Mostrando postagens com marcador Crítico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crítico. Mostrar todas as postagens

Machado de Assis

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS
(69 anos)
Escritor, Poeta, Romancista, Cronista, Dramaturgo, Contista, Folhetinista, Jornalista e Crítico Literário

* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1839)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/09/1908)

Foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, Ministério do Comércio e Ministério das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Ayres, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e outros.

Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante Alighieri, William Shakespeare e Luís de Camões.[24]

Primeiros Anos

Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.

As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à Rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado de Assis resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.

Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.

Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento:

"A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados."

Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas. A casa era "uma espécie de vila ou fazenda", onde Machado de Assis passou sua infância. Nesta época, José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de Machado de Assis, Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do Romantismo para a literatura brasileira.

Quando Machado de Assis tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de Dom Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em Dom Casmurro.

Ao completar 10 anos, Machado de Assis tornou-se órfão de mãe, e o pai viúvo tão logo perdera a esposa casou-se com Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854, que cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado de Assis teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros.

Jornais, Poemas e Óperas

Tudo indica que Machado de Assis evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde, Machado de Assis se referiria à Sociedade da seguinte forma:

"Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná."

No dia 12 de janeiro de 1855, Francisco de Paula Brito publicou os poemas Ela e A Palmeira na Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro. Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis.

Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que o incentivou a seguir a carreira literária. Machado de Assis trabalhou na Imprensa Oficial de 1856 a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando textos.

Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em The Mysteries of Paris de Eugène Sue e com música de Ermanno Wolf-Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:

"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."

Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na. Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo:

"Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro."

O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto."

De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.

Crisálidas, Teatros e Política

Aos 21 anos de idade Machado de Assis já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado de Assis trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.

Quintino Bocaiúva admirava o gosto de Machado de Assis pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai, Machado de Assis lhe dedica a coletânea de poesias Crisálidas:

"À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais."

Em 1865, Machado de Assis havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y Amat, produziu o hino Cantada da Arcádia especialmente para a sociedade.

Em 1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."

Neste ano, Machado de Assis escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com Platão, Sócrates e o Teatro Grego. De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado de Assis era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial pelo Dom Pedro II. Com a ascensão do Partido Liberal pelo país, Machado de Assis acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com idéias progressivas. Por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império - candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de Dom Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Imperial Ordem da Rosa.

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro. Machado de Assis diria sobre o poeta baiano:

"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro."

Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.

Carolina Augusta Xavier de Novais
Noivado, Cartas e Relacionamento

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado de Assis teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa.

Carolina despertara a atenção de muitos cariocas. Muitos homens que a conheciam achavam-na atraente e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data, o único livro publicado de Machado de Assis era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão.

Carolina era cinco anos mais velha que ele, deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.

Diz-se que Machado de Assis não era um homem bonito, mas era culto e elegante. Estava apaixonado por sua Carola, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois. Durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado de Assis havia escrito uma carta íntima que dizia:

"...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."

Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como Machadinho. Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.

Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar". De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a Machado de Assis os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou recentemente que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo do marido escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista).

Não tiveram filhos. No entanto, acredita-se que tinham uma cadela Tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.

Carolina Augusta Xavier de Novais (44  anos)
Casamento, Histórias e Lendas

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda.

Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado de Assis, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado de Assis não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.

No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller.

Em 20 de outubro de 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado de Assis, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado de Assis deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil.

As três heroínas de Memorial de Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da Carolina, a mãe, irmã e esposa. Machado de Assis também lhe dedicou seu último soneto, A Carolina, em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de A Carolina era visitado todos os domingos por Machado de Assis.

Academia Brasileira de Letras


Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional.

Unanimente, Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo Bernardo:

"Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão."

No discurso inaugural, Machado de Assis aconselhou aos presentes:

"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."

A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns. Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência:

"Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções."

Como presidente, Machado de Assis fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.

Em 1901, criou a Panelinha para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão Panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.

Machado de Assis devotou-se ao cargo de presidente da Academia durante 10 anos, até a sua morte. Como homenagem informal, ela passou a chamar-se "Casa de Machado de Assis". Hoje em dia a Academia abriga coleções de Olavo Bilac e Manuel Bandeira, e uma sala chamada de Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus. Além disso, a Academia possui uma rara edição de 1572 de Os Lusíadas.

