Mostrando postagens com marcador Geopolítico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Geopolítico. Mostrar todas as postagens

Golbery

GOLBERY DO COUTO E SILVA
(76 anos)
Militar e Geopolítico

* Rio Grande, RS (21/08/1911)
+ São Paulo, SP (18/09/1987)

Estudou no Ginásio Lemos Júnior em sua cidade natal, ingressando em abril de 1927 na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Sua formatura como aspirante a oficial foi em 22 de novembro de 1930. Serviu então no 9º Regimento de Infantaria, Pelotas. Sua promoção para segundo-tenente foi em junho de 1931.

O então segundo-tenente Golbery do Couto e Silva foi transferido para o quartel-general da 6ª Brigada de Infantaria. Foi promovido a primeiro-tenente um pouco antes do início da Revolução Constitucionalista de 1932. Durante a revolução serviu na Diretoria de Material Bélico, no Rio de Janeiro.

Em maio de 1937, Golbery foi promovido ao posto de capitão. Passou a servir na secretaria geral do Conselho de Segurança Nacional, quando foi mandado para Curitiba. Nesta capital, atuou na Infantaria Divisionária da 5ª Região Militar. Logo após, já em 1940, foi transferido para Joinville, cumprindo missão no 13º Batalhão de Caçadores.

No mês de dezembro de 1941, iniciou seus estudos na Escola de Estado-Maior do Exército. Formou-se em agosto de 1943. No mesmo ano foi servir no Rio Grande do Sul, sua terra natal. Lá atuou no Estado-Maior da 3ª Região Militar, com sede em Porto Alegre.

Em 1944, foi para os Estados Unidos estagiar na famosa escola militar Fort Leavenworth War School. Após o estágio, foi enviado para servir na Força Expedicionária Brasileira (FEB) como oficial de inteligência estratégica e informações, cargo que ocupou até o final da Segunda Guerra Mundial.

Retorno ao Brasil

Voltando ao Brasil em outubro de 1945, o então capitão Golbery do Couto e Silva foi enviado como oficial da seção de operações da 3ª Região Militar, no Rio Grande do Sul. Seu comandante era o general Salvador César Obino. Em 1946, no mês de maio, foi mandado para o Rio de Janeiro para servir no Estado-Maior do Exército. Em junho do mesmo ano foi promovido a major e transferido para o Estado-Maior Geral que logo em seguida mudaria para Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).

Segundo literatura da época, "(sic) ...teve a finalidade de preparar as decisões estratégicas relativas a organização e emprego conjunto das Forças Armadas e os planos correspondentes, além de colaborar no preparo da mobilização total da nação para a guerra, quando for o caso".

Golbery permaneceu no Estado-Maior das Forças Armadas até março de 1947. No mesmo mês, foi ao Paraguai para atuar na Comissão Militar Brasileira de Instrução, onde ficou até outubro de 1950. Neste mês retornou ao Brasil e foi reintegrado ao Estado-Maior do Exército, servindo como "adjunto da seção de informações".

Em outubro de 1951, o então major Golbery foi promovido para tenente-coronel.

Em 1952, no mês de março, passou a trabalhar no Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra (ESG) como adjunto.

O Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra foi criado em 1948, segundo a literatura das Forças Armadas, e "...sua finalidade era desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários para o exercício das funções de direção e para o planejamento da segurança nacional e suas estratégias".

O comandante Escola Superior de Guerra na época era o general Juarez Távora. Em suas novas funções, Golbery pôs em prática o início do estudo da tese que condicionava a associação do Estado à iniciativa privada mediante o apoio tecnocrático de forma a fortalecer a Segurança Nacional. Desta forma, deveria ser criada uma "...elite tecnocrática, civil e militar, ideologicamente comprometida com um conjunto de objetivos nacionais permanentes".

Futuramente a doutrina de Segurança Nacional de Golbery seria absorvida pela Escola Superior de Guerra. Ela punha o Brasil alinhado ao bloco ocidental, sob a liderança dos Estados Unidos, e em oposição ao bloco comunista liderado pela União Soviética. Propugnava que, para promover o desenvolvimento nacional, seria necessária a centralização do poder com a "...supressão de alguns valores definidores da ordem democrática". Ou seja: para desenvolver o Brasil de seu atraso tecnológico, era necessário um regime de força alinhado com os Estados Unidos.

Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geilsel
Nesta época a oposição contra o governo de Getúlio Vargas era observada tanto entre elites civis quanto no meio militar. Simultaneamente crescia dentro da Escola Superior de Guerra o aperfeiçoamento da doutrina iniciada por Golbery. Em fevereiro de 1954, 82 tenente-coronéis e coronéis do Rio de Janeiro remeteram para o general Ciro do Espírito Santo Cardoso, Ministro da Guerra, um documento criticando a política salarial do governo central para com a classe militar. O nome dado ao documento, escrito por Golbery, foi Manifesto dos Coronéis.

A síntese do manifesto era um "...desagrado em face do aumento de 100% no salário mínimo, sugerido em fevereiro pelo ministro do Trabalho, João Goulart, e confirmado por Getúlio Vargas em 1º de maio daquele ano". A preocupação era com os efeitos de tal medida sobre a taxa de inflação, dada a fragilidade dos fundamentos da economia naquele momento. A consequência imediata do memorial foi a demissão de João Goulart do Ministério do Trabalho, bem como o afastamento do general Ciro do Espírito Santo Cardoso do Ministério da Guerra. A pasta do trabalho foi assumida por Hugo de Faria e o Ministério da Guerra foi assumido pelo general Euclides Zenóbio da Costa.

Em 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas cometeu suicídio, Golbery do Couto e Silva era adjunto do Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra. Em fevereiro de 1955, Juscelino Kubitschek foi lançado pelo Partido Social Democrático (PSD) como candidato a presidente da República, tendo como candidato a vice-presidente João Goulart. O grupo militar da Escola Superior de Guerra liderado por Golbery não apoiou Juscelino Kubitschek e, quando ele foi eleito, tentaram impedir sua posse com um golpe. Suas aspirações foram barradas no Movimento de 11 de Novembro, chefiado pelo Ministro da Guerra de João Café Filho, general Henrique Lott, que assegurou a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Como consequência da tentativa de golpe frustrada Golbery foi preso e assim permaneceu por oito dias. Após ser solto, foi transferido para Belo Horizonte onde ficou prestando serviço no quartel-general da Infantaria Divisionária da 4ª Região Militar.

Em março de 1956, Golbery foi promovido a coronel, e transferido novamente para o Estado-Maior do Exército, onde ficou prestando serviço até setembro de 1960. No mesmo mês, foi convocado a chefiar a seção de operações do Estado-Maior das Forças Armadas.

Golbery do Couto e Silva (Foto: Arquivo AE)
Devido ao incidente ocorrido em novembro de 1955, Golbery passou a fazer parte de um grupo frontalmente anti-Lott, cujos líderes eram os generais Juarez Távora e Osvaldo Cordeiro de Farias. Ao mesmo tempo liderou um grupo de militares que apoiou Jânio Quadros na eleição para a Presidência da República em 3 de outubro de 1960. Jânio Quadros foi empossado em 31 de janeiro de 1961 e em fevereiro, Golbery foi nomeado chefe do gabinete da Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional.

Em março de 1961, na Guiana Inglesa, Cheddi Jagan, líder do Partido Progressista do Povo, venceu as eleições. Jânio da Silva Quadros determinou ao Estado-Maior das Forças Armadas, que tinha como comandante Osvaldo Cordeiro de Farias, o estudo da situação. Aconselhado por sua assessoria militar mandou tomar providências para evitar que a segurança das fronteiras do país fosse afetada, pois o líder guianense era de tendência comunista. Cordeiro de Farias pediu para Golbery iniciar estudos estratégicos para a criação de escolas brasileiras na fronteira, permitindo a frequência de crianças guianenses. Foram enviadas missões econômicas a Georgetown com a finalidade de investir e ajudar economicamente o surgimento de projetos específicos de mineração.

Segundo a literatura da época "...foi sugerido o oferecimento de missões militares brasileiras para adestramento de tropas guianenses em técnicas de guerra moderna e, especialmente, de desempenho de operações na selva. Porém, comentou-se muito, na época, que Jânio tinha planos de ocupação militar das três Guianas, ao norte do Brasil, embora a versão oficial fosse diferente."

Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou. De acordo com a Constituição Brasileira, assumiu o governo do Brasil, interinamente, o deputado Pascoal Ranieri Mazzilli (PSD), presidente da Câmara dos Deputados, pois o vice-presidente João Goulart encontrava-se em viagem diplomática na República Popular da China. Militantes de direita acusaram Jango, como era conhecido, de ser comunista e o impediram de assumir à presidência no regime presidencialista. Fez-se um acordo político e o parlamento brasileiro criou o regime parlamentarista, com João Goulart sendo chefe-de-Estado.

Do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola conclamou o povo a ir às ruas defender a normalidade constitucional e exigir a posse do vice-presidente. O governador gaúcho fazia discursos diários desde os porões do Palácio Piratini, transmitidos por várias emissoras de rádio do sul do país, numa campanha que ficou conhecida como Rede Radiofônica da Legalidade - ou Campanha da Legalidade. No restante do Brasil, além de grande parte da população, a maioria do pessoal de baixa patente das forças armadas era a favor da posse do vice-presidente. Os ministros militares aceitaram a posse mediante alteração da Constituição de 1946 por uma emenda instituindo o regime parlamentarista, com a redução dos poderes do presidente. Assim, em 7 de setembro João Goulart tomou posse.

Quando João Goulart retornou, os ministros militares de Jânio Quadros, Odílio Denys (Guerra), Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e Sílvio Heck (Marinha) divulgaram um manifesto, redigido por Golbery, vetando a posse do vice-presidente. Houve então grande mobilização popular pró-Constituição em favor de João Goulart. Em 1963, em plebiscito, o povo brasileiro votou pela volta do regime presidencialista, e João Goulart finalmente assumiu a Presidência da República com amplos poderes.

Após passar para a reserva (seu último posto na ativa foi o de coronel, mas como na época a passagem para a reserva rendia duas promoções, atingiu então o posto de general), Golbery iniciou estudos para fazer frente ao avanço do comunismo no cenário político brasileiro, desenvolvendo idéias delineadas na sua obra Planejamento Estratégico (1955). Respeitado e apoiado pelo general Humberto de Alencar Castelo Branco, que se tornaria o primeiro presidente da Ditadura Militar, em abril de 1964, Golbery criou, em 1962, um ano depois de passar à reserva, e dirigiu o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que teve papel de destaque na preparação do movimento que depôs o Presidente da República João Goulart.

Financiado pelo governo e por empresas privadas, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais montou uma extensa rede de informações. Os arquivos, gravações telefônicas e documentos levantados nessa época formaram dossiês posteriormente transferidos para o Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 1964 e também idealizado e dirigido pelo general Golbery. O SNI teve grande influência em todo o regime militar, tanto do lado estratégico quanto da manipulação da sociedade mediante instrumentos de controle dos veículos de comunicação.

Golbery em entrevista no ano de 1981 (Foto: Folhapress )
O Anti-"Linha-Dura" na Ditadura

O general Golbery, segundo as Forças Armadas, destacou-se como um grande teórico do Movimento Político-Militar de 1964. Por ser de formação acadêmica intelectual, nunca concordou com os métodos de ação da "linha dura", sendo por ela odiado, enfrentando diversos panfletos que circularam nos quartéis que o atacavam, tachando-o de "entreguista" e até mesmo comunista (durante a crise com o ministro do Exército Sylvio Frota, esse expediente foi comum).

Em 1966 o general escreveu uma obra intitulada Geopolítica do Brasil, de grande destaque entre a comunidade de informações nacional e internacional.

Em 1967, Golbery do Couto e Silva assumiu uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União e, em 1974, no governo Ernesto Geisel, tornou-se Chefe da Casa Civil da Presidência da República, cargo que manteve com a posse do novo presidente, João Batista de Oliveira Figueiredo.

Ali teve influência no nascimento dos novos partidos. Foi ele quem excogitou e conduziu a reforma partidária de 1979. Nasceram ali, além do PDS que sucedeu à Arena, o PMDB liderado por Ulysses Guimarães, o PT por Lula, o PP por Tancredo Neves, o PTB, previamente entregue a Ivete Vargas pelo próprio chefe da Casa Civil, e o PDT de Leonel Brizola.

O propósito era dividir a oposição, unida debaixo da sigla do MDB. De saída, Golbery conseguiu seu propósito. Demitiu-se, porém, depois das bombas do Atentado do Riocentro no Rio de Janeiro, atentado este que fracassou mas pôs em risco a vida de milhares de civis além de representar retrocesso em relação à postura que defendeu e tentou implementar desde Ernesto Geisel, por saber da participação de militares comandados pela "linha dura". Não teve influência suficiente sobre Figueiredo para alijar de vez os membros da "linha dura". No entanto permaneceu como condutor de conversas com a "oposição responsável", principalmente Tancredo Neves e Thales Ramalho, para o complemento da transição para volta à democracia.

Foi apelidado de O Bruxo por sua notável capacidade de articulação e inteligência, sendo denominado pelo jornalista Elio Gaspari como O Feiticeiro em sua obra As Ilusões Armadas.

Era também chamado por integrantes de grupos esquerdistas de Henry Kissinger brasileiro.

Morte

Depois de quatro dias de agonia, o general Golbery do Couto e Silva, 76 anos, não resistiu a um Câncer no Pulmão e morreu no início da tarde de 18/09/1987 (sexta-feira) no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Fonte: Wikipédia e Jornal do Brasil