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João Cândido

JOÃO CÂNDIDO FELISBERTO
(89 anos)
Militar

* Encruzilhada do Sul, RS (24/06/1880)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/12/1969)

João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante Negro", foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910).

Nasceu em 24/06/1880, na então Província, hoje Estado, do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada, hoje Encruzilhada do Sul, na Fazenda Coxilha Bonita que ficava no vilarejo Dom Feliciano - o quinto distrito do Município Encruzilhada, que havia sido distrito de Rio Pardo até 1849.

Filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, apresentou-se, ainda com treze anos, em 1894, na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar, que assim o encaminhava àquela escola.

Em 1895 conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, como grumete, para a Marinha do Brasil, na capital, a cidade do Rio de Janeiro.

Desse modo, nos anos 1890, época, em que a maioria dos marinheiros era recrutada à força pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil em Janeiro de 1895, aos 14 anos de idade, ingressando como grumete a 10/12/1895.

Em depoimento para a Anamnese do Hospital dos Alienados em abril de 1911 e para a Gazeta de Notícias de 31/12/1912, João Cândido afirmou ter sido soldado do general Pinheiro Machado, na Revolução Federalista, em 1893, portanto antes de entrar para a escola de aprendizes do Arsenal de Guerra de Porto Alegre.

Teve uma carreira extensa de viagens pelo Brasil e por vários países do mundo nos 15 anos que esteve na ativa da Marinha de Guerra (17 anos, se contar os 2 anos de prisão, após a Revolta). Muitas delas foram viagens de instrução, no começo recebendo instrução, e depois dando instrução de procedimentos de um navio de guerra para marinheiros mais novos e oficiais recém-chegados à Marinha.

A partir de 1908, para acompanhar o final da construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro, centenas de marinheiros foram enviados à Grã-Bretanha. Em 1909 João Cândido também para lá foi enviado, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905, reivindicando melhores condições de trabalho e alimentação, a Revolta do Encouraçado Potemkin, que virou filme do diretor Sergei Einsenstein em 1925.

Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa indicada para liderar a revolta, na opinião dos demais líderes do movimento.

João Cândido, o Almirante Negro
O Movimento dos Marinheiros da Marinha de Guerra

O uso da chibata como castigo na Marinha brasileira já havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, o decreto número 3, de 16/11/1889, assinado pelo então presidente marechal Deodoro da Fonseca. Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais da Marinha de Guerra do Brasil. Num contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Entre os marinheiros, insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais, crescia o clima de tensão.

Já em 1893, na canhoneira Marajó, um contingente de marinheiros havia se revoltado contra o excesso de castigos físicos, exigindo a troca do comandante que abusava da chibata e outros suplícios. Na época, ainda não queriam o fim da chibata, mas a troca do comandante do navio, para evitar abusos. Definitivamente, não era normal receber chibatadas. E, para piorar, os oficiais extrapolavam o limite de próprio regimento da Marinha, baseado num decreto que nunca foi publicado no Diário Oficial, que estabelecia a criação de Companhias Correcionais que poderiam indicar a punição de até 25 chibatadas, mesmo após a Abolição da Escravatura.

Ainda na Grã-Bretanha, e depois, ao retornarem ao Brasil, os marinheiros que lá estiveram para acompanhar a construção dos Encouraçados Minas Gerais e São Paulo, e do Cruzador Bahia, iniciaram um movimento conspiratório com vistas a tomar uma atitude mais efetiva no sentido de acabar com a chibata na Marinha de Guerra do Brasil.

As eleições presidenciais de 1910, embora vencidas pelo candidato situacionista marechal Hermes da Fonseca, expressaram o descontentamento da sociedade com o regime vigente, além das denúncias de fraude e violação de urnas nos bairros em que ele não tinha maioria de simpatizantes. O candidato oposicionista, Ruy Barbosa, realizou intensa campanha eleitoral, reforçando a esperança de transformações do povo brasileiro.

Esgotadas as tentativas pacíficas e propositivas dos marinheiros, incluindo uma audiência de João Cândido no Gabinete do presidente anterior, Nilo Peçanha, e na presença do ministro da marinha, Alexandrino de Alencar sem qualquer providência efetiva para o fim dos castigos físicos, os marinheiros decidiram que iriam fazer uma sublevação, uma revolta pelo fim do uso da chibata em 25/11/1910. Inicialmente os comitês revolucionários pensaram no dia 14, depois dia 15, depois 19, e por fim fixaram o dia 25.

Entretanto, menos de uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido a 21/11/1910 com 250 chibatadas, que não se interromperam nem mesmo com o desmaio do mesmo, conforme noticiado pelos jornais da época, aplicadas na presença de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais, nau capitânia da nova Esquadra. Este fato antecipou a data programada de 25 para 22/11/1910. Seria na noite deste dia porque o comandante do Navio Minas Gerais, o capitão João Batista das Neves, dormiria fora do navio, e então os marujos tomariam posse das armas, dominariam os oficiais em seus camarotes, e teriam o controle do navio mãe, e depois de todos os demais que estavam na Bahia da Guanabara.

Entretanto o comandante Batista das Neves voltou mais cedo do que eles esperavam, e um marinheiro mais descontrolado partiu para cima do oficial de serviço, pois não queria mais o adiamento da revolta. O comandante ouviu os barulhos, assim como os outros oficiais e todos foram para o convés. Mesmo aconselhado pelo marinheiro Bulhões a se abrigar, Batista das Neves, se recusou a sair dali, e disse que não sairia de bordo do navio, insistindo em tentar fazer os marinheiros formarem e obedecerem às suas ordens.

Os marinheiros já muito exaltados, ao ver que o comandante feriu um dos marinheiros, começaram a jogar objetos nele, e por fim um marinheiro deu um tiro na cabeça dele. Morreram no Minas Gerais além do comandante, mais dois oficiais (tenente para cima) e 3 marinheiros (sargento para baixo, na simplificação usual). Durante os combates morreram mais um oficial e um marinheiro no Navio Bahia, revoltados sob responsabilidade do marinheiro Francisco Martins, e um oficial no Navio São Paulo, sob responsabilidade do marinheiro Manoel Nascimento.

Terminados os combates, João Cândido, um dos chefes das reuniões conspiratórias, que atuou ao lado de Vitalino Ferreira na revolta do Minas Gerais, é indicado pelos demais líderes como o comandante-em-chefe de toda a esquadra revoltada, inicialmente composta por 6 navios, e depois concentrando as guarnições em 4, entre eles os dois encouraçados fabricados na Inglaterra, considerados os mais potentes do mundo à época: Minas Gerais e São Paulo.

Marinheiros durante a Revolta da Chibata, com João Cândido ao centro (1910)
Revolta da Chibata

No dia 22/11/1910, João Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra revoltada, controla o motim, faz cessar as mortes, e envia radiogramas pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro.

Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam:

"Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira"

A rebelião terminou com o compromisso do Governo Federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 27/11/1910, o governo promulgou em 28/11/1910 um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco, o que era um nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de anistia aprovada no dia 25/11/1910 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme publicação no diário oficial de 26/11/1910, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.

João Cândido sendo escoltado
Expulsão da Marinha

Pouco tempo depois do decreto que quebrou a anistia e de boatos de que o Exército iria se vingar dos marinheiros, houve a eclosão de um novo motim entre os fuzileiros navais, ligados à Marinha, no quartel da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 09/12/1910. Não tinha ligação com a Revolta da Chibata, exceto que ali na ilha estavam algumas dezenas de marinheiros participantes da revolta presos apesar de anistiados.

A "segunda revolta" nada exigia, não tinha qualquer organização, baseava-se em boatos de que o Exército atacaria a qualquer momento navios e batalhão naval como resposta à vergonha que significou a revolta para o governo de Hermes da Fonseca.

Durante o dia 10/12/1910, o motim foi reprimido pelas autoridades, Marinha e Governo, com um bombardeio implacável sobre pouco mais de duas centenas de amotinados ilhados (na Revolta da Chibata eram 2.379 homens, 3 encouraçados e um cruzador, alvos móveis e fortemente armados), e serviu de justificativa para Hermes da Fonseca demandar e obter do Senado aprovação do Estado de Sítio (Lei Marcial) neste mesmo dia. João Cândido chegou a ordenar tiro de canhão sobre os marinheiros-fuzileiros amotinados na Ilha das Cobras para provar sua lealdade ao governo. Mas de nada adiantou. Com o estado de sítio, centenas de marinheiros foram dados como mortos ou desaparecidos e 2000 marinheiros foram expulsos da Marinha. Onze foram fuzilados a bordo do Navio Satélite, que levava 105 marinheiros rebeldes para serem jogados nos seringais do Acre, destino dos 96 que lá ainda chegaram vivos.

Apesar de não haver participado da conspiração, se é que houve, deste segundo levante, João Cândido foi expulso da Marinha, sob a falsa acusação de ter favorecido os fuzileiros rebeldes. Foi preso em 13/12/1910 no quartel do exército, e transferido no dia 24/12/10 para uma masmorra, a cela 5, na Ilha das Cobras, onde 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados.

De seu depoimento ao jornal Gazeta de Notícias e outras fontes, descobriu-se que 29 marinheiros e fuzileiros navais foram submetidos ao cal em 2 celas da Ilha das Cobras. Numa cela, morreram 16 e na outra cela, morreram mais 2.

Em abril de 1911 foi transferido para o Hospital dos Alienados, como louco, mas recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com nove companheiros. À época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.

De acordo com a sua ficha, nos 15 anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. A sua ficha registra ainda dez elogios por bom comportamento nos últimos três meses antes da revolta.

A sua vida pessoal foi profundamente abalada pelo suicídio de sua segunda esposa em 1928. Em 1930 foi novamente detido, acusado de subversão.


Adesão ao Integralismo

Em 1933 foi convidado e aderiu à Ação Integralista Brasileira, movimento nacionalista de direita inspirado no fascismo italiano fundado em 1932 pelo escritor Plínio Salgado, chegando a ser o líder do núcleo Integralista da Gamboa, bairro portuário da cidade do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao historiador Hélio Silva, gravada em 1968 e arquivada no Museu da Imagem e do Som (MIS), João Cândido declarou manter sua amizade com Plínio Salgado e de ter orgulho em ter sido integralista. O Integralismo permitia que mulheres e negros se filiassem ao partido, no que se diferenciava do nazismo.

João Cândido, que era sobretudo um ex-militar que sonhava voltar à Marinha de Guerra, foi muito assediado por parte de oficiais da Marinha para que fizesse parte do Movimento Integralista, com a promessa de reintegrá-lo. Muitas personalidades na época aderiram ao Integralismo: o líder negro Abdias do Nascimento e o bispo Dom Hélder Câmara são dois exemplos.


Orientação Sexual

Em 1949, num artigo de jornal, no Diário de Notícias, o almirante Alencastro Graça escreveu:

"João Cândido, indivíduo de poucas prendas e até inócuo, solicitando dinheiro aos oficiais a troco de lavar-lhes a roupa, o que obstava que sofresse, por vezes, castigos corporais pelos vícios de pederastia e alcoolismo e aceitando, posteriormente, coagido, a direção do movimento revolucionário, para assistir impassível ao massacre dos antigos benfeitores, sob o controle dos verdadeiros cabeças."

Convidado a responder ao ataque público na grande imprensa, João Cândido limitou-se a dizer:

"Contestá-lo? Como, se não tenho as letras do almirante? O galho quebra sempre do lado mais fraco. Há anos que sou espezinhado!"

Portanto, assim como o jornalista-historiador Edmar Morel muito responsavelmente fez em 1959, primeira edição do livro "A Revolta da Chibata", é importante deixar o registro, e o benefício da dúvida. Além do mais, nos dias de hoje, censurar o assunto, ou julgar João Cândido por ele ter tido ou não alguma experiência homossexual é completamente fora de propósito.

Perdura, portanto, certa controvérsia sobre a vida particular de João Cândido, precisamente no que toca à sua orientação sexual. As referências bibliográficas revelam autores que fazem ilações para o benefício de suas próprias teses. Uma análise ponderada sobre o assunto é feita pelo historiador José Murillo de Carvalho em artigo na "Revista de História" editada pela Biblioteca Nacional, que conclui:

"Os bordados revelam ainda que, do fundo de sua dor, João Cândido retirava corações, flores, borboletas, beija-flores. Em sua forma ingênua e espontânea, em seu rico simbolismo, as toalhas de São João del Rei nos bordam um João Cândido maior do que o construído por seus detratores e mais autêntico e humano do que o mito em que o pretendem transformar seus admiradores."

Devido a ser figura controversa para a alta oficialidade militar, apesar do almirante negro ter se casado oficialmente duas vezes e gerado doze filhos de quatro mulheres, há quem buscasse detalhes de sua vida pessoal tentando ligá-lo à prática homossexual, como algo desabonador, num tempo em que a homossexualidade era tida como tal.


Morte

Discriminado e perseguido pela Marinha até ao fim de sua vida, se recolheu no município de São João de Meriti, RJ, onde veio a se aproximar da Igreja Metodista do Brasil. Ali em sua casa passou mal e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na capital do estado do Rio de Janeiro, onde veio a falecer vítima de um câncer, pobre e esquecido, em 06/12/1969, aos 89 anos de idade.


Legado, Homenagens e Resgates

Em 1959 voltou ao Sul do País para ser homenageado, mas a cerimônia foi suspensa por interferência da Marinha do Brasil.

A sua memória foi resgatada jornalisticamente a partir de 1959, com o lançamento do célebre livro "A Revolta da Chibata" de Edmar Morel. Musicalmente, na década de 1970 pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba "O Mestre-Sala Dos Mares". Historiograficamente a partir de 1985, com o livro "A Revolta Dos Marinheiros - 1910", do vice-almirante e historiador naval Hélio Leôncio Martins. Cinematograficamente a partir de 2003, ano em que o curta-metragem de resgate de época, "Memórias da Chibata", foi contemplado em edital do Ministério da Cultura com verba para produção.

Em outubro de 2005, o deputado Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) apresentou o Projeto de Lei nº 5874/05, determinando inscrever o nome de João Cândido no "Livro dos Heróis da Pátria", que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, DF.

Este projeto foi arquivado porque segundo a Lei Brasileira, somente depois de completar 50 anos da morte da pessoa, ela pode ser inscrita como "Herói da Pátria", ou seja, no caso de João Cândido, morto em 1969, somente em 2019.

Em setembro de 2006, faleceu, aos 82 anos de idade, Zeelândia Cândido de Andrade, filha mais nova de João Cândido, que dedicou a vida a obter a reintegração do nome de seu pai à Marinha, corporação de onde saiu sem quaisquer direitos.


Em 22/11/2007, aniversário de 97 anos da Revolta da Chibata, foi inaugurada uma estátua em homenagem ao "Almirante Negro", nos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete, bombardeado durante a Revolta. A estátua, de corpo inteiro, de João Cândido com o leme em suas mãos, foi afixada de frente para o mar e de costas para o palácio do governo brasileiro, que em 1910 traiu sua própria palavra quebrando a anistia aos marinheiros rebeldes. Como parte da solenidade, que teve a presença de autoridades, familiares e representantes dos movimentos sociais, foi exibido o filme "Memórias da Chibata", de Marcos Manhães Marins, e feita uma exposição fotográfica da Revolta da Chibata, sob a curadoria do cientista político e juiz de direito João Batista Damasceno.

Em 24/07/2008, 39 anos depois da morte de João Cândido Felisberto, publicou-se, no Diário Oficial da União, a Lei nº 11.756 que concedeu anistia ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, ideia que partiu do Senado Federal e foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em 13/05/2008, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil.

No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil. O motivo do veto é que essa reabilitação "post mortem" importaria em impacto orçamentário para o qual a lei não apontou a referida fonte de custeio. Assim, uma vez que tal reconhecimento imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes, nesse particular a lei foi vetada por ser contrária ao interesse público, no julgamento da equipe do governo federal.

O governo temia uma corrida de mais de 2 mil famílias para a "Bolsa Chibata". Na realidade, somente duas famílias se apresentaram como descendentes de marinheiros que participaram da Revolta da Chibata: a do próprio líder máximo João Cândido Felisberto e a do marinheiro Adalberto Ribas, que fugiu de um dos barcos logo após a revolta, mantendo-se anônimo durante toda a sua vida, e cujos filhos procuraram a Marinha somente depois de saberem do projeto de lei. Entidades alegaram que indenizar estas duas famílias não quebrararia os cofres do governo brasileiro.


Em 20/11/2008, a estátua foi transferida dos jardins do Palácio do Catete para a Praça Quinze de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro, em grande evento que contou com a presença do então presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a família de João Cândido e milhares de pessoas. A Marinha do Brasil, subordinada ao Ministério da Defesa, por sua vez subordinado ao presidente da República, o chefe hierárquico máximo das Forças Armadas, não compareceu, alegando não poder comemorar porque a Marinha preza a disciplina e a hierarquia.

A inscrição na placa de homenagem ao pé da estátua comete erros: não é verdade que João Cândido "nasceu na Vila São José, Encruzilhada do Sul, Distrito de Rio Pardo". Ele nasceu na Fazenda Coxilha Bonita, no vilarejo Dom Feliciano, que ficava no Município de Encruzilhada, que não era mais distrito de Rio Pardo desde 1849, décadas antes do nascimento dele. Em 1963, é a vez do já distrito, e não mais um vilarejo, Dom Feliciano se emancipar do Município de Encruzilhada, já com o novo nome de Encruzilhada do Sul. Portanto, João Cândido nasceu encruzilhadense e morreu domfelicianense.

No dia 07/05/2010, a Petrobras Transporte S.A. (Transpetro), a pedido do presidente da República, batizou com o nome de "João Cândido" o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota (PROMEF), primeiro petroleiro produzido em estaleiro nacional após um intervalo de mais de 13 anos. A cerimônia ocorreu no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca, PE. O navio foi comandado pelo Capitão de Longo Curso Carlos Augusto Müller, da Marinha Mercante, e utilizado na exportação.


A entidade Unidade de Mobilização Nacional Pela Anistia (UMNA), reivindicou junto à Petrobras Transportes S.A. que o nome do navio recebesse o justo complemento e, antes do lançamento ao mar, se torne: "Marinheiro João Cândido", a exemplo de outros navios como o "Marinheiro Marcílio Dias", ou receba o nome "João Cândido Felisberto", uma vez que com primeiros nomes "João Cândido" existem muitos e mais famosos do que o líder da revolta, como por exemplo, João Cândido Portinari, João Cândido Ferreira, João Cândido da Silva, e até mesmo o "Almirante Branco" João Cândido Brasil e engenheiro naval, que é nome de rua no Rio de Janeiro e em São Paulo, e faleceu em 1906. O marinheiro negro João Cândido Felisberto que a imprensa chamou em 1910 de "Almirante Negro" morreu em 1969, mas o oficial branco, almirante João Cândido Brasil, de mesmos prenomes, morreu em 1906, 4 anos antes da Revolta da Chibata.

O Petroleiro "João Cândido" tem 274 metros de comprimento e capacidade para transportar 1 milhão de barris de petróleo. O navio foi construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, ao custo de R$ 300 milhões.

Em dezembro de 2010, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) conclui a produção "Cem Anos Sem Chibata", dirigida por Marcos Manhães Marins, um documentário especial de 52 minutos, na programação da TV Brasil a partir de janeiro de 2011. Foi exibido várias vezes em 2011 e 2012 na TV Brasil e TV Brasil Internacional.

Em 2012, o projeto do longa-metragem "Chibata", consolidou o patrocínio parcial da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) e distribuição Pandora filmes, recebendo carta de interesse de exibição também da TV Brasil.

Em 2013 a Revolta foi uma das várias citações da novela "Lado a Lado", analisada em artigo do Portal Geledés do Instituto da Mulher Negra. Um dos graves erros apontados foi a novela não ter mostrado o líder da Revolta, João Cândido, diminuindo a importância dele como herói.

Em 2014, o filme começou a ser rodado a partir da sequência de reconstituição de época e dramatização do depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som, que tem como ator confirmado para o personagem "João Cândido" em sua fase mais madura, Antonio Pitanga.

Fonte: Wikipédia

Guilherme Paraense

GUILHERME PARAENSE
(83 anos)
Militar e Atleta

* Belém, PA (25/06/1884)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/04/1968)

Nascido em Belém do Pará, no dia 25/06/1884, Guilherme Paraense foi ainda menino para o Rio de Janeiro, onde, aos 5 anos, começou a frequentar a Escola Militar de Realengo. A prática do tiro era exigida no exercício de suas atividades como militar. Sua tranquilidade o fazia atirar com mão firme, invariavelmente acertando o alvo, independente do formato que tivesse.

Seus atributos logo lhe renderam conquistas: no final da década de 1910, o tenente foi campeão brasileiro e também sul-americano na modalidade tiro com revólver. Em 1914, junto a um grupo de atiradores, fundou, no Rio de Janeiro, o Revólver Clube, destinado a conferir maior atenção à prática do tiro esportivo, que vinha ganhando um número crescente de adeptos. O clube favoreceu a realização de torneios e aprimorou o desempenho de atletas dedicados à modalidade.

Guilherme Paraense foi o primeiro atleta brasileiro a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em 1920. Permaneceu como o único campeão olímpico do país durante 32 anos, até que Adhemar Ferreira da Silva igualasse sua conquista no salto triplo, em Helsinque, em 1952. Primeiro-tenente do Exército Brasileiro, Guilherme Paraense foi campeão brasileiro de tiro em 1913, 1914, 1916 e 1917 e campeão carioca em 1915 e 1918. Tinha 35 anos quando competiu pela primeira vez nas Olimpíadas, no dia 03/08/1920. Ele foi atleta do Fluminense Football Club.

Guilherme Paraense embarcou para Antuérpia, em 1920, com mais sete companheiros a bordo do navio Curvello, todos por conta própria, e desceram em Lisboa, de onde prosseguiram de trem até a Bélgica, informados de que o navio não chegaria a Antuérpia a tempo de participarem das provas. Depois de uma viagem de 27 dias, na conexão em Bruxelas parte das armas e a munição de Guilherme Paraense foram roubadas.


Com tantos percalços, a equipe brasileira chegou aos Jogos Olímpicos de moral baixa, com fome e sem material esportivo. Impressionados com a situação dos colegas, os atiradores americanos lhes emprestaram armas e munição, modernas e fabricadas especialmente pela Colt, e com elas os brasileiros derrotaram seus benfeitores, ganhando ouro, prata e bronze no Tiro.

As disputas do tiro realizaram-se em um campo de manobras do exército belga em Beverloo, vizinho a Waterloo, o famoso lugar onde o exército de Napoleão havia sido derrotado. Na prova de pistola de tiro rápido, que consistia em 30 tiros a uma distância de 30 metros do alvo, Guilherme Paraense acertou em cheio o último deles, que decidiu a medalha, em 03/08/1920. Fez 274 pontos contra 272 do segundo colocado, o americano Raymond Bracken, e foi medalha de bronze por equipe na prova de pistola livre.

Paraense também teve a honra de ser o primeiro porta-bandeira olímpico do Brasil. Como o desfile de abertura ocorreu somente em 16/08/1920, treze dias depois da conquista do ouro, seu nome foi uma unanimidade para carregar o símbolo máximo do país.

O primeiro herói brasileiro nunca mais voltou a competir em Olimpíadas e morreu esquecido, vítima de um enfarte, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, no dia 18/04/1968.

Em 1989, o pioneiro do ouro foi homenageado pelo Exército Brasileiro, que batizou com o nome Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sediada em Resende, RJ, onde, além disso, é realizado anualmente um torneio que também leva seu nome, válido para o calendário brasileiro de competições de tiro esportivo.


Atividades no Esporte

  • Participou dos VII Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920) e tornou-se o 1º Medalhista de Ouro Olímpico do Brasil, vencendo a prova de revólver, superando o campeão norte americano Raymond Braecken por dois pontos.
  • Serviu vários anos na Vila Militar, DF, como instrutor de tiro.
  • Foi 2º Secretário do Revólver Clube, como 2º tenente (15/05/1914).
  • Detentor da 1ª Medalha Olímpica de ouro do Brasil e bronze por equipe nos Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920).
  • No seu regresso das Olimpíadas, em 1922, foi homenageado pelo Presidente da República Epitácio Pessoa no Salão Nobre do Fluminense, juntamente com Afrânio Costa e outros companheiros de equipe, recebendo uma placa de prata da Liga de Defesa Nacional, sendo na ocasião saudado pelo famoso escritor Coelho Neto.
  • Vencedor da prova de revólver dos I Jogos Latino-Americanos, comemorativo do Centenário da Independência do Brasil (1922), com as provas realizadas no estande da Vila Militar.
  • Foi campeão carioca pelo Fluminense e pelo São Cristóvão.
  • Foi campeão brasileiro várias vezes pela Confederação do Tiro Brasileira (CTB), Diretoria Geral do Tiro de Guerra (DGTG), Revólver Club e pela Federação Brasileira de Tiro (FBT).
  • Conquistou os títulos nacionais de 1913, 1914, 1918, 1922 e 1927.
  • Encerrou a sua participação no tiro em 1927.

Indicação: Miguel Sampaio

Duque de Caxias

LUÍS ALVES DE LIMA E SILVA
(76 anos)
Militar

* Porto da Estrela (Hoje Duque de Caxias), RJ (25/08/1803)
+ Desengano (Hoje Juparanã), RJ (07/05/1880)

Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, alcunhado O Pacificador ou O Marechal de Ferro, foi um dos mais importantes militares e estadistas da história do Império do Brasil. Filho do brigadeiro e regente do Império brasileiro, Francisco de Lima e Silva, e de Mariana Cândida de Oliveira Belo.

Luís Alves de Lima, como assinou seu nome por muitos anos, foi descrito por alguns dos seus biógrafos como um predestinado à carreira das armas que aos cinco anos de idade assentou praça no exército do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1808). O que os biógrafos não explicitam é que essa trajetória apoteótica é devida às especificidades da carreira militar nessa época. Ter sido cadete aos 5 anos não era um sinal de seu caráter especial: a honraria era concedida aos filhos de nobres ou militares e muitos alcançaram o mesmo privilégio, até mesmo com menor idade.


Pertencia a uma tradicional família de militares. De um lado, a família paterna, constituída de oficiais superiores e generais do Exército Português, e, posteriormente, quando da independência do Brasil, em 1822, do Exército Brasileiro. Do lado materno, a família era de oficiais de milícia. Foi com o pai e com os tios que Luís Alves de Lima e Silva aprendeu a ser militar.

Luís Alves de Lima e Silva desde cedo ingressou na vida militar. Teve intensa carreira profissional no Exército, ascendendo ao posto de marechal-de-campo aos 39 anos de idade.

Cadete desde os 5 anos de idade, ingressou aos 15 anos na Academia Militar, de onde saiu como tenente para ingressar numa unidade de elite do Exército do Rei. Em 1822, organizou a Guarda Imperial de Dom Pedro I. O batismo de fogo teve lugar no ano seguinte, ao entrar em campanha para combater os revoltosos na Bahia, no movimento contra a independência comandado pelo general Madeira de Melo. Em 1825, o então capitão Luiz Alves deslocou-se para a Campanha da Cisplatina, nos pampas gaúchos. Participou do esforço pela manutenção da ordem pública na capital do Império após a abdicação de Dom Pedro I, em 1831.

Voluntariamente se juntou as forças do Corpo de Guardas Municipais Permanentes que marcham contra a rebelião de Miguel de Frias, em 03/04/1832, que tentava derrubar a Regência.

Em 20/10/1832, após ser promovido a tenente-coronel, assumiu o seu primeiro comando militar: o Corpo de Guardas Municipais Permanentes - A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. A frente dela, implanta várias inovações na Corporação, como as rondas de Cavalaria e o Serviço Médico, além dos postos de major e tenente-coronel (a oficialidade da corporação só ia até capitão).

Duque de Caxias perto dos 54 anos
Em 1833, casou-se com Ana Luisa do Loreto Carneiro Viana, na época com 16 anos de idade, membro da aristocrática família Carneiro Leão, sendo neta da Baronesa de São Salvador de Campos de Goitacases. Com ela teve duas filhas, Luisa do Loreto, casada com o Barão de Santa Mônica, e Ana de Loreto, casada com o Visconde de Ururaí, e um varão, Luís Alves de Lima Filho, falecido na adolescência. Suas filhas deixaram conhecida descendência, em sua maioria, estabelecida em Macaé, RJ.

Em 1839, seguiu para o Rio Grande do Sul com uma força de 200 permanentes, para lutar na Revolução Farroupilha. Em dezembro de 1839 passou o comando dos permanentes, por ter sido nomeado presidente da Província do Maranhão.

Luiz Alves tomou parte nas ações militares da Balaiada, na Província do Maranhão, em 1839. Foi nomeado para presidente da Província do Maranhão e Comandante Geral das Forças Militares em operação, num esforço de união civil e militar. O papel que desempenhou, na resolução do conflito, valeu-lhe seu primeiro título de nobreza, o de Barão de Caxias, outorgado em 1841. O título faz referência à cidade maranhense de Caxias, palco de batalhas decisivas para a vitória das forças imperiais. Neste mesmo ano, foi eleito deputado à Assembléia Legislativa pela Província do Maranhão.

Dominou os movimentos revoltosos dos liberais em Minas Gerais e São Paulo em 1842. Em 1845, quando decorria a Guerra dos Farrapos, recebeu o título de marechal de campo. Passou a ocupar o cargo de presidente do Rio Grande do Sul. A sua ação militar e diplomática levou à assinatura da Paz de Ponche Verde em 1845, que pôs fim ao conflito. Sua atuação aliou ação militar com habilidade política, respeitando os vencidos. Contribuiu, assim, para a consolidação da unidade nacional brasileira e para o fortalecimento do poder central. Foi feito Conde de Caxias.

Duque de Caxias perto dos 58 anos
No plano externo, participou de todas as campanhas platinas do Brasil independente, como a Campanha da Cisplatina (1825-1828), contra as Províncias Unidas do Rio da Prata. Comandante-chefe do Exército do Sul (1851), dirigiu as campanhas vitoriosas contra Manuel Oribe, no Uruguai, e Juan Manuel de Rosas, na Argentina (1851-1852). Comandante-geral das forças brasileiras (1866) e, pouco depois, comandante-geral dos exércitos da Tríplice Aliança (1867), na Guerra do Paraguai (1864-1870). O Conde de Caxias, que já havia atuado como conselheiro no começo da guerra, assumiu o treinamento e a reorganização das tropas. Instituiu o avanço de flancos gerais, o contorno de trincheiras e o uso de balões cativos para espionagem. Finalmente, depois da célebre Batalha de Itororó seguiu-se a campanha final, a Dezembrada, uma fase de vitórias, como a Batalha do Avaí e Lomas Valentinas, em dezembro de 1868, conduzindo à ocupação da cidade de Assunção.

Após a ocupação da capital paraguaia, ainda antes do término do conflito, por motivos de saúde retornou a Corte. O comando das tropas foi mais tarde passado ao Conde D'Eu. Seu retorno a Corte, foi polêmico, seus opositores, partidários do Conde D'Eu, o acusavam de ter abandonado uma guerra ainda em curso, por outro lado, seus partidários defendiam que a tomada de Assunção encerrava a guerra, com o Paraguai sem recursos e Solano Lopez isolado e liderando um bando de maltrapilhos.

No Rio de Janeiro, Caxias recebeu o título de Duque, o único atribuído durante a época imperial.

Na vida política do Império seu papel foi, também, significativo, como um dos líderes do Partido Conservador. Tornando-se senador vitalício desde 1845, foi presidente das províncias do Maranhão e Rio Grande do Sul, por ocasião dos movimentos revolucionários que venceu, e vice-presidente da província de São Paulo. Ministro da Guerra e presidente do Conselho por três vezes na segunda metade do século XIX (1855-1857, 1861-1862 e 1875-1878), procurou modernizar os regulamentos militares, substituindo as normas de origem colonial.

Duque de Caxias aos 74 anos
Na terceira vez em que ocupou a presidência do Conselho apaziguou os conservadores, divididos no que dizia respeito à questão da escravatura, encerrou o conflito entre o Estado e os bispos ("questão religiosa") e iniciou o aperfeiçoamento do sistema eleitoral. Em reconhecimento aos seus serviços, o Imperador Dom Pedro II agraciou-o, sucessivamente, com os títulos de Barão, Conde, Marquês e Duque de Caxias.

Retirou-se, por motivos de saúde, para a fazenda de Santa Mônica, em Desengano (hoje Juparanã, Rio de Janeiro) em 1878.

