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Salvador Arena

SALVATORE ARENA
(83 anos)
Empresário e Benemérito

☼ Trípoli, Líbia (12/01/1915)
┼ São Bernardo do Campo, SP (28/01/1998)

Nascido em 12 de janeiro de 1915, em Trípoli, na Líbia, então colônia italiana, filho de Nicola Arena e Giuditta Patessio ArenaSalvador Arena chegou ao Brasil em 1920 com 5 anos. Salvador Arena e seus pais instalaram-se na Vila Prudente, bairro da zona leste de São Paulo predominantemente ocupado por imigrantes italianos. Passou a maior parte da infância na oficina do pai. Moravam em uma espécie de chácara, onde manipulava peças e máquinas, acompanhando o Srº Nicola, seu pai, que processava sucata de metais em uma oficina mecânica de sua propriedade.

Giuditta, Salvatore Arena e Nicola
Iniciação Profissional

Iniciou suas atividades profissionais aos oito anos. Fabricava velas para vender nas procissões, defendendo sua mesada e contribuindo com o rendimento familiar. A família não chegou a passar necessidade, mas tinha uma vida modesta.

Espírito Empreendedor

Em 1936, aos 21 anos, formou-se engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em 1937, iniciou suas atividades profissionais na Light, seu primeiro emprego formal, onde trabalhou na implantação do sistema hidrelétrico de Cubatão, um modelo planejado por Billings. Naquele tempo, as máquinas eram todas importadas. Quando quebrava uma peça, não havia outro jeito senão fabricar outra. Por um longo período, Salvador Arena atuou como aquele que desenhava as peças, projetava seus detalhes e mandava fundi-las. O resultado, muitas vezes, era melhor que o original.

A Termomecanica

Em 1942, com um capital de U$ 200,00, fundou a Termomecanica São Paulo S.A. Naquela época, a empresa era voltada para a produção de fornos e equipamentos para padaria. Mais tarde, começou a fabricar fornos de revenimento, ventiladores, trefilas, fornos de fundição, prensas, etc. Já em meados da década de 50, iniciou a construção da nova fábrica, no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, com produção diversificada de metais não-ferrosos.


Gestão Inovadora

Empreendedor arrojado, criou um modelo de gestão próprio, inovador e avançado para a década de 60, que prezava, acima de tudo, seu "valioso capital humano". Conhecia os funcionários pelo nome e sobrenome, bem como seus familiares, para os quais estendeu benefícios como: cestas básicas com até 60 quilos de alimentos, atendimento médico e odontológico.

A política salarial diferenciada, uma marca da Termomecanica, foi sua criação. Tudo começou em 1948, após um grande esforço bem-sucedido de produção para atender um grande cliente, Salvador Arena concedeu, espontaneamente, o primeiro prêmio por produtividade. Não havia legislação a respeito de participação nos lucros e remuneração por produtividade, porém a prática incorporou-se à rotina da fábrica e, sempre que havia um trabalho especial, havia um prêmio.

Mesmo antes de ser criado o 13º salário, Salvador Arena pagava um adicional no fim do ano. Com o tempo, dependendo do desempenho anual calculado por ele mesmo, Salvador Arena distribuía a participação nos lucros, que chegava a 14, 15 e às vezes 17, 18 salários no ano. Em um determinado ano, foram pagos excepcionalmente 25 salários.

Concretizou a ideia de proteger os funcionários das altas taxas de juros do mercado e criou uma cooperativa de crédito, com juros subsidiados, como alternativa de financiamento pessoal.

Sabendo que muitos funcionários saiam na hora do almoço para beber um pouco no boteco próximo, mandou instalar garrafões de pinga no refeitório da empresa. Resultado: o índice de alcoolismo diminuiu, e a produção aumentou, contrariando as previsões de muitos de seus colegas empresários.

Antes de falecer, em 1998, Salvador Arena havia colocado a Termomecanica em posição de destaque no setor industrial brasileiro, tendo sido classificada entre as maiores indústrias privadas do país, líder no setor de transformação de metais não-ferrosos em produtos semi-elaborados / produtos acabados e altamente capitalizada, com um patrimônio líquido avaliado em mais de 400 milhões de dólares.

Hoje, a empresa conta com duas unidades nos bairros Rudge Ramos e Jardim do Mar, ocupando 127 mil metros quadrados de área construída e mantendo mais de 2.000 postos de trabalho no município.

Empresário de Sucesso

O empreendedorismo de Salvador Arena conferiu-lhe vários prêmios e reconhecimentos de importância nacional:
  • 1978 - Revista Exame: Empresa do Ano
  • 1980 - Revista Exame: Empresa do Ano
  • 1983 - Melhor Desempenho Global dos Últimos 10 Anos - Melhor dos Melhores
  • 1988 - Melhor Liquidez no Setor Metalúrgico
  • 1992 - Revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas: Prêmio FGV de Excelência Empresarial
  • 1993 - Revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas: Prêmio FGV de Excelência Empresarial
  • 1994 - Revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas: Prêmio FGV de Excelência Empresarial
  • 1996 - Melhor dos Melhores no Setor de Siderurgia e Metalurgia

O Empreendedor Social

O maior sonho de Salvador Arena sempre foi criar uma escola modelo. A vontade era tanta, que, no início da década de 60, chegou a montar um colégio dentro da fábrica. Comprou 150 cadeiras e mesas, que foram colocadas num pavilhão pertencente à fábrica. Contratou professores de português, matemática e ciências. Os funcionários encerravam o expediente às cinco da tarde e iam para as aulas. Alguns anos depois, essa escola sairia dos muros da sua fábrica e passaria a atender a comunidade de São Bernardo do Campo e das cidades vizinhas no Colégio Termomecanica.

