Olacyr de Moraes

OLACYR FRANCISCO DE MORAES
(84 anos)
Empresário

☼ Itápolis, SP (01/04/1931)
┼ São Paulo, SP (16/06/2015)

Olacyr Francisco de Moraes foi um empresário brasileiro, que já foi o maior produtor individual de soja do mundo, que o tornou conhecido como "Rei da Soja", pioneiro deste cultivo na região de cerrado e dono da Fazenda Itamarati onde, dentre outras pesquisas, foram desenvolvidas variedades de cultivos, como o Algodão ITA-90, que tornou o Brasil exportador do produto. Pai do também empresário Marcos de Moraes, criador do primeiro e-mail gratuito do Brasil, o Zipmail e do Portal Zip.net, vendido para a Portugal Telecom.

Olacyr Francisco de Moraes nasceu em Itápolis, interior do estado de São Paulo, no dia 01/04/1931.

Aos oito anos seus pais se mudaram para a capital e já aos 14 anos Olacyr começou a trabalhar auxiliando seu pai que era vendedor de máquinas de costura. Com o final da Segunda Guerra Mundial, a empresa que seu pai trabalhava fechou as portas no Brasil e com o dinheiro economizado o senhor Augusto de Moraes adquiriu uma pequena transportadora chamada "Expresso Foguete". A frota de entrega era composta de apenas três ou quatro caminhões Ford 29, mas foi nela que Olacyr pode aprender a diversificar suas atividades auxiliando em tudo que a empresa necessitasse, da parte mecânica à contabilidade.

Aos 19 anos, junto com seu irmão Odimir e seu pai, Olacyr começou a sua carreira de empresário constituindo a empresa de transporte de cargas Argeu Augusto de Moraes e Filhos Ltda. Era uma pequena empresa que dispunha de alguns poucos caminhões velhos e para crescer, Olacyr decidiu contra a vontade do pai financiar caminhões novos que possibilitaria prospectar novos clientes.

A estratégia deu certo. Na época os financiamentos quase não pagavam juros e graças a seus veículos novos pode se candidatar a executar serviços para a prefeitura de São Paulo com o transporte de pedras para a pavimentação de ruas. Logo Olacyr percebeu que poderia lucrar mais se além do transporte de cargas, também pudesse executar a pavimentação das ruas já que a prefeitura de São Paulo na época terceirizava todo esse serviço.


Em 1957 nascia então a empresa Construção e Transportes Constran Ltda, uma sociedade em partes iguais entre Olacyr e seu irmão Odimir. Os irmãos pensavam da mesma forma: para crescer era necessário investir tudo que ganhavam na própria empresa. São Paulo não parava de crescer e a demanda da prefeitura por obras tinha que acompanhar esse ritmo. A Constran, uma empresa enxuta e com histórico de bom serviço prestado a cidade, foi conquistando o direito de executar diversas obras públicas, algumas bastante complexas e sofisticadas.

Em 1971 Olacyr resolveu abrir o capital da empresa transformando a Constran em uma Sociedade Anônima (S/A). Os constantes investimentos em pesquisa, desenvolvimento, recrutamento de engenheiros competentes e treinamento de pessoal qualificado fez com que a Constran passasse a dominar todos os ramos de engenharia civil pesada passando a construir aeroportos, ferrovias, pontes e viadutos, emissários submarinos, usinas, portos e túneis. Não havia limites para a atuação da Constran. Todos os desafios eram estudados e vencidos. Para se ter uma idéia de seu pioneirismo, os primeiros quilômetros do metrô de São Paulo, a primeira obra metroviária do Brasil, foram construídos por essa empresa, que ao longo de sua história passou a ser uma das maiores empresas de engenharia pesada do Brasil.

Os bons resultados obtidos pela Constran desde o início de suas atividades permitiram com que uma parte dos lucros da empresa fosse aplicado em outros setores. Uma delas foi o Banco Itamarati que visava dar maior prestígio e confiança às obras tocadas pela Constran.

Mas em 1966 com o objetivo de promover o desenvolvimento da região amazônica, o governo federal criaria a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) que instituía incentivos fiscais para empresários que investissem naquela região.

Achando que era uma boa oportunidade, em 1967, Olacyr junto a um grupo de empresários, criou a Orpeca S/A cujo objetivo era a criação e a engorda de gado no norte do estado do Mato Grosso, uma região até então inóspita, sem a menor infraestrutura em meios de transporte, comunicação e recursos humanos que exigia muita coragem e determinação para quem investisse ali. Para se ter uma idéia, para se chegar a fazenda e levar gente, equipamento e mantimentos foi preciso abrir uma picada na mata. O pioneirismo de Olacyr deu resultados e pouco tempo depois, Olacyr assumiria o controle acionário dessa empresa e assim outros projetos foram desenvolvidos na região.


