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Moa do Katendê

ROMUALDO ROSÁRIO DA COSTA
(63 anos)
Compositor, Percussionista, Artesão, Dançarino, Professor e Mestre de Capoeira

☼ Salvador, BA (29/10/1954)
┼ Salvador, BA (07/10/2018)

Romualdo Rosário da Costa, mais conhecido por Mestre Moa do Katendê, foi um compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira brasileiro, nascido em Salvador, BA, no dia 29/10/1954.

Moa do Katendê era um artista ligado às tradições afro-baianas. Descobriu suas raízes aos 8 anos de idade no Ilê Axé Omin Bain, terreiro de sua tia e incentivadora, onde começou a praticar capoeira.

Em 1977, consagrou-se campeão do Festival da Canção Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil.

Em maio de 1978 fundou o afoxé Badauê, que desfilou pela primeira vez no ano seguinte e tornou-se campeão do carnaval na categoria de afoxé.

Em 1995, com a união de colegas e admiradores da cultura afro-brasileira, surgiu o grupo de afoxé Amigos de Katendê, que neste mesmo ano participou do carnaval em São Paulo na Cohab José Bonifácio.

Em 1996, o grupo viajou a Salvador reintegrando os componentes do Badauê e outros afoxés e desfilou no carnaval, estabelecendo assim um intercâmbio entre Bahia e São Paulo.

Atualmente Mestre Moa do Katendê vinha ministrando oficinas de afoxé na Bahia, Sudeste, Sul do Brasil, Europa e era o coordenador geral do afoxé Amigos de Katendê.


Mestre Moa do Katendê falava sobre a re-africanização da juventude da Bahia e do processo batizado por Antônio Risério de re-africanização do carnaval na Bahia, e atribuía este processo a própria dinâmica interna da vida baiana.

Extrapolando os limites de uma mera participação no carnaval, os blocos afro ocuparam física e culturalmente espaços da cidade. Alguns, antes estigmatizados por serem "lugar de preto", outros, hegemonizados desde sempre pelas elites.

Assim como o surgimento do Trio Elétrico, em 1950, veio revolucionar e particularizar o carnaval da Bahia, o processo de re-africanização, especialmente com a entrada em cena dos blocos afro, precipitando a reação africanizante e explicitando marcadamente um caráter étnico, hegemonizaram do ponto de vista estético, musical e gestual, transformaram radicalmente a trama carnavalesca baiana.

As pessoas que criaram as novas entidades afro-carnavalescas da Bahia assumiram e explicitaram a matriz negra da cultura baiana numa dimensão nunca antes registrada, como é o caso, por exemplo, do próprio Moa do Katendê, fundador do Afoxé Badauê, onde vemos a importância assumida pelos cantores na expressão de valores afros entre a comunidade negro-mestiça de Salvador, a consciência da africanidade e da nova poesia afro-baiana, baseada em reminiscências e jogando com a sonoridade das palavras africanas, extraídas do vocabulário dos candomblés, textos da autoria de Paulinho Camafeu, Moa do Catendê, Caetano Veloso, Antônio Risério, Heron, Curimã, Moraes Moreira, Gilberto Gil, Ivo do Ilê, Milton de Jesus, Charles Negrita, Chico Evangelista, Jorge Alfredo, Ana Cruz, Cebolinha, Alírio do Olodum, Lazinho Boquinha, Jailton, Egídio e Buziga.

Morte

Dois homens, uma divergência política, 12 facadas. Parece uma sequência sem lógica, e é. Mas foi ela que acabou com a vida do Mestre Moa do Katendê, aos 63 anos, em Salvador, BA, no dia 07/10/2018.

Na versão do irmão de Moa do Katendê, o alfaiate Reginaldo Rosário da Costa, de 68 anos, às 22h15 do domingo, primeiro turno das eleições no Brasil, após a definição de que Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) se enfrentariam no segundo turno, ele e Mestre Moa do Katendê chegaram ao Bar do João, reduto que frequentavam há muitos anos, localizado bem de frente para o Dique do Tororó, ponto turístico na região central de Salvador.

Ali, a cerca de 500 metros de onde a família morou a vida inteira, começam a tomar cerveja e conversar sobre os resultados do pleito eleitoral. Ambos haviam votado no candidato do PT.