O sucesso da sua empresa e a prosperidade nos negócios não eram os únicos focos da existência de Salvador Arena. Dono de uma personalidade crítica, encontrava disposição para empreender ações humanitárias, fazendo contribuições generosas para entidades beneficentes, filantrópicas e investindo em projetos sociais por ele idealizados.

A Fundação Salvador Arena

Salvador Arena previu que o tempo seria curto para tantos planos. Pensando nisso, criou a Fundação Salvador Arena, formalmente constituída em 1964, para funcionar como uma espécie de braço social e concentrar esforços para ajudar os carentes.

No testamento, lavrado em 1991, instituiu a Fundação Salvador Arena como herdeira universal e única de todo o seu patrimônio.

Deixou prescrições expressas nos estatutos de que a Fundação Salvador Arena devia "cooperar e envidar os esforços possíveis para a solução dos problemas de educação e assistência e proteção aos necessitados, sem distinção de nacionalidade, raça, sexo, cor, religião ou opiniões políticas em caráter geral...".

Dessa forma, Salvador Arena passou a promover institucionalmente as ações sociais beneméritas, as quais já praticava de forma pessoal. Nesse sentido, suas principais realizações e legados compreendem as seguintes áreas: Educação, Saúde, Promoção Social e Habitação Popular.

Salvador Arena e Educação

Como dizia Arena, "A Área de Educação é prioritária, onde tudo começa".

Prosseguiu, então, na realização de seu grande sonho: a construção de uma escola-modelo. Assim, em 1989, adquiriu uma gleba com área de mais de cinco alqueires no Bairro Alvarenga, em São Bernardo do Campo, e construiu o Colégio Termomecanica para atender, gratuitamente, crianças e adolescentes da comunidade, com qualidade e excelência de ensino.

Hoje, esse sonho amadureceu, cresceu e multiplicou-se. Além do Colégio Termomecanica, existem mais duas unidades de ensino, formando um verdadeiro Campus Educacional, que atende, gratuitamente, cerca de 1650 alunos, com investimentos da ordem de R$ 25 milhões anuais, com 100% de recursos próprios. 68% dos alunos são moradores de São Bernardo do Campo, e 75% são procedentes de famílias de baixa renda ou sem renda.

O Colégio Termomecanica, em atividade desde 1990, oferece mais de 1.100 vagas em seus cursos de altíssimo nível, que vão do Ensino Básico ao Ensino Médio, inteiramente gratuitos à população. Em outra unidade de ensino, a Fundação Salvador Arena mantém mais 180 vagas para crianças carentes do Sítio Bom Jesus, Parque Hawai e adjacências, em sua Escola de Educação Infantil Salvador Arena, em cursos que vão do Maternal ao Pré-Primário.

Em 2006, a Fundação Salvador Arena mantinha 550 vagas para a comunidade em cursos de nível superior gratuitos, na Faculdade de Tecnologia Termomecanica (FTT), nas faculdades de Tecnologia em Mecatrônica Industrial, Tecnologia em Industrialização de Alimentos, Tecnologia em Gestão de Processos Produtivos e Tecnologia em Sistemas de Informação.

Salvador Arena e Saúde

Salvador Arena também é uma importante referência na área da saúde no município. Criou o Centro de Diagnose, que funcionou de 1995 a janeiro de 2007, na Av. Caminho do Mar, onde foram realizados mais de 14 mil exames diagnósticos gratuitos todos os anos. Atualmente, a Fundação Salvador Arena realiza atendimento na área da saúde por meio de parcerias com hospitais filantrópicos e beneficentes, localizados na região do ABC e em São Paulo.

Salvador Arena e Promoção Social

Salvador Arena sempre esteve envolvido com as comunidades carentes, fazendo doações importantes para entidades sociais, visando à instalação de salas de aula para creches, melhorias nas dependências de asilos e abrigos infantis e fornecendo alimentação saudável para famílias em situação de pobreza.

Na década de 80, uma vez a cada dois meses, aos sábados, eram distribuídas 2000 cestas básicas com sessenta quilos de alimentos a desempregados. Cada funcionário da Termomecanica era estimulado a participar, indicando um candidato para receber a cesta. Era a versão atualizada do Programa "Adote um Desempregado", instituída por Salvador Arena em 1983, que o notabilizou no país inteiro.

Em São Bernardo do Campo, mais de uma centena de entidades sociais recebem ou já receberam doações da Fundação Salvador Arena criada por Salvador Arena e, anualmente, mais de 60 mil pessoas são atendidas diretamente por meio de seus programas.

Salvador Arena e Habitação Popular

Salvador Arena enchia-se de entusiasmo por idéias inovadoras que contribuíssem para o barateamento dos custos de construção de casas populares e que permitissem o acesso da população carente a uma condição digna de vida. Sonhava com a possibilidade de resolver o problema de falta de moradia no Brasil e estudava alternativas para isso.

