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Célia Villela

CÉLIA DA CONCEIÇÃO VILLELA
(68 anos)
Cantora

* Belo Horizonte, MG (24/11/1936)
+ Petrópolis, RJ (01/01/2005)

Célia da Conceição Villela nasceu em 24/11/1936, em Belo Horizonte, MG. Célia Villela começou sua carreira artística com 4 anos de idade, quando foi levada por sua mãe a um programa infantil das Emissoras Associadas de Belo Horizonte. Sua atuação no programa agradou tanto que passou a ser atração fixa do mesmo, com a aprovação dos pais.

Tornou-se profissional em 1947, quando tinha 10 anos, ganhando 50 cruzeiros por apresentação. Ao mesmo tempo em que atuava no rádio, sua família não se descuidou de sua educação. Depois do curso primário, fez o secundário na Escola Izabel Hendricks. Fêz também uma prova na academia de balé da professora Natile Lessa, que lhe garantiu uma bolsa de estudos integral.

Em 1950, com 13 anos, estava em plena moda o ritmo do baião e Célia Villela foi eleita a Rainha do Baião de Minas Gerais, e passou a ter seu programa próprio na Radio Guarani de Belo Horizonte, que se chamava "Aí Vem o Baião", irradiado das 20:00 hs às 20:30 hs.

Estava iniciando o curso científico quando foi contratada pela Radio Tupi do Rio de Janeiro. Era uma época de renovação nas Emissoras Associadas, e haviam contratado muitos elementos da Radio Nacional, inclusive Brandão Filho. Célia Villela mudou-se para o Rio de Janeiro com sua mãe e somente mais tarde é que sua irmã Marlene veio ao seu encontro. O ordenado de Célia Villela na Tupi era de 3.500 cruzeiros mensais e ela, vendo que precisava ganhar mais, aceitou um convite de Carlos Machado, o grande empresário do teatro burlesco, para ingressar no seu elenco. Tinha então quase 15 anos, mas aumentou a idade nos documentos para 18 anos e conseguiu que seu pai lhe concedesse a emancipação.

Sua carreira em boite começou na Beguin, night-club no Hotel Glória, ganhando 7.000 cruzeiros. Tomando parte em diversos shows de Carlos Machado, mais tarde no Night & Day, também viajou muito. Sua primeira excursão foi para Curaçao, Caracas e Puerto Rico e foi uma prova de fogo.

No Hotel Tamanaco de Caracas, a maior parte do elenco feminino ficou gripada e Célia Villela, além de seus papéis, teve que fazer o das outras. O trabalho exaustivo prejudicou sua saúde e em San Juan de Puerto Rico ficou uma semana acamada, com pneumonia. Com a trupe de Carlos Machado ainda esteve no Uruguay, Argentina  e até em Cuba, onde trabalhou muito tempo.

Celia foi aos Estados Unidos duas vêzes. Primeiro com a companhia de Carlos Machado e outra com Francisco Carlos e Marion, quando ficou por lá três meses. Sempre procurando estar a par do que se passava artísticamente no exterior, ela trouxe dos Estados Unidos os primeiros discos de Elvis Presley. De Puerto Rico trouxe um novo ritmo que começava a fazer sucesso por lá e que se chamava cha-cha-cha. Quis gravar o cha-cha-cha mas ninguém lhe deu ouvidos.

Carlos Machado precisava de uma crooner e ela, então, foi à Belo Horizonte buscar sua irmã Marlene Villela para o lugar. Sofreu outra pneumonia e resolveu deixar de trabalhar em boites, mesmo tendo um salário de 18.000 mensais.


Estudou violão e, ao ouví-la, Benil Santos levou-a para a RGE, para gravar um 78 rpm com as melodias "Trem Do Amor", versão também de Fred Jorge para "One Way Ticket To The Blues" (H. Hunter e J. Keller) e "Conversa Ao Telefone", versão de Fred Jorge para "Pillow Talk" (Peper James),  ambas lançadas num mesmo 78 rpm pela gravadora RGE, e "Passo A Passo", seu maior sucesso, versão de "Step By Step", hit do grupo norte-americano The Crests, todas incluídas no primeiro LP de Célia, intitulado "E Viva a Juventude!!!", lançado em 1961.

Um dia, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, ouvindo seu entusiasmo na defesa do rock, convidou-a para participar de seu programa na Radio Globo, justamente numa polêmica em que ele atacaria e ela defenderia o rock. Pouco depois Célia Villela era contratada pela Emissora Metropolitana e TV Continental, onde lançou o programa "Célia, Música e Juventude", e "Na Roda Do Rock", na Rádio Globo. Mais tarde na Rádio Guanabara animou o "Festival da Juventude" e posteriormente na TV Rio, apresentou o "Célia Vilela Na TV" aos sábados às 16:40 hs.

Entre os títulos que mais preza estão os de "10 Nomes Mais Queridos", "Revelação de Animadora de TV" de 1961 e "Rainha da Televisão de 1962-1963", todos eles ganhos em concursos da Revista do Radio.


O segundo LP de Célia Villela, "F-15 Espacial", somente foi lançado em 1964.

Célia Villela era candidata natural a substituir Celly Campello quando esta abandonou a carreira em 1962 para se casar, tanto que foi eleita Rainha da TV em concurso de 1963 da Revista do Rádio, conceituada na época.

A cantora aproveitou o reinado e lançou em 1964 o LP "A Rainha Da TV" pela Musidisc. Duas músicas do disco, "Dançando o Hully-Gully" e "Acho Que Me Apaixonei", foram incluídas no segundo e último LP da carreira, intitulado "F-15 Espacial", que se destaca por dois fatos: é um dos primeiros LPs brasileiros de rock lançados em estéreo e, pra arrematar, inclui composições de Roberto Carlos e Erasmo Carlos em separado. Repare que Roberto Carlos resgata "O Broto Displicente", na letra de "Acho Que Me Apaixonei", quando compôs "Parei Na Contramão", primeira obra em parceria com Erasmo. Este disco também serve para confirmar um fato conhecido: a produção individual dos músicos passou a ser assinada em dupla. Observe que o Erasmo Carlos aparece como o autor de "Alguém Na Vida Da Gente", mas logo na sequência, quando regravada na Chantecler por Idalina de Oliveira, o nome de Roberto Carlos é acrescentado.


Célia Villela e Neil Sedaka
Começou na piscina e acabou na boite...
Que o Neil Sedaka tem um xodó pela Célia Vilela, convenhamos, isso nem é preciso dizer. Está à vista. Basta lembrar que em sua primeira visita ao Brasil, em 1959, Neil Sedaka esteve sempre ao lado da jovem cantora, empolgado com sua simpatia e alegria contagiantes.
Depois, no início de 1960, cheia de saudades, foi Célia Villela quem viajou para a America do Norte, lá encontrando o mesmo Neil Sedaka, fazendo amizade ainda, com a familia Sedaka.
Longe um do outro, continuaram trocando cartas muito carinhosas, ela pedindo que ele voltasse ao Brasil. E Neil Sedaka voltou mesmo. No aeroporto do Galeão, a primeira pessoa a abraçá-lo foi Célia Villela, naturalmente. De manhã à noite durante a permanência de Neil Sedaka no Rio de Janeiro, Célia Villela esteve ao seu lado. Ele fez questão de mostrar-lhe o Rio de Janeiro, de norte a sul.
Estiveram nas praias, nas boites, em todos os recantos gostosos da nossa cidade. A Revista do Radio os surpreendeu na piscina do Copacabana Palace e também numa boite granfiníssima.
Se há mesmo romance? É claro que eles dizem que não. 'Somos apenas bons amigos'. Mas, sabem como é... Verdade é que, se o Rio de Janeiro tivesse cicerones assim, como a Celinha, o mundo inteiro viria para cá.
(Revista do Rádio - 04/03/1961)


