Inhana

ANA EUFROSINA DA SILVA
(58 anos)
Cantora

☼ Araras, SP (28/03/1923)
┼ São Paulo, SP (11/06/1981)

Ana Eufrosina da Silva, conhecida pelo nome artístico de Inhana, foi uma cantora nascida em Araras, SP, no dia 28/03/1923.

Mais do que detentora de uma consistente carreira fonográfica, Inhana era também dona de uma das mais belas e afinadas vozes da nossa música popular. O talento para o canto surgiu cedo, aos 14 anos. A jovem empregada doméstica Ana Eufrosina, nascida em Araras, SP, em 28/03/1923, apresentou-se pela primeira vez na rádio local, no programa "A Voz de Araras". Por essa época, já participava como solista, nas horas vagas, do Jazz Band Araras, no qual atuavam seus irmãos mais velhos e uma irmã.

Em 1941, com 17 anos, cantava no serviço de alto-falantes da cidade de Araras, SP, quando, em fevereiro, o Circo Nova Iorque passou por lá. Da trupe fazia parte a dupla Chopp e Cascatinha, o cantor e instrumentista Francisco dos SantosAna Eufrosina foi assistir a apresentação e foi amor à primeira vista: Ana Eufrosina, então noiva, desfez o compromisso. Ela e Francisco namoraram e se casaram naquele mesmo ano, em 25/09/1941. "Quando vi aquele mulato tocando violão, me apaixonei" contou ela.

Marido e esposa, juntos formaram uma das principais duplas sertanejas do Brasil. Suas mais famosas músicas foram "Índia" (1952) que os levou a um grande sucesso, "Meu Primeiro Amor" (1952) e "Colcha de Retalhos" (1959).

O violeiro e a moreninha se casaram cinco meses depois, no dia 23/09/1941. Romance que daria pra virar música, filme e poesia. Cantaram nos picadeiros de centenas de circos por todo o país, gravaram 54 discos de 78 rpm e 30 LPs. Venderam milhares de discos numa época em que vitrola era artigo de luxo. Cantaram o Brasil mulato, o Brasil Caboclo, o Brasil fronteiriço a outros sons e culturas, traduziram a linguagem rítmica e poética de um país que nos anos 50 vivia um acelerado processo de urbanização.


Cascatinha
, como contava, ganhou o apelido ainda na infância, por matar as aulas pra tomar banho de cascata. Outra versão sobre o apelido, é que este teria surgido depois da formação da parceria com Chope, em alusão à cerveja Cascatinha .

Do casamento surgiu o Trio Esperança, composto por Cascatinha, Ana e Chope). Com o desentendimento de Cascatinha e Chope, Ana começou oficialmente a dividir os palcos com o marido. Cascatinha achou que Inhana, corruptela de Sinhá Ana, seria ideal pra ela. Assim, em 1942 surgia a dupla que faria história: Cascatinha & Inhana.

Foram contratados pelo Circo Estrela Dalva e, entre diversas excursões pelo Brasil, atuaram também em outros circos e também no Parque de Diversões Imperial.

Em 1947, quando o parque passou por Bauru, SP, Cascatinha e Inhana assinaram um contrato de um ano com a Rádio Clube de Bauru. Nessa ocasião, cansados que estavam de tantas andanças, acharam que seria a hora de dar uma pausa.

Assim, em 1948, um novo rumo: a Capital Paulista. Contratados pela Rádio América, foram morar num quarto e cozinha no Ipiranga. Dois anos depois, foram para a Rádio Record, onde permaneceram por 12 anos.

Em 1951, Raul Torres, que Cascatinha e Inhana já conheciam desde os tempos em que tentavam a sorte no Rio de Janeiro, juntamente com Florêncio e Rielli, tinham um show marcado na cidade de Jundiaí. Como Raul Torres havia adoecido, sugeriu que Cascatinha e Inhana o substituíssem. E, nesse show, apesar do cachê razoável oferecido e que havia chegado em boa hora, Cascatinha & Inhana interpretariam somente a célebre "Ave-Maria no Morro" (Herivelto Martins). Eles foram aplaudidos de tal modo que só conseguiram sair do palco após cantar mais uma meia dúzia de outros sucessos.


Nesse mesmo ano, Raul Torres, quando soube do sucesso do casal em Jundiaí, convidou Inhana para fazer o acompanhamento vocal nas gravações das modas de viola "Rolinha Correio" (Raul Torres e Sebastião Teixeira) e "Pomba do Mato" (Raul Torres), na Todamérica, gravadora na qual Raul Torres tinha boa influência. No dia seguinte, o primeiro disco foi gravado: um 78 RPM contendo "La Paloma" (S. Yradier com versão de Pedro Almeida) e "Fronteiriça" (José Fortuna), lançado em julho de 1951. José Fortuna, por sinal, era o compositor preferido de Cascatinha.

No quinto disco, também pela Todamérica, o maior sucesso da carreira da dupla: as duas conhecidíssimas versões de José Fortuna para as guarânias paraguaias "Índia" (M. Ortiz Guerrero, José Asunción Flores com versão de José Fortuna), no lado A, e "Meu Primeiro Amor (Lejania)" (Hermínio Giménez com versão de José Fortuna e Pinheirinho Junior), no lado B. Disco esse que atingiu a vendagem astronômica superior a 2.500.000 cópias. Um marco na época, pois foi a primeira vez que um disco de música sertaneja atingiu tal vendagem. Um fato inusitado, pois, nos anos 50, poucas pessoas tinham aparelhos fonográficos em casa.

Tal o sucesso dos dois lados desse 78 RPM, que veio também o convite para participarem do filme, "Carnaval em Lá Maior" de Adhemar Gonzaga, em 1955, filme no qual Cascatinha & Inhana interpretaram os dois sucessos.

E esse disco demorou a sair, porque o diretor artístico da Todamérica, Hernani Dantas, não queria gravar pois não acreditava que fosse fazer sucesso. Além disso, ele também argumentava que a versão original em castelhano era conhecida demais, para surgir de repente com uma nova letra diferente.

Na verdade, Hernani Dantas acabou cedendo aos pedidos insistentes dos ouvintes que escutavam as duas guarânias que o casal cantava ao vivo com frequência na Rádio Record e que procuravam inutilmente os discos nas lojas, as quais, por sua vez, os encomendavam à gravadora.


"Índia" e "Meu Primeiro Amor" também foram regravadas ao longo do tempo por grandes nomes da música brasileira, tais como Dilermando Reis (em solo de violão), Carlos Lombardi, Gal Costa, Nara Leão e Taiguara, apenas para citar alguns.

Calcula-se que a vendagem de "Índia" e "Meu Primeiro Amor" tanto em 78 RPM, como em LP e CD, pode ter faturado algo equivalente à vendagem dos discos da dupla "Chitãozinho e Xororó" no auge da década de 80.

Em 1954, Cascatinha & Inhana receberam Medalha de Ouro da revista Equipe e passaram a ser conhecidos como Os Sabiás do Sertão, pelos recursos vocais e agradáveis nuances desenvolvidos pela dupla. A voz soprano de Inhana é considerada uma das vozes femininas mais perfeitas do Brasil.

Téo Azevedo considerava a voz de Inhana como:
"A mais bonita e afinada que já surgiu no Brasil desde que Cabral pisou nesta terra. Gal Costa, Tetê Espíndola e Elis Regina, as quais são consideradas por muitos como as maiores cantoras do país, são muito boas, mas afinação e voz bonita igual a de Inhana nunca mais apareceu. Era perfeita!"
O casal "terçava" as vozes como fazem as duplas caipiras, porém, a beleza em particular do timbre das duas vozes, aliada à facilidade com que Inhana conseguia passear pelas notas agudas, mais a sofisticação da segunda voz do Cascatinha e os arranjos instrumentais bem elaborados deram a Cascatinha & Inhana uma liberdade incomum para escolha do repertório, por sinal, um dos mais bem escolhidos, não só na música caipira, mas na música brasileira, de um modo geral.


Cascatinha & Inhana
também gravaram obras de grandes compositores brasileiros tais como "Guacyra" (Hekel Tavares e Joracy Camargo), "Quero Beijar-te as Mãos" (Lourival Faissal e Arsênio de Carvalho), "O Menino e o Circo" (Ely Camargo), "Flor do Cafezal" (Luiz Carlos Paraná), "Chuá, Chuá" (Pedro Sá Pereira, Marques Porto e Ary Pavão), "Colcha de Retalhos" (Raul Torres), e "Serra da Boa Esperança" (Lamartine Babo), esta com um excelente acompanhamento de piano, orquestra e violinos em Pizzicatti, gravada na Chantecler/Continental. Enfim, um repertório riquíssimo em canções de bastante lirismo, toadas, baiões, xotes, valsas, canções rancheiras e tangos brejeiros, além das famosas versões de músicas latinas, principalmente as já mencionadas guarânias paraguaias.

A dupla Cascatinha & Inhana ganhou também o Troféu Roquete Pinto em 1951, 1953 e 1954, além de seis Discos de Ouro por vendagens de mais de 100.000 exemplares.

Com a morte de Inhana, Cascatinha continuou a se apresentar sozinho em Votuporanga, SP e depois em São José do Rio Preto, SP, onde veio a falecer em 1996, na Beneficência Portuguesa, vítima de cirrose hepática.

Viu lançados pela Revivendo dois CDs: "Índia - Volume 1" e "Meu Primeiro Amor - Volume 2", os quais reuniram 38 músicas de seus antigos discos de 78 RPM. A gravadora paranaense também produziu os volumes 3, 4 e 5 no mesmo estilo dos dois primeiros, formando um conjunto bastante representativo da obra de Cascatinha & Inhana, além do excelente encarte explicativo e dados fiéis do disco original, como acontece em todos os CD's da Revivendo.

Cascatinha também chegou a lançar no ano seguinte ao falecimento de Inhana o LP "Canto Com Saudade". Também participou de uma gravação de "Flor do Cafezal" (Luís Carlos Paraná) juntamente com Rolando Boldrin em 1982, pela RGE, hoje Som Livre.

No casamento, tiveram um filho adotivo chamado Marcelo José.

Morte

Inhana faleceu na quinta-feira, 11/06/1981, aos 58 anos, em São Paulo, SP, vítima de um infarto.

A dupla Cascatinha & Inhana se preparava para uma apresentação no show Grande Noite da Viola, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, ao lado das duplas Tonico & Tinoco Milionário & José Rico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário