Mostrando postagens com marcador Historiador. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Historiador. Mostrar todas as postagens

Sábato Magaldi

SÁBATO ANTONIO MAGALDI
(89 anos)
Crítico Teatral, Teatrólogo, Jornalista, Professor, Ensaísta e Historiador

☼ Belo Horizonte, MG (09/05/1927)
┼ São Paulo, SP (14/07/2016)

Sábato Antonio Magaldi foi um crítico teatral, teatrólogo, jornalista, professor, ensaísta e historiador brasileiro, nascido em Belo Horizonte, MG, no dia 09/05/1927.

Sábato Magaldi formou-se no curso de Direito em Belo Horizonte, mas antes dos 20 anos de idade escreveu sua primeira crítica, de uma peça de Jean Paul Sartre, iniciando a carreira de crítico teatral, sua verdadeira vocação.

Em 1948 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a escrever críticas para o jornal Diário Carioca, em substituição à Paulo Mendes Campos, na função de crítico.

Em 1953 Sábato Magaldi foi trabalhar em São Paulo, exercendo sua função nos jornais O Estado de São Paulo e no Jornal da Tarde, à partir de 1966.

Foi membro da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito em 08/12/1994, tomando posse em julho de 1995 na cadeira nº 24, na sucessão de Ciro dos Anjos. Foi professor titular de História do Teatro Brasileiro da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Lecionou, ainda, durante quatro anos nas universidades francesas da Universidade de Paris III, (Sorbonne) Nouvelle e de Provence.

Atuou na política, ao ser o primeiro secretário municipal de Cultura de São Paulo, entre abril de 1975 e julho de 1979, na administração Olavo Egydio Setúbal.

Sábato Magaldi foi um dos grandes organizadores da obra de Nelson Rodrigues, de quem era amigo pessoal, e foi responsável pela classificação de suas peças segundo tema e gênero: Tragédias Cariocas, Peças Míticas e Peças Psicológicas. Seus prefácios às peças são verdadeiros ensaios sobre a obra do dramaturgo.

Sábato Magaldi foi casado com a escritora Edla Van Steen.

Morte

Sábato Magaldi morreu às 23h30 de quinta-feira, 14/07/2016, aos 89 anos. Ele estava internado desde o dia 02/07/2016 no Hospital Samaritano, em São Paulo, com problemas pulmonares. Sua morte de seu em decorrência de um quadro séptico, insuficiência renal e comprometimento pulmonar.

O velório ocorreu na sexta-feira, 15/07/2016, a partir das 12h00, no Cemitério Memorial Parque Paulista, em São Paulo. O corpo do crítico foi cremado às 15h00. Depois, as cinzas seguiram para o Rio de Janeiro, onde foram sepultadas no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Produção Literária

  • Panorama do Teatro Brasileiro (Global Editora, 2001)
  • Iniciação ao Teatro (Editora Ática, 1998)
  • O Cenário do Avesso (Editora Perspectiva, 1991)
  • Um Palco Brasileiro - O Arena de São Paulo (Editora Brasiliense)
  • Nelson Rodrigues - Dramaturgia e Encenações (Editora Perspectiva)
  • O Texto no Teatro (Editora Perspectiva)
  • As Luzes da Ilusão, em parceria com Lêdo Ivo (Global Editora)
  • Moderna Dramaturgia Brasileira (Editora Perspectiva, 1998)
  • Depois do Espetáculo (Editora Perspectiva, 2003)
  • Teatro da Obsessão - Nelson Rodrigues (Editora Global, 2004)
  • Teatro da Ruptura - Oswald de Andrade (Editora Global, 2003)
  • Teatro de Sempre (Editora Perspectiva, 2006)
  • Cem Anos de Teatro em São Paulo (Editora Senac, 2001)
  • Edição da obras de Nelson Rodrigues - Teatro Completo (Editora Global, Vários Volumes)
  • Teatro Vivo (Responsável pela Coleção)

Fonte: Wikipédia

Benedito Calixto

BENEDITO CALIXTO DE JESUS
(73 anos)
Pintor, Desenhista, Professor, Historiador, Escritor, Fotógrafo e Astrônomo Amador

☼ Itanhaém, SP (14/10/1853)
┼ São Paulo, SP (31/05/1927)

Benedito Calixto de Jesus foi um pintor, desenhista, professor, historiador e astrônomo amador brasileiro.

No final de século XIX e início do século XX, quatro gigantes das artes plásticas se destacaram no cenário paulista: Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto.

Considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX, Benedito Calixto de Jesus nasceu em 14/10/1853, no município de Itanhaém, litoral sul de São Paulo.

Benedito Calixto é o que se pode chamar de um talento nato. Autodidata, começou seus primeiros esboços ainda criança, aos 8 anos. Aos 16 anos mudou-se para Santos, SP, onde teve um começo de vida difícil, chegando a pintar muros e placas de propaganda para sobreviver.

Pátio do Colégio
Em Brotas

Entre os 17 e 18 anos, a convite do irmão mais velho, mudou-se para Brotas, interior de São Paulo, na época, próspera por sua produção de café. Foi morar na casa do irmão João Pedro, situada na esquina de uma praça, hoje denominada "Benedito Calixto". Como o irmão era o responsável pela conservação da igreja e das imagens ali existentes Benedito Calixto, que já tinha habilidades nesse oficio, o ajudava nessa missão, mas logo acabou ficando com a incumbência. Tendo material à sua disposição, nas horas vagas pintava telas com vistas do local, que oferecia aos amigos. Entre os primeiros quadros feitos no município estão o "Casamento dos Bugres" e "A Saída do Ninho", hoje em mãos de colecionadores em Brotas.

Na época decorou também a sala de jantar da casa do capitão Joaquim Dias de Almeida com motivos da fauna e flora brasileiras. Seu gênio alegre e comunicativo lhe trouxe grandes amizades no município. Um desses amigos, era o coronel Cherubim Vieira de Albuquerque, abastado cafeicultor da região, que veio a lhe encomendar diversos quadros. Entre estes, vistas de suas fazendas Paraíso e Monte Alegre em 1873. Retratou também nessa época o próprio coronel e sua filha Maria Eugênia de Albuquerque Pinheiro, quadros que ainda hoje se encontram no município.

Cubatão
De Volta a Itanhaém

Em 1877 retornou a Itanhaém para casar-se com sua prima de segundo grau, Antônia Leopoldina de Araújo. De volta a Brotas, continuou pintando paisagens das fazendas locais e retratos de grandes cafeicultores.

Em 1881 deixou Brotas e voltou a Itanhaém, onde nasceu sua primeira filha, Fantina. No final desse mesmo ano mudou-se com a família para Santos, SP, onde passou a pintar paisagens nos tetos e paredes das mansões dos prósperos comerciantes daquela cidade litorânea.

Paisagem (Da Série Mata) - 1910-20
Primeira Exposição

Fez sua primeira exposição em 1881 no salão do jornal Correio Paulistano, em São Paulo, não tendo conseguido vender nenhum trabalho, mas obteve apreciação favorável da crítica.