Célia Villela e Carlos Becker
Casamento
Com a presença de pessoas muito íntimas e até com algum segrêdo, realizou-se em 30/09/1965, o casamento de Célia Villela. Ela já havia se afastado da vida artística e só souberam que a cantora havia casado, por ocasião do lançamento do seu novo LP, quando começou a dar entrevistas em programas de rádio.
Havia a intenção de fazer-se a cerimônia na intimidade, mas a doença da avó de Célia Villela agravou o caso. Por este motivo, a veneranda senhora estava à morte, foram eliminadas todas as festas e cancelada a recepção que seria oferecida aos amigos. Mas a avó de Célia, melhorou depois de realizado o casamento. Faleceu 3 meses depois, como se tivesse resistido até então para ver o casamento da neta.
Foi na casa do então noivo, em Copacabana que se realizou a cerimônia civil, mas com alguns amigos presentes. Perante os juízes e padrinhos, Célia Villela e Carlos Eduardo Becker foram declarados marido e mulher. Os padrinhos de Célia foram a tia de Carlos, Adelaide Azevedo Pinheiro e o irmão do noivo Sérgio Becker. Os padrinhos do noivo foram seus cunhados, Ialdi e Sônia Santos. Ela trajava um tubinho rosa, de shantung de sêda, com bolero tipo Chanel. Carlos estava de terno de tropical inglês cinza escuro e gravata cinza pérola.
Tudo estava combinado para que o ato religioso fôsse realizado num templo carioca com a presença dos amigos e do publico fã da cantora. Mas, quando faltavam poucos dias, Célia Villela lembrou-se de uma promessa que fizera e tudo foi modificado. Para cumprí-la os noivos foram à Aparecida do Norte, SP, e lá casaram em 05/10/1965,  na Igreja de Nossa Senhora da Aparecida. Os padrinhos de Célia foram os pais de Carlos, Adolfo Becker e Maria Clisie Becker, e os padrinhos de Carlos foram Marlene Villela e Sérgio Becker.
O vestido de Célia era um tubinho de seda branca, bordado com pedras de cristal e levando uma blusa interna de musselina branca. Na cabeça usava um chale de renda rosa claro com uma camélia em cima, e na mão um terço. Carlos usava terno de tropical azul-marinho.
Falando a reportagem, Célia declarou a intenção de abandonar a carreira artística, mantendo apenas para contato com os fãs, o seu contrato de gravações com a Musidisc, que recentemente lançou o LP "F-15 Espacial". Ela agora quer apenas cuidar do lar, do marido e dos filhos, quando estes vierem.
Há grande afinidade entre Célia Villela e Carlos Becker, não só afetiva, mas artística, pois ele é músico e dirigente do conjunto The Angels, da Copacabana Discos. Além de suas atividades artísticas, Carlos Eduardo exerce outra profissão, como funcionário de categoria do Banco do Estado da Guanabara, e acaba de ser aprovado em concurso para o Banco do Brasil. A lua de mel que teve a duração de 20 dias foi passada na fazenda do pai de Carlos situada perto de Nova Friburgo, RJ.
(Revista do Rádio) 

Célia poderia estourar na Jovem Guarda, mas antes do programa entrar no ar, no segundo semestre de 1965, a cantora abandonou a carreira e casou-se com o músico Carlos Becker. A partir de então se tornou reclusa e consta que Albert Pavão a teria convidado em 1987 para que desse seu testemunho sobre a História do Rock Brasileiro para o Museu de Imagem e Som do Rio de Janeiro, mas Célia Villela não aceitou.

Célia Villela faleceu em 2005, em Teresópolis, Rio de Janeiro, em 01/01/2005, e não há maiores detalhes a respeito.

Indicação: Miguel Sampaio

Lucinha Medeiros

MARIA LÚCIA FERNANDES MEDEIROS
(63 anos)
Escritora, Poetisa e Professora

* Bragança, PA (15/02/1942)
+ Belém, PA (08/09/2005)

Maria Lúcia Fernandes Medeiros ou mais popularmente chamada de Lucinha Medeiros foi uma escritora, poeta e professora paraense.

Apaixonada por sua terra natal, morou em Bragança até os 12 anos, quando se mudou com parte da família para Belém, onde graduou-se em Licenciatura Plena em Letras, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), aonde atuou como pesquisadora e docente. Sempre que podia, visitava seus conterrâneos e distribuía carinho e conversas à tarde com seus amigos.

Foi a primeira professora de Redação e de Literatura Infanto-juvenil, disciplina que ajudou a inserir no desenho curricular do Curso de Letras da Universidade Federal do Pará, à época. Era também uma grande colaboradora da Universidade da Amazônia (UNAMA) em Belém, envolvida em projetos e palestras, chegando a publicar textos de sua autoria na revista da UNAMA intitulada "Asas da Palavra", desde 1995.

Estreou na ficção com o livro de contos "Zeus Ou A Menina E Os Óculos" (1988). Depois publicou "Velas, Por Quem?" (1990), "Quarto De Hora" (1994), "Horizonte Silencioso" (2000) e "Céu Caótico" (2005).

Sobre Bragança, Maria Lúcia deixa uma pista em seu depoimento no documentário intitulado "A Escritura Veloz", de Mariano Klautau Filho (produção independente, em VHS, de 1994):

"Eu nasci em Bragança, uma cidade simples do interior, com um trem de ferro e um rio na frente. Tive, portanto, uma infância bem brasileira: quintal, primos, frutas, tios, igreja, cinema Olympia. Em Belém já cheguei quase adolescente e meus fantasmas viviam sob as mangueiras, nas ruas largas, na arquitetura imponente de uma cidade de 250 mil habitantes que era Belém dos anos 50.
Quando descobri os livros, descobri um outro jeito de viver. Personagens, situações, lugares ajudavam meu aprendizado do mundo. Ler para mim sempre foi uma salvação. Agora, escrever, acho que sempre escrevi. Lembro que muito menina eu me recolhia e escrevia, escrevia para mim."

Com sua seriedade foi uma escritora de excelente produção literária, além da função de professora e poeta. Reconhecida como uma das maiores contistas paraenses, tornou-se um dos mais importantes ícones literários do Pará.

Seus livros falam de sentimentos, entre eles a angústia e a solidão, com destaque para o viés emocional e da personalidade da escritora bragantina e são ambientados numa época chamada por ela de "modernidade". Um exemplo disso é o livro "Horizonte Silencioso", em que se destaca uma linguagem de enorme nostalgia, quando Lucinha Medeiros abordava a mudança do tempo, aspectos de sua infância e adolescência.


Seus textos eram fortes e quase autobiográficos. Sua escrita marcante era facilmente descoberta por seus leitores e admiradores da sua obra. Entre seus livros mais lidos estão os contos em "Velas Por Quem?" e "Zeus Ou A Menina E Os Óculos".

Em sua atuação como professora, ajudou a realizar o processo de registro e de tombamento em nível de Estado da Residência da família Medeiros, situada em Bragança, local onde ela costumava se hospedar nas suas visitas à terra natal.

Alguns de seus livros já foram listados entre as leituras obrigatórias de processos seletivos da Universidade Federal do Pará (UFPA), assim como em salas de aulas do ensino médio por todo o Estado. Lucinha Medeiros também ajudou a fundar a Casa da Linguagem, sendo uma de suas consultoras.