Estátua  na Academia Brasileira de Letras
Últimos Anos

Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, Machado de Assis lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]"

Antes de sua morte, em 1908, e depois da morte da esposa, em 1904, Machado de Assis viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Ayres (1908), e Relíquias da Casa Velha (1906). No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição de Botânica.

Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto A Carolina, "preito de saudade à esposa morta."

Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Ayres, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.

Mesmo abalado, continuava lendo, trabalhando, estudando, frequentando algumas rodas de amigos. Em seus últimos anos, teria iniciado estudos da língua grega, embora outros autores apontam que tentava se familiarizar com ela desde cedo.

No primeiro dia de julho de 1908, Machado de Assis entra em licença para tratamento de saúde, e nunca mais retorna ao Ministério da Viação. Personalidades ilustres, como o Barão do Rio Branco, e intelectuais ou colegas, vão visitá-lo. Em um documento manuscrito do mesmo ano, Mário de Alencar escreve, amargamente:

"Venho da casa de Machado de Assis, por onde estive todo o sábado, ontem e hoje, e agora estou sem ânimo de continuar a ver-lhe o sofrimento. Tenho receio de assistir ao fim que eu desejo não tarde. Eu, seu amigo e seu admirador grande, desejo que ele morra, mas não tenho coragem de o ver morrer."

Em 1906, escreve seu último testamento. O primeiro, escrito em 30 de junho de 1898, deixava todos seus bens à esposa Carolina Augusta. Com a morte desta, pensou numa partilha amigável com a irmã de Carolina, Adelaide Xavier de Novais, e sobrinhos, efetuando este segundo e último testamento em 31 de maio de 1906, instituindo sua herdeira única "a menina Laura", filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, nomeado primeiro testamenteiro. Em suas últimas semanas, Machado de Assis escreveu cartas a Salvador de Mendonça (7 de setembro de 1908), a José Veríssimo (1 de setembro de 1908), a Mário de Alencar (6 de agosto de 1908), a Joaquim Nabuco (1 de agosto de 1908), a Oliveira Lima (1 de agosto de 1908), entre outros, demonstrando ainda estar lúcido.

Morte

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia Brasileira de Letras conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.

Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma Úlcera Canceriosa na Boca. Sua certidão de óbito relata que morrera de Arteriosclerose Generalizada, incluindo Esclerose Cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas.

Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio e Euclides da Cunha. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento:

"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade". Euclides da Cunha ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."

Em nome da Academia Brasileira de Letras, Ruy Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre. Em nome do governo, o então ministro do interior Tavares de Lyra discursou em pesar da morte do escritor.

O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia. Seu corpo no caixão, como relatara Nélida Piñon, "cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas". O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso, Nélida Piñon comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de Victor Hugo. De fato, uma multidão saía da Academia e sustentava o caixão do autor até o Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro. Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa Carolina Augusta Xavier de Novais, jazigo perpétuo 1359.

A Gazeta de Notícias e o Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de Machado de Assis. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de Machado de Assis, anunciando sua morte.

Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, onde também estão os restos de personalidades como João Cabral de Melo Neto, Darcy Ribeiro e Aurélio Buarque de Holanda.

Fonte: Wikipédia

Lineu Dias

LINEU MOREIRA DIAS
(73 anos)
Ator, Contista, Poeta, Dramaturgo, Tradutor e Crítico de Cinema e Dança

☼ Santana do Livramento, RS (05/10/1928)
┼ Rio de Janeiro, RJ (03/08/2002)

Lineu Dias foi casado com a atriz Lilian Lemmertz e pai da atriz Júlia Lemmertz. Atuou durante quatro décadas no cinema, teatro e televisão.

Teve sua estréia no teatro aos 25 anos em Porto Alegre, onde participou da juventude do Teatro do Estudante e do Teatro Universitário.

Cursou Interpretação e Direção Teatral na Yale Drama School e foi professor de Interpretação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Como escritor colaborou na revista literária Crucial, teve seus contos publicados nos jornais Correio do Povo, Estado de Notícias, Estado de São Paulo e na revista O Globo. Lineu Dias foi também crítico de cinema e de dança.

