Mostrando postagens com marcador Teatrólogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Teatrólogo. Mostrar todas as postagens

Domingos Montagner

DOMINGOS MONTAGNER
(54 anos)
Ator, Palhaço, Artista Circense, Teatrólogo e Empresário

☼ São Paulo, SP (26/02/1962)
┼ Canindé de São Francisco, SE (15/09/2016)

Domingos Montagner foi um ator, palhaço, artista circense, teatrólogo e empresário brasileiro nascido em São Paulo, SP, no dia 26/02/1962.

Domingos Montagner nasceu no bairro paulistano do Tatuapé numa família descendentes de italianos.

Domingos Montagner Iniciou sua carreira em teatros e circos, através do curso de interpretação de Myriam Muniz, e no Circo Escola Picadeiro conheceu as técnicas e o vocabulário que o conduziram para o circo e a arte popular.

Com Fernando Sampaio, formou em 1997 o Grupo La Mínima, que possui 12 espetáculos em repertório. "A Noite dos Palhaços Mudos", de 2008, lhe rendeu o Prêmio Shell de Melhor Ator.

Em 2003, com mais oito artistas, criou o Circo Zanni, do qual é diretor artístico.

Sua estreia na televisão aconteceu com o seriado "Mothern", no canal GNT. Na TV Globo, suas primeiras participações foram no programa "Força Tarefa" (2009) e nas séries "A Cura" (2010) e "Divã" (2011).


Em 2011, atuou em sua primeira novela, "Cordel Encantado", pela qual recebeu os prêmios Contigo e Melhores do Ano do programa "Domingão do Faustão", ambos na categoria Ator Revelação.

Em 2012, protagonizou a minissérie "Brado Retumbante", de Euclydes Marinho, vivendo o presidente Paulo Ventura, pela qual recebeu o prêmio Contigo na categoria de Melhor Ator de Série / Minissérie. Também em 2012, o artista atuou na novela "Salve Jorge", de Glória Perez. Estreou no cinema no mesmo ano, com uma participação especial no longa "Gonzaga - de Pai Pra Filho", de Breno Silveira.

Em 2013, Domingos Montagner foi escalado para a novela das 18h00, "Joia Rara", de Thelma Guedes e Duca Rachid.

Em 2015, interpretou Miguel, o protagonista da novela "Sete Vidas", de Lícia Manzo, e em seguida deu vida ao delegado Espinosa na série "Romance Policial - Espinosa". A adaptação do livro "Uma Janela em Copacabana", de Luiz Alfredo Garcia Roza, foi ao ar no canal GNT,  com direção geral de José Henrique Fonseca. No mesmo ano, Domingos Montagner participou dos longas-metragens "Vidas Partidas" (Marcos Schechtman),  "De Onde Te Vejo" (Luiz Villaça) e "O Outro Lado do Vento" (Walter Lima Jr.), que entram em cartaz em 2016.

Atualmente, Domingos Montagner estava no elenco de "Velho Chico", novela de Benedito Ruy Barbosa, com direção de Luiz Fernando Carvalho.

Circo

O Circo Zanni, do qual Domingos Montagner era diretor artístico e um dos nove sócios, estreou no verão de 2004, em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo, após dez meses de preparação e busca de recursos para adquirir sua própria lona e estrutura.

Hoje a companhia acumula um total de 26 temporadas - em estados como São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás e Santa Catarina -, tendo superado a marca de 130 mil espectadores. Participou de Festivais de Circo no Brasil e no exterior, ganhou Prêmios de Estímulo e Fomento à Cultura e patrocínios por meio da Lei Federal Rouanet de Incentivo à Cultura.

Recentemente, foi eleito o melhor circo de São Paulo na edição especial "O Melhor de São Paulo" da Revista Época e, este ano de 2016, foi uma das atrações do 1º Festival Internacional de Circo de Buenos Aires, na Argentina.

Domingos Montagner e Fernando Sampaio são os fundadores do Circo Zanni, que busca revitalizar a importância dos circos de pequeno e médio porte na vida cultural das cidades.

Teatro

Domingos Montagner e Fernando Sampaio conheceram-se em 1989, no Circo Escola Picadeiro em São Paulo, onde iniciaram a dupla de palhaços. Ali criaram e levaram às ruas, reprises, entradas e outros números circenses, desenvolvidos sob a orientação do mestre Roger Avanzi, o Palhaço Picolino.

Em 1997, criaram o Grupo LaMínima, que estreou com o espetáculo "LaMínima Cia. de Ballet", baseada no humor físico e nas clássicas paródias acrobáticas. Desde então, a arte do circo e do palhaço, conduziram o trabalho da dupla, em espetáculos de rua e sala, que percorreram, nestes 15 anos dezenas de festivais e temporadas nacionais e internacionais.

Dentre os principais prêmios recebidos pelo LaMínima estão dois APCA: Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil, por "Piratas do Tietê - O Filme" e Melhor Espetáculo com Técnicas Circenses, por "À La Carte"; Prêmio Coca-Cola FEMSA na Categoria de Melhor Espetáculo Jovem de 2003 por "Piratas do Tietê - O Filme".

A Noite dos Palhaços Mudos recebeu em 2008 os prêmios Shell de Teatro SP - Melhor Ator para Domingos Montagner e Fernando Sampaio, Cooperativa Paulista de Teatro de Melhor Espetáculo de Sala Convencional e Melhor Elenco.

Morte

Domingos Montagner desapareceu na quinta-feira, 15/09/2016, depois de mergulhar no Rio São Francisco, na região de Canindé de São Francisco, divisa com Alagoas e Sergipe. Ele estava de folga junto com uma colega, mergulhou e foi levado pela correnteza. A colega em questão era a atriz Camila Pitanga e ela entrou na água junto com Domingos Montagner.

De acordo com a colunista Patricia Kogut, do jornal "O Globo"Camila Pitanga também mergulhou, mas conseguiu segurar em uma pedra para não ser arrastada pela correnteza.

"A Camila está transtornada. Ela contou que os dois estavam de folga e foram dar um mergulho para se despedir do rio. A correnteza começou a puxá-lo. Domingos lutou, mas acabou afundando e não emergiu mais. Camila foi mais ágil, nadou e se agarrou a uma pedra. Todas as forças do estado de Sergipe trabalharam nas buscas."

As buscas para encontrar Domingos Montagner contaram com 2 helicópteros, 2 lanchas e vários pescadores locais.

O corpo de Domingos Montagner foi encontrado na na quinta-feira, 15/09/2016, no Rio São Francisco, informaram as autoridades de Canindé de São Francisco, na divisa entre Sergipe e Alagoas. Ele deixa a mulher, Luciana Lima, e três filhos.

Segundo relatos iniciais, o ator gravou cenas da novela pela manhã e, no início da tarde, estava em momento de lazer. Depois do almoço, mergulhou no Rio São Francisco ao lado da atriz Camila Pitanga. Eles teriam nadado até um conjunto de rochas, o que exigiu fisicamente dos atores. Camila Pitanga conseguiu chegar às rochas, mas o ator, não.

Em "Velho Chico", seu personagem, Santo, chegou a desaparecer nas águas do Rio São Francisco, após levar três tiros em um atentado. A população da cidade se mobilizou, então, para encontrá-lo, com receio que ele tivesse se afogado. Mas Santo foi salvo por um pajé de uma tribo indígena.

Trabalhos

Televisão
  • 2008 - Mothern ... João
  • 2010 - Força Tarefa  ... Cabo Moacyr
  • 2010 - A Cura ... Pai de Ezequiel
  • 2011 - Divã ... Carlos Alencar
  • 2011 - Cordel Encantado  ... Capitão Herculano Araújo
  • 2012 - O Brado Retumbante ... Paulo Ventura
  • 2012 - Salve Jorge ... Zyah
  • 2012 - Gonzaga - De Pai pra Filho ... Coronel Raimundo
  • 2013 - Jóia Rara ... Raimundo Fonseca (Mundo)
  • 2015 - Sete Vidas ... João Miguel Oliveira Sanches
  • 2015 - Romance Policial - Espinosa ... Espinosa
  • 2016 - Velho Chico ... Santo dos Anjos

Cinema
  • 2009 - Paredes Nuas
  • 2012 - A Noite dos Palhaços Mudos ... Palhaço
  • 2014 - A Grande Vitória ... César Trombini
  • 2014 - Tarja Branca - A Revolução Que Faltava
  • 2015 - Através da Sombra ... Afonso
  • 2016 - De Onde Eu Te Vejo ... Fábio
  • 2016 - Um Namorado Para Minha Mulher ... Corvo
  • 2016 - Vidas Partidas ... Raul
  • 2016 - O Rei das Manhãs ... Palhaço