Em 1882, a sorte bateu em sua porta. Foi convidado a realizar trabalhos de entalhe e pintura na parte interna do Teatro Guarany, em Santos, o que lhe rendeu homenagens e uma bolsa de estudos, custeada por Nicolau de Campos Vergueiro, o Visconde de Vergueiro, para se aprimorar em Paris, onde ficou por quase um ano e frequentou o ateliê do mestre Rafaelli e a Academia Julian. Na Europa, realizou várias exposições de sucesso.

Em 1884, de volta à Santos, trouxe, na bagagem, um equipamento fotográfico e tornou-se pioneiro, no Brasil, em pintar a partir de fotografias.

Nos anos de 1886 e 1887, respectivamente, nasceram seus filhos Sizenando e Pedrina.

Em 1890, mudou-se para São Paulo.

Em 1897 voltou para o litoral e foi morar em uma casa construída por ele mesmo, em São Vicente. Produziu obras importantes para vários museus, entre eles o Museu do Ipiranga, em São Paulo, para inúmeras igrejas em todo o país, para associações, fundações, instituições, a exemplo da "Bolsa Oficial do Café", em Santos, onde uma de suas principais obras "A Fundação de Santos" ocupa uma parede inteira do salão principal, além de outras duas que também têm como tema o município de Santos e o vitral do teto com alegoria para os Bandeirantes.

Durante toda a sua trajetória produziu aproximadamente 700 obras, das quais 500 são catalogadas. Pintou marinhas, retratos, paisagens rurais, urbanas e obras religiosas. Estas últimas lhe renderam a Comenda de São Silvestre, outorgada pelo Papa Pio XI, em 1924.

Além da pintura se revelou como historiador, escritor e fotógrafo. Como historiador, resgatou a existência da então ignorada Capitania de Itanhaém, assim como sua importância na história da exploração e colonização do interior do Brasil, raças a minuciosas pesquisas a documentos seculares esquecidos em Itanhaém, São Vicente e São Paulo.

Benedito Calixto faleceu vítima de um infarto, no dia 31/05/1927, em São Paulo, na casa de seu filho Sizenando, para onde tinha ido com a intenção de comprar material para terminar duas telas para a Catedral de Santos. Foi enterrado no Cemitério do Paquetá, em jazigo perpétuo doado pela Prefeitura Municipal de Santos.

Suas duas últimas obras são intituladas "Noé" e "Melchisedech".

Foi homenageado na cidade de São Paulo com a Praça Benedito Calixto.

Paisagem Com Cruzeiro, 1920
Em Bocaina

Uma obra do acaso trouxeram as telas de Benedito Calixto para Bocaina, município do centro do Estado de São Paulo, hoje com 11 mil habitantes. A história registra que ele deveria pintar os seus quadros na Igreja Matriz de Jaú. Não houve acordo quanto ao preço e ele foi embora.

Em Bocaina, na época, estava o padre José Maria Alberto Soares. Ele gostaria de ter as telas do pintor em sua igreja e começou a escrever a Benedito Calixto, falando dessa vontade. Conseguiu sensibilizar o artista que veio a Bocaina e pintou as telas por um preço bem menor daquele que pedira em Jaú.

As obras podem ser consideradas o melhor da arte sacra pintada por Benedito Calixto, que por ter nascido e vivido em cidades litorâneas, pintou muitas marinhas. O próprio pintor considerava as telas "Salomé Recebe a Cabeça de João Batista" e "Transfiguração", como os seus melhores trabalhos sacros. Elas estão em Bocaina.

A 10/12/1923 começava seu último grande trabalho, a pintura dos quadros para a Matriz de São João Batista de Bocaina. Dominado pela ideia da morte próxima, dizia que nessa igreja seria o lugar onde se perpetuaria a sua derradeira arte.

Estátua de Benedito Calixto na Praça 22 de Janeiro - São Vicente, SP
Em São Carlos Exposição Permanente

Há uma exposição permanente "Benedito Calixto na Terra do Pinhal", com amplo panorama da vida e obra do célebre pintor brasileiro e trabalhos originais realizados por ele para o antigo Palácio Episcopal de São Carlos e que hoje pertencem ao acervo da municipalidade são-carlense, os quais são 8 afrescos que também estão na exposição.

A exposição é no Museu da Estação Cultura na Estação de São Carlos em São Carlos, de terça a sexta das 8:00 hs às 18:00 hs, e aos sábados, domingos e feriados, das 13:00 hs às 17:00 hs. A entrada é franca. O agendamento de grupos e escolas pode ser feito por telefone.

Auto-Retrato
Galeria de Pinturas

Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, entidade sem fins lucrativos, localizada em um antigo casarão em estilo eclético e interior em Art Noveau à Avenida Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão, Santos, São Paulo, tem uma exposição permanente de obras de Benedito Calixto. Seu acervo é de cerca de 50 obras do pintor - marinhas, paisagens, retratos e nus, desenhados na Academia Julian, Paris. O local está aberto para visitação de terça a domingo das 14:00 hs às 19:00 hs. Grupos ou escolas, que quiserem monitoria, podem ser agendados. A Pinacoteca conta também com uma biblioteca, com acervo de livros de arte, e um Centro de Documentação sobre Benedito Calixto e sua obra.

Fonte: Wikipédia

Pietro Bardi

PIETRO MARIA BARDI
(99 anos)
Jornalista, Ensaísta, Galerista, Marchand, Historiador, Crítico, Colecionador, Expositor e Negociador de Obras de Arte

☼ La Spezia, Itália (21/02/1900)
┼ São Paulo, SP (10/10/1999)

Pietro Maria Bardi foi um jornalista, historiador, crítico, colecionador, expositor e negociador de obras de arte. Pietro Maria Bardi ou simplesmente P.M. Bardi foi, junto com Assis Chateaubriand, o responsável pela criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), sendo seu diretor por 45 dedicados anos consecutivos.

Filho de Pasquale Bardi e Elisa Viggioni, Pietro era o segundo de quatro irmãos. Diziam que era de poucos amigos e que sua vida escolar foi bastante atribulada. O próprio Pietro Bardi declarou, em inúmeras entrevistas, ter sido reprovado quatro vezes na terceira série do ensino fundamental.

Abandonou a escola ainda novo, desanimado pelo insucesso, e atribuía sua inteligência a um acidente doméstico, após uma queda em que feriu a cabeça, onde a partir daí tomou gosto pela leitura. Lia absolutamente tudo que podia durante sua adolescência, hábito que o acompanhou por toda a vida.

Pietro Bardi ao lado da estátua de Assis Chateaubriand
Jornalismo

Ainda rapaz, Pietro Bardi trabalhou como operário assistente no Arsenale Marittimo e, em seguida, tornou-se aprendiz em um escritório de advocacia. Em 1917 foi convocado para integrar o Exército italiano e partiu de La Spezia para não mais retornar.

É nessa fase que ele iniciou de fato sua carreira jornalística, antes já esboçada em alguns artigos e colaborações a jornais como Gazzetta di Genova e o Indipendente e com a publicação, aos 16 anos, de seu primeiro livro, um ensaio sobre colonialismo.

