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Geraldo Baeta da Cruz

GERALDO BAETA DA CRUZ
(28 anos)
Soldado, Enfermeiro e Herói Brasileiro

* João Ribeiro, MG (21/07/1916)
+ Montese, Itália (14/04/1945)

Geraldo Baeta da Cruz nasceu em 21/07/1916, na pequena cidade mineira de João Ribeiro. Era filho de Antônio José da Cruz e de Maria da Conceição da Cruz. Geraldo Baeta era enfermeiro cirúrgico, pertencente ao Destacamento de Saúde. Tinha a nobre missão de amparar aqueles que tombavam na área de sacrifício, prestando-lhes o apoio médico imediato.

Geraldo Baeta da Cruz, identidade militar n° IG-295.850, Classe 1916 - 11º Regimento de Infantaria, embarcou para além-mar em 22/09/1944 e faleceu em ação no dia 14/04/1945, em Montese, Itália. Foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia, na Quadra C, Fileira nº 4, Sepultura nº 47, Marca: lenho provisório.

Foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil de Combate de 2ª Classe. No decreto que lhe concedeu esta última condecoração, lê-se:

"Por uma ação de feito excepcional na Campanha da Itália"

11º Batalhão de Infantaria de Montanha na Segunda Guerra Mundial

A participação do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha na Segunda Guerra Mundial foi, sem dúvida, o capítulo mais importante em sua rica história.

Como destaque tem-se a conquista da localidade de Montese, situada em terreno montanhoso e fortemente defendida pelos alemães como último baluarte a barrar o avanço das tropas aliadas na direção do Vale do Pó.

No dia 14/04/1945, o maciço de Montese transformou-se no palco da mais árdua e sangrenta batalha das armas brasileiras na Itália, no dizer do próprio Comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Marechal Mascarenhas de Moraes. Tendo o Onze como esforço principal do ataque combatendo em densos campos de minas e sob o fogo cerrado das metralhadoras alemãs, o 11º RI consagrou-se para sempre ao conquistar heroicamente Montese.

A tenacidade, o ardor combativo e as qualidades morais e profissionais dos brasileiros foi demonstrando quando um pelotão do 11º RI foi o primeiro a entrar na cidade de Montese, avançando com raro espírito ofensivo, infiltrou-se nas linhas inimigas, penetrando no objetivo, sob os fogos da infantaria e artilharia do inimigo, transpondo caminhos desenfiados, neutralizando campos minados, assegurando, posteriormente, para a Divisão Brasileira, a posse definitiva dessa importante posição alemã dentro do contexto da guerra.

Foram três vidas que, por um acaso do destino, se cruzaram no dia 22/09/1944, a bordo do transporte norte americano Gen. M.L. Meigs rumo à distante Itália, onde já se encontrava o 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira.

Chegaram ao Porto de Nápoles, às 07:30 hs do dia 06/10/1944, de onde partiram, no dia 09, para o Porto de Livorno. Três dias depois estavam desembarcando e seguindo para a chamada "Staging Area", localizado a oeste da cidade de Pisa (Vila Rosare).

No dia 01/12/1944, o 11º RIE entrava em linha, sendo considerado em combate.

Foi então que chegou o dia 14/04/1945, dia do ataque a Montese, o combate que viria a ser, o mais sangrento que a Força Expedicionária Brasileira participaria. Dia inesquecível para muitos que ainda vivem. E lá estavam eles, Arlindo Lúcio, Geraldo Rodrigues e Geraldo Baêta. Três soldados do Brasil unidos pelo destino, três glórias nacionais, três que pareciam cem!

Durante o ataque a Montese, o pelotão, ao qual faziam parte, foi detido por violenta barragem de morteiros inimigos, enquanto uma metralhadora alemã hostilizava violentamente o seu flanco esquerdo, obrigando os atacantes a se manterem colados ao solo. Não tendo mais possibilidades de sair do local, nossos três heróis ficaram desgarrados de sua fração. Imediatamente, o Soldado Arlindo, atirador de fuzil automático, localizou a resistência inimiga e num gesto de grande bravura, levantou-se, e sobre ela despejou seis carregadores da sua arma, obrigando-a a calar-se.