Às 22h25, Germínio do Amor Divino Pereira, de 51 anos, primo da dupla, passa na porta do bar, vê Moa do Katendê e Reginaldo e se junta a eles, de acordo com Reginaldo.

Passados mais 10 minutos, segundo a mesma versão, quem entra no bar é o barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, que ainda não sabe, mas dali a pouco tempo vai matar o Mestre Moa do Katendê.


Abatido e sem força na voz, o alfaiate Reginaldo disse que, de repente, Paulo Sérgio se intrometeu na conversa da família, dizendo que o país precisava de mudança e quem tinha que ganhar a eleição era Bolsonaro

Eu respondi a ele: "Rapaz, você é novo, ainda não sabe nada da vida".

Ele aí já veio com grosseria e Moa se meteu, também dizendo que ele não sabia pelo que já passamos. Disse assim: "Você não sabe o quanto sofri pra ter liberdade".

Eles ficaram discutindo e até João (dono do bar) falou pro cara: "Rapaz, olhe com quem você tá discutindo, com um senhor!".

Aí ele se afastou, pagou a conta e foi embora -, relatou Reginaldo

O irmão de Moa do Katendê afirmou que, cinco minutos após deixar o bar, Paulo Sérgio surgiu repentinamente, atacando seu irmão por trás a facadas.
"Eu só vi o vulto. Ele veio do nada e passou junto de mim já dando facada. Germínio tentou defender, mas não adiantou. Como é que o cara dá 12 facadas assim em meu irmão? Chegou na covardia. Foi uma discussão de política e pronto. Se fosse coisa séria, a gente ia ficar lá sentado bebendo?"
(Indagou Reginaldo, como quem questiona a si mesmo)


Ele disse que, com o corpo de Moa do Katendê já no chão, Paulo Sérgio ameaçou golpear quem estava em volta - quatro outros clientes -, abriu caminho e fugiu.

Acionada, a Polícia Militar encontrou o assassino minutos depois, escondido na casa onde morava há dois meses com a mulher e dois filhos, a 100 metros do local do crime.
"Os policiais da 26ª Companhia Independente de Polícia Militar avistaram um rastro de sangue que levava até uma casa e prenderam em flagrante o homicida. Ele já estava com uma mochila com roupas no intuito de fugir!"
Golpeado no braço, Germínio, primo de Mestre Moa do Katendê, foi hospitalizado, mas sem risco de morte.

À 0h38 da segunda-feira, 08/10/2018, quando Paulo Sérgio já estava dentro do camburão da PM, tocou o celular de Somonair da Costa, de 35 anos. A filha de Moa do Katendê, dormia sem saber que o pai fora morto perto de sua casa.
"Tomei aquele susto quando o celular tocou e já acordei me tremendo, porque perdi minha mãe há um mês de enfarto. Era uma amiga com essa notícia. Bateu o desespero, acordei meu irmão, a gente saiu correndo. Quando cheguei, só vi meu pai lavado de sangue. Não dá nem pra acreditar nisso!"
Versões

Responsável pelo caso, a delegada Milena Calmon, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), descreve Paulo Sérgio como agressivo e diz que ele cai em contradição em suas versões. À polícia, o barbeiro já havia reconhecido a discussão por divergência política, o que foi confirmado por testemunhas já ouvidas.

"Foi mesmo uma discussão por causa de política, até a vítima sobrevivente já confirmou. O autor do crime estava defendendo Bolsonaro e a vítima, do lado do PT. De acordo com as testemunhas, houve ofensas verbais de lado a lado. O autor então foi em casa, pegou a faca, voltou e fez o que fez", afirmou a delegada.

Mas, na delegacia, Paulo Sergio, um homem corpulento de 1,80 m que contou ter começado a beber na tarde do domingo, negou a discussão política e alegou, falando a jornalistas, que estava apenas conversando "sobre futebol" com o dono do bar.

"Ele que levantou e começou a me chamar de preto e veadinho. Eu bebendo, fiquei exaltado, fui em casa e aconteceu o fato", disse ele, que a até a noite de terça-feira não tinha advogado constituído.

Segundo a delegada, Paulo Sérgio já tinha dois registros de passagens pela polícia. Um em 2009, por se envolver em uma briga, e outro em 2014, quando foi denunciado por um adolescente de 14 anos em situação de rua, que informou ter sido ameaçado pelo barbeiro com uma tesoura, depois de pedir R$ 0,50.