Instalado em Bérgamo desde a baixa na carreira militar, Pietro Bardi encontrou trabalho no Giornale di Bergamo. Mais tarde, integrou a equipe do Popolo di Bergamo, Secolo, Corriere della Sera, Quadrante, Stile e muitos outros.

Escrever foi sua principal atividade profissional até a morte, a maneira encontrada para manifestar seu estilo polêmico e a crítica baseada no conhecimento profundo e na vivência cotidiana da arte, da política e principalmente da arquitetura.

Arte

Em 1924, Pietro Bardi transferiu-se para Milão e casou-se com Gemma Tortarolo, com quem teve duas filhas, Elisa e Fiorella. Foi em Milão que ele começou uma aventura como marchand e crítico de arte, com a aquisição da Galleria dell'Esame.

Em 1929 tornou-se diretor da Galleria d'Arte di Roma e mudou-se para a capital.

Trazendo uma exposição a Buenos Aires, passou pelo Brasil pela primeira vez em 1933. Foi nessa ocasião que viu a Avenida Paulista, futuro endereço do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Após a Segunda Guerra Mundial, Pietro Bardi conheceu a arquiteta Lina Bo no Studio d'Arte Palma, em Roma, onde ambos trabalhavam. Ele divorciou-se e casou-se com Lina Bo em 1946. No mesmo ano, atiraram-se à aventura da vinda para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade e cenário de uma arquitetura talentosa e promissora, situação oposta à da Europa, que amargava a reconstrução nos anos pós-guerra.

O casal alugou o porão de um navio cargueiro, o Almirante Jaceguay. Partiram de Gênova trazendo uma significativa coleção de obras de arte e peças de artesanato que seriam organizadas numa série de mostras. Transportaram também a enorme biblioteca do marchand. Chegaram ao Rio de Janeiro em 17/10/1946.

Lina Bo e Pietro Bardi
Com as obras trazidas da Itália, Pietro Bardi organizou a Exposição de Pintura Italiana Moderna, em cujos salões conheceu o empresário Assis Chateaubriand, que o convidou para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado.

De 1947 a 1996 Pietro Bardi criou e comandou o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Paralelamente, manteve sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador, galerista e marchand.

Publicou, em 1992, seu 50º e último livro, "História do MASP".

Em 1996, já adoecido, afastou-se do comando do museu.

Fundou, ao lado de Massimo Bontempelli, a revista Quadrante, importante periódico no qual diversos arquitetos modernos italianos, como Giuseppe Terragni, puderam publicar suas obras.

Abatido e com sua saúde debilitada desde a morte de Lina Bo, em março de 1992, morreu em 10/10/1999, tendo cumprido quase um século de vida a provar sua definição de si próprio, em resposta ao parceiro Assis Chateaubriand"Sim, sou um aventureiro".

Fonte: Wikipédia

Pandiá Calógeras

JOÃO PANDIÁ CALÓGERAS
(63 anos)
Engenheiro, Geólogo, Jornalista, Escritor, Historiador e Politico

* Rio de Janeiro, RJ (19/06/1870)
+ Petrópolis, RJ (21/04/1934)

João Pandiá Calógeras nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, em 19/06/1870, filho de Michel Calógeras e de Júlia Ralli Calógeras. Seu pai, de ascendência francesa, orientou a construção da Estrada de Ferro Mauá até Petrópolis, e dirigiu a ferrovia que ligava Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. A família Calógeras era de origem grega, proveniente de Chipre.

Pandiá Calógeras fez os primeiros estudos com professores particulares alemães, ingressando aos 14 anos no Colégio Pedro II, onde completou o curso secundário. Matriculou-se em seguida na Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, pela qual se formou engenheiro em 1890. Seu primeiro trabalho depois de formado foi a realização de pesquisas geológicas em Cariguaba, SC.

Casou-se em 1891 com Elisa da Silva Guimarães, filha de Joaquim Caetano da Silva Guimarães, ministro do Supremo Tribunal Federal, e sobrinha do escritor Bernardo Guimarães. Ainda em 1891, foi nomeado engenheiro, da então província de Minas Gerais e iniciou duradoura colaboração científica com publicações do Rio de Janeiro.

Em 1894, assumiu o cargo de consultor técnico do secretário de Agricultura, Comércio e Obras Públicas de Minas Gerais, Francisco Sá.

Foi eleito deputado federal na legenda do Partido Republicano Mineiro (PRM) para a legislatura de 1897-1899, logo destacou-se na Câmara por seu conhecimento dos problemas nacionais, especialmente os ligados à engenharia e à mineração. Defendeu a redução das tarifas alfandegárias, manifestou-se sobre a questão de fronteiras com a Guiana Francesa e se opôs à transferência da Escola de Minas para Barbacena, MG.

Tendo ficado contra o presidente da República, Prudente de Moraes, na cisão do Partido Republicano Federal (PR Federal), não conseguiu a reeleição para a Câmara no pleito de 1900 por lhe faltar o apoio dos grupos oligárquicos que, na época, controlavam as eleições no país.  

Depois de trabalhar algum tempo na mineração de manganês e de realizar uma viagem à Europa, Pandiá Calógeras retornou ao país e, em 1903, publicou "As Minas do Brasil e Sua Legislação", obra que lhe valeu projeção nacional. No livro, defendia a tese que mais tarde apresentou na Câmara e foi transformada na Lei Calógeras: propunha que se estabelecesse uma distinção entre a propriedade do solo e a do subsolo, assegurando ao governo o direito de desapropriar o subsolo para explorá-lo.

Retornou à Câmara ainda em 1903, eleito pelo Distrito de Ouro Preto na legenda do Partido Republicano Mineiro (PRM), e em pouco tempo adquiriu a reputação de uma das figuras mais expressivas do Congresso. Reeleito sucessivamente em 1906, 1909 e 1912, manteve-se no Parlamento até 1914, participando com destaque do debate de todas as principais questões nacionais da época.

Pronunciou-se sobre a valorização do café, a caixa de conversão, a reforma tributária, a política de transportes, a consolidação das fronteiras, a generalização de instrução pública de nível primário e, naturalmente, a mineração. Apresentou o projeto transformado na Lei Calógeras e, a convite do Barão do Rio Branco, integrou a delegação brasileira à III Conferência Pan-Americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906. Interveio na questão do condomínio da Lagoa Mirim, na fronteira entre Brasil e Uruguai, e da livre navegação no rio Jaguarão no Rio Grande do Sul.

Em 1908, discursou na Câmara sobre o reaparelhamento bélico. Participou da IV Conferência Pan-Americana, realizada em Buenos Aires em 1910, e ainda nesse período converteu-se ao catolicismo, manifestando-se em debates parlamentares contra o divórcio e a favor da instalação de uma representação diplomática permanente junto ao Vaticano.

Em seu último mandato fez cerrada oposição ao governo do marechal Hermes da Fonseca, e colaborou com a revista Defesa Nacional, dirigida pelo grupo dos "jovens turcos", oficiais que haviam estagiado no Exército alemão e pretendiam modernizar as forças armadas brasileiras. Eram conhecidos assim em alusão ao movimento nacionalista que atuava no processo de modernização da Turquia na mesma época.

No Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio

Ao assumir o governo federal, em 15/11/1914, o presidente Wenceslau Brás aceitou a sugestão de militares ligados aos "jovens turcos" e nomeou Pandiá Calógeras para a pasta da Agricultura, Indústria e Comércio. Em sua gestão, que durou apenas até julho do ano seguinte, o novo titular promoveu a reorganização de todos os departamentos do ministério, fixou as bases do crédito agrícola, aplicou a lei de sua autoria na regulamentação da propriedade das minas e estudou o uso do álcool como substituto da gasolina, em virtude de problemas de abastecimento causados pela Primeira Guerra Mundial. Baixou ainda decretos reorganizando os serviços de veterinária e de inspeção de defesa agrícola.

No Ministério da Fazenda

Em junho de 1915, substituiu interinamente o ministro da Fazenda, Sabino Alves Barroso Júnior, impedido por motivo de doença. Após acumular as duas pastas durante um mês, foi efetivado no Ministério da Fazenda, onde encontrou uma situação precária, marcada pela carência de rendas para cobrir as necessidades mais urgentes, uma grande dívida flutuante, a arrecadação aduaneira reduzida a 1/3, a suspensão da cobrança de impostos até que se resolvessem alguns protestos e reclamações, a paralisia dos transportes marítimos e a existência de um segundo funding loan (consolidação dos empréstimos brasileiros junto aos credores ingleses).

Além desses problemas, Pandiá Calógeras enfrentou a incúria administrativa e a corrupção, o que lhe valeu ataques publicados na imprensa pelos beneficiários desse estado de coisas. Superando os obstáculos, o novo ministro regularizou a dívida flutuante, reorganizou a Casa da Moeda e assumiu a responsabilidade integral pelo funding, promovendo um acordo com os credores estrangeiros que impediu seu controle sobre as alfândegas brasileiras. Ao deixar a pasta, em setembro de 1917, recebeu da Casa Rothschild um documento atestando que nunca as finanças brasileiras tinham se apresentado tão florescentes.

Reconduzido à Câmara Federal em 1918, recebeu do presidente eleito Francisco de Paula Rodrigues Alves a incumbência de elaborar um relatório da situação do país, que viria a ser posteriormente publicado sob o título de "Problemas da Administração". Em novembro desse ano, motivos de saúde impediram a posse de Rodrigues Alves no seu segundo mandato à frente do governo federal, assumindo então, por pouco tempo, o vice-presidente eleito Delfim Moreira.

Com o término da Primeira Guerra Mundial, realizou-se em Versalhes, França, a Conferência de Paz. Pandiá Calógeras integrou a delegação brasileira ao congresso, presidida pelo senador Epitácio Pessoa. Entretanto, Epitácio Pessoa foi eleito presidente da República para completar o quadriênio, e retornou ao Brasil. Pandiá Calógeras assumiu a chefia da delegação e, após o encerramento do Congresso de Versalhes, permaneceu ainda algum tempo na Europa, representando o Brasil em alguns encontros internacionais e chefiando a missão comercial que esteve na Inglaterra em 1919.

No Ministério da Guerra

Regressando ao Brasil, Pandiá Calógeras não retomou seu mandato parlamentar em virtude de ter sido nomeado ministro da Guerra do governo de Epitácio Pessoa, tornando-se o único civil a ocupar esse cargo na história republicana do país. Sua escolha foi aprovada por um grande número de oficiais do Exército, que já lhe haviam prestado homenagens quando de sua atuação nos outros ministérios. Também repercutira favoravelmente um discurso que pronunciara na Câmara no ano anterior sobre a situação das forças armadas.

Em sua administração, iniciada em outubro de 1919, o Exército brasileiro experimentou intensa modernização, expansão e aperfeiçoamento em todos os setores, contando para isso, a partir de 1920, com a assessoria da missão militar francesa chefiada pelo general Maurice Gustave Gamelin, que teve profunda influência na reorganização do Exército e na formação de oficiais de estado-maior.

Pandiá Calógeras promoveu a reforma da instrução dos quadros e da tropa, tornando-a mais técnica com a criação de escolas para cada especialidade, entre elas a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Além disso, baixou nova regulamentação para as escolas de Estado-Maior, de Aviação, de Veterinária e para os colégios militares. Instituiu também a instrução física obrigatória para todas as armas.

Alterou ainda a divisão territorial militar e a organização das divisões do Exército, reorganizando a Artilharia de Costa e criando a Diretoria Geral de Intendência de Guerra.

Fez grandes aquisições de material bélico moderno para as diversas armas e serviços, incrementando a indústria militar nacional, sobretudo as fábricas instaladas em Realengo, no Rio de Janeiro, e em Piquete, SP.  Construiu 103 estabelecimentos militares espalhados por todo o país, tomando cuidados especiais com as instalações de serviços básicos nas casernas. No setor de aviação, montou novas esquadrilhas, inclusive de aviões de caça.

Por influência direta da missão francesa, surgiram em 1920 o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) e o Regulamento Interno de Serviços Gerais (RISG). Data também dessa época a formulação da primeira política de defesa nacional abrangendo todos os aspectos de vida do país, desde a preparação militar propriamente dita até o desenvolvimento de indústrias estratégicas, como a siderurgia. Foi o desdobramento dessa concepção que levou à criação, em 1927, do Conselho de Defesa Nacional.

Ainda em 1920 o Governo Federal adquiriu a Fazenda Quitaúna, em São Paulo, onde Pandiá Calógeras construiu um quartel-general que serviu de apoio à ampliação da força militar estacionada nesse estado.

No final de sua gestão à frente do Ministério da Guerra ocorreu o levante de 05/07/1922, inaugurando o ciclo de movimentos tenentistas que marcou a década. Pandiá Calógeras participou diretamente dos acontecimentos que antecederam a revolta, bem como da repressão ao levante. Foi ele que, a pedido do presidente Epitácio Pessoa, enviou em 1º de julho um aviso de repreensão ao marechal Hermes da Fonseca, presidente do Clube Militar, por suas declarações contra a participação de tropas federais no conflito entre forças políticas pernambucanas em torno do resultado das eleições estaduais ali realizadas. A polêmica então estabelecida entre o marechal e o governo levou à sua prisão e ao fechamento do Clube Militar no dia 2 de julho, o que revoltou parcela ponderável da juventude militar. Informado dos preparativos para uma revolta no forte de Copacabana, Pandiá Calógeras enviou o capitão José da Silva Barbosa, acompanhado pelo general Bonifácio Costa, para substituir Euclides Hermes da Fonseca, filho de Hermes da Fonseca, no comando dessa corporação. A prisão desses oficiais legalistas pela guarnição de Copacabana configurou o início do levante, que envolveu também a Escola Militar e algumas tropas da Vila Militar, no Rio de Janeiro, além do contingente estacionado em Mato Grosso.

Em todas essas frentes, a revolta foi rapidamente sufocada. Esperançosos de obter o apoio dos oficiais da Vila Militar, os alunos da Escola Militar, chefiados pelo coronel João Maria Xavier de Brito Júnior, começaram sua marcha sobre a cidade. Recebidos a tiros pela guarnição, recuaram para Realengo, onde se renderam. Como conseqüência, mais de quinhentos alunos foram expulsos da escola. Também em Mato Grosso a rebelião foi logo dominada, com o deslocamento de tropas da Força Pública de São Paulo, que obtiveram a rendição dos rebeldes.