Em 1995 recebeu o Prêmio Sharp de Melhor Ator por sua interpretação na peça "Minh'Alma, Alma Minha", peça de sua autoria.

Seu último trabalho foi em 2001, na minissérie "Presença de Anita".

Lineu Dias morreu em 03/08/2002, no Rio de Janeiro, RJ, aos 73 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos.

Um ano após sua morte, foram publicados seus poemas no livro "Urbia".

Tradução de Peças Teatrais

  • Dias sem Fim (Eugene O’Neill)
  • Festa de Aniversário (Harold Pinter)
  • A Dança da Morte (Strindberg)
  • A Importância de Ser Ernesto (Oscar Wilde)
  • Dois na Gangorra (William Gebson)
  • A Bilha Quebrada (Kleist)

Televisão

  • 2001 - Presença de Anita
  • 1999 - Força de Um Desejo
  • 1985 - Grande Sertão Veredas
  • 1983 - Moinhos de Vento
  • 1981 - Partidas Dobradas
  • 1980 - Um Homem Muito Especial

Cinema

  • 2001 - Bicho de Sete Cabeças
  • 1999 - Um Copo de Cólera
  • 1998 - Bocage - O Triunfo do Amor
  • 1998 - A Hora Mágica
  • 1998 - Oropa, França, Bahia ... Manuel
  • 1995 - Eu Sei que Você Sabe
  • 1985 - Made in Brazil
  • 1981 - Pixote: A Lei do Mais Fraco
  • 1980 - Gaijin - Os Caminhos da Liberdades
  • 1980 - Asa Branca
  • 1974 - O Marginal
  • 1973 - Anjo Loiro ... Ângelo
  • 1966 - Corpo Ardente

Teatro

  • Andorra
  • Os Inimigos
  • Hedda Gabler
  • O Interrogatório
  • Hamlet
  • Fedra
  • Louco de Amor
  • Calígula
  • A Última Gravação
  • Becktianas#3
  • Fim de Jogo
  • Homem Branco e Pele Vermelha
  • Cândido de Voltaire

Fonte: Wikipédia

Afonso Arinos

AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO
(84 anos)
Jurista, Político, Historiador, Professor, Ensaísta e Crítico

☼ Belo Horizonte, MG (27/11/1905)
┼ Rio de Janeiro, RJ (27/08/1990)

Afonso Arinos foi um jurista, político, historiador, professor, ensaísta e crítico brasileiro, nascido em Belo Horizonte, MG, em 27/11/1905. Destacou-se pela autoria da Lei Afonso Arinos contra a discriminação racial em 1951. Ocupou a Cadeira nº 25 da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde foi eleito em 23 de janeiro de 1958.

Filho de Afrânio de Melo Franco e de Sílvia Alvim de Melo Franco, sobrinho do escritor Afonso Arinos. Casou-se com Ana Guilhermina Rodrigues Alves Pereira, neta do presidente Rodrigues Alves, com quem teve dois filhos. Era irmão de Virgílio Alvim de Melo Franco.

Formou-se em 1927 na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, atual Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, começando a carreira como promotor de justiça da comarca de Belo Horizonte.

Viajou para Genebra a fim de aperfeiçoar seus estudos. De retorno ao Brasil em 1936, iniciou a carreira de professor na antiga Universidade do Distrito Federal, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro ministrando aulas de História do Brasil.

Atuou ainda como professor no exterior ministrando cursos de História Econômica do Brasil na Universidade de Montevidéu (1938), curso na Sorbonne, em Paris, sobre cultura brasileira (1939) e cursos de literatura na faculdade de letras da Universidade de Buenos Aires (1944).

Em 1946, foi nomeado professor de História do Brasil do Instituto Rio Branco, Instituto este responsável pela formação e aperfeiçoamento profissional dos diplomatas de carreira do governo brasileiro. Foi catedrático de Direito Constitucional na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e na Universidade do Brasil.

Carreira Política

A carreira política de Afonso Arinos começou em 1947, quando foi eleito deputado federal por Minas Gerais em três legislaturas, de 1947 a 1958. Foi líder da União Democrática Nacional (UDN) até 1956, e depois líder do bloco da oposição ao Governo de Juscelino Kubitschek até 1958.

