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Brenda Lee

CÍCERO CAETANO LEONARDO
(48 anos)
Transexual e Militante dos Direitos LGBT

☼ Bodocó, PE (10/01/1948)
┼ São Paulo, SP (28/05/1996)

Cícero Caetano Leonardo, mais conhecido por Brenda Lee, foi um transexual, militante dos direitos LGBT, nascido em Bodocó, PE, no dia 10/01/1948. Brenda Lee foi considerada o "Anjo da Guarda das Travestis" e tinha como objetivo ajudar a todos, doentes ou não, que eram discriminados pela sociedade.

Nascida como Cícero Caetano Leonardo no interior de Pernambuco, Brenda Lee era muito efeminada ainda na infância, o que desde cedo lhe tornou alvo de preconceitos. Inicialmente adotou o nome social de Caetana, mas ao se estabelecer em São Paulo escolheu o nome que a tornaria conhecida: Brenda Lee.

Ela não fez sucesso por sua beleza, pelos trabalhos artísticos e muito menos por escândalos na televisão. Mesmo assim, tornou-se referência e exemplo de ser humano: Brenda Lee, um anjo bom do amparo, da doação e da entrega para aquelas que, expulsas pela família, tinham tudo para serem expulsas da vida. Uma militante dos direitos humanos e minorias e do grupo LGBT, que acolheu uma população sujeita à vulnerabilidade social.

Brenda Lee veio de Pernambuco para São Paulo aos 14 anos e se instalou no bairro Bixiga e fez muitas amizades ao comprar em 1984 uma casa e acolheu o primeiro portador do vírus HIV, numa época em que predominava muita desinformação e preconceito sobre a AIDS, quando até mesmo os familiares rejeitavam quem sofria dessa doença e não havia infraestrutura para acolher quem recebia alta hospitalar e não tinha onde morar. Esta casa se tornou uma pensão para travestis e transexuais, na Rua Major Diogo, 779.

Lúcio Mauro e Brenda Lee
Na Pensão da Caetana, como era chamada inicialmente, amparava jovens abandonados e abandonadas pela família, que até então não contavam com nenhum apoio do Governo e sequer das ONGs.

Brenda Lee era uma transexual alegre, sem papas na língua e devota de Nossa Senhora Aparecida. Usava saltos enormes, estava sempre com taillerus, grandes brincos e preferia frasqueiras a bolsas, disse Maria Luiza, amiga e presidente da Casa de Apoio Brenda Lee.

Tudo caminhava bem até que uma hóspede ficou acamada e uma série de outras travestis também adoeceram. Era a Peste Gay ou Câncer Gay, títulos que a mídia sensacionalista tratava a AIDS, propagando a desinformação. Porém, ao contrário do que pensavam na época e da maioria das reações, as garotas não foram expulsas da pensão, muito menos estiveram fadadas à morte social. Na verdade, foram acolhidas por Brenda Lee, cuidadas e atendidas à medida do possível.

Outras transexuais saudáveis abandonaram a pensão, com receio do contágio, mas Brenda Lee seguiu firme no apoio, se desfez da pensão e automaticamente, sem saber aonde a ação daria, criou um centro de apoio.

Com o tempo, perdeu quase tudo, mas ganhou o apoio do Hospital Emílio Ribas, ainda que sem remédios. Seu nome ganhou repercussão na tevê, foi parabenizada pela apresentadora Hebe Camargo, e convidada a vários eventos com a intenção de angariar fundos. Porém, muitos a enganaram, querendo se promover às custas do espaço, sem qualquer tipo de ajuda.

Brenda Lee e Hebe Camargo
As dificuldades aumentaram, Brenda Lee cogitou se prostituir na Europa, mas graças à ajuda do Governo e apoiadores individuais, conseguiu suprir as necessidades da casa.  O tratamento era tão diferenciado que, na falta de leitos, oferecia sua própria cama para acomodar os doentes.

Em 1988, firmou convênio com a Secretaria de Estado de Saúde do Estado de São Paulo para acolhimento e cuidado de soropositivos.

A Casa de Apoio Brenda Lee, também conhecida como Palácio das Princesas, foi instituída formalmente em 1988 para abrigar pessoas homossexuais e portadores de HIV rejeitados por parentes e também com o objetivo de dar assistência médica, social, moral e material, fossem elas travestis ou não. A casa, que ficava na Rua Major Diogo, 779 começou com três pacientes ainda no ano de sua compra. A casa de apoio foi uma semente que germinou e continua na ativa há mais de 30 anos.

Em 1988, o cineasta suíço Pierre-Alain Meier dirigiu o filme-documentário intitulado "Dores de Amor" (Douleur d'Amour), no qual expôs a vida nua e crua de quatro mulheres transgêneras. Além da própria Brenda Lee, figuravam Andrea de Mayo, Cláudia Wonder, Condessa Mônica e Telma Lipp.

Seu trabalho se tornou um referencial e um marco importante e, por isso, em 21/10/2008 foi instituído o "Prêmio Brenda Lee" concedido quinquenalmente para sete categorias por ocasião das comemorações do Dia Mundial de Combate à AIDS e aniversário do Programa Estadual DST/AIDS do Estado de São Paulo.

Google Doodle Celebration

Quem abriu o Google na terça-feira, dia 29/01/2019, se deparou com um Doodle especial em homenagem ao 71º aniversário da militante transexual brasileira Brenda Lee. A iniciativa do Google aconteceu no Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais.


Morte

O trabalho de Brenda Lee foi interrompido precocemente em 28/05/1996, aos 48 anos, quando foi encontrada morta, assassinada com tiros na boca e no peito, no interior de uma Kombi, em São Paulo, SP.

A polícia prendeu os irmãos Gilmar Dantas Felismino, ex-funcionário de Brenda Lee, e José Rogério de Araújo Felismino, na época policial militar, pelo crime. O motivo seria um golpe financeiro que o funcionário tentou dar em Brenda Lee e que teria sido descoberto.

Em sua missa de corpo presente, o padre Júlia Lancellotti representou o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e foi à sede da Casa de Apoio Brenda Lee.

Com o assassinato de Brenda Lee, o espaço criado por ela foi vendido e se tornou uma Organização Não Governamental (ONG), e entre 2011 e 2015 passou a oferecer apenas cursos.

A Casa de Apoio Brenda Lee reabriu em março de 2016, onde voltou a sua vocação original, de atender ao marginalizados pela sociedade. Atualmente, além do serviço de acolhimento, oferece atividades e engajamento social com treinamento de liderança, comunidade e defesas, psicológicos, jurídicos, educação, encaminhamentos e intervenção em defesa das vítimas.

