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Machado de Assis

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS
(69 anos)
Escritor, Poeta, Romancista, Cronista, Dramaturgo, Contista, Folhetinista, Jornalista e Crítico Literário

* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1839)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/09/1908)

Foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, Ministério do Comércio e Ministério das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Ayres, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e outros.

Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante Alighieri, William Shakespeare e Luís de Camões.[24]

Primeiros Anos

Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.

As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à Rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado de Assis resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.

Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.

Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento:

"A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados."

Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas. A casa era "uma espécie de vila ou fazenda", onde Machado de Assis passou sua infância. Nesta época, José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de Machado de Assis, Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do Romantismo para a literatura brasileira.

Quando Machado de Assis tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de Dom Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em Dom Casmurro.

Ao completar 10 anos, Machado de Assis tornou-se órfão de mãe, e o pai viúvo tão logo perdera a esposa casou-se com Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854, que cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado de Assis teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros.

Jornais, Poemas e Óperas

Tudo indica que Machado de Assis evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde, Machado de Assis se referiria à Sociedade da seguinte forma:

"Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná."

No dia 12 de janeiro de 1855, Francisco de Paula Brito publicou os poemas Ela e A Palmeira na Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro. Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis.

Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que o incentivou a seguir a carreira literária. Machado de Assis trabalhou na Imprensa Oficial de 1856 a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando textos.

Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em The Mysteries of Paris de Eugène Sue e com música de Ermanno Wolf-Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:

"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."

Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na. Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo:

"Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro."

O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto."

De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.

Crisálidas, Teatros e Política

Aos 21 anos de idade Machado de Assis já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado de Assis trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.

Quintino Bocaiúva admirava o gosto de Machado de Assis pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai, Machado de Assis lhe dedica a coletânea de poesias Crisálidas:

"À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais."

Em 1865, Machado de Assis havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y Amat, produziu o hino Cantada da Arcádia especialmente para a sociedade.

Em 1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."

Neste ano, Machado de Assis escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com Platão, Sócrates e o Teatro Grego. De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado de Assis era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial pelo Dom Pedro II. Com a ascensão do Partido Liberal pelo país, Machado de Assis acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com idéias progressivas. Por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império - candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de Dom Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Imperial Ordem da Rosa.

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro. Machado de Assis diria sobre o poeta baiano:

"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro."

Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.

Carolina Augusta Xavier de Novais
Noivado, Cartas e Relacionamento

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado de Assis teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa.

Carolina despertara a atenção de muitos cariocas. Muitos homens que a conheciam achavam-na atraente e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data, o único livro publicado de Machado de Assis era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão.

Carolina era cinco anos mais velha que ele, deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.

Diz-se que Machado de Assis não era um homem bonito, mas era culto e elegante. Estava apaixonado por sua Carola, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois. Durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado de Assis havia escrito uma carta íntima que dizia:

"...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."

Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como Machadinho. Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.

Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar". De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a Machado de Assis os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou recentemente que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo do marido escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista).

Não tiveram filhos. No entanto, acredita-se que tinham uma cadela Tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.

Carolina Augusta Xavier de Novais (44  anos)
Casamento, Histórias e Lendas

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda.

Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado de Assis, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado de Assis não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.

No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller.

Em 20 de outubro de 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado de Assis, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado de Assis deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil.

As três heroínas de Memorial de Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da Carolina, a mãe, irmã e esposa. Machado de Assis também lhe dedicou seu último soneto, A Carolina, em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de A Carolina era visitado todos os domingos por Machado de Assis.

Academia Brasileira de Letras


Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional.

Unanimente, Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo Bernardo:

"Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão."

No discurso inaugural, Machado de Assis aconselhou aos presentes:

"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."

A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns. Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência:

"Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções."

Como presidente, Machado de Assis fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.

Em 1901, criou a Panelinha para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão Panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.