"Como é que meu irmão ia chamar ele de preto e veadinho? Um homem com a história de Moa, de tanta luta pela cultura negra. Isso é uma grande mentira", disse Reginaldo.

No seu ateliê, onde as máquinas de costura estão paradas desde domingo, ficaram as batas estampadas que Moa do Katendê levaria nesta quarta-feira para um evento em São Paulo.

"Tudo aqui pronto pra meu pai viajar pra mais um trabalho. A ficha ainda nem caiu, parece que ele vai chegar pra pegar o material. Meu pai era uma pessoa de paz", disse Somonair em meio às peças de roupa.

Fonte: WikipédiaCongo de Ouro e BBC News
#FamososQuePartiram #MoadoKatende 

Valentin Tramontina

VALENTIN TRAMONTINA
(46 anos)
Ferreiro, Artesão e Empresário

☼ Santa Bárbara, RS (17/07/1893)
┼ (1939)

Valentin Tramontina foi um ferreiro e empresário, fundador da indústria metalúrgica Tramontina, nascido em Santa Bárbara, RS, no dia 17/07/1893. Valentin Tramontina era filho de imigrantes italianos da aldeia de Poffabro, município de de Frisanco, na região do Friuli-Venezia Giulia, nordeste da Itália.

Um homem, de mãos vazias, diante de uma gleba de terra coberta de matas, tendo como únicas armas e instrumentos seus sonhos e utopias de moradia e mesa farta rodeado de filhos. É o retrato do imigrante italiano que iniciava sua caminhada no Rio Grande do Sul, a partir de 20/05/1875.

Terra e mata, algum instrumento de trabalho, foi o início do barraco provisório, do esquartejo do pinheiro, da derrubada da mata, da construção da casa definitiva, dos cercados, galpões e as plantações.

Para o imigrante que deixou a Itália no final do século 19, o principal anseio era a propriedade da terra. O contato com a Revolução Industrial ocorrido na Europa foi de grande valia para o colono italiano. O trabalho na fábrica, ainda que temporário, o familiarizou com o novo modo de produzir. Algumas máquinas, fruto da revolução industrial, foram trazidas pelos imigrantes. Saber como as máquinas eram produzidas era um atalho para a produção de novas ferramentas e artefatos. Tudo o que escrevemos até agora é para dizer que a família Tramontina tinha em seu sangue o destemor da maioria dos imigrantes que aportaram nessa região inóspita e íngreme do Estado mais meridional do Brasil.

Ao chegar na região colonial do Rio Grande do Sul, o imigrante trazia o conhecimento de algumas atividades e as pré-condições para a produção de outras. Eram extremamente engenhosas.

Um córrego, a ser canalizado, em todo ou em parte, foi a grande engenhosidade dos imigrantes. A roda d'água foi o embrião da metalurgia da região.

Valentin Tramontina, em 1911, montou sua ferraria na então vila de Carlos Barbosa. A família de Valentin Tramontina morava em Santa Bárbara, localidade pertencente ao município de Bento Gonçalves, atualmente fazendo parte do município de Monte Belo do Sul, e lá eram feitos pequenos consertos, fabricação de ferraduras, além de ferrar cavalos. O início da hoje exuberante Cutelaria ocorreu em seguida, quando Valentin Tramontina passou a fazer canivetes depois de ter visto um que veio da Itália.

Valentin Tramontina veio a Carlos Barbosa porque a chegada da ferrovia significava perspectiva de expansão. Até 1930, a produção da ferraria era modesta. Valentin Tramontina prestava serviços a empresas, entre elas Arthur Renner, proprietário de uma refinaria de banha, onde eram abatidos mais de 150 suínos por dia. Fazia consertos nas empresas e fabricava facas e canivetes. Podia ser considerado um ferreiro urbano.

Em 1919 prestou serviço militar no Tiro de Guerra 395, mesmo ano em que comprou um terreno de 300m² na Rua Amapá, construindo um prédio de madeira para abrigar a ferraria.

Em 1920 Valentin Tramontina e Elisa De Cecco se casaram e somaram forças para, juntos, trilharem prósperos caminhos. O casal teve três filhos, IvoHenrique e Nilo.