No forte de Copacabana, a revolta teve início em um ambiente de desilusão, causado pela certeza de que não poderiam contar com o apoio dos companheiros de conspiração. Apesar disso, os revoltosos atingiram o prédio do Ministério da Guerra com tiros de canhão, o que alarmou as autoridades e levou à mudança do quartel-general legalista para a guarnição do Corpo de Bombeiros situada do outro lado da praça fronteiriça, o Campo de Santana. Em 6 de julho, o forte foi cercado e Pandiá Calógeras começou a ameaçar seus ocupantes com um ataque por terra e mar, caso não se rendessem. Diante da situação, o capitão Euclides Hermes liberou seus soldados e oficiais para optarem, permanecendo no quartel apenas 28 voluntários dispostos a lutar. Pouco depois, Euclides Hermes foi preso ao sair do forte para parlamentar com Pandiá Calógeras.

Sob o comando do tenente Antônio Siqueira Campos, os revoltosos resolveram então abandonar o quartel e continuar a luta marchando pela avenida Atlântica de encontro às forças legalistas, desencadeando então o episódio conhecido como Os 18 do Forte, última escaramuça da revolta de 1922, que resultou na morte de vários revoltosos e ferimentos nos restantes.

Depois de 1922

Com o fim do mandato de Epitácio Pessoa, 15/11/1922, Pandiá Calógeras deixou o ministério e se afastou da política por discordar da eleição de Arthur Bernardes para a presidência da República.

Entre 1923 e 1929, presidiu a Companhia Nacional de Artefatos de Cobre (Conac), desenvolvendo também grande atividade intelectual como jornalista, conferencista e escritor. Nesse período, publicou "A Política Exterior do Império", em três volumes, considerada sua obra mais importante como historiador e, em 1930, "Formação Histórica do Brasil". Em 1928, foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia.

Quando das eleições presidenciais de março de 1930, apoiou Getúlio Vargas, candidato da Aliança Liberal (AL), coligação interpartidária de oposição. Com a vitória do situacionista Júlio Prestes, as forças oposicionistas aceleraram os preparativos para uma revolta armada que, deflagrada em 3 de outubro, foi vitoriosa ao cabo de 21 dias de luta. Convidado, Pandiá Calógeras recusou-se a participar da junta governativa que exerceu o poder até a formação, em 3 de novembro, do Governo Provisório, chefiado por Getúlio Vargas. Esse governo nomeou-o em 1931 relator do projeto sobre legislação de minas nas comissões legislativas então instituídas e membro da Comissão de Estudos Financeiros e Econômicos dos Estados e Municípios. No mesmo ano, a convite do governo mineiro, estudou a reforma do sistema tributário desse estado.

Em 1932 tornou-se presidente da Liga Eleitoral Católica e manifestou simpatias pela Revolução Constitucionalista, deflagrada em São Paulo para exigir a imediata reconstitucionalização do país e a devolução da autonomia estadual. Mesmo derrotada, a Revolução teve influência na convocação de eleições para a Assembléia Nacional Constituinte em 1933. Nesse pleito, concorrendo em Minas Gerais na legenda do Partido Progressista (PP), Pandiá Calógeras obteve a maior votação até aí alcançada no Brasil por um candidato a deputado. Pouco depois, seu nome foi incluído na lista apresentada por líderes mineiros a Getúlio Vargas para que este escolhesse o interventor que substituiria o governador Olegário Maciel, recém-falecido, na chefia do Executivo estadual. A escolha do chefe do Governo Provisório recaiu, entretanto, sobre Benedito Valadares.

Foi em Petrópolis, RJ, que Pandiá Calógeras viveu os últimos anos de sua profícua existência e onde provavelmente escreveu "Ascensões D'alma", obra publicada em 1934, com prefácio do Padre Leonel Franca, verdadeira obra-prima que revela seu amor pelo Criador e sua fidelidade aos ensinamentos do Evangelho.

Pandiá Calógeras faleceu em Petrópolis, no Sanatório São José, anexo aos Hospital Santa Tereza, onde se achava em tratamento havia poucos dias, às 20:30 hs do dia 21/04/1934. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal, numa sepultura em cuja lápide ainda hoje podem-se ler os dizeres:

"Ad pedes tuos... Fiat voluntas tua..."
(Aos teus pés... Faça-se a tua vontade...)"

Dizeres que refletem a resignação e a humildade evangélica que acompanharam sua alma profundamente cristã nos estertores de sua existência.

Pandiá Calógeras faleceu na vigência de seu mandato constituinte.

Foi patrono da cadeira nº 7 e membro correspondente no exterior da Academia Carioca de Letras. Além de inúmeros discursos, relatórios e artigos, publicou obras sobre diferentes temas, nas áreas de sociologia, história, finanças, indústria, administração, engenharia, política e pedagogia, entre as quais "As Minas do Brasil e Sua Legislação" (3v., 1904-1905), "La Politique Monétaire du Brésil" (1910), "Os Jesuítas e o Ensino" (1911), "Novos Rumos Econômicos" (1912), "Rio Branco e a Política Exterior" (1916), "A Política Exterior do Império" (3v., 1927-1933), "A União Brasileira" (1927), "A Ordem de São Bento e a Civilização" (1927), "Problemas de Governo" (1928), "Formação Histórica do Brasil" (1930), "Conceito Cristão do Trabalho" (1932), "Problemas de Administração" (1933), "Estudos Históricos e Políticos (Res Nostra)" (2ª ed., 1936), "O Marquês de Barbacena" (1936), "Ascensões D'alma (Uma Página Íntima)", "As Relações Exteriores do Brasil" e "A Lei de Minas".  

Deixou vários inéditos, entre os quais "Diário da Conferência de Paz", um ensaio sobre a eucaristia, e um trabalho de caráter íntimo chamado "Méditations".

Muitos artigos e livros foram escritos sobre a vida de Pandiá Calógeras, entre os quais o de de E.M de Castro e Silva, "À Margem do Ministério Calógeras", a coletânea "Pandiá Calógeras na Opinião de Seus Contemporâneos" (1934), o de Antônio Gontijo de Carvalho, "Calógeras" (1935) e o de Luís Pinto, "Pandiá Calógeras" (1955).

Nicolau Sevcenko

NICOLAU SEVCENKO
(61 anos)
Historiador

* São Vicente, SP (1952)
+ São Paulo, SP (13/08/2014)

Nicolau Sevcenko foi um historiador brasileiro que dedicou-se ao estudo da história, com ênfase na cultura brasileira e desenvolvimento social das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Formou-se na Universidade de São Paulo (USP), onde manteve o cargo de professor de história da cultura, além de membro do Center For Latin American Cultural Studies do King's College da Universidade de Londres.

Foi professor visitante também na Universidade de Georgetown, Washington, DC, e na Universidade de Illinois, Urbana-Champaign, nos Estados Unidos.

