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Alfredo Balena

ALFREDO BALENA
(68 anos)
Médico, Farmacêutico e Humanista

* Nápoles, Itália (17/11/1881)
+ Belo Horizonte, MG (23/12/1949)

Alfredo Balena foi farmacêutico, médico e humanista ítalo-brasileiro. Foi um dos mais importantes fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Com a idade de 2 anos ele foi para Ouro Preto, MG, onde passou sua meninice e juventude. Alí estudou as primeiras letras e ensaiou os primeiros passos. Seu ideal era a Medicina. Porém, como frisa o professor Oscar Versiani, não pôde logo estudar em vista da febre amarela que assolava o Rio de Janeiro. Em Ouro Preto mesmo, estudou Farmácia, diplomando-se em 1901.

Amainado o perigo da febre amarela no Rio de Janeiro, foi fazer seu curso médico, tendo-o terminado em 08/05/1907, quando defendeu, de modo brilhante, a tese: "Preservação da Infância contra a Tuberculose".

Em 1908 abriu seu consultório em Belo Horizonte, onde clinicou até a morte.

Alfredo Balena foi médico chefe de serviço da Enfermaria Veiga de Clínica Médica de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte por mais de 40 anos, entre 1908 e 1949. Nesse período, foi também membro do Conselho Médico Consultivo da direção médica da Santa Casa.

Fotografia, sem data precisa, da antiga sede da Faculdade de Medicina, inaugurada em 1914 na Avenida Mantiqueira, atual Avenida Alfredo Balena
Foi fundador, juntamente com outros 11 médicos, da atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 1911, àquela época denominada simplesmente de Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Foi importante integrante da comissão dos trabalhos para a criação da Universidade de Minas Gerais (UMG), atual Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criada em 07/09/1927. Foi diretor da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte por quase 20 anos, 1927-1933 e 1935-1949, com interrupção forçada de dois anos, de março de 1933 a junho de 1935, pois foi obrigado a deixar o cargo, italiano que era de origem, sob a alegação de não ser permitido o exercício de cargos de direção pública a não-brasileiros natos. Nesse período, assumiu a direção o seu vice-diretor, professor Antônio Aleixo, de março de 1933 a maio de 1934, catedrático de Dermatologia e Sifilografia.

Ao ser restabelecida a autonomia da Universidade de Minas Gerais, que fora cassada por Getúlio Vargas, assumiu a direção o professor Olinto Meireles, de maio de 1934 a junho de 1935, catedrático de Farmacologia.

Em 1935, com a nova lei que estabelecia normas para a eleição de diretores e cancelava a exigência anterior que qualquer dirigente fosse brasileiro nato, Olinto Meireles considera terminado o seu mandato.

Com a eleição e recondução de Alfredo BalenaOlinto Meireles é escolhido vice-diretor. Foram ainda vice-diretores de Alfredo Balena, em mandatos seguintes, os professores João de Melo Teixeira e Luís Adelmo Lodi.

Em 1946 foi aprovado o plano de obras de construção do novo hospital, o Hospital São Vicente de Paulo, anexo à Faculdade de Medicina, hospital-escola para os estudantes de medicina, hoje chamado Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.

Durante o mandato de Alfredo Balena ocorreu a federalização da Universidade, cujo empenho na comissão dos trabalhos para a federalização da Faculdade de Medicina, ocorrida em 1949, foi de extrema importância.

Calçamento da Avenida Professor Alfredo Balena em Belo Horizonte, MG
Alfredo Balena presidiu a Associação Medico-Cirúrgica de Minas Gerais em 1916, de 1921 a 1927 e 1935, e o Sindicato Médico de Minas Gerais. Foi membro do Instituto Histórico de Ouro Preto, membro honorário da Academia Paulista de Medicina, membro honorário da Academia de Ciências Psicoquímicas de Palermo, na Sicília, membro correspondente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, membro correspondente da Sociedade de Neuriatria e Psychiatria do Rio de Janeiro. Participou do Conselho Científico da Revista Médica de Minas na área de Clínica Médica, sob a direção científica do professor Lopes Rodrigues catedrático de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Minas Gerais e docente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É o patrono da cadeira nº 57, Medicina Interna - Clínica Médica, da Academia Mineira de Medicina.

Na Faculdade de Medicina, foi professor de Fisiologia, Patologia Geral, Propedêutica Médica, Neurologia, Psiquiatria e catedrático de Clínica Médica. Era participante da comissão de redação da Revista Annaes da Faculdade de Medicina da UMG, colaborador efetivo da Revista Mineira de Medicina, órgão oficial da Associação Médico Cirúrgica de Minas Gerais, da Associação Mineira dos Farmacêuticos e da Sociedade Mineira de Odontologia.

Em 1944, convidou seu amigo e compatriota Luigi Bogliolo, residente àquela época no Rio de Janeiro, onde era professor catedrático de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na época simplesmente Universidade do Brasil, para se tornar professor catedrático de Anatomia e Fisiologia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pouco mais de um ano após a chegada de Luigi Bogliolo a Belo Horizonte, terminava a Segunda Guerra Mundial.

O espírito liberal e conciliador de Alfredo Balena poderia ser demonstrado pela citação de diversos episódios, um deles envolvendo o então diretor da Faculdade de Medicina e o então estudante Hélio Pellegrino, formado em 1947. Em seu livro "A Burrice do Demônio", publicado logo após sua morte, o escritor, poeta e psicanalista Hélio Pellegrino cita a seguinte passagem:

"Outro dia, remexendo velhos papéis, encontrei cópia de uma carta por mim endereçada ao professor Alfredo Balena, na época diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. O documento traz a data de 7 de maio de 1946 e se destina a solicitar, do mestre venerado, ajuda da Escola para a publicação do jornal Geração, órgão da União Estadual dos Estudantes. Tinha eu, naquele tempo, 22 anos e - conforme convém à juventude - nutrida prosápia. Como redator-chefe do jornal, avisava ao professor Balena, 'por dever de lealdade', que as subvenções 'seriam levadas em conta de compreensão e estímulo aos ideais da mocidade, sem que nelas se configurasse qualquer espécie de compromisso'. Além do mais, era dito, na carta, com todas as letras, que o quinzenário da União Estudantil dos Estudantes teria 'nítida tendência socialista', dispondo-se a dizer a verdade duramente, 'na certeza de ser esta a única forma de fidelidade aos interesses do povo e da classe estudantil'.
Veio a subvenção, veio o primeiro número do jornal, com suas duras verdades. Na página de rosto, Wilson Figueiredo, hoje jornalista ilustre, me estrevista a propósito da vida, do amor, da morte - e da política. Tenho guardado esse número inaugural de Geração, salvo por acaso dos roazes ácidos do tempo."

Alfredo Balena faleceu em 23/12/1949, dias após do decreto que federalizava a Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (UMG), outro velho sonho seu, para cuja concretização lutou obstinadamente. Morreu após quatro anos de terrível sofrimento, durante os quais conviveu estoicamente com repetidas crises de angor pectoris.

Pela grande proximidade e envolvimento com os alunos da Faculdade, foi conferido, após seu falecimento, ao órgão de representação dos alunos o nome de Diretório Acadêmico Alfredo Balena. Entre outras homenagens em reconhecimento aos serviços prestados à terra adotiva, seu nome foi dado à antiga Avenida Mantiqueira, hoje Avenida Alfredo Balena, onde situa, ainda hoje, a Faculdade que ajudou a criar e que tanto amou.

Obras

  • "Álbum Médico de Bello Horizonte - História da Santa Casa de Misericórdia de Bello Horizonte", 1912, constante na Biblioteca Pública Luís de Bessa de Belo Horizonte.
  • "Anatomia Patológica", oferta do Diretório Acadêmico Alfredo Balena - DAAB à Biblioteca J. Baeta Vianna, em 24 de março de 1969 - diretoria 68/69.
  • Oscar Caldeira Versiani reuniu seus trabalhos em três volumes intitulados "Obras do Professor Alfredo Balena", constantes da Biblioteca J. Baeta Vianna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
  • Biblioteca de livros de Medicina e Biblioteca de livros de Literatura, doados à Faculdade de Medicina, como consta do seu inventário.

Trabalhos Científicos

  • Tese de doutoramento sobre "Preservação da Infância Contra a Tuberculose", aprovada com distinção, apresentada na conclusão do Curso de Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro da Universidade do Brasil - 1907.
  • "Diagnóstico Precoce da Tuberculose Pulmonar", Memória apresentada no VI Congresso de Medicina e Cirurgia - 1911.
  • "Bradicardias Gripais", Memória apresentada ao VIII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia - 1918.
  • "Syndrome de Adams-Stokes Post Grippaes" em Archivos Brasileiros de Medicina - 1919.
  • "Tratamento da Choréa de Sydenham Pelas Injecções Intra-racheanas de Electrargol", Memória apresentada no I Congresso Brasileiro da Criança - 1922.
  • "Epilepsia Endócrina" em Jornal dos Clínicos - 1926.
  • "Novo Processo Terapêutico da Coréia de Sydenham" - Leuzinger - 1926 - Rio de Janeiro.
  • "Superioridade Intellectual e Desequilibrios Endócrinos", Brasil Médico - 1927.
  • "Desordens do Rithmo Cardíaco na Ancylostomiose", Memória apresentada no X Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia - 1929.
  • "Desordens Reflexas do Ritmo Cardíaco na Uncinariose" - 1929.
  • "Derrames Pleurais nos Cardíacos" - 1930.
  • "Giardiose Biliar", Brasil Médico - 1934.
  • "Estudo Clínico da Giardiose Humana" - Memória apresentada no VI Congresso Médico Pan-Americano - 1935.
  • "Esplenomegalia Esquisotossomótica" - 1935.
  • "Insuficiência Cardíaca Incipiente" - 1935.
  • "A Giardiose e Sua Terapêutica" - 1938 e 1939.
  • "Vitamina A e a Resistência a Tuberculose Pulmonar" - 1940.
  • "Da Síndrome Gastro-Cardíaca de Roemheld" - 1946.
  • Diversas lições clínicas publicadas em várias revistas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.