Machado de Assis devotou-se ao cargo de presidente da Academia durante 10 anos, até a sua morte. Como homenagem informal, ela passou a chamar-se "Casa de Machado de Assis". Hoje em dia a Academia abriga coleções de Olavo Bilac e Manuel Bandeira, e uma sala chamada de Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus. Além disso, a Academia possui uma rara edição de 1572 de Os Lusíadas.

Estátua  na Academia Brasileira de Letras
Últimos Anos

Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, Machado de Assis lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]"

Antes de sua morte, em 1908, e depois da morte da esposa, em 1904, Machado de Assis viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Ayres (1908), e Relíquias da Casa Velha (1906). No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição de Botânica.

Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto A Carolina, "preito de saudade à esposa morta."

Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Ayres, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.

Mesmo abalado, continuava lendo, trabalhando, estudando, frequentando algumas rodas de amigos. Em seus últimos anos, teria iniciado estudos da língua grega, embora outros autores apontam que tentava se familiarizar com ela desde cedo.

No primeiro dia de julho de 1908, Machado de Assis entra em licença para tratamento de saúde, e nunca mais retorna ao Ministério da Viação. Personalidades ilustres, como o Barão do Rio Branco, e intelectuais ou colegas, vão visitá-lo. Em um documento manuscrito do mesmo ano, Mário de Alencar escreve, amargamente:

"Venho da casa de Machado de Assis, por onde estive todo o sábado, ontem e hoje, e agora estou sem ânimo de continuar a ver-lhe o sofrimento. Tenho receio de assistir ao fim que eu desejo não tarde. Eu, seu amigo e seu admirador grande, desejo que ele morra, mas não tenho coragem de o ver morrer."

Em 1906, escreve seu último testamento. O primeiro, escrito em 30 de junho de 1898, deixava todos seus bens à esposa Carolina Augusta. Com a morte desta, pensou numa partilha amigável com a irmã de Carolina, Adelaide Xavier de Novais, e sobrinhos, efetuando este segundo e último testamento em 31 de maio de 1906, instituindo sua herdeira única "a menina Laura", filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, nomeado primeiro testamenteiro. Em suas últimas semanas, Machado de Assis escreveu cartas a Salvador de Mendonça (7 de setembro de 1908), a José Veríssimo (1 de setembro de 1908), a Mário de Alencar (6 de agosto de 1908), a Joaquim Nabuco (1 de agosto de 1908), a Oliveira Lima (1 de agosto de 1908), entre outros, demonstrando ainda estar lúcido.

Morte

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia Brasileira de Letras conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.

Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma Úlcera Canceriosa na Boca. Sua certidão de óbito relata que morrera de Arteriosclerose Generalizada, incluindo Esclerose Cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas.

Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio e Euclides da Cunha. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento:

"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade". Euclides da Cunha ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."

Em nome da Academia Brasileira de Letras, Ruy Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre. Em nome do governo, o então ministro do interior Tavares de Lyra discursou em pesar da morte do escritor.

O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia. Seu corpo no caixão, como relatara Nélida Piñon, "cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas". O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso, Nélida Piñon comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de Victor Hugo. De fato, uma multidão saía da Academia e sustentava o caixão do autor até o Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro. Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa Carolina Augusta Xavier de Novais, jazigo perpétuo 1359.

A Gazeta de Notícias e o Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de Machado de Assis. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de Machado de Assis, anunciando sua morte.

Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, onde também estão os restos de personalidades como João Cabral de Melo Neto, Darcy Ribeiro e Aurélio Buarque de Holanda.

Fonte: Wikipédia

Dilermando de Assis

DILERMANDO CÂNDIDO DE ASSIS
(63 anos)
Militar, Engenheiro e Escritor

☼ Porto Alegre, RS (18/01/1888)
┼ Rio de Janeiro, RJ (13/11/1951)

Dilermando de Assis foi um militar famoso pela tragédia amorosa vivida com a esposa do escritor Euclides da Cunha.

Aos dezessete anos de idade, em 1905 apaixonou-se pela esposa do escritor e engenheiro militar, Euclides da Cunha, Anna Emília Ribeiro, filha do general Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, então com trinta anos.

