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Eduardo Souto

EDUARDO SOUTO
(60 anos)
Compositor, Pianista e Maestro

* São Vicente, SP (14/04/1882)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/08/1942)

Eduardo Souto foi um pianista, compositor e maestro brasileiro. Dedicou-se a diversos gêneros, como a valsa, o tango e o samba. Compôs músicas românticas, como o tango "O Despertar da Montanha", "As Quatro Estações", as operetas "Paixão de Artista", "Os Milhões do Senhor Conde", "A Maçã", e outras. Compôs ainda o hino oficial do Botafogo, hino que foi ofuscado pela criação de Lamartine Babo.

Em 1919, compôs sua grande obra, o tango de salão "O Despertar da Montanha", peça típica dos saraus do início do século, que se tornou essencial no repertório pianístico brasileiro.

Em 1920, fundou a Casa Carlos Gomes, situada na Rua Gonçalves Dias, que além de lançar definitivamente o seu nome no meio artístico tornou-se ponto de encontro de grandes compositores da época. Imprimindo, inicialmente, obras quase que exclusivamente de sua autoria, a impressão da Casa Carlos Gomes passou posteriormente a abranger outros compositores de música de salão. Ainda em 1920, fez a programação musical e organizou as orquestras que tomaram parte da recepções ao Rei da Bélgica em sua visita ao Brasil.

Em 1921, fez sucesso no carnaval com a chula baiana "Pemberê", gravada pelo cantor Bahiano e pelo Grupo do Moringa na gravadora Odeon. No mesmo ano, Bahiano gravou de sua autoria o choro "Mesmo Assim", a canção carnavalesca "Eu Vou-me Embora" e os cateretês "No Rancho" e "Caboclo Magoado". Ainda no mesmo ano, o Grupo do Moringa gravou os choros "Mesmo Assim" e "Um Baile no Catumbi", o cateretê carnavalesco "Caboclo Magoado" e o cateretê "No Rancho". Em 1921, a Orquestra Passos gravou na Odeon o fox trot "Uma Festa no Japão", a valsa "Nuvens" e o tango "Do Sorriso da Mulheres Nascem as Flores". Vicente Celestino gravou as canções "Paixão de Artista""O Que os Teus Olhos Dizem" e o tango "Saudade". Eduardo Souto compôs em parceria com Norberto Bittencourt "Seu Delfim Tem Que Vortá", música em que faz referência ao presidente Delfim Moreira. No carnaval de 1921 fez sucesso com a marcha "Pois Não" (Eduardo Souto e João da Praia), gravada quase simultaneamente pelo Bahiano e pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

Contribuiu enormemente, através de sua produção, para o desenvolvimento e a fixação do gênero marcha. "Pois Não", além de ter sido pioneira das marchas carnavalescas, foi incluída em 1921 na revista "Gato, Baeta, Carapicu", de Cardoso de Meneses, Bento Moçurunga e Bernardino Vivas, que estreou no Teatro São José, apresentada pela atriz Otília Amorim e pelo ator Álvaro Fonseca à frente de um bloco. Também em 1921, fez a música para a revista "Fogo de Palha", de J. Brito apresentada no Teatro Recreio e cujo grande sucesso foi a "Canção do Pescador", apresentada por Francisco Pezzi. Fez também as música para a burleta "Paixão de Artista", de Soares Júnior e Tapajós Gomes apresentada no Teatro São Pedro, com Vicente Celestino interpretando suas composições.

Por volta de 1922, criou o Grupo Eduardo Souto e gravou na Odeon o maxixe carnavalesco "Não Sei o Que é" e o fox trot "O Carnaval", de sua autoria. No mesmo ano, apresentou-se com o paulista Cornélio Pires, pioneiro da música caipira, na Associação Brasileira de Imprensa, durante as festividades do Centenário da Independência. Ainda nesse mesmo ano, alcançou grande êxito com o cateretê "Eu Só Quero é Beliscar" gravado pelo cantor Bahiano na Odeon.