Fonte: Wikipédia

Leonardo Villas-Bôas

LEONARDO VILLAS-BÔAS
(43 anos)
Humanista e Sertanista

* Botucatu, SP (1918)
+ São Paulo, SP (06/12/1961)

Leonardo Villas-Bôas foi um sertanista brasileiro, o mais jovem dos irmãos Villas-Bôas.

Leonardo Villas-Bôas nasceu em Botucatu SP em 1918. Membro, como os irmãos Orlando Villas-Bôas e Cláudio Villas-Bôas, da expedição Roncador-Xingu, viveu depois, por vários anos, no posto Jacaré, no alto Xingu.

Em 1961 foi encarregado de fundar um posto no alto Kuluene, mas adoeceu e teve de ser retirado do sertão. Pacificou os índios Xikrin, ramo Caiapó, do sudoeste do Pará, e tomou parte na Operação Bananal (1960), organizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi também chefe da base de Xavantina.

Leonardo Villas-Bôas viveu com a índia Pele de Reclusa entre 1947 e 1953. O jovem Villas-Bôas teria mantido uma relação ilícita, pública e de exclusividade com Pele de Reclusa. A índia era parte da tribo de índios Kamayuráuma e esposa do grande xamã e chefe Kutamapù, uma das mulheres do chefe, o que, entre outras coisas, fez com que ela fosse coletivamente estuprada pelos homens da aldeia como forma de punição.

"Arraia de Fogo" de José Mauro de Vasconcelos, narra perfeitamente o trabalho e as dificuldades dos irmãos Villas-Bôas, ao travar contatos com os índios. Trata-se de um romance, que tem como personagem principal, não Cláudio Villas-Bôas ou Orlando Villas-Bôas, poderia tratar-se de Leonardo Villas-Bôas? Tão pouco citado, mas de grande importância, pois trabalhou arduamente com seus imãos Cláudio e Orlando.

Leonardo Villas-Bôas morreu na cidade de São Paulo em 1961 vítima de Miocardia Reumática.

Leonardo, Orlando e Cláudio
Os Irmãos Villas-Bôas

Os irmãos Villas-Bôas - Orlando Villas-Bôas (1914-2002), Cláudio Villas-Bôas (1916-1998) e Leonardo Villas-Bôas (1918-1961), foram importantes sertanistas brasileiros.

Nascidos na cidade de Botucatu, interior de São Paulo, com a morte dos pais, Agnello e Arlinda Villas-Bôas, a cidade de São Paulo já não os prendia. Vieram do interior paulista para a Capital pois o pai, Agnello, advogado, havia sido convidado por um escritório do ramo. Mudaram-se para uma pensão na Rua Bento Freitas, esquina com a Rua Marquês de Itu.

Fundação Brasil Central - Expedição Roncador Xingu

O lançamento do plano de ocupação do território brasileiro a "Marcha Para o Oeste" no ano de 1938 estava em completa sintonia com os mais recentes e graves acontecimentos políticos que haviam abalado o Brasil. No dia 10 de novembro de 1937, o país ouvira, em cadeia de rádio, a decretação do Estado Novo e Getúlio Vargas (1882-1954) permaneceria na presidência da República até 29 de outubro de 1945. Getúlio Vargas passou a governar através de decretos-lei e mobilizou o país em uma campanha de integração nacional: A "Marcha Para o Oeste". Nas palavras de Getúlio Vargas, pronunciadas naquele primeiro de ano:

"A civilização brasileira a mercê dos fatores geográficos, estendeu-se no sentido da longitude, ocupando o vasto litoral, onde se localizaram os centros principais de atividade, riqueza e vida. Mais do que uma simples imagem, é uma realidade urgente e necessária galgar a montanha, transpor os planaltos e expandir-nos no sentido das latitudes. Retomando a trilha dos pioneiros que plantaram no coração do Continente, em vigorosa e épica arrancada, os marcos das fronteiras territoriais, precisamos de novo suprimir obstáculos, encurtar distâncias, abrir caminhos e estender fronteiras econômicas, consolidando, definitivamente, os alicerces da Nação. O verdadeiro sentido de brasilidade é a 'Marcha Para o Oeste'. No século XVIII, de lá jorrou o caudal de ouro que transbordou na Europa e fez da América o Continente das cobiças e tentativas aventurosas. E lá teremos de ir buscar: - dos vales férteis e vastos, o produto das culturas variadas e fartas; das entranhas da terra, o metal, com que forjar os instrumentos da nossa defesa e do nosso progresso industrial."
(Saudação aos Brasileiros, Pronunciado no Palácio Guanabara e Irradiada Para Todo o País, às 00:00 hs de 31 de Dezembro de 1937)

Orlando Villas-BôasCláudio Villas-Bôas e Leonardo Villas-Bôas tomaram parte desde as primeiras atividades da vanguarda da Expedição Roncador-Xingu criada pelo governo federal no início de 1943 com o objetivo de conhecer e desbravar as áreas mostradas em branco nas cartas geográficas brasileiras. O índio apareceria, mais tarde, diante da expedição como um "obstáculo".