Teatro
  • 2001 - À La Carte
  • 2003 - Piratas do Tietê, O Filme
  • 2006 - Feia - Uma Comédia Circense
  • 2007 - Reprise
  • 2008 - A Noite dos Palhaços Mudos
  • 2012 - Mistero Buffo
  • 2016 - Mistero Buffo

Prêmios e Indicações

  • 2011 - Prêmio Extra de Televisão - "Cordel Encantado" (Revelação Masculina - Indicado)
  • 2011 - Melhores do Ano  - Melhor Ator Revelação - "Cordel Encantando" (Venceu)
  • 2011 - Prêmio Quem de Televisão - Melhor Ator Coadjuvante - "Cordel Encantado" (Indicado)
  • 2012 - Prêmio Contigo! de TV - Revelação da TV (Venceu)
  • 2013 - Prêmio Contigo! de TV - Melhor Ator de Série ou Minissérie - "O Brado Retumbante" (Venceu)
  • 2013 - Prêmio Quem de Televisão - Melhor Ator - "Salve Jorge" (Indicado )
  • 2015 - Troféu APCA - Melhor Ator - "Sete Vidas" (Indicado)

Sábato Magaldi

SÁBATO ANTONIO MAGALDI
(89 anos)
Crítico Teatral, Teatrólogo, Jornalista, Professor, Ensaísta e Historiador

☼ Belo Horizonte, MG (09/05/1927)
┼ São Paulo, SP (14/07/2016)

Sábato Antonio Magaldi foi um crítico teatral, teatrólogo, jornalista, professor, ensaísta e historiador brasileiro, nascido em Belo Horizonte, MG, no dia 09/05/1927.

Sábato Magaldi formou-se no curso de Direito em Belo Horizonte, mas antes dos 20 anos de idade escreveu sua primeira crítica, de uma peça de Jean Paul Sartre, iniciando a carreira de crítico teatral, sua verdadeira vocação.

Em 1948 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a escrever críticas para o jornal Diário Carioca, em substituição à Paulo Mendes Campos, na função de crítico.

Em 1953 Sábato Magaldi foi trabalhar em São Paulo, exercendo sua função nos jornais O Estado de São Paulo e no Jornal da Tarde, à partir de 1966.

Foi membro da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito em 08/12/1994, tomando posse em julho de 1995 na cadeira nº 24, na sucessão de Ciro dos Anjos. Foi professor titular de História do Teatro Brasileiro da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Lecionou, ainda, durante quatro anos nas universidades francesas da Universidade de Paris III, (Sorbonne) Nouvelle e de Provence.

Atuou na política, ao ser o primeiro secretário municipal de Cultura de São Paulo, entre abril de 1975 e julho de 1979, na administração Olavo Egydio Setúbal.

Sábato Magaldi foi um dos grandes organizadores da obra de Nelson Rodrigues, de quem era amigo pessoal, e foi responsável pela classificação de suas peças segundo tema e gênero: Tragédias Cariocas, Peças Míticas e Peças Psicológicas. Seus prefácios às peças são verdadeiros ensaios sobre a obra do dramaturgo.

Sábato Magaldi foi casado com a escritora Edla Van Steen.

Morte

Sábato Magaldi morreu às 23h30 de quinta-feira, 14/07/2016, aos 89 anos. Ele estava internado desde o dia 02/07/2016 no Hospital Samaritano, em São Paulo, com problemas pulmonares. Sua morte de seu em decorrência de um quadro séptico, insuficiência renal e comprometimento pulmonar.

O velório ocorreu na sexta-feira, 15/07/2016, a partir das 12h00, no Cemitério Memorial Parque Paulista, em São Paulo. O corpo do crítico foi cremado às 15h00. Depois, as cinzas seguiram para o Rio de Janeiro, onde foram sepultadas no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Produção Literária

  • Panorama do Teatro Brasileiro (Global Editora, 2001)
  • Iniciação ao Teatro (Editora Ática, 1998)
  • O Cenário do Avesso (Editora Perspectiva, 1991)
  • Um Palco Brasileiro - O Arena de São Paulo (Editora Brasiliense)
  • Nelson Rodrigues - Dramaturgia e Encenações (Editora Perspectiva)
  • O Texto no Teatro (Editora Perspectiva)
  • As Luzes da Ilusão, em parceria com Lêdo Ivo (Global Editora)
  • Moderna Dramaturgia Brasileira (Editora Perspectiva, 1998)
  • Depois do Espetáculo (Editora Perspectiva, 2003)
  • Teatro da Obsessão - Nelson Rodrigues (Editora Global, 2004)
  • Teatro da Ruptura - Oswald de Andrade (Editora Global, 2003)
  • Teatro de Sempre (Editora Perspectiva, 2006)
  • Cem Anos de Teatro em São Paulo (Editora Senac, 2001)
  • Edição da obras de Nelson Rodrigues - Teatro Completo (Editora Global, Vários Volumes)
  • Teatro Vivo (Responsável pela Coleção)

Fonte: Wikipédia

Brandão, o Popularíssimo

JOÃO AUGUSTO SOARES BRANDÃO
(77 anos)
Ator, Teatrólogo e Poeta

* Lomba da Maia, Açores (19/06/1844)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/11/1921)

João Augusto Soares Brandão, conhecido pelo nome artístico de Brandão, o Popularíssimo, foi um poeta, teatrólogo e ator. Celebrizou-se na comédia de costumes, sendo um dos mais conhecidos e populares atores do panorama teatral brasileiro do final do século XIX e início do século XX.

Emigrou dos Açores para o Brasil em 1855, quando tinha 11 anos. Por algum tempo trabalhou no comércio do Rio de Janeiro. Iniciou a sua carreira de ator aos 16 anos, quando resolveu entrar para um grêmio teatral amador por estar empolgado com as atuações do ator brasileiro João Caetano.

Sua estreia, ainda como amador, aconteceu em um pequeno teatro particular no bairro carioca de Botafogo. Posteriormente, se apresentou em diversos teatros na cidade, incluindo o Teatro São Januário, localizado próximo ao Paço Imperial, onde participou, por volta de 1862 da montagem da peça "Caravaggio". Por esta época, foi contratado pela atriz e empresária Maria da Glória para fazer parte de sua companhia teatral itinerante.

Por cerca de 30 anos, passou a percorrer os teatros das cidades e vilas do interior brasileiro, especialmente de Minas Gerais, São Paulo e Estado do Rio de Janeiro, apresentando-se em peças de caráter burlesco e em comédia de costumes. Durante este tempo, viveu diversas aventuras, conforme foi retratado, por exemplo, na peça "O Mambembe", de Arthur Azevedo, cujo personagem Frazão, foi claramente inspirado nele, conforme garantiu o próprio autor.

Brandão estava com sua companhia teatral sediada na cidade de Sabará, em Minas Gerais, quando, em 1891, recebeu um convite para ir ao Rio de Janeiro, para atuar na peça "Viagem Ao Parnaso", de Arthur Azevedo, a ser apresentada no Teatro Apolo. Com o estrondoso sucesso que fez, mandou buscar a família que tinha ficado em Sabará e radicou-se na então capital brasileira. A partir dali, fez tanto sucesso que o jornalista Feliciano Prazeres, do Jornal do Brasil, o chamou de "Popularíssimo", apelido que acabou adotando e com ele foi conhecido em muitos lugares do Brasil e até fora dele.

Brandão contracenando com a atriz Julia Lopes.
Entre suas peças de maior sucesso, se destacam "A Pera de Satanás", de Eduardo Garrido, "Abacaxi", de Moreira Sampaio, "Tribofe", de Arthur Azevedo, onde atuou com Francisco Vasques, outro notável ator comediante, "Rio Nu", de Moreira Sampaio, "A Capital Federal", de Arthur Azevedo, "Tim Tim Por Tim Tim", de Souza Bastos, "O Esfolado", de Raul Pederneiras e Vicente Reis, "O Mambembe", de Arthur Azevedo, e "A Última do Dudu", de Raul Pederneiras.

No fim de sua carreira, foi convidado por Leopoldo Fróes para ser o ensaiador da Companhia do Teatro Trianon, que apresentava um repertório de comédias leves.

Brandão pretendia publicar um livro de suas memórias teatrais, intitulado "Último Ato", mas após sua morte, a viúva vendeu os originais e o livro acabou sendo irremediavelmente perdido.

Em 16/11/1921, quando estava na plateia do Democrata Circo, foi acometido de um forte acesso de tosse, vindo a falecer vítima de Síncope Cardíaca. Brandão deixou a viúva, Beatriz, e nove filhos, sendo dois de seu segundo casamento, um do terceiro e seis do quarto matrimônio.