No dia 07/05/1880, às 20:30 hs, fechava os olhos para sempre aquele bravo militar e cidadão, que viveu no seio do Exército para glória do próprio Exército. No dia seguinte, chegava, em trem especial, na Estação do Campo de Sant'Ana, o seu corpo, vestido com o seu mais modesto uniforme de Marechal-de-Exército, trazendo ao peito apenas duas das suas numerosas condecorações, as únicas de bronze: a do Mérito Militar e a Geral da Campanha do Paraguai, tudo consoante suas derradeiras vontades expressas.

Outros desejos testamentários são respeitados: enterro sem pompa; dispensa de honras militares; o féretro conduzido por seis soldados da guarnição da Corte, dos mais antigos e de bom comportamento, aos quais deveria ser dada a quantia de trinta cruzeiros (cujos nomes foram imortalizados em pedestal de seu busto em passadiço do Conjunto Principal antigo da Academia Militar das Agulhas Negras); o enterro custeado pela Irmandade da Cruz dos Militares; seu corpo não embalsamado.

Quantas vezes o caixão foi transportado, suas alças foram seguras por seis praças de pré do 1º e do 10º Batalhão de Infantaria. No ato do enterramento, o grande literato Visconde de Taunay, então major do Exército, proferiu alocução assim concluída:

"Carregaram o seu féretro seis soldados rasos; mas, senhores, esses soldados que circundam a gloriosa cova e a voz que se levanta para falar em nome deles, são o corpo e o espírito de todo o Exército Brasileiro. Representam o preito derradeiro de um reconhecimento inextinguível que nós militares, de norte a sul deste vasto Império, vimos render ao nosso velho Marechal, que nos guiou como General, como protetor, quase como pai durante 40 anos; soldados e orador, humildes todos em sua esfera, muito pequenos pela valia própria, mas grandes pela elevada homenagem e pela sinceridade da dor."


Foi enterrado no jazigo de sua esposa, no Cemitério do Catumbi, onde repousou até 1949, quando seus restos foram exumados e trasladados para o Panteão Duque de Caxias.

Para culto de sua memória, o governo federal proclamou-o, em 1962, "Patrono do Exército Brasileiro". O dia do seu nascimento, 25 de agosto, é considerado o Dia do Soldado. Seu nome está inscrito no "Livro dos Heróis da Pátria".

Os cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras prestam o seguinte juramento durante a cerimônia de graduação:

"Recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da Honra Militar!"

Representações na Arte e Espetáculos

O Duque de Caxias já foi retratado como personagem na televisão, interpretado por Sérgio Britto na minissérie "Chiquinha Gonzaga" (1999) e Nelson Diniz na minissérie "A Casa das Sete Mulheres" (2003).

Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 2,00 (dois cruzeiros) emitida entre 1944 e 1958 e nas de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) emitidas de 1981 a 1984.


Homenagens

  • Há no centro da cidade de Niterói a Rua Marquês de Caxias em sua homenagem.
  • Em sua homenagem o Palácio Duque de Caxias no Rio de Janeiro, antiga sede do Ministério do Exército, atual sede do Comando Militar do Leste.
  • Em frente ao Palácio Duque de Caxias há o Panteão Duque de Caxias, com uma estátua equestre do patrono do Exército, monumento onde estão sepultados seus restos mortais e de sua esposa.
  • Em 14/03/1931, a antiga Porto da Estrela, onde nasceu, foi nomeada Distrito de Caxias. Em 31/12/1943, através do Decreto-Lei 1.055, elevou-se à categoria de município, recebendo o nome de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro.
  • Em sua homenagem, foi dado o nome de 25 de Agosto, data de seu nascimento, a um dos principais bairros do município de Duque de Caxias.
  • O 15º (responsável pela cidade de Duque de Caxias) e o 17º Batalhões (responsável pela Ilha do Governador) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro recebem o nome de "Batalhão Duque de Caxias", haja vista cada terem recebido tal denominação quando o primeiro pertencia a Policia Militar do antigo estado do Rio de Janeiro e o segundo, a Polícia Militar do antigo estado da Guanabara. Além disso, o militar também foi comandante-geral daquela corporação, em seus primórdios.

Busto de Duque de Caxias (Parque da Redenção - Porto Alegre, RS)
Títulos e Condecorações

Títulos Nobiliárquicos
  • Barão por decreto de 18/07/1841
  • Visconde por decreto de 15/08/1843
  • Conde por decreto de 25/03/1845
  • Marquês por decreto de 20/06/1852
  • Duque por decreto de 23/03/1869

Títulos Agremiativos
  • Membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
  • Presidente de Honra do Institut D'Afrique
  • Sócio honorário do Instituto Politécnico do Brasileiro
  • Sócio efetivo da Sociedade dos veteranos da Independência da Bahia
  • Sócio honorário do Instituto Literário Luisense

Condecorações
  • Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro
  • Medalha de Ouro da Independência
  • Comendador da Ordem de São Bento de Avis
  • Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa
  • Grã-cruz da Ordem Militar de Avis
  • Medalha de Ouro da Campanha do Uruguai
  • Grã-cruz efetivo da Imperial Ordem da Rosa
  • Medalha de Ouro Comemorativa da Rendição de Uruguaiana
  • Grã-cruz da Imperial Ordem do Cruzeiro
  • Grã-cruz da Imperial Ordem de D. Pedro I
  • Medalha do Mérito Militar
  • Medalha Comemorativa do término da Guerra do Paraguai


Campanhas Pacificadoras

Primeiro Reinado
  • 1825 - Guerra da Cisplatina

Período Regencial
  • 1841 - Balaiada (Maranhão/Piauí)
  • 1842 - Revolução Liberal em São Paulo
  • 1842 - Revolução Liberal em Minas Gerais

Segundo Reinado
  • 1835 a 1845 - Revolução Farroupilha

Fonte: Wikipédia
Indicção: Miguel Sampaio

Mourão Filho

OLYMPIO MOURÃO FILHO
(72 anos)
Militar

* Diamantina, MG (09/05/1900)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/05/1972)

Olímpio Mourão Filho foi um militar brasileiro que participou ativamente do Movimento Integralista e do Golpe Militar de 1964. Foi o redator do Plano Cohen, documento falsamente atribuído à Internacional Comunista, que foi utilizado como motivo para a implantação da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.

Em 31/03/1964 ordenou que as tropas da IV Região Militar que comandava em Juiz de Fora, MG, seguissem para ocupar a cidade do Rio de Janeiro, fato que precipitou o golpe militar de 1964 alguns dias antes do dia planejado pelos conspiradores. Entre 1967 e 1969, Olímpio Mourão Filho foi presidente do Superior Tribunal Militar (STM).

Concluiu seu curso na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em 1921. Em julho de 1924, quando servia no 14º Batalhão de Caçadores, sediado em Florianópolis, SC, participou da repressão ao levante deflagrado na capital paulista contra o governo de Arthur Bernardes.

Em outubro de 1930, encontrando-se no Distrito Federal, envolveu-se na conspiração liderada por oficiais graduados das Forças Armadas que depôs Washington Luís, antecipando-se às forças revolucionárias que partiram do sul do país em direção à capital federal, sob a liderança de Getúlio Vargas. Foi, então, enviado a Belo Horizonte, MG, pelos líderes da junta militar que havia assumido o controle do governo federal para conferenciar com o presidente mineiro, Olegário Maciel, sobre a transferência do poder a Getúlio Vargas.


Em julho de 1932, participou da repressão ao Movimento Constitucionalista, promovido em São Paulo contra o governo federal. No final desse ano, ingressou na recém-fundada Ação Integralista Brasileira (AIB), organização inspirada no fascismo e liderada pelo escritor Plínio Salgado. Responsabilizou-se pela organização da milícia integralista em moldes semelhantes aos do Exército, conferindo à Ação Integralista Brasileira uma estrutura paramilitar. Em julho de 1937, tornou-se membro da Câmara dos Quatrocentos, órgão consultivo da chefia nacional da Ação Integralista Brasileira.

Ainda em 1937, quando servia no Estado-Maior do exército e dirigia o serviço secreto da Ação Integralista Brasileira, redigiu o Plano Cohen, documento falsamente atribuído à Internacional Comunista (Komintern), no qual era traçada uma suposta estratégia de tomada do poder pelos comunistas no Brasil. Esse documento foi, com a conivência de altos dirigentes da Ação Integralista Brasileira e das Forças Armadas, amplamente divulgado pelo governo brasileiro e se constituiu no pretexto principal utilizado por Getúlio Vargas para golpear a democracia e implantar a ditadura do Estado Novo.