Geraldo Rodrigues e Geraldo Baêta não pararam de atirar. Eram três pracinhas contra uma tropa de grande número. Tropa essa que pensava estar enfrentando uma outra de efetivo igual ou superior ao seu, pois os intrépidos brasileiros não paravam de atirar.

Atiraram até a munição acabar. Arlindo foi ferido mortalmente por um franco atirador inimigo, enquanto Geraldo Rodrigues foi atingido por um cruel estilhaço e Geraldo Baêta recebeu um tiro certeiro.

De repente, o silêncio se fez presente...

E sobre o solo lá estavam três corpos empunhando seus fuzis. Fuzis que estavam com as baionetas caladas, demonstrando que eles partiram para o assalto, mesmo sabendo que iam encontrar a morte.

Cova feita pelos Alemães onde os brasileiros foram sepultados.
O comandante alemão, observando os três corpos já sem vida, reconheceu neles o sacrifício. Nunca vira tamanha demonstração de coragem. Deixando seu orgulho prussiano de lado, mandou que seus homens cavassem três covas rasas e, pegando alguns pedaços de madeira, fez uma cruz e nela escreveu: "Drei Brasilianische Helden", que traduzindo significa "Três Heróis Brasileiros", um raro reconhecimento obtido do inimigo.

Arlindo, em sua última carta que escreveu na véspera de sua morte, dizia que em breve estaria de regresso para rever o seu querido Brasil, pois sentia próxima a vitória das armas da justiça e da liberdade.

Quem adentra nos dias atuais as instalações do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, o "Regimento de São João" e observa atentamente o pátio de formatura, encontrará no seu lado esquerdo, um monumento composto de 4 pedras, adormecidas sobre um belo e bem cuidado jardim, onde, ao seu lado, está um fuzil fincado ao solo com um capacete de aço, símbolo da morte que aconteceu em combate. O mais atento observará, ainda, que, nas três pedras frontais, em cada uma delas, está colocada uma placa com o nome de três soldados: Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Rodrigues de Souza e Geraldo Baeta da Cruz.


Nesta imagem, as três pedras que estão em primeiro plano trazem placas com o nome dos soldados, suas datas de nascimento e de morte. A rocha maior, ao fundo, abriga uma placa alusiva ao feito:

"Monumento consagrado à três soldados do 11 RI, que por motivos só conhecidos pelo inimigo, foram enterrados como heróis pelos próprios nazistas, a 14 de abril de 1945, em Montese"

Uma placa menor traz a inscrição em alemão e a tradução dela para o português. No conjunto há um fuzil com a ponta fincada no solo e um capacete depositado sobre a sua coronha. Este monumento é bem singelo porque procura reproduzir o sítio italiano onde foram encontrados os corpos dos três soldados.

Marçal de Souza

MARÇAL DE SOUZA
(62 anos)
Líder da Etnia Guarani-Nhandevá, Enfermeiro e Intérprete

* Ponta Porã, MS (24/12/1920)
+ Antônio João, MS (25/11/1983)

Marçal de Souza ou Marçal Tupã-I (Deus Pequeno), por muitos chamado de Marçal Guarani, foi um líder da etnia guarani-nhandevá (que habita o oeste do Brasil, nas fronteiras com Argentina, Bolívia e Paraguai), enfermeiro e intérprete da língua Guarani. Recentemente foi condecorado com a honra de Herói Nacional do Brasil pelo Governo Federal.

Marçal de Souza, foi defensor incansável dos povos nativos da América do Sul e um dos líderes precursores das lutas dos guaranis pela recuperação e pelo reconhecimento de seus territórios ancestrais, onde estão hoje Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, principalmente. Foi também um dos criadores do Movimento Indígena Brasileiro, tendo sido um dos fundadores e participado da primeira diretoria da União das Nações Indígenas (UNI), entidade que congrega indígenas brasileiros, fundada em 1980.

Aos 3 anos mudou-se para a aldeia de Te'ýikue, na cidade de Caarapó. Órfão aos 8 anos, passou a morar na Nhanderoga, nome dado a orfanatos de crianças indígenas, na Missão Caiuá, área indígena de Dourados. Aos 12 anos foi com um casal de missionários para Campo Grande. Conheceu um oficial do Exército que o levou para o Recife, onde realizou trabalho braçal em troca de comida, roupa e estudo.

De volta a Dourados, foi contratado pela Missão Caiuá como professor de crianças órfãs e intérprete de guarani. Em 1959 fez um curso na Organização Mundial de Saúde (OMS) e formou-se atendente de enfermagem, profissão que exerceu até sua morte em 1983.

Desde o início dos anos 70 denunciou a expropriação de terras indígenas, a exploração ilegal de madeira, a escravização de índios e o tráfico de meninas índias. Vítima de perseguições, em 1978 foi expulso de Dourados pela Funai e voltou a morar na aldeia Te'ýikue. Nesse ano, foi novamente transferido pela Funai, vai para a aldeia de Mbarakaju, em Antônio João.


Durante seu trajeto na luta em defesa das questões indígenas Marçal de Souza participou de diversos seminários, congressos e conferencias. Na luta por melhoria nas condições de vida de seu povo.

Em 1980, foi escolhido representante da comunidade indígena para discursar em homenagem ao papa João Paulo II em Manaus na primeira visita do papa ao Brasil. Ele afirmou em discurso ao pontífice. Em seu discurso falou sobre a invasão dos territórios indígenas, disse também, sobre os anseios da comunidade indígena brasileira e pediu para que o papa levasse seu clamor ao mundo:

"Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos… Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história".

Marçal de Souza participou do congresso nos Estados Unidos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do filme "Terra dos Índios".

Por sua rebeldia em denunciar e lutar pelos direitos de seu povo, ganhou diversos inimigos principalmente fazendeiros. No mesmo ano da visita do papa no Brasil, já transferido pela Funai, agora morando na aldeia Pirakuá no município de Antônio João, envolveu-se na luta pela posse de terras na área indígena de Pirakuá, em Bela Vista. A demarcação foi contestada pelo fazendeiro Astúrio Monteiro de Lima e seu filho Líbero Monteiro, que consideram a região parte de sua propriedade que era vizinha a dos índios.

Marçal de Souza foi vitima de perseguição por parte da Funai e ate mesmo por outras lideranças indígenas.

Morte

Após diversas ameaças e agressões, em 1983, Marçal de Souza foi brutalmente assassinado com 5 tiros no rancho de sua casa, na aldeia Campestre. Os acusados do crime, Líbero Monteiro de Lima e Rômulo Gamarra, acabam absolvidos em julgamento realizado somente dez anos depois, em 1993.

Marçal de Souza esta enterrado em Dourados, terra que viveu por bastante tempo e que deixou familiares, seu corpo esta sepultado no Cemitério Santo Antônio de Pádua. A luta de Marçal de Souza alarmou e acendeu a importante valorização e preservação dos povos indígenas.

Marçal de Souza foi um dos vários lideres assassinados na luta pela terra. Pessoa lembrada por Darcy Ribeiro em diversas escritas, foi também membro da igreja presbiteriana, enfermeiro, aculturado, interprete da língua guarani, conhecedor de diversas línguas estrangeiras.

Marçal de Souza já previa seu fim, Um pouco antes da sua morte ele teria dito: "Sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre...".

Ana Néri

ANA JUSTINA FERREIRA NÉRI
(65 anos)
Enfermeira, Heroina e Patrona da Enfermagem

* Cachoeira, BA (13/12/1814)
+ Rio de Janeiro, RJ (20/05/1880)

Ana Néri foi uma enfermeira brasileira e foi a pioneira brasileira da enfermagem.

Era filha de José Ferreira de Jesus e de Luísa Maria das Virgens. Casou-se com capitão-de-fragata Isidoro Antônio Néri. O marido morreu em 1843, deixando-a com três filhos: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Néri Filho. Dois filhos eram oficiais do Exército.