Teve a ideia de utilizar o barro prensado para construir casas populares. Projetou as máquinas e as prensas. As partes formavam um Kit de uma casa simples, mas completa. Poderia ser montada com facilidade em qualquer lugar do país, a custos muito baixos, acessíveis às famílias mais pobres. Infelizmente faleceu antes de ver concluído um de seus projetos pessoais.

Por outro lado, os Conselheiros e Gestores escolhidos em vida por Salvador Arena, por meio da Fundação Salvador Arena, deram continuidade ao seu sonho e, em 2002, firmaram um convênio com a Prefeitura de São Bernardo do Campo, com a finalidade de realizar um projeto piloto para construir 170 casas populares e urbanizar a Favela Itatiba, localizada ao lado do Cemitério Jardim das Colinas, no Bairro dos Vianas. Essa parceria inédita mantém viva a intenção de Salvador Arena de empreender esforços para auxiliar famílias pobres a conquistar condições dignas de moradia e de vida, beneficiando 800 pessoas diretamente.

Saudades

Em 28 de janeiro de 1998, Salvador Arena faleceu devido a um ataque cardíaco, após um dia de trabalho em sua Fábrica. Seu legado permanece até hoje na Fundação Salvador Arena e na Termomecanica São Paulo S.A.

Salvador Arena morreu na plenitude de seus 83 anos junto aos que mais amava: Seu colégio, seu funcionários, suas máquinas, sua fábrica, sua comunidade.

Homem de convicções pessoais embasadas em teorias sociais, enérgico, austero, paternalista, visionário, obstinado, polêmico, sua mola propulsora era acreditar nas pessoas e em suas potencialidades, na dedicação e no amor ao trabalho. Sempre lhe sobrou ousadia, talento e suor para pôr em prática suas idéias ao longo de sua existência. E é assim que será sempre lembrado por todos aqueles que tiveram o privilégio de partilhar de seu convívio.

Quando um velho amigo o convidou para fazerem juntos uma viagem ao exterior, Salvador Arena foi categórico com seu jeito italiano, gesticulando e apontando para as fábricas:
"Eu sou feliz aqui, por que eu vou sair? Meu mundo é isto aqui!"

Títulos e Prêmios

1936 - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Diploma de Graduação em Engenharia Civil
São Paulo, SP - 18 de dezembro de 1936

1960 - Society Of Automotive Engineers Inc.
Diploma de Membro Emérito
New York, USA - 13 de junho de 1960

1960 - American Society For Testing Materials
Diploma de Membro Emérito
New York, USA - Janeiro de 1960

1962 - Sociedade Amigos do Estudante do Estado de São Paulo
Casa do Estudante Harmonia
Título de Sócio Benemérito
São Bernardo do Campo, SP - 23 de outubro de 1962

1963 - Casa do Estudante Harmonia
Diploma de Honra ao Mérito
São Bernardo do Campo, SP - 22 de setembro de 1963

1964 - Associação Comercial e Industrial do ABC
Diploma para Termomecanica de Sócio-Contribuinte
São Bernardo do Campo, SP - 02 de dezembro de 1964

1971 - Câmara Municipal de São Bernardo do Campo
Título de Cidadão Sambernardense
São Bernardo do Campo, SP - 27 de maio de 1971

1971 - Ministério da Aeronáutica
Medalha Mérito Santos Dumont
Brasília, DF - 02 de julho de 1971

1972 - Câmara Municipal de Diadema
Título de Cidadão Diademense
Diadema, SP - 18 de dezembro de 1972

1974 - Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo
Medalha do Mérito Cívico, por serviços de alta relevância prestados para a comunidade.
São Bernardo do Campo, SP - Julho de 1974

1975 - Associação dos Engenheiros e Arquitetos do ABC
Título de Engenheiro Emérito do ABC
São Bernardo do Campo, SP - 10 de dezembro de 1975

1977 - Ministério da Aeronáutica
Ordem do Mérito Aeronáutico
Diploma de Admissão no Corpo de Graduados Especiais no Grau de Oficial.
Brasília, DF - 06 de setembro de 1977

1984 - Ministério da Aeronáutica
Ordem do Mérito Aeronáutico
Diploma de Promoção Para o Grau de Comendador.
Brasília, DF - 20 de setembro de 1984

1988 - Exército Brasileiro
Diploma de Empresário Colaborador do Exército Brasileiro
Rio de Janeiro, RJ - 19 de julho de 1988

1988 - Sociedade Amigos do Estudante do Estado de São Paulo
Casa do Estudante Harmonia
Diploma de Gratidão ao Incentivo Para a Educação
São Bernardo do Campo, SP - 23 de outubro de 1988

1989 - Sereníssima Grande Loja do Estado de São Paulo
Medalha de Mérito Maçônico da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo
São Paulo, SP - 01 de fevereiro de 1989

1994 - Ministério do Exército
Título Amigo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército Brasileiro
Guaratiba, RJ - 06 de agosto de 1994

1997 - Ministério da Aeronáutica
Diploma de Membro Honorário da Força Aérea Brasileira
São Paulo, SP - 22 de maio de 1997

1997 - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo
Prêmio Master da Engenharia do ABC
São Bernardo do Campo, SP - 14 de outubro de 1997

1998 - Fundação Antônio Prudente
Diploma de Honra ao Mérito
São Paulo, SP - 13 de abril de 1998

Alfredo Ferreira Lage

ALFREDO FERREIRA LAGE
(79 anos)
Advogado, Fotógrafo, Jornalista, Político e Benemérito

* Juiz de Fora, MG (10/01/1865)
Juiz de Fora, MG (27/01/1944)

Alfredo Ferreira Lage foi um advogado, fotógrafo e jornalista brasileiro, filho de Mariano Procópio Ferreira Lage e fundador do Museu Mariano Procópio.

Aos sete anos, com a morte do pai, foi morar na Europa, de onde voltou mais tarde para cursar a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Casou-se com a pintora espanhola Maria Pardos, e após a morte de sua mãe foi morar no Rio de Janeiro.

Alfredo investia grandes somas na aquisição de obras de arte, minerais preciosos e móveis raros, decorando a Villa Ferreira Lage que recebeu de herança em Juiz de Fora, MG, onde então firmou residência. Seu acervo cada vez maior, aumentado graças a leilões no Brasil e principalmente no exterior, obrigou-o a construir um anexo à Villa, que em 1915 já funcionava como museu.

Sem filhos, Alfredo começou a doar seus bens à cidade de Juiz de Fora, começando pelo parque que ficava em torno de sua residência, que teve os portões abertos ao público em 1934. No mesmo ano fez uma escritura de doação do Museu e de toda área em torno para o município no valor de três mil contos de réis (aproximadamente 150 milhões de dólares em valores atuais).

Preocupado com o destino do imóvel, Alfredo criou a Sociedade Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio, dirigindo a fundação e o próprio museu, uma de suas principais exigências ao finalmente completar a doação do prédio com uma escritura lavrada em 29 de fevereiro de 1936. Alfredo Só deixou a direção com sua morte em janeiro de 1944.

Homem de sólida base cultural, cosmopolita, participou de várias atividades nos campos das Artes, do Jornalismo e até da Política, tendo sido vereador no início do período republicano. Também foi presidente do Photo Club do Rio de Janeiro, dando continuidade à paixão de Mariano Procópio pela fotografia.

Villa Ferreira Lage - Museu Mariano Procópio
Museu Mariano Procópio

O Museu Mariano Procópio, localizado em Juiz de Fora, MG, é o primeiro museu surgido em Minas Gerais. Fundado em 1915 por Alfredo Ferreira Lage, abriga um dos principais acervos do país, com aproximadamente 50 mil peças.

Seu conjunto arquitetônico compreende dois edifícios: a Villa Ferreira Lage, construída entre 1856 e 1861, e o Prédio Mariano Procópio, inaugurado em 1922. Atualmente, ambos se encontram em reformas, estando fechados para visitação pública.

Além do conjunto histórico, conta com um acervo natural de grande importância ecológica, valorizando em seus jardins a exótica flora brasileira.

História

A história do museu está ligada ao surgimento da Estrada União e Indústria, que une Juiz de Fora, MG a Petrópolis, RJ. Mariano Procópio, engenheiro e responsável pela estrada, mandou construir a Villa Ferreira Lage para abrigar Dom Pedro II, que inauguraria a rota. Para a construção Mariano Procópio escolheu um terreno situado no coração da nova localidade que fizera surgir, defronte ao hotel que atenderia os usuários da União e Indústria. Como a construção não ficou pronta a tempo, ele teve de hospedar a família imperial em sua própria residência.

Somente em sua segunda visita à cidade em 1869 o imperador pôde conhecer a Villa Ferreira Lage.

Villa Ferreira Lage

Projetado e construído pelo alemão Carlos Augusto Gambs, chefe dos engenheiros e arquitetos da União e Indústria, o prédio é representante típico do estilo imponente que marcou as principais obras do final do século XIX. Implantado em platô alteado, foi edificado com tijolos maciços aparentes. A ornamentação foi feita a partir de tijolos com caneluras e arestas arredondadas, entre outros elementos. A vila conserva até hoje suas características originais, inclusive no interior, decorado com paredes revestidas de papel e pinturas, forro em estuque e lambris de madeira de lei decorados. Guarda também um importante acervo mobiliário.

Museu Mariano Procópio (2005)
O Museu

Com a morte de Mariano Procópio em 14 de fevereiro de 1872, o terreno foi herdado por seus dois filhos, Frederico e Alfredo Ferreira Lage. Na parte dedicada a si Frederico construiu um imenso palacete, com material todo proveniente da Europa. Após sua morte repentina aos 39 anos de idade em 1901, as dívidas provocadas pelas obras resultaram na venda do imóvel à Estrada de Ferro Central do Brasil, sendo posteriormente transferido para o Ministério da Guerra, que instalou no local a sede da Quarta Região Militar.

A vila e a parte superior do terreno foram herdadas por Alfredo, que revelou a intenção de abrigar ali um acervo que vinha colecionando desde a juventude. Com o aumento gradual de sua coleção, graças à aquisição de peças em leilões no Brasil e principalmente no exterior - além de doações de figuras importantes como Duque de Caxias, Afonso Arinos, Rodolfo Bernardelli e Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque, esposa do Visconde de Cavalcanti - Alfredo viu-se obrigado a ampliar o castelo original, iniciando a construção de um prédio anexo.

No dia 23 de junho de 1921, marcando o centenário do nascimento de Mariano Procópio, Alfredo Ferreira Lage inaugurou oficialmente o museu na Villa Ferreira Lage. Foi nessa ocasião que Alfredo revelou pela primeira vez sua intenção de repassar todo o acervo para o município.

Em 13 de maio de 1922 o Museu Mariano Procópio foi oficialmente aberto ao público, inaugurado com um acervo que ocupava tanto a Villa Ferreira Lage quanto o prédio anexo.


Parque Mariano Procópio

Em torno da Villa Ferreira Lage foi projetado um imenso jardim. Mariano Procópio reunira ali diversas árvores, arbustos e espécies vegetais brasileiras - muitas delas atualmente ameaçadas de extinção, como o Pinheiro do Paraná. Esta flora hoje centenária abriga uma variada fauna de pássaros, macacos e preguiças, e foi considerada pelo naturalista suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz como "O Paraíso dos Trópicos".

Do enorme terreno arborizado que englobava a área onde atualmente localiza-se a Quarta Região Militar e o bairro Vale do Ipê - a chamada "Chácara de Mariano Procópio" - restam cerca de 88,200 metros quadrados. Com um lago, bosque e espaço recreativo, o parque foi aberto à visitação pública gratuita em uma cerimônia em 31 de maio de 1934, quando teve início a transferência da área das mãos de seu proprietário, Alfredo Ferreira Lage, para o controle da prefeitura.

Entre aplausos, discursos e descerramento de placa, o evento serviu para que o município começasse a reconhecer os méritos daquele "ilustre e insigne amigo de Juiz de Fora", que, segundo o animado escrivão da ata da cerimônia, "vêm pugnando pela grandeza deste torrão".

A Doação

Sem filhos, Alfredo Ferreira Lage passou a doar seus bens a Juiz de Fora, começando em 1934 pelo Parque Mariano Procópio. No mesmo ano fez uma escritura de doação do Museu Mariano Procópio e de toda área em torno para o município no valor de três mil contos de réis (aproximadamente 150 milhões de dólares em valores atuais).

Preocupado com o destino do imóvel, Alfredo criou a Sociedade Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio, dirigindo a fundação e o próprio museu, uma de suas principais exigências ao finalmente completar a doação do prédio com uma escritura lavrada em 29 de fevereiro de 1936. A escritura incluía outras condições para a entrega, entre elas a proibição de alteração em sua finalidade cultural, a "proibição perpétua de serem retirados do museu os objetos artísticos, históricos e científicos a ele incorporados", a permanência "das denominações atuais dadas às salas do museu" e a perpetuidade da denominação "Mariano Procópio", homenagem de Alfredo a seu pai.

Ainda segundo as exigências da escritura, Alfredo exerceria enquanto quiser, o cargo de diretor, com dispensa de submeter suas contas ao exame do Conselho, e com direito de usufruto dos bens ora doados, para o fim de conservar a sua atual habitação no imóvel. Só mesmo sua morte em 1944 o afastou da direção da instituição que criara, mas já então o Museu Mariano Procópio era considerado um dos mais importantes do Brasil.

Em 1978 o município criou a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA) para administrar o museu de acordo com os termos de doação. A Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage exerceu a tarefa até 2005, ano em que foi criada a Fundação Museu Mariano Procópio (MAPRO).

Getulio Vargas e Alfredo Ferreira Lage
Acervo

As peças presentes no Museu Mariano Procópio refletem em quase toda sua totalidade as influências culturais do século XIX e princípio do século XX, seguindo principalmente o gosto de Alfredo Ferreira Lage. Trata-se de um dos principais acervos da período imperial brasileiro - em sua maior parte originário do Palácio São Cristóvão, antiga residência de Dom Pedro II no Rio de Janeiro.

O primeiro levantamento de suas peças foi feito em 1944. O próximo só seria realizado em 1981, ocasião aproveitada para a ampliação do espaço físico do museu e reforma de grande parte das obras. Muitos documentos então encontravam-se irrecuperáveis, destruídos pela ação de cupins e traças, reflexo da má conservação do local. Desde então o museu passou por várias reformas, na maioria das vezes devido a vazamentos e infiltração de água da chuva nas paredes e no teto.

Esculturas:

Ao adentrar no Museu já se tem a impressão do seu imponente acervo de esculturas, com estátuas que compõem o jardim, escadarias e a pérgula da Villa. Em seu interior encontram-se duas estatuetas de terracota "de Tanagra", cidade da Grécia antiga, além de moldes em gesso e bronze para várias estátuas, expostas no salão principal. Alfredo Ferreira Lage adquiriu grande parte desse acervo na Europa e também no Brasil, contando com obras de Antonin Mercié, Louis Barye, Claude Michel Clodion, Modestino Kanto, José Otávio Correia Lima e Rodolfo Bernadelli.

Quadros:

Casado com a pintora Maria Pardos, era natural que Alfredo Ferreira Lage se tornasse um grande apreciador e colecionador de quadros. A essência do acervo está no período entre 1870 e 1930, com um interesse particular pela arte européia e posteriormente brasileira, consequência do desenvolvimento das academias artísticas no país. Somando as várias doações, principalmente por parte da Viscondessa de Cavalcanti, a coleção de pinturas, gravuras e desenhos chega a um total de quase 2 mil obras.

Um dos maiores destaques é o quadro "Tiradentes Esquartejado", de autoria de Pedro Américo. Feito por encomenda, passou muitos anos na sala de reuniões da Câmara Municipal de Juiz de Fora, após o qual foi transferido para o museu. Também encontram-se expostas obras dos franceses Jean Honoré Fragonard e Charles-François Daubigny, e do holandês Willem Roelofs, premiado com a medalha de ouro na Exposição de Paris em 1888. Os brasileiros estão representados por Antônio Parreiras, Rodolfo Amoedo, Horácio Pinto da Hora e Henrique Bernadelli.

Para abrigar a coleção foi projetada no anexo à Villa Ferreira Lage, a Galeria Maria Amália, uma homenagem de Alfredo Ferreira Lage à sua mãe. Foi inaugurada em 13 de maio de 1922, e sua estrutura segue o modelo das principais galerias de arte do século XIX.

História Natural:

São duas salas dedicadas à paleontologia, geologia, zoologia e mineralogia. Foi a primeira coleção de Alfredo Ferreira Lage, consequência de sua viagem à Europa aos sete anos de idade. Embrionária, daria origem à paixão de seu dono pelas artes.

Fósseis, cristais e uma grande variedade de minerais podem ser vistos, além de insetos e animais selvagens empalhados, como uma onça pintada, um jacaré de papo amarelo e um lobo guará.

O setor foi inaugurado em 1931 e reúne 1279 minerais e fragmentos de rochas, 50 fósseis, 55 vidros de carpoteca (coleção de frutos secos e sementes), 527 exsicatas do herbário (folhas de plantas), 415 espécimes zoológicos e inúmeros insetos.

Armas e Indumentária:

A exposição de armas de fogo como o bacamarte e o revólver, e de armas brancas como a espada e o sabre ajudam a revelar parte da história da armaria no Brasil.

Entre as roupas presentes no acervo do museu destaca-se o Fardão da Maioridade, usado por Dom Pedro II em 18 de julho de 1841 na cerimônia em que foi considerado apto para assumir o Império do Brasil.

Jóias, Moedas e Medalhas:

A coleção numismática deve-se em grande parte às doações da Viscondessa de Cavalcanti, especialista no assunto. De sua coleção fazem parte raros exemplares de medalhas cunhadas na Europa referentes à episódios da história do Brasil, como a ocupação holandesa na Bahia (1624) e em Pernambuco (1631).

Destaque também para as medalhas, entre elas a Imperial Ordem do Cruzeiro, criada em 1822 na coroação de Dom Pedro I e a Ordem do Cruzeiro do Sul concedida a partir de 1932 em homenagem a civis, militares e estrangeiros.

Entre o acervo de jóias encontra-se um relógio de bolso presenteado a Dom Pedro II por suas irmãs Francisca e Januária em seu décimo aniversário, no dia 2 de dezembro de 1835.

Mobiliário:

Composto principalmente do chamado "mobiliário de estilo", imitações brasileiras das peças produzidas na Europa. É a atração principal do acervo da Villa Ferreira Lage, que procura conservar o ambiente familiar dos Ferreira Lage. Destaque especial para a sala de música, trabalhada em madeira. Originalmente construída na Inglaterra, foi transportada e montada no local.

Cristais, Louças e Porcelanas:

Esta coleção, espalhada por todo o prédio, tem como base as peças da Família Real adquiridas do Palácio de São Cristóvão, além de doações feitas por personagens marcantes da história social e política do Brasil.

Ainda assim o monograma imperial aparece em grande parte das peças - algumas exóticas, como uma sopeira do século XVIII que reproduz a cabeça de um javali.

Peças Sacras:

Representadas especialmente por objetos de ouro, prata, marfim e madeira nobre dos séculos XVIII e XIX, como castiçais, turíbulos e esmoleiros.

Reserva Técnica:

Esta seção abriga a maior parte do acervo do museu. Com condições especias de armazenamento - controle de iluminação, umidade e temperatura - realizadas depois de uma reforma em 1996, a reserva abriga as peças que requerem mais cuidados, consequentemente ficando fechada à visitação pública e disponível apenas para fins de pesquisa ou exposições temporárias.

Documentos:

Reunido basicamente em função de doações e aquisições de arquivos particulares e documentos avulsos, o acervo de documentos é composto por cartas, livros, revistas, jornais, mapas, fotografias e ofícios. Alguns desses papéis trazem relatos de importantes momentos históricos, como um livro revestido de ouro e prata exaltando os feitos do Duque de Caxias durante a Guerra do Paraguai e as cartas de Dom Pedro I enviadas à sua amante, a Marquesa de Santos.

São aproximadamente 10 mil documentos que, somados à coleção de mais de 18 mil fotografias, forma um importante e diversificado acervo cultural e histórico.

Sede da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA)
Administração

Conselho de Amigos:

Criada por Alfredo Ferreira Lage em 1936 após a doação do museu ao município de Juiz de Fora, o Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio foi dirigido por ele até 1944. Apesar da criação da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA) o Conselho de Amigos continuou a existir, atuando como órgão curador do patrimônio do museu.

Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage:

Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA), criada para promover a valorização cultural de Juiz de Fora, administrou o Museu Mariano Procópio de 1978 a 2005. Subordinada à prefeitura e integrada à Secretaria de Política Social, a gestão da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage ficou marcada por problemas estruturais.

Apesar de algumas reformas, a Villa Ferreira Lage e seu prédio anexo continuaram com um sistema elétrico e hidráulico arcaico, comprometendo a integridade do acervo ali reunido. Tanto no teto quanto nas paredes eram frequentes o vazamento e infiltração de água, culminando em 2003 com o desabamento de parte do forro do segundo andar do anexo, que encontra-se atualmente fechado ao público, negando aos visitantes o acesso às principais atrações do acervo.

Fundação Museu Mariano Procópio:

Surgida a partir de um projeto de lei de maio de 2001, a Fundação Museu Mariano Procópio (MAPRO) passou a exercer a administração em setembro de 2005, mesmo ano em que prefeitura de Juiz de Fora anunciou um projeto de revitalização do Museu Mariano Procópio.

A instituição continua integrada à Secretaria de Política Social mas agora conta com mais autonomia, tendo orçamento próprio e capacidade de receber investimentos externos.

Reforma

Em janeiro de 2008 parte do museu foi interditado para o início das obras de restauração no parque, o mesmo acontecendo posteriormente com as instalações. As obras dão continuidade ao processo de recuperação iniciado em 2005.

A primeira etapa, referente à reforma do parque, foi concluída e entregue em 15 de julho de 2008. As obras nos edifícios do museu, no entanto, foram interrompidas na mesma época e retomadas apenas no final de 2009, o que representou um atraso significativo na reabertura do museu ao público.

Fonte: Wikipédia

Olívia Penteado

OLÍVIA GUEDES PENTEADO
(62 anos)
Incentivadora do Modernismo e Protetora das Artes

* Campinas, SP (12/03/1872)
+ São Paulo, SP (09/06/1934)

Olívia Guedes Penteado foi uma grande incentivadora do modernismo no Brasil e amiga de artistas-chave do movimento, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Heitor Villa-Lobos. Era tia da mecenas Yolanda Penteado. Nasceu em Campinas, no Largo da Matriz Velha, em 12 de março de 1872. Era filha dos Barões de Pirapitingui, José Guedes de Souza, poderoso fazendeiro de café no município de Mogi-Mirim, e de Carolina Leopoldina de Almeida e Souza.

Genuinamente paulista, sua descendência teve origem em Fernão Dias Pais Leme por sucessão direta. A família liga-se também a Amador Bueno, a Tibiriçá, o grande cacique de Piratininga, e a João Ramalho.

Olívia Penteado passou a infância na propriedade paterna, na Fazenda da Barra, em Mogi-Mirim, tendo estudado em casa com professores particulares e, durante algum tempo, no Colégio Bojanas. Posteriormente, a família transferiu-se para São Paulo, passando a residir na rua Ipiranga, tornando-se o Barão de Pirapitingui grande proprietário e capitalista. Aos dezesseis anos casou-se com seu primo, Ignácio Penteado, do ramo dos Penteados de Campinas, que acabara de regressar da Europa, onde permanecera por vários anos em viagens de lazer e estudo.

Olívia Penteado ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo no dia 6 de maio de 1932, poucos dias antes de eclodir a Revolução Constitucionalista, tendo sido a décima mulher a tomar posse nessa entidade: "O Srº Presidente acentuou o brilho e imponência daquela noite, por motivo da posse de três ilustres representantes da intelectualidade feminina paulista - Olívia Guedes Penteado, Ana de Queiroz Teles Tibiriçá e Maria Xavier da Silveira".

Olívia Penteado em 1932

Preocupada com as condições das viúvas e órfãos de voluntários, Olívia Penteado trabalhou intensamente durante a Revolução de 1932, acompanhada por Carlota Pereira de Queiroz, que, graças a sua articulação e à de Pérola Byington, viria a ser a primeira deputada federal no Brasil. Prefeito de São Paulo durante esse período, seu genro, Godofredo da Silva Telles, assim se referiu à atuação de Olívia Penteado no período da Revolução Constitucionalista.

"Durante o movimento constitucionalista de 1932, a sua esclarecida vontade e a imperturbável serenidade de ânimo que era o traço mais forte de sua personalidade, desempenharam importante papel: ela colaborou ativamente no trabalho de todas as senhoras paulistas em prol da causa que São Paulo defendia. Não poupou esforços nem sacrifícios. Tomou parte em todas as iniciativas femininas tendentes a minorar o sofrimento dos que combatiam, socorrendo as famílias que aqui haviam ficado e animando com sua confiança aos combatentes que embarcavam para a frente de combate. Mais tarde, findo o movimento, quando todos os paulistas se uniram pelo bem de São Paulo, para sufragar nas urnas aqueles que deviam ser os portadores de seu pensamento e da sua vontade na Assembléia Constituinte, ela continuava, com a mesma serenidade, no seu novo posto de animadora cívica, trabalhando nas primeira linhas de Chapa Única. Mas a energia batalhadora do seu coração não ultrapassou a luta. Saiu dela sem ressentimentos nem ódio. Voltou a ser aquela que tinha sido a vida inteira, sorridente e acolhedora, esquecida dos adversários da época." 


Diz seu neto, Goffredo da Silva Telles Jr.:

"Aqui lembrarei apenas que os ideais aparentes do movimento empolgaram a população - e que Olívia Penteado se empenhou em servi-los, de corpo e alma. Durante todo o tempo da luta, que foi um tempo heróico, de sacrifícios e de privações, ela assumiu o cargo de Diretora do Departamento de Assistência Civil. Sem qualquer hesitação, doou jóias valiosas, na 'Campanha de Ouro Para o Brasil', destinada a reforçar os fundos necessários à manutenção das frentes de combate. Depois, no ano seguinte, nas eleições gerais de 1933, minha avó lançou e apadrinhou a candidatura de Carlota Pereira de Queiroz, médica, à Assembléia Nacional Constituinte e ao Congresso Nacional. Drª Carlota foi a primeira mulher a ser deputada federal no Brasil." 

Para que não se esqueça, parece-nos interessante reproduzir, aqui, parte da bela oração proferida por Olívia Guedes Penteado durante a Revolução Constitucionalista:

 "Às Mulheres Brasileiras

 (...) Não há terra como o nosso Brasil. Nós paulistas o sabemos. E, portanto, quando tomamos armas contra os opressores de nossa terra, sabemos e sentimos que não estamos dando combate a nossa pátria. Longe de nós ter qualquer rancor contra os nossos irmãos dos outros Estados. A luta que travamos é contra a opressão, contra o erro, contra o crime. (...) Quem se bate pelo regime da justiça, da liberdade e do direito, será sempre apontado na história da nossa terra, como o defensor da verdadeira, da suprema causa da nacionalidade. Esta causa - vós já sabeis - é a causa da Lei. Temos a certeza de que nossos filhos, que ora seguem frementes de entusiasmo sagrado, poderão em breve, ó brasileiras de todos os estados, abraçar os vossos filhos, que, também constitucionalistas, os esperam com a mesma vibração, a fim de que, juntos, irmãos e brasileiros, possam gritar a quarenta milhões de brasileiros - Tendes agora a Lei! Viva o Brasil!"

Escultura de Victor Brecheret "A Descida da Cruz" - Cemitério da Consolação,  rua 35, túmulo 1
A Morte de Olívia Penteado

Olívia Penteado faleceu no dia 9 de junho de 1934, vítima de apendicite, após um mês de penoso sofrimento. Foi assistida por sua amiga, Carlota Pereira de Queiroz, e por Aloysio de Castro, médico vindo especialmente do Rio de Janeiro para acompanhá-la, e que assim se expressou a respeito daquelas horas amargas:

"Há sempre no fim de uma grande vida um grande exemplo. Os que assistiram a Dona Olívia Penteado nas suas derradeiras horas, puderam contemplar, na fortaleza e na candura do seu ânimo, alguma coisa grandiosa, como quando a graça divina se reverbera na expressão humana."

Seu esquife foi carregado em mãos dos acompanhantes, que o levaram pelas ruas de São Paulo.

"Constitui uma tocante e expressiva consagração a homenagem que São Paulo prestou, na tarde de ante-hontem, à memória de Dona Olívia Guedes Penteado, por occasião de seu sepultamento."

(O Estado de São Paulo, 12 de junho de 1934, Falecimentos)

Recorda Goffredo da Silva Telles Jr.:

"Havia uma silenciosa multidão na nossa rua, diante de nossa casa. Quando saímos com o caixão e o entregamos aos bombeiros, para que eles o colocassem lá em cima, no carro, sentimos um movimento do povo, uma aproximação compacta de gente, em torno de nós. (...) E então vimos o total inesperado. O povo silenciosamente se assenhorou do esquife embandeirado. Homens desconhecidos, segurando as alças do féretro, puseram-se a caminho. E o levaram, na força de seus braços, pelas ruas de São Paulo, até a sepultura distante, no Cemitério da Consolação. A multidão anônima seguiu atrás. E dispersou ao fim do enterro. Que povo era aquele? Eu não sei; ninguém sabe, nem saberá jamais."


Foi sepultada no Cemitério da Consolação, na rua 35, túmulo 1, ao lado de seu marido. O túmulo é encimado por uma escultura de Victor Brecheret, "A Descida da Cruz", obra adquirida por ela em Paris, no Salão do Outono, em 1923. Logo após a sua morte, Guilherme de Almeida, na seção que mantinha em O Estado de São Paulo, fez-lhe uma bela e sentida homenagem:

"(...) Dona Olívia era o poema da vida. A idéia da vida, o ritmo da vida e a beleza da vida entrelaçavam-se, nela, tão essencialmente bem, que ela impunha a vida, como um poema impõe a verdade que defende, por menos verdadeira que seja essa verdade. (...) Ela apenas encontrou, no seu aparente desaparecimento, uma nova forma de viver..."

Assim a relembrou Maria de Lourdes Teixeira:

"Essa figura nobilíssima de mulher, bela, fidalga e ultracivilizada, ficará em nossa história literária e artística como uma das inteligências precursoras que emergiram da sociedade 'ancien régime' para a compreensão de um Brasil novo construído por uma mentalidade nova."

Olívia Penteado foi uma mulher excepcional, cujo talento e brilhante atuação se refletem em vários momentos da história da atuação cívica e cultural no Brasil. Seu estilo de vida, provocando encontros e desencontros, abriu um espaço verdadeiramente comum aos homens e às mulheres de seu tempo, fazendo com que a igualdade dos direitos humanos e das oportunidades, pelas quais lutava discretamente, passassem a eliminar a diferença das identidades que retardavam a emancipação feminina. Jamais será esquecida porque lutou contra os preconceitos do seu tempo.