Embora intimamente ligado à Ação Integralista Brasileira, não participou do levante integralista promovido em maio de 1938 contra o governo federal, que havia decretado o fechamento da entidade junto com as demais organizações partidárias do país.

Em fevereiro de 1945, integrou o 5º Escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviado à Itália para integrar as forças Aliadas em luta contra as potências do Eixo, na Segunda Guerra Mundial.


Nos anos seguintes, deu sequência à sua carreira militar e, em 1956, chegou ao generalato. Durante o governo do presidente João Goulart (1961-1964), desenvolveu intensa atividade conspirativa, mantendo contatos tanto nos meios militares como civis.

Em março de 1964, quando exercia o comando da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, sediados em Juiz de Fora, MG, deu início ao movimento de tropas que afastou João Goulart da presidência. Em setembro daquele ano, foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Militar (STM), cargo que ocuparia até 1969, quando se aposentou. Discordando dos rumos tomados pelo regime militar, não demorou-se para dele se afastar, dirigindo críticas ao presidente Castelo Branco.

Olímpio Mourão Filho morreu no Rio de Janeiro, RJ, no dia 28/05/1972.

"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso."
(Olympio Mourão Filho)

Assis Brasil

ARGEMIRO DE ASSIS BRASIL
(75 anos)
Militar e Professor

* São Gabriel, RS (11/05/1907)
+ Canoas, RS (23/06/1982)

Argemiro de Assis Brasil foi um militar brasileiro. Era filho de Leônidas de Assis Brasil, fazendeiro gaúcho, e de Márcia de Assis Brasil, que possuíam uma propriedade rural em Cacequi, no Rio Grande do Sul, onde Argemiro passou boa parte da infância.

O início de sua vida escolar foi em seu município natal. Em 1921, foi estudar no Colégio Militar de Porto Alegre, indo em seguida para a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro. Em 1929, graduou-se Oficial da Arma de Infantaria do Exército, formando-se em primeiro lugar na sua turma.

O general Assis Brasil casou em Santa Maria, RS, no dia 14/01/1939, com a professora Alba Arruda Gomes nascida em Santa Maria em 04/07/1918, falecida em Porto Alegre, RS, em 27/04/1967. Da união, nasceram Antônio Carlos de Assis Brasil, militar e engenheiro, e Paulo Renato de Assis Brasil, médico. Viúvo, casou-se com Iná Marques, adotando seu filho Juarez Marques como enteado.


Vida Militar

Em 1930, já segundo tenente, se negou a combater o governo de Washington Luís, em razão do qual foi preso e anistiado três meses depois por Getúlio Vargas.

Em 1932, como primeiro tenente, participou do Movimento Revolucionário Paulista, razão pela qual foi exilado por dois anos na Europa. Viveu por algum tempo clandestinamente na Argentina, sendo anistiado novamente em 1934 por Getúlio Vargas.

Concluiu em primeiro lugar em 1945, no posto de capitão, o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Major em 1949, formou-se na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também em primeiro lugar. Recebeu a Medalha Marechal Hermes, devido aos três primeiros lugares que conquistou.

Foi professor de história universal e militar na Escola de Estado-Maior do Exército.

Em 1950, foi ao Paraguai como membro da Missão Militar Brasileira de Instrução. Lecionou História Militar e Geopolítica no curso de formação de oficiais do exército do Paraguai.

Regressando ao Brasil em 1953 como tenente-coronel, serviu no Comando da 3ª Região Militar, em Porto Alegre. Como coronel comandou o 2º Regimento de Infantaria em Santa Maria, o 19º Regimento de Infantaria em São Leopoldo e foi Chefe de Estado-Maior da 3ª Região Militar.

Em 1962, foi nomeado adido militar na embaixada brasileira em Buenos Aires.

Promoção a General

Em 1963, foi promovido a General-de-Brigada e convidado pelo presidente João Goulart para o cargo de Ministro Chefe da Casa Militar da Presidência, permanecendo até 1964. Ao acontecer o Golpe Militar de 1964, acompanhou João Goulart em seu exílio até Montevidéu, no Uruguai, retornando ao Brasil, onde se apresentou aos seus superiores e foi imediatamente preso no Forte de Jurujuba.

A Visão do General Assis Brasil

No ano de 1980, Cranger Cavalheiro de Oliveira solicitou ao general Assis Brasil que relatasse fatos históricos da vida política do Brasil, ocorridos a partir do início do século XX. Era a época em que iniciava a abertura política comandada pelo último general presidente, João Baptista de Oliveira Figueiredo.

O Assassinato do Senador Pinheiro Machado

Em 1915, o senador José Gomes Pinheiro Machado foi morto por uma punhalada pelas costas por Manso de Paiva Coimbra. Segundo Assis Brasil, o presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, seguia as orientações e sugestões do senador gaúcho. E teria sido Pinheiro Machado, juntamente com Júlio de Castilhos, que consolidou a República nos pampas meridionais.

Com a morte do senador, a República se desestabilizou, pois foi assumida por um lobby político comandado por oligopólio, fazendeiros do café de São Paulo e latifundiários de Minas Gerais.

Ainda segundo seu depoimento, a campanha civilista na época bombardeava o marechal Hermes da Fonseca, e nada mais era do que uma digressão ideológica, sem nenhum fundamento histórico que a pudesse perpetuar dentro do panorama geopolítico e dialético. Consta que Ruy Barbosa lançou os fundamentos da República, que era governada por suas classes dominantes e pelas oligarquias, mas sem interferência de poderes espúrios e alienígenas.

Primeira Guerra Mundial

Cessada a Primeira Guerra Mundial, chamada por Assis Brasil:

"(sic) … de época de grande luta interimperialista que empolgou céus, mares e terras, desde aquele 1914 até a grande rajada de 1917, ríspida, em que os irmãos de todos os povos disseram ao mundo, montados geopoliticamente no coração de nosso universo presente."

Ainda em suas palavras:

"(sic) … Surgiu o sistema que matou o feudalismo, isto é, o capitalismo predatório e desumano, mais predatório e inumano do que o pior sistema que existiu sobre a Terra, que foi o sistema romano. Este não pôde ser derrubado pela força das armas, tendo que ser aniquilado, reduzido a pó, pela incomparável figura do Nazareno que, da Galileia, apenas com um nome, Jesus Cristo, conseguiu, com o seu espírito e com as bênçãos das mulheres do seu tempo, dizer por dois mil anos: paz na Terra aos homens de boa vontade."

Assis Brasil e Tarncredo Neves
As Lutas Internas no Rio Grande do Sul

Em 1921 seguia dentro do Rio Grande do Sul uma luta pelo poder entre Joaquim Francisco de Assis Brasil e Antônio Augusto Borges de Medeiros.

Ainda segundo o general, Júlio de Castilhos consolidou a República no extremo sul dentro da doutrina positivista de Augusto Comte. E Floriano Peixoto, ao abafar a Revolução de 1893, conseguiu fazer com que o Brasil não se desunisse em vários estados republicanos independentes.

A tentativa de golpe de 1893 foi feita pela Marinha no Rio de Janeiro, comandada pelo almirante Saldanha da Gama, e no Rio Grande do Sul, pelos aliados civis do almirante, chefiados pelo então senador Gaspar da Silveira Martins. No Colégio Militar de Porto Alegre, em 1921, havia partidários das facções em lutas internas no Estado, o que gerava conflitos na própria escola, que nada mais eram do que reflexos da sociedade em rápida mutação. Ali se iniciava o sentimento bipolarizado das sementes da esquerda e da direita.

Conforme palavras do general Assis Brasil:

"(sic) Conhecíamos, por ensinamentos de nossos mestres, naquele areópago de ciências humanísticas, conhecíamos, repito e, embora jovens sabíamos que a história é dinâmica, como a própria natureza. Devido a isso, ficávamos muito faceiros quando líamos no jornal Correio do Povo que os soldados, operários e marinheiros russos tinham destruído o bárbaro sistema feudal do czarismo, que oprimiu a França e a América do Norte, até os anos de 1789 e 1776, respectivamente. Até certo ponto, na nossa ingenuidade de meninos, fazíamo-nos líderes vanguardeiros daquelas evoluções, que ocorreram após a catástrofe bélica e de divisão do mundo de 1914 a 1918."