Tempos de Guerra

Em 1865, o Brasil formava a Tríplice Aliança com a Argentina e o Uruguai. Quando estourou a Guerra do Paraguai, os filhos de Ana Néri foram convocados, assim como dois de seus irmãos. Um sobrinho ofereceu-se como voluntário e também seguiu como soldado. Ver seus parentes indo à luta armada mexeu muito com a matriarca de 51 anos de idade. Tocada, escreveu ao presidente da província, cargo equivalente ao de governador nos dias de hoje. Requeria um posto na guerra como voluntária, alegando querer ficar perto dos filhos e atenuar o sofrimento dos combatentes como enfermeira, trabalho que dominava com muita propriedade. Aprendeu em um hospital local o ofício da enfermagem, ajudando sempre que podia, com muita presteza, em uma época em que não existiam cursos de formação para enfermeiros no país.

Entretanto, Ana Néri não esperou a resposta do presidente baiano. Viajou para o Rio Grande do Sul, principal base brasileira para os militares que seguiam para o front e tornava-se a primeira mulher brasileira a exercer a profissão oficialmente. Ajudava-lhe muito seus amplos conhecimentos de fitoterapia, a arte de utilizar matérias-primas naturais para fins medicinais.

Na frente de batalha, Ana Néri demonstrou muita garra, coragem e amor ao próximo, ajudando muitos feridos. Vários puderam voltar para suas famílias por terem sido prontamente tratados pela enfermeira. Seus conhecimentos sobre cauterização pouparam muitos combatentes que poderiam sucumbir a ferimentos.

Sem Olhar a Quem

Ficou no front por quase 5 anos, tornando-se famosa por onde passava por causa de sua tenacidade, compaixão e competência. Ver tantas mortes de ambos os lados não a fez parar, embora ela tenha perdido um filho e um sobrinho nos combates. As mortes dos paraguaios aumentavam aos montes, massacrados pelo exército da Aliança em um dos episódios mais sangrentos e vergonhosos da história sul-americana. Seu dever se sobrepunha inclusive ao patriotismo: tratava com a mesma compaixão soldados paraguaios que encontrava feridos, inclusive os torturados, o que não era muito bem visto por alguns militares brasileiros (ajudava-a o fato de seus dois irmãos serem oficiais de alta patente). Mesmo assim, arriscava-se e exercia sua função sem olhar a quem beneficiava. Salvou muitas vidas de soldados e civis dos quatro países que participavam do embate, incluindo crianças do lado paraguaio "convocadas" para guerrear, e muitos foram os menores mutilados e mortos na carnificina.

Assunção, capital do Paraguai, foi sitiada pelo Brasil. Usando recursos financeiros próprios, oriundos de herança familiar, Ana Néri montou uma enfermaria-modelo no local. Em meio a muito trabalho, a brasileira adotou três crianças - filhos de pais desaparecidos em combate. No fim da guerra, levou-os com ela para o Brasil. Recebeu do imperador Dom Pedro II uma medalha e uma pensão vitalícia para cuidar dos novos filhos.

Mas a homenagem não foi dada somente pela corte. O povo da capital brasileira, então o Rio de Janeiro, a recebeu com uma calorosa festa nas ruas. Foi acolhida com uma chuva de pétalas de rosas. Uma numerosa caravana de baianos seguiu para a corte para a recepção. Na Bahia, em 1870, recebeu condecorações da província e ocupou lugar de honra na Câmara Municipal de Salvador.


O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.  Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício do Paço Municipal.

O médico Carlos Chagas, então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, homenageou-a, colocando o nome da valorosa combatente na primeira escola de enfermagem do Brasil, que primava pela qualidade. A antes chamada Rua da Matriz, onde a enfermeira nasceu, foi renomeada Rua Ana Néri.

Em 20 de maio de 1880, Ana Néri morre aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Foi sepultada com muitas honras por parte das autoridades e do povo.

Em 1938, Getúlio Vargas, assinou o Decreto n.º 2.956, que instituía o Dia do Enfermeiro, a ser celebrado a 12 de maio, devendo nesta data ser prestadas homenagens especiais à memória de Anna Nery, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do país. 