Nascido em 1952, em uma família de ucranianos fugidos da Guerra Civil Russa, Nicolau Sevcenko nasceu em São Vicente, no litoral do estado de São Paulo. Sua infância, conciliada entre o trabalho, esporte e estudos, lhe deu uma visão de mundo bastante ampla e significativa, o que o levou a optar pela História.

Graduado em 1975 e doutorado em História Social, em 1981, ambos pela Universidade de São Paulo (USP), em 1990, fez pós-doutorado pela Universidade de Londres. Já lecionou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lecionando na Universidade de São Paulo desde 1985 até sua aposentadoria em 2012. Desde então passou a dar aulas na Universidade Harvard.

É autor de obras como "A Corrida Para o Século XXI", "Orfeu Extático na Metrópole - São Paulo nos Frementes Anos 20", "Literatura Como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na I República", "A Revolta da Vacina, Mentes Insanas Em Corpos Rebeldes", "O Renascimento" e "Pindorama Revisitada".


Morte

Nicolau Sevcenko morreu por volta das 19:00 hs de quarta-feira, 13/08/2014, em sua residência em São Paulo, aos 61 anos. Sua esposa, a editora Cristina Carletti, afirmou que ele deve ter sofrido um infarto.

Fonte: Wikipédia

Celso Vieira

CELSO VIEIRA DE MATOS MELO PEREIRA
(76 anos)
Escritor, Historiador, Biógrafo e Ensaísta

☼ Recife, PE (12/01/1878)
┼ (19/12/1954)

Celso Vieira de Matos Melo Pereira, mais conhecido como Celso Vieira, foi um historiador, escritor, biógrafo e ensaísta brasileiro. Nasceu na cidade do Recife, PE, em 12/01/1878 e era filho de Rafael Francisco Pereira e de Marcionila Vieira de Melo Pereira.

Mudou-se para Belém, PA, onde ali estudou no Colégio Paes Leme, iniciando o curso de direito, que concluiu no Rio de Janeiro, em 1899. Já formado, voltou ao Recife, participando no ano de 1901 da fundação da Academia Pernambucana de Letras, ali assentando na Cadeira 20. Foi, ainda, presidente desta entidade.

Retornou, mais tarde, para o Rio de Janeiro, onde ocupou alguns cargos públicos, como o de auxiliar do Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, a secretaria do Tribunal de Justiça deste estado e ainda a direção do Gabinete do Ministro da Justiça, dentre outros.

Academia Brasileira de Letras

Terceiro ocupante da cadeira que tem por patrono Tobias Barreto, sucedendo a Santos Dumont que, havendo cometido suicídio, não chegou a tomar posse. Foi eleito a 20/07/1933, sendo empossado em 05/05/1934, recebido por Aloysio de Castro. No Silogeu ocupou a secretaria e a presidência, esta última em 1940. Foi o imortal encarregado de recepcionar o acadêmico  Vítor Viana, em 30/08/1935.

Celso Vieira foi sucedido na Academia Brasileira de Letras, pelo médico e professor Maurício de Medeiros.

Celso Vieira faleceu em 19/12/1954.

Excertos

"No oratório-berço donde veio Rui - berço e altar de Vera Cruz - era ainda criança e colegial, quando a voz de um poeta anunciou que ele seria um tribuno-gigante. Com efeito, à velha tribuna religiosa de Antônio Vieira, prodígio do século XVII e enlevo do templo católico, erigida no solo baiano, sucedeu a tribuna jurídica, freqüentada pela nova eloqüência e pelo novo sacerdócio, em que se multiplicaram as suas orações, flamejantes cóleras ou esplendentes milagres do Verbo nas alturas."
(Homenagem a Ruy Barbosa)

"Senhores Acadêmicos. Quando fui recebido nesta casa, em 1935, por Aloysio de Castro, sentenciou esse amável confrade, resumindo-me o longo tirocínio administrativo, que o secretariado era a minha vocação e o meu fadário. Houve sorrisos discretos no auditório ilustre. Daí por diante, confirmando o vaticínio ao colega, que exultava à hora das eleições, infalivelmente, a Academia elegeu-me 2o secretário, 1o secretário e secretário geral, posto já ofuscante, no qual supunha eu ter vencido o ápice do meu destino (...)"
(Do Discurso Inaugural da Sessão de 28/12/1939)

Publicações

Autor pouco conhecido, tanto da crítica quanto do público, Celso Vieira publicou os seguintes trabalhos, a maioria no campo biográfico:

  • 1919 - Endymião
  • 1919 - O Semeador
  • 1920 - Defesa Social
  • 1923 - Varnhagen
  • 1929 - Anchieta
  • 1932 - Para as Lindas Mãos
  • 1936 - Aspectos do Brasil
  • 1939 - Tobias Barreto
  • 1941 - Estudos e Orações (Ensaios)
  • 1945 - Manuel Bernardes, Clássico e Místico
  • 1946 - Scepticisme et Beauté
  • 1949 - Joaquim Nabuco
  • 1951 - O Gênio e a Graça

Barão do Rio Branco

JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS JÚNIOR
(66 anos)
Diplomata, Advogado, Geógrafo e Historiador

* Rio de Janeiro, RJ (20/04/1845)
+ Rio de Janeiro, RJ (10/02/1912)

Filho de José Maria da Silva ParanhosVisconde do Rio BrancoBarão do Rio Branco é o patrono da diplomacia brasileira e uma das figuras mais importantes da história do Brasil.

Cursou o Colégio Pedro II, em 1862, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, porém transferiu-se no último ano para a Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1866. e logo em seguida viajou pela Europa.

Iniciou-se nas letras em 1863, nas páginas da revista Popular, com uma biografia de Luís Barroso Pereira, comandante da fragata Imperatriz. Posteriormente, em 1866, na revista l'Illustration, desenhou e escreveu sobre a Guerra do Paraguai, defendendo o ponto de vista do Brasil.

Em 1868, substituiu por três meses Joaquim Manuel de Macedo como professor na cadeira de Corografia e História do Brasil, no Colégio Dom Pedro II.

Em 1869, foi nomeado promotor público de Nova Friburgo. No mesmo ano acompanhou, como secretário da Missão Especial, o Visconde do Rio Branco ao Rio da Prata e ao Paraguai. No mesmo caráter se manteve, em 1870 e 1871, nas negociações de paz entre os membros da Tríplice Aliança e o Paraguai.

Regressando ao Rio de Janeiro, dedicou-se ao jornalismo. Foi dirigir o jornal A Nação, juntamente com Gusmão Lobo, tendo colaborado, a partir de 1891, no Jornal do Brasil. Em maio de 1876, Rio Branco deixava o jornalismo para aceitar o cargo de cônsul-geral do Brasil em Liverpool.


A Diplomacia

Cônsul-geral em Liverpool a partir de 1876, foi ministro acreditado na Alemanha em 1900, assumindo o Ministério das Relações Exteriores, de 03/12/1902 até sua morte, em 1912. Ocupou o cargo ao longo do mandato de quatro presidentes da república - governos de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca - configurando-se uma unanimidade nacional em sua época.