Posteriormente foram designados chefes da expedição. Em face disso foram acelerados todos os trabalhos em andamento, possibilitando assim que fosse vencida a grande e difícil etapa Rio das Mortes - Alto Xingu. A segunda etapa, ainda mais longa Xingu - Serra do Cachimbo - Tapajós, deixou no roteiro uma dezena de campos de pouso. Alguns desses campos - Aragarças, Barra do Garças, Xavantina, Xingu, Cachimbo, e Jacareacanga, foram mais tarde transformados em Bases Militares e em importantes pontos de apoio de rotas aéreas nacionais e transcontinentais pelo Ministério da Aeronáutica. Outros campos intermediários como o Kuluene, Xingu, Posto Leonardo Villas-Bôas, Diauarum, Telles Pires e Kren-Akôro, tornaram-se Postos de assistência aos índios.

LeonardoCláudio e Orlando foram os principais idealizadores e participaram do grupo integrado pelo marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional, Café Filho, vice-presidente da República, brigadeiro Raimundo Vasconcelos de Aboim, Darcy Ribeiro e José Maria da Gama Malcher, diretor do Serviço de Proteção aos Índios, que, pleiteou ao presidente da República a criação do Parque Nacional do Xingu. A criação desse parque visava a preservar a fauna e a flora ainda intocadas da região, assim como resguardar as culturas indígenas da área. Dessa reunião também participou o médico sanitarista Noel Nutels.

Como decorrência dos esforços envidados pelos irmãos Villas-Bôas e pelo auxílio das personalidades citadas, foi criado, em 1961, o Parque Nacional do Xingu, a mais importante reserva indígena das Américas.

No que tange à fauna e à flora, a reserva procuraria guardar para o Brasil futuro um testemunho do Brasil do Descobrimento, considerando-se a descaracterização violenta pela qual vem passando as nossas reservas naturais. Ali, a reserva mostraria ao Sul os últimos descampados e cerrados do Brasil Central - para através de uma transição busca, mostrar ao Norte, com toda a exuberância, a Hileia Amazônica caracterizada pelas seringueiras, cachoeiras, castanheiras e as gigantescas samaumeiras.

Por fim, cabe registrar que no roteiro da Expedição Roncador-Xingu, órgão da vanguarda da Fundação Brasil Central, em toda a sua extensão entre os Rios Araguaia e Mortes, Mortes e Kuluene (região da Serra do Roncador), Kuluene-Xingu (abrangendo extenso vale), Xingu-Mauritsauá, cobrindo ampla região do Rio Teles Pires ou São Manuel, alcançando, ainda, a encosta e o alto da Serra do Cachimbo, nasceram mais de quarenta municípios e vilas, quatro bases de proteção de voo do Ministério da Aeronáutica, dentre as quais se destaca a Base da Serra do Cachimbo.

A permanência efetiva dos irmãos Villas-Bôas na área do sertão foi de 42 anos.

Carta de próprio punho do Marechal Rondon para os Irmãos Villas-Bôas. O marechal só escrevia de próprio punho para sua filha e para os Villas-Bôas. É importante atentar para o encerramento da carta: "afetuoso abraço do velho, seu admirador Cândido M. S. Rondon"

A Política Indigenista Proposta Pelos Irmãos Villas Bôas

O posicionamento dos irmãos Villas Bôas acerca da política indigenista brasileira, foi tributário das idéias do marechal Rondon. Nesse sentido, mostrou-se pautado por uma intensa preocupação protecionista e preservacionista relativamente aos povos indígenas, procurando, contudo, interferir o mínimo possível na vida e na organização social desses povos. Foi com base nessas premissas que eles conduziram pacificamente o contato com todas as tribos indígenas da região do Xingu e lá implantaram uma reserva, Parque Indígena do Xingu, cuja intenção básica foi proteger e resguardar os povos indígenas xinguanos de contatos indiscriminados com as frentes de penetração de nossa sociedade.

Trata-se de um posicionamento que, em linhas gerais, caminha no sentido da orientação pacifista rondoniana, mas que, entretanto, não se restringe a ela, pois a perspectiva dos Villas-Bôas não visava mais a pacificação dos índios com vistas a transformá-los em trabalhadores rurais. Ao contrário, a partir dos contatos e das relações privilegiadas que tiveram com as populações indígenas do Xingu, os irmãos Villas-Bôas puderam apreender toda a riqueza cultural das mesmas, o que os levou a defender não apenas a sua integridade física, mas também sua integridade cultural.