Em 2009, por intermédio da Lei n.º 12.105, de 2 de dezembro de 2009, Anna Justina Ferreira Nery entrou para o Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Major Elza

ELZA CANSANÇÃO MEDEIROS
(88 anos)
Militar

* Rio de Janeiro, RJ (21/10/1921)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/12/2009)

Major Elza era filha do médico sanitarista Tadeu de Araújo Medeiros, amigo de Alberto Santos Dumont e auxiliar direto de Oswaldo Cruz na campanha contra a febre amarela.

Com os pais, alagoanos aprendeu a atirar ainda na adolescência. Com as governantas alemãs que serviram a sua família na Copacabana da década de 30, aprendeu música e idiomas. Foi à primeira brasileira a se apresentar como voluntária, na Diretoria de Saúde do Exército, para lutar na Segunda Guerra Mundial, aos 19 anos de idade. Embora sonhasse em lutar na linha de frente, teve que se conformar em seguir como uma das 73 enfermeiras no Destacamento Precursor de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, uma vez que o Exército Brasileiro, à época, não aceitava mulheres combatentes.

Com a criação do Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército pelo Decreto nº 6097 de 13/12/1943 e dado o pequeno número de enfermeiras profissionais existentes, foram aprovadas as instruções para o Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE), do qual participou, na sua primeira turma, em 1944.

A instrução ministrada pelo Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército, na cidade do Rio de Janeiro, ocorria em três turnos ao longo do dia: logo cedo pela manhã, no Hospital Central do Exército, havia a prática hospitalar. A partir da 13 horas, instrução teórica no Quartel General do Exército e das 15 horas em diante, ordem unida, no Colégio Militar. Nos outros dias da semana, ocorriam os treinamentos de educação física na fortaleza de São João na Urca e de natação, na Tijuca.

A 25/03/1944, o Boletim Interno nº 70 publicava a relação da classificação intelectual da primeira turma de enfermeiras formadas pelo Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército. Foram três as primeiras colocadas no curso, todas com o grau de 9,5: Maria do Carmo Correa e Castro, Berta Moraes e Elza Cansanção Medeiros. Elza, por ser a mais nova dentre as três ficou em terceiro lugar na classificação final de curso. Coube a ela, porém, a honra de ser a oradora da turma e mais tarde, quando do envio das tropas brasileiras à Itália, foi ela a primeira convidada para integrar o Destacamento Precursor de Saúde que seguiu para aquele país, em 09/07/1944.

Concluído o Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército, as ex-alunas foram nomeadas Enfermeiras de 3º classe. Elza, e mais quatro colegas concluintes do curso foram integradas, em 22/04/1944, ao Destacamento Precursor de Saúde que tinha por missão embarcar a 08 de julho com destino à Nápoles, e lá chegando - o que ocorreu a 15 de julho - recepcionar os cinco mil brasileiros do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira bordo do navio General Mann.

Mas na mesma noite de sua chegada à Nápoles, Elza havia sido informada que os alemães estavam cientes da movimentação brasileira e de que haviam prometido uma festa de boas vindas para a tropa que deveria chegar no dia seguinte. A noite inteira foi feita uma barragem de artilharia antiaérea. O espetáculo era muito bonito, uma vez que os disparos das antiaéreas eram com balas traçantes verde e vermelho.

"Depois de apreciar o espetáculo por algum tempo, resolvi ir deitar-me . Para abafar o barulho da artilharia, coloquei sobre a cabeça o travesseiro e dormi."

Na manhã do dia 16 de julho, deu-se o batismo de fogo da enfermeira Elza. Designada para a seção hospitalar brasileira do 45th Field Hospital, Elza foi incumbida de receber cerca de 300 brasileiros que chegaram baixados do General Mann e que para aquele hospital haviam sido encaminhados. Distribuídos nas várias enfermarias que compunham o 45th Hospital, os pracinhas ficaram também sob os cuidados das enfermeiras e dos médicos norte-americanos. Dado que os brasileiros e os norte-americanos não compreendiam o idioma um do outro, a enfermeira Elza foi também intérprete, tendo seu nome bradado pelos alto-falantes do hospital inúmeras vezes:

"Miss Medeiros, please, ward 5th! Miss Medeiros, Ward 9th!"

De volta ao Brasil, passou os dois anos seguintes viajando e, em 1947, ingressou, por concurso público, no serviço médico do Banco do Brasil, cargo que ocupou nos doze anos seguintes, período o qual se graduou jornalista, recebeu sua carta patente de 2º Tenente, além de vários elogios e medalhas pelo seus serviços de campanha, das quais a de Guerra, a de Bronze, a da Cruz Vermelha Brasileira e a de Santos Dumont. Publicou também seu primeiro livro sobre a odisséia da Força Expedicionária Brasileira nos campos da Itália: "Nas Barbas do Tedesco" (1955).

Por força da lei nº 3160, de 01/06/1957, as enfermeiras voluntárias da Força Expedicionária Brasileira que desejassem poderiam requerer sua reversão ao serviço ativo, no Serviço de Saúde do Exército, no posto de 2º Tenente. Elza, por ocasião da lei é convocada e, a 19/09/1957, reingressa no Exército, ficando adida à Diretoria Geral de Saúde.

De 1957 a 1962 serviu em várias unidades, foi condecorada pelo governo do Paraguai com a medalha Abnegacion y Constancia Honor al Merito, apresentou trabalhos em congressos de Medicina Militar e de Enfermagem e proferiu palestras às turmas de formação da Escola de Saúde do Exército. Em todas as atividades que participou destacou-se pelo profissionalismo e recebeu inúmeros elogios. Como resultado, a 21/09/1962, o Ministro da Guerra resolveu promovê-la ao posto de 1º Tenente Enfermeira, a contar de 25 de agosto daquele ano.

De 1963 a 1965 ficou agregada, a fim de reassumir suas funções no Banco do Brasil. Em janeiro de 1965 passou a disposição do Serviço Nacional de Informações lá permanecendo até junho de 1966. Reverteu uma vez mais ao serviço ativo do Exército em 22/11/1965. A 24 de outubro deste ano foi agraciada com a Medalha do Pacificador. Serviu na Policlínica Central do Exército e na Clínica de Cardiologia. Continuou a proferir palestras na Escola de Saúde e a receber elogios de todos que lhe privam da vida profissional.

Por força do agravamento de seu estado de saúde e de um diagnóstico confirmado de espondilo artrose anquilisante - moléstia adquirida em zona de combate - a 12/04/1976, aos 54 anos, a 1º Tenente Enfermeira Elza foi reformada dois postos acima na hierarquia militar, como Major. Atualmente, neste posto, foi reconhecida como a Decana das mulheres militares do Brasil.

Além de brilhante carreira militar, formou-se em Jornalismo, História das Américas, Psicologia, Parapsicologia, Turismo e Relações Humanas. Com conhecimentos de mecânica, escultura, pintura e tapeçaria, deu a volta ao mundo duas vezes, esteve na Antártida, aprendeu a pilotar ultraleves aos sessenta anos de idade.

Fundou e dirigiu duas revistas e assinou várias colunas em jornais do Rio de Janeiro e de Recife, tendo escrito três livros sobre a sua participação na Segunda Guerra. Apresentou ainda inúmeros trabalhos em congressos de medicina militar, com especial destaque para as Sugestões para a criação de um Corpo Auxiliar Feminino para as Forças Armadas, base para a abertura das Forças Armadas do Brasil à participação das mulheres.

Membro da Academia Alagoana de Cultura, atualmente, dedicava-se à preservação da memória fotográfica da Força Expedicionária Brasileira. Major Elza é detentora de 36 condecorações militares e paramilitares, destacando-se a:

  • Ordem do Mérito Militar - Nos graus de Cavaleiro e Oficial;
  • Medalha de Campanha da Força Expedicionária Brasileira;
  • Medalha do Mérito Tamandaré;
  • Meritorius Service United Plaque (Exército dos Estados Unidos);
  • Medalha de Guerra;
  • Medalha do Soldado Polonês Livre;
  • Medalha Ancien Combatant du Tatre du Operacion du L’Orope - França (única mulher a ser agraciada).

Major Elza faleceu vitima de complicações após uma queda em que o fêmur foi fraturado. O corpo da Major Elza foi cremado após o velório que aconteceu no salão nobre do Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

Fonte: Rota Aérea