Em 1884, recebeu a comissão de delegado à Exposição Internacional de São Petersburgo e, depois de proclamada a República, foi nomeado, em 1891, em substituição do conselheiro Antonio Prado, superintendente geral na Europa da emigração para o Brasil, cargo que exerceu até 1893.

Durante a estadia na Europa, produziu várias obras: redigiu uma memória sobre o Brasil para a Exposição de São Petersburgo; para o Le Brésil, de Sant'Anna Nery, escreveu "Esquisse de l'Histoire du Brésil"; apresentou contribuições para a Grande Encyclopédie, de Levasseur, na parte relativa ao Brasil.

Recebeu o título de Barão do Rio Branco às vésperas do fim do período imperial, mas continuou a utilizar o título "Rio Branco" em sua assinatura mesmo após a proclamação da república, em 1889. Isso se deu por ser um monarquista convicto e para homenagear seu falecido pai, o senador e diplomata José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco.

Questões Internacionais

Sua maior contribuição ao país foi a consolidação das fronteiras brasileiras, em especial por meio de processos de arbitramento ou de negociações bilaterais, dos quais se destacam três questões de fronteiras:

Amapá: Obteve uma vitória sobre a França sobre a fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, causa ganha pelo Brasil em 1900 em uma arbitragem do governo suíço. A fronteira foi definida no Rio Oiapoque.

Palmas: Em 1895, havia já conseguido assegurar para o Brasil boa parte do território dos estados de Santa Catarina e Paraná, em litígio contra a Argentina no que ficou conhecido como a Questão de Palmas. Essa primeira arbitragem foi decidida pelo presidente norte-americano Grover Cleveland, e teve como opositor pelo lado da Argentina Estanislau Zeballos, que mais tarde se tornou ministro do exterior argentino e durante muito tempo acusou Rio Branco de perseguir uma política imperialista.

Acre: Foi o prestígio obtido nesses dois casos que fez com que Rodrigues Alves escolhesse Rio Branco para o posto máximo da diplomacia em 1902, quando o Brasil estava justamente envolvido em uma questão de fronteiras, desta vez com a Bolívia.

Esta tentava arrendar uma parte do seu território a um consórcio empresarial anglo-americano. A terra não era reclamada pelo Brasil, mas era ocupada quase que integralmente por colonos brasileiros, que liderados por Plácido de Castro resistiam às tentativas bolivianas de expulsá-los, episódio que ficou conhecido como Revolução Acreana.

Em 1903, assinou com a Bolívia o Tratado de Petrópolis, pondo fim ao conflito dos dois países em relação ao território do Acre, que passou a pertencer ao Brasil mediante compensação econômica e pequenas concessões territoriais. Esta é a mais conhecida obra diplomática de Rio Branco, cujo nome foi dado à capital daquele território, hoje Estado.


Outros Sucessos e Reconhecimento

Negociou com o Uruguai o condomínio sobre o Rio Jaguarão e a Lagoa Mirim, essencialmente uma concessão voluntária do Brasil a um vizinho que necessitava daqueles canais. Por essa razão, foi homenageado pelo governo do Uruguai, sendo conferido seu nome à antiga Pueblo Artigas, hoje cidade de Rio Branco, no departamento de Cerro Largo, vizinha da brasileira Jaguarão.

O município de Paranhos, MS, localizado na fronteira com o Paraguai foi batizado em sua homenagem.

Em 1908, então no Rio de Janeiro, convidou o engenheiro Augusto Ferreira Ramos a projetar um sistema teleférico que facilitasse o acesso ao cume do morro da Urca, conhecido mundialmente como o bondinho do Pão de Açúcar.

Em 1909, seu nome foi sugerido para a sucessão presidencial do ano seguinte. Rio Branco preferiu declinar de qualquer candidatura que não fosse de unanimidade nacional.

Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1907 - 1912) e escreveu dois livros.
Seu filho, Paulo do Rio Branco, foi um proeminente jogador de rugby do Brasil na França.

Argentina e Amapá

Em 1893, Floriano Peixoto escolheu Rio Branco para substituir o Barão Aguiar de Andrade, falecido no desempenho da missão encarregada de defender os direitos do Brasil aos territórios das Missões. A questão, nos últimos dias do Império, fora submetida ao arbitramento do presidente Cleveland, dos Estados Unidos, como resultado do tratado de 07/09/1889, concluído com a Argentina.

Rio Branco, encarregado de advogar os pontos de vista brasileiros, apresentou ao presidente Cleveland uma exposição, acompanhada de valiosa documentação, reunida em seis volumes, A questão de limites entre o Brasil e a Argentina, obra que muito contribuiu para o laudo arbitral de 05/02/1895, inteiramente favorável às pretensões brasileiras.

Em 1898, foi encarregado de resolver outro importante assunto diplomático: a questão do Amapá. O tratado de 10/04/1897 escolheu para árbitro da questão o presidente da Suíça. Rio Branco vinha estudando a questão do Amapá desde 1895. Ao chegar a Berna, apresentou uma memória de sete volumes. A sentença arbitral, de 01/12/1900, foi favorável ao Brasil, e o nome de Rio Branco foi colocado em plano de superioridade em relação a qualquer outro político ou estadista brasileiro da época.

Ministro das Relações Exteriores

Em 31/12/1900 foi nomeado ministro plenipotenciário em Berlim. Em 1902 foi convidado pelo presidente Rodrigues Alves a assumir a pasta das Relações Exteriores, na qual permaneceu até a morte, em 1912.

Logo no início de sua gestão, defrontou-se com a questão do Acre, território fronteiriço que a Bolívia pretendia ocupar, solucionando-a pelo Tratado de Petrópolis. A seguir, encetou negociações com outros países limítrofes, cujas fronteiras com o Brasil suscitavam questões litigiosas. Seu empenho encerrou as velhas disputas que o Brasil mantinha com quase todos os países da América do Sul.

Em 1901, apesar dos esforços e do valor intelectual do plenipotenciário brasileiro, Joaquim Nabuco, a questão da Guiana Inglesa foi resolvida, por laudo do árbitro Victor Emanuel, rei da Itália, contra o Brasil. Rio Branco, no entanto, soube entender os motivos do laudo que despojava o Brasil de uma parte do seu território e deu a Joaquim Nabuco a compensação de nomeá-lo embaixador do Brasil em Washington.

Definindo O Contorno Do Território Brasileiro

Veio, depois, uma série de tratados memoráveis: em 1904, com o Equador; em 1906, com a Guiana Holandesa; em 1907, com a Colômbia; em 1904 e 1909, com o Peru; em 1910, com a Argentina. Ficavam definidos, de um modo geral, os contornos do território brasileiro, assim como, com pequenas alterações, ainda hoje subsistem.

Além da solução dos problemas de fronteira, Rio Branco lançou as bases de uma nova política internacional, adaptada às necessidades do Brasil moderno. Foi, nesse sentido, um devotado pan-americanista, preparando o terreno para uma aproximação mais estreita com as repúblicas hispano-americanas e acentuando a tradição de amizade e cooperação com os Estados Unidos.


Últimos Dias

Sofrendo de problemas renais, pediu demissão de seu cargo, o que foi negado pelo presidente Hermes da Fonseca.