Em 1924, a empresa de Arthur Renner se transfere para Montenegro.

A partir de então, ocorrem algumas mudanças na linha de produção. O tradicional cabo de madeira das facas e canivetes é substituído pelo cabo de chifre, e vários modelos são lançados, entre eles um denominado "Santa Bárbara".

Em 1932, Valentin Tramontina agrega os primeiros colaboradores. São pessoas que residem na vila, trabalham na agricultura em tempo parcial e começam a fazer facas e canivetes nos porões de suas casas.

Elisa Secco Tramontina
Valentin Tramontina faleceu aos 46 anos de idade, no ano de 1939. A partir daí, assume a ferraria, Elisa Tramontina, esposa de Valentin, que despontou como uma empreendedora nata e arrojada. Ela é quem embarcou no trem da estação da vila de Carlos Barbosa e foi vender a produção nos mercados regionais e na capital do Estado.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), caso não existisse a determinação e a coragem de Elisa Tramontina, a ferraria teria sucumbido.

Em 1944, a empresa compra a sua primeira prensa excêntrica. Antes, todas as lâminas eram cortadas manualmente com o auxílio de talhadeiras. Depois passaram a ser cortadas com o uso de estampos.

O ano de 1949 pode ser considerado um marco na história do Grupo. Trata-se da data em que Ruy José Scomazzon, um jovem de apenas 20 anos, amigo de Ivo Tramontina, cursando a Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, começa a prestar assessoria à Tramontina.

Ruy, com espírito de liderança, implantou planos ambiciosos, enfatizando a organização em todos os setores. Inaugurou-se uma nova etapa. O caráter artesanal dá lugar a uma produção manufatureira. Na década de 50, a empresa contava com 30 empregados e alguns representantes comissionados espalhados pelo Estado.

Os canivetes representavam 90% do faturamento. Vem da Itália a tradição de ter no bolso um canivete, cuja denominação é "brítola". Trata-se de um canivete com formato de pequena foice utilizado principalmente na poda da parreira, para cortar vime. A Tramontina sempre se destacou na fabricação deste canivete.

Em 1954, organiza-se a empresa V.a. Valentin Tramontina & Cia. Ltda., sendo sócios, Elisa Tramontina, Ivo TramontinaRuy José Scomazzon. No ano seguinte tem início a laminação do aço. Antes o aço era obtido forjando-se pedaço por pedaço, em um malho. A laminação abriu imensas possibilidades de crescimento.

A empresa se capitalizou rapidamente, com inovações tecnológicas: laminadores, marteletes, máquinas de esmerilhar e forjar, que dinamizam a produção em série.

Com a presença do governador Ildo Meneghetti, em dezembro de 1956, foi inaugurada a ampliação das instalações da empresa e o novo escritório. Intensificou-se a produção de facas e ferramentas agrícolas.

O ano de 1958 marcou a fundação da Metalúrgica Forjasul, em Porto Alegre, e posteriormente transferida para Canoas.

Em 1961 faleceu Elisa Tramontina.

As décadas de 60 e 70 são marcadas pela instalação de empresas do Grupo em Garibaldi, Farroupilha e na Bahia, e também pela admissão de novos empregados. Houve um salto gigantesco. Dos 30 empregados existentes em 1950, a empresa passou a ter em seu quadro 557 funcionários no final dos anos 60.

Nestes anos, a linha de produtos ganhou inúmeros itens como facas (cozinha, profissional, esportiva), canivetes, tesouras, espetos, talheres, utensílios de cozinha e panelas, formas e travessas antiaderentes de alumínio; materiais elétricos como interruptores e tomadas, além de uma vasta linha de ferramentas como martelos, chaves de boca, chaves de fenda, alicates, formões, plainas, serras, serrotes, entre outras.

A década de 80 foi de um enorme crescimento para empresa, tanto no mercado interno como externo, onde em 1986 inaugurou uma subsidiária na cidade de Houston no Texas, Estados Unidos. Nos anos seguintes a Tramontina se tornou definitivamente um gigante em seu setor, ampliando ainda mais sua linha de produtos e ingressando em muitos mercados mundiais como a Alemanha (1993), Chile (2000), Dubai (2004) e Peru (2005).