Anna Emília Ribeiro havia lhe indicado um quarto, na Pensão Monat. Dilermando de Assis, que era órfão, morava na Escola Militar. Encontravam-se, durante as longas ausências de Euclides da Cunha, sempre viajando a serviço, nesta pensão carioca, situada à Rua Senador Vergueiro - depois alugaram uma casa na Rua Humaitá, onde passavam longos períodos juntos.

Dilermando de Assis era então descrito como belo, alto e loiro - o relacionamento estabelece-se e, mesmo continuando casada, com ela tem dois filhos, registrados por Euclides da Cunha: Mauro, em 1906, morto com sete dias e Luís, em 1907.

Após o retorno de Euclides da Cunha, transfere-se para a Escola Militar de sua cidade natal, Porto Alegre, em 1906, mantendo copiosa correspondência com a amante.

Em 1908 conclui o curso, atingindo o posto de tenente, retornando para o Rio de Janeiro e passa a morar com o irmão Dinorah, em uma casa na Estrada Real de Santa Cruz, 214 (depois Avenida Suburbana e atual Avenida Dom Hélder Câmara), no bairro da Piedade.

A volta para o Rio de Janeiro fê-lo protagonizar o trágico episódio que vitimou mortalmente Euclides da Cunha, feriu e aleijou seu irmão Dinorah, e maculou sua biografia para sempre.

Casando-se com Anna, tem com esta quatro filhos. O relacionamento, porém, dura 14 anos.

Dilermando de Assis viveu em muitas cidades, pelo país, servindo ao Exército, sendo promovido sucessivamente até o posto de general. Durante a Revolução de 1924, comandou uma força de "provisórios" paranaenses que se opôs, sem sucesso, ao avanço dos paulistas na região de Guaíra, no oeste do estado. Tal força irregular, com todas as deficiências que se pode esperar como tantas outras despachadas às pressas em qualquer guerra, serviu para retardar a progressão do inimigo e sob esse aspecto, bem cumpriu seu dever.

Dilermando de Assis foi ainda comandante por cerca de 6 meses, do 7º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (GMAC) na cidade de Rio Grande, RS, durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo após isso o título de Ex-Combatente por ter participado efetivamente de operações bélicas no na defesa da costa brasileira.

Dilermando de Assis morreu, aos 63 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco. Nesse mesmo ano, morreu também no mês de maio, vítima de câncer, sua ex-mulher, Anna de Assis.

A Tragédia da Piedade

Dilermando de Assis encontrava-se com Anna Emília Ribeiro em sua casa na Estrada Real de Santa Cruz, local afastado do Bairro da Piedade, onde foi surpreendido por Euclides da Cunha. Este havia passado em casa de parentes, onde conseguira a arma, no dia 15/08/1909, um domingo.

O escritor grita que está ali fora para "matar ou morrer". Alveja Dinorah, irmão de Dilermando de Assis, e ainda acerta 3 tiros no amante da esposa - mas o jovem possui ampla destreza, campeão de tiro que era e, com dois tiros, fere mortalmente o agressor que, ao tentar evadir-se, tomba morto.

Seu irmão, que era atleta, jogador do Botafogo de Futebol e Regatas, fica com Hemiplegia e, não suportando a condição, suicida-se em 1921.

Julgamento

A imprensa nacional toma logo o partido do marido traído - escritor afamado, Imortal da Academia Brasileira de Letras. Dilermando de Assis é exposto na imprensa como um vilão, e mesmo o inquérito policial tende a inverter a realidade dos fatos. O jornalista Orestes Barbosa foi dos únicos a defendê-lo, mesmo assim sem grande impacto.

O fato constitui-se em um marco da parcialidade na imprensa brasileira. Em uma entrevista concedida à revista Diretrizes, de Samuel WainerDilermando de Assis afirma que não conseguiria expor sua versão dos fatos "nem se pagasse".

É, apesar da gritante realidade dos acontecimentos, exposto ao júri popular, acusado de homicídio. Fartamente demonstrada, a legítima defesa resta comprovada, e Dilermando de Assis é absolvido. O Tribunal do Juri foi presidido pelo juiz Manuel da Costa Ribeiro e a defesa do réu foi feita pelo então rábula Evaristo de Moraes e por Delamare Garcia.

Nova Tragédia

A 04/07/1916 Dilermando de Assis sofre novo atentado, desta feita por parte de Euclides da Cunha Filho, apelidado familiarmente de Quidinho, então com 19 anos de idade. Estava num cartório, do fórum do Rio de Janeiro, quando foi por este alvejado pelas costas. Mesmo ferido, Dilermando de Assis reage, matando seu agressor - e um novo escândalo resulta em nova absolvição - deixando contudo um rastro de sangue na biografia do jovem militar.

Casamento

Em 12/05/1911, logo após sua absolvição em 05/05/1911, casou-se com a viúva Anna Emília Ribeiro. Morando ambos em Bagé, sua casa torna-se agitado ponto cultural da cidade. Ali realiza a construção de muitos prédios, como engenheiro, como o Quartel General do Exército.

Em 1926, quando a mulher contava 50 anos, e com cinco filhos, separam-se.

Após seu relacionamento com Anna de Assis, teve Dilermando de Assis com Maria Antonieta de Araujo Jorge uma filha, a escritora Dirce de Assis Cavalcanti, prima de J. G. de Araújo Jorge.

Maçonaria

Dilermando de Assis foi um dos defensores da Maçonaria tradicional, sendo um dos mais acerbos críticos ao Grão-Mestre Joaquim Rodrigues Neves que, nos anos 40, provocou a cisão da instituição no Brasil. Este episódio é narrado, com detalhes, em seu livro "A Tragédia da Piedade".

Obras

Dilermando de Assis escreveu, ainda que de forma esporádica, algumas obras, a maior delas tratando dos episódios sangrentos que protagonizara.

  • Um Nome, Uma Vida, Uma Obra - (Parceria com Ângelo Cibelá, 1946) - Onde Dilermando de Assis expõe textos publicados em seguida ao crime da Piedade, como "Uma tragédia de Ésquilo", por Monteiro Lobato e A Vítima Esquecida de Euclides da Cunha, por Acélio Daudt. 
  • A Tragédia da Piedade (Edições O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1951) - É um verdadeiro libelo de auto-defesa, uma resposta ao livro A Vida Dramática de Euclides da Cunha, de Eloi Pontes. Neste livro Dilermando de Assis analisa todas as provas periciais dos autos de sua acusação, nos dois homicídios envolvendo os Cunha (pai e filho). Além disso, procede a uma minuciosa crítica a Os Sertões: Campanha de Canudos, apontando dezenas de erros, procurando ainda comprovar casos de plágio feitos pelo célebre escritor. Dilermando de Assis foi aconselhado a não publicar este livro, por Raimundo de Farias Brito, que lhe escrevera, em carta:  "...A idéia é muito digna. Mas não me parece que lhe seja isso necessário... Seja, porém, como for, parece-me que o melhor é deixar o passado em silêncio."

O livro, assim como as idéias do seu autor, são ainda hoje, de modo parcial e até passional, refutados pelos auto-proclamados "euclidianos".

Fonte: Wikipédia

Mário Palmério

MÁRIO DE ASCENÇÃO PALMÉRIO
(80 anos)
Professor, Político e Escritor

* Monte Carmelo, MG (01/03/1916)
+ Uberaba, MG (24/09/1996)

Filho de Francisco Palmério e de Maria da Glória Palmério, seu pai era engenheiro civil e advogado, homem de cultura e de largo prestígio em toda a região triangulina, exercendo, nos últimos anos de sua vida, o cargo de Juiz de Direito nas várias comarcas do estado, tendo falecido em Uberaba aos oitenta anos de idade. Mário Palmério fez seus estudos secundários no Colégio Diocesano de Uberaba e no Colégio Regina Pacis, de Araguari, licenciando-se em 1933.

Em 1935, matriculou-se na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, de onde se desligou, no ano seguinte, por motivos de saúde. Em 1936, ingressou no Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, sendo designado para servir na sucursal de São Paulo.

Na capital paulista, iniciou-se no magistério secundário, como professor de matemática no Colégio Pan-Americano, estabelecimento de ensino então mantido pela Escola Paulista de Medicina. Passando a lecionar em outros estabelecimentos, pouco tempo depois Mário Palmério dedicava-se exclusivamente ao magistério.

Em 1939, matriculou-se na seção de Matemática da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, época em que passou a lecionar também no Colégio Universitário da Escola Politécnica, por nomeação do governo daquele Estado.

Seu destino seria, entretanto, realizar obra educacional de maiores proporções e, atraído pelo extraordinário progresso que alcançava Uberaba e toda a região triangulina, em virtude do desenvolvimento de sua pecuária de gado indiano, Mário Palmério deixou São Paulo para abrir naquela cidade mineira o Liceu do Triângulo Mineiro.

Em 1945, construiu imponente conjunto de edifícios, na cidade de Uberaba, para sede do Colégio do Triângulo Mineiro e da Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro, e visava já à criação da primeira escola superior a instalar-se na região. Em 1947, o governo federal autorizou o funcionamento da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, fundada por Mário Palmério, primeiro passo para a transformação de Uberaba em cidade universitária.

No Triângulo Mineiro, Mário Palmério fundou, em 1950, a Faculdade de Direito e, em 1953, a Faculdade de Medicina. Por essa época exercia o mandato de deputado federal por Minas Gerais, tendo sido eleito em 1950 na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro. Suas atividades desdobraram-se assim em dois setores importantes, o educacional e o da representação parlamentar. Em ambos, seu trabalho foi produtivo.

Mário Palmério e Getúlio Vargas, no início da década de 1950
Na Câmara dos Deputados exerceu a vice-presidência da Comissão de Educação e Cultura durante todo o seu primeiro mandato (1950-1954). Reeleito em 1954, passou a integrar a Comissão de Orçamento e a Mesa da Câmara. Por indicação do presidente da Câmara dos Deputados, matriculou-se, em 1955, na Escola Superior de Guerra, onde concluiu o Curso Superior de Guerra. O exercício de seu mandato e suas outras atividades no Rio de Janeiro não impediram, entretanto, seu trabalho educacional em Uberaba, e Mário Palmério fundou, em 1956, a Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro.

A exemplo de Graciliano Ramos, estréia na vida literária não propriamente tarde, mas a meio caminho: só aos 40 anos aparece seu primeiro livro, fruto quarentão de aventura intelectual cujo propósito era bem outro, isto é, a política. "Vila dos confins nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance...", segundo confessou o próprio autor.

Educador, político, literato, todo o trabalho nesses três largos campos de atividade ele realizou inspirado pelo amor à sua terra e à sua gente. A mesma inspiração levou-o a prosseguir, a tentar novas e fecundas iniciativas. Construiu em Uberaba a Cidade Universitária em terreno de área superior a 300 mil metros quadrados, e o Hospital Mário Palmério, da Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central, maior nosocômio em todo o interior do Brasil.

Candidatando-se novamente, em 1958, Mário Palmério reelegeu-se, pela terceira vez - e agora com mais expressiva votação - deputado federal por Minas Gerais. Em setembro de 1962, desejoso de afastar-se das lides partidárias, foi nomeado pelo presidente João Goulart para o cargo de embaixador do Brasil junto ao governo do Paraguai. Assumiu o posto em 10 de outubro do mesmo ano.

Permaneceu nessa missão até abril de 1964. Sua passagem pelo Paraguai, na condição de embaixador do Brasil, foi marcada por intenso trabalho, destacando-se a reforma e reinstalação do edifício da embaixada, a conclusão das obras do Colégio Experimental - doado ao Paraguai pelo governo brasileiro - e da Ponte Internacional de Foz do Iguaçu, e a instalação em novo edifício, amplo e central, do Serviço de Expansão e Propaganda, Missão Cultural e Consulado. Dando ênfase às atividades culturais e artísticas, Mário Palmério integrou-se admiravelmente no seio da intelectualidade paraguaia, estreitando-se assim, mais ainda e de forma duradoura, os laços de compreensão e amizade entre os dois países.

