Mostrando postagens com marcador Figura Folclórica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Figura Folclórica. Mostrar todas as postagens

Santa Dica

BENEDICTA CYPRIANO GOMES
(61 anos)
Figura Folclórica, Curandeira e Profetisa

☼ Fazenda Mozondó, a 40 km de Pirenópolis, GO (13/04/1909)
┼ Goiânia, GO (09/11/1970)

À mulher sempre foi destinado um papel social com valores visivelmente inferiores aos papéis desempenhados pelo homem. As mulheres possuem alguns relativos avanços, embora sejam, ainda, portadoras de uma bagagem construída à sombra do machismo e do patriarcalismo.

Sob essa égide, destaca-se a mítica figura de Santa Dica, mulher de vanguarda, a serviço do messianismo e do povo humilde de Goiás no início do século XX.

Benedicta Cypriano Gomes, a Dica, nasceu em 13/04/1909 na Fazenda Mozondó, a 40 km de Pirenópolis, no Estado de Goiás. Por volta dos 7 anos de idade, caiu gravemente enferma, chegando a ser considerada morta, pois não possuía os sinais vitais.

Durante a preparação do corpo para apresentação ao velório, familiares perceberam que Dica suava frio. Por receio de que fosse enterrada viva, o velório foi alongado, e o enterro suspenso. Muito choro contínuo e, após três longos e penosos dias, Dica ressurgiu da morte.

A residência de Santa Dica
Desperta do torpor mortal, a menina tornou-se possuidora de sabedorias secretas e de intimidades com o outro lado da vida, transformando-se em curandeira e, posteriormente, em profetisa. Seus feitos tinham a força de verdadeiros milagres.

A notícia correu pelos confins goianos e se espalhou pela região como isca de fogo em tempo de seca. Para os nativos, suas curas, profecias e milagres eram mesmo obra de Santa. Não tardaram a chegar fervorosos romeiros, gente roceira humilde, doentes desenganados, em busca das graças de Santa Dica.

De seus milagres à atuação política foi consequência natural. A mocinha Dica se indignava com a vida sofrida dos que estavam perto dela e, num ato de extrema lucidez política, comandou uma legião de oprimidos pelo sistema de governo, na tentativa de livrar seu povo que era massacrado, escravizado e sujeito às vontades oligárquicas das famílias endinheiradas patriarcais.

Seu chamado à luta deu-se pelas palavras da fé. Essa foi sua rebelião ao sistema. Santa Dica era acompanhada com fidelidade e devoção. Os sofridos vinham, se acampavam em torno de sua casa e, ali, foi nascendo um povoado.

Rio do Peixe, rebatizado por Santa Dica de Rio Jordão
De forma totalmente igualitária, a iluminada implantou um sistema comunitário de uso da terra e do dinheiro entre seu séquito. Para Dica, a terra era bem doado pelo Criador aos habitantes do planeta. Não conseguia entender cercas e arames farpados a impedir seu povo de desfrutar e cuidar do que era seu, por direito Divino.

Santa Dica possuía posses e não era pobre, mas o desejo de justiça e igualdade social eram temas recorrentes em suas pregações. Sua fazenda foi o primeiro cenário de compartilhamento de recursos, bens, oferendas e colheitas. Assim prosseguia, fazendo curas, milagres, rezando suas orações, ocupando lugar de Conselheira do pequeno povoado e pregando a valorização da mulher, a não violência, a justa distribuição de bens, e cultuando o coletivismo.

Com essas ações religiosas e de caráter político-social chegou a reunir uma legião de 15 mil almas, havendo em suas fileiras cerca de 1,5 mil homens trabalhadores acostumados com o uso das armas para suas atividades diárias de caça. Também estavam reunidos mais de 4 mil eleitores em torno dela. Essa soma foi o bastante para incomodar os coronéis goianos.


A fama de Santa Dica se alastrou, os fiéis se multiplicaram. Não demorou que percebessem que Santa Dica encarnava a reprodução do episódio de Canudos. Perigo certeiro, nas mãos de uma mulher forte de espírito e de corpo franzino. Dos latifúndios fugiam os subjugados, ditos "diqueiros". A imprensa local e do vizinho Estado de Minas Gerais, inclusive com atuação do clero, cobrava providências governamentais contra os "fanáticos".

Santa Dica foi além no empoderamento do feminino e na promoção de igualdade de gêneros e classes. Para reforçar sua liderança popular e política editou um jornal manuscrito: "A Estrela do Jordão Órgão dos Anjos, da Corte de Santa Dica". A líder criou em suas fileiras várias frentes, inclusive a de alfabetização, para que todos tivessem acesso aos documentos escritos.

E veio a represália. De um lado o exército "pé de palha", tática usada pela Iluminada para que seus seguidores aprendessem a marchar. De forma que era amarrada uma palha no pé esquerdo do seu soldado para acompanhar o ritmo direito-esquerdo peculiar das tropas.

Os adoradores da Santa Dica, armados, juravam protegê-la contra qualquer tentativa de prisão. As autoridades de Pirenópolis com a polícia municipal se declaram impotentes contra os diqueiros. Restou ao Governo Estadual, em março de 1925, mandar um destacamento, sitiar o local e prender Santa Dica. Um mínimo seria o suficiente para o massacre. Quando um tio de Dica atirou contra os policiais choveram projéteis de metralhadoras sobre as palhoças e o sítio de Dica.


Pela "boca do povo" diziam que as balas iam de encontro à Dica, enrolavam em seus cabelos, ou batiam em seu corpo, e caiam pelo chão. Tanto que houve apenas três mortes. Santa Dica ordenou a todos que atravessassem o rio Jordão, que passa por trás de sua casa, para fugir do massacre. Santa Dica foi resgatada por um de seus fiéis, puxada do rio pelos cabelos e acabou sendo presa. Dizem na tradição oral que Santa Dica neste episódio amarrou uma sucuri no poção, ao fundo de sua casa, para que os soldados não pudessem atravessar o rio. Até hoje a população de Lagolândia acredita e não nada naquele local com medo da sucuri da Santa Dica.

A Prisão de Santa Dica durou 6 meses. Pressionados pela população e sem provas criminatórias o governo acabou cedendo e liberou-a. A partir daí Santa Dica ingressou na política, seus seguidores votavam em quem ela mandasse. Formou exército e foi patenteada com a insígnia de cabo do Exército brasileiro. Comandava tropa de 400 homens, que ficaram sendo conhecidos como "pés com palha e pés sem palha", pelo motivo de que sendo a tropa integrada por analfabetos, confundiam esquerda com direita. Dica então usou o estratagema de amarrar um pedaço de palha em um dos pés para poder ensinar-lhes a marchar.

Guerra da Santa Dica

Cerca de 500 famílias, segundo uma série de depoimentos, viviam ao redor da Casa da Cura, onde Santa Dica vivia, na Lagoa, povoado às margens do Rio do Peixe, rebatizado por ela de Rio Jordão. Era o centro das festas do Divino e de São João, tradições do período colonial nos sertões goianos, promovidas por Santa Dica, que inovava com ritos e símbolos de uma nova religião. Autoridades começaram a questionar os riscos sanitários de um lugar sem condições para atender a população que chegava para as festas.