Fonte: WikipédiaNLUCON e El País

Makota Valdina

VALDINA DE OLIVEIRA PINTO
(75 anos)
Professora, Religiosa, Líder Comunitária e Militante da Liberdade Religiosa

☼ Salvador, BA (15/10/1943)
┼ Salvador, BA (19/03/2019)

Valdina de Oliveira Pinto, mais conhecida como Makota Valdina, foi uma educadora, líder comunitária e religiosa brasileira, militante da liberdade religiosa, como porta-voz das religiões de matriz africana, bem como dos direitos das mulheres e da população negra.

Valdina de Oliveira Pinto nasceu em 15/10/1943 no bairro do Engenho Velho da Federação, na cidade de Salvador, BA. Sempre morou neste bairro que é, ainda hoje, um local onde a maioria da população é negra, e onde a presença de comunidades de terreiro de Candomblé é marcante. 

Desde a juventude, Valdina Pinto esteve envolvida com ações sociais na sua comunidade, acompanhando seu pai, Paulo de Oliveira Pinto, o Mestre Paulo, ou sua mãe, Eneclides de Oliveira Pinto, mais conhecida como Dona Neca, que foi líder comunitária e primeira referência política da filha.

Da adolescência à fase adulta, junto com a sua família, com a Associação de Moradores e com a Igreja Católica do Bairro, Valdina Pinto desenvolveu diversas atividades assistenciais à população, logo se concentrando na alfabetização de adultos como principal área de trabalho.

Quando veio a se formar pelo antigo Instituto Educacional Isaías Alves (IEIA), atual ICEIA, em 1962, já era uma educadora atuante e conhecida na própria comunidade. Ensinou na sede da Associação de Moradores, ensinou em barracão de terreiro de candomblé, ensinou em escolas e até na própria casa.


Por seu trabalho educacional na comunidade, foi convidada pelo Corpo da Paz para lecionar Português nas Ilhas Virgens a um grupo de estrangeiros que viria ao Brasil - e aí começou a desenvolver a noção do valor que suas referências étnico-culturais tinham para fora da comunidade em que vivia.

Como professora do ensino fundamental do município de Salvador, BA, Valdina de Oliveira Pinto se aposentou no final da década de 80, mas a sina de ser quem dá a lição continuaria acompanhando a sua trajetória.

No início da década de 70, Valdina Pinto abandonou o catolicismo, e em 1975 foi iniciada na religião do Candomblé. No Terreiro Tanuri Junsara, liderado pela Srª Elizabeth Santos da Hora, ela foi confirmada para o cargo de Makota - assessora da Nengwa Nkisi (Mãe-de-Santo). Com a iniciação, recebeu seu nome de origem africana, tornando-se a Makota Zimewaanga.

A iniciação numa religião de matriz africana impôs a Valdina Pinto uma revisão da sua história e da cultura na qual havia sido criada. Todo um conjunto de práticas cotidianas vivenciadas por ela desde a infância no gueto negro do Engenho Velho da Federação passou a adquirir novos significados, importância e sentidos a partir das lições aprendidas no terreiro de candomblé.

Entre 1977 e 1978, Valdina Pinto integrou a primeira turma do Curso de Iniciação à Língua Kikongo, ministrado pelo congolês Nlaando Lando Ntotila no Centro de Estudos Afro-Oriental (CEAO), marcando uma nova etapa no aprofundamento dos seus estudos sobre as culturas de origem bantu no Brasil, sobretudo nos aspectos religiosos.


A valorização das especificidades da nação de candomblé angola-congo, de matriz bantu, tinha sido uma das marcas da trajetória de Valdina Pinto que, por isso, passou a ser conhecida como Makota Valdina.

Outro pensamento de Makota Valdina é de que a comunidade de terreiro não devia fechar-se em si mesma, buscando, ao contrário, relacionar-se com os organismos políticos e sociais externos que fossem necessários à manutenção e consolidação das tradições vivenciadas no terreiro - tradições que, por outro lado, ela defendia que fossem, estas sim, resguardadas exclusivamente ao contexto religioso de quem as pratica.

Vale ressaltar que, ainda em tempos de ditadura política no Brasil, Makota Valdina tornou-se a primeira mulher a presidir a Associação de Moradores do seu Bairro, enfrentando preconceitos políticos e de gênero, dada a suas inclinações oposicionistas e ao fato mesmo de estar numa função até então ocupada por homens.

Estas compreensões, que estão na base da sua formação, levaram-na a compor, durante alguns anos, a diretoria da Federação Baiana de Culto Afro Brasileiro (FEBACAB), atual FENACAB. Nesse período, seu respeito e preocupação com as tradições do Candomblé, independente da nação, tornaram-na mais conhecida e considerada junto aos praticantes do candomblé.

Antes de terminar sua gestão, filiou-se às lutas em defesa do Parque São Bartolomeu, um antigo santuário natural do povo-de-santo de Salvador. O Parque, uma extensa reserva urbana da Mata Atlântica, definhava ante a depredação por parte das pessoas e o silêncio dos poderes públicos. Com outras educadoras, a Makota Valdina desenvolveu programas de educação ambiental, destacando a perspectiva religiosa acerca da natureza - "A natureza é a essência do candomblé", ensinava.


Desta luta surgiu o Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (CEASB), onde foi educadora e conselheira. Um outro trabalho importante do qual esteve à frente foi a catalogação e plantio de ervas medicinais em áreas do entorno do Parque São Bartolomeu, no subúrbio de Salvador.

Perifraseando-a, podemos dizer que "o candomblé é a essência da Makota Valdina". Fincada nestas tradições religiosas, ela tornou-se um instrumento de expressão da sabedoria popular baiana, brasileira, de base africana. Como é próprio de uma visão de mundo dessa origem, os conhecimentos e habilidades da Makota Valdina se articulavam e interagiam constantemente, e não se estancavam, ou se resumiam a uma determinada dimensão do saber. Nela, reflexões filosóficas acerca da cosmogonia do Candomblé, mais especificamente os de origem bantu, coabitavam com um apurado senso estético na execução de danças, ou confecção de artesanatos rituais; ao domínio da culinária, ou do uso de ervas, uniam-se um repertório de cantigas sagradas de rara extensão. 

Em fevereiro de 2003, a Makota Valdina foi a porta-voz das religiões de matriz africana de Salvador num encontro com o então recém empossado Ministro da Cultura, Gilberto Passos Gil Moreira, como também foi uma das representantes do Movimento Contra a Intolerância Religiosa em Brasília, em março do mesmo ano, sentando-se à mesa da Câmara dos Deputados, na histórica sessão presidida pelo Deputado Federal Luiz Alberto.

Com a sua palavra calma e firme, que iluminava, com a sua indignação veemente que entusiasmava, a Makota Valdina impressionava inúmeras plateias nas conferências e palestras que realizava pelo Brasil e no exterior. Mas, como fazia questão de frisar no cotidiano das suas relações, num terreiro de candomblé estava o seu local predileto de ensino e aprendizagem.


Diversas foram as instituições que a tinham como conselheira, ou madrinha, como é o caso da Associação de Preservação e Defesa do Patrimônio Bantu (ACBANTU). Noutros casos, era o próprio nome que emprestava à causa da luta contra o racismo, como ao Grupo de Estudantes Universitários Makota Valdina.

Valdina Pinto recebeu diversas condecorações por seu papel na preservação do patrimônio cultural afro-brasileiro, como o Troféu Clementina de Jesus, da União de Negros Pela Igualdade (UNEGRO). Troféu Ujaama, do Grupo Cultural Olodum, em agosto de 2004. Recebeu a Medalha Maria Quitéria, a maior honraria da Câmara Municipal de Salvador, em dezembro de 2005. Recebeu também da Fundação Gregório de Mattos o Troféu de Mestra Popular do Saber.

Valdina Oliveira Pinto, a Makota Zimewaanga ou Makota Valdina era, atualmente, a conselheira 'mor' da Cidade de Salvador, convidada a avaliar e avalizar plataformas de governo, campanhas eleitorais e mandatos parlamentares, ou ONG's e eventos em defesa das tradições de origem africana e do Meio Ambiente. Era também chamada a orientar grupos do Movimento Negro e a sistematizar propostas educacionais que dessem conta da diversidade cultural da cidade.

Dirigido por Joyce Rodrigues, o documentário "Makota Valdina - Um Jeito Negro de Ser e Viver", retratou sua vida e recebeu o primeiro Prêmio Palmares de Comunicação, da Fundação Cultural Palmares, na categoria Programas de Rádio e Vídeo.

Em 2013, Makota Valdina publicou o livro de memórias intitulado "Meu Caminhar, Meu Viver".

Morte

Makota Valdina faleceu na madrugada de terça-feira, 19/03/2019, aos 75 anos, em Salvador, BA. Segundo a família, Makota Valdina estava hospitalizada há um mês, no Hospital Teresa de Lisieux. Por meio de nota, a assessoria da unidade de saúde informou que Makota Valdina foi atendida no hospital com dores abdominais. Após avaliação médica, foi diagnosticado um quadro grave de disfunção renal e abscesso hepático (infecção do fígado). O hospital informou, ainda, que Makota Valdina chegou a ter melhora após o tratamento, mas veio à óbito por disfunção renal aguda.

O corpo foi velado no Cemitério Jardim da Saudade e o enterro está ocorreu às 15h30 de 19/03/2019.

Makota Valdina não deixou filhos biológicos, mas ficaram muitos sobrinhos que ela considerava como filhos.

"Ela era a mãe de todo mundo aqui. O que ela sempre pediu foi que a gente perpetuasse o legado e os ensinamentos que ela deixou perante a religião e a luta dos negros", disse o sobrinho Júnior Pakapym

#famososquepartiram #makotavaldina

Cláudia Wonder

MARCO ANTÔNIO ABRÃO
(55 anos)
Escritora, Cantora, Compositora, Colunista, Transexual e Militante Pelos Direitos LGBT

☼ São Paulo, SP (15/02/1955)
┼ São Paulo, SP (26/11/2010)

Marco Antônio Abrão, nome de nascimento de Cláudia Wonder, foi uma artista performer, escritora, cantora, compositora, colunista e militante pelos direitos LGBT, nascida em São Paulo, SP, no dia 15/02/1955.

Cláudia Wonder logo cedo descobriu sua identidade de gênero. Ainda na adolescência, começou a frequentar a noite e a se inserir no contexto transgênero, sendo contemporânea dos grandes nomes do undergound paulistano, como Andréa de Mayo, Telma Lipp, Nana Vogel, Brenda Lee, Roberta Close, Janaína Dutra, entre tantas outras.

Ícone da cena underground, começou sua carreira artística fazendo shows em boates e logo estreou no teatro e no cinema. Ainda adolescente contracenou com grandes nomes nacionais, entre eles, Tarcísio Meira e Raul Cortez.

Nos anos 1980 descobriu sua veia musical e estreou como letrista e vocalista da banda de rock Jardins das Delícias, com o show "O Vomito do Mito", no lendário clube paulistano Madame Satã. Depois formou a banda Truque Sujo e obteve sucesso junto a critica musical e ao público.

No final da década de 80 mudou-se para a Europa e lá ficou durante onze anos, onde trabalhou em shows e depois como empresária na área da estética, ela tinha formação como cabeleireira e maquiadora.


De volta ao Brasil, retomou a carreira artística, participando de duas coletâneas musicais em CD "Melopéia", do selo Rotten e "Sonetos do Poeta Glauco Mattoso", musicados por vários artistas, entre eles, Arnaldo Antunes e Itamar Assumpção. Para esse trabalho Cláudia Wonder musicou o "Soneto Virtual", no qual fez dueto o cantor Edson Cordeiro, seu amigo. Participou ainda da primeira coletânea de electronacional no CD "Body Rapture", do selo Lua Music, com a música "Tônica do Haligalle", e em setembro de 2007 lançou seu primeiro CD solo "FunkyDiscoFashion", pelo mesmo selo.

Cláudia Wonder também lançou o livro intitulado "Olhares de Claudia Wonder - Crônicas e Outras Histórias" em agosto de 2008 pelas Edições GLS do Grupo Editorial Summus.

Em junho de 2009, protagonizou o documentário "Meu Amigo Claudia", do cineasta Dácio Pinheiro, o qual conta sua trajetória e cuja première foi no Frameline Lesbian And Gay Film Festival Of San Francisco, na Califórnia.

Em virtude de sua identidade de gênero, por várias vezes foi detida, sexualmente molestada e enxotada de lugares. Segundo ela mesma revelou em entrevista, chegou a ser comparada aos mais perversos marginais "simplesmente por ser diferente das outras pessoas". Isso lhe causou grande revolta e ela fez de sua revolta o motor para lutar contra o que considerava uma barbárie. Um de seus feitos foi ter conseguido fazer shows e frequentar as páginas culturais de jornais e revistas mesmo em plena Ditadura Militar.

"Um travesti que emprega o poder transgressivo de sua personificação, com acuidade e extraordinária força cênica!"
(Alberto Guzik, crítico teatral)

Militância

Ícone da comunidade Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT), foi escolhida como abre-alas da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo de 2001, além de madrinha do Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual, e foi incluída numa lista das 24 personalidades que marcaram 2010.

Foi também coordenadora do Grupo de Estudos da identidade de Gênero "Flor do Asfalto" e trabalhou como colunista e repórter da revista G Magazine e do site G Online até 2008.

Militante fervorosa, Cláudia Wonder ainda trabalhava como monitora de abordagem e comunicação do Centro de Referência da Diversidade, no projeto Cidade Inclusiva, uma parceria da prefeitura da cidade de São Paulo com a União Europeia.

Meses antes de falecer, em meados 2010, ela concedeu uma entrevista à revista Trip, cujos trechos gravados são transcritos abaixo:

Trabalhei de uns tempos pra cá, há uns dois anos me entreguei a uns projetos sociais em prol dos travestis. A gente inaugurou ali na Boca (do Lixo, zona boêmia decadente de São Paulo) mesmo o Centro de Referência da Diversidade, na Rua Major Sertório, e ali a gente fica sabendo das coisas: Virou meio que opção de marginal, sabe, cafetinar travesti. Dependendo da área pode ter um ou dois, que não são travestis. Tinha um cara que era o Malhação, era um cara, saído da cadeia que começou a atacar - eles brutalizam mesmo - batem na travesti, cortam o cabelo, pra todas ficarem com medo.

Quem aluga uma casa, até presta um serviço, digamos assim, porque não tá explorando de forma absurda. Hoje até que tá mais fácil mas antes pra um travesti alugar apartamento era muito difícil, ainda mais pra quem é puta na rua. "Vou sujar o prédio, causar com meus vizinhos?" É complicada a prostituição, e é só isso que as travestis têm pra fazer, né? Pelo menos as que tão lá. Tem muitas que não são putas, mas não se pode dizer; o que tá na rua você vê - as cabeleireiras, mas não importa, vira e mexe eu encontro.

Não dá pra saber se são tantas travestis que tão na rua são putas - mesma coisa que dizer que todo japonês é tintureiro. Mas é muito difícil pra uma travesti alugar apartamento - por causa dos documentos -; se estuda, se tá trabalhando é mais fácil. Mas se tá na rua tendo uma (casa da) cafetina onde ela possa dormir e comer, como a Andréa de Mayo... mas esse tipo de cafetão não dá nada, só vai lá e cobra o ponto.

A travesti que está na rua não é respeitada por ninguém. Eu escrevia pra G Magazine, fazendo trabalho de conscientização, falando que é possível ter uma outra forma de vida, mas pra chegar nelas não é através da revista porque nem todas compram. E tem travesti nova que aparece toda semana, porque tem vida curta, elas morrem cedo, morrem assassinadas, ninguém fala muito. Que nem escreveram: "Travesti é vítima dele mesmo", e é verdade.

No Fantástico apareceu a travesti que fez doutorado, pensei: "Ah, legal, as coisas tão mudando." Aí na terça vi aquele papelão da travesti do Rio batendo no cara (bêbado) indefeso, aí ninguém mais deu uma linha a respeito do assassinato. Travesti que tá na rua é vítima de transfobia, porque é como se fosse um escudo - de toda essa coisa gay, de diversidade sexual, é ele que tá ali, à mostra. Então é um esporte matar viado, aí mata, dá tiro (...)"
(Cláudia Wonder, em entrevista à revista Trip)

Morte

Claudia Wonder faleceu na sexta-feira, 26/11/2010, aos 55 anos. Ela estava internada em um hospital desde o fim de outubro de 2010 e faleceu vítima de uma infecção causada pelo fungo Cryptococcus neoformans, encontrado principalmente nas fezes de pombos.

Carreira

Filmografia
  • 2010 - Luz Nas Trevas - A Volta Do Bandido Da Luz Vermelha
  • 2009 - Meu Amigo Claudia (Documentário)
  • 2007 - Identidade (Documentário)
  • 2007 - Espeto
  • 2006 - Um Quatro Cinco, Disque Amizade
  • 2003 - Cláudia Wonder International Show
  • 2003 - Carandiru
  • 2000 - A Cama Do Tesão
  • 1995 - A Próxima Vítima
  • 1985 - Sexo Livre
  • 1984 - Sexo Dos Anormais
  • 1984 - Volúpia De Mulher
  • 1983 - Elas Só Transam No Disco
  • 1977 - A Mulata Que Queria Pecar
  • 1976 - O Mulherengo
  • 1974 - O Marginal

Teatro
  • As Gigoletes
  • O Que É Que A Boneca Tem?
  • As Gigolettes II
  • Depois Eu Conto
  • Nossa Senhora Das Flores
  • O Homem E O Cavalo
  • Acordes de Brecht
  • Erótica, Tudo Pelo Sensual
  • Mostra De Dramaturgia Do Pensamento Selvagem
  • Mostra De Dramaturgia Do Pensamento Selvagem II
  • Lês Grils 77

Participações Em Videoclipes
  • Trilogia Disco, do cantor Edson Cordeiro;
  • Memórias, da roqueira Pitty;
  • Eu Mesmo, da banda de rock Radikalez
  • Mina de Família, do grupo de funk Fulerô o Esquema

Fonte: Wikipédia
Indicação: Yuri S.
#famososquepartiram #claudiawonder

Hélio Bicudo

HÉLIO PEREIRA BICUDO
(96 anos)
Jurista, Político e Militante dos Direitos Humanos

☼ Mogi das Cruzes, SP (05/07/1922)
┼ São Paulo, SP (31/07/2018)

Hélio Pereira Bicudo foi um jurista e político brasileiro, militante de direitos humanos, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, turma de 1947, nascido em Mogi das Cruzes, SP, no dia 05/07/1922.

Durante o governo Carvalho Pinto, em São Paulo, foi o primeiro presidente das Centrais Elétricas de Urubupungá (Celusa), construtora das usinas de Jupiá e de Ilha Solteira.

Foi ministro interino da Fazenda no governo João Goulart, substituindo Carvalho Pinto de 27 de setembro a 4 de outubro de 1963.

Como procurador de Justiça no Estado de São Paulo, destacou-se, juntamente com o então promotor de Justiça Dirceu de Mello, no combate ao Esquadrão da Morte. Em razão do combate ao Esquadrão da Morte e de todas as outras investigações de violações dos Direitos Humanos que conduziu neste período, teve o seu nome incluído no Serviço Nacional de Informações.