De regresso ao Brasil, Mário Palmério reencetou suas atividades literárias. Isolando-se em fazenda de sua propriedade, no sertão sudoeste de Mato Grosso - Fazenda São José do Cangalha - escreveu Chapadão do Bugre, romance para o qual vinha colhendo, desde o êxito de Vila dos Confins, abundante material lingüístico e de costumes regionais, e que recebeu de toda crítica os mais rasgados elogios. Lançado em outubro de 1966, o romance teve inúmeras edições.

Durante vários anos viajou de barco pelo rio Amazonas e seus afluentes, levantando dados sobre a realidade física, social e cultural da região Amazônica. Em 1987 deixou de vez o Amazonas e voltou a morar em Uberaba, como presidente das Faculdades Integradas daquela cidade.

Em 1988, recebeu a Medalha do Mérito Santos-Dumont, conferida pelo Ministério da Aeronáutica. Neste mesmo ano, Mário Palmério cria a Universidade de Uberaba, que atualmente conta com quarenta cursos superiores.

A faculdade de Monte Carmelo, sua terra natal, leva o seu nome, como forma de homenageá-lo: Fundação Carmelitana Mário Palmério. Oferece diversos cursos (Administração, Pedagogia, Letras, Ciência Biológicas), e vem se destacando pela qualidade de ensino.

Mário Palmério era casado com Cecília Arantes Palmério. Teve dois filhos, Marcelo e Marília.

Academia Brasileira de Letras

Foi eleito para a cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Guimarães Rosa, em 4 de abril de 1968, e recebido em 22 de novembro de 1968 pelo acadêmico Cândido Mota Filho.

Fonte: Wikipédia

Couto de Magalhães

JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES
(60 anos)
Político, Militar, Escritor e Folclorista

* Diamantina, MG (01/11/1837)
+ Rio de Janeiro, RJ (14/09/1898)

Iniciou os estudos no Seminário de Mariana. Estudou Matemática na Academia Militar do Rio de Janeiro e freqüentou o curso de Artilharia de Campanha em Londres. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1859, doutorando-se em Direito em 1860.

Couto de Magalhães conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central. Foi conselheiro do Estado e deputado por Goiás e Mato Grosso. Foi presidente das províncias de Goiás, de 8 de janeiro de 1863 a 5 de abril de 1864, Pará, de 29 de julho de 1864 a 8 de maio de 1866, Mato Grosso, de 2 de fevereiro de 1867 a 13 de abril de 1868, e São Paulo, de 10 de junho a 16 de novembro de 1889, presidência que ocupava quando foi proclamada a República.

Preso e enviado ao Rio de Janeiro, foi liberado em reconhecimento da sua enorme cultura e ações em pról do desbravamento dos sertões brasileiros.

Homem inteligente, falava francês, inglês, alemão, italiano, tupi e numerosos dialetos indígenas.

Foi quem iniciou os estudos folclóricos no Brasil, publicando O Selvagem (1876) e Ensaios de Antropologia (1894), entre outros.

Fundou em 1885 o primeiro observatório astronômico do estado de São Paulo, na sua chácara em Ponte Grande, às margens do Rio Tietê.

É o patrono nas seguintes Academias de Letras:
  • Cadeira 31 na Academia Tocantinense de Letras 
  • Cadeira 19 da Academia Mato-Grossense de Letras 
  • Cadeira 11 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Fonte: Wikipédia

José Lins do Rego

JOSÉ LINS DO REGO CAVALCANTI
(56 anos)
Jornalista, Escritor, Romancista, Cronista e Memorialista

* Pilar, PB (03/07/1901)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/09/1957)

José Lins do Rego foi um escritor brasileiro que, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional.

Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins era "O último dos contadores de histórias". Seu romance de estréia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade, todavia logo foi elogiado pela crítica.

José Lins escreveu cinco livros a que nomeou Ciclo da Cana-de-Açúcar, numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino, visto de modo cada vez menos nostálgico e mais realista pelo autor: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), e Usina (1936). Sua obra regionalista, contudo, não encaixa-se somente na denúncia sócio-política, mas, como afirmou Manuel Cavalcanti Proença, igualmente em sua "sensibilidade à flor da pele, na sinceridade diante da vida, na autenticidade que o caracterizavam".

José Lins nasceu na Paraíba. Seus antepassados, que eram em grande parte senhores de engenho, legaram ao garoto a riqueza do engenho de açúcar que lhe ocupou toda a infância. Seu contato com o mundo rural do Nordeste lhe deu a oportunidade de, nostalgicamente e criticamente, relatar suas experiências através das personagens de seus primeiros romances.


José Lins era ativo nos meios intelectuais. Ao matricular-se em 1920 na Faculdade de Direito do Recife, ampliou seus contatos com o meio literário de Pernambuco, tornando-se amigo de José Américo de Almeida. Em 1926, partiu para o Maceió, onde reunia-se com Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima. Quando partiu para o Rio de Janeiro, em 1935, conquistou ainda mais a crítica e colaborou para a imprensa, escrevendo para os Diários Associados e O Globo.

É atribuído a José Lins do Rego a invenção de um novo romance moderno brasileiro. O conjunto de suas obras são um marco histórico na literatura regionalista por representar o declínio do Nordeste canavieiro. Alguns críticos acreditam que o autor ajudou a construir uma nova forma de escrever fundada na "obtenção de um ritmo oral", que foi tornada possível pela liberdade conquistada e praticada pelos modernistas de 1922. Sua magnum opus, Fogo Morto (1943), é visto como o "romance dos grandes personagens". Massaud Moisés escreveu que esta obra-prima de José Lins "é uma das mais representativas não só da ficção dos anos 30 como de todo o Modernismo".

Infância

Nascido no Engenho Corredor, município paraibano de Pilar, filho de João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti (assassinada pelo marido esquizofrênico), fez as primeiras letras no Colégio de Itabaiana, no Instituto Nossa Senhora do Carmo e no Colégio Diocesano Pio X na então cidade da Paraíba atual João Pessoa. Depois estudou no Colégio Carneiro Leão e Osvaldo Cruz, em Recife. Desde esse tempo revelaram-se seus pendores literários. É de 1916, por exemplo, o primeiro contato com O Ateneu, de Raul Pompeia.

Em 1918, aos dezessete anos, José Lins travou conhecimento com Machado de Assis, através do Dom Casmurro. Desde a infância, já trazia consigo outras raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração em geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros rebanhos humanos que a foi formando.

Juventude e Início da Carreira Literária

Após passar sua infância no interior e ver de perto os engenhos de açúcar perderem espaço para as usinas, provocando muitas transformações sociais e econômicas, foi para João Pessoa, onde fez o curso secundário e depois, para Recife, onde matriculou-se, em 1920, na Faculdade de Direito do Recife.

Nesse período, além de colaborar periodicamente com o Jornal do Recife, fez amizade com Gilberto Freyre, que o influenciou e, em 1922, fundou o semanário Dom Casmurro.

Formou-se em 1923. Durante o curso, ampliou seus contatos com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luís Delgado, Aníbal Fernandes, e outros. Gilberto Freyre, voltando em 1923 de uma longa temporada de estudos universitários nos Estados Unidos, marcou uma nova fase de influências no espírito de José Lins, através das ideias novas sobre a formação social brasileira.

Ingressou no Ministério Público como promotor em Manhuaçu, em 1925, onde entretanto não se demorou.

Casou em 1924 com Filomena Masa Lins do Rego (Naná), transferiu-se em 1926 para a capital de Alagoas, onde passou a exercer as funções de fiscal de bancos, até 1930, e fiscal de consumo, de 1931 a 1935. Em Maceió, tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco, Carlos Paurílio e outros. Ali publicou o seu primeiro livro, Menino de Engenho (1932), chave de uma obra que se revelou de importância fundamental na história do moderno romance brasileiro. Além das opiniões elogiosas da crítica, sobretudo de João Ribeiro, o livro mereceu o prêmio da Fundação Graça Aranha. Em 1933, publicou Doidinho, o segundo livro do Ciclo da Cana-de-Açúcar.

José Lins e José Américo de Almeida
Perfil da Obra e Trajetória Literária

O mundo rural do Nordeste do Brasil, com as fazendas, as senzalas e os engenhos, serviu de inspiração para a obra do autor, que publicou seu primeiro livro Menino de Engenho.

Como vimos, em 1926, decidiu deixar para trás o trabalho como promotor público no interior de Minas Gerais e transferiu-se para Maceió, Alagoas. Lá conviveu com um grupo de escritores muito especial: Graciliano Ramos (o autor de Vidas Secas), Rachel de Queiroz (a jovem cearense, que já publicara o romance O Quinze), o poeta Jorge de Lima, Aurélio Buarque de Holanda (o mestre do dicionário), que se tornariam seus amigos para sempre.

Convivendo neste ambiente tão criativo, escreveu os romances Doidinho (1933) e Bangüê (1934). Daí em diante a obra de Zélins, como era chamado, não conheceu interrupções. Publicou romances, um volume de memórias, livros de viagem, de conferências e de crônicas. E Histórias da Velha Totônia, seu único livro para o público infanto-juvenil, lançado em 1936.

Em 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro. Homem atuante, participava ativamente da vida cultural de seu tempo. Gostava de conversar, tinha um jeito bonachão e era apaixonado por futebol, ou melhor, pelo Flamengo. Seus livros são adaptados para o cinema e traduzidos na Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Despojamento

O estilo de José Lins é inteiramente despojado e sem atitudes ou artifícios literários. Ele próprio via a si mesmo como um escritor instintivo e espontâneo, chegando a apontar que suas fontes da arte narrativa estavam nas ruas:

"Quando imagino nos meus romances tomo sempre como modo de orientação o dizer as coisas como elas surgem na memória, com os jeitos e as maneiras simples dos cegos poetas"

Apesar desta simplicidade linguística com que escreve, ele descreve com muita técnica os estados psicológicos de seus personagens, seguindo, assim, uma linha inaugurada por Marcel Proust. Além disso, ele tem um domínio da tradição literária e consegue fazer uma crítica dos hábitos em um estilo que lembra Thomas Hardy.

José Lins e Austragésilo de Atayde
Academia Paraibana de Letras

É patrono da cadeira 39 da Academia Paraibana de Letras, que tem como fundador Coriolano de Medeiros. Atualmente ocupada por Sérgio de Castro Pinto.

Academia Brasileira de Letras

Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 15 de setembro de 1955, para a cadeira 25.

Suas Principais Obras:
  • 1932 - Menino de Engenho
  • 1933 - Doidinho
  • 1934 - Bangüê
  • 1935 - O Moleque Ricardo
  • 1936 - Usina
  • 1936 - Histórias da Velha Totonha
  • 1937 - Pureza
  • 1938 - Pedra Bonita
  • 1939 - Riacho Doce
  • 1941 - Água-mãe
  • 1942 - Gordos e Magros
  • 1943 - Fogo Morto
  • 1945 - Poesia e Vida
  • 1947 - Eurídice
  • 1952 - Homens, Seres e Coisas
  • 1953 - Cangaceiros
  • 1953 - Meus Verdes Anos
  • 1954 - A Casa e o Homem
  • 1956 - Meus Verdes Anos
  • 1957 - Presença do Nordeste na Literatura Brasileira
A obra de José Lins do Rego é publicada pela Livraria José Olympio Editora.

Morte

Em 1956 Lins do Rego publicou Meus Verdes Anos, um livro de memórias. No ano seguinte morreu de um problema hepático, aos 56 anos. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia