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Maurício Grabois

MAURÍCIO GRABOIS
(61 anos)
Político

☼ Salvador, BA (02/10/1912)
┼ Xambioá, TO (25/12/1973)

Maurício Grabois foi um político brasileiro, um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e um de seus dirigentes desde a criação do partido até sua morte na Guerrilha do Araguaia, em 25/12/1973. Foi um dos principais líderes comunistas do Brasil, junto com Luís Carlos Prestes, Carlos Marighella e João Amazonas.

Filho de judeus ucranianos, a família de Maurício Grabois foi perseguida e fugiu para o Brasil, onde o comunista nasceu. Nasceu em Salvador, BA, no dia 02/10/1912, filho de Agustín Grabois e Dora Grabois. Cursou o ensino fundamental no Ginásio Estadual de Salvador. Aos 19 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do país, para estudar na Escola Militar de Realengo. Lá tomou contato com as ideias do marxismo-leninismo e passou a militar contra o fascismo que avançava na Europa e também no Brasil, sob a forma do Integralismo, ajudando a divulgar o comunismo entre os militares. Mais tarde, estudou na Escola de Agronomia do Rio de Janeiro, que abandonou no 2º ano para para dedicar-se à vida política.

Carreira Política

Maurício Grabois começou a carreira política como militante da Juventude Comunista, a ala jovem do partido, que então usava a sigla PCB, mas chamava-se Partido Comunista do Brasil.

Em 1934, aos 22 anos, já era a dirigente da entidade. Ingressando na Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma facção do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que tentou a luta armada, ajudou a organizar a Intentona Comunista de 1935 e, após o fracasso da insurreição, editou clandestinamente o jornal "A Classe Operária", que existe até hoje, e dirigiu a Vitória, editora do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Maurício Grabois foi preso no verão de 1941 e solto no ano seguinte.

Com a orientação do Komintern para que os partidos comunistas apoiassem os governos locais que lutassem contra o Eixo e a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial do lado aliado, em 1943, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) organizou a Conferência da Mantiqueira. A comissão organizadora do evento foi chefiada por Maurício Grabois. Na ocasião, foi eleito para o Comitê Central do partido.

A derrubada de Getúlio Vargas e a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB) levaram o partido a entrar na vida democrática institucional brasileira, e Maurício Grabois foi eleito deputado federal como companheiro de chapa de Luís Carlos Prestes, eleito senador.

Participou da Assembleia Constituinte de 1945-1946 e liderou a bancada comunista, que tinha então 14 deputados, entre eles Jorge Amado. Também foi membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Em 1947, no entanto, o registro do partido foi cassado, e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB)  passou a ser ilegal, mas continuando a existir e atuar na clandestinidade. Maurício Grabois trabalhou como relator do programa do partido e ajudou a organizar o IV Congresso do PCB em 1954, sendo reeleito para o Comitê Central.

Em 1956, Nikita Khrushchov faz um discurso no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) denunciando os crimes de Josef Stalin e renegando o legado do líder soviético. A mudança de orientação, conhecida como Revisionismo, provocou a reorganização do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, em 1962, junto com João Amazonas, Pedro Pomar, Carlos Danielli e outros, Maurício Grabois reorganizou o Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas com a sigla PCdoB.

Uma das últimas fotos da bancada Comunista na Constituinte de 1946. O Senador Prestes ao centro, tendo a sua direita João Amazonas e à esquerda Maurício Grabois.
Luta Armada

A partir de 1964, quando os militares deram um golpe de Estado no Brasil e tomaram o poder, os comunistas se dividiram entre os que defendiam a oposição clandestina, aliada aos democratas de centro-direita, depois organizados no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e os que optaram pelo combate aberto, a guerrilha urbana e rural. Maurício Grabois foi um dos principais defensores da posição em defesa da luta armada no partido.

Em 1966, uma conferência aprovou a adoção de Táticas Revolucionárias para tentar derrubar o regime militar e implantar um regime comunista no Brasil.

Para dar início a uma guerrilha na Floresta Amazônica, Maurício Grabois chegou à região do Araguaia em dezembro de 1967, para organizar o levante revolucionário. Levou para lá o filho André Grabois, morto em combate em 1972.

Maurício Grabois comandou por seis anos a chamada Guerrilha do Araguaia, no estado do Pará, até ser morto por forças do Exército no dia 25/12/1973, junto com mais três companheiros, um deles seu genro, Gilberto Olímpio Maria.

Até hoje seus restos mortais não foram localizados e esta tem sido uma luta não só da família e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mas de vários movimentos que buscam esclarecer todos esses fatos e circunstâncias obscuros do tempo da ditadura militar brasileira.

Diário

Trinta e sete anos após sua morte, veio a público um diário escrito por Maurício Grabois no Araguaia, cobrindo um período de 605 dias na floresta, entre abril de 1972 e dezembro de 1973. Neste documento, recolhido pelo Exército na época e mantido em sigilo por quase quatro décadas, Maurício Grabois fala do dia a dia da guerrilha e de suas esperanças com relação à eficácia dela, como fomentadora de uma revolução armada popular contra a ditadura militar e pela implantação de um sistema socialista no país.

Maurício Grabois e Aparício Torelli, o Barão de Itararé
Legado

Como teórico, Maurício Grabois manteve-se fiel à doutrina do marxismo-leninismo, combatendo o "surto revisionista", e foi um crítico severo do maoismo, o modelo de comunismo implantado na China, onde esteve por duas vezes. Em seus escritos, atacou os excessos da Revolução Cultural Chinesa.

Em sua homenagem, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) batizou seu instituto partidário com o nome de Instituto Maurício Grabois, fundado em 1995, dez anos após a legalização do partido que o militante ajudara a fundar em 1962.

Fonte: Wikipédia

Eduardo Collen Leite

EDUARDO COLLEN LEITE
(25 anos)
Militante e Guerrilheiro

* Campo Belo, MG (28/08/1945)
+ Guarujá, SP (08/12/1970)

Eduardo Collen Leite, codinome: Bacuri, foi um militante e guerrilheiro de organizações armadas de extrema-esquerda durante a ditadura militar no Brasil. Líder e participante ativo de ações diretas contra o regime, foi o guerrilheiro que, depois de preso, mais tempo foi torturado pelos agentes da repressão, passando 109 dias em poder de seus captores sob todo tipo de torturas até ser executado.

Filho de Alberto Collen Leite e Maria Aparecida Leite, começou a militar desde adolescente na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (PELOP). Em 1967, depois de servir ao Exército, trabalhou como técnico em eletricidade e telefonia, até ingressar na militância comunista e na luta armada, como integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Depois de tornar-se líder da Rede Democrática (REDE), com a extinção desta participou das ações da Aliança Libertadora Nacional (ALN), dirigida por Carlos Marighella.

Prisão, Tortura e Morte

Um dos mais ativos guerrilheiros nas ações armadas urbanas do período, depois de participar dos sequestros do cônsul do Japão em São Paulo e do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben no Rio de Janeiro, onde matou a tiros o policial federal Irlando de Moura Régis, segurança de Ehrenfried von Holleben, ambos no primeiro semestre de 1970, Bacuri (Seu apelido na guerrilha) foi preso no Rio de Janeiro por oficiais do Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), em 21/08/1970, quando fazia o levantamento da rotina do embaixador do Reino Unido, com vistas a mais um sequestro objetivando a libertação de presos políticos pelo governo militar, especialmente de sua mulher, Denise Crispim, há um mês detida no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e grávida.

Entregue pelos militares à equipe do delegado Sérgio Fleury, um dos mais extremistas agentes da repressão policial aos opositores da ditadura, que acompanhava a equipe da Marinha e o algemou pessoalmente numa rua do bairro da Gávea, entre setembro de dezembro de 1970, Bacuri foi constantemente levado a centros de interrogatórios do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), prisões e casas isoladas, na Operação Bandeirante (OBAN) e no presídio da Ilha das Cobras, onde fez greve de fome e recusou atendimento médico, sendo brutalmente torturado e interrogado dezenas de vezes, sem nada dizer aos torturadores.

Denise Crispim o viu pela última vez depois de retirada da cadeia do DOPS, grávida de sete meses, na delegacia do bairro de Vila Rica, em São Paulo, à qual foi levada pelos homens de Sérgio Fleury, algemado e com hematomas e queimaduras por toda pele.

Em 26 de outubro, ele ficou sabendo que não mais seria deixado com vida, depois de lhe ser mostrado nos jornais a notícia plantada pela polícia de que tinha fugido e desaparecido, após ser levado para o reconhecimento do corpo de outro companheiro.

Considerado pela repressão como o mais perigoso dos guerrilheiros, por seu denodo durante as ações armadas da guerrilha de que participou, foi assassinado em 08/12/1970, no Forte dos Andradas, no Guarujá, em São Paulo, logo depois do sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no Rio de Janeiro, por guerrilheiros comandados por Carlos Lamarca, para que não fosse libertado na troca de reféns, não apenas por sua importância como pelo estado físico a que havia sido reduzido pelos torturadores. Bem antes disso, ele já não tinha mais o movimento das pernas por causa das torturas, para as quais era levado arrastado, a que vinha sendo submetido.

Seu corpo, encontrado no litoral de São Sebastião, São Paulo, foi entregue à família em um caixão lacrado, na tentativa de esconder o que ele havia sofrido nas mãos dos torturadores. Porém, seus familiares abriram o caixão e se depararam com um Bacuri desfigurado, com orelhas decepadas, inúmeras queimaduras, hematomas, dentes arrancados, olhos vazados, dois tiros no peito e dois na cabeça.

Em junho de 2011, foi lançado o livro "Eduardo Leite, o Bacuri", da jornalista Vanessa Gonçalves, uma biografia de sua vida que se desdobra com mais detalhes em seus 109 dias na mão dos torturadores. Nele, Artur Paulo de Souza e Jorge Zuchowski, dois colaboradores da polícia política que se infiltraram como militantes na Frente de Libertação Nacional, são apontados como os traidores que apontaram sua localização ao Centro de Informações da Marinha e o levaram a ser preso em 1970.

Em 2010, um deles, Arthur de Souza, pediu indenização ao Estado como perseguido político, que lhe foi negada.

Fonte: Wikipédia

Iara Iavelberg

IARA IAVELBERG
(27 anos)
Guerrilheira e Militante

* São Paulo, SP (07/05/1944)
+ Salvador, BA (20/08/1971)

Iara Iavelberg foi uma militante e guerrilheira de extrema-esquerda, integrante da luta armada contra a ditadura militar brasileira. Psicóloga e professora, depois de entrar na luta contra o regime militar, primeiro integrando a Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) e depois o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), tornou-se companheira do ex-capitão do exército Carlos Lamarca, um dos principais líderes da oposição armada ao governo militar no Brasil, até morrer num cerco de agentes de segurança em Salvador, Bahia, em agosto de 1971.

Iara Iavelberg nasceu numa rica família judia paulistana e aos 16 anos já estava casada. O casamento, com um médico, durou apenas três anos e ela deixou a relação para entrar na militância política. Separada, e mal entrada nos vinte anos, virou adepta do amor livre, moda na época, e entre um de seus casos esteve o líder estudantil José Dirceu.

Alta, bonita, de olhos claros e corpo bem cuidado, virou a musa da intelectualidade estudantil paulista de esquerda no meio da década de 60. Destemida e vaidosa, nos seus tempos de clandestinidade era capaz de sair de um "aparelho" para cortar os cabelos nos melhores salões de Ipanema, no Rio de Janeiro.

Iara Iavelberg chegou ao Marxismo através do movimento estudantil e, militando no MR-8, conheceu Carlos Lamarca, comandante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) dois meses depois dele desertar do exército, em abril de 1969.

Carlos Lamarca treinando Iara Iavelberg
A paixão entre a filha de milionários paulista que tornou-se socialista e o filho de sapateiro carioca, capitão desertor do exército brasileiro e um líderes da luta armada, foi fulminante. Os dois foram viver juntos e passaram dez meses escondidos em "aparelhos" pelo país. Uma das companhias do casal nestes esconderijos e que testemunhou de perto a relação entre os dois, foi a guerrilheira Vanda, da VPR, codinome de Dilma Roussef, décadas depois a primeira mulher presidente do Brasil.

Em 1970, começaram treinamento militar no Vale do Ribeira, onde Iara Iavelberg deu aulas teóricas de marxismo aos guerrilheiros, e, caçados pelo exército, cartazes com a foto dos dois, entre outros, foi espalhado por todos os cantos do país. Neste ano, em 7 de dezembro, Carlos Lamarca liderou o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, no Rio de Janeiro, em troca da libertação de 70 presos políticos.

Nos primeiros meses de 1971, a maioria das organizações de esquerda já estavam desarticuladas e semi-destruídas, e os restos da VPR juntaram-se ao MR-8. Na nova organização, Iara Iavelberg, intelectual, teve um cargo de cúpula e Carlos Lamarca, considerado mais despreparado pela nova direção, foi rebaixado a militante de base, enviado para o interior da Bahia, enquanto a mulher se estabeleceu em Salvador, BA.

A viagem, em junho de 1971, de Iara Iavelberg e Carlos Lamarca do Rio de Janeiro para a Bahia, foi a última vez em que estiveram juntos, antes da morte de ambos.

Morte

As causas e até a data de sua morte permanecem envoltas em mistério. A data oficial é contestada por relatório do Ministério da Aeronáutica, segundo o qual ela teria se suicidado em 06/08/1971, acuada pela polícia em uma residência em Salvador. Alguns militantes, presos no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de Salvador, dizem ter ouvido seus gritos quando era torturada, o que contradiz a versão do Ministério da Marinha, segundo a qual ela teria sido morta durante "ação de segurança".

O jornalista Elio Gaspari, em seu livro "As Ilusões Armadas, A Ditadura Escancarada" (2002) relata em detalhes o que seriam os momentos de cerco e morte de Iara Iavelberg, por suicídio. Ela e Carlos Lamarca fugiram para a Bahia em julho de 1971, após o sequestro do embaixador Giovanni Bucher e a desarticulação da organização guerrilheira. Iara Iavelberg, codinome Clara, separou-se dele em Feira de Santana, depois indo para Salvador, enquanto Carlos Lamarca seguia para o interior baiano.

Com a prisão de um dos integrantes da organização na capital baiana, sabedor do paradeiro do casal e que, após duas semanas de tortura, passou informações à repressão, na manhã de 20/08/1971 dezenas de agentes dirigiram-se a um prédio na Rua Minas Gerais, na Pituba, onde esperavam encontrar Carlos Lamarca. Lá quem estava era Iara Iavelberg. O prédio e o apartamento indicados, 201, foram envolvidos por bombas de gás lacrimogênio e após a invasão, dele saíram os policiais com três presos, uma empregada e dois menores.

Um menino morador do apartamento vizinho, porém, quando os policiais se retiravam, descobriu Iara Iavelberg agachada, de arma na mão, no vão entre os dois apartamentos, e chamou a policia de volta. Encurralada num quarto cheio de gás lacrimogêneo, ela matou-se com um tiro que trespassou o coração e o pulmão. O cadáver foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) de Salvador e somente algumas horas depois descobriu-se que aquela era a mulher de Carlos Lamarca. Seu corpo foi deixado por mais de mês numa gaveta do necrotério, como isca para Carlos Lamarca.

Nilda Cunha, a adolescente secundarista de 17 anos capturada na batida ao apartamento, era integrante do MR-8 e lá morava sozinha com o namorado, também militante, até receber ordens da direção da organização para hospedar Iara Iavelberg. Torturada pelos militares num quartel e obrigada a tocar no cadáver da guerrilheira, enlouqueceu, teve cegueira e foi internada várias vezes, morrendo numa de suas crises, com um prosaico "edema cerebral a esclarecer" como consta seu atestado de óbito. Meses depois, sua mãe, Esmeraldina Cunha, suicidou-se, enforcando-se com o fio de uma máquina de calcular elétrica.

A certidão de óbito dá a morte de Iara Iavelberg, oficialmente, como 20/08/1971, assinada pelo legista Drº Charles Pittex, informando ainda que ela foi sepultada pela família no Cemitério Israelense de São Paulo. Seu corpo foi entregue à família em caixão lacrado, com a proibição explícita de que fosse aberto. Carlos Lamarca morreria menos de um mês depois, em 17/09/1971, em Pintada, no sertão da Bahia.

Exumação

Em 2003, após anos de negativas, através de um mandado judicial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, os familiares de Iara Iavelberg, inconformados com a versão oficial da morte dela por suicídio, conseguiram que a Federação Israelita de São Paulo fizesse a exumação do corpo da guerrilheira, que havia sido entregue à família em caixão lacrado. O resultado da nova autópsia descobriu que Iara Iavelberg tinha sido morta com vários tiros. Os restos mortais da guerrilheira puderam assim, mais de trinta anos depois, ser removidos da ala de suicidas, onde tinham sido enterrados, para perto do túmulo de seus pais, em outra área do cemitério judeu.

Homenagens

O Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo prestou uma homenagem à antiga aluna e deu seu nome ao centro acadêmico, passando a ser chamado Centro Acadêmico Iara Iavelberg. Seu nome também batiza uma praça no bairro de Bangu, na cidade do Rio de Janeiro e outra no bairro de Pirituba, na cidade de São Paulo.

No filme "Lamarca", de 1994, dirigido por Sérgio Rezende e baseado no livro biografia de Emiliano José e Miranda Oldack, "Lamarca", o capitão da guerrilha, ela é vivida pela atriz Carla Camurati.

Em 2014 foi lançado o filme-documentário "Em Busca de Iara", escrito e produzido por sua sobrinha, Mariana Pamplona.

Fonte: Wikipédia

Carlos Marighella

CARLOS MARIGHELLA
(57 anos)
Político, Poeta e Guerrilheiro

* Salvador, BA (05/12/1911)
+ São Paulo, SP (04/11/1969)

Carlos Marighella foi um político, guerrilheiro e poeta brasileiro, um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar a partir de 1964.

Um dos sete filhos do operário Augusto Marighella, imigrante italiano da região da Emília, terra de destacados líderes italianos, e da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos africanos trazidos do Sudão (negros hauçás), nasceu em Salvador, BA, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro, onde concluiu o seu curso primário e o secundário e, em 1934 abandonou o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Tornou-se então, militante profissional do partido e se mudou para o Rio de Janeiro, trabalhando na reorganização do PCB.

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiu na militância política, interrompendo os estudos universitários no terceiro ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.


Em 01/05/1936, durante a ditadura na "Era Vargas", foi preso por subversão e torturado pela polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano. Foi solto pela "Macedada" (nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação). Ao sair da prisão entrou para a clandestinidade, até ser recapturado, em 1939. Novamente foi torturado e ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país.

Elegeu-se deputado federal constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro baiano em 1946, mas perdeu o mandato em 1948, em virtude da nova proscrição do partido. Voltou para a clandestinidade e ocupou diversos cargos na direção partidária. Convidado pelo Comitê Central, passou os anos de 1953 e 1954 na China, a fim de conhecer de perto a recente revolução chinesa.

Em maio de 1964, após o golpe militar, foi baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema, no Rio de Janeiro. Libertado em 1965 por decisão judicial, no ano seguinte optou pela luta armada contra a ditadura, escrevendo "A Crise Brasileira".

Em dezembro de 1966, renunciou à Comissão Executiva Nacional do PCB.

Em agosto de 1967, participou da I Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), realizada em Havana, Cuba, a despeito da orientação contrária do PCB. Aproveitando a estada em Havana, redigiu "Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil", dedicado à memória do comandante Che Guevara e tornado público pelo Jornal do Brasil em 05/09/1968.

Foi expulso do partido em 1967 e em fevereiro de 1968 fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional (ALN). Em setembro de 1969, a Ação Libertadora Nacional participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).


Com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentram esforços em sua captura. Na noite de 04/11/1969 Carlos Marighella foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista. Ele foi morto a tiros por agentes do DOPS, em uma ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

A Ação Libertadora Nacional continuou em atividade até o ano de 1974. O sucessor de Carlos Marighella no comando da Ação Libertadora Nacional foi Joaquim Câmara Ferreira, que também foi morto por Sérgio Paranhos Fleury no ano seguinte.

Os militantes mais atuantes em São Paulo eram Yuri Xavier Ferreira, Ana Maria Nacinovic, Marco Antônio Valmont e Gian Mercer que continuaram fazendo panfletagem contra a ditadura até meados de 1972, quando também foram mortos numa emboscada no bairro da Mooca, ao saírem do restaurante Varela.

Dezoito de seus militantes foram mortos e cinco foram considerados desaparecidos. O último líder da Ação Libertadora Nacional foi Carlos Eugênio Sarmento da Paz, que sobreviveu auto-exilando-se na França, e voltando ao Brasil após a anistia.

Em 1996, o Ministério da Justiça reconheceu a responsabilidade do Estado pela morte de Carlos Marighella. Em 07/03/2008 foi decidido que sua companheira Clara Charf deveria receber pensão vitalícia do governo brasileiro.

Morte

Em uma emboscada preparada contra Carlos Marighella, foram detidos Tito e seus amigos de convento, exceto Frei Oswaldo. Frei Fernando foi obrigado a combinar um encontro com Carlos Marighella. Eles tinham um código que auxiliou na emboscada: "Aqui é o Ernesto, vou à gráfica hoje". O encontro foi marcado na Alameda Casa Branca, uma rua próxima ao centro da cidade de São Paulo.

No dia do encontro, havia uma caminhonete com policiais e um automóvel, com supostos namorados, onde Sérgio Paranhos Fleury disfarçou-se, além do fusca com Fernando e Ivo.

Ao chegar na Alameda, às 20:00 hs, dirigiu-se ao fusca e entrou na parte traseira. Frei Ives e Fernando saíram rapidamente do carro e se jogaram no chão. Percebendo a emboscada, imediatamente reagiu à prisão e foi morto.

Carlos Marighella seguiu as normas de seu manual. Portava um revólver e levava duas cápsulas de cianureto. Além de Carlos Marighella, outras três pessoas foram atingidas durante o tiroteio: Estela Borges Morato, investigadora do DOPS que simulou namorar Sérgio Paranhos Fleury, morta no tiroteio. Friederich Adolf Rohmann, protético que passava pelo local, morto no tiroteio. Rubens Tucunduva, delegado envolvido na emboscada, que ficou ferido gravemente no tiroteio.

Escritos

Carlos Marighella escrevia poesias e, aos 21 anos, durante as aulas de engenharia divertia professores e colegas fazendo provas em verso. Da mesma forma, compôs em versos ataques ao interventor baiano Juracy Magalhães, fato que lhe valeu sua primeira prisão, seguida de tortura, em 1932. Ainda na prisão, desta feita em 1939, ele compôs o poema "Liberdade".

"(...) E que eu por ti, se torturado for, 
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome."

Sua obra poética está reunida no livro "Rondó da Liberdade".

A Lápide da Sepultura

A única obra de Oscar Niemeyer na Bahia: A lápide da sepultura de Carlos Marighella.

Em 10/12/2009, se passaram 30 anos do translado do corpo de Carlos Marighella para Salvador e 40 anos de sua morte em São Paulo, onde foi enterrado como indigente.

Os restos mortais de Carlos Marighella descansam no cemitério da Baixa de Quintas em Salvador. A frase de Carlos Marighella na lápide: "Não tive tempo para ter medo".

Estado Brasileiro Anistia Carlos Marighella No Seu Centenário

Depois de 42 anos o Estado Brasileiro finalmente pediu desculpas aos familiares de Carlos Marighella pela sua execução no dia 04/11/1969 em uma emboscada em São Paulo. A anistia ao líder guerrilheiro foi aprovada por unanimidade durante a primeira sessão da 53º Caravana da Anistia realizada na noite de segunda-feira, 05/12/2011, no Teatro Villa Velha, em Salvador, cidade onde nasceu e começou sua militância política. A data também marca o centenário de Carlos Marighella.

O teatro ficou lotado de lideranças sociais e políticas, familiares, amigos de luta e muitos admiradores da trajetória de Carlos Marighella, um baiano que morreu em defesa do direito à liberdade de todo o povo brasileiro. O governador da Bahia, Jaques Wagner, o ex-governador Waldir Pires, o presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Bahia, Daniel Almeida, senadores, deputados e vereadores estavam entre as autoridades presentes ao evento.

A relatoria do pedido de anistia coube a Ana Guedes, militante do PCdoB na Bahia, que após ler o relato sobre a trajetória de Carlos Marighella desde o início da sua militância política em Salvador, passando pelas prisões até a sua morte votou pela anistia de Marighella.

Segundo Ana, Carlos Marighella é um ícone, um herói do povo brasileiro. Foi um homem totalmente voltado para a defesa do povo brasileiro e por isso foi muito perseguido, preso, torturado e assassinado.

"O maior significado deste ato está em reafirmar o nosso desejo de que a anistia vingue. A anistia é uma conquista do povo brasileiro, pois no momento que o Estado pede desculpas à família, isso vai ficar gravado na memória do povo brasileiro, que isso que aconteceu com Marighella e com tantos outros brasileiros não pode mais acontecer."

Unanimidade

O momento mais aguardado veio no início da noite após muitos depoimentos emocionados sobre o homenageado e votação unânime da Comissão pela aceitação do parecer de Ana Guedes.

"Pelos poderes a nós conferidos pelo Ministério da Justiça, a Comissão da Anistia declara anistiado pós-mortem Carlos Marighella. Com isso, Clara Charf e Carlos Augusto Marighella, pedimos as mais sinceras desculpas por tudo que o Estado Brasileiro fez contra seu companheiro e seu pai."
(Vice-presidente da Comissão da Anistia, Egmar Oliveira)

"É muito importante que meus filhos estejam aqui para acompanhar este momento, que é o reconhecimento da trajetória de um grande homem. Há 42 anos, em um dia chuvoso, fui chamado a um jornal para reconhecer a foto de Marighella morto. Foi muito traumatizante, pois a foto era seguida de muitas mentiras sobre ele. Mentiras que foram sendo desmascaradas com o passar do tempo. Tudo porque Marighella sempre foi um herói e surge como inspiração para os jovens brasileiros. Eu estou muito feliz, porque são 40 anos lutando para que esta verdade seja reconhecida e este dia chegou."
(Carlos Augusto Marighella - Filho de Carlos Marighella)


A felicidade também estava estampada no rosto de Clara Charf, viúva de Carlos Marighella e uma das pessoas que mais lutaram para que o Estado reconhecesse seu erro e a verdade sobre o companheiro fosse restabelecida.

"Esta Comissão é resultado do processo de democratização, que permitiu que chegasse a este momento, em que o povo brasileiro pudesse saber a verdade sobre o que aconteceu. Porque durante muito tempo eles mentiram e tentaram desmoralizar a vida das pessoas. Porque eles queriam esconder a resistência do povo brasileiro, que é o povo mais resistente do mundo."
(Clara Charf)


Gildo Macedo Lacerda

GILDO MACEDO LACERDA
(24 anos)
Guerrilheiro e Militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML)

* Ituiutaba, MG (08/07/1949)
+ Recife, PE (28/10/1973)

Nasceu na cidade de Ituiutaba, município de Veríssimo, no Triângulo Mineiro, em 8 de julho de 1949, numa família de pequenos sitiantes.

Filho de Célia e Agostinho Nunes Lacerda mudou-se muito cedo, com sua família, para Uberaba.

Estudou no Colégio Triângulo, Escola Normal e Colégio Drº José Ferreira, onde foi presidente do Grêmio Central Machado de Assis. Foi membro ativo e diretor do Círculo de Estudos da União da Mocidade Espírita, do Departamento de Evangelização da Criança, do programa radiofônico Hora Espírita Cristã e orador da Mocidade Espírita Batuíra.

Fazia o programa radiofônico Ondas de Luz da Comunidade Espírita de Uberaba, em que refletia sobre a obra de Allan Kardec e Francisco Cândido Xavier.

Nos anos de 1965/1966 fez teatro amador em Uberaba, participando como sócio ativo do Núcleo Artístico de Teatro Amador (NATA).

Nesse mesmo período, ainda secundarista, foi orador oficial da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil (PUE).

Em 1967, já como ativista da Ação Popular (AP) no movimento estudantil, Gildo transferiu-se do Colégio Drº José Ferreira para Belo Horizonte, onde fez o 3° Científico integrado ao pré-vestibular.

Gostava de se corresponder com estrangeiros, sempre em francês. Em suas cartas descrevia a situação política do país e a luta dos estudantes contra a dominação econômica e cultural dos Estados Unidos.

Suas preferências eram: no teatro, Tchecov; na música, Antônio Carlos Jobim, Gilbert Bécaud e Frank Sinatra; na poesia, Vinicius de Moraes, Moacyr Felix, Carlos Drummond de Andrade, Thiago de Mello, Pablo Neruda, Evtuchenko e Paul Claudel.

Em 1968, prestou o concurso vestibular, ingressando na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (FACE). Pouco tempo depois, devido à intensa militância, foi excluído da Universidade com base no Decreto-Lei 477, editado em fevereiro de 1969, pelo general Artur da Costa e Silva.

Transferiu-se para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, já atuando na clandestinidade e buscando fugir às perseguições impostas pela Ditadura Militar.

Foi eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes durante a gestão 69/70, na última diretoria, antes da desarticulação total da entidade pelas forças da repressão.

Deslocou-se, em 1972, para Salvador, Bahia, e fazia parte da Direção Nacional da Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Pouco antes de ser preso, Gildo esteve em Uberaba, no auge da ditadura Médici, em companhia de Mariluce, sua mulher, descansando no sítio da família, próximo a Veríssimo.

A sua última carta para os familiares foi datada de 17 de setembro de 1973. Nesta missiva, ele manifestou sua preocupação por não receber cartas da família, acreditando em extravio de correspondência. Falou, ainda, de seu trabalho, do salário melhor, da saudade de todos e de uma próxima ida a Uberaba, no final do mês, despedindo-se com um até breve.

Gildo e Mariluce Moura, sua mulher, foram presos no dia 22 de outubro de 1973, em Salvador, no Quartel do Barbalho, pelo Exército e, imediatamente, conduzidos às câmaras de tortura. Malu, grávida, foi libertada alguns dias depois, e não mais o viu. Gildo foi transferido para o DOI/CODI de Recife onde foi torturado até a morte, no dia 28 de outubro de 1973, quando tinha 24 anos de idade.

Os órgãos de segurança noticiaram, no dia 19 de novembro de 1973, que Gildo, ao ser interrogado, teria fornecido a informação do local onde se encontraria com José Carlos Novaes da Mata Machado e com um terceiro elemento de nome Antônio. Chegando ao local do encontro, teria havido um tiroteio onde Antônio teria matado Gildo e José Carlos teria sido morto em conseqüência de tal incidente.

A versão oficial, além de encobrir os assassinatos sob tortura de Gildo e José Carlos, tentou encobrir a prisão e posterior desaparecimento de Paulo Stuart Wright, quando se referiu ao Antônio, que teria conseguido fugir.

Sua família luta, incessantemente, até hoje, pela localização de seus restos mortais, por um sepultamento digno e para que a União assuma a responsabilidade por sua morte.

Ainda segundo a nota oficial, Gildo e José Carlos teriam sido baleados na Avenida Caxangá com a Rua General Polidoro, no Recife.

Passados 21 anos, soube-se por Gilberto Prata Soares, antigo militante da década de 70 que se transformou em informante dos órgãos de repressão, mais detalhes sobre os presos.

Tessa, filha de Gildo, que não chegou a conhecer o pai, mora hoje em São Paulo, com sua mãe Mariluce.

No Relatório do Ministério da Marinha consta como "morto em tiroteio por agentes de segurança em Recife/PE em 1 de novembro de 1973".

Depoimento da Mãe de Gildo, Célia Garcia Macedo Lacerda

"Meu saudoso filho, Gildo Macedo Lacerda, foi um moço notável, simpático e justo, empreendedor e dinâmico.

Vivia sempre rodeado de bons amigos e por onde passava ia sempre conquistando novas amizades, isto graças à sua afabilidade, ao seu coração magnânimo, à sua grandeza de alma.

Era amigo da Paz e da Justiça. Seu maior desgosto era ver alguém ser pisoteado sofrendo calamidades injustamente.

Era possuidor de um coração generoso e nobre, vivia sempre dando o melhor de si em prol da comunidade.

Ficamos arrasados com tudo o que acontecou com o nosso querido Gildo. Ficamos também decepcionados com o cinismo por parte dos seus algozes e pelo consentimento daquele governo déspota.

Gildo morreu como morrem todos os heróis, de cabeça erguida e consciência tranquila. Seu desaparecimento foi uma perda irreparável, não só para nós os seus familiares, como para toda a nação.

Sentimos até hoje uma incomensurável falta da sua presença amiga, bondosa, com toda aquela gentileza que lhe era muito peculiar. Como também sentimos a falta de seu apoio, ele era o nosso arrimo, o nosso braço direito.

Era ele quem nos orientava, nos aconselhava, resolvendo os problemas com acerto, com a orientação dele, tudo dava certo.

Estou escrevendo com as lágrimas a escorrer-me pelas faces, pois, até hoje eu sinto uma dor intensa, arraigante, a corroer-me as mais profundas entranhas da alma.

E esta dor eu sei que me acompanhará até ao túmulo, por ter perdido o meu querido e amado filho que foi vítima fatal da sanha daqueles bárbaros desumanos, como tantos outros, brutalmente assassinado.

Mas, não desejo mal a eles, entrego para Deus; somente a Deus compete dar a punição que esses pobres infelizes merecem."

Sônia de Moraes Angel

SÔNIA MARIA DE MORAES ANGEL JONES
(27 anos)
Guerrilheira, Professora, Economista e Militante da Ação Libertadora Nacional

* Santiago do Boqueirão, RS (09/11/1946)
+ São Paulo, SP (30/11/1973)

Foi uma integrante do grupo guerrilheiro de extrema-esquerda Ação Libertadora Nacional (ALN) e participante da luta armada contra a Ditadura Militar brasileira. Presa, torturada e morta por agentes do regime militar, seus restos só foram identificados décadas após sua morte.

Filha de um oficial do Exército Brasileiro, Sônia estudou no Colégio de Aplicação da antiga Faculdade Nacional de Filosofia e, posteriormente, na Faculdade de Economia e Administração da UFRJ, de onde foi desligada pelo Decreto nº 477, de 24 de setembro de 1969, antes de se formar, por participar de atividades subversivas. Para se sustentar, trabalhava como professora de português, no Curso Goiás, no Leblon, na cidade do Rio de Janeiro, de propriedade de sua família.

Casou-se, em 18 de agosto de 1968, com Stuart Edgard Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que conheceu nas manifestações e reuniões de militantes de esquerda.

Foi presa pela primeira vez em 1 de maio de 1969, quando das manifestações de rua na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, e primeiro levada para o DOPS para interrogatório e em seguida para o Presídio Feminino São Judas Tadeu. Foi solta apenas em 6 de agosto de 1969, após ser absolvida pelo Superior Tribunal Militar, por unanimidade, passando à clandestinidade com o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar.

Em liberdade, ela auto-exilou-se na França em maio de 1970, indo estudar na Universidade de Vincennes, enquanto lecionava português na Escola de Idiomas Berlitz, em Paris.

Após a prisão e desaparecimento do marido, Stuart Edgard Angel Jones, em maio de 1971, Sônia decide voltar ao Brasil e retomar a luta armada, ingressando na Ação Libertadora Nacional (ALN), mas por causa da intensidade da repressão, foi em seguida refugiar-se no Chile de Salvador Allende, onde trabalhou como fotógrafa. Retornou ao Brasil secretamente em maio de 1973, passando a residir em São Paulo.

Morte e Identificação

Foto de Sônia, assassinada em 1973, encontrada no DOPS/SP
Com Antônio Carlos Bicalho Lana, outro integrante da Ação Libertadora Nacional com quem se unira, foi morar em São Vicente, onde alugou um apartamento em 15 de novembro de 1973. No mesmo mês, ela e Lana foram presos por agentes do DOI/CODI de São Paulo.

Foi noticiado pelo II Exército em versão oficial, publicada nos jornais O Globo e O Estado de São Paulo de 1 de dezembro de 1973, que ela morrera, após combate, a caminho do hospital, num tiroteio com agentes de segurança no bairro de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo.

Existem, na verdade, duas versões posteriores para a tortura e morte de Sônia:

A primeira delas, dada pelo próprio tio da militante, coronel Canrobert Lopes da Costa, ex-comandante do DOI/CODI de Brasília e irmão do pai dela, que diz que "depois de presa, do DOI-CODI de São Paulo foi mandada para o DOI-CODI do Rio de Janeiro, onde foi torturada, estuprada com um cassetete e mandada de volta a São Paulo, já exangüe, onde recebeu dois tiros."

A segunda versão, do ex-sargento Marival Chaves, ex-membro do DOI/CODI de São Paulo e do Centro de Informações do Exército (CIEx), em Brasília, dada à Revista Veja em 1992, afirma que "Sônia e Antônio Carlos foram presos e levados para um sítio na Zona Sul de São Paulo onde ficaram de cinco a dez dias sendo torturados, até morrerem, dia 30 de novembro de 1973 com tiros pelo corpo, sendo colocados, no mesmo dia, à porta do DOI-CODI/SP, para servir de exemplo. Ao mesmo tempo, foi montado um 'teatrinho' para justificar a versão oficial de que foram mortos em conseqüência de tiroteio, no mesmo dia 30 (metralharam com tiros de festim um casal e os colocaram imediatamente num carro).

Durante quase vinte anos, a família de Sônia investigou os fatos relativos à sua morte e a de seu companheiro Antônio Carlos Bicalho Lana. O resultado destas investigações foi transformado no vídeo Sônia Morta e Viva, dirigido por Sérgio Waismann.

Ela foi enterrada como indigente no Cemitério de Perus, em São Paulo, sob o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar, mesmo depois de identificada como Sônia Angel. Através de um processo na 1ª Vara Cívil de São Paulo, seu pai, Tenente-coronel da reserva João Luiz de Morais, conseguiu a correção do certificado de óbito e a verdadeira identificação da filha. Com Sônia oficialmente morta, seus supostos restos, encontrados no Cemitério de Perus, foram transladados para o Rio de Janeiro em 1981, oito anos após sua morte.

No ano seguinte, na tentativa de conseguir uma maior apuração do acontecido à Sônia, através de um processo contra Harry Shibata, legista do IML/SP que atestou sua morte, descobriu-se que os ossos entregues à família eram de um homem.

Para sepultar os restos mortais da filha, sua família teve que fazer um total de seis exumações de corpos. Apenas em 1991, através da identificação dos mortos de Perus feita pela Unicamp, os verdadeiros ossos de Sônia Angel Jones puderam ser realmente identificados e foram enterrados no Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1991.

Homenagens Póstumas

Seu nome hoje batiza um viaduto no bairro do Jardim Santo Antônio, na cidade de São Paulo, um bairro na cidade de Mauá e uma rua no bairro do Tirol, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Em 2011, a atriz Fernanda Montenegro a homenageou fazendo seu papel numa campanha cívica da OAB pela abertura dos arquivos da Ditadura Militar, para saber a verdade sobre sua morte e de outros guerrilheiros assassinados ou desaparecidos, exibida na televisão e nos cinemas de todo o Brasil.

Fonte: Wikipédia

Stuart Angel Jones

STUART EDGARD ANGEL JONES
(25 anos)
Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro

* Salvador, BA (11/01/1946)
+ Rio de Janeiro, RJ (14/06/1971)

Foi um integrante da luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil e militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), preso, torturado, morto e dado como desaparecido político brasileiro.

Stuart era filho do americano Norman Jones e de Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, figurinista e estilista conhecida internacionalmente.

Bicampeão carioca de remo pelo Clube de Regatas Flamengo na adolescência, ele foi estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possuía dupla nacionalidade, brasileira e americana.

Na virada das décadas de 60/70, passou a militar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro, grupo de extrema-esquerda que fazia a luta armada contra o Regime Militar, onde usava os codinomes Paulo e Henrique.

Preso, torturado e morto por membros do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA) em 14 de junho de 1971, aos 25 anos de idade. Foi casado com a também militante e guerrilheira Sônia Maria de Moraes Angel Jones, presa, torturada e morta dois anos depois e também dada como desaparecida.

Morte

Preso próximo a seu aparelho, no bairro do Grajaú, perto da Avenida 28 de Setembro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Stuart foi levado pelos agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA) à Base Aérea do Galeão para interrogatório. Dele, os militares queriam a informação da localização do ex-capitão Carlos Lamarca, chefe do Movimento Revolucionário 8 de Outubro e então o grande procurado pelo regime. Negando-se a falar, Stuart Angel Jones foi então barbaramente torturado no pátio da base, vindo a morrer em consequência dos maus tratos.

A versão mais conhecida e aceita de sua tortura e morte foi dada pelo ex-guerrilheiro Alex Polari, também preso na base, e que assistiu da janela de sua cela as torturas feitas contra Stuart, presenciando inclusive a cena em que ele foi arrastado por um jipe militar, com o corpo completamente esfolado e com a boca no cano de descarga do veículo, pelo pátio interno do quartel, o que causou sua morte por asfixia e envenenamento por gás carbônico. Alex Polari escreveu uma carta a Zuzu Angel contando-lhe o ocorrido com o filho. De posse dela, a estilista denunciou o assassinato de Stuart - que tinha cidadania brasileira e americana - ao senador Edward Kennedy, que levou o caso ao Congresso dos Estados Unidos.

O livro Desaparecidos Políticos, de Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, aponta duas versões para o desaparecimento do corpo do guerrilheiro:

"A primeira é de que teria sido transportado por um helicóptero da Marinha para uma área militar localizada na Restinga de Marambaia, na Barra de Guaratiba, próximo à (então) zona rural do Rio de Janeiro, e jogado em alto-mar pelo mesmo helicóptero. Mas, de acordo com outras informações, o corpo de Stuart teria sido enterrado como indigente, com o nome trocado, num cemitério de um subúrbio carioca, provavelmente Inhaúma."

Os responsáveis, segundo eles:

"Os brigadeiros João Paulo Burnier e Carlos Afonso Dellamora, o primeiro, chefe da Zona Aérea e, o segundo, comandante do CISA; o tenente-coronel Abílio Alcântara, o tenente-coronel Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena - todos do mesmo organismo; o capitão Alfredo Poeck – do Centro de Informações da Marinha (CENIMAR); Mário Borges e Jair Gonçalves da Mota - agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)".

Pelos anos seguintes, a mãe de Stuart, Zuzu Angel, peregrinou pelo poder militar tentando conseguir explicações e informações sobre o corpo do filho, oficialmente dado como desaparecido. Sua campanha chegou ao mundo da moda, na qual tinha destaque, com desfiles de coleções feitas com roupas estampadas com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Zuzu Angel chegou a realizar em Nova York um desfile-protesto, no consulado do Brasil na cidade.

Usando de sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak, em sua causa, e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da cidadania americana.

Zuzu Angel morreu em 1976, num acidente de automóvel nunca devidamente explicado no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro, sem jamais conseguir descobrir o paradeiro do corpo de Stuart Angel.

Cinema e Literatura

Em 2006, a vida de Stuart Angel Jones e de sua mãe foram levadas ao cinema, com o filme Zuzu Angel, dirigido por Sérgio Rezende, com Daniel de Oliveira e Patrícia Pillar no papel do militante-guerrilheiro e da estilista.

O escritor José Louzeiro escreveu o romance "Em Carne Viva", com personagens e situações que lembram o drama da morte de Stuart Angel.

Stuart Jones é patrono da Juventude Revolucionária 8 de Outubro, seção de jovens do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), hoje uma facção política integrante do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Fonte: Wikipédia

Alexandre Vannucchi

ALEXANDRE VANNUCCHI LEME
(22 anos)
Líder Estudantil e Militante da ALN

* Sorocaba, SP (05/10/1950)
+ São Paulo, SP (17/03/1973)

Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Era filho de José de Oliveira Leme e Egle Maria Vannucchi Leme.

Fez o ginasial no Instituto de Educação Estadual Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, em Sorocaba. Cursava o 4° ano de Geologia na USP quando foi assassinado. Foi preso por agentes do DOI/CODI-SP no dia 16 de março de 1973, por volta das 11:00 hs. As torturas inflingidas a Alexandre Vannucchi iniciaram-se assim que deu entrada nas dependências do DOI/CODI, tendo sido a equipe C a primeira a torturá-lo.

Tal equipe era chefiada pelo delegado de polícia conhecido pelo nome de Dr. Jorge e composta pelos seguintes elementos: escrivão de polícia Gaeta, tenente da PM Mário, investigador de polícia conhecido como Oberdan e o carcereiro policial do DOI/CODI conhecido como Marechal.

No dia seguinte, Alexandre Vannucchi foi torturado pelos membros da equipe A, chefiada pelo torturador de nome Dr. José e pelo investigador conhecido por Dr. Tomé e composta por: Caio ou Alemão, Dr. Jacó, Silva, Rubens, todos orientados diretamente pelo comandante daquele departamento, o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Os pais de Alexandre Vannucchi
As torturas prolongaram-se até pouco depois do meio-dia, tendo então Alexandre Vannucchi sido colocado na cela-forte.

Por volta das 17 horas, o carcereiro conhecido pelo nome de Peninha, foi retirá-lo da cela para levá-lo para mais uma sessão de tortura. Alexandre Vannucchi não respondia aos gritos do carcereiro que, intrigado, entrou na escura cela-forte e constatou que estava morto, saindo da cela aos gritos de "o homem morreu". Os torturadores correram todos para ver o corpo de Alexandre Vannucchi e o retiraram da cela-forte, arrastando-o pelas pernas.

Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI/CODI naquele dia, era brutal: Alexandre Vannucchi, sangrava abundantemente na região do abdômen.

A morte de Alexandre Vannucchi foi justificada pelos torturadores, perante a acusação dos demais presos, como tendo sido provocada por suicídio com auxílio de uma lâmina de barbear. Somente no dia 23 de março os órgãos de segurança divulgaram sua morte, com a notícia de que fora atropelado ao tentar fugir à prisão.

Tal versão foi desmentida categoricamente nos depoimentos prestados no mês de julho de 1973, perante a 1ª Auditoria Militar, pelos seguintes presos políticos: Luis Vergatti, Cesar Roman dos Anjos Carneiro, Leopoldina Brás Duarte, Carlos Vítor Alves Delamônica, Walkiria Queiroz Costa, Roberto Ribeiro Martins, José Augusto Pereira, Luís Basílio Rossi e Neide Richopo. Tais depoimentos foram citados pelo ministro do Superior Tribunal Militar, Rodrigo Otávio Jordão Ramos no dia 26 de abril de 1978.

Como a nota oficial só foi divulgada vários dias após o assassinato de Alexandre Vannucchi, sua família só pôde localizar o corpo quando este já se encontrava enterrado. Detalhe bastante significativo é que Alexandre Vannucchi fora enterrado sem qualquer espécie de caixão, em cova rasa e forrada de cal-virgem, a fim de que a decomposição do corpo fosse acelerada e apagadas as marcas evidentes das torturas que o levaram à morte.


Um fato importante que evidencia a farsa montada para encobrir o assassinato de Alexandre Vannucchi sob tortura é a declaração do delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury à família Vanucchi Leme que, em evidente e cínica confissão de "fracasso" dizia "não ter sido possível obter de Alexandre sequer o local de sua própria residência".

Segundo o livro "Gritos de Justiça", de Mário Simas, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, seus pais, em 20 de março de 1973, receberam um telefonema anônimo informando que Alexandre Vannucchi se encontrava preso no DOPS/SP. Lá e em outros órgãos da repressão onde o procuraram sempre ouviram negativas. Dias depois, quando sua morte já havia sido publicada pela imprensa, no IML/SP, foram informados que havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus.

Apesar de haverem constituído advogado imediatamente após a notícia de sua prisão, somente 10 anos depois puderam resgatar seus restos mortais. Foi instaurado um inquérito pelo Departamento de Ordem Política e Social para apurar a morte de Alexandre Vannucchi e encaminhado para a 2ª Auditoria Militar, onde o juiz auditor Nelson da Silva Machado Guimarães encaminhou para o comandante do II Exército e, como era de se esperar, foi arquivado sem solução.

A necrópsia, feita no IML/SP, em 22 de março de 1973, pelos doutores Isaac Abramovitch e Orlando Brandão, confirma a falsa versão oficial publicada de que teria se atirado sob um veículo, sofrendo contusão na cabeça. A certidão de óbito, falsamente atesta sua morte em 17 de março de 1973, após atropelamento na Rua Bresser, SP, quando era levado ao Hospital das Clínicas.

Em 1983, finalmente os restos mortais de Alexandre Vannucchi foram trasladados para Sorocaba, sua terra natal.

Alguns trechos de matéria sobre ele publiclado no O Jornal do Campus (USP):

"Desde muito cedo revelou inteligência viva, muito aberta a todos os conhecimentos humanos. Interessava-se por tudo e, assim que foi alfabetizado, foi tomado por um gosto enorme pela leitura. Não parou mais de ler.

Só depois de sua morte, seus pais souberam que Alexandre fora classificado em 1° lugar no vestibular para a Geologia da USP. Era um típico sorocabano, caipirão. Andava sempre com umas botinhas de cano curto, calças curtas. Era um nativo. Cara gozador, colocava apelido na escola inteira. Tirava um sarro de todo o mundo que não se adaptava às condições de campo nas excursões da Geologia. Cara que não conhecesse passarinho, cobra e história de assombração, ele pegava no pé do coitado. Uma antiga tradição da Geologia, da USP, reza que todo calouro deve receber um apelido. Alexandre ficou conhecido como Minhoca, talvez por ser baixinho, franzino e pelo grande interesse que demonstrou pela profissão. Tinha uma coisa que ele gostava de fazer: traduzir artigos estrangeiros sobre filosofia, política, economia. Ele já estava se especializando em teorias economicas do 3° mundo, questões do subdesenvolvimento ou análise da história da pobreza.

Partilhava de todas as lutas comuns aos estudantes da época: contra o ensino pago, contra a falta de verbas, contra o fechamento do CRUSP. Por outro lado, como estudante de Geologia, foi extremamente preocupado com a questão dos recursos naturais do país devastados pelo capital estrangeiro. Sobre o ciclo da exploração do ferro, editou um boletim especial do Centro Acadêmico da Escola, no qual enumerava as principais jazidas e empresas exploradoras. Tomou posição contra a Transamazônica, do modo como estava sendo feita. E passou a fazer, junto com outros colegas, exposições e palestras em outras faculdades e escolas do 2° grau. Ninguém viu Alexandre ser preso, mas no dia 16 de março de 1973, ele já estava sendo torturado na Operação Bandeirantes (DOI-CODI/SP). Seus gritos o testemunhavam. Para a cela, voltou carregado da sala de torturas. Ainda pode dizer aos outros presos: “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme, sou estudante de Geologia, me acusam de ser da ALN... eu só disse meu nome...

No final da tarde do dia 17, os presos foram obrigados a ficar no fundo das celas, de costas. Mesmo assim, puderam ver um corpo ser arrastado, espalhando sangue por todo o pátio da carceragem. Alexandre fora assassinado.

No dia 30 de março de 1973, foi celebrada uma missa, na Catedral da Sé, por D. Paulo Evaristo Arns com a presença de 3 mil pessoas que chegaram até a Igreja, apesar da intensa repressão policial.

No dia seguinte, 31 de março, o governo comemorou o aniversário do Golpe de Estado de 64, a seleção brasileira jogou, as Forças Armadas marcharam e o general Médici discursou. A nota oficial de sua morte divulgada pelos órgãos de segurança nacional e publicada na grande imprensa informava que Alexandre era terrorista, membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) - dissidência do PCB que tentou a luta armada - e morreu atropelado.

As práticas terroristas das quais foi acusado, ocorreram quando Alexandre convalescia de uma operação de apendicite conforme testemunhou seu médico, Dr. Cássio Rosa; ou quando assistia às aulas, como testemunharam colegas e professores. Os presos políticos na época, declararam ao Superior Tribunal Militar que foram testemunhas da morte de Alexandre Vannucchi Leme nas dependências da Operação Bandeirantes, sob torturas. Mesmo diante de tantas provas, o caso foi arquivado. O Ministro Rodrigo Otávio Jordão tentou reabri-lo em 1978, mas seu voto foi vencido por 13 a 1."