Em 1981, integrou a primeira diretoria executiva da Fundação Wilson Pinheiro, fundação de apoio partidário instituída pelo Partido dos Trabalhadores (PT), antecessora da Fundação Perseu Abramo.


Em 1986 foi candidato ao senado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ficando em terceiro lugar, atrás dos eleitos Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, ambos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Foi secretário dos Negócios Jurídicos do município de São Paulo na gestão de Luíza Erundina de 1989 a 1990, ano em que se elegeu Deputado Federal.

Em fevereiro de 2000, foi empossado como presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com sede em Washington, Estados Unidos. Foi o terceiro brasileiro a ocupar a presidência da entidade.

Hélio Bicudo foi vice-prefeito de São Paulo de 2001 a 2004, durante a gestão de Marta Suplicy.

Um dos aproximadamente 100 professores que fundaram o chamado inicialmente Partido dos Trabalhadores em Educação e depois Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, sendo filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), desde a sua fundação, da primeira ata.

Desfiliou-se do partido em 2005, passando a criticá-lo depois do envolvimento do partido no Escândalo do Mensalão, afirmando que o partido havia "se afastado dos ideais éticos e morais!".

Em 2010, declarou apoio a Marina Silva no primeiro turno, e a José Serra no segundo turno. Em 25 de outubro daquele ano, recebeu a grã-cruz da Ordem do Ipiranga do Governo do Estado de São Paulo.


Em 2012, apoiou novamente José Serra na disputa municipal paulista.

Hélio Bicudo criou e presidiu de 2003 a 2013, a Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos (FidDH), entidade que atuou junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciando e acompanhado casos de desrespeito aos direitos humanos no Brasil.

Os processos denunciados e demais sob sua responsabilidade foram transferidos aos cuidados de diversas entidades de mesma finalidade. O encerramento das atividades da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos (FidDH) se deu por falta de recursos financeiros. Seu acervo bibliotecário foi doado à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no mesmo ano de encerramento de suas atividades, em ato solene.

Em 2015, protocolou na Câmara dos Deputados, um pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O jurista, Miguel Reale Júnior e os movimentos sociais pró-impeachment decidiram aderir ao requerimento de Hélio Bicudo, que contou também como apoio de parlamentares e boa parte da sociedade civil que organizou um abaixo-assinado em apoio ao impeachment da Presidente da República, enquanto outros parlamentares e militantes petistas, se posicionaram em defesa do mandato da presidente ré.

O pedido de Hélio Bicudo foi, no mesmo ano, acatado por Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, depois de várias reuniões para instruir os reclamantes. Tal pedido culminou com a deposição da petista no dia 31/08/2016, pelo Senado Federal, por 61 votos a favor da deposição, e 20 votos contra.

Morte

Hélio Bicudo faleceu na terça-feira, 31/07/2018, aos 96 anos, em sua casa na região dos Jardins, em São Paulo. Ele vinha passando por problemas cardíacos havia vários meses. A saúde de Hélio Bicudo era frágil desde 2010, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Debilitou-se ainda mais em março de 2018, quando morreu sua esposa, Déa Pereira Wilken Bicudo, após 71 anos de casamento. Hélio Bicudo deixou sete filhos, netos e bisnetos.

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #HelioBicudo

Marielle Franco

MARIELLE FRANCISCO DA SILVA
(38 anos)
Socióloga, Feminista, Política e Militante dos Direitos Humanos

☼ Rio de Janeiro, RJ (27/07/1979)
┼ Rio de Janeiro, RJ (14/03/2018)

Marielle Francisco da Silva foi uma socióloga, feminista, política brasileira e militante dos direitos humanos, nascida no Rio de Janeiro, RJ, no dia 27/07/1979.

Graduada em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que cursou como bolsista integral, Marielle Franco era mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua militância na defesa dos direitos humanos e contra ações violentas na favela foi impulsionada após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida, durante um tiroteio envolvendo policiais e traficantes de drogas no Complexo da Maré, bairro onde Marielle nasceu e viveu.


Em 2006, integrou a equipe de campanha que elegeu Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Com a posse de Marcelo Freixo, foi nomeada assessora parlamentar do deputado. Anos depois assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Em 2016, sua primeira disputa eleitoral, foi eleita vereadora na capital fluminense pela coligação Mudar é Possível, formada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Com mais de 46 mil votos, foi a quinta candidata mais votada na cidade.

Marielle Franco exercia o mandato de vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro, no dia 10 de março ela havia denunciado policiais do 41º Batalhão de Polícia Militar por abusos de autoridade contra os moradores do bairro de Acari.

Morte

Marielle Franco foi morta a tiros dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, na Região Central do Rio de Janeiro, por volta das 21h30 de quarta-feira, 14/03/2018. Além de Marielle, o motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morreu. Uma outra passageira, assessora de Marielle, foi atingida por estilhaços. A principal linha de investigação da Delegacia de Homicídios é execução.

Segundo as primeiras informações da polícia, bandidos em um carro emparelharam ao lado do veículo onde estava Marielle e dispararam. Marielle foi atingida com pelo menos quatro tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de tiros no local. Os criminosos fugiram sem levar nada.

A passageira atingida pelos estilhaços foi levada para o Hospital Souza Aguiar e liberada. Em seguida, ela foi levada para prestar depoimento na Delegacia de Homicídios, que terminou por volta de 4h00 de quinta-feira, 15/03/2018. A polícia não deu detalhes do depoimento.

Marielle havia participado no início da noite de um evento chamado "Jovens Negras Movendo As Estruturas", na Rua dos Inválidos, na Lapa, Rio de Janeiro.

No momento do crime, Marielle estava no banco de trás do carro, no lado do carona. Como o veículo tem filme escuro nos vidros, a polícia trabalha com a hipótese de os criminosos terem acompanhado o grupo por algum tempo, tendo conhecimento da posição exata das pessoas. O motorista foi atingido por pelo menos 3 tiros na lateral das costas.

Fonte: Wikipédia e G1
Indicação: Taís Veras
#FamososQuePartiram #MarielleFranco

Clóvis Tavares

SEBASTIÃO CLÓVIS TAVARES
(69 anos)
Professor, Militante da UJC e Espírita 

☼ Campos dos Goytacazes, RJ (20/01/1915)
┼ Campos dos Goytacazes, RJ (13/04/1984)

Sebastião Clóvis Tavares, mais conhecido por Clóvis Tavares, foi um espírita brasileiro nascido no distrito de São Sebastião, em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro, em 20/01/1915. Era dia de São Sebastião e, por isso, seus pais deram-lhe o nome de batismo em homenagem ao padroeiro, embora sempre tenha sido tratado, em casa e em todos os ambientes, simplesmente por Clóvis.

A família mudou-se para a sede do município quando ele contava com 9 anos de idade. Desde a infância, demonstrou pendores religiosos. Era comum, na região de São Sebastião, ver seus irmãos jogando bola ou brincando de cabra-cega e ele lendo ou rezando em seu oratório particular.

Afeiçoou-se ao padre da Igreja de São Sebastião, chamado Émille Dés Touches, francês de nascimento, de família nobre e abastada. Ele teria abandonado a sua herança para dedicar-se à vida religiosa, tendo decidido vir para o Brasil seguindo uma inspiração ou determinação do Alto. Foi o seu professor de Francês e seu primeiro orientador espiritual. Do padre Émille Dés Touches, o público espírita conhece "Petição de Servo", eivada de beleza e sabedoria espiritual.

Na adolescência, estudando no célebre Liceu de Humanidades de Campos, integrou um grupo de jovens idealistas que decidiram mudar o mundo. Engajaram-se na União da Juventude Comunista (UJC) e viveram um sonho de liberdade.

Dois desses jovens eram Nina Arueira e Clóvis Tavares, que enamoraram-se e tornaram-se noivos. Os dois viviam intensamente a vida partidária, sendo líderes de greves operárias e movimentos estudantis. Inesperadamente, Nina Arueira é acometida de uma febre tifoide e Clóvis Tavares passa a fazer plantão ao seu lado, passando noites acordado, em vigilância, mas sem oração.

Por um destes 'mistérios da vida', ela conheceu, já doente, um homem chamado Virgílio de Paula, que a recebeu em sua casa para prestar-lhe tratamento. Era um profundo conhecedor de Teosofia e Espiritismo. Nina interessou-se inicialmente pela Teosofia. Leu "Do Recinto Interno", de Annie Bésant e decidiu, já no leito, renunciar à política partidária. Contou a Clóvis a sua decisão. Este, que também estava a discordar da direção partidária quanto a rumos decididos que feriam a sua ética, passou a escutar de Nina as lições que ela ouvia do Vovô Virgílio.


Virgílio de Paula, por sua vez, aos poucos introduziu um pouco de Evangelho em suas conversações com Nina. Ela maravilhou-se com a visão de um Jesus Cristo amigo dos pobres e dos sofredores. Um Jesus Cristo amigo da justiça e da caridade e entregou-se, de alma inteira, ao Evangelho, explicado pela racionalidade Espírita. Foram apenas alguns meses, mas ela desencarnou considerando-se espírita.

Após a sua morte é que Clóvis Tavares começou a ler os livros que ela lera no seu estágio derradeiro. E como ocorreu com Nina, ele também apaixonou-se pela cosmovisão espiritista. Quando leu pela primeira vez os versos de Olavo Bilac, Cruz e Souza, Fagundes Varella, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus, Auta de Souza, entre outros, então declarou-se espírita. E com o mesmo afinco que se dedicou há apenas alguns meses à política partidária, passou a militar ativamente no meio espírita. Começou a frequentar o Grupo Espírita João Batista, dirigido pelo Srº Virgílio de Paula e outros companheiros da primeira hora do Espiritismo em Campos.

Em pouco tempo, Clóvis Tavares passou a realizar palestras doutrinárias que a muitos atraíram por sua fluência evangélica e pelo ardor de seu verbo. Paralelamente a essas atividades, fundou uma escola de Doutrina Espírita para crianças, na casa da mãe de sua antiga noiva, Dona Didi Arueira. Passaram a chamar essa casa de Escola Infantil Jesus Cristo.

Mais uma vez, o inesperado ocorreu. Os frequentadores do Grupo Espírita João Batista, somados aos pais das crianças da Escola Infantil, afluíram em número crescente para escutar suas palestras na casa de Dona Didi.

Decide, então, a diretoria do Grupo Espírita João Batista auto-dissolver-se e passar a integrar os quadros da nascente Escola Jesus Cristo, já sem o qualificativo de "Infantil".

Repetiu-se, em escala institucional, o mesmo que acontecera entre João Batista e Jesus Cristo. "É necessário que eu diminua para que Ele cresça", e o Grupo precursor João Batista dissolveu-se e seus seguidores, assim como os seguidores de João, passaram a seguir a Escola Jesus Cristo. Iniciou-se uma nova era para o Espiritismo local, até então conhecido apenas pelas sessões mediúnicas.

Clóvis Tavares, Carlos Vítor e Hilda Mussa Tavares, em 1957
Com Clóvis Tavares, alvoreceu, em 1935, o Espiritismo da cultura e da prática da caridade. Clóvis sempre priorizou na Escola Jesus Cristo o serviço de amor ao próximo e o estudo doutrinário. Na Escola Jesus Cristo, ele fundou dois orfanatos: um de meninas, dirigido inicialmente pela filha de Virgílio de Paula, Inaiá de Paula, e outro para meninos, dirigido por ele mesmo e por seu companheiro de ideais, Medeiros Correia Júnior. Fundou, ainda, um Culto de Assistência, onde um grupo de irmãos visitava duas favelas de Campos, para distribuição de gêneros e para a realização de um culto de Evangelho no Lar dos assistidos.

Fundou, ainda, a Sopa dos Domingos com a ajuda dos irmãos portugueses Inocêncio Noronha, Bonifácio de Carvalho, Dona Candinha e Dona Mariquinhas, portugueses que sempre estiveram presentes na história da Escola Jesus Cristo.

Surge, ainda, por seu ideário, o Curso Elzinha França para orientação espiritual às crianças. A escolha do nome Elzinha França deveu-se ao fato de que a Mocidade Espírita de Campos, da qual fazia parte a jovem Hilda Mussa, com quem se casaria mais tarde, e sua amiga Zenith Pessanha, visitava as famílias pobres da Escola Jesus Cristo na busca do sofrimento a fim de mitigá-lo. Numa dessas peregrinações, na favela, encontram desvalida menina recém-nascida, abandonada. Como não havia, na época, nenhum órgão oficial de amparo à criança e nem de longe pensava-se no Estatuto da Criança e do Adolescente, decidiram trazer a menina para a Casa da Criança. Apesar de Clóvis Tavares ter providenciado todos os cuidados médicos, a menor desencarnou em pouco tempo.

Todavia, em uma de suas habituais viagens a Pedro Leopoldo para encontrar-se com Chico Xavier, obteve do médium a informação de que o visitava um espírito de muita luz, chamado Elzinha França. Clóvis Tavares, a princípio pasmo, contou ao médium quem era a menina, que Chico Xavier identificou como sendo uma professora que estava integrando a equipe espiritual de serviço na Escola Jesus Cristo e que trabalharia na educação dos menores.

Chico Xavier e Clovis Tavares
Clóvis Tavares fundou o Clube da Fraternidade, espaço artístico e lúdico para a realização de jogos infantis, teatros e coros musicais nos domingos à tarde, numa época em que não havia televisão.

Passou a visitar semanalmente os presos, recordando o ensino de Paulo aos hebreus: "Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles. E dos maltratados, como se habitásseis no mesmo corpo com eles." (Hb, 13:3).

Uma vez por ano, pregava o Evangelho Consolador no cemitério, no dia 2 de novembro, iniciando uma prática consoladora e esclarecedora na nossa Terra.

Outra particularidade da Escola Jesus Cristo foi abrigar em suas dependências, na década de 60, uma escola de educação formal: o Instituto Allan Kardec.

Paralelamente a essa atividade espírita, Clóvis Tavares lecionava História em duas escolas e Direito Internacional Público na Faculdade de Direito de Campos. Foi autor de livros espíritas, renunciando, todavia, aos direitos autorais, pois, aprendeu com Chico Xavier a doá-los às editoras que se dedicavam à difusão doutrinária.

Tornou-se amigo íntimo de Chico Xavier, com quem conviveu por 50 anos, o que é relatado nos referidos livros do parágrafo anterior. Frequentava com assiduidade as reuniões do Grupo Meimei, em Pedro Leopoldo. Visitou, também, Belo Horizonte várias vezes, onde travou contato com Arnaldo Rocha, Joaquim Alves, Cícero Pereira e tantos outros que dignificaram o Espiritismo em Minas Gerais.

Na década de 1950, passou a se corresponder com o sábio italiano Pietro Ubaldi, a quem promoveu duas vindas ao Brasil - a última das quais, definitiva. Traduziu do italiano os seguintes livros do referido autor: "As Noúres, Ascese Mística, Grandes Mensagens" e "Fragmentos de Pensamento e Paixão".

Clóvis Tavares veio a casar-se somente 20 anos após da desencarnação de Nina Arueira, e a jovem Hilda Mussa, que o ajudava na pesquisa sobre a vida dos santos católicos, passou a ser também a sua fiel colaboradora nos trabalhos da Escola Jesus Cristo. Deste matrimônio nasceram cinco filhos: Carlos Vítor, que faleceu aos 17 anos, após uma vida de sofrimentos para ele e para os pais - que está relatado no livro: "A Morte é Simples Mudança" - , Margarida, Flávio, Luís Alberto e Celso Vicente.

Clóvis Tavares faleceu, vítima de parada cardíaca no hospital Santa Casa de Campos, no dia 13/04/1984.

Nina Arueira

MARIA DA CONCEIÇÃO ROCHA E SILVA
(19 anos)
Escritora, Jornalista, Poetisa e Militante da UJC

☼ Campos dos Goytacazes, RJ, (07/01/1916)
┼ Rio de Janeiro, RJ (18/03/1935)

Maria da Conceição Rocha e Silva, melhor conhecida como Nina Arueira, foi uma escritora, jornalista, líder sindical e poetisa brasileira, nascida em Campos dos Goytacazes, RJ, numa casa não mais existente, na Avenida Alberto Torres, no dia 07/01/1916.

Fez seu curso primário e normal (incompleto) em sua cidade natal. Desde os primeiros anos da juventude, militou na imprensa de Campos e do Estado do Espírito Santo.

O nome Nina Arueira é fruto de um pseudônimo, porque o nome de batismo era Maria da Conceição Rocha e Silva. De seu apelido na intimidade, que era Pequenina, e do sobrenome do pai, Arueira, formou um nome muito forte e que viria a ser conhecido em muitos lugares fora de Campos.

Filha de Lino Arueira e de Maria Magdalena Rocha e Silva, desde a infância demonstrou qualidades invulgares. A sua avó chamava-a de Pequenina, e os familiares apenas de Nina, pseudônimo que viria a adotar na adolescência.

Aos 5 anos de idade já teria lido um livro de Victor Hugo e ditava pequenas poesias que o seu pai anotava e que, mais tarde, seriam selecionadas e publicadas no periódico "Rindo", sob o pseudônimo de Princesa de Vera Cruz.


No dia 15/07/1924, então com 8 anos de idade, foi escolhida para, numa grande comemoração cívica municipal, receber o primeiro bispo da cidade de Campos dos Goytacazes, Dom Henrique César Fernandes Mourão.

Em 1928, então com 12 anos de idade, perdeu o pai, passando a auxiliar a mãe no pequeno comércio da família. Este é um momento de grande amadurecimento da jovem e as observações que ali faz acerca da sociedade, das relações trabalhistas e da hipocrisia reinante na mesma, se refletirão nos seus futuros texto e poesias.

Aos 15 anos, ingressou no Liceu de Humanidades de Campos, onde a sua fama de articulista e crítica se difundiu. Realizou conferências no teatro da cidade, nas quais criticou instituições como a Igreja Católica, o capitalismo e outras. É deste período o seu manifesto "À Mocidade de Minha Terra". Por suas ideias, enfrentou críticas e perseguições por parte de outros jornalistas e pessoas da cidade.

Ainda no Liceu, conheceu Clóvis Tavares e Adão Pereira com os quais fundou um jornal estudantil. O grupo foi o responsável por apresentar à sociedade campista o Modernismo.

Nina abandonou o Liceu por estar insatisfeita com a metodologia educacional ali utilizada.

Foi membro da Loja Leadbeater da Sociedade Teosófica no Brasil, cujo presidente era o venerando Srº Virgílio Paula, posteriormente, durante muitos anos, Presidente da Escola Jesus Cristo. Seu diploma de membro da Sociedade Teosófica se encontra no Museu de Ciro (Exposição Espírita Permanente), da Escola Jesus-Cristo.

A Militância na União da Juventude Comunista (UJC)

Nos dias difíceis no início da década de 1930 no Brasil, e em meio às preocupações familiares, filiou-se à União da Juventude Comunista (UJC), juntamente com seus dois amigos do jornal estudantil. Iniciou-se para a jovem um período de lutas: cansado dos debates escritos, vai para a porta das fábricas, onde organiza comícios e funda sindicatos.

Ainda neste período, passou a frequentar a Sociedade Teosófica como que a buscar a religiosidade que lhe faltava no movimento do operariado, e apaixona-se por Clóvis Tavares, o companheiro de todos os momentos.

Em 01/05/1934, durante o grande comício na Praça do Santíssimo Salvador em Campos, o casal foi convidado a discursar para os trabalhadores. Durante a fala de Clóvis Tavares, alguém na multidão ateou fogo à bandeira nacional, fato encarado pela polícia presente como uma afronta ao Governo. Na repressão resultante, Clóvis Tavares foi detido e Nina escapou.

Durante o período em que Clóvis Tavares ficou detido, continuaram a se corresponder, mas Nina afastou-se da militância política e começou a dedicar-se a questões transcendentais. Neste período, foi de grande valia a amizade de Virgílio de Paula, que Nina chamava carinhosamente de "Vovô Virgílio".

Profundamente deprimida, a jovem contraiu tifo, transferindo-se para a residência de Virgílio de Paula, para melhor ser cuidada. Aqui continuou a escrever e debater com uma lucidez que espantava os poucos que tinha a coragem de ir visitá-la, vindo a falecer aos 19 anos, no Rio de Janeiro, RJ, no dia 18/03/1935.

O Espírito Nina

Profundamente abalado pela morte da noiva, Clóvis Tavares recebeu a notícia que o espírito de Nina havia se comunicado numa sociedade espírita. Esse fato deu novo alento à vida de Clóvis que, a partir de então, tornou-se adepto da doutrina espírita e, pouco depois, em outubro de 1935, fundou um educandário inspirado numa escola do plano espiritual fundada pelo espírito Nina.

Entre os médiuns que psicografaram as mensagens do espírito Nina, que nortearão os trabalhos de Clóvis Tavares, destaca-se Francisco Cândido Xavier. Desde então foram fundadas casas espíritas e grupos assistenciais com o nome de Nina Arueira.

Mais recentemente, o espírito Nina, pela psicografia de Alceu da Costa Filho, ditou o romance espírita "O Diário de Sofia".

A Memória de Nina Arueira e Clóvis Tavares No Cinema

A vida de dois nomes muito conhecidos no Movimento Espírita, Clóvis Tavares e Nina Arueira, foi a inspiração para o documentarista Oceano Vieira de Melo fazer seu novo filme. O longa "Luz na Escola" foi exibido no dia 24/11/2015 em duas salas do circuito Kinoplex na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, cidade natal dos personagens, em comemoração ao centenário de Clóvis Tavares e aos 80 anos da Escola Jesus Cristo.

Reconhecido pelo movimento espírita e autor de mais de dez livros, dentre eles "Amor e Sabedoria de Emmanuel", "Histórias Que Jesus Contou" e "Trinta Anos Com Chico Xavier"Clóvis Tavares ganha cena no filme quando, ainda jovem estudante, se identifica com os ideais comunistas na cidade onde nascera.

Nina Arueira é sua companheira de sala, no Liceu de Humanidades de Campos, nos anos 30, e igualmente levada pelos ideais, ajuda a fundar as bases para a Juventude Comunista, provocando na cidade acirrados debates em favor dos menos favorecidos. Neste mesmo tempo, os dois se apaixonam, iniciam o namoro e passam a ser os principais líderes da doutrina de Lênin na região.

Enquanto Clóvis aprimora seu discurso materialista e ambos começam a sofrer com as perseguições, Nina conhece um dos admiradores dos seus artigos publicados, Srº Virgílio de Paula, o estudioso de teosofia e do espiritismo e fundador do Grupo Espírita João Baptista, na cidade. Por seu intermédio e também dos livros espíritas, Nina se identifica com o Evangelho e fica maravilhada com a visão de Jesus todo justiça, amor e caridade, explicado à luz do espiritismo.

Mas faltando apenas dois meses para seu casamento com Clóvis, Nina adoece e vem a desencarnar com tifo, deixando o noivo desolado, mas que não demora a receber mensagens da própria noiva, em espírito, orientando-o para que ele se dedicasse à educação com o Evangelho.

Consolado pelas mensagens e pela doutrina, Clóvis começa um trabalho junto às crianças e funda o que chama Escola Infantil Jesus Cristo, nominada depois Escola Jesus Cristo, dado que os adultos também se afeiçoaram ao trabalho.

Todo o preparo do jovem espírita, que se mudara para estudar no Rio de Janeiro e lá tivera contato com intelectuais e escritores na Federação Epírita Brasileira (FEB) - Guillon Ribeiro, Manoel Quintão, Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado - é resgatado pelo produtor Oceano Vieira de Melo, ao retratar a vida de Clóvis Tavares.

Pela amizade de mais de 50 anos do professor Clóvis Tavares com o médium Chico Xavier, quem chegava a ir duas vezes por ano visitar, muitas passagens entre os dois também são lembradas no documentário.

Em 1939, quatro anos depois da desencarnação da noiva, Clóvis Tavares faz sua primeira visita ao médium e recebe de Nina sua segunda mensagem, onde ela cita um fato de conhecimento apenas dos dois: antes de desencarnar, Nina havia escrito um pequeno romance espiritualista, "Yanur", dedicado ao noivo que, materialista, guardara em segredo.

A mocidade espírita de Campos visitava famílias necessitadas da Escola Jesus Cristo e numa dessas visitas, uma criança recém-nascida abandonada foi resgatada e acolhida, mas apesar de Clóvis ter providenciado todos os cuidados, ela veio a desencarnar.

Em uma de suas habituais viagens a Pedro Leopoldo para encontrar-se com Chico XavierClóvis obteve do médium a informação de que o visitava um espírito de muita luz, chamado Elzinha França, o nome dado à criança acolhida. Clóvis contou ao médium quem era a menina e Chico Xavier logo complementou que ela era uma das professoras que integravam a equipe espiritual de serviço na Escola Jesus Cristo.

Clóvis Tavares vem a se casar apenas 20 anos depois da desencarnação de Nina, com Hilda Mussa, que passou a ser também a sua fiel colaboradora nos trabalhos da Escola Jesus Cristo.

São essas e tantas outras histórias, como a revelação de Chico Xavier sobre a reencarnação de Santos Dumont naquele núcleo familiar, ajudam a compor o importante registro cinematográfico "Luz da Escola", que além de entreter o público, certamente guardará a memória daqueles que fizeram a diferença na história do espiritismo no Brasil.