Foi homenageada na Feira Pan-Amazônica do Livro no ano de 2004, com um sarau intitulado "O Elemento Fabuloso Da Narrativa De Maria Lúcia Medeiros". No mesmo evento, o curta-metragem "Chuvas e Trovoadas", filme baseado na obra homônima de Lucinha Medeiros foi apresentado, sob a direção de Flávia Alfinito. No filme ambientando em Belém, quatro moças são estudantes de corte e costura em algumas tardes do período da Belle-Époque amazônica.

A película de Flávia Alfinito, produzida de forma independente, conta com a narração do ator José Mayer e a participação das atrizes Patrícia França, Suzana Faine, Andréia Rezende, Andreia Paiva e Francis, recebendo o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado, principal premiação do cinema brasileiro, em 1995.

O último texto escrito por Maria Lúcia Medeiros, na Ilha de Mosqueiro, em abril de 2005, tinha como título "Don Quixote Veio De Trem", momento em que ela já estava bastante doente e com boa parte de seus movimentos comprometidos.

Em suas passagens por Bragança, sempre visitava amigos e conversava com seus contemporâneos, além de participar de eventos.

Morte

Maria Lúcia Medeiros foi acometida por uma doença degenerativa conhecida como Esclerose Lateral Amiotrófica, por alguns anos antes de seu falecimento, que paralisou gradativamente seus movimentos, impedindo-a de falar e se expressar, mesmo mantendo a lucidez, o que lhe causou uma situação de séria debilidade. Internada por mais de 30 dias, faleceu às 15:00hs do dia 08/09/2005, uma quinta-feira, em Belém, PA, aos 63 anos. Ela deixou 3 filhos.

Seu velório aconteceu no Núcleo de Artes da Universidade Federal do Pará (UFPA), na Praça da República. Seu corpo foi cremado no Cemitério Max Domini, no dia 08/09/2005, e no dia 11/09/2005, seus familiares depositaram suas cinzas pela Ilha de Mosqueiro, região metropolitana de Belém, um dos lugares prediletos da escritora.

Foi uma das escritoras paraenses homenageadas pelo Instituto de Artes do Pará na edição do Prêmio IAP de Artes Literárias de 2011, na categoria Contos.

Prêntice

PRÊNTICE MACIEL TEIXEIRA
(48 anos)
Cantor e Compositor

☼ Pelotas, RS (31/05/1956)
┼ Petrópolis, RJ (25/05/2005)

Prêntice Maciel Teixeira, ou simplesmente Prêntice, foi um cantor e compositor brasileiro. Irmão de Maritza Fabiani, a Kris da dupla Kris & Cristina, começou a se interessar pela música com apenas 14 anos de idade.

Tereza Cristina, a outra irmã do cantor, era casada com Paulo Cézar Barros, integrante da banda Renato e Seus Blue Caps, e Prêntice via Paulo Cézar, aos 18 anos de idade, compondo e tocando violão, com ele começou a aprender os primeiros acordes que futuramente o levariam a compor canções que se tornaram sucessos na voz de renomados artistas.

Aos 14 anos, ingressou em uma escola de música, e chegou a ter aulas de canto com Paulo Fortes. Resolveu seguir a carreira de compositor, o que não o impediu de gravar uma de suas músicas como cantor, "Não Diga Nada", em parceria com Ed Wilson, Gilson e Ronaldo Bastos, e que na novela "Ti Ti Ti" (1985), da TV Globo, era o tema da personagem da atriz Myriam Rios, e que mais tarde seria regravada por Fábio Jr., Rodrigo Faro, Filhos da Lua e Só Pra Contrariar. A música "Você Ainda Mora Em Mim", outro sucesso de Prêntice, foi tema da novela "Jogo do Amor" (1985), do SBT.

Além de cantor, Prêntice também compunha. Além de "Não Diga Nada", são de sua autoria "Agüenta Coração" (Augusto César e Paulo Sérgio Valle), gravada por José Augusto, e que foi tema da novela "Barriga de Aluguel" (1990), também da TV Globo, "Pede a Ela", gravada por Tim Maia, "Viver e Deixar Rolar", gravada por Wando, e voltaria a atuar como intérprete, em "Ainda Acredito", com participação de Ivan Lins, "Carinhos", outro sucesso de Tim Maia, "Ama Quem Te Ama", com Elymar Santos, "Desiguais", com Alcione. Com Xuxa: "Dança da Xuxa", "O Circo", "Conta Comigo", "Boto Rosa", e "Voz dos Animais" - com esta última, ganhou o Prêmio Sharp, juntamente com Xuxa. Compôs também a música do papagaio Louro José, do programa "Mais Você".

Festival dos Festivais de 1985

Para o Festival dos Festivais, que a TV Globo fez em 1985, Prêntice interpretou "Violão e Voz", em parceria com o paranaense Heitor Valente, cantando junto com Cláudia Telles, e suas irmãs, Maritza Fabiani e Cristina.

Morte

Em 25/05/2005, seis dias antes de completar 49 anos de idade, um ataque cardíaco surpreendeu Prêntice, que morreria pouco depois.

Fonte: Wikipédia

Araçary de Oliveira

ARAÇARY DE OLIVEIRA
(72 anos)
Atriz

* Fortaleza, CE (01/12/1933)
+ São Paulo, SP (2005)

Araçary de Oliveira foi uma atriz brasileira de cinema e teatro. Trabalhou em muitos filmes como Arassary de Oliveira. Seu nome escrito com "2 Ss"  geralmente aparecia nos filmes que ela fez. Atuou em grandes filmes, como o clássico "Bahia de Todos os Santos" de Trigueirinho Neto em 1960.

Em 1951 atuou no teatro fazendo a personagem Lelta em "A Morte do Caixeiro Viajante" de Arthur Miller no Teatro Glória, Rio de Janeiro, com cenografia de Santa Rosa e direção de Esther Leão. Ainda em 1951 atuou no filme "Maria da Praia" de Paulo Wanderley.

Em 1954 na peça "Lampião", de Rachel de Queiroz, encenada no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, com Sérgio Cardoso e cenografia de Aldemir Martins. Trabalhou ainda em "Tocaia no Asfalto" (1962) sob direção de Roberto Pires.

Em 1975 sob direção de Rubem Biáfora atuou em "Casa das Tentações".

Araçary de Oliveira foi casada com o cineasta Lima Barreto, com quem teve um filho chamado Filipe.

Araçary de Oliveira "Bahia de Todos Os Santos" (1960)
Prêmios

  • 1961 - Prêmio Saci de Melhor Atriz por "Bahia de Todos os Santos"
  • 1961 - Prêmio Cidade de São Paulo conferido pelo Júri Municipal de Cinema de Melhor Atriz

Fonte: Wikipédia

Gianni Ratto

GIANNI RATTO
(89 anos)
Ator, Diretor, Cenógrafo, Iluminador, Figurinista e Escritor

* Milão, Itália (27/08/1916)
+ São Paulo, SP (30/12/2005)

Gianni Ratto foi um diretor, cenógrafo, iluminador, figurinista, tradutor, escritor e ocasionalmente, ator. Contribuiu ativamente para a reconstrução do teatro de seu país no pós-Guerra.

Gianni Ratto nasceu em Milão, Itália em 27 de agosto de 1916, mas viveu até a juventude em Gênova, com a mãe, Maria Ratto, pianista e professora de canto lírico. Na escola primária era chamado de "bastardo" por não levar o nome do pai, de quem Maria Ratto se separou quando era muito pequeno e passou a sustentá-lo sozinha através de seu trabalho com a música. Foi assim que Gianni Ratto teve seu primeiro contato com a arte: não apenas com a música, como também com a cenografia, pois foi uma aluna de sua mãe, filha de Gordon Craig, que o levou, pela primeira vez, ao ateliê do cenógrafo - experiência que o marcaria por toda a vida.