Dois fatos, sobretudo, marcaram fortemente a sua presença na Câmara dos Deputados: a autoria da lei contra a discriminação racial, que tomou o seu nome, Lei nº 1.390, de 03/07/1951, e o célebre discurso, pronunciado em 09/08/1954, pedindo a renúncia do presidente Getúlio Vargas. Quinze dias depois o presidente suicidou-se no Palácio do Catete.

Em 1958, foi eleito senador pelo antigo Distrito Federal, hoje Estado do Rio de Janeiro. Permaneceu no Senado Federal até 1966, mas afastou-se duas vezes do cargo para assumir o Ministério das Relações Exteriores, no governo de Jânio Quadros, no qual implementou a Política Externa Independente (PEI) e no regime parlamentarista do primeiro-ministro Francisco Brochado da Rocha, em 1963.

Foi o primeiro chanceler brasileiro a visitar a África, estando no Senegal do então presidente Léopold Sédar Senghor, em 1961.

Chefiou a delegação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), durante as Assembléias Gerais de 1961 e 1962. Foi embaixador extraordinário, participando do Concílio Vaticano II em 1962, terminando com a chefia da delegação brasileira à Conferência do Desarmamento, em Genebra, no ano de 1963. É de sua autoria o capítulo sobre declaração de direitos que consta da Constituição de 1967.

Foi nomeado, pelo presidente José Sarney, presidente da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, denominada Comissão Afonso Arinos, criada pelo Decreto nº 91.450 de 18/07/1985, com o objetivo de preparar um anteprojeto que deveria servir de texto básico para a elaboração da nova constituição. Em 1986, aos 81 anos, elegeu-se senador pelo Partido da Frente Liberal (PFL).

Foi membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), membro do Conselho Federal de Cultura, nomeado em 1967, quando da sua criação, e reconduzido em 1973.

Afonso Arinos recebeu o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por duas vezes, quando da publicação de dois dos seus volumes de memórias: "Planalto" (1969) e "Alto-Mar Maralto" (1977).

Em 19/07/1958, Afonso Arinos tomou posse da cadeira 25 da Academia Brasileira de Letras (ABL), recebido pelo acadêmico Manuel Bandeira.

Afonso Arinos faleceu em pleno exercício do mandato de senador, em 27/08/1990. À época, encontrava-se filiado Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), por defender este, em seu programa partidário, a implantação do parlamentarismo no país.

Prêmios e Títulos

  • Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro;
  • Intelectual do Ano em 1973 (Prêmio Juca Pato, da Sociedade Paulista de Escritores);
  • Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil, pela sua biografia de Rodrigues Alves.

Fonte: Wikipédia

Alceu Amoroso Lima

ALCEU AMOROSO LIMA
(89 anos)
Crítico Literário, Professor, Escritor e Líder Católico

* Rio de Janeiro, RJ (11/12/1893)
+ Petrópolis, RJ (14/08/1983)

Filho de Manuel José Amoroso Lima e de Camila da Silva Amoroso Lima, estudou no Colégio Pedro II, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro em 1913, atual Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O paraninfo de sua turma foi o professor de Filosofia do Direito Sílvio Romero. Estagiou e advogou no escritório do advogado João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi seu professor na Faculdade de Direito.

Adotou o pseudônimo Tristão de Ataíde, ao se tornar crítico em 1919 no O Jornal. O pseudônimo servia para distinguir a atividade de industrial da literária. Alceu Amoroso Lima então dirigia a Fábrica de Tecidos Cometa, que herdara de seu pai.

Casou-se com Maria Teresa de Faria, filha do escritor Alberto de Faria, que também foi membro da Academia Brasileira de Letras. O escritor e acadêmico Octávio de Faria era irmão de Maria Teresa e cunhado de Alceu Amoroso Lima. O escritor e acadêmico Afrânio Peixoto era casado com uma irmã de Maria Teresa de Faria, sendo assim concunhado de Alceu Amoroso Lima.

Alceu Amoroso Lima e Hamilton Nogueira em 1957.
Aderiu ao Modernismo em 1922, sendo responsável por importantes estudos sobre os principais poetas do movimento.

Após publicar seu primeiro livro, o ensaio "Afonso Arinos" em 1922, travou com Jackson de Figueiredo um famoso e fértil debate, do qual decorreu sua conversão ao catolicismo em 1928. Tornou-se um líder da Renovação Católica no Brasil.

Em 1932, fundou o Instituto Católico de Estudos Superiores, e, em 1937, a Universidade Santa Úrsula.

Após a morte de Jackson de Figueiredo, o substituiu na direção do Centro Dom Vital e da revista A Ordem.

Em 1941, participou da fundação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde foi docente de literatura brasileira até a aposentadoria em 1963.


Foi representante brasileiro no Concílio Vaticano II, o que o marcaria profundamente. Foi um dos fundadores do Movimento Democrata-Cristão no Brasil.

Publicou dezenas de livros sobre os temas mais variados. Morou na França e nos Estados Unidos no início da década de 50, onde foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Panamericana, cargo em que foi sucedido por Érico Veríssimo em 1952. Durante esse período, ministrou cursos sobre civilização brasileira em universidades inclusive na Sorbonne e nos Estados Unidos.

Tornou-se símbolo de intelectual progressista na luta contra às transgressões à lei e à censura que o Regime Militar após 1964 iria impor ao povo brasileiro.

Denunciou pela imprensa a repressão que se abatia sobre a liberdade de pensamento em sua coluna semanal no Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo.

Patrocinou em múltiplas ocasiões as cerimônias de formatura de estudantes de diversas especializações que rendiam tributo à sua luta constante contra os regimes de caráter autoritário.

Foi reitor da então Universidade do Distrito Federal, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro e também membro do Conselho Nacional de Educação.


Academia Brasileira de Letras

Foi eleito em 29/08/1935 para a cadeira 40 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Miguel Couto, sendo recebido em 14/12/1935 pelo acadêmico Fernando Magalhães.

Morte


Obras

Impõem-se ao olhar de quem lê os seus textos os termos interligados de pessoa, ser, liberdade, eterno e moderno. Estas palavras são recorrentes em muitos de seus livros.

  • 1927 - Estudos - Segunda Série
  • 1932 - Política
  • 1938 - Idade, Sexo e Tempo
  • 1938 - Elementos de Ação Católica
  • 1943 - Mitos de Nosso Tempo
  • 1946 - O Problema do Trabalho
  • 1951 - O Existencialismo e Outros Mitos de Nosso Tempo
  • 1953 - Meditações Sobre o Mundo Interior
  • 1962 - O Gigantismo Econômico
  • 1965 - O Humanismo Ameaçado
  • 1973 - Memórias Improvisadas
  • 1975 - Os Direitos do Homem e o Homem Sem Direitos
  • 1977 - Revolução Suicida
  • 1983 - Tudo é Mistério
Fonte: Wikipédia

Leonor Bassères

LEONOR BASSERÈS
(78 anos)
Escritora, Jornalista, Crítica Literária, Professora e Autora de Novela

* Rio de Janeiro, RJ (15/12/1926)
* Rio de Janeiro, RJ (29/01/2004)

Foi uma escritora de literatura infanto-juvenil, jornalista, crítica literária, professora de línguas e autora de telenovelas brasileira.

Escreveu 16 livros juvenis de aventura, a partir da década de 1950, sendo também ghost-writer de várias celebridades.

Em 1980 foi convidada por Gilberto Braga para transformar sua telenovela "Água-Viva" (1980) em livro, lançado pela Editora Record no mesmo ano, o que inciou uma parceria de sucesso. Leonor Bassères foi co-autora de Gilberto Braga em todos os seus trabalhos posteriores, sendo os principais: "Vale Tudo" (1988), "O Dono do Mundo" (1991), "Labirinto" (1998), "Pátria Minha" (1994) e "Celebridade" (2003).

Como autora principal, Leonor Bassères escreveu, em 1990, a telenovela "Mico Preto", em parceria com Euclydes Marinho e Ricardo Linhares. Também com Ricardo Linhares, foi co-autora de "Meu Bem Querer", em 1998.


Em meados de 2003, apesar de ter descoberto um câncer no pulmão, continuou a escrever a novela "Celebridade".

Leonor Bassères faleceu na madrugada do dia 29 de janeiro de 2004, aos 78 anos.

"Celebridade" encerrou com uma mensagem homenageando Leonor Bassères.

Leonor Bassères deixou um texto em seu computador, datado de 7 de agosto de 2003, que foi encontrado pela família:

"Como curtir uma morte bem curtida. Fazia um dia lindo na manhã em que eu morri. Desses que a gente chamava "gloriosos". Próprios para ir à praia, jogar tênis, correr pela orla com o namorado, essas coisas. Sem nem mencionar que a pessoa precisa não estar numa cadeira de rodas, roída por um câncer do pulmão na metade de cima, e por uma hepatite medicamentosa no resto. Sempre pedi a Deus ou a essa autoridade que manda nos homens e na terra, morrer dormindo. Achava lindo e confortável. Mas morte em manhã linda de verão também servia, já que o que estava ficando insuportável era a vida. Fechei os olhos e pensei 'vamo nessa' e fui."

Mário de Andrade

MÁRIO RAUL DE MORAES ANDRADE
(51 anos)
Poeta, Romancista, Musicólogo, Historiador, Fotógrafo e Crítico de Arte

* São Paulo, SP (09/10/1893)
+ São Paulo, SP (25/02/1945)

Um dos fundadores do modernismo brasileiro, ele praticamente criou a poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia Desvairada em 1922. Mário de Andrade exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso—foi um pioneiro do campo da etnomusicologia - sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Mário de Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil. Suas fotografias e seus ensaios, que cobriam uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente divulgados na imprensa da época. Mário de Andrade foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, tendo sido um dos integrantes do Grupo dos Cinco. As idéias por trás da Semana de Arte Moderna seriam melhor delineadas no prefácio de seu livro de poesia Paulicéia Desvairada e nos próprios poemas.

Após trabalhar como professor de música e colunista de jornal, ele publicou seu maior romance, Macunaíma (1928). Mário de Andrade continuou a publicar obras sobre Música Popular Brasileira, poesia e outros temas de forma desigual, sendo interrompido várias vezes devido a seu relacionamento instável com o governo brasileiro.

No fim de sua vida, se tornou o diretor-fundador do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, formalizando o papel que ele havia desempenhado durante muito tempo como catalisador da modernidade artística na cidade e no país.

Primeiros Anos

Mário de Andrade nasceu em São Paulo, cidade onde morou durante quase toda a vida no número 999 da Rua Profª Elaine, onde seus pais, Carlos Augusto de Andrade e Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade também haviam morado.

Durante sua infância foi considerado um pianista prodígio, tendo sido sido matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911. Recebeu educação formal apenas em música, mas foi autodidata em história, arte, e especialmente poesia. Dominava a língua francesa, tendo lido Rimbaud e os principais poetas simbolistas francses durante a infância. Embora escrevesse poesia durante todo o período em que esteve no Conservatório, Mário de Andrade não pensava em fazê-lo profissionalmente até que a carreira de pianista profissional deixou de ser uma opção viável.

Em 1913, seu irmão Renato, então com dois anos de idade, morreu de um golpe recebido enquanto jogava fubéca (jogo muito comum na infância mais jogado por meninos, anterior a era dos games. Tambem conhecido como bolinha de gude), o que causou um profundo choque em Mário de Andrade. Ele abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda que possuíam em Araraquara.

Ao retornar, sua habilidade de tocar piano havia sido afetada por um tremor nas mãos. Embora houvesse se formado no Conservatório, ele não se apresentou mais e começou a estudar canto e teoria musical com a intenção de se tornar um professor de música. Ao mesmo tempo, começou a ter um interesse mais sério pela literatura.

Em 1917, ano de sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, sob o pseudônimo de Mário Sobral. O livro contém indícios de uma crescente percepção do autor em relação a uma identidade particularmente brasileira, mas, assim como a maior parte da poesia brasileira produzida na época, o faz num contexto fortemente ligado à literatura européia, especialmente francesa.

Seu primeiro livro Salve Glauco parece não ter tido um impacto significativo, e Mário de Andrade decidiu ampliar o âmbito de sua escrita. Deixou São Paulo e viajou para o campo. Iniciou uma atividade que continuaria pelo resto da vida: o meticuloso trabalho de documentação sobre a história, o povo, a cultura e especialmente a música do interior do Brasil, tanto em São Paulo quanto no Nordeste.

Mário de Andrade também publicou ensaios em jornais de São Paulo, algumas vezes ilustrados por suas próprias fotografias, e foi, acima de tudo, acumulando informações sobre a vida e o folclore brasileiro. Entre as viagens, Mário de Andrade lecionava piano no Conservatório, havendo sido também, conforme relato de Oneyda Alvarenga, aluno de estética do poeta Venceslau de Queirós, sucedendo-o como professor no Conservatório após sua morte em 1921.

Semana de Arte Moderna

Ao mesmo tempo que Mário de Andrade efetuava seu trabalho Salve o Glauco, estava pesquisando. Como pesquisador do Folclore Brasileiro, fez amizade com um grupo de jovens artistas e escritores de São Paulo que, como ele, estavam interessados no modernismo europeu. Alguns deles mais tarde integrariam o chamado Grupo dos Cinco, composto por ele próprio, os poetas Oswald de Andrade (sem relação de parentesco com Mário de Andrade, apesar da coincidência de nomes) e Menotti Del Picchia, além das pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.

Malfatti havia visitado a Europa nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, e introduziu o expressionismo em São Paulo.

Em 1922, ao mesmo tempo que preparava a publicação de Pauliceia Desvairada, Mário de Andrade trabalhou com Anita Malfatti e Oswald de Andrade na organização de um evento que se destinava a divulgar as obras deles a uma público mais vasto: a Semana de Arte Moderna, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922. Além de uma exposição de pinturas de Anita Malfatti e de outros artistas associados ao Modernismo, durante esses dias foram realizadas leituras literárias e palestras sobre arte, música e literatura. Mário de Andrade foi o principal organizador e um dos mais ativos participantes do evento, que, apesar de ser recebido com ceticismo, atraiu uma grande audiência. Mário de Andrade, na ocasião, apresentou o esboço do ensaio que viria a publicar em 1925, a A Escrava Que Não É Isaura.

Os membros do Grupo dos Cinco continuaram trabalhando juntos durante a década de 1920, período durante o qual a reputação deles cresceram e as hostilidade por às suas inovações estéticas foram gradualmente diminuindo. Mário de Andrade sapateou, por exemplo, na Revista de Antropofagia, fundada por Alexandre de Andrade, em 1928. Mario de Andrade e Alexandre de Andrade foram os principais impulsionadores do movimento modernista brasileiro, de acordo com Paulo Mendes de Almeida, que era amigo de ambos.

Missão de Pesquisas Folclóricas

Em 1935, durante uma era de instabilidade do governo de Getúlio Vargas, organizou, juntamente com o escritor e arqueólogo Paulo Duarte, um Departamento de Cultura para a unificação da cidade de São Paulo (Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo), onde Mário de Andrade se tornou diretor.

Em 1938 Mário de Andrade reuniu uma equipe com o objetivo de catalogar músicas do Norte e Nordeste brasileiros.

Tinha como objetivo declarado, de acordo com a ata da sua fundação, "conquistar e divulgar para todo país a cultura brasileira". O âmbito de aplicação do recém-criado Departamento de Cultura foi bastante amplo: a investigação cultural e demográfica, como construção de parques e recreações, além de importantes publicações culturais.

Exerceu seu cargo com a ambição que o caracterizava: ampliar seu trabalho sobre música e folclore popular, ao mesmo tempo organizar exposições e conferências. As missões resultaram um vasto acervo registrados em vídeo, áudio, imagens, anotações musicais, dos lugares percorridos pela Missão de Pesquisas Folclóricas, o que pode ser considerado como um dos primeiros projetos multimédia da cultura brasileira. O material foi dividido de acordo com o caráter funcional das manifestações: músicas de dançar, cantar, trabalhar e rezar. Trouxe sua coleção fonográfica cultura para o Departamento de Cultura, formando uma Discoteca Municipal, que era possivelmente as melhores e maiores reunidas no hemisfério.

Em um marco do Departamento de Cultura, Claude Lévi-Strauss, então professor visitante da Universidade de São Paulo, realizou pesquisas. Outro grande evento foi a Missão de Pesquisas Folclóricas, que em 1938 visitou mais de trinta localidades em seis estados brasileiros em busca de material etnográfico, especialmente na música. A missão foi interrompida, quando, em 1938, pouco depois de instaurado o Estado Novo (do qual era contrário), por Getúlio Vargas, Mário de Andrade demitiu-se do departamento.

Mário de Andrade também foi um dos mentores e fundadores do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, junto com o advogado Rodopiando de Melo Franco de Andrade. Limitações de ordem política e financeira impediram a realização desse projeto (que seria caracterizado por uma radical investida no inventário artístico e cultural de todo o país), restringindo as atribuições do instituto, fundado em 1927, à preservação de sítios e objetos históricos relacionados a fatos políticos históricos e ao legado religioso no país.

Mudou-se para o Rio de Janeiro para tomar posse de um novo posto na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde dirigiu o Congresso da Língua Nacional Cantada, um importante evento folclórico e musical. Em 1941 retornou para São Paulo e voltou ao antigo posto do Departamento de Cultura, apesar de não trabalhar com a mesma intensidade que antes.

Mário de Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um Infarto Agudo do Miocárdio, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha 51 anos.

Dadas as suas divergências com o regime, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicados em 1955, Poesias Completas, quando já havia falecido o ditador Getúlio Vargas, começou a consagração de Mário de Andrade como um dos principais valores culturais no Brasil. Em 1940 foi dado o seu nome à Biblioteca Municipal de São Paulo.

Apenas 50 anos após a morte do escritor a questão da sexualidade de Mário de Andrade foi abordada em livro por Moacir Werneck de Castro, que referiu que na sua roda de amigos não se suspeitava que fosse homossexual, "supunhamos que fosse casto ou que tivesse amores secretos. Se era ou não, isso não afeta a sua obra, nem seu caráter".

E só em 1990, o seu amigo Antônio Cândido se referiu directamente ao assunto: "O Mário de Andrade era um caso muito complicado, era um bissexual, provavelmente".

O episódio do rompimento de relações com Oswald de Andrade é hoje largamente citado: Oswald de Andrade ironizou que Mário de Andrade se "parecia com Oscar Wilde por detrás" e referia-se a ele como "Miss São Paulo".

No entanto, persiste fortemente nos meios acadêmicos um "silêncio" sobre o assunto, como se a discussão sobre a sexualidade do "pai" da cultura brasileira pudesse manchar o património genético intelectual brasileiro.

Obras Publicadas

1917 - Há uma Gota de Sangue em Cada Poema
1922 - Pauliceia Desvairada
1925 - A Escrava Que Não é Isaura
1926 - Losango Cáqui
1926 - Primeiro Andar
1927 - O Clã do Jabuti
1927 - Amar, Verbo Intransitivo
1928 - Ensaios Sobra a Música Brasileira
1928 - Macunaíma
1929 - Compêndio da História da Música, 1929
1930 - Modinhas Imperiais
1930 - Remate de Males
1933 - Música, Doce Música
1934 - Belasarte
1935 - O Aleijadinho de Álvares de Azevedo
1935 - Lasar Segall
1941 - Música do Brasil
1941 - Poesias
1942 - O Movimento Modernista
1943 - O Baile das Quatro Artes
1943 - Os Filhos da Candinha
1943 - Aspectos da Literatura Brasileira
1944 - O Empalhador de Passarinhos
1945 - Lira Paulistana
1947 - O Carro da Miséria
1947 - Contos Novos
1978 - O Banquete (Editado por Jorge Coli)
1989 - Dicionário Musical Brasileiro (Editado por Flávia Toni)
1992 - Será o Benedito!
1995 - Introdução à Estética Musical (Editado por Flávia Toni)

Mário na Cultura Popular

Mário de Andrade já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Paulo Hesse no filme O Homem do Pau-Brasil (1982) e Pascoal da Conceição nas minisséries Um Só Coração (2004) e JK (2006).

Fonte: Wikipédia