Em 1973, iniciou uma bem sucedida atividade agrícola com a constituição da empresa Itamarati Agro Pecuária S/A, localizada na cidade de Ponta Porã, no estado do Mato Grosso do Sul. A Fazenda Itamarati contava com uma área total de 50 mil hectares onde eram cultivados principalmente soja, milho, arroz, trigo e algodão. Uma área menor da fazenda era destinada a estudos, produção e desenvolvimento de sementes certificadas de arroz, soja, trigo, algodão, feijão, girassol e sorgo.

O solo da região não era o ideal para os espécimes de soja produzidos no Brasil. Para tornar o projeto viável, Olacyr teve que investir muito em pesquisa em laboratórios próprios, construídos para isso, que contaram com a colaboração de um convênio feito com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Foram desenvolvidas mais de 3000 linhagens diferentes de soja e trigo, até achar a que melhor se adaptava e geraria maior produtividade na região. Deu mais do que certo. A soja desenvolvida na região gerava 48% de proteínas em relação ao seu peso contra 44% da soja produzida nos Estados Unidos.

Em 1975 no município de Diamantino, MT, a apenas 300 km de Cuiabá, Olacyr inaugurou a empresa Itamarati Norte S/A que ocupava uma área total de 110.000 hectares onde passou a produzir principalmente soja, milho e algodão.

As técnicas de otimização desenvolvidas por ele e aplicadas na Fazenda Itamarati e na empresa Itamarati Norte S/A Agropecuária obtiveram tamanho sucesso que alçou Olacyr ao título de "Rei da Soja" nos anos 80, por ser indiscutivelmente o maior produtor individual de soja do mundo.


Nas fazendas de seu grupo foi montada toda uma infraestrutura para servir aos funcionários que ali moraram e se estabeleceram. Haviam por exemplo, hospitais e médicos nas próprias fazendas, com toda estrutura para atender as necessidades de seus funcionários. Os trabalhadores solteiros contavam com alojamentos parecidos com hotel, com portaria, recepção e chave de seu quarto. Já os casados recebiam uma casa com água, luz e esgoto por conta da empresa. A alimentação era fornecida pelo sistema "bandejão" no restaurante aos funcionários que ali trabalhavam e aos trabalhadores do campo eram fornecidas a mesma comida em embalagens tipo marmita de alumínio.

Essa dedicação aos trabalhadores de suas empresas foi reconhecida pelos seus funcionários: Enquanto comandou essas empresas, nunca houve uma só greve ou manifestação exigindo nada a mais por parte dos trabalhadores mesmo nos turbulentos anos 80 onde sindicatos promoviam greves em ritmo quase industrial.

Em 1979, Olacyr diversificou ainda mais suas operações inaugurando a empresa Calcário Tangará na cidade de Tangará da Serra, também no estado do Mato Grosso, e, em 1985, fundou a Calcário Itamarati na cidade de Bela Vista, no estado do Mato Grosso do Sul. Ambas empresas visavam à produção e comercialização de calcário para correção de solos destinados à agropecuária. A capacidade de produção nessas duas empresas era superior a 1.400.000 toneladas por ano.

A partir de 1980, no Chapadão dos Parecis, município de Nova Olímpia, MT, a apenas 200 km de Cuiabá, Olacyr construiu e operou a empresa Usinas Itamarati S/A, proprietária de aproximadamente de 100.000 hectares de terras no estado de Mato Grosso, cultivando principalmente cana-de-açúcar em terras próprias e de terceiros.


Anos depois, a Usinas Itamarati S/A produziu sozinha acima de sete milhões de toneladas de cana que resultaram em mais de 6,3 milhões de sacos de açúcar, 211 milhões de litros de álcool anidro e 128 milhões de litros de álcool hidratado, tornando-se assim a primeira empresa no mundo em quantidade de cana esmagada por safra.

Em 1986, constitui a empresa Itamarati Armazéns Gerais, oferecendo armazenagem e conservação de grãos eficiente, tanto no Mato Grosso como no Mato Grosso do Sul, para tudo o que era produzido nessa região.

Foi também no Chapadão dos Parecis que em 1989, Olacyr iniciou um programa de melhoramento genético do algodão brasileiro. O resultado de tanta pesquisa e desenvolvimento junto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) gerou a criação de uma variedade de algodão (ITA90) de alta produtividade e graças a ela, o Brasil deixou de ser um grande importador para ser um dos maiores exportadores de algodão do mundo. Olacyr também é o maior recordista de produção de milho em terras brasileiras.

