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Moura Brasil

JOSÉ CARDOSO DE MOURA BRASIL
(82 anos)
Médico

* Iracema, CE (10/02/1846)
+ Rio de Janeiro, RJ (10/01/1929)

José Cardoso de Moura Brasil foi um médico, nascido na então povoação de Caixa-só, hoje Vila de Iracema, do município de Pereiro, CE, no ano de 1846. Radicou-se em Salvador, BA, no ano de 1866.

Moura Brasil era filho do tenente-coronel José Cardoso Brasil e Tereza Maria de Moura Brasil. Iniciou os seus estudos de humanidade no Liceu do Ceará em 1865. No ano seguinte embarcou para a Bahia, onde concluiu os seus preparatórios e, em 1867, a 15 de março, ingressou na Faculdade de Medicina. Doutorou-se em 30 de novembro de 1872 e meses depois seguiu para a Europa afim de fazer os diversos cursos de especialidade, o que realizou com o maior proveito e especializou-se em oftalmologia.

De retorno do Velho Continente esteve no Ceará, tendo sido alvo de entusiástica recepção, pois que o seu nome já era um símbolo de sapiência e caridade. Do Ceará viajou para o Rio de Janeiro e ali fixou residência e estabeleceu a sua clínica.

Alma compassiva, espírito devotado ao bem alheio, cirurgião de perícia admirável, adquiriu larga fama, passando a ser tido e reconhecido como a maior personalidade na clinica e cirurgia oftalmológica. Foi o mestre dos mestres da oftalmologia no Brasil.

Escreveu trabalhos da maior proficiência e praticou as mais ousadas e delicadas intervenções operatórias. Foi Comendador da Ordem de Cristo e recusou várias comendas e títulos, inclusive o de Barão, que se lhe oferecera no Ministério João Alfredo.

Prestou serviços à população pobre e fundou a Policlínica Geral do Rio de Janeiro, sendo seu presidente durante a proclamação da República em 1889.

É autor de obras como "Tratamento Cirúrgico Para o Deslocamento de Retina" (1879), "Contribuição Para o Estudo Comparativo de Diversos Processos Operativos no Tratamento das Afecções Oculares" (1880), e outras obras.

Foi membro da Academia Imperial de Medicina, futura Academia Nacional de Medicina, tornando-se seu presidente.

Impasse na Naturalidade de Moura Brasil

No tocante á naturalidade deste sábio e ilustre, surgiu séria dúvida provocada por um jornal norte-riograndense, o qual sustentava, á vista de uma certidão de batismo, ter nascido o Drº Moura Brasil na vila de Apodi, do Rio Grande do Norte. Entretanto, ficou plenamente demonstrado, por ele próprio, que fora chamado a esclarecer o ponto controvertido, ser o grande médico natural da vila de Iracema, numa de cujas fazendas nasceu, embora tenha sido batizado naquela vila potiguar.

A carta abaixo, transcrita integralmente, escrita de próprio punho pelo Drº Moura Brasil, tira de vez a dúvida que passou a pairar com relação ao seu local de nascimento.

Rio de Janeiro, 15 de Julho de 1901.
Meu caro e illustrado amigo Dr. Paulino Nogueira.
Recebi a sua presada carta, e vou respondel-a. Muito lisongeou-me saber que uma illustre folha do Rio Grande do Norte disputa para aquelle Estado o meu humilde berço à pequena localidade do nosso amado Ceará.
Eis o facto:
Em 1845, meu pae, Tenente coronel José Cardoso Brasil, residia em sua fazenda - Passagem Franca -, no Rio Grande do Norte, muito perto dos limites da província do Ceará; mas meus avós maternos, Antonio Ferreira de Moura e D. Maria Joaquina de Moura, e minha avó paterna, D. Feliciana, que viveu 105 annos, residiam na pequena povoação de Caixa-só, hoje Villa de Iracema.
Meus pais costumavam passar as festas de Natal na pequena povoação  em companhia dos meus avós. Minha mãe, em adiantado estado de gravidez, demorou-se alli pela conveniencia da companhia, e em princípio de 1846 tive a fortuna de respirar o puro ar cearense naquella pequena localidade, onde tantas vezes expandiu-se desatenta a minha infancia.
Por occasião da sécca de 1845, meu pae, no desempenho das funções de delegado de polícia, teve de punir furtos de gados, em que se acharam envolvidas pessoas das suas relações; desgostoso mudou-se  nos primeiros mezes de 1846 para a fazenda Atraz da Serra, no Riacho de Figueirêdo, a 4 legoas do Caixa-só, e 3 da Passagem Franca, fazenda que ainda hoje é conservada sob a minha posse por herdeiros de um irmão.
Eis porque nasci no Ceará, e igual honra me caberia se tivesse pela primeira vez visto a luz na fazenda Passagem Franca, do Rio Grande do Norte, a qual ainda deve pertencer aos herdeiros do meu fallecido irmão Joaquim Cardoso.
Entretanto baptisei-me  na antiga Villa do Apody onde residiam meus padrinhos, Antonio Nunes de Oliveira e Dona Marianna.
No mais continúe a dispor do
Amigo affectuoso e muito obrigado
Moura Brasil

Moura Brasil faleceu aos 82 anos no Rio de Janeiro, RJ, no dia 10/01/1929.

Carlota Pereira de Queiroz

CARLOTA PEREIRA DE QUEIROZ
(90 anos)
Médica, Escritora, Pedagoga e Política

* São Paulo, SP (13/02/1892)
+ São Paulo, SP (14/04/1982)

Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira mulher brasileira a votar e ser eleita deputada federal. Ela participou dos trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte, entre 1934 e 1935.

Era filha de José Pereira de Queiroz e de Maria V. de Azevedo Pereira. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1926,  ocasião em que recebeu o Prêmio Miguel Couto pela sua tese  "Estudos Sobre o Câncer".

Chefe do laboratório de clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1928, foi comissionada pelo governo de São Paulo em 1929 para estudar Dietética Infantil em centros médicos da Europa. 

Membro da Associação Paulista de Medicina de São Paulo, Association Française Pour l'Étude du Cancer, Academia Nacional de Medicina e Academia Nacional de Medicina de Buenos Aires. Fundou a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, em 1950.


Na Política, a Primeira Deputada

Durante a Revolução Constitucionalista, movimento de contestação à Revolução de 1930, ocorrido em São Paulo em 1932, organizou, à frente de 700 mulheres, a assistência aos feridos. Em maio de 1933, foi a única mulher eleita deputada à Assembléia Nacional Constituinte, na legenda da Chapa Única por São Paulo.

Na Constituinte, Carlota integrou a Comissão de Saúde e Educação, trabalhando pela alfabetização e assistência social. Foi de sua autoria o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais, bem como a emenda que viabilizou a criação da Casa do Jornaleiro e a criação do Laboratório de Biologia Infantil.

Seu mandato foi em defesa da mulher e das crianças. Trabalhava por melhorias educacionais que contemplassem melhor tratamento as mulheres. Além disso, publicou uma série de trabalhos em defesa da mulher brasileira.

Após a promulgação da Constituinte em 17 de julho de 1934, teve o seu mandato prorrogado até maio de 1935. Ainda em 1934, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Eleita pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, no pleito de outubro de 1934, permaneceu na Câmara até 1937, quando foi instaurado o Estado Novo por Getúlio Vargas quando o mesmo  fechou o Congresso Nacional (1937-1945). Durante esse período lutou pela redemocratização do país.

Segue abaixo o discurso proferido por ela em 13 de março de 1934:

"Além de representante feminina, única nesta Assembléia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu país e identificada para sempre com os seus problemas. (…) Acolhe-nos, sempre, um ambiente amigo. Esta é a impressão que me deixa o convívio desta Casa. Nem um só momento me senti na presença de adversários. Porque nós, mulheres, precisamos ter sempre em mente que foi por decisão dos homens que nos foi concedido o direito de voto. E, se assim nos tratam eles hoje, é porque a mulher brasileira já demonstrou o quanto vale e o que é capaz de fazer pela sua gente. Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que ela também fosse chamada a colaborar. (…) Quem observar a evolução da mulher na vida, não deixará por certo de compreender esta conquista, resultante da grande evolução industrial que se operou no mundo e que já repercutiu no nosso país. Não há muitos anos, o lar era a unidade produtora da sociedade. Tudo se fabricava ali: o açúcar, o azeite, a farinha, o pão, o tecido. E, como única operária, a mulher nele imperava, empregando todas as suas atividades. Mas, as condições de vida mudaram. As máquinas, a eletricidade, substituindo o trabalho do homem, deram novo aspecto à vida. As condições financeiras da família exigiram da mulher nova adaptação. Através do funcionalismo e da indústria, ela passou a colaborar na esfera econômica. E, o resultado dessa mudança, foi a necessidade que ela sentiu de uma educação mais completa. As moças passaram a estudar nas mesmas escolas que os rapazes, para obter as mesmas oportunidades na vida. E assim foi que ingressaram nas carreiras liberais. Essa nova situação despertou-lhes o interesse pelas questões políticas e administrativas, pelas questões sociais. O lugar que ocupo neste momento nada mais significa, portanto, do que o fruto dessa evolução."

Teve valiosa participação na Revolução Constitucionalista de 1932 lutando pelos ideais democráticos defendidos por São Paulo.


Academia Nacional de Medicina

Eleita membro da Academia Nacional de Medicina em 1942, fundou, oito anos depois, a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, da qual foi presidente durante alguns anos. Apoiou o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, em 1964.

Escritora

Foi escritora e historiadora, com as publicações "Um Fazendeiro Paulista no Século XIX" e "Vida e Morte de um Capitão".

Homenagens

Homenageada com o monumento intitulado "Carlota Pereira de Queiroz", na Praça Califórnia, bairro de Pinheiros, Zona Oeste da Capital de São Paulo e com a Avenida Drª Carlota Pereira de Queiroz, no distrito de Socorro, localizado na região Sul de São Paulo.

Líbero Badarò

GIOVANNI BATTISTA LIBERO BADARÒ
(32 anos)
Jornalista, Político e Médico

* Laigueglia, Itália (1798)
+ São Paulo, SP (21/11/1830)

Giovanni Battista Libero Badarò nasceu em 1798, na vila de Laigueglia, perto de Gênova. Seu pai era um médico liberal de extraordinária erudição, como atestam gravuras retratando sua imensa biblioteca. Estudou em Gênova e Bolonha, antes de se formar em Medicina, em agosto de 1825, pela Universidade de Turim. Recém-formado, decidiu ganhar o mundo. Tinha 28 anos, mas parecia mais velho. Era alto e magro, usava longas suíças e óculos de lentes redondas.

Líbero Badarò chegou ao Brasil, em 1826, atraído por uma terra que, aos olhos de muitos, já era o país do futuro e uma das poucas nações governadas por um imperador tido como liberal que aceitava livremente a submeter-se a uma Constituição. No Brasil, ele nacionalizou-se, radicou-se. Ainda no Rio de Janeiro, tornou-se amigo de outro jornalista que se destacava pelas ideias liberais, Evaristo da Veiga. Em pouco tempo, ele e seus correligionários viram suas teses perderem terreno perante o avanço das forças conservadoras, diante das quais o imperador Dom Pedro I, que num dia de glória havia sido aclamado como "Protetor Perpétuo do Brasil", se isolava e assumia atitudes autoritárias a cada dia que passava.

Líbero Badarò chegou a São Paulo no início de 1828. Nessa época, os sinais de que a reação conservadora ganhava força estavam por toda a parte e seus líderes eram cada vez mais truculentos. Mesmo assim, ele lançou, em 23 de outubro de 1829, o seu "Observador Constitucional" - um bissemanário sem anúncios, de 30 cm de altura por 20 cm de largura, quatro páginas e vendido por 80 réis, impresso na tipografia do jornal que já circulava na cidade, "O Farol Paulistano", de José da Costa Carvalho, com quem se hospedou, antes de alugar uma pequena casa na Rua São José, atual Rua Líbero Badaró.

Em São Paulo, os reacionários ocupavam os principais cargos provinciais: o de governador, exercido numa interinidade sem fim pelo vice-governador e bispo Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, o de comandante de armas, coronel Carlos Maria de Oliva, e o de chefe do Poder Judiciário, o desembargador ouvidor Candido Ladislau Japi-Assú. Este odiava especialmente Líbero Badarò, por tê-lo lançado no ridículo ao induzi-lo a revelar seu ignorante conservadorismo, censurando peças teatrais que não existiam.

Os redutos liberais eram formados por alguns cidadãos que compunham a pequena burguesia, pelos estudantes da ainda incipiente Faculdade de Direito e pela maioria da Câmara Municipal, que chegou a requerer ao governador em exercício que tomasse providências diante do "procedimento anticonstitucional, arbitrário e tirânico do ouvidor". Apreensivos, seus amigos cuidavam para que não andasse só. Mas foi só que ele voltou para casa naquela noite de 20 de novembro de 1830.

Túmulo de Líbero Badarò
O Crime Aconteceu na Rua Que Hoje Leva Seu Nome

Líbero Badaró se aproximava de sua casa entre 22:30 hs e 23:00 hs de 20 de novembro de 1830, quando viu dois homens sentados nas proximidades. Na rua escura, iluminada apenas pela lua cheia, perguntaram-lhe se era o Drº João Baptista Badaró. Diante da resposta afirmativa, disseram que vinham de parte do ouvidor. Líbero Badarò mal teve tempo de dizer que não era amigo de Candido Ladislau Japi-Assú quando sentiu no ventre o impacto do tiro de pistola. A bala causou ferimentos internos incuráveis que lhe provocaram uma agonia dolorosa por quase 24 horas, tempo suficiente para que, na presença de testemunhas respeitadas na cidade, fosse interrogado pelo juiz José da Silva Merciana, cujos "autos da devassa" detalhadamente elaborados permitiram à polícia capturar alguns suspeitos.

Ao juiz, Líbero Badarò declarou que não conhecia os atacantes, mas pelo sotaque sabia que eram alemães e, indagado se tinha suspeita de quem eram os responsáveis, não hesitou em apontar como mandante o desembargador-ouvidor Candido Ladislau Japi-Assú. Era mais do que uma suspeita, pois até o escrivão da Ouvidoria, Amaro José Vieira, em seu depoimento posterior ao crime, disse tê-lo advertido diversas vezes que escutara de seu chefe afirmações de que pretendia matá-lo. O que o jornalista não sabia era que seu assassinato foi cuidadosamente planejado e sua execução - segundo pesquisa de Argimiro da Silveira, publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em 1890 -, começou numa chácara da Freguezia do Braz, quando ao tenente Carlos José da Costa, vindo do Rio de Janeiro para matá-lo, foi indicado o alemão Henrique Stock para acompanhá-lo, identificar e executar a vítima. Líbero Badarò faleceu em consequência de hemorragia interna, às 22:00 hs de 21 de novembro.

A notícia do atentado a Líbero Badarò se espalhou rapidamente e a pequena capital da Província de São Paulo viveu dias agitados, com grupos armados percorrendo as ruas exigindo a prisão dos autores e mandantes do crime. Henrique Stock e outro alemão logo foram presos, mas o ouvidor se refugiou na casa do comandante militar, de onde só saiu depois de uma negociação com o bispo-governador interino com a participação de outros membros do Conselho e Governo da Província, entre os quais se destacou o mais tarde regente, padre Diogo Antônio Feijó. A pretexto de protegê-lo da ira popular e sob a alegação de que o acusado gozava de foro privilegiado, foi decidido que Candido Ladislau Japi-Assú seria conduzido ao Rio de Janeiro, não preso, mas sob escolta, para lá ser julgado.

"(...) Terrível liberdade de imprensa, que clama a uns não matarás, a outros não prenderás, não substituirás o teu interesse ao dos mais; não te servirás de autoridade pública para satisfazer as tuas vinganças, não sacrificarás o teu dever ao poder! Incapazes de resistir à evidência dos argumentos positivos sobre que se apoia a necessidade de imprensa, os amigos das trevas se vestem da capa da moral e do sossego público, apontam os abusos desta liberdade, a calúnia, a difamação, as provocações diárias, os axincalhes continuados, que tornam a vida um suplício. É, meu Deus! Os abusos? E do que se não abusa neste mundo? Forte raciocínio! E porque se abusa de uma qualquer cousa, já, já suprima-se? E aonde iríamos com estas supressões? Um mau juiz abusa do seu ministério: suprima-se a magistratura; um mau sacerdote abusa da religião: suprima-se a religião; um mau marido abusa do matrimônio: suprima-se o matrimônio! Forte raciocínio, dizemos outra vez! Suprimam-se os abusos que será melhor. A lei contra os abusos existe; sirvam-se dela; e se não é boa, faça-se outra; e liberdade a todos de esclarecerem os legisladores, pela imprensa livre (...)"

(Texto de autoria de Líbero Badaró, publicado no jornal Observatório Constitucional)

Última frase: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade!"

Henrique Stock foi julgado pela Junta de Justiça de São Paulo, que o condenou a "galés perpétuas", iniciando o cumprimento da pena em Guarapuava, no Sudoeste do Paraná. O julgamento de sua apelação da sentença foi transferido para o Rio de Janeiro e entregue ao Tribunal da Relação, cujos membros, em 18 de junho de 1831, haviam absolvido seu colega Candido Ladislau Japi-Assú, decisão aplicada também ao alemão acusado de autor material do assassinato.

Líbero Badaró foi o primeiro jornalista assassinado no Brasil em virtude do ofício que exercia e o primeiro caso em que os assassinos, beneficiados por suas relações, viveram o resto de suas vidas na impunidade, apesar das provas que os incriminavam.

Cinquenta e nove anos mais tarde, alguns dias após a Proclamação da República, a urna mortuária do jornalista foi transferida da cripta da Capela do Carmo para o Cemitério da Consolação.

Fonte: Da Boca Sai

Vital Brazil

VITAL BRAZIL MINEIRO DA CAMPANHA
(85 anos)
Médico Imunologista e Pesquisador Biomédico

* Campanha, MG (28/04/1865)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/05/1950)

Filho de José Manuel dos Santos Pereira Junior e de Maria Carolina Pereira de Magalhães, foi casado em primeiras núpcias com sua prima em segundo grau, Maria da Conceição Filipina de Magalhães. Viúvo da primeira, casou-se, então, com Dinah Carneiro Vianna. Pelo ramo de sua mãe - os Pereiras de Magalhães - Vital tinha consanguinidade com o protomártir da Independência do Brasil, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e era, ainda, sobrinho neto materno do professor major Joaquim Leonel Pereira de Magalhães, que era, igualmente, avô paterno da primeira mulher de Vital - Maria da Conceição Filipina de Magalhães. Vital era tio do célebre empresário e mecenas das artes Oscar Americano de Caldas Filho, mais conhecido por Oscar Americano. Por parte de pai, era primo em primeiro grau do 9º Presidente do Brasil (1914 - 1918), Venceslau Brás Pereira Gomes.

Um aspecto inusitado em sua família foi o fato de o seu pai não ter dado o próprio sobrenome aos filhos, substituindo-o por outros com características quase que exclusivamente toponímicas brasileiras. Assim, conforme relata o filho de Vital Brazil, Lael Vital Brazil, no seu livro "Vital Brazil Mineiro da Campanha", uma genealogia brasileira, as crianças foram registradas com os seguintes nomes:

  • Vital Brazil Mineiro da Campanha - Por ter recebido a vida (Vital) no Brasil, em Minas Gerais, na cidade de Campanha.
  • Maria Gabriela do Vale do Sapucaí, por ter nascido no vale do Rio Sapucaí.
  • Iracema Ema do Vale do Sapucaí.
  • Judith Parasita de Caldas, por ter nascido em Poços de Caldas.
  • Acacia Sensitiva Indígena de Caldas.
  • Oscar Americano de Caldas (pai de Oscar Americano).
  • Fileta Camponesa de Caldas.
  • Eunice Peregrina de Caldas.

Vital Brazil estudou medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em meio a grandes dificuldades financeiras, vindo a formar-se com brilhantismo em 1891. Retornando a São Paulo, clinicou em várias cidades do interior do Estado. Nessa época, presenciou a morte de várias pessoas, principalmente lavradores, vítimas de picadas de serpentes.

Como médico sanitarista, participou das brigadas de combate à febre amarela e à peste bubônica em várias cidades no Estado de São Paulo. Coincidentemente, algumas décadas mais tarde, seu primo - pelo ramo Pereira de Magalhães - Drº Adhemar Paoliello, igualmente formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro dedicar-se-ia, também como sanitarista, ao mesmo ideal de combater a febre amarela e a peste bubônica no Brasil e no exterior.

Além do seu trabalho como médico, Vital Brazil também criou uma das primeiras escolas do Brasil que alfabetizavam crianças de dia e adultos à noite. Desenvolveu materiais de informação, especialmente voltados para a população do campo, sobre como se proteger das cobras e outros animais peçonhentos. Criou uma caixa de madeira, barata e segura, para que os fazendeiros pudessem capturar as cobras; firmou convênios com as estradas de ferro, para transportá-las, pois eram essenciais à fabricação do soro.

A convite do governo estadual, Vital Brazil ingressou, em 1897, no Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, dirigido por Adolfo Lutz. Foi então que tiveram início suas pesquisas. Trabalhou junto com Oswaldo Cruz e Emílio Ribas no combate à peste bubônica, ao tifo, à varíola e à febre amarela.

Recebeu do governo de Rodrigues Alves a Fazenda Butantan, às margens do Rio Pinheiros, em São Paulo, onde posteriormente viria a se instalar o Instituto Butantan. Foram lá desenvolvidos, com escassos recursos, importantes trabalhos de pesquisa e produção de medicamentos. Os primeiros tubos de soro antipestoso começaram a ser entregues após quatro meses de trabalho.

Em 1903, surgiu o soro antiofídico, desenvolvido a partir do Piroplasma Vitalli, parasita no sangue dos cães. Após este evento outros soros foram produzidos no Instituto Butantan. Também foram produzidas vacinas contra tifo, varíola, tétano, psitacose, disenteria bacilar e BCG. As sulfuras e as penicilinas vieram mais tarde. As picadas de aranhas venenosas, escorpião e lacraias deram origem a novos soros. Frequentou por longo tempo o Instituto Pasteur. Também é o fundador do Instituto Vital Brazil, em Niterói.

Vital Brazil tornou-se mundialmente conhecido pela descoberta da especificidade do soro antiofídico, do soro contra picadas de aranha, do soro antitetânico e antidiftérico e do tratamento para picada de escorpião.

A Importância da Especificidade

A descoberta de Vital Brazil sobre a especificidade dos soros antipeçonhentos estabeleceu um novo conceito na imunologia, e seu trabalho sobre a dosagem dos soros antiofídicos gerou tecnologia inédita. A criação dos soros antipeçonhentos específicos e o antiofídico polivalente ofereceu à Medicina, pela primeira vez, um produto realmente eficaz no tratamento do acidente ofídico que, sem substituto, permanece salvando centenas de vidas nos últimos cem anos.

Consagrado em congresso científico nos Estados Unidos em 1915, o seu trabalho logo despertou o interesse da Europa, onde se encontrava a vanguarda da pesquisa médica da época, e lhe valeu o reconhecimento mundial. O Instituto Butantan representa um marco na ciência experimental brasileira. Desenvolvendo significativo número de pesquisas de elevado teor cientifico, educando as populações rurais na adoção do tratamento e na prevenção de acidentes ofídicos e criando aquela que foi, possivelmente, a primeira escola de alfabetização de adultos, esse Instituto desempenhou importante papel social na época e tornou-se conhecido e famoso no mundo todo.


Instituto Butantan

Vital Brazil foi o criador do Instituto Butantan, em São Paulo, que foi instalado em uma fazenda antiga e distante da cidade, comprada pelo governo do estado de São Paulo para que lá funcionasse um laboratório para a produção de vacinas.

O documento de compra da fazenda tem a data de 24 de dezembro de 1899. A partir desse começo precário e difícil, o Instituto cresceu rapidamente. Em 1901 já produzia os soros antipestoso e antiofídico, daí ter recebido o nome de Instituto Serunterápico do Estado de São Paulo. Em 1925, passou a se chamar Instituto Butantan.

O Instituto continua um centro de referência e excelência, em diversas áreas científicas.


Instituto Vital Brazil

Após deixar a direção do Instituto Butantan, em 1919, Vital Brazil foi para o Rio de Janeiro. Apesar de convidado por Carlos Chagas para trabalhar em Manguinhos (renomeada FioCruz), resolveu fundar um novo laboratório, por achar que o Brasil necessitava de mais instituições científicas, onde o estudo e a pesquisa se ocupassem da solução de seus graves problemas.

Fundou, em Niterói, com o apoio do então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Drº Raul de Morais Veiga, o Instituto Vital Brazil, o atual Instituto Vital Brazil S.A. (Centro de Pesquisas, Ensino, Desenvolvimento e Produção de Imunobiológicos, Medicamentos, Insumos e Tecnologia para Saúde), em julho de 1919.

As atuais instalações, considerado uma jóia da arquitetura moderna, projetadas e construídas por Álvaro Vital Brazil, então com 34 anos, filho do cientista Vital Brazil, um dos grandes nomes da arquitetura moderna brasileira ao lado de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, foram inauguradas em 11 de setembro de 1943 com a presença do presidente da República, Getúlio Vargas. Ocupam uma área de 100 mil m² e edificação de 20 mil m², no bairro de Vital Brazil, na cidade de Niterói, RJ.

Sua seriedade, perseverança e dedicação fizeram deste Instituto outro importante centro de pesquisas, único por sua organização em âmbito nacional e reconhecido internacionalmente como estabelecimento científico pelos trabalhos de valor aí realizados. Muitos estudantes brasileiros e estrangeiros se iniciaram na carreira de pesquisadores estagiando nos laboratórios desse Instituto, formador de cientistas.


Família e Filhos Célebres

Vital Brazil constituiu família por duas vezes, a primeira em 1892, logo após sua formatura, com Maria da Conceição Philipina de Magalhães, sua prima em segundo grau, com quem teve 12 filhos, dos quais apenas nove chegaram à idade adulta. Viúvo em 1913, casou-se novamente em 1920 com Dinah Carneiro Vianna, com quem teve mais nove filhos. Dezoito filhos chegaram à idade adulta, nove do primeiro e nove do segundo casamento. Seis homens e três mulheres de cada um deles. Alguns dos filhos de Vital Brazil viraram figuras célebres, Vital Brazil Filho como médico e cientista e o arquiteto e engenheiro Álvaro Vital Brazil.

  • Vital Brazil Filho, dá nome à rua onde está instalada a Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense e ao Diretório Acadêmico, pois foi um dos fundadores da faculdade, juntamente com Américo Braga. Seria o seguidor do pai, mas morreu de Septicemia, pega durante experiência em laboratório: coçou o nariz com a mão contaminada com germes e microrganismos.
  • Oswaldo, ganhou o nome em homenagem ao cientista Oswaldo Cruz, trabalhou ao lado do pai, mas fez carreira científica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em farmacologia, foi professor e cientista.
  • Enos, médico veterinário, foi chefe da Cadeira de Farmacologia da Unicamp e vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.
  • Horus, médico pela Faculdade Fluminense de Medicina, onde foi aluno brilhante . Um dos fundadores da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, Horus (SPID) foi professor, supervisor e analista de várias gerações de psicanalistas. Era um estudioso da teoria e da clínica, seguidor de Freud e se empenhou em difundir a psicanálise. Manteve grupos de estudo até pouco antes de morrer. Publicou muitos livros e artigos, entre eles "Psicanálise Cem Anos Depois" e outros ensaios e "Poesias Acontecidas".
  • Alvarina casou-se com Augusto Esteves, administrador e ilustrador científico do Instituto Vital Brazil e um dos primeiros colaboradores do cientista Vital Brazil, com quem veio de São Paulo, em 1919. Ele impressionava pelo preciosismo: contava até as escamas das cobras para desenhá-las a cores. Foi ele também quem desenhou as embalagens, o escudo, o prédio etc. Dominava a técnica de bico-de-pena e hoje tem uma sala em sua homenagem na Universidade de São Paulo, onde trabalhou depois da morte de Vital Brazil.
  • Acácia Brazil é uma harpista consagrada mundialmente. Iniciou os estudos de música em harpa ainda menina.
  • Vitalina também dedicou-se à música. Era pianista e fez muitas apresentações na Europa, principalmente na França.
  • Álvaro Vital Brazil formou-se em Engenharia e Arquitetura. Contemporâneo e amigo de Oscar Niemeyer, Burle Marx e Lúcio Costa, deu destaque ao Modernismo no Brasil. Construiu a atual sede do Instituto Vital Brazile o Edifício Esther, em São Paulo, entre outros. Foi um dos grandes nomes brasileiros do estilo moderno de construir e foi homenageado em livros especializados.
  • Lael perpetua as histórias da família Vital Brazil, a árvore genealógica e o trabalho do pai em quatro livros e discursos publicados. É aviador aposentado.
  • Augusto Esteves foi o primeiro ilustrador científico do país. Começou a desenhar quando ainda era criança. Também pintava quadros e escrevia poesias caipiras, que assinava com o codinome Mane Coivara. Entre os irmãos e parentes próximos era chamado de Sinhô. Viveu de 1891 a 1966. Ele deu importante contribuição ao ensino da ciência e é homenageado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.


Homenagens

  • Há na cidade de São Paulo a Avenida Vital Brasil, via mais importante do Bairro do Butantã, zona Oeste da cidade. A avenida termina no acesso à portaria do Instituto Butantan, uma homenagem interessante ao mais ilustre de seus pesquisadores.
  • O bairro onde situa-se a sede do Instituto Vital Brazil em Niterói chama-se Vital Brazil. Uma importante avenida nesta cidade também chama-se Vital Brazil em sua homenagem.
  • Na cidade de Campanha, Minas Gerais, a casa onde o cientista nasceu abriga hoje um museu, Museu Vital Brazil. Construída em 1830, com arquitetura do período colonial, telhas feitas a mão por escravos e paredes de pau-a-pique. Ali estão expostos aos visitantes pesquisas, documentos, certidões, fotografias e livros. Inauguração aconteceu em 1988, o local funciona hoje como centro divulgador dos trabalhos e da vida do cientista.
  • A Casa da Moeda do Brasil expediu uma cédula no valor de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) cujo anverso era a efígie do cientista Vital Brazil, tendo a esquerda, gravura que representa cena clássica de extração do veneno, tarefa básica para a produção de soros, e o reverso um painel calcográfico mostrando um antigo serpentário, com destaque para a cena de cobra muçurana devorando uma jararaca.
  • A barca Vital Brazil é uma das embarcações em uso pela concessionária Barcas S/A, que realiza o transporte de passageiros entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói.
  • Pelo Projeto de Lei 1604/2003 do Congresso Nacional, o nome do cientista Vital Brazil entra para o Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, no subsolo da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
  • Um livro biográfico sobre Vital Brazil faz parte da séria "Nomes do Brasil", que homenageia algumas das principais personalidades do país, como Carmem Miranda e Princesa Isabel.
  • Vital Brazil dá nome à rodovia BR 267, que liga Juiz de Fora a Poços de Caldas, ambas em Minas Gerais. Com cerca de 200 Km, a estrada foi batizada em 1965 (centenário de nascimento do cientista) pelo Presidente da República, Castelo Branco.

Fonte: Wikipédia

Juliano Moreira

JULIANO MOREIRA
(59 anos)
Médico e Professor

* Salvador, BA (06/01/1873)
+ Rio de Janeiro, RJ (02/05/1932)

Juliano Moreira foi médico e um dos pioneiros da psiquiatria brasileira. O primeiro professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica no seu ensino na Faculdade de Medicina.

Nascido em Salvador, negro e de origem pobre, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1886, formando-se aos dezoito anos, em 1891, e se tornando professor da Faculdade.

Já em 1900 representa o Brasil em congressos internacionais: em Paris, neste ano - sendo também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de assistência a alienados, em Berlim. Também foi congressista brasileiro em Lisboa, em 1906, Milão e Amsterdão em 1907, Londres e Bruxelas em 1913.

Em 1903, após ter exercido a clínica psiquiátrica na Faculdade Baiana, mudou-se para o Rio de Janeiro.


Durante seu trabalho na direção do Hospital Nacional dos Alienados, do Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento dos pacientes. Foi neste período, entre maio e junho de 1910, que o hospital recebeu o ilustre líder da Revolta da Chibata, João Cândido, para tratamento de uma psicose de exaustão.

Criou o manicômio judiciário, adquiriu o terreno para construção do atual Hospital-Colônia Juliano Moreira e fundou a nova colônia para mulheres dementes.

Em seu trabalho clínico eliminou coletes e camisas-de-força e instalou um laboratório de análises, a partir do qual iniciou-se, no Brasil, a rotina de punções lombares para elucidação de diagnóstico. Professor de neurologia e psiquiatria e pesquisador de doenças tropicais, deixou importantes trabalhos sobre o ainhum, a bouba, a leishmaniose e a lepra, e os livros "Assistência Aos Alienados no Brasil" (1906) e "A Evolução da Medicina no Brasil" (1908). 


Defendeu a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando o pensamento racista em voga no meio acadêmico, que atribuia os problemas psicológicos do Brasil à miscigenação. Foi importante representante internacional da psiquiatria brasileira.

Dentre as instituições das quais foi membro Juliano Moreira, contam-se: Antropolegische Gesellschaft (Munique), Societé de Medicine (Paris), Medico-Legal Society (Nova York). Juliano Moreira foi membro da diretoria da Academia Brasileira de Ciências entre 1917 e 1929, tendo ocupado o cargo de presidente no último triênio.

Fonte: Wikipédia

Miguel Couto

MIGUEL DE OLIVEIRA COUTO
(69 anos)
Médico, Professor e Político

☼ Rio de Janeiro, RJ (01/05/1865)
┼ Rio de Janeiro, RJ (06/06/1934)

Miguel Couto foi um médico clínico geral, político e professor, nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 01/05/1865.

Filho de Francisco de Oliveira Couto e de Maria Rosa do Espírito Santo, pai de Miguel Couto Filho e de Elza Couto Bastos Netto. Diplomou-se pela Academia Imperial de Medicina em 1883, foi assistente da cadeira de Clínica Médica até doutorar-se em 1885.

Membro-titular da Academia Nacional de Medicina desde 1886, foi eleito seu presidente em 1914 e reconduzido ao cargo até seu falecimento em 1934. Titular de três cátedras na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1916.

Pesquisador na área de saúde pública, deixou extensa obra nesse setor. Desde 1927, presidente-honorário da Associação Brasileira de Educação. Na cerimônia em que lhe foi conferido o título, proferiu conferência cujo título se tornou um lema da associação na época: "No Brasil, só há um problema: a educação do povo!".


Deixou vasta obra, destacando-se: "Contribuição Para o Estudo das Desordens Funcionais do Pneumogástrico na Influenza", "A Gangrena Gasosa Fulminante", "Diagnóstico Precoce da Febre Amarela Pelo Exame Espectroscópico da Urina" e "Lições de Clínica Médica".

Miguel Couto foi deputado na Assembléia Nacional Constituinte de 1934 eleito pelo Distrito Federal de então, a atual cidade do Rio de Janeiro. Defendeu o fim da imigração japonesa no Brasil. O resultado foi a aprovação por larga maioria de uma emenda constitucional que estabelecia cotas de imigração sem fazer menção a raça ou nacionalidade e que proibia a concentração populacional de imigrantes. Segundo o texto constitucional, o Brasil só poderia receber, por ano, no máximo dois por cento do total de ingressantes de cada nacionalidade que havia sido recebida nos últimos 50 anos. A política de cotas não afetou a imigração de europeus mas prejudicou a imigração de japoneses e, futuramente, de chineses e de coreanos.

O seu nome batiza o Hospital Municipal Miguel Couto, na cidade do Rio de Janeiro, referência nacional em ortopedia e em traumatologia.

Fonte: Wikipédia

Carlos Chagas

CARLOS JUSTINIANO RIBEIRO CHAGAS
(56 anos)
Médico, Cientista e Bacteriologista

* Oliveira, MG (09/07/1878)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/11/1934)

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um médico sanitarista, cientista e bacteriologista brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil, iniciou sua carreira no combate à malária. Destacou-se ao descobrir o protozoário Trypanosoma Cruzi, cujo nome foi uma homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz e a Tripanossomíase Americana, conhecida como Doença de Chagas. Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.

Foi diversas vezes laureado com prêmios de instituições do mundo inteiro, sendo as principais como membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e Doutor Honoris Causa da Universidade de Harvard e Universidade de Paris. Também trabalhou no combate à leptospirose e às doenças venéreas, além de ter sido o segundo diretor do Instituto Oswaldo Cruz.

Infância e Juventude

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no município de Oliveira, Minas Gerais, em 9 de julho de 1878, filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O lugar de seu nascimento foi na Fazenda Bom Retiro, onde seus antepassados, de ascendência portuguesa, se enraizaram.

Seu pai, cafeicultor, morreu quando Carlos Chagas tinha quatro anos de idade, ficando a cargo de sua mãe a administração do cultivo de café e da criação dele e de seus outros quatro irmãos: Maria Rita, José (que morreu com três anos de idade), Marieta e Serafim. Eles foram morar em outra propriedade da família, a Fazenda Boa Vista, próxima a Juiz de Fora, também no estado de Minas Gerais.

Em Oliveira, teve convivência direta com três tios maternos, Cícero, Olegário e Carlos. Os dois primeiros eram advogados formados em São Paulo e incentivaram o sobrinho a se dedicar aos estudos. Porém, o último, era formado em medicina e organizou uma casa de saúde na cidade. As ações desse tio o influenciaram para seguir a carreira médica.

Aos oito anos de idade e já alfabetizado, foi matriculado no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, interior de São Paulo, mas fogiu do internato em 1888, para ir ao encontro da mãe, em Juiz de Fora, ao saber que os escravos recém-libertados estariam depredando fazendas. A punição para essa fuga foi a expulsão de Carlos Chagas do colégio pelos padres jesuítas.

Após encerrar os estudos secundários, Carlos Chagas ingressou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo formado em engenharia. Aí, com a companhia de colegas do curso, aderiu a vida boêmia. Adoentado, em 1896, depois de reprovado nos exames, voltou para Oliveira.

Estudos

Durante o tempo de recuperação em sua cidade-natal, seu tio Carlos fortaleceu a vontade de Carlos Chagas em ser médico e ajudou-o a vencer a barreira de sua mãe, que acabou aceitando a opção de seu filho. Seguiu então para São Paulo, para obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico. Conseguindo tal certificado, em fevereiro de 1897, seguiu para o Rio de Janeiro a fim de entrar à Faculdade de Medicina.

Aos 18 anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde este mesmo tio trabalhava, em abril de 1897. Tal faculdade vivia uma "revolução pasteuriana", pois havia adquirido as teses de Louis Pasteur e estava passando por um processo de renovação. Carlos Chagas, assim, também leva essas idéias adiante em seu trabalho.

Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira: Miguel Couto, que apresentou a Carlos Chagas as noções e as práticas da clínica moderna e com quem passaria a ter uma estreita amizade, e Francisco Fajardo, que colocou Carlos Chagas no estudo de doenças tropicais, especialmente da malária, e que seria de grande importância para sua futura carreira. Assim, esses dois professores apresentaram os dois caminhos que se abriram para Carlos Chagas no decorrer de seu curso médico: a clínica e a pesquisa científica.

Concluído o curso, em 1902, para elaborar sua tese, pré-requisito para o exercício da medicina, dirigiu-se ao  Instituto Soroterápico Federal, na Fazenda de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor, Miguel Couto, a Oswaldo Cruz, diretor do Instituto, onde teve seu primeiro contato com aquele que veio a trabalhar, ser seu grande mestre e tornar-se amigo.

Aceito e orientado por  Oswaldo Cruz, Carlos Chagas começou a trabalhar no Instituto Soroterápico Federal, que após 1908 passou-se a chamar Instituto Oswaldo Cruz, e elegeu como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sangüínea". Assim, em março de 1903, estava concluído a sua tese, o "Estudo Hematológico do Impaludismo" e em maio do mesmo ano terminou seus estudos.

Oswaldo Cruz, que assumiu simultaneamente a direção de Manguinhos e a Diretoria Geral de Saúde Pública, nomeou Carlos Chagas como médico do instituto, cargo que foi recusado por preferir, em 1904 trabalhar como clínico no Hospital de Jurujuba, em Niterói. Nesse ano instalou seu laboratório particular no Rio de Janeiro e casou-se com Íris Lobo, que dessa união nasceriam seus dois filhos, Evandro (1905) e Carlos Filho (1910). Ambos seguiriam a carreira médica do pai.

Combate a Malária

Devido à tese de doutorado sobre a malária, em 1901 foi recrutado por Oswaldo Cruz para missão de controlar a doença em Itatinga, interior de São Paulo, que atacava a maioria dos trabalhadores da Companhia Docas de Santos, que construía uma represa na região, causando a paralisação das obras. Assim, realizou a primeira ação bem-sucedida contra a malária no Brasil, colocando em prática procedimentos que mais tarde se tornariam corriqueiros nas outras campanhas.

Segundo ele, para se impedir a propagação da doença em regiões em que não havia ações sistemáticas de saneamento, fazia-se necessário concentrar as medidas preventivas nos locais onde viviam os homens e os mosquitos infectados com o parasito da malária. Seguindo tal orientação, em cinco meses Carlos Chagas conseguiu debelar o surto da doença - fato que serviu de base para o efetivo combate à moléstia no mundo inteiro.

De volta ao Rio de Janeiro, Carlos Chagas continuou servindo a Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 19 de março de 1906, transferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz. Foi solicitado, no ano seguinte, pela Diretoria Geral, a organizar o saneamento na Baixada Fluminense, onde estava acontecendo obras para a captação e bombeamento de água ao Rio de Janeiro. Junto com Arthur Neiva, seguiu para Xerém, e os resultados positivos que conseguiu nessa obra confirmaram a sua teoria da infecção domiciliar da malária.

Doença de Chagas

Em junho de 1907 Carlos Chagas foi enviado pelo Instituto Oswaldo Cruz à cidade de Lassance, Minas Gerais, perto do Rio São Francisco, para combater uma epidemia de malária entre os trabalhadores de uma nova linha de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, instalando-se durante dois anos num vagão de trem, montando um pequeno laboratório e um consultório para atendimento dos doentes.

Neste tempo, capturou, classificou e estudou os hábitos dos anofelinos, mosquitos transmissores da doença, e examinou o sangue de animais em busca de parasitas. Assim, Carlos Chagas identificou no sangue de um sagüi uma nova espécie de protozoário, ao qual deu o nome de Trypanosoma Minasensis. Um engenheiro da ferrovia alertou-o para a infestação de um inseto hematófago nas residências rurais, da espécie Triatoma Infestans, conhecido como Barbeiro, assim chamado porque suga o sangue das pessoas durante a noite, atacando o rosto delas. Carlos Chagas levou alguns deles ao seu laboratório e percebeu que nos seus intestinos havia outros Trypanosoma Minasensis, já numa fase evoluída.

Por Lassance não ter condições para uma pesquisa mais aprofundada, enviou alguns exemplares de barbeiros para Oswaldo Cruz, pedindo que os alimentasse em sagüis. Um mês depois, foi comunicado da presença de tripanossomos no sangue dos animais. Voltou ao Rio de Janeiro para confirmar a pesquisa, e descobriu que não se tratava dos Trypanosoma Minasensis, mas de uma nova espécie. Carlos Chagas chamou esse novo parasita de Trypanosoma Cruzi e mais tarde batizou de Schizotrypanum Cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz.

Retornando a Lassance, Carlos Chagas suspeitava que o parasita poderia causar algum mal aos outros animais e aos humanos, visto que o barbeiro estava sempre em lugares freqüentados por pessoas e o hábito desse inseto em mordê-las. Recolheu amostras de sangue de um gato infectado em 14 de fevereiro de 1909 e, em 23 de abril do mesmo ano, descobriu o Trypanosoma em uma menina de três anos, chamada Berenice, que apresentava febre e anemia. Tal tripanossoma foi o segundo descoberto a causar uma doença, a Tripanossomíase Americana, pois até então o único confirmado é o causador da doença do sono, ou Tripanossomíase Africana, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.

Também observou inclusões parasitas no cérebro e no miocárdio dela, que poderiam explicar algumas manifestações clínicas em pessoas doentes. Para completar seu trabalho sobre a patologia da nova doença, o cientista descreveu 27 casos de formas agudas e realizou mais de cem autópsias de pacientes que tinham a forma crônica da doença. Se concluiu, então, o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (barbeiro), o agente causal (Trypanosoma Cruzi), o reservatório doméstico (gato), a doença nos humanos (o caso de Berenice) e suas complicações. Ao longo da pesquisa, Carlos Chagas propôs algumas complicações da doença que, mais tarde, mostraram-se equivocadas. Exemplo disso foi ao anunciar que o bócio era um sintoma da Tripanossomíase Americana. O trabalho que Carlos Chagas realizou foi o primeiro e o único na história da medicina, descrevendo completamente a nova doença infecciosa: anatomia patológica, o meio de transmissão (Triatoma Infestans), etiologia, suas formas clínicas e sua epidemiologia.

Carlos Chagas também foi o primeiro a descobrir o gênero Pneumocystis, um fungo parasita nos pulmões dos animais experimentalmente infectados com tripanossoma. Nessa altura ele não o reconheceu como um organismo distinto e portanto ele descreveu o gênero Schizotrypanum de modo a acomodar ambos os ciclos de vida, que ele ilustrou. Porém, a sua descoberta levou outros a aprofundar a investigação e descrever Pneumocystis como um gênero distinto, que agora é reconhecido como um fungo. Carlos Chagas, seguia atentamente a literatura e rapidamente confirmou a distinção, pelo que novamente adotou o nome Trypanosoma Cruzi que havia originalmente cunhado. Pneumocystis é agora associado a uma outra doença, PCP ou Pneumocistose, causada por uma espécie (P. Jirovecii), mas a espécie original de Pneumocystis, observada por Carlos Chagas em espécies de porquinho-da-Índia, não foi ainda nomeada como uma espécie separada.

Repercussão da Descoberta

A descoberta da doença foi levada ao conhecimento da comunidade científica através de uma nota prévia escrita por Carlos Chagas em 15 de abril de 1909 e publicada na Revista Brasil-Médico em 22 de abril. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou formalmente a Academia Nacional de Medicina, que decidiu levar a Lassance uma comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, presidente da comissão, sugeriu que a nova doença se chamasse Doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas preferia chamar a doença como Tripanossomíase Americana.

Na Europa o trabalho teve repercussão em revistas científicas, em especial na Alemanha e na França, pois esses países tinham interesses em doenças tropicais, visto que a Tripanossomíase Africana vinha prejudicando o plano imperialista em tal continente.

Em agosto de 1909 Carlos Chagas publicou o primeiro volume da revista do Instituto de Manguinhos, "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz", um estudo completo sobre a Doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário que causa da doença. Esse trabalho garantiu a ascensão do cientista na instituição, sendo promovido a "chefe de serviço" em março de 1910.

Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como membro honorário, já que tal entidade não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade, Carlos Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença. Em 1911 divulgou os resultados à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais e, em agosto, uma segunda conferência à Academia Nacional de Medicina. Nesse mesmo ano ocorreu a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha, onde, no pavilhão brasileiro, foi mostrado a doença, que despertou grande público. Em 1912 foi a vez da classe médica paulista recebê-lo para uma apresentação sobre a doença descoberta em Lassance.

O estudo da moléstia avançou nas décadas de 1940 e 1950 através do Instituto Oswaldo Cruz, no município mineiro de Bambuí.

Expedição à Amazônia

Na década de 1910, o Instituto Oswaldo Cruz promoveu viagens científicas no interior brasileiro, com o objetivo de investigar os problemas médicos do país. Em 1912, com a crise do extrativismo da borracha na Amazônia, o governo federal firmou parceria com a instituição para verificar as condições de salubridade do vale do Rio Amazonas e elaborar um plano de exploração racional dos recursos naturais.

Assim, em agosto de 1912, Carlos Chagas liderou um grupo que incluía mais dois cientistas e um fotógrafo, onde visitaram a população ribeirinha do Rio Solimões, Rio Negro e Rio Purus, e analisaram as condições de moradia, abastecimento de água, esgoto, alimentação e assistência médica. Também realizaram observações clínicas sobre as epidemias que assolavam a região, em especial a malária. Também foram recolhidas amostras de plantas de cunho medicinal, insetos causadores de doenças e peixes foram analisados em busca de novos parasitas.

A expedição encerrou-se em março de 1913, e os resultados encontrados foram expostos por Carlos Chagas em outubro daquele ano, na Conferência Nacional da Borracha, organizada pelo Senado Federal no Rio de Janeiro. Com tal conferência e o relatório escrito por Oswaldo Cruz e entregue para o Ministério da Agricultura, foi possível formar um panorama da situação de abandono social que a região vivia, sem assistência do Governo Federal. Também foi possível viabilizar o desenvolvimento econômico da região. Tal expedição foi fundamental para fortalecer o movimento que, ao longo da década de 1910, buscou alertar o governo para a importância do saneamento rural do país e para a necessidade de uma ampla reforma dos serviços de saúde pública brasileiros.

Gripe Espanhola

A Gripe Espanhola chegou ao Brasil em 1918 e, no Rio de Janeiro, tal enfermidade atacou dois terços da população (por volta de seiscentos mil habitantes) e fez onze mil vítimas, devido às precárias condições de higiene e saneamento, além da falta de assistência médica. Tal quadro fez com que o então presidente da República Wenceslau Braz convidasse Carlos Chagas a assumir o controle da situação.

Tal ação não foi fácil, pelo fato do próprio estar doente, além de sua mulher e de seus filhos. Porém, dentre suas atitudes, criou um serviço especial de postos de atendimento à população em vinte e sete pontos diferentes da cidade. Ao mesmo tempo que providenciou tal tarefa, criou cinco hospitais emergenciais e publicou cartazes e panfletos de alerta aos habitantes e buscando apoio de profissionais da sua área, conseguindo ajuda da maioria dos clínicos cariocas e de vários membros da Academia Nacional de Medicina.

No Instituto Oswaldo Cruz, incentivou a pesquisa da doença, como causa da infecção, meio de contágio e diagnóstico. Carlos Chagas trabalhou integralmente para o desaparecimento da doença, em novembro do mesmo ano.

Direção do Instituto Oswaldo Cruz

Três dias após a morte de Oswaldo Cruz, em 14 de fevereiro de 1917, Carlos Chagas foi nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos através de um decreto presidencial. Ao assumir o cargo, buscou consolidar o modelo estabelecido por Oswaldo Cruz semelhante ao Instituto Pasteur, onde a autonomia administrativa e financeira eram as características principais, além de estreitar a relação entre a pesquisa, o ensino e a fabricação de produtos medicinais e veterinários.

No campo da pesquisa, sua administração ficou marcada pela investigação das principais epidemias que assolavam a zona rural brasileira em sua época, e com o objetivo de controlá-las, inaugurou em 1918 o Hospital Oswaldo Cruz, nas dependências do Instituto, para constituir em um centro de estudos para os pesquisadores do Instituto. Mais tarde, em 1942, o hospital passaria a ser chamado Hospital Evandro Chagas.

Carlos Chagas foi responsável pela criação de seções científicas independentes, separando-as por áreas de conhecimento, com o intuito de estabelecer uma divisão de trabalho mais nítida no Instituto. Assim, são instaladas seções de Química Aplicada, Micologia, Bacteriologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia. Quanto ao ensino, o cientista amplia o programa dos Cursos de Aplicação do Instituto, oferecidos desde 1908 como especialização em Microbiologia.

Na área de produção, Carlos Chagas diversificou os medicamentos e produtos fabricados no Instituto, com a estimulação do comércio dos mesmos e a renda gerada por eles tornou-se fundamental para o funcionamento da instituição. Uma medida para a expansão da área de Produção foi a criação do Serviço de Medicamentos Oficiais, destinado para produzir, entre outros medicamentos, a quinina, usada no combate à malária. Na década de 1920 o Instituto ficou responsável por verificar o controle de qualidade dos produtos utilizados na medicina brasileira, tanto os fabricados em laboratórios nacionais quanto os importados. Outra iniciativa foi a incorporação do Instituto Vacinogênio Municipal, ficando a cargo do Instituto Oswaldo Cruz a fabricação da vacina antivaríola.

Em 1920 a autonomia administrativa do Instituto ficou preservada, mesmo que estivesse subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Financeiramente, a autonomia assegurou-se graças ao regulamento criado por Carlos Chagas e aprovado em 1919, onde toda a receita gerada por trabalhos realizados em Manguinhos a pedido de particulares seria dividida igualmente entre a instituição e os funcionários que os executassem.

Porém, com o aumento das atividades do Instituto, no decorrer da década de 1920, acarretou num acúmulo de problemas financeiros, além das limitações orçamentárias agravadas pela crise econômica de 1929. Isso prejudicou o aperfeiçoamento tecnológico e a manutenção das instalações físicas da instituição, com uma conseqüente perda da qualidade dos produtos.

Tal quadro se agravou na década de 1930, onde, com a criação do Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas, aos poucos pôs-se o fim da autonomia administrativa e um aumento da intervenção do Estado. A nova ordem política brasileira trouxe conseqüências diretas a estrutura e o funcionamento de Manguinhos, que, sob a denominação de Departamento de Medicina Experimental, passou à jurisdição do recém-criado Ministério da Educação e Saúde. A partir desse momento até a sua morte, em 1934, Carlos Chagas enfrentou os efeitos da perda do modelo institucional criado por Oswaldo Cruz.


Direção do Departamento Nacional de Saúde Pública

Ao tomar posse em 1919, para reorganizar a saúde pública nacional, o presidente Epitácio Pessoa nomeou Carlos Chagas para a então Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), acumulando a função com aquela praticada em Manguinhos. Um ano seguinte tal instituição se chamaria Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), ligado ao Ministério da Justiça de Negócios Exteriores.

Sua primeira atitude, exposta na Bilbioteca Nacional em fevereiro de 1921, foi a centralização das atividades, que até então o  Departamento Nacional de Saúde Pública vinha trabalhando com a descentralização, onde os estados e municípios brasileiros tinham maior liberdade de organizar seus sistemas sanitários. Acordos com os mesmos foram essenciais para a segunda ação - a interiorização, em busca da erradicação das epidemias rurais, principalmente malária, ancilostomose e tripanossomíase americana. Em paralelo a esse projeto, criou um minucioso de medidas referentes à higiene pública.

Com apoio da Fundação Rockefeller, Carlos Chagas criou o Serviço de Enfermagem Sanitária e, com o desdobramento desse serviço, fundou, em 1923, a Escola de Enfermagem Anna Nery, introduzindo o ensino profissionalizante de Enfermagem no Brasil. Os alunos foram instruídos também no Hospital São Francisco de Assis, fundado também por Carlos Chagas para tal finalidade.

Carlos Chagas também foi responsável pela criação do primeiro curso de Higiene e Saúde Pública do Brasil, onde garantia vagas nos cargos federais aos aprovados. Como diretor do  Departamento Nacional de Saúde Pública, representou o país no Comitê de Higiene da Liga da Nações, associação sediada em Genebra e percussora da Organização Mundial de Saúde (OMS). O médico permaneceu à frente do órgão até novembro de 1926, ao fim do mandato do presidente Arthur Bernardes. O Departamento Nacional de Saúde Pública foi transferido para o Ministério da Educação e Saúde, em função da reforma política do Estado Novo.

Ensino Médico

Carlos Chagas acreditava que a ciência médica era sustentada por dois pilares: o primeiro defende uma estreita articulação entre o ensino e a pesquisa. O segundo dá importância de introduzir nos cursos de Medicina o estudo específico de doenças tropicais e o combate dos problemas de saúde pública brasileira, como malária, ancilostomose e tripanossomíase. Com isso, o país teria profissionais qualificados para tratar dos probelmas sanitários.

Em 1925, o Ministério da Justiça e Negócios Exteriores promoveu a reforma na educação brasileira, permitindo a Carlos Chagas pôr em prática o seu objetivo, criando a especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no ensino médico oftalmologista.

Morte

Carlos Chagas faleceu aos 55 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro vítima de um Infarto do Miocárdio.

Prêmios e Homenagens

Idealizador do Centro Internacional de Leprologia, Carlos Chagas recebeu diversas homenagens: uma herma na Praia de Botafogo foi construída em sua memória, de autoria do escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado e depois Cruzado Novo, terem circulado com sua imagem durante a década de 1980.

Quanto aos prêmios recebidos, em 1912 chegou o primeiro, o Prêmio Schaudinn, cedido pelo Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Em 1921 foi nomeado Artium Magistrum, Honoris Causa, da Universidade de Harvard, Estados Unidos. Em 1923 ganhou o Prêmio Hors-Concours, na conferência comemorativa sobre o centenário de Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, e em 1925 o Prêmio Kummel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha. Ainda receberia em 1926, 1929 e 1934 outros títulos Honoris Causa, vindos da Universidade de Paris, Universidade de Lima e Universidade Livre de Bruxelas, respectivamente.

Recebeu diplomas da Universidade Nacional de Buenos Aires (1917), da Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo (1925) e da Cruz Vermelha Alemã (1932). Foi nomeado membro da Academia Brasileira de Medicina em 1910, assim que o estudo foi divulgado. Como não havia vagas na época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à Société de Patologie Exótique da França (1919), à Physicans Club of Chicago, dos Estados Unidos (1921), à Associação Médica Panamericana (1922), da Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas (1924), à Academia de Medicina de New York e à Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle (1926), à Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1928), da Sociedade de Biologia de Buenos Aires e Academia de Medicina de Paris (1930).

Recebeu o título, em 1920, de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália. Em 1923 de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Em 1924 o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal. Em 1925 o de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha. Em 1926 Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha e em 1929 Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia. Além disso, Carlos Chagas recebeu duas indicações para o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, embora não tenha sido laureado.

Publicações
  • 1903 - Estudo hematológico do impaludismo, trabalho de tese para Doutorado, Rio de Janeiro.
  • 1909 - Nova espécie de tripanossoma humano, boletim da Société de Pathologie Exotique, Paris.
  • 1909 - Nova tripanossomíase humana, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
  • 1913 - As formas do novo tripanossoma.
  • 1913 - Revisão do ciclo de vida do tripanossoma cruzi, nota suplementar, Rio de Janeiro.
  • 1916 - Processos patogênicos da tripanossomíase americana, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
  • 1921 - Tripanossomíase americana: estudo do parasita e sua transmissão, The Chicago Medical Recorder, Chicago.
  • 1925 - Tripanossomíase americana, doença de Chagas, Berlim.
  • 1928 - Aspectos evolutivos do Trypanosoma cruzi e do inseto transmissor, notas da Société Biologique, Paris.
  • 1928 - Aterações decorrentes da doença de Chagas, Paris.
  • 1929 - Tripanossomíase americana, Doença de Chagas, En: Enrico Villela e H. da Rocha Lima, publicado na Handbuch der Tropenkrankheiten, Berlim.

Fonte: Wikipédia