Neste novo milênio a Tramontina também decidiu que tinha chegado a hora de ir além da cozinha. A ordem partiu de Clóvis Tramontina, neto de Valentim Tramontina e principal responsável pelas maiores mudanças da empresa nos últimos anos. A grande tacada do empresário foi aproveitar uma simples fábrica de cabos de madeira que revestem talheres para ingressar no mercado de móveis. Cadeiras e mesas com a marca Tramontina começaram a aparecer nas lojas. O mesmo aconteceu com a unidade que fazia cabos de plástico: Foi ampliada para fabricar móveis para piscina.

Em 2007, a Tramontina, líder nacional nos segmentos de panelas, talheres e ferramentas, decidiu combater os importados com um apelo à "brasilidade" do consumidor e uma política comercial mais agressiva. A empresa lançou uma coleção de panelas em aço inoxidável denominada "Linha Tropical", com a bandeira do Brasil nas embalagens de cinco unidades e preço ao consumidor padronizado em R$ 199,00 para todo o país, parcelado em até 10 vezes. O resultado: Em três meses foram vendidas 435 mil unidades.

Hoje o Grupo emprega quase 6.000 pessoas, exporta para mais de 100 países e é uma marca conhecida no mundo inteiro. Nas suas diversas unidades produz mais de 17 mil itens.

O Grupo Tramontina mantém vínculos de forte enraizamento nas comunidades onde atua. Nas cidades onde a empresa tem unidades instaladas, é notória sua participação em projetos culturais, esportivos, sociais e ambientais.

Nessa trajetória, o grande mérito foi a convivência fraterna e harmoniosa entre Ivo Tramontina e Ruy José Scomazzon. Esse é o maior exemplo para a continuidade dessa empresa que é o orgulho de Carlos Barbosa, do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Fábrica Tramontina Eletrik
A História Falsa

"Se eu soubesse ler e escrever… ainda seria o Porteiro do Puteiro!"

Com essa frase se inicia o titulo e termina uma historia que tem sido contada na internet há muito tempo. Ainda nos dias atuais, quase toda as pessoas que leem a falsa história de Valentin Tramontina, se emocionam, suspiram, algumas outras dizem até que choram. Mas a bela historia não passa de uma mentira feita para dar lição motivadora.

Dodô

ADOLFO ANTÔNIO NASCIMENTO
(57 anos)
Técnico em Eletrônica, Artesão, Instrumentista e Inventor do Trio Elétrico

* Salvador, BA (10/11/1920)
+ Salvador, BA (15/06/1978)

Adolfo Antonio Nascimento, popularmente conhecido como Dodô, um dos inventores do Trio Elétrico, nasceu no dia 10 de novembro 1920, no Beco do Chinelo, no bairro de Santo Antonio em Salvador, BA.

Artesão por excelência, ele fabricou a maioria das guitarras baianas existentes na Bahia até o final dos anos 70. Sua habilidade como luthier era de intensa criatividade. Quando Osmar teve necessidade de tocar vilão tenor e guitarra baiana, ele confeccionou, em 1948, um instrumento de dois braços. A pedido de Armandinho, ele, também, construiu uma guitarra-cavaquinho a qual foi dada o nome de "Dodô & Osmar". por ser o instrumento da dupla.

Em 1923, Osmar Alvares Macedo (Osmar) é dono de uma empresa de metalurgia e Adolfo Antonio do Nascimento (Dodô) sobrevive como técnico em eletrônica. Ainda jovens se conhecem na Península de Itapagibe e começam a tocar juntos no Grupo 3 1/2. Osmar Macedo tocava cavaquinho e Dodô violão. O conjunto musical de choro fazia apresentações no Tabaris, ponto de encontro dos boêmios na Praça Castro Alves, em Salvador, BA.

Dodô era expert em eletrônica e trabalhava construindo instrumentos de som e tocava violão estridente enquanto Osmar tocava cavaquinho, bandolim e guitarra havaiana e gostava de adaptar arranjos de músicas clássicas e populares ao ritmo quente da folia.  Ele era ao lado do instrumentista paulista Poly um dos melhores tocadores de guitarra havaiana do Brasil.

Em 1933 Dodô entra no conjunto musical criado por Dorival Caymmi, que animava algumas festas e reuniões de fim de semana. O Grupo 3 1/2,  cujos integrantes eram Dorival Caymmi, Zezinho Rodrigues, Alberto Costa, e Dodô, começava a fazer sucesso na Bahia e se apresentar nas rádios.

Em 1942, Dodô e Osmar assistiram a apresentação do violonista clássico Benedito Chaves no Cinema Guarani, na Praça Castro Alves, em Salvador. Os dois ficaram ávidos e extremamente entusiasmados em conhecer o violão elétrico que  Benedito Chaves tocou durante o show. Observaram que mesmo brilhantemente tocado tinha microfonia e o violonista precisava mudar a posição do amplificador a todo momento, interrompendo a apresentação. Novidade na época, o violão elétrico era um violão comum, importado, com um captador inserido à sua boca, possuindo microfonia.

Em 1943 Dodô e Osmar inventaram o Pau Elétrico, instrumento musical de som estridente, criado num pedaço de cepo maciço. Instrumento que se transformaria no que é hoje a Guitarra Baiana. A idéia surgiu à partir do deslubramento, após assistirem um ano antes, o show do violinista Benedito Chaves. Entusiasmado com a novidade, construíram os corpos maciços das madeiras dos violões elétricos, conseguindo aperfeiçoar um corpo com cepo de jacarandá maciços. Adaptaram o captador em baixo das cordas, obtendo assim, um som alto e sem o efeito de microfonia. Ficaram com isso, popularmente conhecidos como a "Dupla Elétrica", e se apresentavam em festas e bares de Salvador.

Segundo o jornal A Tarde, "de 1944 à 1949, Dodô & Osmar levam sua graça, simpatia à inúmeros clubes, festas e bailes através de seus instrumentos elétricos, ganhando assim a popularidade".


Em 1950, Dodô & Osmar desfilaram pela primeira vez na Fobica, um Ford T 1929. O Ford foi equipado com caixas de som e pintado com confetes e serpentinas coloridas, sendo assim, a primeira réplica do Trio Elétrico que tirou o carnaval dos abafados salões de baile para as ruas. Com dificuldade de carregar toda a aparelhagem a pé, Dodô e Osmar instalaram uma bateria no Ford. A bateria alimentava o amplificador, no qual estavam plugados os dois Paus Elétricos. Com isso, Dodô & Osmar colocam fogo no comportado carnaval baiano.

Tocando frevos estridentes no novo instrumento, os dois saíram no domingo de Carnaval à rua e à Praça Castro Alves, onde desfilavam os carros alegóricos dos clubes tradicionais baianos, e democratizaram a festa. Chile, à avenida Sete de Setembro, "Toda a massa saiu atrás da Fobica", conta Osmar. Antes da Fobica, a elite reservava lugar nas ruas para assistir aos desfiles, e acabava não sobrando espaço para o resto da população. Além disso, os desfiles não eram interativos, e os espectadores só pulavam Carnaval à noite, nos bailes dos clubes.

Tamanho foi o sucesso do desfile da Fobica no carnaval de Salvador de 1950, que no ano seguinte, Dodô & Osmar convidaram o amigo e músico Temístocles Aragão para tocar um terceiro instrumento eletrizado. A Fobica foi substituída por um veículo maior equipado com alto-falantes, geradores e lâmpadas fluorescentes. Os três músicos se apresentavam em cima da carroceria de uma pick-up Chrysler, modelo Fargo, com quatro cornetas  de som (alto-falantes) e um gerador à gasolina. Assim, estava formado o trio musical, o Trio Elétrico. Osmar tocava o "cavaquinho-pau-elétrico" de som agudo, Dodô com "violão-pau-elétrico" de som grave e Temístocles com o triolim som médio (conhecido o violão tenor).
Dodô & Osmar e o seu Trio Elétrico
Em 1952, a Fobica sai sem o músico Temístocles Aragão, mas mesmo assim, Dodô & Osmar preservaram o nome de Trio Elétrico, que já tinha ganhado fama. Dodô & Osmar conseguiram patrocínio da fábrica de refrigerantes Fratelli Vita confeccionando, assim, um carro com o formato de uma garrafa de refrigerante, trazendo oito cornetas de som e luzes fluorescentes.