Conforme enfatiza Darcy Ribeiro:

"Os Villas-Bôas dedicaram todas as suas vidas a conduzir os índios xinguanos do isolamento original em que os encontraram até o choque com as fronteiras da civilização. Aprenderam a respeitá-los e perceberam a necessidade imperiosa de lhes assegurar algum isolamento para que sobrevivessem. Tinham uma consciência aguda de que, se os fazendeiros penetrassem naquele imenso território, isolando os grupos indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência."
(Darcy Ribeiro - "Confissões" - São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194)

O antropólogo americano Shelton Davis, ao analisar os dois principais modelos de política indigenista que se confrontaram no Brasil durante a segunda metade do século XX, ressalta que:

"Quando a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) foi criada em 1967, dois modelos opostos de uma política indigenista existiam no Brasil. Um desses modelos, que era radicalmente protecionistas na natureza, foi desenvolvido por Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas no Parque Nacional do Xingu. Segundo este modelo, as tribos indígenas devem ser protegidos pelo governo federal a partir de invasões na fronteira fechada parques indígenas e reservas, e estar preparado gradualmente, como independente, grupos étnicos, para se integrarem na sociedade em geral e a economia do Brasil. Em oposição à filosofia dos irmãos Villas-Bôas era um segundo modelo de política indigenista que foi desenvolvido pelo Serviço de Proteção ao índio brasileiro nos últimos anos de sua existência e, posteriormente, assumido pela FUNAI. Este modelo foi desenvolvimentista na natureza e foi baseada na premissa de que os grupos indígenas devem ser rapidamente integrados, como força de trabalho de reserva ou como produtores de bens transacionáveis  nas economias em expansão regional e rural estruturas de classe do Brasil."
(Shelton Davis - "Vítimas do Milagre de Nova York" - Cambridge University Press, 1977)

Os irmãos Villas-Bôas sustentavam uma política indigenista fundada em dois princípios básicos:


  • Os índios só sobrevivem em sua própria cultura;
  • Os processos integrativos ocorridos historicamente no Brasil teriam, via de regra, conduzido à desagregação das comunidades indígenas e não à sua efetiva participação em nossa sociedade.



Os Índios

No aspecto dos índios, os irmãos Villas-Bôas implantaram uma nova política indigenista, que, basicamente, consistia na defesa dos valores culturais dos índios, como único meio de evitar a marginalização e o desaparecimento dos grupos tribais. A partir da máxima segundo a qual "O índio só sobrevive na sua própria cultura", os irmãos Villas-Bôas conseguiram implantar uma nova forma de relacionamento entre nossa sociedade e as comunidades indígenas brasileiras. Essa política vem sendo esposada por etnólogos e entidades científicas não só nacionais, como estrangeiras.

Os irmãos Villas-Bôas mostraram que a antiga visão que a sociedade nacional tinha acerca do índio era absolutamente equivocada. Não se tratava, portanto, de sociedades selvagens, sem regras e sem estrutura social como se narrava na época do Descobrimento do Brasil. A nova imagem do índio, trazida pelos irmãos Villas-Bôas à nossa sociedade, era a de uma sociedade equilibrada, estável, erguida sobre sólidos princípios morais e donos de um comportamento ético que sustentava uma organização tribal harmônica. A esse respeito Cláudio Villas-Bôas teria dito certa feita:

"Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela Terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar."
(Cláudio Villas-Bôas)


Parque Indígena do Xingu

A área do Parque Nacional do Xingu, hoje Parque Indígena do Xingu, que conta com mais de 27 mil quilômetros quadrados, está situado ao norte do estado de Mato Grosso, numa zona de transição florística entre o planalto central e a Amazônia. A região, toda ela plana, onde predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do Xingu e pelos seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores são os Rios Kuluene, Ronuro e Batoví. Os afluentes, os Rios Suiá Miçu, Maritsauá Miçu, Auaiá Miçu, Uaiá Miçu e o Jarina, próximo da cachoeira de Von Martius.

Atualmente, vivem na área do Xingu, aproximadamente 5.500 índios de catorze etnias diferentes pertencentes às quatro grandes famílias linguísticas indígenas do Brasil: Carib, Aruak, Tupi, Jê. Centros de estudo, inclusive a Unesco, consideram essa área como sendo o mais belo mosaico lingüístico puro do país. As tribos que vivem na região são: Kuikuro, Kalapálo, Nafukuá, Matipú, Mehinaku, Awetí, Waurá, Yawalapiti, Kamayurá, Trumái, Suyá (Kisedjê), Juruna (Yudjá), Txikão (Ikpeng), Kayabí, Mebengôkre e Kreen-Akarôre (Panará).

Marco do Centro Geográfico Brasileiro, plantado pelos irmãos Villas-Bôas a pedido do Marechal Rondon
Foi também Orlando Villas-Bôas e seu irmão Cláudio Villas-Bôas quem, por solicitação do marechal Rondon,  plantou o Centro Geográfico Brasil, às margens do rio Xingu, 17.800 metros para o interior.

O estabelecimento de campos de apoio e pontos de segurança de voo  na rota do Brasil central, proporcionou à aeronáutica civil substancial economia em horas de voo, principalmente nos cursos internacionais. E foram esses sem dúvida, os objetivos que levaram à instalação, hoje dos núcleos de proteção de voo de Aragarças, Xavantina, Xingu, Cachimbo (hoje a maior base aérea militar do Brasil) e Jacareacanga. A esses trabalhos estiveram empenhados os irmãos Villas-Bôas que, a partir de Xavantina, foram os responsáveis por toda uma marcha desbravadora, como também, locação dos pontos e dos campos pioneiros. Logicamente, tudo isso foi feito mediante pagamento de pesado tributo, cobrado pelo sertão e suas áreas insalubres. Para testemunhar, duas centenas de malárias que a cada um se registra.

Após encerrarem suas atividades no Parque Indígena do Xingu, os dois irmãos Orlando Villas-Bôas e Cláudio Villas-Bôas, aposentados, continuaram atuando como assessores da presidência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Estimativa dos Trabalhos Realizados

  • Expedição Roncador-Xingu - picadas: cerca de 1.500 quilômetros;
  • Rios navegados (explorados): cerca de mil quilômetros;
  • Campos abertos (inclusive aldeias): dezenove;
  • Campos (hoje bases militares para a segurança de vôo): quatro;
  • Rio desconhecidos (levantados e explorados): seis;
  • Marcos de coordenadas: seis;
  • Tribos assistidas (aldeias): dezoito.
  • Esse intenso trabalho exploratório no interior do Brasil permitiu o mapeamento de um território até então desconhecido.



Homenagens

Os irmãos Villas-Bôas receberam diversas homenagens em razão do trabalho desenvolvido, depois do falecimento os irmãos receberam muitas outras láureas, à título póstumo. Destacam-se entre elas:

  • Medalha do Fundador, concedida pela Royal Geographical Society Of London, com a aprovação da Rainha da Inglaterra;
  • As mais altas condecorações brasileiras como o Grau Oficial da Ordem do Rio Branco e Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito, entre outras;
  • Membros do The Explorers Club Of New York";
  • Foi apresentado para o Prêmio Nehhu da Paz bem como para o Prêmio Nobel da Paz com indicações de Julian Huxley e Claude Lévi-Strauss.
  • Receberam, ainda, cinco títulos Doutor Honoris Causa de universidades estaduais e federais brasileiras e algumas dezenas de títulos de cidadãos honorários de todo território brasileiro.


Cláudio Villas-Bôas

Cláudio Villas-Bôas
(81 anos)
Humanista e Sertanista

* Botucatu, SP (08/12/1916)
+ São Paulo, SP (01/03/1998)

Cláudio Villas-Bôas nasceu em Botucatu, e, juntamente com os irmãos Orlando Villas-Bôas e Leonardo Villas-Bôas, criou o Parque Nacional do Xingu e a própria FUNAI. Os irmãos Villas-Bôas ficaram internacionalmente conhecidos depois de realizarem a chamada "Marcha Para o Oeste", quando contataram 21 aldeias indígenas em locais de difícil acesso, entre 1966 e 1968. A maioria dessas tribos ainda não tinha tido nenhum contato com o mundo civilizado.

Os últimos anos do sertanista Cláudio Villas-Bôas no Xingu foram marcados por longas conversas com líderes indígenas que habitam o norte do parque, sobre as ameaças que eles sofriam com a abertura de fazendas e estradas em torno da área demarcada. Nesses encontros o sertanista, angustiado, não cansava de aconselhar os índios a se unirem. "O inimigo de vocês não é outro grupo indígena, mas o homem branco", repetia Cláudio Villas-Bôas.

A preocupação do sertanista com a situação dos índios do Xingu aumentou quando o parque, criado em l958, foi cortado ao norte pela rodovia que iria ligar Brasília a Manaus, a BR-080. Traçada no papel, a estrada nunca foi concluída, mas deixou o Parque Nacional do Xingu vulnerável. Os índios xinguanos, até o início da década de 70, tinham poucos contatos com o mundo externo.


Os militares que dirigiram a FUNAI na década de 70 defendiam que o Parque Nacional do Xingu não podia continuar "como um zoológico onde os índios eram mantidos longe dos brancos para o deleite de fotógrafos e antropólogos". Cláudio Villas-Bôas e seu irmão Orlando Villas-Bôas, lutavam para que os índios xinguanos, mesmo encantados com as novidades que chegavam da cidade, não sucumbissem aos valores do chamado mundo civilizado.

A inauguração do primeiro trecho da BR-080, já dentro do parque, foi acompanhada pelo cacique Raoni e outros guerreiros da tribo, que pintados de preto não escondiam sua irritação. Na tentativa de melhorar o clima de constrangimento, o então presidente da FUNAI, general Bandeira de Mello, ofereceu a Raoni a oportunidade de fazer uma plástica para tirar o botoque que o cacique ainda hoje usa no lábio inferior. "Se eu quiser falo com o Cláudio", respondeu ríspido o chefe metutire.

Pouco antes de deixar o parque definitivamente, em 1976, Cláudio Villas-Bôas estava pessimista quanto ao futuro não só dos índios do Xingu.

"Quem viveu mais de 30 anos com os índios, como eu, sente que eles representam uma outra humanidade, com valores complexos que nós não conseguimos compreender", dizia o sertanista. Ele também repetia que o índio é sempre mais feliz antes de entrar em contato com o branco. Cláudio Villas-Bôas sabia do que estava falando. No início da década de 70, os irmãos Villas-Bôas chefiaram a expedição lançada pelo governo para entrar em contato com os índios Crenhacarore e dois anos depois mais da metade tinha morrido dizimada pelas doenças levadas pelos brancos.


Morte

O sertanista Cláudio Villas-Bôas morreu, na madrugada 01/03/1998, em São Paulo, vítima de Ataque Cardíaco fulminante, no apartamento no qual ele morava com o irmão Orlando Villas-Bôas, na zona oeste da cidade e foi sepultado no final da tarde, no Cemitério do Morumbi. Cláudio Villas-Bôas tinha 81 anos e, nos últimos meses, vinha apresentando problemas de saúde.


Orlando Villas-Bôas

ORLANDO VILLAS-BÔAS
(88 anos)
Humanista e Sertanista

☼ Botucatu, SP (12/01/1914)
┼ São Paulo, SP (12/12/2002)

Orlando Villas-Bôas era o último sobrevivente de quatro irmãos indigenistas. Era o mais velho e último dos irmãos Villas-Bôas - Cláudio, Leonardo e Álvaro. O sertanista e indigenista nasceu em 12 de janeiro de 1914 em Botucatu, interior de São Paulo e se tornou fazendeiro, a exemplo de seu pai, Agnello. Foi um menino travesso quando estudava no grupo escolar do bairro paulistano de Perdizes, e seu espírito irrequieto predizia o futuro de sertanista e indigenista, sempre em busca de novas fronteiras.

Em 1935 Orlando Villas-Bôas alistou-se no Exército onde ficou até 1939 e foi expulso porque só obedecia "às ordens que julgava certas", conforme dizia.

Aos 29 anos resolveu trocar o emprego e a vida na cidade pela selva. Orlando Villas-Bôas dedicou grande parte de sua vida à defesa dos povos da selva.

Conheceu o deputado Ulysses Guimarães na escola, a quem apresentou a Jânio Quadros, seu amigo - e Ulysses Guimarães muito o agradeceu depois, pois se iniciou na política ao conhecer Jânio Quadros. Depois de trabalhar numa empresa de petróleo, onde se sentia entendiado e tendo provocado a própria demissão, dirigiu-se para o estado de Goiás, remando durante 22 dias no Rio Araguaia e que era o início de uma história de 40 anos pela causa indígena, abraçada depois pelos irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro.


Com Cláudio e Leonardo, Orlando fez o reconhecimento de numerosos acidentes geográficos do Brasil Central. Em suas andanças, os irmãos abriram mais de 1.500 quilômetros de picadas na mata virgem, onde surgiram vilas e cidades. Foi indicado duas vezes para o Prêmio Nobel da Paz, com Cláudio, em 1971 e, em 1976, pelo resgate das tribos xinguanas.

Os irmãos lideraram a Expedição Roncador-Xingu, iniciada em 1943 e que depois de 24 anos deixou em seu rastro mais de 40 novas cidades, 19 campos de pouso e o Parque Nacional do Xingu, criado por lei em 1961, com a ajuda do antropólogo Darcy Ribeiro.

A criação do Parque Nacional do Xingu em 1961 foi conseguida facilmente por Orlando Villas-Bôas, dada sua amizade com o então presidente da República, Jânio Quadros. O Xingu tem cerca de quatro mil habitantes divididos entre 13 nações assentadas em 2.800.704,3343 hectares - mais ou menos o tamanho da França e Inglaterra juntas. 

Na expedição, Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro, mapearam os seus encontros com catorze tribos indígenas, conseguindo permissão tácita para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cuidadosos, eles souberam agir contra idéias militaristas ou contra a ação de especuladores.

Crítico da influência do homem branco, Orlando Villas-Bôas destacava que 400 anos depois do início da colonização europeia, cada uma das tribos assentadas às margens do Rio Xingu mantinha sua própria cultura e identidade.

Orlando Villas-Bôas contava que ao chegar à mata pela primeira vez encontrou os índios amedrontados, se homiziando e lançando flechas. Ele dizia que jamais reagiu às flechadas e procurava ganhar a amizade dos índios transmitindo-lhes um espírito de confiança e amizade. 

Orlando Villas-Bôas
Orlando e seus irmãos ajudaram a consolidar o Parque Nacional do Xingu com o apoio do Marechal Cândido Rondon, de Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutels.

Os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro Villas-Bôas cuidadosamente mapearam seus encontros com as 14 tribos indígenas que encontraram, obtendo sempre permissão para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cientes da fragilidade das comunidades às doenças da civilização ocidental, eles impediram que a política militarista se instalasse entre pessoas armadas apenas com flechas e os fuzis de um Brasil que passo a passo procurava fazer da terra um motivo de exploração econômica.

A esposa de Orlando Villas-Bôas, a enfermeira Marina Villas-Bôas, conta muitas das suas proezas. Ele a viu pela primeira vez em um consultório médico, e, como precisava de uma enfermeira para a expedição que chefiava resolveu convidá-la. Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhando pela missão indígena. "Nesse tempo contraíu malária 15 vezes e Orlando pelo menos umas 200", conforme disse.

Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de cuidar de muitos casos de malária. "Os índios tinham o organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de branco, mas conseguimos êxito rapidamente".

O lazer, no Xingu, era algo restrito a jogos de cartas e passeios nas margens do rio segundo Marina. "À noite, jogávamos baralho ou conversávamos", relata. "Assim, eu me apaixonei por ele, só que Orlando demorou quase dois anos para perceber".

Em 1978, Orlando Villas-Bôas deixou definitivamente o Parque Nacional do Xingu. Em 1984, aposentou-se para viver em sua casa no bairro paulistano de Alto da Lapa, e cultuava, num grande galpão nos fundos de casa, uma espécie de miniatura da Mostra do Redescobrimento (Exposição Brasil + 500, montada no Pavilhão da Bienal no ano 2000), composta de grande variedade de objetos indígenas, guardados em prateleiras, cada um com uma história a contar. Ele, e seus três irmãos eram contrários à ação colonizadora que se iniciara há quatro séculos.

Irmãos Villas-Bôas (Foto: Beatriz Lefèvre)
Procuraram descobrir intacto um universo de hábitos e ética inteiramente diferentes. À medida que encontravam novas tribos assentadas às margens do Rio Xingu e seus afluentes se deparavam com povos que tinham sua própria cultura e identidade e isso os fascinava e fazia do seu trabalho uma meta de vida. E, ao voltar à vida doméstica, queria conviver com um exemplar da mata, que tinha no reduto de sua própria casa.

Os Villas-Bôas contribuíram para preservar vidas humanas, culturas antigas, valores que, depois de perdidos, não podem mais ser recuperado. Garantiram a sobrevivência de nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo como espaço, com a orientação humanista do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropólogo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutels.

Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu permitiu que Orlando Villas-Bôas publicasse, em co-autoria com seu irmão Cláudio Villas-Bôas, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas internacionais, como a National Geographic Magazine.  Algumas das aventuras da Expedição Roncador-Xingu foram contadas em "A Marcha Para o Oeste", escrito com Cláudio Villas-Bôas. Já no fim da vida, Orlando Villas-Bôas começou a escrever uma autobiografia lançada após seu falecimento.

Tanto juntos quanto individualmente, os irmãos receberam honras acadêmicas, reconhecimento de cidadanias e títulos honorários, homenagens à sua atuação na política de proteção à cultura indígena.

Orlando Villas-Bôas foi demitido da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão que ajudou a criar, em fevereiro de 2000 pelo seu então presidente, Carlos Marés de Souza. A demissão causou revolta da opinião pública e retratação formal do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Orlando Villas-Bôas morreu aos 88 anos, em 12/12/2002, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vítima de Falência Múltipla dos Órgãos.

Homenagens

Orlando Villas-Bôas recebeu diversas homenagens em razão do trabalho desenvolvido, dentre elas:

  • Medalha do Fundador, concedida pela Royal Geographical Society Of London, com a aprovação da Rainha da Inglaterra;
  • As mais altas condecorações brasileiras, como o Grau Oficial da Ordem do Rio Branco e Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito entre outras;
  • Membro do The Explorers Club Of New York;

Foi indicado para o Prêmio Nehru da Paz e para o Prêmio Nobel da Paz, por Julian Huxley e Claude Lévi-Strauss.

Recebeu, ainda, cinco títulos Doutor Honoris Causa de universidades estaduais e federais brasileiras e algumas dezenas de títulos de cidadãos honorários de diferentes cidades brasileiras.

Em 2001 foi homenageado como enredo pela escola de samba Camisa Verde e Branco.

Fonte: Wikipédia