"O perfeito entendimento das consequências daquela catástrofe marcou profundamente o nosso espírito de jovens brasileiros, herdeiros de um continente pacífico e humano. Sem embargo, perscrutávamos que, se não fossem realizadas profundas reformulações sociais, políticas e econômicas, estaríamos, mais cedo ou mais tarde, submetidos àqueles desgastes que conduziram a velha Europa a uma segunda varredura política, social e econômica, a qual marcaria época no patamar inicial do século XX, como a augurar que, se os homens deste século não refletissem em base do que havia ocorrido, dialeticamente, com as gerações anteriores, estaríamos, forçosamente, submetidos a nova hecatombe, como veio a ocorrer em 1939, com a Segunda Guerra Mundial."

De 1922 a 1930

Ainda segundo o general:

"(sic) ... as causas que motivaram os movimentos de 1922 a 1930 tiveram, de um lado, seu background nos fatos já apontados sobre a Primeira Guerra Mundial, e, de outro lado, na Colônia, no Primeiro Império, na Regência, no Segundo Império e na República Velha, que nada fizeram para demolir as estruturas fazendárias, escravizantes e oligopolizantes que mantinham um status-quo altamente antiprogressista, de vez que continuavam a política econômica de um reino vassalo da "Rainha dos Mares", a tal ponto que, na pseudo-independência, foram os canhões de dois almirantes ingleses os baluartes de governos despóticos para, num arroubo de patriotismo, dizer que haviam salvado o Brasil."

"Não se pode negar que o movimento de 1930 tenha se caracterizado pelo grande apoio popular que recebeu. Não se pode negar, também, que os grandes propulsores desse movimento foram jovens oficiais das forças armadas brasileiras que já vinham marcados ideologicamente e, não poderia ser de outra maneira, pelos movimentos libertários de após 1918."

"Esse oficiais eram como uma alvorada dentro de uma força armada que, depois da cruenta guerra de 1864 a 1870, haviam se atirado na falsa filosofia positivista, pseudos-salvadora dos supremos conflitos sociais do século XIX e arrebóis do século XX."

"As forças armadas, que foram heróicas em Riachuelo, Lomas Valentinas, Curuzu, Curupaiti, Tuiuti e em tantos mais palcos de sanguinolentas batalhas, quando regressaram aos pagos, não encontrando que fazer, pensaram que seu destino patriótico apenas seria o de derrubar uma monarquia guardiã de uma estrutura feudal, monopolista e que somente servia aos interesses estrangeiros."

"Era normal, como se observa na história dos povos, que uma tal força armada descambasse para as intrigas da corte e, sem usar a espada, apenas acenando um quepe vermelho no Largo de Santana, derrubasse o Império que já não tinha mais nenhum respaldo popular."

Já no final da década de 20 e início da década de 30, o general Assis Brasil define que:

"(sic)  ... pertencia a um Exército renovado pelos ensinamentos da Missão Militar Francesa e de muitos chefes militares brasileiros que não admitiam que o Exército continuasse no seu aniquilamento profissional." "Nos bancos escolares, ao lado de jovens militares companheiros, aprendemos o que nos transmitiam os insignes mestres franceses e os não menos insignes mestres militares brasileiros. Aprendi que a força armada é, fundamentalmente, o povo em armas e não deve ser empregada a não ser com a sua atribuição constitucional. Destarte, fiquei convicto de que manipular um instrumento de defesa da nação como arma para servir de escada à política de interesses regionais, de classe ou particulares, seria cometer uma heresia em desacordo com o que me haviam ensinado. Por esse motivo, ao eclodir o movimento insurrecional de 1930 não o acompanhei, ficando ao lado dos poucos que defenderam o governo constituído. Eu pensava que, dentro de processos legais e democráticos, se pudesse reformular todas as questões que se apresentavam como desafio à Nação."

1932

"Na Revolução Constitucionalista de 1932, coloquei-me ao lado dos que se levantaram em armas para derrubar um governo que, segundo nosso juízo, não se assentava em nenhum princípio de legitimidade. Esse governo, desde o seu estabelecimento pela força, prometera legitimar-se através de uma Assembleia Constituinte que, paulatinamente, transferia e negava ao seu povo. Daí por que, nossa bandeira, foi a constitucionalização imediata do país. Como decorrência dessa atitude, coerente com meus princípios, tive minha carreira militar interrompida ao ser segregado do convívio com meus patrícios, exilado que fui para Portugal."

Assis Brasil e Alba na entrega de espadim a Antônio Carlos em 1960

O Exílio a Portugal

"O exílio serviu-me para refletir sobre a posição que havia tomado e, em particular, sobre as conotações que o movimento constitucionalista teria no contexto da política mundial."

"Desde logo, verifiquei que a nascente praga do fascismo poderia vir a influenciar nosso destino político. Por outro lado, fui alertado para o fato de que atrás da nossa sagrada revolução constitucionalista havia, também, interesses alienígenas, dado que o domínio de nossa economia pelo imperialismo britânico transferia-se a passos lentos e seguros para os novos senhores dos mercados conquistados dos antigos donos. Vi, então, ainda jovem, que os problemas decorrentes de nossa estrutura social, imobilizada pelos interesses das classes dominantes, se agravavam com a eficácia e a eficiência da exploração permanente daqueles novos senhores."

A Volta ao Brasil

"Quando eclodiu o movimento de 1935, servia eu na Amazônia, em Belém, como 1º Tenente. Não tomei parte no mesmo, ainda em coerência com os princípios de não me rebelar, como soldado, contra um governo revestido, já então, de legitimidade." "Sem embargo, considerei um grande absurdo a posição tomada, na oportunidade, pela liderança da intentona. Vi, desde logo, que através de uma quartelada, jamais seria possível transformar de "fond en comple" a estrutura social e econômica de uma nação."

"Os chefes e participantes do fracassado golpe não se deram conta dos reiterados ensinamentos do grande demiurgo da maior convulsão social do século XX, a saber: não se faz uma revolução no sentido sociológico sem que haja condições objetivas e subjetivas para tal empreendimento e, também, se não se contar com o apoio de grandes massas."

"O golpe o Estado Novo de 1937, trouxe no seu bojo aquele cheiro do nazi-fascismo que eu tanto temia, já nos idos de 1932, como me referi. Nem eu nem os militares e civis que possuíamos pontos de vista comuns e contrários ao famigerado golpe, tivemos condições de nos opor a ele."

"Essa falta de condições decorreu da habilidade do governo em preparar a passagem histórica, mascarando-a com larga série de invencionices e falsificações documentárias manipuladas nos escaninhos dos órgãos da alta cúpula militar que apoiava o governo e, de mesmo passo, baixava seus "ukases" para o conjunto aturdido de uma força armada tomada de surpresa e de pânico, tudo agravado pela recente recordação das estripulias cometidas pelos maus discípulos de Lênin, em 1935."

A Importância do General Assis Brasil no Golpe de 64

Quando era adido militar em Buenos Aires, o general Assis Brasil foi convidado para chefiar a Casa Militar do governo de Jango.

Uma vez em seu posto o militar estabeleceu algumas normas de conduta, entre as quais:

  • Os caminhos dos negócios não passariam pela Casa Militar;
  • A Casa Militar não seria uma agência de empregos;
  • Não deveriam ser tratados assuntos políticos na Casa Militar;
  • A Casa Militar não seria um superministério;
  • A todo o custo o interesse nacional e a soberania do país deveriam ser mantidos.


O general determinou que a Secretaria do Conselho de Segurança Nacional e o órgão de responsável pela inteligência e informações deveriam agir harmonicamente com os demais ministérios, além de não colocar na Secretaria do Conselho de Segurança Nacional e na do Gabinete Militar oficiais que não fossem da confiança dos ministros.

O Comício da Central do Brasil

No dia 13/03/1964 aconteceu o Comício da Central do Brasil. Segundo Assis Brasil, Leonel Brizola condenou veementemente a atuação dos congressistas. Em função disto João Goulart e o ex-governador do Rio Grande do Sul se desentenderam, fato este que perdurou por longo tempo.

A Revolta dos Marinheiros

Quando iniciou o episódio da Revolta dos Marinheiros, o general Assis Brasil estava no Rio de Janeiro e viajou para o Rio Grande do Sul para se encontrar com o presidente. Ainda segundo informou o militar em sua narrativa, João Goulart não sabia da gravidade da situação, além de desconhecer que o I Exército havia assumido o controle da situação.

Em suas narrativas, Assis Brasil comentou que a Marinha estava acéfala e que as informações que chegavam a si eram de que os marinheiros estavam com armas nas mãos e que havia mortes. Consta ainda que o Ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, estava internado devido a uma cirurgia.

Em função do internamento do general, o Ministério da Guerra ficara acéfalo também. O chefe da Casa Militar não tinha conhecimento ainda das movimentações do I Exército.

Assis Brasil ainda informou que o Almirante Paulo Mário fora empossado como novo Ministro da Marinha, com plenos poderes para agir junto aos amotinados, anistiando-os.

A Reunião dos Sargentos no Automóvel Clube do Brasil

Em 30/03/1964, ocorreu a reunião dos sargentos no Automóvel Clube do Brasil. O general Assis Brasil reuniu-se com o general Jair Dantas Ribeiro e ambos não sabiam o que estava ocorrendo. Entrando em contato com o presidente do clube, descobriram que este também desconhecia da existência do encontro. Os deputados Tenório Cavalcanti e Tancredo Neves aconselharam ao presidente a não ir. João Goulart, apesar das muitas opiniões contrárias, compareceu e os discursos foram extremistas. Estava se armando o golpe, pois entre o Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964 e a reunião no Automóvel Clube do Brasil, em 30 de março, decorreram 17 dias, tempo suficiente para a sua preparação.

Assis Brasil e João Goulart em 13/03/1964
A Tentativa de Alerta ao Presidente

Segundo Assis Brasil, o único general que alertou João Goulart de uma conspiração foi o general Amaury Kruel, Comandante do II Exército.


O Golpe em 31 de Março

Assis Brasil no dia 31/03/1964 estava no Palácio das Laranjeiras. Lá foi informado do levante de Minas Gerais. O general telefonou para o I Exército para tomar mais informações. A resposta era que tudo estava em ordem.

Assis BrasilJoão Goulart sabiam que o general Olympio Mourão Filho e o general Carlos Guedes estavam conspirando, porém não sabiam o quanto já estava adiantada a conspiração. João Goulart telefonou para o general Amaury Kruel, que afirmou que não concordava com o que estava acontecendo e que o governo deveria agir com firmeza. João Goulart, então, telefonou para o general Justino Alves Bastos, que se alinhou ao presidente. Neste momento, o levante de Minas Gerais já estava tomando corpo rapidamente. O general Armando de Moraes Âncora informou ao presidente. O presidente, então, reuniu o general Armando de Moraes Âncora e o Ministro da Aeronáutica, determinando que não houvesse choque de tropas e derramamento de sangue brasileiro.

O Dia Primeiro de Abril

No dia 01/04/1964, a fortaleza de Copacabana passou para o controle dos conspiradores. João Goulart mandou o general Assis Brasil ficar no Rio de Janeiro e voou para Brasília para conversar com os políticos do Congresso Nacional.

O general Armando de Moraes Âncora telefonou para o general Assis Brasil informando que o Norte aderira ao golpe e que Minas Gerais estava toda revoltada, que o batalhão mandado para Minas Gerais e o batalhão de Barra do Piraí aderiram também ao movimento e que as tropas de São Paulo estavam marchando, indo a Academia Militar das Agulhas Negras na vanguarda.

Segundo as palavras de Assis Brasil, a conversa teve o seguinte teor:

O General Âncora perguntou:

- "Vou meter fogo nesses cadetes?"

O general Assis Brasil respondeu:

- "Não tenho autoridade para falar em nome do presidente, mas posso adiantar que ele não concordaria com isso."

Âncora:

- "Fico contente, porque já decidi que não vou abrir fogo contra os cadetes, porque será um peso que não tirarei mais de cima de meus ombros - matar a mocidade militar da minha terra."

Isto ocorrido, Assis Brasil se reuniu com os ministros civis e militares. O ministro da Marinha queria resistir ao golpe, porém foi demovido da ideia. As tropas do palácio foram recolhidas para não haver confrontos, ficando somente as sentinelas palacianas. O general Assis Brasil foi encontrar o presidente em Brasília. Ao chegar no aeroporto, antes de falar com João GoulartAssis Brasil ordenou aos oficiais da Casa Militar que fossem para seus postos e passassem os cargos aos substitutos. Perguntado sobre o que iria fazer respondeu:

"Vou com o presidente, porque esta é a minha função. Não sei para onde ele vai, mas o meu destino, enquanto ele for vivo por aqui, está ligado ao dele."

Porto Alegre

Porto Alegre estava ainda com João Goulart. O general Ladário, que chefiava as tropas, estava esperando a chegada do presidente e do general Assis Brasil. Ladário e Leonel Brizola queriam resistir, mas João Goulart não aceitou, pois como havia frisado anteriormente, não queria derramamento de sangue brasileiro.

Para não ser preso, foi aconselhado por Assis Brasil para ir embora do Brasil. Foram chamados os oficiais e mandados ir para Brasília se apresentar. Foi organizada uma segurança sem armas, só com vigilância, em torno de seis quilômetros da fazenda, nas estradas e no campo, para avisar da aproximação de forças. Havia três aviões: um C-47, um Cessna bimotor e um monomotor, um deles com soldados, os outros abastecidos para qualquer emergência. O avião C-47 foi para um rancho em uma das fazendas de João Goulart, na costa do Rio Uruguai, onde existia um campo, no município de São Borja, RS. De lá João Goulart queria ir para o Brasil central, onde possuía terras, mas o general Assis Brasil o convenceu para ir ao Uruguai. Foi mandado um homem a Montevidéu, com uma mensagem escrita pelo presidente pedindo asilo político. Ele então escreveu para um amigo falar com o governo uruguaio. Foi mandado um piloto levar a mensagem e, no outro dia, ao amanhecer, foram para a estância Santa Lúcia. O piloto retornou e disse que o Uruguai receberia João Goulart. Saíram daquela estância e foram para outra chamada Cinamomo, de propriedade de João Goulart, perto do município de São Borja, a 628 km de Porto Alegre.

O Exílio de Jango e a Prisão de Assis Brasil

No dia 04/04/1964, na estância de Cinamomo, o presidente se convenceu de ir para o Uruguai. Mandou a mulher e os filhos para Montevidéu.

Ao chegar no Uruguai, Assis BrasilJoão Goulart foram recebidos por autoridades e populares. Uma vez o presidente instalado, Assis Brasil disse para João Goulart:

- "Presidente, a minha missão está cumprida!"

Ao retornar para o Brasil, antes de expirado o prazo de oito dias para que sua ausência do país configurasse crime de deserção, o general Assis Brasil se apresentou para as autoridades e foi preso.

A Perseguição

Demitido do Exército Brasileiro, e considerado morto legalmente para as Forças Armadas, foram retiradas perpetuamente de sua ficha todas as suas condecorações militares, exceto as estrangeiras, além de ter seus direitos políticos cassados por dez anos.

Respondeu em 1964 a um Inquérito Policial Militar para apurar o exercício de possíveis atividades subversivas. A promotoria militar que examinou os termos do Inquérito Policial Militar, não vendo nenhum crime em suas atitudes quando no governo, impronunciou-o na Justiça Militar, não tendo o general Assis Brasil sofrido qualquer condenação criminal ou punição disciplinar, a não ser a demissão.

Ele foi o único oficial-general a ser demitido nas Forças Armadas.

Ao procurar emprego como civil teve sua ficha trabalhista bloqueada pelo regime militar. Suas contas bancárias e créditos também foram bloqueados, sendo impedido de trabalhar para o seu sustento como punição por não concordar com a ditadura. Por ser considerado pelo Exército Brasileiro legalmente morto, em consequência de ter sido demitido, com o falecimento de sua esposa em 1967 foi impedido pelo governo militar de receber a pensão de sua mulher. Passou então a sobreviver, por quinze anos, de favores de amigos e de parentes, além de aulas particulares de matemática que ministrava a vários alunos.

Anistia

Até ser anistiado, não recebeu nenhuma aposentadoria militar. Sobrevivia, além da sua atividade como professor particular e da ajuda de terceiros, da pensão de meio salário mínimo que recebia do INPS, como idoso. Após a anistia, foi reformado como General-de-Exército, passando a receber a correspondente aposentadoria.

Fonte: Wikipédia