No ano seguinte, 1953, Dodô e Osmar construíram uma estrutura metálica em substituição à carroceria de madeira usada como base para os músicos e equipamentos. O trio elétrico ganha o gosto popular e a empresa Fratelli Vita resolve patrocinar, transformando-o assim num caminhão decorado.

A concorrência não podia deixar de existir, e surgem assim outros trios elétricos entre 1952 à 1956. Dentre os novos trios elétricos estavam: Cinco Irmãos, Ypiranga, Conjunto Atlas, Jacaré (depois Saborosa) e Tupinambás.

Em 1955, Orlando Campos era presidente do Flamenguinho, clube de futebol de Periperi, subúrbio de Salvador. Nesta época organizou uma festa-trio, mas os músicos não compareceram. Foi quando anunciou que no evento não houve "trio", mas ele mesmo faria seu próprio "trio". Assim foi feito, e Orlando Campos como não era músico, passou a procurar e recrutar músicos.

Em 1956, Orlando Campos, inventou a Carroceria Elétrica, estrutura de chapa metálica e madeira, o que deixou seu nome gravado na trajetória do carnaval baiano. "Tirei o modelo de uma revista de aeronaves que li no avião. Fui ao banheiro, rasguei a página e escondi no sapato.", disse Orlando Campos em entrevista à mídia baiana.

Em 1957, Dodô e Osmar inovam sua invenção, o Trio Elétrico, revestindo-o por uma nova estrutura metálica.

Em 1959 o Trio Elétrico de Dodô & Osmar fecha o contrato de patrocínio da Coca-Cola. A convite do governador de Pernambuco, levaram o Trio Elétrico pela primeira vez ao Carnaval do Recife.

Em 1960, Dodô & Osmar expandem os negócios e vendem um das estruturas metálicas do trio elétrico para Orlando Campos, popularmente conhecido como Orlando Tapajós por ser fundador da Carroceria Elétrica Tapajós. Mais tarde, Orlando Campos foi fundador dos banheiros em Trios Elétricos.

Dodô & Osmar não desfilaram no Carnaval de Salvador em 1961, devido ao falecimento de Srº Armando Costa, sogro de Osmar. Os inventores do Trio Eelétrico guardaram luto e não sairam pelas ladeiras de Salvador levando alegria e animação. Srº Armando era um dos grandes incentivadores da dupla, desde a idéia à construção e desfile.

Mais uma vez, em 1962, Dodô & Osmar não desfilaram no Carnaval de Salvador, e desta vez o motivo foi a falta de patrocínio.

Em 1963 Dodô & Osmar não podiam deixar para trás, e no carnaval daquele ano vieram com tudo na avenida. Como não podia deixar de ser, venceram o concurso de trios elétricos, promovido pela Prefeitura Municipal de Salvador. Neste Carnaval, Dodô & Osmar desfilaram em um carro alegórico, montado sobre uma carreta. A estrutura da carreta foi patrocinada pela Refinaria Mataripe, levando a bordo o filho de Osmar, Armandinho, com nove anos de idade, fazendo solo com bandolim.

Em 1969, Caetano Veloso prestou uma homenagem a Dodô & Osmar, e sua fantástica invenção com a composição da música "Atrás do Trio Elétrico", e popularizou a canção "Frevo Baiano" em todo país.

Em 1970, Dodô e Osmar são convidados para serem os diretores e supervisores do Trio Elétrico Marajós, patrocinado pela Carlsberg.


Em 1974 o Trio Elétrico de Dodô & Osmar voltou às ruas à pedido dos filhos que já tocavam profissionalmente em outros trios. Eram 12 cornetas de som e luzes fluorescentes em cada lateral, com seis músicos fazendo a percussão. O Trio Elétrico de Dodô & Osmar voltou às avenidas e ladeiras de Salvador, após 14 anos de ausência e se apresentou novamente no carnaval de 1974.

Em 1976 o Trio Elétrico Dodô & Osmar lançou o LP "É Massa" e Gilberto Gil foi o responsável pelo texto apresentado no disco:

"A eletricidade é, ao que parece, a forma de energia que possibilitou ao homem conhecer o átomo e o espaço e perceber a curiosa aproximação de uma luz que vai iluminando gradativamente, todas as cavidades ainda escuras da mente e do coração... Agora olhe pro céu agora olhe pro chão agora repare a luz que vem lá do caminhão... 

Osmar, você me ensinou o que o elétrico é, e, a partir daí a gente tem o direito de sonhar o que elétrico será. Caetano me ensinou a ver nos rollingstones a luz além do elétrico aquela que já era no rosto dos pierrôs e colombinas antes do trio.

Armandinho é elétrico antes, enquanto, depois que o trio. Moreira sonha com a luz da caetanave sobre os telhados de Nova York onde se dê ao mesmo tempo Ituaçu.

Eu sonho com a mesma luz, nos olhos de Nelson Ferreira onde se dê ao mesmo tempo o rock'n roll, e que mais, se Deus é mais que toda luz?

No carnaval, pelo menos we can get. Satisfation."

Em 1977 o álbum "Pombo Correio" é considerado o melhor da carreira do Trio Elétrico Dodô & Osmar e vem com um belíssímo choro instrumental em arranjo trioletrizado "Frevo da Lira", composição do mestre Waldir Azevedo e Luiz Lira. Os temas das letras de Moraes Moreira se relacionavam com a ambiência romântica que envolvia o Carnaval como manifestação popular, lembrando a ambiência de antigas canções carnavalescas como "Colombina" e "Jardineira".

Morte de Dodô

Em 15 de junho de 1978, aos 57 anos, Adolfo Antonio Nascimento, popularmente conhecido como Dodô, morreu e deixou só o seu parceiro Osmar que desde 1938 faziam música juntos. Dodô se despediu da avenida e viajou para além de horizontes, deixando saudades nos 11 filhos e nos foliões que tanto o admiravam.  

Mestre Salustiano

MANUEL SALUSTIANO SOARES
(62 anos)
Ator, Músico, Compositor e Artesão

* Aliança, PE (12/11/1945)
+ Recife, PE (31/08/2008)

Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salú, nasceu no Engenho Oiteiro Alto, na cidade da Aliança (90Km de Recife), zona da Mata Norte de Pernambuco. Desde pequeno, aprendeu com o pai, João Salustiano, a confeccionar e tocar rabeca. Era motorista profissional e freqüentou apenas o curso primário. Mas fez da cultura da zona da Mata, com a qual conviveu de perto desde criança, o seu principal conhecimento em vida.

Estabeleceu-se em Olinda e lá iniciou sua trajetória artística. Foi fundador do Maracatu Rural Piaba de Ouro e do Cavalo-Marinho Boi Matuto. Mestre Salustiano era reconhecido nacionalmente como um dos grandes representantes da cultura popular, além de ter influenciado artistas como Chico Science, Antonio Carlos Nóbrega, Siba, entre outros. Ele levou a tradição do maracatu, cavalo-marinho, ciranda e forró para todos os cantos do Brasil e do mundo, tendo se apresentado em países como Alemanha, Cuba, Estados Unidos, França, entre outros.

Como reconhecimento ao seu trajeto dentro do campo da cultura, em 1965, ganhou o título Doutor Honoris Causa da UFPE. Recebeu ainda, em 1990, o título de "reconhecido saber" concedido pelo Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco. Em 2001, ganhou a comenda da Ordem do Mérito Cultural, do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Além disso, foi escolhido pelo Governo do Estado como Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Em 55 anos de carreira, lançou 4 CDs: "O Sonho da Rabeca", "As Três Gerações", "Cavalo-Marinho" e "Mestre Salú e a Sua Rabeca Encantada". Fundou na Cidade Tabajara, em Olinda, a Casa da Rabeca do Brasil, um espaço para danças, oficinas, encontros de maracatus rurais e cavalos-marinhos, além de shows de música regional, durante todo o ano.

Na época do carnaval, a Casa recebe caboclinhos, bois, burras, troças, ursos, além do seu maracatu Piaba de Ouro. No Natal, apresentações de pastoril, ciranda, cavalo-marinho, entre os quais o Boi Matuto, com a participação de 76 figurantes e 18 pessoas brincando.

Salú era portador do Mal de Chagas há 20 anos. Há 18, utilizava um marcapasso pra controlar o aumento do coração, provocado pela doença. Na manhã de domingo (31/08), por volta das 6h30, Salú sofreu uma parada cardíaca, vindo a falecer uma hora depois. Deixou 15 filhos, quase todos “brincantes” como ele.

Fonte: www.recife.pe.gov.br