Começou a trabalhar no campo das artes e da cultura muito jovem. Enquanto ainda estudava no Liceu Artístico, conseguiu um estágio com Mario Labò, renomado arquiteto genovês que tornou-se seu grande amigo e mestre. Inscreveu-se, também, em diversos concursos organizados pelo governo nas áreas de cenografia e cinema, obtendo êxito em vários deles e terminando por conseguir uma bolsa de estudos para cursar Direção no Centro Experimental de Cinema de Roma.

Estudou também Arquitetura no Politécnico de Milão, mas foi obrigado a abandonar tudo em função do início da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu enquanto prestava o Serviço Militar obrigatório. Não concordando com a posição de seu país, desertou do exército italiano e fugiu para a Grécia, onde viveu com camponeses por dois anos, passando todo tipo de necessidade, até o término da Guerra.

Em 1946 mudou-se para Milão e começou, junto com o amigo da escola de oficiais Paolo Grassi, a fazer teatro como cenógrafo. Trabalhando, a partir daí, em todas as vertentes do espetáculo (teatro dramático e lírico, musical, dança e revista), sua carreira teve uma rápida evolução que culminou com a fundação do Piccolo Teatro de Milão, ao lado de Grassi e Giorgio Strehler, e o trabalho como cenógrafo e vice-diretor artístico do Teatro Alla Scala de Milão.

Tornou-se um dos cenógrafos mais respeitados da Europa, e colaborou ativamente para o pensamento artístico de seu tempo, escrevendo artigos para revistas especializadas e dando palestras. Foi figura-chave na reconstrução do teatro italiano no pós-Guerra, trabalhando ao lado de grandes artistas, como Maria Callas, Herbert Von Karajan, Mitropoulos e Igor Stravinski. Após alguns anos de trabalho ininterrupto, começou a sentir uma estagnação e ao mesmo tempo uma vontade de explorar novas possibilidades dentro do teatro, como a direção.

Em 1954, Maria Della Costa e Sandro Polloni, que estavam prestes a inaugurar seu teatro em São Paulo, foram à Itália convidar Gianni Ratto para cenografar - e dirigir - o espetáculo de inauguração do Teatro Maria Della Costa - "O Canto da Cotovia", de Jean AnouilhGianni Ratto aceitou o convite, e acabou apaixonando-se pelo Brasil e mudando-se para cá. Chegou aqui quando o teatro verdadeiramente brasileiro estava começando a surgir, e foi esta possibilidade de construção de algo novo que o encantou. Foi grande incentivador da dramaturgia nacional, pesquisando autores e montando textos não valorizados à época, como "A Moratória", de Jorge Andrade e "O Mambembe", de Artur Azevedo, que obtiveram grande êxito.

Trabalhou brevemente no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e organizou um departamento de teatro para o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Fundou e dirigiu companhias teatrais estáveis, como o Teatro dos Sete, em 1958, com Fernanda MontenegroFernando TorresSérgio Britto e Ítalo Rossi, que teve um trabalho altamente premiado, e o Teatro Novo, nos anos 1970, um teatro/escola que abrigava um elenco permanente, um corpo de baile e uma orquestra de câmara - iniciativa fechada pela ditadura militar.

Através de seu trabalho e dos conhecimentos que trouxe, participou como formador de pelo menos três gerações de artistas e técnicos teatrais brasileiros. Atuou também, formalmente, como professor, em vários cursos ministrados em diversas escolas e centros culturais como Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, Conservatório Nacional de Teatro, Universidade da Bahia, entre outros.

Gianni Ratto realizou inúmeras montagens teatrais e operísticas, exercendo diversas funções na construção da cena: direção, iluminação, cenário e figurino, o que fez dele um verdadeiro "homem de teatro". Trabalhou também, como tradutor de textos teatrais, articulista para jornais e revistas, e autor de prefácios e textos para livros. Foi, ocasionalmente, ator, como no filme "Sábado", de Ugo Giorgetti, e na série de TV "Anarquistas Graças a Deus".

Aos oitenta anos tornou-se escritor na língua portuguesa, publicando seu primeiro livro, uma autobiografia, "A Mochila do Mascate". Publicou também "Antitratado de Cenografia", "Crônicas Improváveis", "Noturnos" e "Hipocritando".

Recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos, e em 2003 recebeu o Prêmio Shell por sua contribuição para o teatro brasileiro.

Gianni Ratto faleceu em 30 de dezembro de 2005 em São Paulo, aos 89 anos de idade.


Espetáculos Encenados

Em mais de cinqüenta anos de carreira teatral, Gianni Ratto exerceu funções de diretor, cenógrafo, figurinista e iluminador. A seguir alguns dos espetáculos em que atuou como diretor.
  • 1955 - "Com a Pulga Atrás da Orelha", de Georges Feydeau
  • 1955 - "A Moratória", de Jorge de Andrade
  • 1955 -  "A Ilha dos Papagaios", de Sérgio Tófano
  • 1956 - "Eurídice", de Jean Anouilh
  • 1959 - "O Mambembe", de Arthur Azevedo
  • 1960 - "A Profissão da Srª Warren", de George Bernard Shaw
  • 1960 - "Cristo Proclamado", de Francisco Pereira da Silva
  • 1960 - "Com a Pulga Atrás da Orelha", de Georges Feydeau
  • 1961 - "Apague Meu Spotlight", de Jocy de Oliveira
  • 1966 - "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come", de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Goullart para o Grupo Opinião
  • 1975 - "Gota D´Água", de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes
  • 1996 - "Morus e Seu Carrasco", de Renato Gabrielli

Livros Publicados

  • 1996 - "A Mochila do Mascate", uma coletânea de escritos e fragmentos de memória.
  • 1999 - "Antitratado de Cenografia - Variações Sobre o Mesmo Tema"
  • 2002 - "Crônicas Improváveis" (Ficção)
  • 2005 - "Noturnos" (Ficção)

Documentário

  • 2006 - "A Mochila do Mascate", documentário dirigido por Gabriela Greeb, com roteiro da diretora juntamente com Antônia Ratto (filha de Gianni Ratto e produtora executiva) - O filme traz uma série de depoimentos de Fernanda Montenegro, Millôr Fernandes, Maria Della Costa e Dário Fo, alternados com depoimentos do próprio Gianni Ratto e trechos filmados de uma viagem que o diretor/cenógrafo fez com a filha à Itália, já nos últimos anos de vida.

Fonte: Instituto Gianni Ratto e Wikipédia

Carlinhos de Pilares

CARLOS MIGUEL MARQUES
(63 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1942)
+ Rio de Janeiro, RJ (07/07/2005)

Carlinhos de Pilares, Carlos Miguel Marques, foi um intérprete de sambas-de-enredo brasileiro que ficou conhecido por cantar os sambas da escola de samba Caprichosos de Pilares nos anos 70 e 80. Foi autor do samba enredo "Moça Bonita Não Paga" que levou a Caprichoso de Pilares em 1982 ao Grupo Especial do Carnaval Carioca. O samba de 1985 "Por Falar em Saudades" de sua autoria ao lado de Almir AraújoBalinhaHércules Corrêa e Marquinhos Lessa é considerado uma obra prima da gênero.

Esbanjando alegria e animação, Carlinhos de Pilares alegrava os componentes das escolas que defendeu, além de entreter o público nas arquibancadas. O início de Carlinhos de Pilares no mundo do samba se deu nas rodas de sambas em Pilares. Chegou à Caprichosos de Pilares nos anos 70, quando a escola nem sonhava em desfilar entre as grandes.

Em 1975, cantou um dos mais belos sambas da história da escola, "A Congada do Rei David", de autoria de Ratinho e Juarez. Em 1978, conduziu o samba "Festa da Uva no Rio Grande do Sul", no qual a composição de Ratinho conquistou o Estandarte de Ouro pelo júri do jornal O Globo.