Diante das reações contrárias de padres e coronéis da região, Santa Dica colocou seu exército à disposição da oligarquia estadual de Totó Caiado, aliado do Palácio do Catete desde 1912, para engrossar, em 1924, a resistência à Coluna Prestes na cidade de Goiás, a 167 quilômetros de Pirenópolis. O Exército dos Anjos não chegou a enfrentar os tenentistas, mas voltou para o vilarejo da Lagoa mais influente.

Em reação, a Igreja Católica publicou em seus jornais que Santa Dica era "prostituta", "histérica" e "tresloucada". As romarias de sertanejos para vê-la tinham reduzido o número de devotos da Festa do Divino Pai Eterno, promovida pelos padres em Trindade.

O jornal Santuário de Trindade defendeu a destruição do reduto de Santa Dica: "Já se viu tamanha asneira! É o caso para a polícia intervir se não quiser uma repetição de Canudos!"

Outro periódico, O Democrata, bancado pelos coronéis, chamou Santa Dica de "Lenine do sexo diferente" e "Antônio Conselheiro de saias", acusando-a de charlatanismo e prática ilegal da medicina: "Canudos é de ontem, e nós sabemos o que foi Canudos!", advertiu o periódico.

Em 1928 casou com o jornalista carioca Mário Mendes, eleito prefeito de Pirenópolis em 1934, e tiveram cinco filhos e adotaram mais dois.

O exército dos "pés com palha e pés sem palha" participou da Revolução Constitucionalista de 1932 indo guerrear, com 150 homens, em São Paulo de onde voltou sem nenhuma baixa, resultado atribuído aos milagres da santa. Episódio famoso foi quando seu exército precisava passar pela ponte de Jaraguá, em São Paulo. A ponte estava minada e Santa Dica mandou que um de seu soldados a atravessasse de olhos vendados, fato concluído sem detonar nenhuma bomba. E assim foi com a tropa toda que vendados um a um transpuseram a ponte, que veio a ruir após passar o último soldado. Também teve Santa Dica enfrentado a Coluna Prestes. Com uma tropa de 400 homens impediu que a Coluna ingressasse no Triângulo Mineiro.

Morte

Santa Dica faleceu no dia 09/11/1970, em Goiânia, sendo sepultada, de acordo com seu desejo, debaixo da frondosa gameleira da sua casa em Lagolândia, distrito do município de Pirenópolis, no Estado de Goiás. A velha gameleira, que protegeu seu povo durante o ataque militar de 1925

Foi velada por sua legião por três dias, em ato de profundo amor e devoção à linda moça da Fazenda Mozondó, que foi guerreira e santa. Pilar na valorização dos direitos humanos em Goiás, na representação do feminismo e no empoderamento da mulher.

Lagolândia, hoje, é um povoado do município de Pirenópolis, GO, com algumas centenas de habitantes e muitas casas, que rodeiam uma bela praça onde o busto de Santa Dica lidera o espaço dividido entre bancos, flores, imagens de Nossa Senhora e o sepulcro sombreado da Santa. Em sua antiga casa descendentes mantêm um visitado altar dedicado à Santa e todo o povoado vive à sua memória.

Fonte: Xapuri SocioambientalEstadão e Projeto Foto Estrada
#FamososQuePartiram #SantaDica

Seu Lunga

JOAQUIM DOS SANTOS RODRIGUES
(87 anos)
Sucateiro e Figura Folclórica Nordestina

* Caririaçu, CE (18/08/1927)
+ Barbalha, CE (22/11/2014)

Joaquim dos Santos Rodrigues foi um poeta, repentista e vendedor de sucata, ao qual são atribuídas diversas piadas sobre seu temperamento, criando um personagem do folclore nordestino. Seu Lunga é conhecido pela falta de paciência nas respostas.

Seu Lunga é apenas o apelido de Joaquim dos Santos Rodrigues. As piadas sobre ele escondem atrás da personagem o homem real, nascido em Caririaçu, fronteira norte de Juazeiro, em 18/08/1928. Viveu a infância com os pais e mais sete irmãos, "no meio dos matos" , afastado da cidade. O apelido lhe acompanha desde esta época, quando uma vizinha de sua família, que ele só identifica como Preta Velha, começou a lhe chamar de Calunga, que virou Lunga e pegou.

Começou a trabalhar na roça aos oito anos de idade, e admirava a criação rígida que teve de seu pai, o que marca um aspecto psicossocial do homem Lunga. Sobre a educação recebida, Lunga responde:

"Uma educação desses pais de família sérios, homem de responsabilidade, homem de caráter, homem de palavra, homem de respeito."

Lunga deixa sua postura um tanto desinteressada da conversa, para deixar transparecer sua admiração pelo pai.

Da infância traz poucas lembranças, como as brincadeiras com os colegas, que eram seus próprios irmãos. Entre os irmãos dominava a determinação do pai de que os mais novos deveriam obedecer aos mais velhos. Há também as lembranças das poucas idas à cidade, acompanhando o pai que ia vender ou comprar algo. Foi assim até aos 16 anos, quando se mudou para o Juazeiro do Norte.

A mudança para o Juazeiro do Norte se deu depois que Lunga caiu em uma cacimba e adoeceu, impedindo-o de trabalhar na roça com o pai. Lá ele aprendeu a arte de ourives, e viveu disso por dois anos. Foi nesse período que Seu Lunga aprendeu a negociar no Mercado Público da cidade, passando depois a trabalhar no comércio com sua loja de sucata que vendia de tudo, desde aparelhos de televisão a frutas. Ele era considerado pela população como uma lenda viva.

A determinação de Seu Lunga que o fez ir para a cidade, morar longe da família e conseguir sobreviver fazendo o que nunca tinha feito antes, também se mostrou quando pediu a prima em casamento.


Sem nunca terem namorado, Lunga deu a ela três dias para pensar se queria ou não casar-se com ele. Terminado o prazo, ela aceitou o pedido, e só não se casaram no dia seguinte, porque o pai da moça não deixou. O namoro então durou uns dois ou três meses.

Casado desde 1951, Seu Lunga foi pai de treze filhos, mas se ressentia de não ter podido lhes dar uma educação mais rígida, pois sua esposa "é contra se castigar um filho". Apesar disso, ele se orgulhava de todos eles, com exceção de um, terem estudado e se formado em alguma profissão (nenhum com nível superior, entretanto), ao contrário dele mesmo, que foi às aulas por apenas dois meses.

O pai Lunga refletia a rigidez do homem que deu origem a toda a construção do personagem pouco flexível, mas ao mesmo tempo deixa transparecer o orgulho comum a todos os pais: oferecer boa educação aos filhos. É interessante também notar como a realidade interiorana de Lunga influenciava em sua avaliação da educação de seus filhos. Ao dizer que quase todos os filhos eram formados, ele disszia que nenhum, entretanto, tinha "formatura alta", referindo-se à formação de nível superior.

Ora, em sua vivência, a formação acadêmica é um contexto distante, dispensável para seu estilo de vida. A pouca instrução de Seu Lunga, por outro lado, não o impedia de discorrer sobre assuntos como política, cultura, religião, nem o impediu também de candidatar-se a vereador da cidade de Juazeiro do Norte em 1988, eleição que não ganhou porque, segundo ele, teve seus votos roubados.

Além do comércio, Seu Lunga era dono de um sítio onde criava gados e plantava frutas que levava para vender em sua loja. Homem sem grandes paixões, ele se considerava "temperado". Religioso, ele se declarava devoto do Padre Cícero, o que é uma marca também da cearensidade de Seu Lunga.

Apesar disso, ele não era frequentador assíduo das missas, pois pensava que religião não era ir a uma igreja ou participar de romaria, mas ajudar àquele "que bate na porta". Em tudo isso Seu Lunga se achava feliz.

A rigidez de Seu Lunga o fazia repudiar a construção de seu personagem, pois o homem se sentia tremendamente injustiçado com as estórias que ele dizia serem inventadas. E se tem um tema que Seu Lunga sempre trazia à tona em seu discurso, era a justiça. Seu Lunga não podia perceber aqui a separação entre a construção cultural, o objeto imaginado e abstraído da realidade e a realidade em si. O homem toma o personagem como ofensa pessoal, e isso também fala de sua formação cultural e de seu caráter.

O Homem Mais Zangado do Mundo
O Personagem Seu Lunga

A fama da rudeza do Seu Lunga, "o homem mais zangado do mundo", corre o Ceará de norte a sul, nas historietas engraçadas contadas nas mesas de bar, nas rodas de amigos, nos ônibus, nos versos do cordelista.

O único que não ri dessas piadas é Seu Lunga. Para ele, o que andam contando a seu respeito é invencionice. Mas ao mesmo tempo que ele negava a veracidade das histórias, reconhecia uma origem para elas. É que ele "não fazia por menos", isto é, se perguntou errado, tem a resposta que merece. Essa era sua grande queixa com relação aos brasileiros e seu principal discurso regular, isto é, aqui e ali ele retornava a essa argumentação. É como se ele quisesse se justificar de sua grosseria.

Ele citava vários exemplos de como isso acontecia:

Um cliente entra na loja e pergunta sobre um ventilador desligado: "Está funcionando?". Indignado Seu Lunga devolve: "Como é que ele pode estar funcionando se não está ligado?". Segundo ele, essas e outras respostas a colocações mal feitas é que lhe deram a fama de ignorante.

Havia, contudo, na fala de Seu Lunga uma contradição nítida. Em alguns pontos ele reconhecia um fundo de verdade nos comentários sobre ele. Em outros, ele acha inadmissível o fato de alguém ter escrito o que ele considerava inverdades a seu respeito. Seu desgosto com os cordéis e as piadas talvez fosse esperado, mas é que sua defesa era tão acirrada, que às vezes fazia pensar que o cordelista falava dele algo que ele absolutamente não era.

Esse era um mote para uma discussão interessante: Abraão Batista (o cordelista) pode receber todas as acusações feitas da parte de Seu Lunga, pois na verdade ele conta estórias de que ouviu falar, mas que não tem nenhuma confirmação já que ele nem sequer conhece Seu Lunga. Por outro lado, ele se junta ao grupo dos que constroem o personagem Seu Lunga cada vez que uma história sobre ele é recontada, aumentada, ou até mesmo inventada.

Abraão Batista reconhece que o personagem de seus cordéis é uma construção sua, ao afirmar que se Lunga hoje é um atrativo turístico de Juazeiro do Norte, isso é devido ao cordel. É claro que a fama de Seu Lunga não é resultado da composição dos cordéis. Mas é importante notar que o processo de construção "inventada" realmente existe, isto é, o comerciante Seu Lunga virou o atrativo turístico Seu Lunga. Ele não nasceu o Seu Lunga que conhecemos hoje, ele é uma construção cultural.

Em 2008 deu entrevista ao jornal O Povo informando que todas histórias contadas em cordéis eram mentiras. Por uma ação judicial os cordelistas da região ficam proibidos de escreverem sobre sua pessoa.

Com a explosão das redes sociais, a popularidade de Seu Lunga explodiu nos últimos anos com sites oficiais que lembram das suas clássicas frases, e até com comunidades exclusivas dedicadas a figura do celebre cearense.

Morte

Seu Lunga morreu às 9:30 hs da manhã de sábado, 22/11/2014, na cidade de Barbalha, no interior do Ceará. Seu Lunga foi internado na quarta-feira, 19/11/2014, por complicações no sistema digestivo. O quadro piorou na sexta-feira, levando ao seu falecimento.

Seu Lunga tinha 87 anos e estava internado no Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha, onde tratava de um câncer de esôfago.

De acordo com Demontier Tenório, primo em segundo grau de Seu Lunga, há cerca de seis meses ele foi submetido a uma cirurgia no esôfago, mas se recuperava bem.

Causos e Piadas de Seu Lunga

Seu Lunga era o cabra mais ignorante do mundo. Ele não tinha muita paciência com nada. No Nordeste, sua fama se espalhou devido a histórias como essas: 

"Lunga estava tirando goteiras, defeitos das telhas de sua casa, um curioso passou e perguntou: Tá tirando as goteiras seu Lunga? Ele responde: Tô não, tô é fazendo - e ai saiu feito louco a quebrar as telhas."
"Certa vez, dando uma surra em um dos seus filhos quando ainda pequeno, o menino gritava: Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de deus, tá bom! Lunga responde: Tá bom? Que legal! Pois quando tiver ruim diga que eu paro."
"No seu comércio de sucata, ele também vendia outros produtos dependendo da ocasião. Uma vez tinha uma saca de arroz e um romeiro perguntou: Seu Lunga como tá o arroz? Ele respondeu: Tá cru!"
"Seu Lunga entrando em uma loja:
- Tem veneno pra rato?
- Tem! Vai levar? - Pergunta o balconista.
- Não, vou trazer os ratos pra comer aqui!!! - responde seu Lunga."
 "O Seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta:
- Motorista, esse ônibus vai para a praia?
E o Seu Lunga responde:
- Se você conseguir um biquini que dê nele..."
"O Seu Lunga estava em casa e resolveu tomar um café:
- Mulher! Traz um café!
- É pra trazer na xícara?
- Não! Joga no chão e traz com o rodo!"
"O funcionário do banco veio avisar:
- Seu Lunga, a promissória venceu.
- Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória."
"Um sujeito foi até a loja do Seu Lunga e pediu uma porca de determinado tamanho, seu Lunga respondeu:
- Procure naquela caixa.
E o sujeito começou a procurar e no meio de tantas peças nada de conseguir achar a porca. Então exausto falou para Seu Lunga:
- Seu Lunga, não consegui achar a porca.
Indignado, Seu Lunga foi até a caixa, procurou a tal porca e a achou, então virou-se para o rapaz e respondeu:
- Eu não te disse que a porca tava aqui fi duma égua!
E jogando a porca novamente na caixa e misturando com as outras peças diz:
- Agora procura de novo direito que você acha!"
"O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia Seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta:
- Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho?
Seu Lunga aponta e diz:
- É aquele ali...
- Aquele qual?
- Aquele ali!
- Não tô vendo...
Então Seu Lunga puto da vida pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz:
- É aquele ali que começou a chorar!"
"Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à marinha para a entrevista:
- Você sabe nadar? Pergunta o oficial.
- Sei não senhor.
- Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à marinha?
- Quer dizer que se eu fosse pra aeronáutica, tinha que saber voar!"
"Entra um sujeito na sucata de Seu Lunga, escolhe um relógio um pouco velho e pergunta:
- Seu Lunga, esse relógio presta pra tomar banho?
- Eu prefiro um sabonete – Responde Seu Lunga."
"Um conhecido de Lunga pergunta:
- Olá Seu Lunga, como anda?
Seu Lunga responde sem olhar pra pessoa:
- Com as pernas não aprendi a voar ainda."

Fonte: O Povo  e Cultura Nordestina - (Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação Social e Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará - Ester de Carvalho Lindoso)
Indicação: Roner Marcelo 

Jaiminho

JAIME DIAS SABINO
(84 anos)
Funcionário Público, Papagaio de Pirata e Figura Folclórica

* Feira de Santana, BA (1929)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/10/2013)

Nascido em 1929, em Feira de Santana, na Bahia, ele veio para o Rio de Janeiro sozinho, no navio Comandante Capela, aos 7 anos, fugido dos castigos que lhe eram aplicados na escola. Desde essa época o baixinho de 1,56 cm já usava terno e gravata, e foi assim durante toda a vida, chegando a colecionar mais de 200 ternos e 300 gravatas, figurino que servia inclusive para ir à praia, e para dormir. Logo que chegou ao então Distrito Federal, trabalhou como carregador de frutas na feira, pedreiro, porteiro, ator em mais de 40 filmes, entre eles "O Assalto Ao Trem Pagador", de Roberto Farias, e "Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos. Ele também foi estrela de fotonovelas. A de maior sucesso na revista Sétimo Céu, onde interpretou o irmão de Cauby Peixoto.

No dia a dia, pegava no batente como assessor da prefeitura de Nilópolis, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Mas quando morria alguém, seja um anônimo das redondezas, seja um famoso Brasil afora, Jaiminho se apressava para saber hora e local dos préstimos fúnebres e era presença certa.


Jaime Dias Sabino dormia de terno, gravata, banho tomado e barba feita. Pronto para o próprio enterro. "Se eu não abrir mais os olhos, é só me colocar no caixão que eu vou embora", dizia.

De terno e gravata, ele chegava com seu 1,60m dando os pêsames e, sem ninguém se dar conta, de repente está carregando o caixão. Assim fez com Chacrinha, Daniella Perez, Tancredo Neves, OscaritoCazuza, Nelson Gonçalves, Tim Maia, Irmã Dulce. O objetivo era um só: Aparecer.

Jaime Dias Sabino dedicou a vida a monitorar onde estariam as câmeras de jornais e TVs para tirar uma casquinha. Em sua casa, no Rocha, coleciona mais de 300 mil aparições. O mais famoso papagaio de pirata carioca aparece nas imagens atrás da Xuxa, ao lado da Angélica, dando abraço em Itamar Franco, em treino de futebol, em matéria de tragédia.

Desde o primeiro funeral, o do presidente Getúlio Vargas em 1954, foram mais de 1.153 sepultamentos na lista. Entre os que contaram com sua extrema-unção, ele destaca Chacrinha, Cazuza, Tom Jobim, Luís Carlos Prestes, Dina Sfat, João Saldanha, Roberto Marinho, Austregésilo de Athayde e os ex-presidentes militares Ernesto Geisel, Emílio Garrastazu Médici e João Figueiredo.

Despedida de Castelo Branco
Sobre participar de velórios, Jaiminho disse: "Vi que era bom, me sinto orgulhoso de prestigiar alguém importante. Se não vou lá e não seguro o caixão, fico triste", justifica. Funcionário da Prefeitura de Nilópolis desde 1964, alega representar a cidade quando chega nos velórios.

O arroz de velório acotovela-se até ficar tête-à-tête com o finado e conseguir dar os pêsames ao pé do ouvido da família. Mais do que isso, fazia questão de segurar a alça do caixão, até a sepultura. "Gosto de sentir o peso do morto!". Segundo Jaiminho, a ausência na partida dos pais alimentou o desejo de ver como era um funeral, como uma pessoa desaparecia debaixo da terra. "Quando papai e mamãe morreram, lá na Bahia, eu já morava aqui no Rio de Janeiro e não consegui dinheiro para ir".

Para se despedir de Irmã Dulce, no entanto, foi patrocinado. "Um cara, que eu não posso dizer quem é, disse que me pagaria a passagem caso eu chegasse perto do corpo e rezasse por ele". Não deu outra. Apesar da baixa estatura, Jaiminho venceu a multidão e conseguiu dizer adeus pessoalmente à religiosa morta em 1992. Ele lamentava, no entanto, não ter ido ao enterro de Ayrton Senna. "Estava com a passagem para São Paulo comprada!". Mas com a morte de seu filho, dias antes, foi proibido pela mulher de viajar. "Ela me trancou no quarto e disse que se eu fosse o casamento acabava!".

Despedida de Betinho
As aventuras de Jaiminho pelos cemitérios lhe renderam o apelido de Caveirinha e viraram um museu sobre ele mesmo. Nas paredes de um salão anexo a sua casa, ele colou milhares de fotografias para mostrar sua história. "É também a história do país, porque cada pessoa que morre é um pedaço do Brasil que vai embora", filosofava.

E Jaiminho coleciona causos. O fato mais inusitado que ele já vivenciou em sepultamentos foi o da atriz Dina Sfat, em 1989, quando caiu dentro da sepultura, junto com o então governador Marcello Alencar. "Segura o baixinho e o governador!", foi o que gritaram os presentes no velório, como conta Jaiminho. "Aquela foi a pior cena que vivi. O governador achou que eu o tinha empurrado", lembrou.

O mesmo episódio se repetiu anos depois. Desta vez foi no enterro do ator Jorge Lafond, quando ele e seu companheiro, Nil Ramos, conhecido como "Homem Celular", subiram em um túmulo, o qual acabou quebrando e os dois indo parar dentro da cova. A partir daí, a confusão se estabeleceu. As pessoas começaram a jogar terra nos penetras e a situação foi motivo de muitas risadas.

No do ex-presidente Castelo Branco, Jaiminho pegou no caixão errado.

Despedida do jogador Didi
Além de adorar aparecer em reportagens, também teve faceta como ator. Estrelou mais de 40 filmes e fotonovelas. Em 2010, concorreu a deputado estadual, tendo como bandeira a regulamentação da profissão de Papagaio de Pirata. Junto com outros papagaios de pirata, fundou o clandestino Sindicato dos Papagaios de Pirata, do qual era presidente.

O aposentado também fundou o Museu Histórico dos Papagaios de Pirata, em um galpão, no bairro do Rocha, Zona Norte do Rio, com um arquivo de 20 mil fotos, que destacam os mais de 50 anos dedicados à arte de aparecer na imprensa, sem ser convidado.

Segundo Jaiminho, suas aparições passaram de 135 mil, entre filmes, jornais e fotografias. Só em filmes, o papagaio contabiliza 40 participações. Na TV, já participou três vezes do programa do Jô Soares.

No velório de Oscar Niemeyer, bateu a marca de 1.153 funerais e aproveitou a oportunidade para gravar cenas do documentário "Aqui Jaz Jaiminho", de Alex Teixeira. Na ocasião, recriou o episódio do primeiro enterro de celebridade da sua vida, o de Getúlio Vargas, em 1954. O documentário será lançado em 2014 e vem sendo produzido desde 2007. Ele conta a saga do mais ilustre papagaio de pirata do Brasil.

Jaiminho sonhava alto com o dia de seu velório. "Se Deus quiser, vai ser na Câmara dos Vereadores de Nilópolis, com mais de 20 mil pessoas. Minha família, os amigos, o governador, o prefeito, o presidente da Beija-Flor, o Cauby Peixoto e a Ivete Sangalo. Sou louco por essa baiana!".

"Imagina se esse povo todo de quem eu carreguei caixão aparecesse para carregar o meu?"


Morte

Jaiminho morreu, na quinta-feira, 24/10/2013, no Rio de Janeiro, aos 87 anos, em consequência de um infarto. Segundo a filha, Regina de Sabino, ele estava internado há 45 dias em um hospital de Ipanema, chegou a ser operado para a colocação de stents, mas não resistiu a uma uma infecção.

Jaiminho era viúvo e deixou dois filhos, quatro netos e dois bisnetos. Ele foi enterrado na sexta-feira, 25/10/2013, às 15:00 hs, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária.


A Mulher de Roxo

FLORINDA SANTOS
(80 anos)
Figura Folclórica

* Salvador, BA (1917)
+ Salvador, BA (1997)

Sempre de roxo, com roupas que lembravam o hábito usado pelas freiras, ela costumava perambular e dormir pela Rua Chile e imediações, na cidade de Salvador, BA. Teria nascido em 1917 e morrido em 1997, aos 80 anos. Dizem que foi moça instruída, de boa família e que teria enlouquecido por causa de uma grande desilusão amorosa. O final da vida da Mulher de Roxo foi triste, assim como a sua imagem em vida, marcada pelo abandono de todas as coisas.

A história de Florinda Santos, a conhecida Mulher de Roxo, se transformou numa lenda urbana, uma figura mitológica conhecida por todos da localidade de Salvador. Não importava se o dia era de chuva ou de sol, ela nunca faltava. Era só as portas do comércio da Rua Chile abrirem e Dona Florinda já se encaminhava para a entrada da Sloper. Vestido com roupa de veludo violáceo, iniciava o ritual diário. Andava de um lado para o outro, falava sozinha e sempre pedia dinheiro. Tudo com muita educação. Afinal, dizia-se que a Mulher de Roxo, personagem dos tempos diários do centro da cidade, vinha de boa família.

Andava descalça com longas mantas, um terço e um enorme crucifixo. Tudo isso dava a ela um ar meio santo, meio louco, meio andarilho e meio mendigo. Algumas vezes a dama desfilou com uma roupa de noiva, com direito a buquê, véu e grinalda. Com todos esses componentes cênicos, contraditórios e demasiadamente humanos, a Mulher de Roxo despertou sentimentos em toda a cidade, medo e respeito, pena e carinho.

Qual sua origem? Poucos sabem direito. Uns defendem a tese de que havia perdido a fortuna e enlouquecido; outros apregoavam que teria visto a mãe matar o pai e depois suicidar-se; terceiros garantiam, ainda, que ela perdera a filha de consideração e a casa, na Ladeira da Montanha, numa batalha contra o jogo. Outros ainda contam que ela enlouqueceu porque teria sido abandonada no altar. Em outros depoimentos, aparece como uma bela mulher, a mais cortejada dentre as frequentadoras do chá no final da tarde na Confeitaria Chile e como ex-professora em Paripe. Florinda Santos, que nunca contou a ninguém sua verdadeira história, perambulava com suas vestes roxas, inspiradas nas roupas das suas santas de devoção.

Vestida de freira, circulando livremente pela rua mais badalada de Salvador. A estranha indumentária, que incluía ainda um grande crucifixo, a transformou na Mulher de Roxo, a principal lenda urbana da capital. Foi assim que Florinda Santos, a mendiga que jurava ser rica, passou a ser a personagem lendária, surgida, do nada, em frente à loja Sloper, nos anos 60 do século XX, em Salvador.

Quando se enfeitava, com maquiagem forte no rosto e nos lábios, ela usava o espelho retrovisor dos automóveis estacionados. Como sanitário, servia-lhe qualquer território mais calmo. A Rua Chile era sua verdadeira casa, seu mundo, seu reinado. A intimidade com a rua era tão grande que ela sempre andava descalça. Na fachada da loja Sloper, localizava-se o seu trono de sarjeta. Na Rua Chile, chegava sempre muito cedo, circulava pelo centro e só recolhia o seu saco preto ao meio-dia, quando almoçava. Ao final do dia, voltava, andando, ao albergue noturno da prefeitura, situado na Baixa dos Sapateiros.

Muitas reportagens foram publicadas na época sobre a Mulher de Roxo ou Dama de Roxo. O jornalista Marecos Navarro gravou uma entrevista exclusiva com ela e é um dos raros documentos em que é possível ouvir a voz de Florinda Santos.

Em 1985 o cineasta baiano Robinson Roberto documentou um vídeo em Super 8 em que a Mulher de Roxo diz morar no albergue há três anos, e revela pertencer à família Rainha Princesa. Foi também personagem retratado na Galeota Gratidão do Povo, painel de 160 metros quadrados pintado por Carlos Bastos, que decora o plenário da Assembléia Legislativa.

Ela era tão cinematográfica que até inspirou um personagem do cineasta Glauber Rocha no filme "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" (1969). A moça de manta roxa do filme era baseada na lenda viva da Rua Chile. Ela também inspirou o documentário "A Mulher de Roxo", produzido pelo Pólo de Teledramaturgia da Bahia. O vídeo de 12 minutos, dirigido por Fernando Guerreiro e José Américo Moreira da Silva, mistura documentário e ficção. Haydil Linhares é uma das atrizes que vive Florinda Santos, a Mulher de Roxo.


A personagem lendária da Rua Chile hoje é só lembrança. Se em vida foi famosa ou anônima, rainha ou plebeia, foi uma lenda urbana de Salvador. Enclausurada em si mesma, ninguém conheceu sua verdadeira história, de riqueza ou pobreza, de princesa abandonada no altar ou professora. Talvez ela fosse tudo que sempre queria, uma personagem lendária que sobrevive no imaginário popular. Longa vida para essa dama/santa com sua aura de mistério.

Odetinha

ODETTE VIDAL DE OLIVEIRA
(9 anos)
Santa Popular

* Rio de Janeiro, RJ (15/09/1930)
+ Rio de Janeiro, RJ (25/11/1939)

Odette Vidal de Oliveira, também conhecida como Odetinha ou a Menina Odetinha, nasceu no subúrbio de Madureira, em 1930. Teve vida curta. Apesar de não ter sua santidade reconhecida pela Igreja Católica, a criança vem conquistando devotos à medida que diversos milagres são atribuídos a ela.

Chamada carinhosamente pelos pais de Odetinha, lírio de pureza e caridade, dotada de um amor extraordinário a Jesus Eucarístico, ia à missa com sua mãe. Desde muito pequena, aos quatro anos, já possuía colóquios íntimos com o Senhor Sacramentado.

Tendo se mudado para o bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, fez a sua Primeira Comunhão no Colégio São Marcelo, da Paróquia Imaculada Conceição, ao lado de sua casa, em 15 de agosto de 1937, aos sete anos de idade. Desde então, ao receber a comunhão, dizia: "Oh meu Jesus, vinde agora ao meu coração!". Seu confessor atestou sua fé viva, confiança inabalável, intenso amor a Deus e ao próximo.

Demonstrou profunda caridade para com os pobres e a busca da santidade de forma impressionante e extraordinária para uma criança tão nova. Inserida de fato na causa de promoção dos mais carentes, gostava muito de ajudá-los com obras concretas de misericórdia, e atividades caritativas semanais. Sua mãe fazia uma feijoada aos sábados para os pobres a seu pedido e ela colocava seu avental e servia a todos alegremente.

Irradiou e inspirou uma imensa obra social, assumida com seriedade pelos seus pais, tornando-os grandes apóstolos da caridade por toda sua vida. Estes colaboraram efetivamente com muitos Institutos de Vida Religiosa, salvando alguns da falência, além do trabalho com as meninas órfãs, um pedido de Odetinha, até hoje administrado por religiosas e voluntários.

Sua piedade explica o segredo de todo o bem que realizou com máxima paciência, admirada por todos até o fim. A modéstia e o pudor foram um grande sinal de uma alma pura e boa, nos divertimentos mais inocentes de sua infância. Amava os lírios e rezava o terço diariamente, revelando, assim, sua confiança total em Nossa Senhora. Queixava-se, ainda, pelo fato de São José, que tanto trabalhou e sofreu por Jesus e Nossa Senhora, ser tão pouco honrado.

Nos últimos quarenta e nove dias de sua vida sofreu dolorosa enfermidade - paratifo, suportada com paciência cristã. No leito de dor, dizia: "Eu vos ofereço, ó meu Jesus, todos os meus sofrimentos pelas missões e pelas crianças pobres (Cf. Ef. 5, 1-2)".

No dia de sua morte, ocorrida em 25 de novembro de 1939, Odetinha recebeu a Sagrada Comunhão às 7:30 hs e na ação de graças disse: "Meu Jesus, meu amor, minha vida, meu tudo". Assim, serenamente, às 8:20 hs entregou sua alma inocente a Deus, vítima de febre Tifóide e Meningite.

Seu túmulo situa-se na Quadra 06, nº 850, no Cemitério São João Batista, Botafogo. Até hoje é um dos mais visitados, sobretudo aos sábados e domingos, por inúmeras pessoas que ali acorrem para agradecer benefícios espirituais e temporais que atribuem à sua intercessão junto a Deus. Sua biografia oficial, lançada no ano seguinte de sua morte pelo padre Afonso Maria Germe, causou grande comoção na sociedade carioca.

Eis como Odetinha rezava seu "Tercinho de Amor":

Nas contas pequenas: "Meu Jesus eu vos amo!"
Nas contas grandes: "Quero passar meu céu fazendo bem à terra!"
Nas três últimas contas: "Meu Jesus, abençoai-me, santificai-me, enchei o meu coração de vosso amor"


A Lenda da Menina Santa

Morta aos 9 anos de idade e enterrada em um luxuoso jazigo perpétuo no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, a criança adquiriu fama de milagreira em meados da década de 1970, quando começaram a surgir placas de agradecimento por graças alcançadas. Sua mãe já falecida chamava-se Alice Vidal de Oliveira.

Em volta do seu túmulo, todas as segundas-feiras, durante anos, Dona Idalina rezava o terço com seus devotos. A oração era simples, nas dez pequenas contas falava-se: "Jesus, eu vos amo e, nas maiores, quero passar para o céu fazendo o bem sobre a terra". Ao final, nas três últimas, agradecia-se da seguinte forma: "Meu Jesus, abençoai-nos, santificai-nos e enchei nossos corações com o vosso santo amor e, por fim, porque queremos passar para o céu fazendo o bem sobre a terra."

Fonte: Wikipédia e Santo Protetor
Indicação: Miguel Sampaio

Zé Tatá

JOSÉ VICENTE DE CARVALHO
Empresário da Noite

Não foram localizadas informações sobre data e local de nascimento e falecimento de Zé Tatá

José Vicente de Carvalho  ou simplesmente Zé Tatá, era empresário da noite em Fortaleza, proprietário de diversas casas noturnas que ficaram na crônica e na memória da cidade. Valente, Zé Tatá impunha respeito à sua pessoa e era capaz de resolver qualquer problema no braço. Foi o primeiro homem em Fortaleza a assumir publicamente a sua homossexualidade.

Zé Tatá nasceu em Sobral, CE. Aos 2 anos perdeu o pai, vítima de um acidente. Filho único de mãe viúva, foi criado em Fortaleza, CE, num conjunto habitacional do Exército brasileiro. Sua mãe ganhava uma modesta pensão e tinha que trabalhar como empregada doméstica para criar seu filho. , como era conhecido por seus colegas, estudou no Colégio Marista, onde também ganhou o apelido de Tatá. Dizem que, quando ele ficava nervoso ao ser repreendido pela professora, dizia: "Tá, tá!". Daí virou o Zé Tatá.

A Pensão Ubirajara funcionava na Rua Major Facundo entre as Ruas Senador Alencar e São Paulo, depois  se transferiu para um sobradão antigo com escadaria de madeira. A Boate Tabariz ficava na Rua Pessoa Anta n° 120, onde mantinha música ao vivo. Foi neste estabelecimento que Zé Tatá obteve maior êxito no ramo, pela exuberância do local e pela grande frequência. Depois  o empresário abriu a Pensão Hollywood, na Rua Barão do Rio Branco.

Zé Tatá era uma figura exótica, com aproximadamente dois metros de altura, com quase 120 kg de massa corpórea, traços fisionômicos corretos, prolongada calvície, cor parda, semblante alegre, bem trajado, sem muita afetação,  com sandália quase femininas, mas com roupas adequadas.

Participava ativamente das festas carnavalescas. Durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas. Com seu porte gigantesco, vestido à La Carmem Miranda, ocupava posição de destaque no bloco, recebendo calorosos aplausos de quantos assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorria a Avenida Duque de Caxias e ia até a Avenida Padre Ibiapina.

Na rua o homenzarrão despertava curiosidade de todos,  quando circulava sua figura portentosa pelo centro da cidade,  sem jamais ser importunado com vaias, assobios,  piadas ou pilhérias - uma espécie de marca registrada do centro - isto porque, o homossexual mais assumido da época, tinha também o seu lado macho e quando entrava num entrevero, não levava desvantagem.  Com fama de brigão e de não levar desaforo para casa, Zé Tatá atravessa o quartel general do Ceará moleque - a Praça do Ferreira - sob olhares curiosos e bocas bem fechadas.

Na Boate Tabariz, Zé Tatá era quem abria as festas, rodopiando no salão, escalando para seu par uma dançarina que bem pudesse representar o cabaré. A escolhida era quase sempre uma certa Francisca ou na falta desta, Das Dores ou Clébia. De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e o cabaré se inflamava com as músicas de diversos ritmos.

Um aspecto que era rigorosamente observado pelo proprietário, dizia respeito aos frequentadores dos seus cabarés, que se porventura, com ele cruzasse nas ruas do centro de Fortaleza ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia ou simplesmente acenava com o olhar, num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer o nome e a reputação do cliente.

Mas quem subisse as escadarias de qualquer uma das casas noturnas do temível Zé Tatá, tinha assegurado um tratamento atencioso, um ambiente discreto e seguro e todas as diversões que as noites proporcionavam.

Durante muito tempo foi visto pela cidade, com um cesto de frutas e outras compras que realizava pessoalmente para a última casa de prostituição que manteve na cidade, ali na área do Dragão do Mar, quase debaixo do primeiro viaduto construído em Fortaleza.

O povo apelidou o referido viaduto de Tatazão em sua homenagem, o que teria provocado um enciumado comentário do prefeito que o construiu, Vicente Fialho:

"É isso ai, a gente consegue um melhoramento desse porte para a cidade e o povo presta homenagem ao Zé Tatá..."

Fonte: Fortaleza Em Fotos

Antoninho

ANTÔNIO DA ROCHA MARMO
(12 anos)
Considerado Santo do Povo

* São Paulo, SP (19/10/1918)
+ São Paulo, SP (21/12/1930)

Antoninho foi uma criança católica paulista a quem se atribuía o dom de predizer acontecimentos futuros. Teria inclusive previsto a própria morte. Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser conhecido como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como o Santo do Povo.

Desde pequeno, Antoninho brincava de fazer altares e simular missas, era um grande amigo da mãe e muito inteligente quanto a assuntos polêmicos. Foi considerado um santo pela população de São Paulo, por agraciar os pedidos de curas. Faleceu vítima de tuberculose aos 12 anos. Foi sepultado no Cemitério da Consolação. Seu túmulo está localizado na Quadra 80, Terreno 6, e é constantemente visitado por devotos que lhe pedem auxílio.

Antoninho nasceu numa época tormentosa que ficou assinalada na historia. Enquanto, na Europa,  uma longa batalha que se prolongava há cinco anos e os homens matavam-se uns aos outros, no Brasil a Gripe Espanhola dizimava vidas preciosas, numa pavorosa epidemia, que se transformou em calamidade publica.

O calendário marcava o dia 19 de outubro de 1918. E foi naquela casa assobradada da Rua Bandeirantes, 24, no distrito de Santa Efigênia  que seus pais, os paulistas Pamfilo Marmo e Maria Isabel da Rocha Marmo, o receberam com indizível alegria, completando o batalhão ruidoso dos outros maninhos: Maria da Penha, Nair, Ciro e Wanda.

Em 13 de junho de 1920, dia festivo de Santo Antônio, Antoninho foi levado à pia batismal, na igreja de Santo Antonio do Pari, servindo de padrinho o casal Tolens (Drº Oscar Tolens). Antes, porem, fora batizado, sob condição em perigo de vida, salvo a tempo por um misterioso medico, que não se sabe quem era e que entrara de porta a dentro, sem ser chamado e sem dizer o nome, num desses desígnios inexplicáveis de Deus.

Dali por diante passou ele aos cuidados efetivos da boa e dedicada Mariama, como assim era tratada, na intimidade a empregada.

Com seis meses apenas, quando levado pela ama para passear nas ruas da cidade, Antoninho alegrava-se sobremodo e agitava os bracinhos tenros ao avistar alguma igreja, e, se nela tinha ingresso, transfigurava-se e era tomado de profunda unção ao aproximar-se do altar onde estava a hóstia consagrada. Se acontecia de assistir à benção do padre, procurava ficar de pé e imitava o sacerdote, dando a seu modo a benção aos fiéis com as minusculas mãos. Antoninho era, na verdade, rica alma predestinada.

Antoninho Celebrando uma "Missa"
Predizendo o Futuro

Antoninho, desde muito cedo, revelara vivíssima inteligencia, apreendendo facilmente os principais e mais complexos acontecimentos que se desenrolavam ao seu redor.

Tinha cinco anos quando predisse, com grande surpresa, ante a irmã Maria Vicentina, na Santa Casa de São Paulo, que a velha questão romana, entre o Vaticano e a Itália  teria solução definitiva, obtendo vitoria a Igreja, no reinado do Papa Pio XI. Tal fato aconteceu realmente em 1929. Ao saber do ocorrido, tratou de mandar dizer àquela freira da realidade da sua previsão.

Certa manhã, assistiu à primeira missa do padre Olegário da Silva Barata. Na hora do beija-mão do sacerdote, Antoninho ao aproximar-se do padre, atirou-se-lhe nos braços, num amplexo comovido, chegando a molhar-lhe com lagrimas as vestes paramentais. Em palestra, vaticinou, então, que a morte dele, Antoninho, aconteceria, num coincidir bastante expressivo, no mesmo dia do aniversario do sacerdote, no dia 21 de dezembro, o que realmente aconteceu, nessa data, no ano de 1930.

A maior ambição de Antoninho era abraçar a carreira eclesiástica  E ao indagarem da sua vocação, costumava responder sempre:

"Quero ser padre, mas quero pertencer ao clero secular, pois desejo estar mais em contacto com o povo. E se algum dia chegar a ser vigário saberei cumprir com o meu dever."

O seu passatempo predileto constituía em "celebrar missa", num altarzinho portátil  improvisado no quintal da casa dos pais. O ilustre bispo paulista, Dom Epaminondas, por intermédio do padre Ascanio Brandão, foi quem o presenteou com aquele altar, acompanhado de paramentos. Para o pequeno Antoninho, aquilo constituiu um régio presente. Dali, por diante, passou, circunspectamente, a "celebrar sua missa" todas as manhãs, e depois da "missa" se seguia a pregação feita a meia duzia de fedelhos da sua idade e a outros maiores, a quem ensinava a doutrina do catecismo.

Antoninho e Seu Cãozinho de Estimação
Amigo e Protetor dos Humildes

Antoninho tinha coisas excepcionais, próprias de adultos e era um menino diferente dos outros, um menino prodígio.

Doente gravemente, viu-se obrigado a procurar o clima ameno de São José dos Campos e de Campos do Jordão, a fim de tentar a cura de uma tuberculose que se apossara valentemente do seu débil corpo. Enfraquecera-se, a principio, sob violenta erupção de sarampo. Depois veio a enfermidade insidiosa, para que se tornaram vãos todos os apelos à medicina. Ele mesmo previra que os maiores esforços seriam inúteis contra a doença.

Mesmo atormentado pelos dolorosos sofrimentos, jamais esqueceu os humildes. Um dia, em Campos do Jordão, soube que fora detido um pobre homem, surpreendido com o porte irregular de um revolver, achado no mato. Antoninho interessou-se pelo caso e foi à delegacia, a fim de falar ao delegado que era, então, o Drº Caio Machado Leite Sampaio. Não o encontrou e falou com o carcereiro. Pediu-lhe que transmitisse por favor à autoridade a sua solicitação:

"Diga ao delegado assim que chegar que Antoninho quer a liberdade do preso."

E como lembrete desenhou uma caricatura qualquer sobre a escrivaninha do delegado.

"Faço esta careta no caso do Srº esquecer-se de transmitir meu recado. O delegado, vendo-a, há de perguntar quem a fez. O Srº dirá então que fui eu e fará o meu pedido."

E assim aconteceu. A autoridade ali chegando achou estranho o desenho. Interpelou o carcereiro, que lhe contou tudo. O Drº Caio Machado, com aquela bondade que lhe era peculiar, foi em pessoa a procura de Antoninho, que lhe contou do interesse em favor do seu "constituinte". O delegado, que não o conhecia, achou curioso os modos do garoto. E declarou-lhe que mandaria por em liberdade o detido. Assim o fez, porem, por medida de precaução, despachou-o para Pindamonhangaba.

O homem, profundamente reconhecido ao gesto de Antoninho, regressou a Campos, em áspera travessia a pé, a fim de agradecer-lhe pessoalmente, trazendo de presente uma cabra e dois cabritinhos. O garoto enternecido com a atitude do pobre camponês, fez-lhe ver que a Deus devia agradecer e não a ele, e negou-se a receber o presente, aconselhando-o a vende-lo, pois era pobre e necessitava de dinheiro.

Conformado com a morte próxima, Antoninho piorava cada dia mais nos últimos meses da sua rápida existência. Conhecia perfeitamente o precário estado de sua saúde e mostrava-se conformado com a vontade de Deus.

Uma tarde, vendo a pobre mãe tristonha por causa da sua moléstia, interpelou-a assim:

- Por que está tão triste, mamãe?
- Por nada, meu filho. Eu nunca estou triste ao seu lado.
- Mamãe, precisa fazer a vontade de Nosso Senhor! Nosso Senhor precisa de mim!

E após uma pausa:

- A senhora está vendo aquele pintassilgo naquela árvore? Se eu fizer com que ele venha pousar no meu dedo e cantar, a senhora acredita que é por vontade de Nosso Senhor?
- Acredito, sim, meu filho!
- Então veja! Pintassilgo, passarinho querido, em nome de Deus Nosso Senhor, vem pousar aqui no meu dedo e canta!

Realmente, o lindo passarinho veio obediente ter sobre a mão de Antoninho, e cantou um canto mavioso e doce.

- Então, mamãe, ouviu o canto da vontade de Nosso Senhor?
- Sim, meu filho, ouvi e acredito!
- Vai, vai, meu amiguinho, para a tua árvore e lá continua a cantar!

E assim aconteceu. A ave voou e foi cantar na árvore de onde descera. Voltaram mãe e filho para casa. Horas depois, interpelava ele:

- Está ainda pensando no passarinho, mamãe?
- Sim, é verdade, meu filho...

Dias após, perguntava Antoninho à sua progenitora:

- Minha mãe, que frade foi esse que esteve aqui conversando comigo?
- Frade, meu filho? Eu não vi nenhum frade ao seu lado. Você, com certeza, teve algum sonho...
- Bem, mamãe, não se fala mais nisso...

Logo mais bateram à porta. Era o carteiro e trazia um envelope. Abriram e dentro, o retrato de um frade. Antoninho o reconheceu:

- Este retrato, minha mãe, é de Frei Fabiano de Cristo, que, ainda há pouco, esteve palestrando comigo.

Não era possível aquilo senão por milagre: Frei Fabiano de Cristo falecera já há muitos anos. Aquela fotografia fora enviada por uma irmã do garoto prodigioso.

Hospital Filantrópico Antoninho da Rocha Marmo
A Morte de Um Justo

Antoninho marchava, cada dia, para a morte certa. Ele sabia perfeitamente e era um conformado com a dura realidade. Era a vontade de Deus. Deus o queria. Que se fizesse, então, a vontade de Dele.

Em 19 de dezembro, dois dias antes, ainda armou, com as próprias mãos, num grande esforço, o seu tradicional presépio de Natal. Dali foi carregado pela mãe desvelada, causando tamanho trabalho, até o leito, donde não mais se levantou.

Na manhã do dia 20 de dezembro, foi visitá-lo a Superiora da Santa Casa de Misericordia de São Paulo, acompanhada de outras freiras. Aquela visita foi excepcional motivo de alegria para o doente.

Ali compareceu depois Frei Angelo de Rezende, que lhe ministrou os últimos sacramentos, em altar previamente armado e ornamentado pelo próprio Antoninho, que, da cama, ia orientando tudo. Em dado momento, após a comunhão, supôs o sacerdote que o menino tinha já entregue a alma ao Criador, apresentando-se com os olhos fechados, em atitude de êxtase  Tocou-lhe de leve no ombro. Ele abriu os olhos e falou: "Eu estou rendendo graças a Deus!"

Logo mais, não esquecendo o padre, pediu à mãe que providenciasse um automóvel para reconduzi-lo ao convento e que não o deixasse ir sem tomar uma xícara de café. Depois solicitou um copo d'água e principiou a balbuciar estas frases:

- Que linda estrada... atapetada de flores... como são belas! Quantos anjos! Olha, minha mãe: alguns tocam... outros sorriem! Convidam-me para acompanhá-los... Que belo cortejo!... Eu vou, mamãe... Vou... Sim... Vejo um clarão! Um vulto se aproxima... Olha, mamãe, é meu avozinho... o pai da senhora!

Pediu que acendessem duas velas em torno da imagem de Santo Antônio, junto do leito.

- Antes que estas velas se consumam, eu estarei no céu! Estou cansado... preciso repousar...

Principiou a lenta agonia. Em dado instante, num esforço, abriu os olhos. Circunvagou-os pelo quarto, num meigo sorriso para todos. Um ligeiro tremor de lábios  como se quisesse falar alguma coisa. Depois, mais nada. Estava morto! Morrera como um pássaro!

O relógio marcava 23:30 hs de 21 de dezembro de 1930. Antoninho contava 12 anos de idade.

No dia seguinte, era inumado no jazigo da família no Cemitério da Consolação, na Quadra 80, Sepultura 6, onde a visitação publica o consagrou com a sua admiração e a sua veneração, de então para cá.

A missa de 7º dia foi celebrada sem qualquer pompa, com a encomendação sobre um modesto pano preto, entre quatro velas singelas. Era satisfeita assim a sua ultima vontade.

E, numa curiosa e bem interessante coincidência  conforme uma sua anterior previsão: por acidental engano da empresa funerária, foi seu corpo encerrado num caixão de adulto, carregado num coche de adulto e enterrado numa cova de adulto.

Toda a pequena existência desse grande menino paulista, não há duvida, extraordinária  fora assim revestida de grandes lances: reviveu, em poucos anos, nos dias da atualidade, uma vida beatifica igual à dos santos da antiguidade.

Texto publicado na Folha da Noite, quarta-feira, 12 de março de 1947
(Neste texto foram alterados alguns trechos da grafia original)

Fonte: Banco de Dados Folha e Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino