para Roma. O Relator deste processo foi o padre José Luís Gutiérrez. A causa ficou parada até 1998, quando assumiram como postulador Frei Paolo Lombardo, Ordem dos Frades Menores (OFM), e como vice-postuladora irmã Célia Cadorin, mesma religiosa que atuou nas causas de Madre Paulina e Frei Galvão.

Desde 1991 é reconhecida como Serva de Deus, título que recebeu oficialmente da Congregação Para As Causas Dos Santos do Vaticano.

Em 18/06/1998 foi feito o reconhecimento dos restos mortais de Nhá Chica, na presença de autoridades eclesiásticas, de membros do Tribunal Eclesiástico Pela Causa de Beatificação de Nhá Chica, da Comissão Histórica e de médicos legistas. Ainda em 1998, o Tribunal Eclesiástico Pela Causa de Beatificação de Nhá Chica apresentou à Diocese de Campanha um provável milagre para ser enviado e analisado pelo Vaticano.

A Professora Ana Lúcia Meirelles Leite curada de doença cardíaca
A causa de Canonização de Nhá Chica aguardou desde 2007 o anúncio de sua beatificação. E em 2007 uma graça foi atribuída a Nhá Chica referente a professora Ana Lúcia Meirelles Leite, moradora de Caxambu, em Minas Gerais.

Ana Lúcia foi curada de um problema congênito muito grave no coração, sem precisar passar por cirurgia, apenas pelas orações a Nhá Chica. O fato se deu em 1995. A graça foi aceita pelo Vaticano, que analisou o pedido de beatificação.

O início da campanha pela canonização se deu em 1952. A instalação da Comissão em prol da beatificação teve início em 1989 e depois em definitivo foi instalada em 14/01/1992.

A publicação da Positio, documento que reúne todos os dados e testemunhos recolhidos durante a fase Diocesana, corresponde à primeira etapa do processo de beatificação e aconteceu no dia 30/10/2001. O documento seguiu para o Vaticano para ser apreciado pela Congregação Para As Causas Dos Santos.

Em 30/04/2004, os bispos brasileiros reunidos em sua 42ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assinaram um documento pedindo pela beatificação de Nhá Chica. O documento que reuniu 204 assinaturas de Bispos de 25 Estados brasileiros foi encaminhado pela Diocese de Campanha ao então Papa João Paulo II.


No dia 08/06/2010, a Congregação Para As Causas Dos Santos deu parecer favorável às virtudes da Serva de Deus Nhá Chica.

No dia 14/01/2011, o Papa Bento XVI aprovou o decreto da Congregação Para As Causas Dos Santos sobre as virtudes heroicas da Serva de Deus. Nhá Chica pode receber o título de Venerável, estando assim mais próxima da beatificação.

Aguardou-se o reconhecimento, por parte da Santa Sé, do milagre da cura, atribuído à intercessão de Nhá Chica, da professora de Caxambu, Ana Lúcia Meirelles Leite que sofria de problemas cardíacos.

No dia 13/10/2011, a Comissão Médica da Congregação Para As Causas Dos Santos, depois de analisar o possível milagre da cura da professora Ana Lúcia, declarou que a cura não tem explicação científica.

Em 28/06/2012, o Papa Bento XVI autorizou a Congregação Para As Causas Dos Santos a promulgar o decreto de um milagre atribuído a intercessão da Venerável mineira.

Nhá Chica foi beatificada em 04/05/2013, em Baependi, MG, em cerimônia presidida pelo prefeito da Congregação Para As Causas Dos Santos, o cardeal Angelo Amato, representante da Santa Sé, que anunciou a data de 14/06 como a festa litúrgica em memória de Nhá Chica.

Morte

Nhá Chica faleceu na sexta-feira, 14/06/1895, aos 87 anos e foi sepultada somente no dia 18/06/1895, no interior da capela por ela construída. As pessoas que ali estiveram sentiram exalar-se de seu corpo um misterioso perfume de rosas durante os quatro dias de seu velório. Tal perfume foi novamente sentido no dia 18/06/1998, 103 anos depois, por Autoridades Eclesiásticas e por membros do Tribunal Eclesiástico Pela Causa de Beatificação de Nhá Chica e, também, pelos pedreiros, por ocasião da exumação do seu corpo.

Os restos Mortais de Nhá Chica se encontram hoje no mesmo lugar, no interior do Santuário Nossa Senhora da Conceição em Baependi, protegidos por uma Urna de acrílico colocada no interior de uma outra de granito, onde são venerados pelos fiéis.

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #NhaChica

Dom David Picão

DAVID PICÃO
(85 anos)
Bispo Católico

* Ribeirão Preto, SP (18/08/1923)
+ Santos, SP (30/04/2009)

Dom David Picão nasceu em Ribeirão Preto, SP, no Bairro de Vila Tibério, aos 18/08/1923. Filho primogênito do casal Joaquim Ramos Picão e Maria da Piedade Picão, de uma família de sete irmãos.

Fez os estudos iniciais na Escola Primária das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição e no 3º Grupo Escolar de Vila Tibério. Ingressou no 1º ano ginasial da Associação de Ensino de Ribeirão Preto, em 1936, e logo no ano seguinte seguiu para o Seminário Diocesano da Imaculada, em Campinas, onde prosseguiu seus estudos de Humanidades até 1941.

Em 1947, em Roma, terminou Teologia e estudou Direito Canônico na Universidade Gregoriana. Recebeu a ordenação sacerdotal na "Chiesa del Gesú", em Roma, em 10/10/1947.

Na Arquidiocese de Ribeirão Preto, para onde retornou em 1950, exerceu os cargos de professor e diretor espiritual do Seminário Diocesano Maria Imaculada, chanceler do Arcebispado (1950-1960), procurador da Mitra  Arquidiocesana.

Em 14/05/1960, foi eleito Bispo da nova Diocese de São João da Boa Vista, SP, sendo ordenado bispo em 31/07/1960, na Catedral de Ribeirão Preto, SP, pela manhã. À tarde, tomou posse na nova Diocese.

Em 11/05/1963 foi transferido para Santos, SP, como Bispo Coadjutor,  com direito à sucessão, tomando posse em 22 de junho do mesmo ano.

Tendo Dom Idílio José Soares renunciado à Diocese de Santos, Dom David assumiu o governo diocesano em 13/12/1966.  Tornou-se bispo emérito da Diocese de Santos em 26/07/2000.

Durante sua função como bispo, foi presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), São Paulo; membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB e responsável pelo setor de Comunicação Social da CNBB; Membro da Comissão de Educação do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM); Promotor Nacional do Apostolado do Mar; Assistente Nacional do Movimento Vida Ascendente.

Dom David Picão faleceu no dia 30/04/2009 no Hospital São Lucas em Santos.



Pai João de Camargo

JOÃO DE CAMARGO
(84 anos)
Religioso, Médium, Curandeiro, Santo Popular, Milagreiro e Preto Velho

* Sarapuí, SP (16/05/1858)
+ Sorocaba, SP (18/09/1942)

Pai João de Camargo foi um médium, curandeiro, religioso, também considerado santo popular, milagreiro e preto-velho. Era também conhecido como médico dos pobres.

Nhô João, nasceu no dia 16 de maio de 1858, na fazenda dos Camargo Barros, bairro dos Cocaes em Sarapuí, SP. Era filho de Francisca, escrava de Luís de Camargo Barros e de pai incógnito, batizado na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores de Sarapuí.

Como escravo cresceu na fazenda em que nascera, herdou o sobrenome da família Camargo Barros, analfabeto não teve acesso à educação institucional, veio para Sorocaba, SP, logo após a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888.

Trabalhou em Sorocaba como cozinheiro para Manuel Lopes Monteiro, e também para a família de Inácio Pereira da Rocha. Em 1893, alistou-se como soldado voluntário, no batalhão dos Voluntários Paulistas, deu baixa em sua carreira militar em 1895, quando a Revolução Federalista terminou. Passou a trabalhar na lavoura em Pilar do Sul, lugar onde conheceu Escolástica do Espírito Santo, sua esposa.

Voltou para Sorocaba em meados de 1890, época em que Sorocaba fora atacada pela epidemia de febre amarela o que fez o casal abandonar a cidade e mudar-se para o Bairro da Ilha, em Salto de Pirapora, SP. Após cerca de cinco anos de convivência matrimonial vieram a separar-se por incompatibilidade. João de Camargo retornou à Sorocaba para recomeçar a vida, trabalhou em vários empregos para sobreviver desde o campo trabalhando na lavoura a olarias fazendo tijolos e telhas.

Recebeu influência na prática de curandeirismo e na religiosidade africana através de sua mãe, Nhá Chica, de sua sinhazinha, Ana Teresa de Camargo a iniciação ao catolicismo e do padre João Soares do Amaral os ensinamentos através de seus sermões, pois o conhecera ainda quando era adolescente e lhe tinha grande admiração. Sua religiosidade sincrética formou-se a partir do catolicismo popular, participando nas festas em devoção aos santos católicos a que se homenageavam na Casa Grande nos dias sagrados, bem como do aprendizado que adquirira com sua mãe.

Desde 1897 iniciara-se no caminho do misticismo, acendia velas, rezava ao pé da cruz e já praticava a cura em algumas pessoas. Em 1905 seguindo seu percurso pela Estrada da Água Vermelha, cumpria a sua obrigação junto a Cruz do Menino Alfredinho, em casa meditando por volta da meia-noite, percebeu que fenômenos estranhos como murmúrios, luzes, ventos entre outros sinais ocorriam a ele, fazendo-o muitas vezes a ser tomado como louco. Entre as vozes que ouvia, a mensagem para que parasse de beber era clara, uma vez que, segundo a voz que lhe falava o álcool o impedia de receber a missão designada, além de lhe estragar o corpo.

Em 1913 foi processado judicialmente acusado de praticar o curandeirismo. Absolvido e para se proteger de perseguições criou em sua Capela a Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921.

Em 1915, fundou a Corporação Musical São Luís, composta por vinte e oito músicos, sendo muitos deles os que animavam os cordões carnavalescos da cidade, visto que apresentavam-se em festas religiosas e profanas. Seus maestros foram Francisco Dimas de Melo, Salvador Elisário, Pancrácio Inocêncio de Campos, e Avelino Soares.

Sua fama percorreu o mundo, foram-lhe dedicadas poesias, composições musicais e desenhos. João de Camargo foi tema de várias dissertações de mestrado, biografado por inúmeros escritores, pesquisadores e historiadores entre eles Antônio Francisco Gaspar, Florestan Fernandes, Genésio Machado, Roger Bastide, José Barbosa Prado, Aluísio de Almeida, Paulo Tortello, Rogich Vieira, Prof. Bene Cleto, Alcir Guedes e Antônio Carlos Guerra da Cunha.

Também sobre João de Camargo o jornalista Plínio Cavalcante publicou reportagem na revista semanal "O Malho", Rio de Janeiro em 1934 e na Europa o "Corriere Dela Sera" publicou reportagem em 1922. Em 1995 foi publicada sua biografia e um espetáculo teatral cujos autores, Sônia Castro e Fernando Antonio Lomardo tinham como intenção principal investigar O Homem - João de Camargo.

Em 1999 os pesquisadores Carlos de Campos e Adolfo Frioli publicaram o livro "João de Camargo - O Nascimento de Uma Religião de Sorocaba", sendo o tema principal "o preto velho e bom da Água Vermelha" uma vez que, Nhô João foi uma referência de fé popular nesta cidade. No mesmo ano de 1999, o pesquisador Carlos Carvalho Cavalheiro também dedicou-lhe algumas páginas de seu trabalho sobre o "Folclore em Sorocaba - Milagres de Nhô João de Camargo".

Pai João de Camargo faleceu no dia 18 de setembro de 1942 na cidade de Sorocaba, SP. Após sua morte a Capela Bom Jesus do Bonfim ficou fechada durante cinco anos por questões judiciais, Escolástica do Espírito Santo Maduro, sua ex- mulher apareceu requerendo sua parte no espólio.

O túmulo de João de Camargo é uma réplica da Capela Bom Jesus do Bonfim, levantada sob responsabilidade de um de seus devotos, João Massa em 1948. Seu túmulo é visitado por um número incontável de devotos e simpatizantes, principalmente no dia 02 de novembro, Finados.

Sobre sua vida, foram escritas inúmeras biografias por famosos escritores brasileiros. Em 2003, foi homenageado no enredo da escola de samba paulistana Império de Casa Verde. O desfile contou com a participação do ator Paulo Betti, que é devoto de Nhô João e produziu o filme "Cafundó", sobre sua vida.


Cafundó

"Cafundó" é inspirado em um personagem real saído das senzalas do século XIX. Um tropeiro, ex-escravo, deslumbrado com o mundo em transformação e desesperado para viver nele.

Este choque leva-o ao fundo do poço. Derrotado, ele se abandona nos braços da inspiração, alucina-se, ilumina-se, é capaz de ver Deus. Uma visão em que se misturam a magia de suas raízes negras com a glória da civilização judaico-cristã.

Sua missão é ajudar o próximo. Ele se crê capaz de curar, e acaba curando. O triunfo da loucura da fé.

Sua morte, nos anos 40, transforma-o numa das lendas que formou a alma brasileira e, até hoje, nas lojas de produtos religiosos, encontramos sua imagem, O Preto Velho João de Camargo.

"Cafundó", na linguagem popular, é um lugar de difícil acesso, situado longe de centros povoados. A origem do nome é indígena e "caa" significa mato em tupi. Por extensão, o termo passou a designar locais para os quais fugiam índios e negros escravos.


Principais Prêmios e Indicações

Festival de Gramado 2005:
  • Venceu nas categorias de Melhor Ator (Lázaro Ramos), Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia.
  • Ganhou o Prêmio Especial do Júri na categoria de Melhor Longa Metragem em 35mm Brasileiro.
  • Indicado na categoria de Melhor Filme.

Los Angeles Pan African Film Festival 2006:
  • Recebeu Menção Honrosa.


Elenco
  • Lázaro Ramos ... João de Camargo
  • Leona Cavalli ... Rosário
  • Leandro Firmino ... Cirino
  • Alexandre Rodrigues ... Natalino (Adulto)
  • Ernani Moraes ... Coronel João Justino
  • Luís Melo ... Monsenhor João Soares
  • Renato Consorte ... Ministro
  • Francisco Cuoco ... Bispo
  • Abrahão Farc ... Juiz


Mestre Irineu

RAIMUNDO IRINEU SERRA
(78 anos)
Fundador da Doutrila Religiosa Santo Daime

* São Vicente Ferrer, MA (15/12/1892)
+ Rio Branco, AC (06/07/1971)

Raimundo Irineu Serra, mais conhecido como Mestre Irineu, foi o fundador da doutrina religiosa do Santo Daime que usa como sacramento a bebida chamada Ayahuasca, batizada por ele de Daime, associada a orações e cânticos (hinos) a diversas divindades, caracterizando um culto resultante da mistura de diversas religiões e crenças indígenas, africanas e europeias. Predominam, no entanto, o Deus Pai, Jesus Cristo e Nossa Senhora, e os adeptos da doutrina a consideram uma doutrina cristã. Tem também grande influência do espiritismo.

Mestre Irineu era filho do ex-escravo Sancho Martino e Joana Assunção, família humilde, descendentes de escravos que viviam do trabalho de cultivo da terra. Mestre Irineu chegou ao estado do Acre com vinte anos, afro-brasileiro de alta estatura, integrando o movimento migratório da extração do látex em seringais.

Em 1912 foi para Manaus, no Porto de Xapuri, onde residiu por dois anos, indo trabalhar posteriormente nos seringais da Brasiléia durante três anos e, em seguida, em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos. Foi ali  no coração das florestas da América do Sul, que o Mestre Irineu cristianizou as tradições caboclas e xamânicas da bebida sacramental Ayahuasca, conhecida desde antes dos incas e rebatizou-a com o nome de Daime, significando, com isso, a invocação espiritual que deveria ser feito pelo fiel, ao comungar com a bebida: Dai-me amor, Dai-me luz, etc.


De volta ao Rio Branco, foi para a Guarda Territorial, até chegar ao posto de cabo, e em seguida participou e passou no concurso para integrar a Comissão de Limites, entidade do Governo Federal que delimitava as fronteiras entre Acre, Bolívia e Peru, órgão este, comandado pelo Marechal Rondon. E foi o próprio Rondon que nomeou Irineu Tesoureiro da Tropa, um cargo de confiança.

Em Rio Branco começou a trabalhar com um pequeno círculo de discípulos. Instalou definitivamente sua família e um grupo de seguidores na localidade denominada Alto Santo.

Posteriormente retornou à floresta, de volta ao seringal, conheceu aquele que tornou-se um grande amigo: Antônio Costa.

Relatos colhidos na região contam que Antônio Costa tomava a bebida, por volta de 1918, com o ayahuasquero peruano Dom Crescêncio Pizango, que se acreditava herdeiro dos conhecimentos de um rei inca de nome Huascar.


Numa reunião com a presença de doze pessoas, a miração estava forte quando o caboclo Pizango se acercou do grupo, de modo que só Irineu percebeu sua presença. A certa altura do trabalho, o caboclo aproximou-se e entrou na cuia grande onde era servida a Ayahuasca, olhou para Irineu e lhe disse para convidar seus companheiros a olhar dentro da cuia, para falarem o que viam. Mas eles olhavam e repetiam que só viam a bebida.

"Só tu tem condições de trabalhar com a Ayahuasca. Ninguém mais está vendo o que tu está vendo", anunciou o caboclo a Irineu, avisando-lhe que ele era o único capacitado para trabalhar com a bebida.

Certo dia, Mestre Irineu tomou a Ayahuasca e foi se deitar na rede. Era uma noite iluminada e muito bela. Sentiu vontade de olhar para a lua, que foi se aproximando até ficar bem pertinho. Dentro da lua, ele avistou uma senhora muito formosa de nome Clara, que lhe disse:

"O que está vendo agora ninguém jamais viu, só tu. Eu vou te entregar esse mundo para tu governar. Tu vais te preparar, porque eu não vou te entregar nada agora. Vai ter uma preparação para ver se tu tens merecer verdadeiramente. Tu vais passar oito dias comendo só macaxeira (mandioca) cozida insossa, com água e mais nada. Também não pode ver mulher, nem uma saia de mulher a mil metros de distância."

Após esta preparação, Mestre Irineu recebeu da Virgem da Conceição, a Rainha da Floresta os fundamentos da Doutrina do Santo Daime, e dentro deste contexto ele determinou o seu futuro, assim como o futuro de todos aqueles que viriam a seguir os seus passos: O povo de Juramidam.

Desde a mais tenra idade que Mestre Irineu conheceu as adversidades da vida, mas a medida que se tornou homem formado e digno de sua herança devota, religiosa, também se aprofundou, se aperfeiçoou e mergulhou nos segredos e mistérios da floresta.

Descendente de escravos, este negro forte e de estatura avantajada, media 1,98m e calçava 48, se casou quatro vezes e deixou um único filho, chamado Walcírio.

O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, é hoje dirigido por Dona Peregrina Gomes Serra, viúva do Mestre Irineu, e fica na Vila Irineu Serra, no estado do Acre. Graças a ela que nos Trabalhos os Hinos são acompanhados com instrumentos de corda, o violão.

Morte

Na manhã de 06/07/1971, por volta das 09:00 hs, Mestre Irineu se despedia do planeta terra. Com uma forte crise de urina, desmaiou por cima da rede quando tentava urinar. Seguro por Francisco Martins, que gritou pela presença de madrinha Peregrina, o Mestre dava seus últimos suspiros já com uma vela na mão. O clamor e a tristeza tomavam conta da região. Em pouco tempo a notícia ganhava dimensão. O radialista Mota de Oliveira, uma das últimas pessoas curadas pelas mãos de Mestre Irineu, anunciava seu falecimento nas ondas da Rádio Capital. A cidade de Rio Branco parava para ouvir a triste notícia. A irmandade que morava na capital, era tolhida pela notícia da perda. Iniciava-se nas primeiras horas daquela manhã, um dos dias mais tristes da história da Doutrina do Santo Daime.

Providências para a realização do velório foram tomadas. O corpo de Mestre Irineu ficou em sua residência até ser vestido com a farda oficial utilizada pelo grande líder. Na sede, os homens arrumavam os bancos e a mesa central para o ritual de velório. Fardados em branco, todos os irmãos receberam o corpo de Mestre Irineu, perfilados em forma de "V" que significava vitória. Seu caixão foi colocado ao centro, coberto pela Bandeira Nacional, que lhe dava as honras de um Chefe de Estado. Na cidade, o governo Valério Magalhães divulgava nota de pesar ao falecimento do grande líder. Uma crônica lida na rádio também evidenciava o triste acontecimento.


Durante o restante do dia e toda a noite de 06 para 07 de julho, foram cantados os hinários base da Doutrina por ele difundida. A emoção e o sentimento de dor e tristeza era visíveis, principalmente na execução dos hinos do hinário "O Cruzeiro". O semblante de cada seguidor parecia flutuar em um fato que jamais eles esperavam que fosse acontecer naquele momento.

Ao amanhecer, após longas horas de palestras e discursos de autoridades e oradores do centro, acompanhados pela Banda da Polícia Militar, em toque fúnebre, perfilados em fileiras masculinas e femininas, o batalhão cantando os hinos novos, seguia para a morada final escolhida por Mestre Irineu, bem ao lado da residência de Leôncio Gomes da Silva. Todos, de adultos a crianças choravam pela perda. Dona Peregrina Gomes Serra acompanhada de sua mãe e irmãos, recebia os pêsames das autoridades, amigos e admiradores do grande líder. Sentia, mais que todos, naturalmente, a profunda perda do grande companheiro, conselheiro, amigo e esposo. Alguns como o orador Luiz Mendes do Nascimento, chegaram a desmaiar por cima do caixão fechado de Mestre Irineu. A irmandade dava adeus ao Mestre, comovida, os 78 anos de história marcavam aquele momento inesquecível. Os mistérios e encantos de uma vida dedicada à bondade e ao companheirismo. Abria-se um novo capítulo na história daquele povo.

Odetinha

ODETTE VIDAL DE OLIVEIRA
(9 anos)
Santa Popular

* Rio de Janeiro, RJ (15/09/1930)
+ Rio de Janeiro, RJ (25/11/1939)

Odette Vidal de Oliveira, também conhecida como Odetinha ou a Menina Odetinha, nasceu no subúrbio de Madureira, em 1930. Teve vida curta. Apesar de não ter sua santidade reconhecida pela Igreja Católica, a criança vem conquistando devotos à medida que diversos milagres são atribuídos a ela.

Chamada carinhosamente pelos pais de Odetinha, lírio de pureza e caridade, dotada de um amor extraordinário a Jesus Eucarístico, ia à missa com sua mãe. Desde muito pequena, aos quatro anos, já possuía colóquios íntimos com o Senhor Sacramentado.

Tendo se mudado para o bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, fez a sua Primeira Comunhão no Colégio São Marcelo, da Paróquia Imaculada Conceição, ao lado de sua casa, em 15 de agosto de 1937, aos sete anos de idade. Desde então, ao receber a comunhão, dizia: "Oh meu Jesus, vinde agora ao meu coração!". Seu confessor atestou sua fé viva, confiança inabalável, intenso amor a Deus e ao próximo.

Demonstrou profunda caridade para com os pobres e a busca da santidade de forma impressionante e extraordinária para uma criança tão nova. Inserida de fato na causa de promoção dos mais carentes, gostava muito de ajudá-los com obras concretas de misericórdia, e atividades caritativas semanais. Sua mãe fazia uma feijoada aos sábados para os pobres a seu pedido e ela colocava seu avental e servia a todos alegremente.

Irradiou e inspirou uma imensa obra social, assumida com seriedade pelos seus pais, tornando-os grandes apóstolos da caridade por toda sua vida. Estes colaboraram efetivamente com muitos Institutos de Vida Religiosa, salvando alguns da falência, além do trabalho com as meninas órfãs, um pedido de Odetinha, até hoje administrado por religiosas e voluntários.

Sua piedade explica o segredo de todo o bem que realizou com máxima paciência, admirada por todos até o fim. A modéstia e o pudor foram um grande sinal de uma alma pura e boa, nos divertimentos mais inocentes de sua infância. Amava os lírios e rezava o terço diariamente, revelando, assim, sua confiança total em Nossa Senhora. Queixava-se, ainda, pelo fato de São José, que tanto trabalhou e sofreu por Jesus e Nossa Senhora, ser tão pouco honrado.

Nos últimos quarenta e nove dias de sua vida sofreu dolorosa enfermidade - paratifo, suportada com paciência cristã. No leito de dor, dizia: "Eu vos ofereço, ó meu Jesus, todos os meus sofrimentos pelas missões e pelas crianças pobres (Cf. Ef. 5, 1-2)".

No dia de sua morte, ocorrida em 25 de novembro de 1939, Odetinha recebeu a Sagrada Comunhão às 7:30 hs e na ação de graças disse: "Meu Jesus, meu amor, minha vida, meu tudo". Assim, serenamente, às 8:20 hs entregou sua alma inocente a Deus, vítima de febre Tifóide e Meningite.

Seu túmulo situa-se na Quadra 06, nº 850, no Cemitério São João Batista, Botafogo. Até hoje é um dos mais visitados, sobretudo aos sábados e domingos, por inúmeras pessoas que ali acorrem para agradecer benefícios espirituais e temporais que atribuem à sua intercessão junto a Deus. Sua biografia oficial, lançada no ano seguinte de sua morte pelo padre Afonso Maria Germe, causou grande comoção na sociedade carioca.

Eis como Odetinha rezava seu "Tercinho de Amor":

Nas contas pequenas: "Meu Jesus eu vos amo!"
Nas contas grandes: "Quero passar meu céu fazendo bem à terra!"
Nas três últimas contas: "Meu Jesus, abençoai-me, santificai-me, enchei o meu coração de vosso amor"


A Lenda da Menina Santa

Morta aos 9 anos de idade e enterrada em um luxuoso jazigo perpétuo no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, a criança adquiriu fama de milagreira em meados da década de 1970, quando começaram a surgir placas de agradecimento por graças alcançadas. Sua mãe já falecida chamava-se Alice Vidal de Oliveira.

Em volta do seu túmulo, todas as segundas-feiras, durante anos, Dona Idalina rezava o terço com seus devotos. A oração era simples, nas dez pequenas contas falava-se: "Jesus, eu vos amo e, nas maiores, quero passar para o céu fazendo o bem sobre a terra". Ao final, nas três últimas, agradecia-se da seguinte forma: "Meu Jesus, abençoai-nos, santificai-nos e enchei nossos corações com o vosso santo amor e, por fim, porque queremos passar para o céu fazendo o bem sobre a terra."

Fonte: Wikipédia e Santo Protetor
Indicação: Miguel Sampaio

Santa Rita Durão

JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO
(62 anos)
Religioso Agostiniano, Orador e Poeta

* Fazenda Cata Preta - Mariana, MG (1722)
+ Lisboa, Portugal (1784)

Frei José de Santa Rita Durão foi um religioso agostiniano brasileiro do período colonial, orador e poeta. É também considerado um dos precursores do indianismo no Brasil. Seu poema épico "Caramuru" é a primeira obra narrativa escrita a ter, como tema, o habitante nativo do Brasil. Foi escrita ao estilo de Luís de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos (árcades).

Vida

Santa Rita Durão estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra e, em seguida, lá ocupou uma cátedra de Teologia. Ingressou na Ordem de Santo Agostinho. Nesse período, por volta de 1759, fez uma pregação contra os padres da Companhia de Jesus pela expulsão dos jesuítas, mas depois se arrependeu. 

Durante o governo de Marquês de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de vinte anos até a queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a Viradeira, (queda de Marquês de Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade passou a ser a redação de "Caramuru", publicado em 1781. Conta-se que a obra teria sido recebida com indiferença e que isso fez Santa Rita Durão destruir várias poesias líricas suas.

A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Santa Rita Durão faz referências a fatos históricos, do século 16 até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da corrupção.

Os poetas árcades, angustiados com os problemas urbanos e o progresso científico, propõem a volta à simplicidade da vida no campo e o aproveitamento do momento presente. Embora morem em cidades, fazem versos sobre paisagens bucólicas de outras épocas. Lançam mão de verdadeiros fingimentos poéticos, usando pseudônimos gregos e latinos, imaginando-se pastores e pastoras amorosos, numa vida saudável idealizada, sem luxo e em pleno contato com a natureza.

O Arcadismo no Brasil é diferente do europeu. Em primeiro lugar, usa a paisagem mineira como cenário bucólico, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem iluminista", que não existe nos poemas europeus. Outra característica é a sátira política à opressão portuguesa e da corrupção colonial.