Em 1923, ao compor o samba à moda paulista "Tatu Subiu No Pau", procurou diversificar seu repertório com uma peça bem ao estilo de Marcelo Tupinambá. Criou então uma obra tipicamente caipira, baseada em motivos folclóricos e que apesar dessa característica apareceu com grande destaque no carnaval. Para tal sucesso contribuíram seus métodos de divulgação que incluíam a execução repetida das músicas nos pianos da Casa Carlos Gomes, com distribuição das letras aos transeuntes, e até a criação de um bloco que frequentava a Festa da Penha. Para fora do Rio de Janeiro, iam os discos de sua orquestra, gravados pela Casa Edison, da qual foi diretor artístico por vários anos. Ainda em 1923, criou a Orquestra Eduardo Souto com a qual gravou na Odeon as marchas carnavalescas "Goiabada", "Tatu Subiu No Pau" e "Só Teu Amor", o cateretê "Piracicaba", o maxixe "Meu Bem", o samba carnavalesco "Espanta Bode", a toada carnavalesca "Só Pra Machucar" e o cateretê carnavalesco "Nego Véio", todas de sua autoria. Ainda nesse mesmo ano, sua música "Tatu Subiu No Pau" deu nome a uma revista dos Irmãos Quintiliano apresentada no Teatro São José. Fez ainda as músicas para a revista "A Maçã", também dos Irmãos Quintiliano e apresentada no Teatro Recreio.

Em 1924, gravou com sua orquestra mais algumas composições de sua autoria, entre as quais, o tango "Sugestão De Um Sorriso", o cateretê "Poeta Do Sertão", a valsa lenta "Viver Dentro De Um Sonho" e o fox trot "Um Festival No Arraial". No mesmo ano, fez com o maestro Assis Pacheco as músicas para a revista "Off-Side", de J. Brito, apresentada no Teatro São José, sendo cantadas por Francisco Alves e Aracy Côrtes. Fez ainda as músicas para a revista "A Folia", dos Irmãos Quintiliano e apresentada no Teatro Lírico sobre a qual o crítico Mário Nunes escreveu:

"O sucesso da revista cabe, em grande parte, à partitura de Eduardo Souto, em que superabundam bonitos números, não havendo revista em que o folclore esteja tão bem representado nas suas melodias dolentes e harmoniosas toadas."


Em 1925, gravou com sua orquestra o fox trot "Não Sei Dizer", a marcha carnavalesca "Pai Adão" e os sambas "Tem Que Havê Combinação", "Se Me Dé De Comê" e "Quem Quiser Ver", de sua autoria. No mesmo ano, a dupla Bahiano e Januário gravou o cateretê carnavalesco "Iaiá-Ioiô", além de outras canções.

Em 1926, Zaíra de Oliveira gravou suas canções "Cantiga""A Margura" e o fado tango "Guitarrada". No mesmo ano, a mesma Zaíra de Oliveira gravou em dueto com Bahiano o cateretê carnavalesco "Eu Só Quero É Conhecer" e a marcha "Quando Me Lembro", parceria com João da Praia. Também no mesmo ano, o cantor Del Nigri registrou na Odeon suas canções "A Despedida" (Eduardo Souto e Bastos Tigre), "O Sabiá" (Eduardo Souto e Goulart de Andrade), "Nunca Mais" (Eduardo Souto e Heitor Modesto) e "Romantismo" (Eduardo Souto e Zito Batista). Escreveu em parceria com o maestro Antônio Lago a música para a revista "Zig Zag", de Bastos Tigre. Fez também as músicas para a revista "Dentro Do Brinquedo", de Carlos Bittencourt, apresentada no Teatro São José.

Em 1927 fez com Bento Moçurunga as músicas para a revista "Boas Falas", de Bastos Tigre.

Em 1929, lançou duas marchinhas sobre o presidente Washington Luís, "É Sim Senhor" e "Seu Doutor", ambas gravadas por Francisco Alves na Odeon.

Em 1930, compôs com Osvaldo Santiago o "Hino a João Pessoa", homenagem ao político paraibano assassinado naquele ano. O hino foi gravado ainda em 1930 por Francisco Alves e em seguida, pela Banda do Regimento Naval. Este hino obteve enorme sucesso porque a Revolução que aconteceu naquele momento levou ao poder partidários de João Pessoa, que foi elevado à condição de mártir do movimento. O disco gravado por Francisco Alves foi lançado em pleno período de euforia dos vitoriosos e vendeu milhares de cópias, tornando-se o grande sucesso do ano.