O único de seus filhos que seguiria carreira de ator foi Brandão Filho, que conquistou enorme popularidade no circo, no rádio, no teatro, no cinema e na televisão, especialmente com o personagem "Primo Pobre", do programa "Balança Mas Não Cai".

A freguesia de Lomba da Maia, na ilha de São Miguel, nos Açores, sua terra natal, prestou-lhe homenagem em 1983, com um monumento feito por um artista local.

Brandão, o Popularíssimo
Obras Publicadas

  • 1894 - Cenas Realistas (Teatro)
  • 1895 - Lamentações De Um Porteiro: Cena Cômica
  • 1895 - O Boiadeiro (Poesia)
  • 1895 - Capenga Não Forma (Teatro)
  • 1895 - O Tio Geriva (Comédia de Costumes)
  • 1919 - O Barão Das Crioulas (Burleta-Revista)

Fonte: Wikipédia

Carlos Torres Pastorino

CARLOS JULIANO TORRES PASTORINO
(69 anos)
Ex-Padre, Espírita, Radialista, Jornalista, Escritor, Teatrólogo, Historiador, Filólogo, Filósofo, Professor, Poliglota, Poeta e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (04/11/1910)
┼ Brasília, DF (13/06/1980)

Carlos Juliano Torres Pastorino foi um ex-padre que se dedicou ao estudo da Doutrina Espírita e da Fenomenologia Mediúnica, autor do maior best-seller de auto-ajuda no país, "Minutos de Sabedoria".

Era mais conhecido por Professor Pastorino e era filho de José Pastorino e Eugênia Torres Pastorino. Desde criança demonstrou inusitada inteligência e vocação para a vida eclesiástica. Com apenas 14 anos de idade, em 1924, recebeu os diplomas de Geografia, Corografia e Cosmografia, do Colégio Dom Pedro II e, logo em seguida, ainda no mesmo ano, o diploma de Bacharel em Português, no mesmo colégio.

Viajou para Roma a fim de cursar o Seminário, onde, em 1929, foi diplomado pelo Cardeal Basilio Pompili, para a Ordem Menor de Tonsura. Formou-se em Filosofia e Teologia em 1932, sendo ordenado sacerdote em 1934.

Abandonou a vida eclesiástica da Igreja Católica Romana, quando, em 1937, aguardava promoção para diácono. Surpreendeu-se com a recusa do Papa Pio XII, em receber o Mahatma Gandhi em seu tradicional traje branco. O Colégio Cardinalício exigia que o grande líder da Índia vestisse casaca, para não quebrar a tradição das entrevistas dos chefes de Estado. Pastorino, diante dessa recusa, imaginou que se Jesus visitasse o Vaticano, não se entrevistaria com o Papa, pois vestia-se de forma similar a Gandhi, e jamais se sujeitaria ao rigor exigido pela Igreja.

Regressou de imediato ao Brasil e desenvolveu intensa atividade pedagógica. Ingressou no Instituto Italo-Brasileiro de Alta Cultura, como professor de Latim e Grego, cargo que exerceu de 1937 a 1941. Em 1938, recebeu o registro de Professor de Psicologia, Lógica e História da Filosofia do Ensino Secundário. Foi também professor de Espanhol.

Em paralelo com o magistério, exercia atividades jornalísticas, como correspondente dos Diários Associados. Foi Adido Cultural e Jornalístico da Academia Brasileira de Belas Artes. Sócio de inúmeras Sociedades Esperantistas, no Brasil e no exterior. Delegado especializado (Faka Delegito) da Universidade Esperanto Asocio, com sede na Holanda. Foi fundador da Sociedade Brasileira de Esperanto, no Rio de Janeiro. Sua bibliografia é extensa, com mais de 50 livros publicados e outros tantos inéditos.

Pastorino falava fluentemente vários idiomas, legando-nos inúmeros livros didáticos. Traduziu obras de vários autores ingleses, franceses, espanhóis, italianos, clássicos latinos e gregos.

No dia 31/05/1950 concluiu a leitura de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que recebera por empréstimo de um seu colega do Colégio Dom Pedro II. Nesse dia declarou-se espírita, data que guardava com muito carinho. Passou a frequentar o Centro Espírita Júlio César, no Grajaú, o qual foi sua escola inicial de Espiritismo. No dia 08/01/1951, com um grupo de abnegados companheiros, fundou o Grupo Espírita Boa Vontade, posteriormente mudado para Grupo de Estudos Spiritus, para não haver confusão com a Legião da Boa Vontade.

No Grupo de Estudos Spiritus, nasceu o Lar Fabiano de Cristo, o boletim Serviço Espírita de Informação (SEI). Fundou a Livraria e Editora Sabedoria e a revista com o mesmo nome, prestando relevantes serviços à Doutrina, no terreno cultural.

O professor Carlos Torres Pastorino realizou muitas palestras no Rio de Janeiro e em vários outros Estados. Participou ativamente de Congressos, Semanas Espíritas, Simpósios, Cursos e tantos outros eventos. Fez-se sócio de inúmeras instituições espíritas e colaborou com a imprensa espírita nacional e do exterior. De sua vasta bibliografia espírita, destaca-se "Minutos de Sabedoria", que bate todos os recordes de vendagem, já em várias edições "Sabedoria do Evangelho", publicado em fascículos na revista Sabedoria e Técnicas da Mediunidade, excelente livro sobre o assunto.

O grande sonho de Carlos Torres Pastorino era criar uma Universidade Livre, para ensinar Sabedoria. Em 1973 recebeu, por doação, do Drº Miguel Luz, famoso médico paulista, já desencarnado, magnífico terreno numa área suburbana de Brasília, denominada Park Way, onde iniciou as obras da Universidade. Já com algumas dependências construídas, passou a residir no local, para administrá-la. Chegou a realizar vários cursos, estando a sua Biblioteca em pleno funcionamento, com o respeitável número de 8000 volumes, adquiridos ao longo de sua existência, toda voltada para a cultura geral e o bem-estar da humanidade. Infelizmente faleceu antes de ver concretizado esse sonho.

Foi casado com Silvana de Santa M. Pastorino, deixando três filhos maiores e sete netos. Deixou também um casal de filhos menores do segundo casamento.

Obra

Carlos Torres Pastorino publicou uma extensa bibliografia de mais de 50 obras, muitas delas ainda inéditas. Poliglota, traduziu obras de diversos idiomas. Foi também radialista, sendo a sua obra magna - "Minutos de Sabedoria" - uma coleção de suas mensagens propaladas no rádio. Compôs 31 peças musicais para piano, orquestra, quarteto de cordas e polifonia, a três e quatro vozes. Entre as suas obras, destacam-se:

  • 1966 - Minutos de Sabedoria
  • 1966 - Teu Filho, Tua Vida
  • 1966 - Tua Mente, Tua Vida
  • 1968 - Técnica da Mediunidade
  • Sabedoria do Evangelho (Vários Volumes)

O livro "Minutos de Sabedoria" já ultrapassou a marca de 9 milhões de exemplares vendidos - tendo sido, por reincidência em mais de dois anos consecutivos, retirado da lista elaborada pela revista Veja, dos mais vendidos. A obra, originalmente destinada a subsidiar os trabalhos assistenciais e educativos do professor Pastorino, hoje teve, após ação na Justiça, os seus direitos revertidos para os herdeiros.

Na obra "Técnica da Mediunidade", aborda, com o recurso a inúmeros quadros comparativos, numa ótica cientificista, o fenômeno mediúnico. Em seu prefácio, o General-de-Brigada Drº Manoel Carlos Netto Souto registra:

"Pastorino volta à Terra e tenta mostrar ou demonstrar fatos que para ele são axiomáticos, fazendo o arcabouço da ponte que une o físico ao espiritual, uma vez que os considera da mesma natureza, sem irrealidades nem fantasia."

A obra, editada em 1968, teve as suas edições póstumas proibidas pela família, praticante do catolicismo. Nela, o autor assim refere a mediunidade:

"As vibrações, as ondas, as correntes utilizadas na mediunidade são as ondas e correntes de "pensamento". Quanto mais fortes e elevados os pensamentos, maior a freqüência vibratória e menor o comprimento de onda. E vice-versa. (…) Tudo isso faz-nos compreender a necessidade absoluta de mantermos a mente em "ondas" curtas, isto é, com pensamentos elevados, para que nossas preces e emissões possam atingir os espíritos que se encontram nas altas camadas."

José de Anchieta

JOSÉ DE ANCHIETA
(63 anos)
Padre Jesuíta, Gramático, Poeta, Teatrólogo e Historiador

* San Cristóbal de La Laguna, Espanha (19/03/1534)
+ Iriritiba, ES (09/06/1597)

José de Anchieta foi um padre jesuíta, um dos fundadores de São Paulo e declarado beato pelo papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil. É homenageado dando seu nome à Rodovia Anchieta construída pelo então governador Adhemar Pereira de Barros por onde passava o Caminho do Padre José de Anchieta.

Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, em 19/03/1534, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem MariaJuán López de Anchieta era aparentado dos Loyola, daí o parentesco de José de Anchieta com o fundador da Companhia de JesusInácio de Loyola.

Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo y Llarena, natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela.

Dos doze irmãos, além dele abraçaram o sacerdócio Pedro Núñez e Melchior.

A família de José de Anchieta era de guerreiros aguerridos. Um de seus irmãos defendeu o estandarte de Tércios de Flandres, que lutavam até a morte pela unidade religiosa nos campos da Espanha. Outro, missionário, adentrou pelas terras ao norte do Rio Grande, hoje território norte-americano, e seu primo o antecedeu nas missões jesuíticas ao Brasil. José de Anchieta, por tradição, era destinado a ser soldado. Mas seu pai, vendo o menino acanhado e versejando poesias em latim já aos nove anos de idade, reconheceu que ele não manifestava a mínima aptidão para a carreira militar.

Decidiu matriculá-lo no Colégio das Artes da Companhia de Jesus em Portugal. A disciplina e a noção do dever dos jesuítas - Inácio de Loyola, o fundador da Companhia, era, ele sim, um militar - deveria bastar à formação do garoto. Não sendo soldado de armas, José de Anchieta seria soldado da fé. O garoto não frustaria os anseios de seu pai. Pregando em terras distantes, onde os relatos de seus milagres se multiplicaram, ele ainda pode vir a ser canonizado. Seria a culminação de um percurso religioso que começou aos 14 anos, quando foi para o colégio em Coimbra.

Tinha tanta facilidade em compor versos em latim quanto problemas por sua fraca saúde, que necessitava sempre de cuidados. Alguns biógrafos dizem que sofria de dores na coluna vertebral, já andava arqueado. Outros garantem que uma escada da biblioteca do colégio caiu-lhe nas costas e, com o correr dos anos, as conseqüências do acidente o deixaram quase corcunda. Foi para aliviar tantos padecimentos que seus superiores conjeturaram sob a viabilidade de mandá-lo para um clima ameno - o das Índias brasílicas, como era conhecido o Brasil. Servir a Deus no Novo Mundo era sonho dos jovens religiosos da Companhia de Jesus e José de Anchieta aceitou a ordem com a determinação dos que cumprem uma missão divina. Tinha 19 anos de idade quando chegou a Salvador, na Bahia, depois de dois meses de viagem, em 13/07/1553. Ficou ali por pouquíssimo tempo. Manoel da Nóbrega, vice-provincial da Capitania de São Vicente, onde se encontrava a pequena aldeia de Piratininga, precisava de sua ajuda.

Ele sabia da sua competência em ler e escrever, e os jesuítas necessitavam urgentemente de tradutores e intérpretes para falar o tupi, língua dos índios do litoral brasileiro. Mais dois meses de viagem o aguardavam para chegar da Bahia ao planalto paulista. Um percurso que, mais do que a travessia do Atlântico em um galeão, fundou uma nova etapa na vida de José de Anchieta: a da aventura. Violentas tempestades sacudiram sua embarcação na altura de Abrolhos e o barco, com as velas rotas e os mastros partidos, encalhou perto do litoral do Espírito Santo.

A nau que o acompanhava perdeu-se nas vagas e foi com seus destroços que a tripulação pôde consertar os estragos e retomar a viagem. Mas, antes que isso ocorresse, o pânico tomou conta dos passageiros - na praia, poderiam estar esperando os índios tamoios, conhecidos antropófagos.

Destemido, José de Anchieta desceu à terra junto com os marinheiros, à procura de mantimentos. Foi seu primeiro contato com os índios. Não se sabe muito bem o que aconteceu, já que os biógrafos não entram em detalhes, mas é certo que ninguém no barco foi molestado. Depois do sobressalto, ao desembarcar, o pesadelo apenas começava. Para chegar do mar à aldeia de Piratininga, cerca de mil metros acima, em um planalto, José de Anchieta tinha de percorrer o que foi chamado por seus biógrafos como "o pior caminho do mundo": uma picada em meio à Mata Atlântica, que José de Anchieta fez muitas vezes à pé, pois cavalgar danificava sua coluna.


Era verão, época das chuvas, calor e, principalmente, mosquitos. Sua visão das terras de São Vicente e Piratininga, foi relatada em carta aos seus superiores. Dizia ele das onças:

"Essas (malhadas ou pintadas) encontram-se em qualquer parte (…) São boas para comer, o que fizemos algumas vezes."

Dos jacarés:

"Também há lagartos nos rios, que se chamam jacarés, de extraordinário tamanho de modo a poder engolir um homem."

Sobre as jararacas:

"São muito comuns nos campos, bosques e até nas próprias casas, nas quais as encontramos tantas vezes."

José de Anchieta fala ainda dos mosquitos que "sugando o sangue, dão terríveis ferroadas", das poderosas tempestades tropicais e inundações de dezembro. Apesar dos transtornos, a luxuriante beleza da Serra do Mar deve tê-lo impressionado, pois escreveu, anos depois, um tratado sobre as espécies animais e vegetais que poderiam ser encontradas no Brasil, numa iniciativa pouco comum entre os jesuítas.

Mas seu tema principal foram mesmos os índios:

"Toda essa costa marítima, de Pernambuco até além de São Vicente, é habitada por índios que, sem exceção, comem carne humana; nisso sentem tanto prazer e doçura que freqüentemente percorrem mais de 300 milhas quando vão à guerra. E, se cativarem quatro ou cinco dos inimigos, regressam com grandes vozearias, festas e copiosíssimos vinhos que fabricam com raízes e os comem de maneira que não perdem nem sequer a menor unha."

José de Anchieta se chocaria, como outros cronistas da época, com a liberdade sexual dos indígenas:

"… as mulheres andam nuas e não sabem negarem-se a ninguém, mas até elas mesmas cometem e importunam os homens, jogando-se com eles nas redes, porque têm por honra dormir com os cristãos."

Apesar do espanto, em pouco tempo, José de Anchieta aprendeu a conhecer as particularidades da terra e da gente de seu novo lar.

A Europa renascentista do séculos 16 fica para trás, já que José de Anchieta nunca voltaria a rever o Velho Mundo. Um mês depois de sua chegada, em 25/01/1554, foi inaugurado o colégio jesuíta da Vila de Piratininga, data hoje comemorada como fundação de São Paulo. Escreveu José de Anchieta:

"Celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo, e por isso dedicamos a ele nossa casa."

Ali moravam treze jesuítas que tinham a seu cargo duas aldeias de índios com quase mil pessoas. O local tinha apenas 14 passos de comprimento e 10 de largura, incluindo escola, despensa, cozinha, refeitório e dormitório. Em resumo, era minúsculo.

Época de austeridade, tanto no espaço quanto nas vestes, as batinas de José de Anchieta eram feitas com as velas imprestáveis dos navios. Ele só dormia quatro a cinco horas por noite, pronto para se levantar se fosse preciso. Ensinava gramática em três classes diferentes, subia e descia montanhas para batizar ou catequizar e freqüentemente jejuava. Sua prontidão para levantar no caso de um imprevisto fazia sentido. Ele viu Piratininga ser atacada pelos tupis numa encarniçada luta que durou dois dias. Enquanto as mulheres e crianças se recolheram à igreja em vigília permanente, os jesuítas cuidavam dos mortos e feridos com ervas medicinais indígenas plantadas ao lado das cercar do Colégio.

Mas, com a ajuda dos índios convertidos, a vila resistiu e os tupis acabaram fugindo. Fora esses sustos eventuais, a aldeia de Piratininga florescia. José de Anchieta se aplicava em escrever divertidas peças de teatro que encenava para os índios e a formular a gramática da "língua mais usada na costa do Brasil", o tupi-guarani, que seria publicada em Coimbra, em 1595. Era a primeira gramática desde os gregos antigos, escrita por um ocidental, que não se baseava nas regras do latim. Naquela época, não passava pela cabeça dos colonizadores portugueses serem eles os intrusos e invasores das terras indígenas. Os jesuítas estavam ali para salvar aqueles homens da barbárie e reintegrá-los ao reino de Deus.

Foi essa missão que o levou, junto com Manoel da Nóbrega, à experiência talvez mais dramática e definitiva de sua vida. Aos 30 anos, José de Anchieta rumou para Iperoig, hoje Ubatuba, em São Paulo, para negociar com os bravios tamoios, aliados dos franceses. Os índios, defendendo seu território, atacavam as aldeias portuguesas do litoral e os prisioneiros eram simplesmente devorados. Ele passou dois meses numa choça de palha tentando a paz e uma troca de reféns. Quando as negociações chegavam a um impasse, as ameaças de morte começavam. Finalmente Manoel da Nóbrega, doente e coberto de chagas, seguiu para o Rio de Janeiro para enviar os prisioneiros. José de Anchieta se candidatou a ficar como refém.

O cativeiro foi uma dura prova para José de Anchieta. Ali, além de fome, frio e humilhações, pode ter passado pelo crivo da maior tentação: a da carne. Aos prisioneiros que iam ser devorados, os tamoios tinham por costume oferecer a mais bela jovem da tribo. O jesuíta havia feito o voto de castidade, ainda em Coimbra, aos 17 anos.

E seus biógrafos dizem que ele foi fiel a vida inteira. Talvez para fugir das tentações, José de Anchieta escreveu na areia de Iperoig as principais estrofes dos 5.786 versos de um poema em latim contando a história de Maria. E ganhou, aos poucos, a admiração dos tamoios por sua coragem e estranhos costumes. Quando eles ameaçavam devorá-lo, José de Anchieta retrucava com suavidade: "Ainda não é chegado o momento". E dizia a si mesmo, como contou depois, que primeiro deveria terminar o poema à virgem.

Outros relatos asseguram que sua facilidade em levitar e a proximidade com os pássaros, que o rodeavam constantemente, teria assustado os tamoios, que o libertaram finalmente, depois de assegurar a paz. José de Anchieta, humilde, minimizava seus feitos. Quando lhe fizeram notar que os pássaros o cercavam, ele respondeu que eles também costumava voar sobre dejetos. Talvez tenha sido essa subserviente simplicidade que lhe rendeu tamanho respeito entre os índios.

Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara. Foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos em 1567.

Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade.

Após a expulsão dos franceses da Guanabara, José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender em 1559 um refugiado huguenote, o alfaiate Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar "heresias protestantes". Em 1567, Jacques Le Balleur foi preso, e conduzido ao Rio de Janeiro para ser executado, mas o carrasco teria recusado a executá-lo. Diante disso, José de Anchieta o teria estrangulado com suas próprias mãos. O episódio é contestado como apócrifo pelo maior biógrafo de José de Anchieta, o padre jesuíta Hélio Abranches Viotti, com base em documentos que, segundo o autor, contradizem a versão. Investigações históricas, baseadas em documentos da época (correspondência de José de Anchieta e manuscritos de Goa) revelam que o huguenote não morreu no Brasil. Na verdade foi conduzido a Salvador, na capitania da Bahia, e daí mandado a Portugal, onde teve o seu primeiro processo concluído em 1569. Em um segundo processo no Estado Português da Índia, em 1572, foi finalmente condenado pelo tribunal da Inquisição de Goa.

Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória, ES.

Quando morreu, em 09/06/1597, aos 63 anos, na aldeia de Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo, por ele fundada, os índios disputaram com os portugueses a honra de carregar seu corpo até a Igreja de São Tiago. José de Anchieta perambulou pelo litoral paulista, catequizando índios, batizando e ensinando. Reza a lenda que ele costumava abrigar-se para dormir numa pedra, conhecida como "cama de Anchieta" em Itanhaém. São numerosos os testemunhos de sua levitação durante êxtases místicos. Afirmam também que multiplicou alimentos, que comandava os peixes no mar.

Já em 1617, o jesuíta Pêro Rodrigues foi nomeado para escrever sua biografia. Como muitos dos relatos eram apenas de testemunhas oculares e Roma precisaria de provas de um milagre de primeira ordem, para incluir José de Anchieta entre seus 2500 santos. O processo se arrastou durante séculos. Só em 1980 José de Anchieta foi honrado com a beatificação.


Obra

Segundo a "Brasiliana da Biblioteca Nacional" (2001) "o Apóstolo do Brasil", fundador de cidades e missionário incomparável, foi gramático, poeta, teatrólogo e historiador. O apostolado não impediu José de Anchieta de cultivar as letras, compondo seus textos em quatro línguas - português, castelhano, latim e tupi, tanto em prosa como em verso.

Duas das suas principais obras foram publicadas ainda durante a sua vida:

  • "De Gestis Mendi de Saa" ("Os Feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopeia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se assim o primeiro poema brasileiro impresso e, ao mesmo tempo, a primeira obra de José de Anchieta publicada.


  • "Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil" impressa em Coimbra em 1595 por Antonio de Mariz. É a primeira gramática contendo os fundamentos da língua tupi. Apresenta folha de rosto com o emblema da Companhia de Jesus. Desta edição conhecem-se apenas sete exemplares, dois dos quais encontram-se na Biblioteca Nacional do Brasil: o primeiro pertenceu ao imperador Dom Pedro II e o outro é oriundo da coleção de José Carlos Rodrigues. Constituindo-se na sua segunda obra publicada, é ainda a segunda obra dedicada a línguas indígenas, uma vez que, em 1571, já surgira, no México, a "Arte de La Lengua Mexicana y Castellana" de frei Alonso de Molina.


O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, resultando na melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.

Entre suas contribuições culturais, podemos citar as poesias em verso medieval, sobretudo o poema "De Beata Virgine Dei Matre Maria", mais conhecido como "Poema à Virgem", com 4172 versos, os autos que misturavam características religiosas e indígenas, a primeira gramática do tupi-guarani, A Cartilha dos nativos.

Foi o autor de uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro, quando redigiu sua carta de 09/07/1565 ao padre Diogo Mirão, dando conta dos acontecimentos ocorridos ali "no último dia de fevereiro ou no primeiro dia de março" do ano. Nela se encontram os seguintes trechos:

"...logo no dia seguinte, que foi o último de fevereiro ou primeiro de março, começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para cerca, sem querer saber nem dos tamoios nem dos franceses."
"... de São Sebastião, para ser favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso mártir."

A sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.


A Beatificação

Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em junho de 1980 pelo papa João Paulo II. Ao que se compreende, a perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas havia impedido, até então, o trâmite do processo iniciado no século XVII.

Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, que o conheceram, depuseram em seu favor, no seu processo de beatificação. Leonor Leme, matriarca da família Leme paulista, uma das depoentes, disse que "assistiu ela à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta, em 1567, e que ele se confessou depois muitas vezes".

"Todos o tinham por santo publicamente!"
(Leonor Leme)

E Ana Ribeiro, no mesmo processo, declarou que durante algum tempo com ele se confessou em São Vicente. Relatou um milagre acontecido com seu filho, Jerônimo, que então contava 2 anos de idade. Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao padre José de Anchieta, que passava pela sua porta. "Deixe-o ir para o céu", disse José de Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre: nem um sinal!

Narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando José de Anchieta à Vila de São Vicente pediu a Antônio Rodrigues que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Antônio Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a José de Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre José de Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.


O "Caminho de Anchieta"

A sua disposição em caminhar levava a que percorresse, duas vezes por mês, a trilha litorânea entre Iriritiba, e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu.

Modernamente, esse percurso, com cerca de 105 quilômetros, vem sendo percorrido a pé por turistas e peregrinos, à semelhança do Caminho de Santiago, na Espanha.

Indicação: Miguel Sampaio

Lobo da Costa

FRANCISCO LOBO DA COSTA
(34 anos)
Poeta, Jornalista e Teatrólogo

* Pelotas, RS (12/07/1853)
+ Pelotas, RS (18/06/1888)

Francisco Lobo da Costa foi um poeta, jornalista e teatrólogo brasileiro. Marcado pelo "Mal do Século", Lobo da Costa é um dos nomes mais expressivos do movimento romântico da Literatura do Rio Grande do Sul.

Nascido na cidade de Pelotas, RS, no dia 12 de julho de 1853, Francisco Lobo da Costa é considerado um dos principais escritores Românticos do século XIX, conforme atestam autores e críticos. Seus genitores eram o catarinense Antônio Cardoso da Costa, e Jacinta Júlia Lobo da Costa, baiana, que por ocasião do término da Revolução Farroupilha transferiram-se para Pelotas e uniram-se em sociedade com um irmão abrindo um estabelecimento comercial, conforme nos relata a professora Ângela Sapper em seu livro "Lobo da Costa - Obra Completa". Mais adiante, com a Guerra do Paraguai, um clima de civismo envolveu a Princesa do Sul e seu pai entrou como instrutor da Guarda Nacional, influenciando o pequeno Francisco que, apesar de seus doze anos de idade, entusiasma-se com a causa bélica enaltecendo o sucesso da Armada Nacional em versos publicados no jornal Eco do Sul, da cidade de Rio Grande.

Com os negócios da família não indo bem, Lobo da Costa empregou-se em um cartório e mais adiante numa agência de telégrafo onde pela falta de movimento em sua seção punha-se a ler e escrever versos que publicava na imprensa. Contemporâneo de Fernando Osório, Aquiles Porto Alegre e Bernardo Taveira Junior, teve contato com os mesmos através do jornal literário A Arcádia onde atuavam como colaboradores. Em 1869 passou a dedicar-se exclusivamente as letras e seguindo sua vocação fundou o jornal Castália que teve pouca duração.

Lobo da Costa aos 12 Anos
Comungando de ideais abolicionistas e republicano, estabeleceu com os jovens políticos da época, entre eles Fernando Osório, duradoura amizade, o que proporcionou-lhe frequentar a sociedade e encantá-la com seus versos e recitações. Nesta época conheceu Saturnino Epaminondas de Arruda com quem atou laços de amizade e passou a frequentar sua residência onde se reunia a sociedade elegante nos finais de semana.  Lá, encontrava-se com Saturnina Elvira, irmã do amigo, por quem enamorou-se e sendo correspondido transformou-a em sua musa inspiradora.

Em 1872 transferiu-se para Rio Grande e no jornal Eco do Sul onde trabalhava, imprimiu e editou o livro de poemas "Rosas Pálidas" e o romance "Espinhos d’Alma", além disso escreveu para o teatro e foi colaborador de diversos jornais até conhecer Múcio Teixeira com quem fez amizade e retornou a Pelotas. No mesmo ano, a convite de amigos visitou e hospedou-se na Estância de Molhos, no Uruguai, onde certamente encontrou com Saturnina Elvira. Por sentir que carecia de uma formação cultural mais consistente para ascender socialmente mudou-se para São Paulo, onde ficou um ano, a fim de tentar a faculdade de Direito. Durante este período publicou o livro "Lucubrações", por intermédio do poeta gaúcho Carlos Ferreira, residente em Campinas.

Não logrando êxito no curso preparatório para a faculdade e tendo sua saúde abalada devido a sua vida desregrada na companhia de outros estudantes, retornou a Pelotas passando antes por Santa Catarina onde recuperou-se de sua enfermidade na casa de seu tio José Cardoso Costa. Sua chegada a Desterro, hoje Florianópolis, já reconhecido como poeta, foi homenageada pela Associação Musical Trajano e, agradecido, publicou em "O Conservador" sua emoção. Foi ainda "O Conservador" que registrou através de publicações de poemas e textos sua estada de alguns meses em Santa Catarina.

Já recuperado da enfermidade, adiou sua volta a Pelotas para ocupar temporariamente cargo no gabinete do presidente da Província e após, seguiu viagem.   Com sua chegada a Pelotas reiniciou suas diligências na imprensa e manteve sua produção literária participando regularmente de atividades culturais. Em 1875 publicou um de seus mais notáveis poemas: "Aquele Ranchinho". Dedicou-o ao amigo Bernardo Taveira Junior a quem chamou de "inspirado poeta rio-grandense". Ao longo do ano seguinte trabalhou no Jornal do Comércio, de Pelotas, atuou em O Despertador e fundou A Lanterna e O Trovador, ambos de vida efêmera.

Herma de Lobo da Costa localizada em sua cidade natal Pelotas, RS, nas proximidades do local de sua morte.
Embora sua atividade artística produtivamente se desenvolvia, sua saúde arruinava-se, pois há algum tempo sua entrega ao alcoolismo destruía qualquer perspectiva de um futuro saudável e de uma vida efetiva satisfatória. Seu vício proporcionou o rompimento definitivo com sua amada Saturnina Elvira, filha de família da alta sociedade e decretou grandes reflexos em sua temática que agora figurava solidão e tristeza oriundas de um poeta descrente e revoltado, modelo vivo do poeta romântico em conflito com a sociedade e consigo mesmo. Exceto a poesia nada o prendia por muito tempo e nos últimos doze anos de vida mudou frequentemente de cidade e emprego.

Mas, em meio a infortúnios ainda havia lugar para alegrias e uma delas foi proporcionada pelos cadetes da Escola Militar que fundaram a sociedade Fênix Literária e, conforme relatou a autora, "elegeram para sócios honorários da novel instituição as maiores sumidades das Letras Nacionais". Em Pelotas, os agraciados foram Bernardo Taveira Junior e Francisco Lobo da Costa. Era, talvez, o primeiro título que outorgavam-lhe em vida, e, provavelmente, o último.

O pensamento da morte levou-o a escrever "Fantasias de Um Morto", em prosa, revelando-se nesse gênero, tão seguro de si quanto no terreno da rima. Em setembro de 1879 Lobo da Costa, em ato imprevisto, casou-se em Jaguarão com Carolina Augusta Carnal, jovem de 17 anos, natural de Rio Grande. Dois meses depois Lobo da Costa se encontrou muito doente e em estado de penúria. Seu casamento do qual nasceu à filha Amanda resultou num grande infortúnio. Mesmo assim, sua poesia continuava a jorrar tendo registros em páginas literárias como O Cabrion e O Lábaro.

Em 1883, por encomenda de um grupo amador de Dom Pedrito , escreveu uma peça teatral, "O Filho das Ondas".

Já separado da esposa passou algum tempo em Arroio Grande, Porto Alegre, Dom Pedrito, Bagé e finalmente retornou a Pelotas. Muito doente e sem poder trabalhar foi recolhido à Santa Casa de Misericórdia de Pelotas para tratar-se e a partir de 1886 não mais peregrinou, fixando-se em Pelotas dominado pelo vício do álcool e percorrendo casas de amigos e tabernas buscando uma bebida. Em 1887 foi hospitalizado várias vezes preocupando a sociedade que mobilizou-se para ajudá-lo. O Grêmio dos Lunáticos, associação de jovens intelectuais elaborou o opúsculo "Charitas" cuja venda reverteu em prol do poeta.

Mesmo no hospital, Lobo da Costa continuava inspirado na produção de versos e, escreveu a autora, recebeu diversos amigos e simpatizantes que vinham prestar justas homenagens ao mais popular dos poetas gaúchos. Permaneceu no hospital entre fins de 1887 até a metade de 1888 quando na manhã de 18 de junho ganhou a rua e saiu sem destino certo com o restante da quantia conseguida com a publicação de "Charitas", dirigindo-se a taberna mais próxima para beber e, certamente o fez. Durante a tarde foi visto nas imediações da  Santa Casa de Misericórdia de Pelotas e reconhecido por algumas pessoas que avisaram o delegado e seus familiares, foi procurado e não mais encontrado até o trágico acontecimento. O frio e as intempéries da noite, cumulados com o despojo de Francisco por vândalos que o assaltaram, selaram seu destino.

Na manhã seguinte um carroceiro encontrou seu corpo rijo e inerte, caído numa sarjeta próximo a rua Santa Cruz. Após seu desencarne, ainda foram publicados "Auras do Sul", "Flores do Campo" e "Dispersas", obras compiladas por Francisco de Paula Pires que dedicou-se a este resgate literário até 1915, ano em que faleceu.

Conforme relata Mozart Victor Russomano em seu artigo "A Obra de Lobo da Costa", publicado na Revista Província de São Pedro em 1952, Lobo da Costa foi o primeiro poeta verdadeiramente grande que pôde ser verdadeiramente popular. Tal afirmação traz a corroboração da pesquisa feita pela professora Drª Ângela Treptow Sapper, que datando de abril de 2000 sob o título "Lobo da Costa e Sua Sobrevivência Literária" demonstra que ainda hoje sua verve popular ainda reside no conhecimento pelotense e gaúcho.  Para Alcides Maya, só Castro Alves o superou no momento condoreiro.

Obras de Lobo da Costa

A obra poética de Lobo da Costa foi publicada em jornais, em especial Eco do Sul, Diário de Pelotas e Progresso Literário. Alguns de seus poemas mais conhecidos são: "Isabel", "Fragmento", "Sombras e Sonhos", "Amor", "Melodias", "Aquele Ranchinho", "Os Romeiros da Morte" e "Adeus".

Em edições póstumas, poesias suas foram reunidas em "Dispersas" e em "Auras do Sul". Em 1985, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) publicou em livro seu poema épico, "Epopéia Farroupilha".

Principais Obras

  • Rosas Pálidas e Mariposas (não foram encontrados exemplares destas obras)
  • Lucubrações (1874)
  • Auras do Sul (1888)
  • Dispersas (1896)
  • Flores do Campo (1904)

Fonte: Acervo do Prof. Carlos Eugênio Costa da SilvaLobo da Costa Obra Completa (Ângela Treptow Sapper) e Wikipédia

Xisto Bahia

XISTO DE PAULA BAHIA
(53 anos)
Ator, Cantor, Compositor, Violinista e Teatrólogo

* Salvador, BA (06/08/1841)
+ Caxambu, MG (30/10/1894)

Xisto de Paula Bahia foi um ator, cantor e compositor brasileiro. Foi também o primeiro cantor que gravou uma música no Brasil, o lundu "Isto É Bom".

Nasceu na Freguesia de Além do Carmo, Salvador, Bahia. Filho do major do Exército Francisco de Paula Bahia e de Tereza de Jesus Maria do Sacramento Bahia. O pai, depois de desligar-se do Exército, recebeu como recompensa aos serviços prestados àquela instituição nas campanhas da Cisplatina e da Independência o cargo de administrador da Fortaleza de Santo Antônio de Além do Carmo.

Era o caçula dos irmãos Soter, Francisco Bento, Horácio e Eulália e recebeu somente instrução primária. Aos 17 anos já cantava suas primeiras modinhas.

Luís Edmundo em "O Rio De Janeiro Do Meu Tempo" o descreve:

"... o homem que dedilha o instrumento suavíssimo é um mulato de gaforinha densa e bipartida, um fraque de sarja velho, fechado na altura do pescoço preso por um alfinete de fralda...".

Escreveu e representou comédias no grupo Regeneração Dramática, do qual era presidente o futuro Visconde do Rio Branco, levadas à cena no teatro da Rua São José de Cima.

Depois da morte do pai, em 1858, que deixou a família em delicada situação financeira, tentou a carreira de comerciante. Acabou desistindo diante das dificuldades e da falta de talento para o comércio. Passou, então, a dedicar-se à vida artística, sua clara vocação.

Em 1859 apresentou-se como corista (barítono) da Companhia Lírica Clemente Mugnai, no Teatro São João, de Salvador. Transferiu-se depois para a companhia de seu cunhado, o ator Antônio Araújo, com a qual viajou pelas principais cidades da província.

Em 1861 tocava e cantava chulas e lundus de sua autoria na companhia organizada peio comendador Constantino do Amaral Tavares, na época diretor do Teatro São João. Em 1864 foi contratado pelo empresário Couto Rocha, excursionando durante dez anos pelo Norte do país.

No Ceará, em 1866, atravessou uma crise de depressão, por considerar sua carreira fracassada, o que o levava a entrar em cena sem saber seu papel nas comédias. Recuperou-se, entretanto, no Maranhão. Atendendo aos conselhos do crítico Joaquim Serra, passou a estudar sob a direção de Joaquim Augusto. Os resultados não tardaram e logo depois, voltou a se apresentar com sucesso no Ceará, retornando consagrado à Bahia em 1873. A Companhia de Mágicas de Lopes Cardoso, na qual ingressou, montou então a comédia de sua autoria "Duas Páginas De Um Livro", impressa em 1872 no Maranhão, de conteúdo abolicionista e republicano.

Em 1875 estreou no Rio de Janeiro, no Teatro Ginásio, na Companhia de Vicente Pinto de Oliveira. Essa atuação representou grande salto na sua carreira, surgindo daí o convite para atuar em outras comédias, gênero para o qual sua contribuição foi marcante. Corriam paralelamente suas carreiras de comediante, de compositor e de intérprete. Tanto a modinha como o lundu eram grandes atrações da época: o sentimentalismo da primeira como a irreverência da segunda eram admirados nos salões. No Rio de Janeiro, surgiu como concorrente de Laurindo Rabelo, que fazia grande sucesso com seus versos maliciosos e satíricos, utilizando a mesma linguagem chistosa. O publico dividiu-se entre um e outro, e essa competição veio a influenciar o teatro de costumes, que passou a adotar a gíria e a linguagem popular de sentido dúbio.

Em 1875 trabalhou na peça "Uma Véspera De Reis", de Artur Azevedo, que conseguira a aprovação de Ruy Barbosa, então diretor do Conservatório Dramático de Salvador, para montá-la. Representou o papel do tabaréu Bermudes com tal imaginação, que o autor da peça, em artigo publicado em O Paíz, de 7 de novembro de 1894, considerou-o como seu parceiro. Apresentada pela primeira vez no Teatro São João, essa peça de Artur Azevedo marcou o sucesso definitivo do ator.

Em 1878, no drama "As Duas Órfãs", inaugurou o Teatro da Paz, de Belém, PA, e no ano seguinte voltou a exibir-se na Bahia, pela última vez, com Pontes de Oliveira, indo em seguida para o Rio de Janeiro. Aí passou a integrar o conjunto de Furtado Coelho, encabeçando o elenco de Jacinto Heller.

Em 1880 recebeu os aplausos de Dom Pedro II, pelo seu desempenho na peça comemorativa da Batalha do Riachuelo, "Os Perigos Do Ccoronel". Atuou em teatros de São Paulo e Minas Gerais, sempre com sucesso. Em 1887 passou a dirigir o Teatro Lucinda, do Rio de Janeiro, onde montou cerca de cinco revistas e mágicas.

Mas a desilusão de Xisto Bahia com a profissão parecia estar além do sucesso que alcançava com suas peças. Por isso, afastou-se do palco em 1891, quando obteve um emprego do então presidente do estado do Rio de Janeiro, Francisco Portela, um lugar de Amanuense (Amanuense é todo aquele que copia textos ou documentos à mão) na Penitenciária de Niterói, que ocupou até 1892. Um dos maiores artistas do país abandonava o teatro para se tornar escrevente da penitenciária de Niterói. A mudança é sintomática. Com a habilidade de disfarçar a própria tristeza, como saber a realidade que o ator enfrentava no cotidiano para tomar essa decisão?

Mas, assim como passou pouco tempo atuando no comércio durante a adolescência, o próprio destino se encarregaria de afastar Xisto Bahia do novo emprego. Um ano depois, em 1892, com a deposição do presidente, ele foi demitido. Voltou à cena pela última vez no Teatro Apolo, no Rio de Janeiro, na Companhia Garrido, ao lado das atrizes baianas Isabel Porto e Clélia Araújo, com a mágica "O Filho Do Averno", de Eduardo Garrido. Pelo sucesso alcançado com a peça, Artur Azevedo escreveu um perfil do artista, publicado no semanário Álbum.

Em 1892, uma nova possibilidade poderia ter mudado o rumo da vida de Xisto Bahia. Ele foi convidado pelo empresário português Souza Bastos para interpretar seus personagens no Teatro das Novidades, em Lisboa. Mas a Revolução da Armada, desencadeada em 6 de setembro desse mesmo ano, frustrou a excursão.

Em fins de 1893, bastante enfermo, foi, a conselho médico, para a estância hidromineral de Caxambu, sul de Minas Gerais. Lá, o médico baiano Paulo Fonseca deu-lhe toda a assistência. Apesar disso, veio a falecer nesta cidade no ano de 1894, deixando viúva a atriz portuguesa Maria Vitorina de Lacerda Bahia e quatro filhos, Augusto, Maria, Teresa e Manuela. Sem qualquer formação musical, notabilizou-se por seu talento espontâneo, instintivo. Sua produção, embora pequena, é de excelente qualidade, valorizando-se por seu estilo ao violão e sua bela voz de barítono.

Ficaram célebres as interpretações de algumas de suas obras, como a modinha "Quis Debalde Varrer-te Da Memória", e o famoso lundu "Isto É Bom", com o qual a Casa Edison iniciou em 1902 suas gravações de Música Popular Brasileira. O disco, com a marca Zon-o-phone e o n° 10.001, traz a interpretação do cantor bahiano.


Último Ato

"Está na terra, na terra que ele tanto ama, o simpático e inteligente ator Xisto Bahia. Depois de uma longa ausência, ausência que lhe deu ensejo de mostrar ao Sul um talento superior, que se criou no Norte, e que lá viu glorificar-se; depois de receber as ovações de um público ilustrado, eis que aporta às nossas plagas o verdadeiro intérprete da arte dramática, que encontra em cada paraense um amigo, em cada cidadão um apologista do talento, do merecimento real. Um aperto de mão, Xisto Bahia! Depois do abraço fraternal, cumprimos um dever apresentando o filho da arte ao público paraense".

Como mostra a nota publicada em março de 1884 no Diário de Notícias, em Belém, se elogios pudessem ser transformados automaticamente em dinheiro, os bolsos de Xisto de Paula Bahia estariam cheios de notas gordas. Aclamado pelo público e pela crítica, o problema de Xisto Bahia era justamente a falta de uma remuneração justa, pelo menos comparável à importância que já havia alcançado no teatro brasileiro.

Nos jornais e revistas, ele era aclamado como "o mais brasileiro de todos os atores", como escreveu Arthur Azevedo na publicação Álbum. Em casa, ele era o marido da atriz Maria Vitorina de Lacerda Bahia e pai de quatro filhos: Augusto, Maria, Teresa e Manuela. Como todo pai que se prezava, queria dar uma vida digna à família. Era exatamente isso que o atormentava.

"Consumido, torturado por não poder assegurar aos filhos e à esposa o conforto da vida e um futuro independente, foi salteado sempre pelas provações da pobreza", diz o sobrinho de Xisto Bahia, o jornalista Torquato Bahia, num texto publicado no Anuário de Baianos Ilustres, de 1910. Luiz Américo Lisboa Júnior explica que, mesmo com todo o reconhecimento, Xisto Bahia sentia-se deprimido por não conquistar independência financeira. "Não tinha outra alternativa a não ser representar e cantar suas modinhas para sobreviver. Por outro lado, decepcionava-se com o ambiente que lhe dera fama, incomodava-se com a falta de ética e o aspecto meramente mercantil nos bastidores dos teatros entre agentes e organizadores de temporadas", explica.

Américo Lisboa ressalta que, apesar do momento difícil, Xisto Bahia continuava a atuar com sucesso e, em 1887, recebeu o convite da empresa Dias Braga para dirigir o Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, na função de ator e administrador. "Sob sua direção, o Teatro Lucinda passa a ser o primeiro do Rio de Janeiro a ter iluminação elétrica, o que foi um feito notável para a época", revela o pesquisador.


Desilusão

Em 1891, afastou-se e ocupou até 1892 o cargo de escrevente na Penitenciária de Niterói. Em 1892 ele foi demitido do empresgo de escrevente. Voltou à cena pela última vez no Teatro Apolo, no Rio de Janeiro. Ainda em 1892 ele foi convidado por Souza Bastos para interpretar seus personagens no Teatro das Novidades, em Lisboa. Mas a Revolução da Armada, desencadeada em 6 de setembro desse mesmo ano, frustrou a excursão.

Toda essa série de acontecimentos nos leva de volta ao ano de 1887. Com a caneta à mão e a carta por responder, Xisto Bahia não escuta mais os aplausos. Pensa nos filhos e na mulher, e volta a redigir a carta ao amigo Tomaz Antônio Espiúca.

"Tu saíste quando se manifestavam os primeiros sintomas da decomposição geral que lavrava no teatro desse espantalho chamado império do Brasil. Eu, porém, fiquei e fui preso do contágio. Fiquei e hoje, para mim, o hábito constituiu-se lei, que jamais poderei derrogar, senão quiser arriscar-me a sucumbir na luta. Queres voltar? Queres comer novo pão, ainda mais amargo e duro do que o que já comeste? Ah! Não venhas, eu t´o peço. Como teu amigo velho e prático nestas coisas teatrais, faço a mais descarnada e franca oposição ao teu regresso."

Esta carta é um dos poucos momentos em que Xisto Bahia despe-se de todos os seus papéis, tira o riso da face, mostra a dor e a desilusão que guardava dentro de si. É esse Xisto Bahia que parte com a família, em 1894, para a cidade mineira de Caxambu, em busca de tratamento para uma doença até hoje não explicada.

Segundo Torquato Bahia, o mal teria sido consequência de "padecimentos antigos". Caxambu, que fica no sul do estado e tem clima de montanha, é considerado o maior complexo hidromineral do mundo. A água de suas 12 fontes é considerada miraculosa e possui propriedades que teriam poderes curativos sobre problemas digestivos, hepáticos, de formação dos ossos e de pele, além da anemia.

Em 1868, foi lá que a Princesa Isabel se curou de uma suposta infertilidade. Mas nem as águas de Caxambu, nem os saberes do médico baiano Paulo Fonseca, que teria cuidado de Xisto Bahia sem cobrar nada, apenas pela amizade, foram suficientes para fazê-lo sobreviver.

No dia 30 de outubro de 1894, aos 53 anos, um dos maiores artistas brasileiros do século XIX se despedia da vida. Arthur Azevedo, o dramaturgo e amigo que, assim como Xisto Bahia, lutara pela abolição da escravatura e pela República, escreveu uma carta em sua homenagem. Anos depois, o sobrinho de Xisto Bahia afirmaria:

"Entre o seu berço, que é a pobreza cheia de esperanças, e o seu túmulo, que é a pobreza cheia de lúgubres tristezas, está a sua existência inteira, que é a pobreza crucificada pela dor e mascarada por um riso eterno."

Difícil mesmo é saber onde está o túmulo ao qual Torquato Bahia se refere. Os livros que falam, em algumas poucas linhas ou páginas, sobre a vida de Xisto Bahia, não fazem qualquer referência sobre onde estão os restos mortais do artista baiano. Na verdade, muito pouco tem se falado sobre Xisto Bahia e, com a falta de referências a ele, se perde uma parte importante da história da música e do teatro baiano e brasileiro. "Xisto, até hoje, ainda não recebeu um estudo suficientemente profundo para avaliá-lo e explicá-lo", opina o professor de etnomusicologia da Universidade Federal da Bahia, Manuel Veiga.

A Fundação Cultural do Estado publicou, em 2003, na Revista da Bahia, um artigo especial em homenagem a Xisto Bahia. "O que Chiquinha Gonzaga fez com a música de carnaval, levando-a para os salões da corte, ele faz na Bahia e em Belém", compara o co-editor da publicação e produtor cultural Sérgio Sobreira.

Referências Esparsas

O artigo - assinado por Armindo Bião, Cristiane Ferreira, Ednei Alessandro e Carlos Ribas - reúne indicações de fontes e referências relacionadas ao artista baiano. Entre elas, uma rua que leva o nome do artista, no bairro do Engenho Velho da Federação. "Os monumentos que traduzem uma determinada ideologia estão em pontos privilegiados. Temos uma prática, aqui em Salvador, de considerarmos herói só aquele que parte em batalha. Não temos aqui um teatro municipal com o nome de Xisto Bahia", diz Jaime Sodré.

O cineasta e professor de história Joel de Almeida pensa em fazer um filme sobre a vida de Xisto Bahia há cerca de 15 anos. A idéia inicial era produzir um documentário, mas devido à escassez de informação audiovisual sobre o artista, ele fez, há quatro anos, o projeto de um curta-metragem de ficção, aliando a ele fatos verídicos da vida do ator. "Xisto era um artista que reunia todos os elementos da cultura brasileira. Ele antecipou, de certo modo, a Semana de Arte Moderna. Se ela veio despertar a sociedade brasileira, ele foi isso no século XIX, um pioneiro. Ele tinha uma comunicação visceral com o povo", analisa. O projeto do filme está concorrendo a um edital do governo. Já o livro de Luiz Américo Lisboa Junior, "Compositores E Intérpretes Baianos - De Xisto Bahia A Dorival Caymmi", está pronto, à espera de edição.

O professor da Escola de Teatro e diretor da Fundação Cultural Exército Brasileiro, Armindo Bião, já coordenou um grupo de pesquisas na Universidade Federal da Bahia que estudava, entre outras questões, a obra de Xisto Bahia. Os alunos produziram, em 2001, o espetáculo "Isto É Bom", em homenagem ao artista. Parte das composições de Xisto Bahia pode ser encontrada no site do Instituto Moreira Sales, como informam o professor Manuel Veiga e o pesquisador Luciano Carôso.

Em meio a essas iniciativas, ao empenho de profissionais da música, do teatro, da história e do cinema, fica ainda a impressão de que muito falta a ser dito sobre Xisto Bahia. O reconhecimento à sua obra e trajetória pode trazer informações valiosas que ajudem a entender melhor o panorama da música popular e do teatro brasileiros hoje. Na opinião de Jaime Sodré, parte desse esquecimento tem raízes num dos problemas contra os quais o próprio Xisto Bahia lutava: a discriminação. "Esse esquecimento é doloroso. É importante saber o fim dessas personalidades, quem são seus descendentes. O que faltou para Xisto entrar na história da música brasileira? Aí tem o fator racial. Existe uma historiografia nacional que produz essas personalidades que, às vezes, não têm a cara do Brasil mestiço."

Uma das mais profundas descrições sobre a personalidade difícil de ser decifrada de Xisto Bahia foi feita pelo sobrinho dele, Torquato Bahia, filho de seu cunhado, o ator Antônio da Silva Araújo. "Os que o encontraram em vida viram nele um espírito jovial e alegre; uma alma cheia de abnegação e amor; um boêmio e um filantropo, capaz de passar a noite cantando ao luar, e de vender o relógio para matar a fome à primeira boca necessitada que lhe pedisse pão. Mas, tendo sempre o cuidado de não deixar seu rosto, em que acusava uma expressão de bem-estar, trair-lhe as dores íntimas, denunciar os temores de sua alma."

Adriana Jacob (Correio da Bahia) - 25 de julho de 2005.