Santa Rita Durão também integra esse movimento cultural contra a colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores. Segundo o crítico Antonio Cândido  "A obra de Santa Rita Durão pode ser vista tanto como expressão do triunfo português na América quanto das posições particularistas dos americanos; e serviria, em princípio, seja para simbolizar a lusitanização do país, seja para acentuar o nativismo."

A estrutura do poema segue o modelo de Luís de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.

"Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu, com quem Diogo se casou na França, e Moema, rival de Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que levava o casal para a França.

Santa Rita Durão morreu em Portugal em 24 de janeiro de 1784.


Obras
  • 1778 - Pro Anmia Studiorum Instauratione Oratio
  • 1781 - Caramuru


Antoninho

ANTÔNIO DA ROCHA MARMO
(12 anos)
Considerado Santo do Povo

* São Paulo, SP (19/10/1918)
+ São Paulo, SP (21/12/1930)

Antoninho foi uma criança católica paulista a quem se atribuía o dom de predizer acontecimentos futuros. Teria inclusive previsto a própria morte. Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser conhecido como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como o Santo do Povo.

Desde pequeno, Antoninho brincava de fazer altares e simular missas, era um grande amigo da mãe e muito inteligente quanto a assuntos polêmicos. Foi considerado um santo pela população de São Paulo, por agraciar os pedidos de curas. Faleceu vítima de tuberculose aos 12 anos. Foi sepultado no Cemitério da Consolação. Seu túmulo está localizado na Quadra 80, Terreno 6, e é constantemente visitado por devotos que lhe pedem auxílio.

Antoninho nasceu numa época tormentosa que ficou assinalada na historia. Enquanto, na Europa,  uma longa batalha que se prolongava há cinco anos e os homens matavam-se uns aos outros, no Brasil a Gripe Espanhola dizimava vidas preciosas, numa pavorosa epidemia, que se transformou em calamidade publica.

O calendário marcava o dia 19 de outubro de 1918. E foi naquela casa assobradada da Rua Bandeirantes, 24, no distrito de Santa Efigênia  que seus pais, os paulistas Pamfilo Marmo e Maria Isabel da Rocha Marmo, o receberam com indizível alegria, completando o batalhão ruidoso dos outros maninhos: Maria da Penha, Nair, Ciro e Wanda.

Em 13 de junho de 1920, dia festivo de Santo Antônio, Antoninho foi levado à pia batismal, na igreja de Santo Antonio do Pari, servindo de padrinho o casal Tolens (Drº Oscar Tolens). Antes, porem, fora batizado, sob condição em perigo de vida, salvo a tempo por um misterioso medico, que não se sabe quem era e que entrara de porta a dentro, sem ser chamado e sem dizer o nome, num desses desígnios inexplicáveis de Deus.

Dali por diante passou ele aos cuidados efetivos da boa e dedicada Mariama, como assim era tratada, na intimidade a empregada.

Com seis meses apenas, quando levado pela ama para passear nas ruas da cidade, Antoninho alegrava-se sobremodo e agitava os bracinhos tenros ao avistar alguma igreja, e, se nela tinha ingresso, transfigurava-se e era tomado de profunda unção ao aproximar-se do altar onde estava a hóstia consagrada. Se acontecia de assistir à benção do padre, procurava ficar de pé e imitava o sacerdote, dando a seu modo a benção aos fiéis com as minusculas mãos. Antoninho era, na verdade, rica alma predestinada.

Antoninho Celebrando uma "Missa"
Predizendo o Futuro

Antoninho, desde muito cedo, revelara vivíssima inteligencia, apreendendo facilmente os principais e mais complexos acontecimentos que se desenrolavam ao seu redor.

Tinha cinco anos quando predisse, com grande surpresa, ante a irmã Maria Vicentina, na Santa Casa de São Paulo, que a velha questão romana, entre o Vaticano e a Itália  teria solução definitiva, obtendo vitoria a Igreja, no reinado do Papa Pio XI. Tal fato aconteceu realmente em 1929. Ao saber do ocorrido, tratou de mandar dizer àquela freira da realidade da sua previsão.

Certa manhã, assistiu à primeira missa do padre Olegário da Silva Barata. Na hora do beija-mão do sacerdote, Antoninho ao aproximar-se do padre, atirou-se-lhe nos braços, num amplexo comovido, chegando a molhar-lhe com lagrimas as vestes paramentais. Em palestra, vaticinou, então, que a morte dele, Antoninho, aconteceria, num coincidir bastante expressivo, no mesmo dia do aniversario do sacerdote, no dia 21 de dezembro, o que realmente aconteceu, nessa data, no ano de 1930.

A maior ambição de Antoninho era abraçar a carreira eclesiástica  E ao indagarem da sua vocação, costumava responder sempre:

"Quero ser padre, mas quero pertencer ao clero secular, pois desejo estar mais em contacto com o povo. E se algum dia chegar a ser vigário saberei cumprir com o meu dever."

O seu passatempo predileto constituía em "celebrar missa", num altarzinho portátil  improvisado no quintal da casa dos pais. O ilustre bispo paulista, Dom Epaminondas, por intermédio do padre Ascanio Brandão, foi quem o presenteou com aquele altar, acompanhado de paramentos. Para o pequeno Antoninho, aquilo constituiu um régio presente. Dali, por diante, passou, circunspectamente, a "celebrar sua missa" todas as manhãs, e depois da "missa" se seguia a pregação feita a meia duzia de fedelhos da sua idade e a outros maiores, a quem ensinava a doutrina do catecismo.

Antoninho e Seu Cãozinho de Estimação
Amigo e Protetor dos Humildes

Antoninho tinha coisas excepcionais, próprias de adultos e era um menino diferente dos outros, um menino prodígio.

Doente gravemente, viu-se obrigado a procurar o clima ameno de São José dos Campos e de Campos do Jordão, a fim de tentar a cura de uma tuberculose que se apossara valentemente do seu débil corpo. Enfraquecera-se, a principio, sob violenta erupção de sarampo. Depois veio a enfermidade insidiosa, para que se tornaram vãos todos os apelos à medicina. Ele mesmo previra que os maiores esforços seriam inúteis contra a doença.

Mesmo atormentado pelos dolorosos sofrimentos, jamais esqueceu os humildes. Um dia, em Campos do Jordão, soube que fora detido um pobre homem, surpreendido com o porte irregular de um revolver, achado no mato. Antoninho interessou-se pelo caso e foi à delegacia, a fim de falar ao delegado que era, então, o Drº Caio Machado Leite Sampaio. Não o encontrou e falou com o carcereiro. Pediu-lhe que transmitisse por favor à autoridade a sua solicitação:

"Diga ao delegado assim que chegar que Antoninho quer a liberdade do preso."

E como lembrete desenhou uma caricatura qualquer sobre a escrivaninha do delegado.

"Faço esta careta no caso do Srº esquecer-se de transmitir meu recado. O delegado, vendo-a, há de perguntar quem a fez. O Srº dirá então que fui eu e fará o meu pedido."

E assim aconteceu. A autoridade ali chegando achou estranho o desenho. Interpelou o carcereiro, que lhe contou tudo. O Drº Caio Machado, com aquela bondade que lhe era peculiar, foi em pessoa a procura de Antoninho, que lhe contou do interesse em favor do seu "constituinte". O delegado, que não o conhecia, achou curioso os modos do garoto. E declarou-lhe que mandaria por em liberdade o detido. Assim o fez, porem, por medida de precaução, despachou-o para Pindamonhangaba.

O homem, profundamente reconhecido ao gesto de Antoninho, regressou a Campos, em áspera travessia a pé, a fim de agradecer-lhe pessoalmente, trazendo de presente uma cabra e dois cabritinhos. O garoto enternecido com a atitude do pobre camponês, fez-lhe ver que a Deus devia agradecer e não a ele, e negou-se a receber o presente, aconselhando-o a vende-lo, pois era pobre e necessitava de dinheiro.

Conformado com a morte próxima, Antoninho piorava cada dia mais nos últimos meses da sua rápida existência. Conhecia perfeitamente o precário estado de sua saúde e mostrava-se conformado com a vontade de Deus.

Uma tarde, vendo a pobre mãe tristonha por causa da sua moléstia, interpelou-a assim:

- Por que está tão triste, mamãe?
- Por nada, meu filho. Eu nunca estou triste ao seu lado.
- Mamãe, precisa fazer a vontade de Nosso Senhor! Nosso Senhor precisa de mim!

E após uma pausa:

- A senhora está vendo aquele pintassilgo naquela árvore? Se eu fizer com que ele venha pousar no meu dedo e cantar, a senhora acredita que é por vontade de Nosso Senhor?
- Acredito, sim, meu filho!
- Então veja! Pintassilgo, passarinho querido, em nome de Deus Nosso Senhor, vem pousar aqui no meu dedo e canta!

Realmente, o lindo passarinho veio obediente ter sobre a mão de Antoninho, e cantou um canto mavioso e doce.

- Então, mamãe, ouviu o canto da vontade de Nosso Senhor?
- Sim, meu filho, ouvi e acredito!
- Vai, vai, meu amiguinho, para a tua árvore e lá continua a cantar!

E assim aconteceu. A ave voou e foi cantar na árvore de onde descera. Voltaram mãe e filho para casa. Horas depois, interpelava ele:

- Está ainda pensando no passarinho, mamãe?
- Sim, é verdade, meu filho...

Dias após, perguntava Antoninho à sua progenitora:

- Minha mãe, que frade foi esse que esteve aqui conversando comigo?
- Frade, meu filho? Eu não vi nenhum frade ao seu lado. Você, com certeza, teve algum sonho...
- Bem, mamãe, não se fala mais nisso...

Logo mais bateram à porta. Era o carteiro e trazia um envelope. Abriram e dentro, o retrato de um frade. Antoninho o reconheceu:

- Este retrato, minha mãe, é de Frei Fabiano de Cristo, que, ainda há pouco, esteve palestrando comigo.

Não era possível aquilo senão por milagre: Frei Fabiano de Cristo falecera já há muitos anos. Aquela fotografia fora enviada por uma irmã do garoto prodigioso.

Hospital Filantrópico Antoninho da Rocha Marmo
A Morte de Um Justo

Antoninho marchava, cada dia, para a morte certa. Ele sabia perfeitamente e era um conformado com a dura realidade. Era a vontade de Deus. Deus o queria. Que se fizesse, então, a vontade de Dele.

Em 19 de dezembro, dois dias antes, ainda armou, com as próprias mãos, num grande esforço, o seu tradicional presépio de Natal. Dali foi carregado pela mãe desvelada, causando tamanho trabalho, até o leito, donde não mais se levantou.

Na manhã do dia 20 de dezembro, foi visitá-lo a Superiora da Santa Casa de Misericordia de São Paulo, acompanhada de outras freiras. Aquela visita foi excepcional motivo de alegria para o doente.

Ali compareceu depois Frei Angelo de Rezende, que lhe ministrou os últimos sacramentos, em altar previamente armado e ornamentado pelo próprio Antoninho, que, da cama, ia orientando tudo. Em dado momento, após a comunhão, supôs o sacerdote que o menino tinha já entregue a alma ao Criador, apresentando-se com os olhos fechados, em atitude de êxtase  Tocou-lhe de leve no ombro. Ele abriu os olhos e falou: "Eu estou rendendo graças a Deus!"

Logo mais, não esquecendo o padre, pediu à mãe que providenciasse um automóvel para reconduzi-lo ao convento e que não o deixasse ir sem tomar uma xícara de café. Depois solicitou um copo d'água e principiou a balbuciar estas frases:

- Que linda estrada... atapetada de flores... como são belas! Quantos anjos! Olha, minha mãe: alguns tocam... outros sorriem! Convidam-me para acompanhá-los... Que belo cortejo!... Eu vou, mamãe... Vou... Sim... Vejo um clarão! Um vulto se aproxima... Olha, mamãe, é meu avozinho... o pai da senhora!

Pediu que acendessem duas velas em torno da imagem de Santo Antônio, junto do leito.

- Antes que estas velas se consumam, eu estarei no céu! Estou cansado... preciso repousar...

Principiou a lenta agonia. Em dado instante, num esforço, abriu os olhos. Circunvagou-os pelo quarto, num meigo sorriso para todos. Um ligeiro tremor de lábios  como se quisesse falar alguma coisa. Depois, mais nada. Estava morto! Morrera como um pássaro!

O relógio marcava 23:30 hs de 21 de dezembro de 1930. Antoninho contava 12 anos de idade.

No dia seguinte, era inumado no jazigo da família no Cemitério da Consolação, na Quadra 80, Sepultura 6, onde a visitação publica o consagrou com a sua admiração e a sua veneração, de então para cá.

A missa de 7º dia foi celebrada sem qualquer pompa, com a encomendação sobre um modesto pano preto, entre quatro velas singelas. Era satisfeita assim a sua ultima vontade.

E, numa curiosa e bem interessante coincidência  conforme uma sua anterior previsão: por acidental engano da empresa funerária, foi seu corpo encerrado num caixão de adulto, carregado num coche de adulto e enterrado numa cova de adulto.

Toda a pequena existência desse grande menino paulista, não há duvida, extraordinária  fora assim revestida de grandes lances: reviveu, em poucos anos, nos dias da atualidade, uma vida beatifica igual à dos santos da antiguidade.

Texto publicado na Folha da Noite, quarta-feira, 12 de março de 1947
(Neste texto foram alterados alguns trechos da grafia original)

Fonte: Banco de Dados Folha e Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino

Joana Angélica

JOANA ANGÉLICA DE JESUS
(60 anos)
Abadessa, Escrivã e Vigária

* Salvador, BA (12/12/1761)
+ Salvador, BA (19/02/1822)

Joana Angélica foi uma religiosa concepcionista baiana, nascida no Brasil colônia, que morreu defendendo o Convento da Lapa em Salvador, BA, contra soldados portugueses.

Em meio aos conflitos ocorridos na Bahia durante as lutas pela Independência do Brasil, destacou-se a religiosa Joana Angélica de Jesus. Baiana, nascida em Salvador, em 12 de dezembro de 1761, Joana Angélica manifestou desde cedo inclinação pela vida religiosa. Seus pais José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva acolheram de bom grado a vocação da filha.

Assim, aos 20 anos de idade, a jovem Joana Angélica entrava como franciscana para o Convento da Lapa com o nome de Sóror Joana Angélica, entrando na Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição. Após um ano de noviciado, aos 18 de maio de 1783, professava-se Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição.


Aceitou os votos de silêncio e, como monja enclausurada, jamais podiam vê-la. Atendia a todos através de um véu ou de uma cortina. Tendo atenção especial aos pobres e aos pestosos. Ajudou de modo a atender à Ordem e servir a Jesus. Assim, aceitou uma das mais difíceis tarefas: a de reeducar mulheres equivocadas, as chamadas "arrependidas"

A vida dedicada à oração e caridade fez de Joana Angélica, exemplo edificante entre as irmãs do mosteiro. No Convento atuou em diversas funções, dentre as quais se destacam: a de escrivã (1797), vigária (1812-1814), abadessa (1815) e prelada (1819). Na época das lutas pela independência, ocupava pela segunda vez a direção do Convento da Lapa, quando as tropas portuguesas invadiram o local e deu-se o notório acontecimento. 

Resultado dos desentendimentos entre brasileiros e portugueses quanto a liderança do Governo das Armas, para o qual foi indicado o general português Inácio Luiz Madeira de Melo, o conflito passou a ser resolvido pelas armas. Assim, no dia 19 de fevereiro iniciou-se com a ofensiva portuguesa. Os lusitanos atacaram o Forte de São Pedro e, quase ao mesmo tempo, os quartéis da Palma e da Mouraria, onde se encontravam oficiais e soldados brasileiros.

Nessa investida ao Quartel da Mouraria, um grupo de soldados tentou invadir o recolhimento, do qual Joana Angélica era Abadessa. Os portugueses acreditavam que no claustro, vizinho ao quartel, houvesse sediciosos e armas escondidas.

Joana Angélica de Jesus  mártir da  Independência do Brasil
Ataque à Casa de Deus

Sólida construção colonial, ainda hoje existente na capital baiana, o Convento da Lapa compõe-se de uma clausura, cuja principal entrada é guarnecida por um portão de ferro.

Os gritos da soldadesca são ouvidos no interior. Imediatamente a Abadessa, pressentindo certamente objetivos da profanação da castidade de suas internas, ordena que as monjas fujam pelo quintal.

O portão é derrubado e, num gesto heroico, Joana Angélica abre a segunda porta, postando-se como último empeço à inusitada invasão.

Conta a tradição, reproduzida por diversos historiadores, que então exclamou:

"Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver!"
(Joana Angélica)

Abrindo os braços, num gesto comovente, tenta impedir que os invasores passem. É, então, assassinada a golpes de baioneta. Penetrando no sagrado recinto, onde encontram apenas o velho capelão, padre Daniel da Silva Lisboa, a quem espancam a golpes de coronhas, deixando-o como morto.

A abadessa Sóror Joana Angélica faleceu pouco tempo depois, no dia 20 de fevereiro de 1822. Por sua coragem e determinação, hoje é lembrada como mártir da  Independência do Brasil. Para homenageá-la, a avenida ao lado do Convento da Lapa foi batizada com o seu nome.