Em seus últimos instantes de vida, lamentou o bombardeio da capital baiana, Salvador, motivado por uma crise política e ocorrido em 10/01/1912.

Sua morte, durante o carnaval de 1912, alterou o calendário da festa popular naquele ano, dado o luto oficial e as intensas homenagens que lhe renderam na cidade do Rio de Janeiro.

"Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam ansiosa da saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a intempérie  dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à Pátria, e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil, alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao seu direito. (...)"
(Gazeta de Notícias, 11 de fevereiro de 1912)

Por ajudar na consolidação do território nacional sempre buscando soluções pacíficas para os conflitos com os vizinhos do Brasil o Barão do Rio Branco é considerado o patrono da diplomacia brasileira.

Seu corpo foi sepultado no jazigo de seu pai, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

Representações Na Cultura

O Barão do Rio Branco já foi retratado como personagem no cinema, interpretado por J. Silveira no filme "A Vida do Barão do Rio Branco" (1912). Também teve sua efígie impressa nas notas de 5 mil réis de 1913 e 1924, Cr$ 5 (cinco cruzeiros) de 1950, nas de Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros) de 1978 - por este fato, a gíria popular brasileira incorporou o termo "barão" como sinônimo de "mil" - e cunhado no verso das moedas de 50 centavos em circulação atualmente no Brasil. Até mesmo a quantia de mil reais é designada como "um barão".

Academia Brasileira de Letras e Homenagens

Foi o segundo ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 01/10/1898, na sucessão de João Manuel Pereira da Silva.

Atualmente, também há referência a seu famoso título de nobreza no nome do notório Instituto Rio Branco, instituição de ensino superior subordinada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) que forma diplomatas de carreira.

Fundado em 1945 como parte da comemoração do centenário de nascimento do Barão do Rio Branco, o Instituto Rio Branco (IRBr) localiza-se em Brasília atrás do Palácio do Itamaraty.

Seu título é também atribuído ao nome do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, localizado na cidade de Urussanga, Estado de Santa Catarina, à cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre à Avenida Rio Branco, uma das principais vias urbanas do centro da cidade do Rio de Janeiro, capital, e a Rua Barão do Rio Branco em Curitiba, no Paraná.


Wilson Martins

WILSON MARTINS
(88 anos)
Magistrado, Professor, Escritor, Jornalista, Historiador e Crítico Literário

* São Paulo, SP (03/03/1921)
+ Curitiba, PR (30/01/2010)

Wilson Martins foi um magistrado, professor, escritor, jornalista, historiador e crítico literário brasileiro e autor da coleção monumental "História da Inteligência Brasileira".

Com apenas 16 anos de idade, Wilson Martins já era revisor no jornal Gazeta do Povo como prestador de serviço, sendo contratado somente em 1945 como funcionário do jornal. Formou-se em Direito, mas após concluir um curso de especialização literária em Paris, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura, como professor e crítico.

Wilson Martins foi também professor de Literatura Francesa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e lecionou por 26 anos em Nova York, na New York University, aposentando-se deste cargo em 1992, quando foi homenageado com o título de Professor Emérito. No entanto, apesar da sólida carreira acadêmica, era na crítica literária jornalística que se sentia mais em casa.

Autor de diversas obras, destacou-se pela fundamental "História da Inteligência Brasileira", com diversos volumes. Igualmente fundamental é a "Crítica Literária no Brasil", história da atividade crítica no País. Com suas obras, Wilson Martins ganhou alguns dos principais prêmios literários nacionais. Recebeu prêmios como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por duas vezes, por volumes do livro "História da Inteligência Brasileira", e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2002, pelo conjunto de sua obra.

Foi durante 25 anos crítico literário de O Estado de S.Paulo e também do Jornal do Brasil. Foi colunista da Gazeta do Povo e do O Globo.

Era um crítico de "linha de frente", que analisava obras no calor da hora, assim que os livros saem do prelo, ao contrário de colegas acadêmicos, que esperam décadas antes de se pronunciar.

Foi no âmbito jornalístico que se tornou conhecido e amealhou respeito geral - mesmo daqueles que desaprovavam suas opiniões.

Wilson Martins nunca deixou de escrever o que pensava, como quando desaprovou o romance "O Fotógrafo", de Cristóvão Tezza, que admirava, mas dizia conter palavrões em excesso.

Quando completou 80 anos, a editora Top Books lançou um volume em sua homenagem, significativamente intitulado "Mestre da Crítica". Nele, escrevem colegas ilustres como Affonso Romano de Sant"Anna, Moacyr Scliar, Edson Nery da Fonseca, Antonio Candido e outros, tendo por tema a carreira do crítico Wilson Martins ou assuntos literários em geral.

Mas o melhor dos ensaios do livro é assinado pelo próprio homenageado. Com o título de "O Crítico Por Ele Mesmo", Wilson Martins faz um resumo de sua vida profissional. O texto serve como testamento de uma carreira e também pode funcionar como inspiração a quem pretenda segui-la, apesar dos percalços atuais do jornalismo cultural.

Wilson Martins se dizia educado pelo "sistema antigo, de rigor, disciplina e obediência, sem excessos de complacência". Sua base cultural foi formada em especial pelo autodidatismo. Lia sem parar, desde criança, e, mais tarde, escrever sobre aquilo que lia lhe pareceu tão natural como beber um copo d"água.

Seu primeiro emprego como crítico foi no Estado, em substituição ao então mitológico Sérgio Milliet.

Desde o início, Wilson Martins não negligenciou o fato de que para apreciar uma obra era preciso compará-la. E o cânone literário, hoje descartado como politicamente incorreto, seria a melhor tábua de comparação disponível. Mesmo porque ele não foi formado de maneira arbitrária, mas por um consenso que vem de um longo assentimento. Shakespeare, Proust, Machado de Assis não ocupam o lugar que ocupam por acaso.

O alvo dessas críticas de Wilson Martins era o multiculturalismo e o relativismo, que coloca toda e qualquer obra em pé de igualdade. Isso seria nivelar a cultura por baixo, segundo entendia. Portanto, é a qualidade da obra que deveria nortear a crítica, mesmo que seja tão difícil distinguir, no novo, o que é bom do que não é.

Tentá-lo, e chegar o mais próximo possível da "verdade", é a tarefa do crítico, como ele a concebia. E apontar o que é bom em sua época, o maior desafio daquele que escreve sobre obras alheias. O crítico faz suas apostas. A posteridade julga as obras, e o próprio crítico. Nesse ponto, Wilson Martins valorizava seu ofício de crítico "de fronteira", distinguindo-se claramente dos colegas de universidade.

Sempre provocativo, Wilson Martins se dizia "o último crítico literário em atividade". Talvez tenha sido mesmo.

Wilson Martins também foi um dos primeiros locutores da Rádio Clube Paranaense, nos anos de 1930 e 1940.


Morte

Wilson Martins faleceu após passar por uma cirurgia para retirada da bexiga, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, PR, cidade onde ele era radicado havia muitos anos, apesar de nascido em São Paulo, em 1921.

O corpo do escritor foi cremado em 01/02/2010, em cerimônia reservada à família, no Crematório Vaticano, na capital paranaense.