As empresas de Olacyr cresciam, batiam recordes de produção e ajudavam a projetar o Brasil no exterior. Mas os governos federal e estaduais ao invés de ajudarem, só atrapalharam.

Para aumentar a capacidade de produção de energia em Mato Grosso, no início da década de 90, Olacyr fez um acordo com o governo desse estado onde ele construiria duas usinas hidrelétricas (JUBA I e JUBA II, com capacidade total instalada de 84 megawatts) onde a energia elétrica excedente seria vendida a Centrais Elétricas Matogrossenses (CEMAT), concessionária de energia do Estado, com o compromisso de que o governo de Mato Grosso investisse nas linhas de transmissão de energia. O governo não fez nada e as hidrelétricas ficaram paradas por mais de um ano.


Outra decepção com o poder público veio com a Ferronorte, ou Ferrovia Norte Brasil, primeira ferrovia executada pela iniciativa privada no país, que visava funcionar como um importante corredor de escoamento de grãos produzidos na região Norte e Centro-Oeste do Brasil para o porto de Santos em São Paulo. Para viabilizar o negócio, foi acordado que o governo do Estado de São Paulo ergueria uma ponte sobre o Rio Paraná ligando Mato Grosso a São Paulo e Olacyr construísse a ferrovia. Olacyr cumpriu sua parte, mas o governo do Estado de São Paulo, não. Somente depois de quase oito anos após uma intervenção do Governo Federal a ponte ficou pronta gerando um enorme prejuízo ao grande investimento feito por Olacyr. Para complicar ainda mais, na mesma época, sua Constran levou um tremendo calote de vários Governos Estaduais que promoviam diversas obras públicas de grande porte visando seus interesses eleitorais sem ter recursos suficientes para honrar os acordos.

Mostrando que, quem nasce para rei nunca perde a majestade, Olacyr deu a volta por cima e atualmente estava engajado em empreendimentos de mineração, Itaoeste, Serviços e Participações LTDA e OFM Mineral Star, para exploração de minérios dos mais variados, como diversos tipos de calcário, wollastonita (utilizados na produção de cerâmica, tintas, plásticos, adesivos, produtos sujeitos à fricção e refratários entre outros), manganês, ferro, cobalto, cobre, titânio, tungstênio, atapulgita, apenas para citar alguns, distribuídos pelas regiões Nordeste (Bahia e Piauí) e Sudeste (São Paulo).

A atividade minerária desenvolvida por Olacyr de Moraes tem impacto direto não apenas no setor extrativista em si, mas novamente no desenvolvimento agrícola nacional, alavancado por corretivos de solo, como o calcário, insumos a base de cobre e manganês ou ainda fertilizantes naturais, como no caso do silicato de cálcio - wollastonita - produto hoje 100% importado - apontado como referência potencial em culturas como as de cana de açúcar e arroz, entre várias outras.

O homem que começou com uma pequena transportadora de pedras para a prefeitura de São Paulo, se transformou em empresário, dono de banco, construtor de hidrelétrica, metrô e ferrovia além de ter sido o maior produtor individual de soja do mundo e um dos maiores de algodão e milho do Brasil, continuava acreditando e investindo no Brasil.

Durante sua trajetória profissional Olacyr recebeu mais de 200 títulos, entre diplomas, méritos e medalhas, como o de engenheiro honorário e de administrador de empresas, honraria recebida do governo brasileiro pelo reconhecimento de sua importante contribuição ao desenvolvimento de nosso país.

Morte

Olacyr de Moraes morreu aos 84 anos na madrugada de terça-feira, 16/06/2015, em São Paulo. Ele lutava contra um câncer de pâncreas descoberto no início de 2014.

Aos 82 anos de idade, Olacyr descobriu que estava com câncer no pâncreas. O tumor foi retirado e o empresário chegou a fazer radioterapia e quimioterapia. A doença, no entanto, não foi totalmente curada.

Com o tempo, Olacyr não conseguia tomar muitas medicações, já que tinha diabetes, infecções e sagramentos intestinais. Tais doenças também atrapalhavam o tratamento contra o câncer e o estado nutricional. Nos últimos meses, o empresário passou a postar várias frases sobre a sua luta contra o câncer.

O velório de Oacyr ocorreu na manhã de terça-feira, 16/06/2015, no Hospital Albert Einstein, e seu corpo foi cremado à tarde no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.

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