Carlinhos de Pilares viveu um de seus grandes momentos na avenida em 1982, no desfile "Moça Bonita Não Paga, Mas Também Não Leva", no qual a escola conquistou o título do Grupo 1-B e ganhou o direito de chegar à divisão principal do carnaval. Era o início da era de temas satíricos e irreverentes da escola.

Em 1983, com "Um Cardápio à Brasileira", a escola desfilou praticamente o tempo inteiro com a passarela sem iluminação, o que lhe rendeu a condição de hors-concours naquele ano, permanecendo no Grupo Especial.

Em 1984, a Caprichoso de Pilares apresentou "A Nobreza do Riso Visita Chico Rei Num Palco Nem Sempre Iluminado" e surpreendeu a todos com uma boa colocação, 3º lugar no desfile de domingo.

O samba-enredo de maior representatividade na história da escola, sem dúvida, é o de 1985, "E Por Falar em Saudade", de autoria de Almir Araújo, Balinha, Hércules Corrêa, Marquinhos Lessa e do próprio Carlinhos de Pilares. Naquele ano, numa manhã ensolarada, Carlinhos de Pilares conduziu a escola com seus cacos e, ao longo da Marquês de Sapucaí, ia soltando sua gargalhada que, a partir daquele ano, tornou-se sua marca registrada. Ele nem fez muito esforço porque toda a arquibancada cantou o samba de letra fácil e bem-humorada. A composição ficou conhecida como o "Samba do Bumbum", devido ao refrão final da letra, o maior sucesso do carnaval daquele ano:
"tem bumbum de fora pra chuchu / qualquer dia / é todo mundo nu"
A escola saiu aclamada da passarela do samba, sendo considerada "campeã do povo". No entanto, na classificação oficial, a Caprichosos de Pilares chegou em quinto lugar. O reconhecimento chegou em 1988, quando Carlinhos de Pilares levou o Estandarte de Ouro como melhor puxador.

A partir daí, Carlinhos de Pilares se afastou da escola de seu coração e passou a defender sambas para outras bandeiras. Circulou pela Unidos do Jacarezinho, Acadêmicos de Santa Cruz, Unidos da Tijuca, Lins Imperial, Acadêmicos do Dendê, teve uma breve passagem na Portela, retornou à Caprichosos de Pilares por três carnavais e, até o desfile de 2004, esteve na Acadêmicos da Rocinha. Também puxou escolas em outras cidades, como a Flor de Vila Dalila (1988) e Acadêmicos do Tucuruvi (2001), em São Paulo, Academia de Samba Praiana (1996), em Porto Alegre, e em escolas de Manaus.

Aproveitando o auge da popularidade da Caprichosos de Pilares, na década de 80, gravou participações em dois discos da cantora Simone: "Cristal" (1985), na faixa "Amor No Coração", e no disco "Amor e Paixão" (1986), na música "Rei Por Um Dia", ambas de sua autoria.


Morte

O compositor e cantor de samba Carlinhos de Pilares morreu em 07/07/2005, às 13:00 hs, no Hospital Dom Pedro II, zona oeste do Rio de Janeiro, onde estava internado desde 03/07/2005,  domingo, devido a um Câncer no Pulmão. O enterro aconteceu às 16:00 hs de 08/07/2005 no cemitério de Inhaúma.

Carlinhos de Pilares tinha 63 anos e estava doente desde de 2004, mas ainda saiu cantando o samba da Acadêmicos da Rocinha, que ainda estava no Grupo de Acesso A naquele ano. De lá até o dia de sua morte, passou temporadas internado em vários hospitais da cidade, para tratamento de quimioterapia e radioterapia.

Carlinhos de Pilares estava casado pela segunda vez com Idalina, 61 anos, com a qual teve dois filhos: Carlos Eduardo e Carlos Henrique. Do primeiro casamento, possuía um casal: Antonio Carlos e Carmem Verônica. Nos últimos meses, o puxador vinha passando por dificuldades financeiras e seus amigos organizaram eventos para ajudá-lo.

Carreira

  • Início - Caprichosos de Pilares, nos anos 70
  • 1975 e 1988 - Caprichosos de Pilares
  • 1979 - Lins Imperial (Grupo 2-A)
  • 1986 a 1990 - Andanças de Ciganos (Manaus, na gravação do LP)
  • 1989 - Unidos do Jacarezinho
  • 1990 - Santa Cruz
  • 1991 e 1992 – Caprichosos de Pilares
  • 1993 - Reino Unido da Liberdade (Manaus, na gravação do LP e no Sambódromo)
  • 1994 - Unidos da Tijuca
  • 1995 - Portela (Junto com Rixxah)
  • 1996 - Caprichosos de Pilares e Praiana (Porto Alegre)
  • 1997 - Acadêmicos do Dendê (Grupo A)
  • 1998 a 2000 - Santa Cruz (Grupo A)
  • 2000 - União Imperial (Santos - Apoio de Zinho)
  • 2002 - Lins Imperial (Grupo B)
  • 2003 e 2004 – Rocinha (Grupo A) 


Grito de Guerra: "Alô, Brasil! Alegria geral! Vai começar a festa! (segue depois sua tradicional gargalhada)

Gritos de Empolgação: Cacos variavam muito conforme o samba ou o tema apresentado. Sua marca principal era a gargalhada, quando, em determinado momento, os versos do samba mencionavam as palavras "alegria", "sorriso" ou qualquer outra manifestação de animação. Também apareciam muito os cacos "é muita coisa junta", "gira, baiana", "ah, minha escola querida".

Sambas de Sua Autoria

  • 1979 - "Uruçumirim, Paraíso Tupinambá” (Com Delso e Ferreira)
  • 1985 - "E Por Falar Em Saudade" (Com Almir de Araújo, Balinha, Hércules e Marquinho Lessa)
  • 1986 - "Brazil Com Z Não Seremos Mais... Ou Será Que Seremos?" (Com Almir de Araújo, Balinha, Hércules e Marquinho Lessa)
  • 1990 - "Os Heróis Da Resistência" (Com Carlos Henri, Doda, Luís Sérgio, Mocinho e Zé Carlos)
  • 1994 - "Entre Festas e Fitas" (Com De Minas, Hércules Corrêa e JB)

Premiações

Estandarte de Ouro em 1988. Também conquistou um Prêmio Sambanet de melhor intérprete do Grupo B de 2002, quando defendeu a Lins Imperial.

Indicação: Miguel Sampaio

Teddy Milton

MILTON DA CUNHA
(61 anos)
Cantor

* Jundiaí, SP (04/02/1943)
+ Jundiaí, SP (25/01/2005)

Milton da Cunha, mais conhecido por Teddy Milton, iniciou sua carreira por volta de 1959, aos 16 anos,  quando tocou pela primeira vez na "Dragões Mecânica", situada na Vila Arens. Cantou no programa "Grêmio do Zezinho", na Rádio Jundiaí. Entrou para a Orquestra Universal, como crooner, pertencente ao maestro Aylton de Souza, onde um dia tocando em São Paulo, chamou a atenção de um produtor da gravadora RGE que o convidou para gravar.

O nome artístico lhe foi dado por Sérgio Beneli Campelo, mais conhecido por Tony Campelo, encarregado também de selecionar seu repertório.

No ano de 1964, Teddy Milton lançou o compacto "A Casa do Sol Nascente", versão de Fred Jorge para a música "The House Of Rising Sun", composta por Alan Price e interpretada pelo conjunto The Animals. Esse disco de Teddy Milton lhe rendeu disco de ouro.

Devido a problemas com a gravadora, depois de gravar mais dois discos, Teddy Milton mudou para a Epic onde gravou mais dois discos. Um deles trazia a música "Anjo do Amor". Teddy Milton, segundo seu filho Cristian César, viajou para vários países da America do Sul, cantando até "La Violetera" com Sara Montiel.

Teddy Milton participou de diversos programas de TV, entre eles, "Programa Sílvio Santos", "Programa do Chacrinha", "Astros do Disco" e "Jovem Guarda".

Em 1966 participou de shows no Teatro Glória, ao lado de Rossini Pinto e Erasmo Carlos. Cantou também com Roberto Carlos, em Jundiaí, no Teatro Polytheama.

Em 1972 gravou pela Epic a canção "Gloria, Gloria, aleluia", em um compacto.

Teddy Milton foi casado por 37 anos com Clarisse Aparecida Correia da Cunha, com quem teve um casal de filhos que tem a mesma verve do pai e são cantores também, Cristian César e Kátia Regina.


Morte

Em janeiro de 2005, faleceu em decorrência das complicações de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no dia 4 de janeiro, vindo a falecer 21 dias depois. Foi sepultado no Cemitério Municipal Nossa Senhora do Desterro em Jundiaí.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Helena Meirelles

HELENA MEIRELLES
(81 anos)
Cantora, Compositora e Instrumentista

Bataguassu, MS (13/08/1924)
+ Presidente Epitácio, SP (29/09/2005)

Instrumentista brasileira nascida na Fazenda Jararaca, que ficava na Estrada Boiadeira, que liga Campo Grande ao porto 15 do Rio Paraná, divisa com o estado de São Paulo, reconhecida mundialmente por seu talento como tocadora da denominada viola caipira, considerada a melhor violeira do mundo, sendo comparada a astros como Keith Richards, do Rolling Stones, e Eric Clapton

Filha do boiadeiro paraguaio Ovídio Pereira da Silva e da mato-grossense Ramona Vaz Meirelles, apesar de nascer e crescer em uma época em que a viola era um instrumento proibido às mulheres, seu mundo não existiria sem esse instrumento. Cresceu rodeada de peões, comitivas e violeiros pantaneiros. Aprendeu a tocar sozinha e escondida, fugiu de casa aos 15 anos e teve o primeiro filho aos 17, de seu primeiro marido, com quem teve mais dois e viveu 8 anos.

Helena Meirelles é comparada a astros como Keith Richards e Eric Clapton
Começou a surpreender desde jovem quando chegava e tocava até de graça em festas, bailes e bares de Mato Grosso do Sul e no interior oeste do Estado de São Paulo. Sua música seguiu os ritmos de sua região, com influências paraguaias, entre eles, chamamé, rasqueado e polca.

Reconhecida pelos sul-mato-grossenses como expressão das raízes e da cultura da região, começou a ser divulgada fora de sua região, quando foi apresentada em 1980 por Inezita Barroso no seu programa "Mutirão", na Rádio USP de São Paulo, tocando ao vivo e mostrando seu trabalho. Depois a mesma Inezita Barroso apresentou a violeira em seu programa de música caipira "Viola, Minha Viola", na TV Cultura.

Alzira Espíndola, Helena Meirelles e Tetê Espíndola
Depois dessas oportunidades, gravou uma fita, mas não recebeu atenção dos diversos meios de comunicação onde tentou a divulgação. Na década seguinte, em 1992, teve nova oportunidade ao se apresentar ao lado de Inezita Barroso e da dupla Pena Branca & Xavantinho, no Teatro do Sesc, em São Paulo. Porém, como muitas vezes acontece, o reconhecimento da violeira veio de fora do Brasil.

Tudo começou quando um sobrinho de Helena Meirelles enviou para uma revista especializada norte-americana, uma fita com gravações feitas de maneira praticamente amadora. Assim, no ano seguinte, aos 69 anos, a revista estadunidense Guitar Player a escolheu como Instrumentista Revelação do Ano, com o Prêmio Spotlight (1993),  por sua atuação nas violas de seis, oito, dez e doze cordas.

Foi um extraordinário prêmio para quem, injustamente, antes não obtivera o merecido reconhecimento em seu país, talvez por puro preconceito contra sua arte. Desde então passou a ser observada e valorizada por onde passou, tendo inclusive, no mesmo ano participado de um grande show em São Paulo com a dupla Tonico & Tinoco e, nos anos seguintes, gravou vários CDs.


Morte

Aos 81 anos, esteve internada na Santa Casa de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, por dez dias  para tratar uma pneumonia aguda crônica. Chegou a ficar na UTI, respirando com o auxílio de aparelhos. Na terça-feira, dia 27/09/2005, já se alimentando por via oral e sem necessitar de aparelhos para respirar, teve alta e foi para casa.

Morreu dois dias depois de receber alta, na madrugada de 29/09/2005, aos 81 anos, vítima de Parada Cardiorrespiratória. Seu corpo foi velado no cemitério Parque das Paineiras.

Helena Meirelles era analfabeta e autodidata, foi casada três vezes e teve 11 filhos.


Discografia

  • 1994 - Helena Meirelles
  • 1996 - Flor de Guavira
  • 1997 - Raiz Pantaneira
  • 2003 - De Volta ao Pantanal

Marco Uchôa

MARCO ANTÔNIO UCHÔA
(36 anos)
Jornalista

* Ceará, (1969)
+ São Paulo, SP (23/11/2005)

Marco Uchôa foi um menino pobre, que deixou o Ceará para morar em São Paulo. Fez o colégio na Escola Dom Pedro I, em São Paulo, no bairro de São Miguel Paulista, vendeu balas nas esquinas e freqüentou uma instituição para crianças carentes. No Natal, Uchôa comandava uma ação solidária entre os colegas da TV Globo. Ele recolhia sacolinhas com presentes para quem teve uma infância parecida com a dele. 

Marco Uchôa formou-se nas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM). Seu primeiro trabalho foi aos 17 anos, na Folha de São Paulo. Atuou ainda no O Estado de São Paulo e foi colaborador da revista Marie Claire antes de seguir para a televisão.

Ao atuar como jornalista investigativo, Marco Uchôa fez, entre outras reportagens, uma que denunciou a fraude conhecida como "Dossiê Cayman", nas ilhas do Caribe.

Seu livro "Crack, O Caminho das Pedras", da Editora Ática, publicado em 1997, ganhou o Prêmio Jabuti como melhor livro-reportagem.

Na TV Globo, devido à semelhança de nomes, Marco Uchôa era confundido com outro repórter da emissora, Marcos Uchôa, correspondente em Londres, responsável por coberturas como a guerra no Iraque e o Tsunami. Apesar de nomes praticamente idênticos, eles não são parentes próximos.

Morte

Em 2003, Marco Uchôa descobriu ser portador de um agressivo tumor ósseo. Aos 34 anos, casado, pai de um filho e com uma carreira promissora - havia dez anos era repórter do "Fantástico" -, ele teve de parar. Lutou dois anos contra a doença. Suportou a quimioterapia, mais de 20 cirurgias, reaprendeu a andar, usou muletas.

O jornalista Marco Uchôa, morreu às 12:05hs de quarta-feira, dia 23/11/2005, em São Paulo, vítima de Câncer. Marco Uchôa estava internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo, desde o dia 7 de novembro de 2005. Ele estava em tratamento de osteossarcoma (tumor maligno nos ossos) há dois anos. Mais recentemente, o paciente enfrentava um quadro de metástases múltiplas ósseas e pulmonares.

Marco Uchôa trabalhava havia mais de dez anos na TV Globo, como repórter do "Fantástico". O jornalista, que além do programa "Fantástico", colaborava com "Jornal Nacional", "Globo Repórter" e com o canal Globo News. Marco Uchôa deixou mulher e um filho de 7 anos.

Quando morreu, aos 36 anos, deixou uma legião de amigos e um testemunho de rara coragem, na forma de um diário no qual registrou momentos de perplexidade, resgatou a importância do afeto dos que o cercavam e externou as coisas que queria que o filho soubesse. "É um diário feito com a alma de alguém que soube viver e morrer com idêntica dignidade", diz Anna Costa, mulher do jornalista por 15 anos. Leia, a seguir, trechos condensados dessa longa despedida, selecionados por Anna, sua esposa:

Primavera de 2003

Toca o celular. É Ana Holanda, mais uma amiga de Anna, minha mulher. Em menos de cinco minutos, o programa de domingo estava definido. É sempre assim. Mulheres são rápidas. Ana Holanda e a irmã, Patrícia, passariam o dia conosco. Muitas risadas, causos… Minha perna esquerda continuava do mesmo jeito. Dores constantes a ponto de impedir certos movimentos, principalmente os de abertura. Quase quatro meses de remédios, fisioterapia, acupuntura e poucos sinais de melhora. A preocupação era maior pelo fato de eu não poder mais correr, atividade física intensa que havia caído nas minhas graças. Nos últimos meses, as corridas nas manhãs de domingo e os treinos no meio de semana haviam sido suspensos.

Quando as irmãs foram embora, decidimos descansar. Não existe descanso sem água, sem banho. Victor, meu filho de 6 anos, foi primeiro, com todos os brinquedos possíveis, para dentro da banheira de nossa suíte. Só saiu dali para ficar enrolado numa toalha no meio de minha cama, de olho grudado no Fantástico. Chegou a minha vez. Abri o chuveiro, coloquei o pé direito dentro da banheira, mas o esquerdo, aos poucos, escorregou no tapete do banheiro. Aquela típica abertura de perna provocou muita dor e um grito seco imediato, estridente. Anna veio correndo da cozinha. Ao me ver naquele estado, chorando de dor, intimou: "Vamos para o hospital agora. Chega de sentir dor". Lembro a frase dela: "Não é possível você não melhorar depois de tantos remédios e todas essas sessões de fisioterapia e acupuntura. Tem alguma coisa errada…"

Seguimos para o pronto-socorro de um hospital, o mais próximo de casa. Victor levou brinquedos e a animação típica de um garoto. Ficha feita. O relógio marcava 10 horas da noite em ponto. O Fantástico seguia, com um cenário em homenagem à primavera. Vinte minutos depois, fui recebido com um sorriso por um médico plantonista japonês que, de bate-pronto, sacou a frase: "Você não é aquele repórter?" - "Sim, sou."

Ele pediu um raio X e sugeriu uma injeção para aliviar a dor. Quando a imagem foi revelada, tudo mudou. Não esqueço o espanto do médico e sua cara de preocupado com o que via: o osso esquerdo do púbis esfarelado. Qualquer um percebia por aquela imagem que havia um problema sério. Chamei Anna e não consegui disfarçar o impacto da notícia.

O médico, gaguejando, falava em inflamação ou em tumor no osso. Quando essa palavra foi pronunciada, fiz questão de traduzir - "Câncer?"

Ele preferiu pedir uma tomografia computadorizada. Os olhos de Anna, uma mulher forte e segura, estavam marejados. O pequeno Victor estava assustado. Fui obrigado a conter a emoção para não assustá-lo ainda mais. Fiquei sem chão por um tempo. Pensava como seria dali em diante. Como ficaria a minha Anna? E a educação do Victor, o meu bem maior? Minha vida, como seria? Naquela noite, Anna e eu ficamos grudados no meio da nossa enorme cama, como não fazíamos há tempos.

A Quimioterapia

A clínica de oncologia fica bem em frente ao Parque do Ibirapuera. Olho para as pessoas correndo e meu coração fica apertado. Será que um dia vou poder voltar a me exercitar desse jeito? Anna e eu entramos com o pé direito na clínica. Afinal, ali eu receberia as medicações que iriam combater o tumor e me devolver a saúde aos poucos, a cada novo frasco de soro com as substâncias químicas.

No consultório, o doutor Sérgio Petrilli, oncologista e diretor do GRAC , abriu a bolsa de couro e sacou vários artigos da internet e textos de simpósios de que seu grupo participara. Saí de lá confiante de que havia feito uma excelente escolha. Era uma sexta-feira e o tratamento já tinha data certa para começar: segunda-feira, dia 29 de setembro de 2003…

Outro Acidente

Outubro de 2003 - Minha mãe decidiu me acompanhar no tratamento. Fiquei feliz. Anna assumiu o volante. Ao fazer uma curva para a direita, olhei para trás e vi uma cena marcante. Minha mãe estava estranha. Passava mal. Fria, suada, com o rosto transformado.

Anna não teve dúvidas. Algo de errado com a saúde da Dona Sefisa, mulher forte, valente, que enfrentou inúmeras dificuldades para criar dois filhos na cidade grande. Tentei tranqüilizá-la, enquanto Anna se dirigia para o hospital mais próximo… Emergência. Minha mãe tivera um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Não acreditei no que vi. Era uma carga pesada demais para nós. Por outro lado, pensei, isso poderia ter acontecido na casa dela. Teria sido muito pior, pois não estaríamos por perto… Uma frase me perseguia: "Não é possível! Não é possível! Não é possível!" Era.

O AVC atingiu um trecho grande do cérebro. Ela foi submetida a uma cirurgia para diminuir a pressão craniana. Foi direto para a UTI e passou pela semiintensiva até chegar a um quarto. Foram 21 dias de internação. Nauseado por causa das sessões de quimioterapia que começavam a dominar meu corpo, consegui visitá-la apenas duas vezes. Fiquei assustado com o que vi. Uma mulher pálida, careca, às voltas com o fantasma das seqüelas provocadas pelo AVC. Mexia pouco o braço direito. Falava com dificuldades. Não andava. Ela precisaria de acompanhamento permanente dali em diante. Home Care 24 horas, e na minha casa. Um time de enfermeiras para ficar com ela, ajudar no banho, dar os medicamentos… Foi duro acreditar que a rotina daquela casa sempre alegre e tranqüila havia se transformado tanto.

A Cirurgia

11 de janeiro de 2004. Mãos ao lado da maca e uma faixa apertada no pulso. A idéia era impedir que o paciente tentasse retirar o incômodo tubo que lhe garantia a respiração. Um homem preso a fios, eletrodos e máquinas para indicar o seu real estado de saúde. Os números eram acompanhados com atenção por um exército de homens e mulheres vestidos com uniforme azul na sala central de controle.

Enfermeiros, auxiliares, médicos da UTI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Por mais que tentasse, eu não conseguia me mexer. Efeito das 14 horas de anestesia para a cirurgia que extirpara o tumor e colocara uma prótese em minha bacia. Conseguia, no máximo, mover os olhos. Deitado, a única visão possível era o respiro do ar-condicionado. Pelo reflexo no alumínio, lá no alto do teto, acompanhava o entra-e-sai. Foram quase dois dias nesse cenário. Por mais que tentem humanizar a UTI , a passagem por ela sempre deixa marcas profundas. Nem sempre no corpo, mas quase sempre na memória.

A primeira cena no quarto 1001: Anna colocara um cartaz na varanda: "Parabéns! Mais uma etapa vencida". Minha sogra, Venir, espalhara balões pelo quarto. Meu pequeno Victor trazia um desenho nas mãos - rabiscos coloridos sugeriam um passeio que fizemos à Praia do Espelho, na Bahia, um dos meus recantos preferidos. O quarto aos poucos foi humanizado. Numa mesa de canto, chocolates, flores, livros, CD s, porta-retratos. A idéia era trazer um pouco da minha casa para aquele lugar de parede bege e zero de charme.

Os Amigos Redescobertos

Sou obrigado a confessar: nunca fui muito preocupado com as amizades. Por vezes, Anna dizia: "Os meus amigos são seus amigos. Mas onde estão os seus, as pessoas conquistadas por você?" Silêncio... Na hora de quantificar os meus, faltavam nomes. A mão não enchia. Era como se tivesse sido reprovado por não ter sido capaz, durante todo esse tempo, de mobilizar pessoas. Elas estavam sempre em torno de Anna, por causa de sua dedicação, sinceridade, simpatia, amizade pura e simples. Eu, no caso, vinha no pacote.

Hoje eu encaro a amizade como um troféu. Ganha quem se dedica, quem está atento, quem faz por merecer. A maior prova de amizade que tive foi na véspera de ser operado. Ela veio numa caixa grande e colorida. Por volta das 16 horas, Jennifer Skipp, Karina Dorigo e Márcia Dal Prete, todas amigas do "Fantástico", entraram no quarto com ela. Ao abri-la, me deparei com a maior demonstração de carinho que já tive na vida. Bilhetes, recados, mensagens, desenhos feitos pelos meus amigos da TV. Profissionais de várias áreas com a mesma idéia: me dar um abraço de boa sorte antes da cirurgia.

Chorei como nunca. Antes, eu não conseguia fazer uma lista dos amigos. Hoje falta papel para encher o nome de tantas pessoas que surgiram durante essa caminhada. Uma caminhada que é só minha, mas acompanhada por vários olhares. Sou eternamente grato a todos…

Corpo Estranho

Quase um atleta. Era assim que me sentia antes do diagnóstico. Tinha uma vida agitada, horários confusos, irregulares, e o esporte combinava com tudo isso. Quando o médico fechou o diagnóstico de câncer, porém, o Marco Uchôa esportista não existia mais. Meus passos agora eram lentos e curtos. Eu fazia força e sentia dores para levantar a perna esquerda. Olhava pela janela do meu quarto, via aquele sol lindo e eu completamente limitado por causa da perna. Sem corrida, sem esportes… Só com dor.

Hoje me olhei no espelho. Fiquei nu. Não me reconheci mais. Magro. Pernas e coxas finas. Mudei rápido, em poucos meses. A massa muscular vigorosa não havia deixado vestígio em meu corpo. É assim quando essa doença bate na sua porta. Você precisa estar preparado para muitas mudanças. A primeira delas é na cabeça. Depois, seguem pelo corpo, pela alma. Cada passo, cada contração muscular é motivo para comemorar.

Preto, liso, brilhante, volumoso e farto. Esse era o meu cabelo, para agonia de meus amigos calvos. Para manter o corte, precisava apará-lo a cada 15 dias. Segundo Júlio Crepaldi, meu cabeleireiro, um mestre na arte dos cortes e penteados, "meu cabelo crescia como grama". Naquela manhã, ele estava curto, mas era necessário deixá-lo menor ainda. Na verdade, era preciso raspá-lo. Júlio não compreendeu no primeiro momento. Expliquei-lhe que a tal dor na perna era sinal de um tumor e que, com a quimioterapia, minha cabeleira perdera o sentido… Júlio não quis raspar, mas o deixou curtíssimo. Eu sabia que passaria pelo dia fatídico em que o ralo seria entupido pelos pequenos fios. Cai tudo mesmo. Não tem perdão.

Chuva em Família

Sexta-feira, abril de 2004. Anna e Victor estão com cara de chuva. Imagino ser por conta dessa batalha. Tantos dias de luta, idas e vindas ao hospital. A família toda se desgasta para segurar essa barra. Mas a doença também aproxima, e hoje sinto-me mais íntimo de todos. Um desafio como esse, às vezes, até faz chover dentro de nós. Vem aí um dilúvio.

Sentimento: aperto, receio, medo de voltar para o hospital.
Determinação: meditar e ter mais pensamentos positivos.
Vontade: abraçar meu filho, pegá-lo no colo.
Certeza: sairei vitorioso dessa luta. Faltam meses, mas vou saber esperar.
Necessidade: me alimentar melhor, comer mais e com maior freqüência para ficar mais forte.
Susto: quantidade de remédios aqui ao lado do criado mudo.
Desejo: voltar a ter autonomia.
Promessa: ser mais suave com tudo. Entender o tempo de cada um. Ser mais seguro e sereno ao mesmo tempo.
Amigos: Tê-los cada vez mais próximos.

Dia dos Pais

Outubro de 2005. Festa na escola do Victor. Animação, pizza… e eu de cadeira de rodas. Como o colégio é grande, foi a melhor solução. Abraços, beijos e fotos com a minha cria ao lado. Eu estava feliz. Depois da festinha, passei a tarde deitado. Senti dor. Apaguei com o potente Dimorf, remédio contra a dor à base de morfina. Acordei domingo com os pés formigando e uma sensação estranha de perda da força. Eu, que tinha esperança de voltar ao trabalho, não poderia imaginar que, naquele domingo, iniciaria mais uma batalha. Mais uma cirurgia…

Tirei as alianças, beijei minha Anna e pedi para avisar meus chefes na empresa. "Força, amor!" Saí do quarto com esta frase dela. Não suportava o vento gelado do corredor rumo ao centro cirúrgico. Cenas que aprendi a não gostar. Eu havia tido um recidiva do câncer, o tumor estava agora pressionando a vértebra T5 e eu corria risco de perder os movimentos das pernas. Acordei tranqüilo na UTI . Soube que tudo havia dado certo e que, aos poucos, recuperaria os movimentos. Que batalha!

Anna Costa, Marco Uchôa e Victor

A Última Carta

Domingo, 14 de novembro de 2005

Querido Victor,

Canário, por que canário? Ora, porque você é aquele garoto que chega da escola sujo, ensopado. Adoro esse cheirinho de moleque feliz. Victor, saiba que seu pai veio cumprir uma missão. Acho que chegou a hora de me despedir e virar uma estrela. Estarei sempre lá em cima no céu, pronto para te olhar, te ouvir e te apoiar em tudo. SEMPRE!

Sempre que se sentir aflito, indeciso, olhe para o alto. Outro jeito de me ver é se olhar no espelho. Estarei refletido nele. Você é uma parte de mim. Fruto do lindo amor meu e de sua mãe, a mulher que mais me ensinou nesta vida.

Conheci o amor verdadeiro com ela, conheci o mundo com ela. Anna é o meu brilhante! O amor de minha vida. Victor, torço para que você encontre uma Anna em sua vida. Quero, de verdade, que você seja feliz, não importa o jeito.

Lembro de você bagunçando em cima da cama. Morria de rir. Meu Tuco, Victor, Tutu, Canário: serei sempre seu, meu filho. Queria deixar mais e mais para você, mas acho que os valores mais importantes desta vida são: Seja correto com as pessoas. Faça com os outros o que gostaria que fizessem com você. Respeite sua mente, seus desejos, seu corpo. Acima de tudo, seja feliz, uma sensação ótima. Senti isso várias vezes ao lado de sua mãe.

 Filho, esses olhos puxados são seus, são nossos. São a nossa marca. Em você ficaram lindos! Você é belo por dentro, Victor. Sentirá saudades, claro, mas quando esse sentimento bom aparecer, lembre-se das nossas brincadeiras, do "canário", do "escatológico".

Papai encontrou uma princesa na terra. Com ela aprendeu a viver. Fizemos você com amor. Não se esqueça um só segundo de que, de onde estiver, eu estarei te olhando. E te abraçando, meu moleque querido.

Seja um homem de bem, feliz!

Seu sempre pai, papito,

Marco Uchôa