Em 1931, teve o tango canção "O Despertar Da Montanha" e a barcarola "Praias De Nossa Terra" gravada na Odeon pela Orquestra Colonial. No mesmo ano, sua marcha "Verbo Ser" foi gravada por Francisco Alves e Norma Bruno e seu samba "Tem Moamba", pela Orquestra Copacabana, ambas na Odeon. A Orquestra Copacabana gravou a valsa "Viver... Morrer... Por Um Amor" (Eduardo Souto e Osvaldo Santiago). Compôs ainda com João de Barro a marcha "Batucada", um de seus últimos sucessos, gravada por Mário Reis. No mesmo período, o cantor Jorge Fernandes gravou a canção "Vestido Encarnado" (Eduardo SoutoJoão de Barro) e a valsa "Viver" (Eduardo Souto e Eugênio Fonseca Filho). Participou do elenco do Teatro Cassino Beira-Mar no Rio de Janeiro, juntamente com Ary Barroso, Bando de Tangarás, Elisa Coelho, Carolina Cardoso de Menezes, Luperce Miranda e Artur Nascimento, quando então se realizou o Festival Parlophon.

Eduardo Souto foi o idealizador do Coral Brasileiro, integrado por famosos cantores como Bidu Sayão, Zaíra de Oliveira, Nascimento Silva e outros. Orquestrador de música sinfônica, realizou concertos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foi também diretor artístico da Odeon e da Parlophon.

Em 1932, conheceu seu último grande sucesso, a marcha rancho "Gegê" (Eduardo Souto e Getúlio Marinho), gravada por Jaime Vogeler na Odeon em novembro do ano anterior. No mesmo ano, Jaime Vogeler gravou o cateretê "Lá No Sertão" (Eduardo Souto e Eustórgio Wanderley) e a reza de malandro "Samba Nosso" (Eduardo Souto, Benoit CertaineFrancisco Alves), as canções "A Saudade" e "A Despedida", ambas parcerias com Bastos Tigre. Teve ainda as marchas "Anatomia" e "Aborrecimentos", parcerias com José Evangelista, gravadas por Castro Barbosa e Jonjoca.

A partir de 1932, com surgimento de uma nova geração de compositores, o nome de Eduardo Souto caiu no esquecimento.

Em 1933, teve o samba "Mandei Buscar", gravado por Leonel Faria, a marcha rancho "Amor, Meu Grande Amor" (Eduardo Souto e Luiz Martins), gravada por João Petra de Barros, as marchas "Modos De Mamar" por Jaime Vogeler e "Terapêutica", por Vitório Lattari.

Em 1953, sua toada-canção "Do Sorriso Das Mulheres Nasceram As Flores", foi regravada em interpretação de cítara Avena de Castro em disco Copacabana.

Em 1958, seu filho, o pianista Nelson Souto, gravou o LP "Nelson Souto Interpreta Eduardo Souto", com músicas suas. Pouco depois, a Sinter lançou o LP "Eduardo Souto Na Interpretação de Mário de Azevedo".

Eduardo Souto Neto, filho de Nelson Souto, passou a se destacar como compositor, pianista e arranjador, a partir de 1970.

Discografia

  • 1959 - Eduardo Souto Na Interpretação de Mário de Azevedo (Sinter, LP)
  • 1958 - Nelson Souto Interpreta Eduardo Souto (Festa, LP)
  • 1925 - Não Sei Dizer (Odeon, 78)
  • 1925 - Iaiá Ioiô (Odeon, 78)
  • 1925 - Pai Adão (Odeon, 78)
  • 1925 - Fais Chorá (Odeon, 78)
  • 1925 - Tem Que Havê Combinação (Odeon, 78)
  • 1925 - Se Me Dé De Comê (Odeon, 78)
  • 1925 - Quem Quiser Ver (Odeon, 78)
  • 1925 - Parati Dançante (Odeon, 78)
  • 1924 - Sonho Oriental (Odeon, 78)
  • 1924 - Jeriquitim (Odeon, 78)
  • 1924 - Sugestão De Um Sorriso (Odeon, 78)
  • 1924 - Viver Dentro De Um Sonho (Odeon, 78)
  • 1924 - Poeta Do Sertão (Odeon, 78)
  • 1924 - Malditos Olhos (Odeon, 78)
  • 1924 - Um Festival No Arraial (Odeon, 78)
  • 1924 - Marulhos (Odeon, 78)
  • 1924 - Mister Câmbio (Odeon, 78)
  • 1924 - Guanabara (Odeon, 78)
  • 1924 - Viradinho (Odeon, 78)
  • 1924 - Monta No Trouxa (Odeon, 78)
  • 1923 - Goiabada (Odeon, 78)
  • 1923 - Tatu Subiu No Pau (Odeon, 78)
  • 1923 - Só Teu Amor (Odeon, 78)
  • 1923 - Piracicaba (Odeon, 78)
  • 1923 - Meu Bem (Odeon, 78)
  • 1923 - Espanta Bode (Odeon, 78)
  • 1923 - Só Pra Machucar (Odeon, 78)
  • 1923 - Nego Véio (Odeon, 78)
  • 1923 - Eu Só Quero Ver (Odeon, 78)
  • 1923 - Não Olhe Assim (Odeon, 78)
  • 1923 - Viola Do Jangadeiro (Odeon, 78)
  • 1922 - Não Sei O Que É (Odeon, 78)
  • 1922 - O Carnaval (Odeon, 78)
  • 1023 - Deu O Fora (Odeon, 78)


Francisco Manuel da Silva

FRANCISCO MANUEL DA SILVA
(70 anos)
Compositor, Instrumentista, Maestro e Professor

* Rio de Janeiro, RJ (21/02/1795)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/12/1865)

Francisco Manuel da Silva foi um compositor, maestro e professor brasileiro. Era filho de Joaquim Mariano da Silva e Joaquina Rosa. Ainda menino, começou a estudar música com o célebre compositor padre José Maurício Nunes Garcia, talvez o maior nome da música colonial brasileira. Foi também aluno de Policarpo Beltrão e Marcos Portugal, aperfeiçoando-se depois com Sigismund von Neukomm, aprendendo violino, violoncelo, órgão, piano e composição.

Ainda bem jovem escreveu um "Te Deum" para o então príncipe Dom Pedro I, que lhe prometeu financiar seu aperfeiçoamento na Europa, mas não chegou a cumprir a promessa. Em vez disso, nomeou-o para a Capela Real, onde foi bastante ativo como diretor musical.

Em 1833 fundou a Sociedade Beneficente Musical, que teve um papel importante na época e funcionou até 1890. Contando com a simpatia do novo imperador Dom Pedro II, foi nomeado para o posto de compositor da Imperial Câmara em 1841 e no ano seguinte assumiu como mestre-de-capela.

Em 1857, Dom Pedro II lhe ofereceu a condecoração máxima, a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Rosa.


Talvez seu maior mérito seja a fundação do Conservatório do Rio de Janeiro, a origem da atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também foi regente do Teatro Lírico Fluminense, depois transformado na Ópera Nacional.

Sua obra de composição não é considerada de grande originalidade, embora sejam interessantes a "Missa Ferial" e a "Missa Em Mi Bemol", mas foi o autor de uma única peça que se tornou célebre, a melodia do atual "Hino Nacional Brasileiro". Compôs também valsas, quadrilhas, modinhas e lundus, como o antológico "Lundu da Marrequinha", que recebeu letra de Paula Brito. Na época de sua composição, esse lundu fez muito sucesso, figurando depois em vários livros sobre modinhas, lundus e cançonetas.

Francisco Manuel da Silva faleceu com 70 anos de idade, em sua casa, no centro do Rio de Janeiro, na Rua Visconde do Rio Branco, nº49, vítima de "tísica na laringe", cercado da admiração e respeito gerais.

Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi, na cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Erlon Chaves

ERLON CHAVES
(40 anos)
Maestro, Arranjador, Instrumentista, Disk Jockey, Ator, Compositor e Cantor

* São Paulo, SP (09/12/1933)
+ Rio de Janeiro, RJ (14/11/1974)

Ainda bem pequeno, demonstrou gosto pela música, chegando a apresentar-se na Rádio Difusora de São Paulo, em um programa infantil. Foi ator mirim no filme "Quase No Céu" (1949). Começou a estudar música aos 7 anos, matriculando-se no Conservatório Musical Carlos Gomes, onde se formou em piano em 1950. Estudou também canto com a professora Tercina Saracceni. Ainda na década de 1950, estudou harmonia, tendo sido orientado pelos maestros Luís Arruda Pais, Renato de Oliveira e Rafael Pugliese.

Ingressou na carreira artística, como pianista de casas noturnas, na década de 1950, quando teve a oportunidade de conhecer muitos músicos e a desenvolver técnica jazzística.

Como cantor, fez sucesso, com a versão de "Matilda", calipso criado por Harry Belafonte, no final dos anos 1950.

Trabalhou até meados dos anos 1960 na TV Excelsior de São Paulo, compondo uma sinfonia que tornou-se prefixo da emissora por muitos anos.

Em 1965, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na TV Tupi e na TV Rio. Nesta emissora, chegou a exercer a função de diretor musical, sendo um dos responsáveis pela realização do I Festival Internacional da Canção em 1966, evento para o qual compôs um prefixo até hoje utilizado em versões mais atuais dos festivais da TV Globo.

No V Festival Internacional da Canção, realizado pela TV Globo em 1970, regeu um coro de 40 vozes que posteriormente passou a atuar com o nome de Banda Veneno, acompanhando o cantor Jorge Ben. Fez sucesso com a música "Eu Também Quero Mocotó" (Jorge Ben) e seguiu carreira solo com grande êxito. Erlon Chaves foi acusado de assédio moral após uma cena em que é beijado por diversas loiras em apresentação na etapa internacional. Foi acusado pela ditadura militar brasileira. Neste festival estava presente o presidente da república, general Emílio Garrastazu Médici.

A imagem do povo brasileiro feliz seria veiculada para o mundo, em cores para a Europa e Estados Unidos. A ditadura militar brasileira não deixava dúvida, queria manter música e o espetáculo deste festival em prol da imagem que deveria ser painel para o mundo. Nesta época, Erlon Chaves estava namorando a então Miss Brasil de 1969, Vera Fischer.

Teve intensa atuação como arranjador, trabalhando em discos e shows de grandes nomes da música brasileira e internacional.

Em 1968, acompanhou Elis Regina em sua excursão a Paris, quando a cantora se apresentou no Olympia. Gravou com Paul Mauriat um LP contendo músicas brasileiras: "Águas de Março" (Tom Jobim e Paulo César Pinheiro), "Como Dois e Dois" (Caetano Veloso), "Construção" (Chico Buarque), "Dona Chica" (Dorival Caymmi) e "Testamento" (Toquinho e Vinícius de Moraes).

Em 1973, gravou pela Phillips o LP "As Dez Canções Medalha de Ouro", com destaque para "Casa no Campo" (Zé Rodrix e Tavito) e "Amada Amante" (Roberto Carlos e Erasmo Carlos).

Erlon Chaves era amigo de Wilson Simonal, Jairzinho e de Carlos Alberto. Sempre estiveram juntos e se reuniam para conversar. Os dois últimos são campeões da Copa do Mundo de 1970, do México.

Erlon Chaves faleceu em 14/11/1974 vítima de infarto fulminante quando discutia (dizem que defendia) com um grupo de forma emocionada a polêmica em torno dos acontecimentos com o Wilson Simonal, aos 40 anos.


Discografia

  • 1959 - Em Tempo de Samba - Erlon Chaves e Sua Orquestra
  • 1965 - Sabadabada
  • 1965 - Alaíde Costa (Participação Como Arranjador)
  • 1971 - Banda Veneno
  • 1972-1974 - Banda Veneno Internacional

Coletânea

  • 1999 - Millennium: Erlon Chaves


Tema de Telenovela

  • 1966 - "O Sheik de Agadir" (TV Globo, autor da Música Tema)
  • 1966 - "Eu Compro Esta Mulher" (Música Tema)
  • 1970 - "Pigmalião 70" (TV Globo. Na trilha sonora da novela consta a participação de Erlon Chaves e Orquestra, nas músicas "Tema de Cristina", "Tema de Nando e Candinha" e "Povos", todas de autoria do maestro)


Tema de Filme

  • 1973 - "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa" (Renato Aragão e Dedé Santana)



Benedito Lacerda

BENEDITO LACERDA
(54 anos)
Compositor, Maestro e Flautista

* Macaé, RJ (14/03/1903)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/02/1958)

Benedito Lacerda nasceu em Macaé, no estado do Rio de Janeiro, e desde pequeno frequentou a Sociedade Musical Nova Aurora. Filho da lavadeira Dona Lousada, Benedito sempre foi muito ágil em suas questões.

Aos 8 anos, começou a aprender flauta de ouvido. Iniciou suas atividades musicais como integrante da banda Nova Aurora em sua cidade natal.

Aos 17 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a residir no bairro do Estácio, famoso por abrigar sambistas e batuqueiros. Benedito Lacerda cresceu num ambiente de muitos chorões e sambistas. Cresceu ao lado de Bide, Noel Rosa e Ismael Silva. Estudou flauta sob a orientação de Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa. Estudou também no Instituto Nacional de Música, diplomando-se em flauta e composição.

Em 1922, ingressou na Polícia Militar, mas não abandonando suas atividades musicais. De 1923 a 1925, participou da banda do batalhão tocando bumbo, uma vez que não conhecia música na pauta. Nessa época, estudou música para valer e logo passou a tocar flauta na banda. Em pouco tempo no posto de flautista da corporação, passou numa prova, em 1925, em primeiro lugar para flautista de primeira classe, ao tocar toda a parte de flauta de "O Guarany", de Carlos Gomes. Obteve sua transferência para a Escola Militar do Realengo, como músico de primeira classe, tornando-se solista. Benedito Lacerda ficou cinco anos na carreira militar, e, em 1927 pediu baixa e mergulhou na música popular.

Em 1928, foi tocar com o grupo regional Boêmios da Cidade, acompanhando Josephine Baker, tocando em cinemas, orquestras de teatros, dancings e cabarés. Atuou também como saxofonista em algumas orquestras de jazz.

Ao findar os anos 20 e iniciar a década de 1930, Benedito Lacerda organizou um grupo com ritmos brasileiros, batizado de Gente do Morro. O grupo se caracterizava pelos efeitos de percussão e solos de flauta. O grupo durou pouco e fez uma viagem a Campos acompanhando Noel Rosa.

Como o Gente do Morro não vingou, Benedito Lacerda chamou Dino Sete Cordas, que era do grupo, e Canhoto do Cavaco, e os três começaram a arregimentar músicos para trabalhar com eles. Era o embrião do Conjunto Regional Benedito Lacerda. Com seu regional, acompanhou nomes como Carmen Miranda, Luiz Barbosa, Mário Reis, Francisco Alves, Sílvio Caldas, além de atuar com êxito como compositor.

Na década de 1940, tocou nos cassinos que agregavam a música nacional e perpetuou uma série de gravações antológicas em parceria de flauta e sax com Pixinguinha, privilegiando o repertório de choro. Por conta do trabalho que a dupla empreendeu em cerca de 40 gravações, mais as edições de músicas e lançamentos de álbuns de partituras, Benedito Lacerda fez com que a hipoteca da casa de Pixinguinha fosse paga e salvou o mestre de ser despejado. Em sinal de gratidão e por motivos de contrato, Pixinguinha transformou Benedito Lacerda em parceiro de pérolas como "Sofres Porque Queres", "Naquele Tempo" e "Um a Zero", esta feita muito antes por ocasião do gol de Friedenreich no Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1919. Mas o que importa é destacar os arranjos e contrapontos executados pela dupla, que revolucionaram a instrumentação brasileira e influenciam até hoje os novos talentos musicais.

Benedito Lacerda foi compositor de carnaval premiado e em 1942 foi um dos fundadores da União Brasileira de Compositores (UBC). Em 1947 transferiu-se para a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), da qual foi eleito presidente em 1948 e reeleito em 1951.

Benedito Lacerda faleceu vitima de um câncer no pulmão, antes de completar 55 anos, num domingo de carnaval, ele que tanto sucesso obtivera em vários carnavais.

Benedito Lacerda e Pixinguinha
Principais Sucessos
(Ordem Alfabética)

  • 1939 - "A Jardineira", com Humberto Porto
  • 1949 - "A Lapa", com Herivelto Martins
  • 1949 - "Acerta o Passo", com Pixinguinha
  • 1937 - "Acorda, Escola de Samba!", com Herivelto Martins
  • 1952 - "Acho-te Uma Graça", com Carvalhinho e Haroldo Lobo
  • 1947 - "Ainda me Recordo", com Pixinguinha
  • 1937 - "Aliança Partida", com Roberto Martins
  • 1938 - "Amigo Infiel", com Aldo Cabral
  • 1937 - "Amigo Leal", com Aldo Cabral
  • 1935 - "Boneca", com Aldo Cabral
  • 1939 - "Brasil", com Aldo Cabral
  • 1942 - "Carnaval da Minha Vida", com Aldo Cabral
  • 1946 - "Cheguei", com Pixinguinha
  • 1942 - "Chorei", com Pixinguinha
  • 1945 - "Coitado do Edgar!", com Haroldo Lobo
  • 1939 - "Despedida de Mangueira", com Aldo Cabral
  • 1949 - "Devagar e Sempre", com Pixinguinha
  • 1935 - "Dinorá", com José Ferreira Ramos
  • 1936 - "Duvi-d-o-dó", com João Barcellos
  • 1940 - "E o Vento Levou", com Herivelto Martins
  • 1946 - "Ele e Eu", com Pixinguinha
  • 1946 - "Espanhola", com Haroldo Lobo
  • 1939 - "Espelho do Destino", com Aldo Cabral
  • 1935 - "Eva Querida", com Luiz Vassalo
  • 1948 - "Falta um Zero no Meu Ordenado", com Ary Barroso
  • 1945 - "Fica Doido Varrido", com Eratóstenes Frazão
  • 1946 - "Ingênuo", com Pixinguinha
  • 1941 - "Lero-Lero", com Eratóstenes Frazão
  • 1946 - "Naquele Tempo", com Pixinguinha
  • 1949 - "Normalista", com David Nasser
  • 1939 - "Número Um", com Mário Lago
  • 1949 - "O Gato e o Canário", com Pixinguinha
  • 1947 - "Os Oito Batutas", com Pixinguinha
  • 1940 - "Pedro, Antônio e João", com Oswaldo Santiago
  • 1942 - "Pombo-Correio", com Darcy de Oliveira
  • 1946 - "Proezas de Solon", com Pixinguinha
  • 1938 - "Professora", com Jorge Faraj
  • 1936 - "Querido Adão", com Oswaldo Santiago
  • 1944 - "Sabiá de Mangueira", com Eratóstenes Frazão
  • 1946 - "Segura Ele", com Pixinguinha
  • 1946 - "Seresteiro", com Pixinguinha
  • 1948 - "Seu Lourenço no Vinho", com Pixinguinha
  • 1946 - "Sofres Porque Queres", com Pixinguinha
  • 1949 - "Soluços", com Pixinguinha
  • 1946 - "Um a Zero", com Pixinguinha
  • 1936 - "Um Caboclo Abandonado (Rolinha Triste)", com Herivelto Martins
  • 1946 - "Urubatã", com Pixinguinha
  • 1944 - "Verão no Havaí", com Haroldo Lobo
  • 1942 - "Voltei Pro Morro", com Darcy de Oliveira
  • 1946 - "Vou Vivendo", com Pixinguinha

Edson Frederico

EDSON FREDERICO BARBOSA CAVALCANTE
(63 anos)
Arranjador e Maestro

* Rio de Janeiro, RJ (07/05/1948)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/12/2011)

Edson Frederico iniciou sua carreira artística em 1965 como pianista em shows de Vinicius de Moraes e Elis Regina.

Em 1970, foi contratado pela TV Tupi, inicialmente como pianista e, em seguida, como orquestrador, permanecendo na emissora até 1974.

Na década de 70, foi pianista da Banda Veneno, do maestro Erlon Chaves, e gravou com Antônio Carlos & Jocafi, Marília Medalha e Rosinha de Valença. Regeu a cantora Sylvie Vartan na entrega do Prêmio Molière, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Apresentou-se, ainda, em diversas casas noturnas cariocas como Flag, Number One, Chico's Bar, Alô Alô, acompanhando Carol Rodgers, e Calígula.

Foi contratado como maestro e orquestrador da TV Globo em 1974, estreando como diretor musical do programa "Sandra & Miéle" e escrevendo as trilhas sonoras para os seriados "Malu Mulher" e "Carga Pesada".

Em 1975, lançou o LP "Edson Frederico".

Atuou como maestro e orquestrador do show "Tom Vinicius, Toquinho e Miucha", realizado no Canecão, RJ, em 1977.

Em 1980, formou a Orquestra Metalúrgica Dragão de Ipanema, inaugurando a casa noturna Noites Cariocas, no Morro da Urca, RJ.

Assinou a direção musical do programa "Clodovil Em Noite De Gala" da CNT, Curitiba, PR, regendo a Orquestra Sinfônica do Paraná, em 1993.


No teatro, atuou como:

  • 1974 - Pianista do musical "Pippin", de Hirson e Schwart, Teatro Adolpho Bloch, RJ.
  • 1980 - Diretor musical e maestro do musical "Evita", de Rice e Webber, Teatro João Caetano, RJ.
  • 1980 - Orquestrador, regente e diretor musical de "Vargas", de Dias Gomes e Ferreira Gullar, Teatro João Caetano, RJ.
  • 1985 - Diretor musical e regente de "Orfeu da Conceição", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Centro Cultural Banco do Brasil e Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
  • Diretor musical da peça "O Doente Imaginário", de Molière, direção de Moacyr Góes.
  • Diretor musical da peça "Arte", direção de Mauro Rasi, Teatro das Artes.

No mercado fonográfico, atuou como pianista, orquestrador e regente dos seguintes discos: "Flor de Liz", de Djavan (1976), "Banda do Zé Pretinho", de Jorge Bem, hoje Jorge Benjor, "Love Brazil", de Sarah Vaughan, "Gota D'água", de Bibi Ferreira, "Mulher", de Lúcio Alves, "Sonia Santos", "Maria Creuza", "Copacabana", de Sarah Vaughan (1979), "Evita" (1980), "Roberto Carlos" (1983), "Xanti" e "Soneto", do grupo Homem de Bem (1993).

Em 1985, formou a Rio Pop's Orquestra, com a qual participou de eventos como o Fest Rio, Multimoda e Gunnar Rio Sul, além de gravar trilhas sonoras para campanhas publicitárias do Banco do Brasil 180 Anos, Xerox, Carlton, Coca-Cola, entre outras.

Em 1997, lançou o CD "Edson Plays Maranezi".

Apresentou-se na casa noturna Ritmo, em 1998, como pianista do show de Liza Minelli.

Em 1999, publicou o songbook "O Melhor de Edson Frederico" (Ed. Vitale) .

Em 2000, fez arranjos e regência para o "Especial 100 Anos de MPB" da TV Globo. Nesse mesmo ano, lançou o livro "Música: Uma Breve História" (Ed. Vitale).

Morte

Edson Frederico morreu no Rio de Janeiro vítima de insuficiência respiratória e esclerose lateral amiotrófica, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Ele estava internado desde o último dia 20 no Hospital Municipal Lourenço Jorge, com pneumonia e enfisema crônico.

Há 10 anos o músico morava no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, onde se recuperava de um Acidente Vascular Cerebral.

O enterro ocorreu no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Edson deixou duas filhas.

Severino Araújo

SEVERINO ARAÚJO DE OLIVEIRA
(95 anos)
Compositor, Instrumentista e Maestro

* Limoeiro, PE (23/04/1917)
+ Rio de Janeiro, RJ (03/08/2012)

Severino Araújo de Oliveira  foi um músico, compositor, maestro, clarinetista e também regente da Orquestra Tabajara, que assumiu com 21 anos de idade.

Seu pai era professor de música e regente da banda local e a mãe fazia da música sua diversão predileta. Além dele, os irmãos também tornaram-se músicos, todos sendo integrantes mais tarde da Orquestra Tabajara. Manuel como trombonista, Plínio como baterista, José, mais tarde, conhecido como Zé Bodega, seria sax tenor e o mais novo, Jaime, seria o primeiro saxofone.

Um dos pioneiros na fusão de elementos do jazz e do choro na música brasileira, Severino Araújo começou a estudar música aos seis anos de idade, tendo aulas com o pai. Aos oito, tornou-se assistente do pai. Aos doze anos  já tocava clarinete e fez seu primeiro arranjo, para uma banda dirigida por seu pai, José Severino de Araújo, e aos dezesseis já escrevia sucessos de carnaval.

Em 1933, sua família mudou-se para o interior da Paraíba, indo residir na cidadezinha de Ingá, a mesma que inspirou o compositor Joubert de Carvalho a compor a célebre canção "Maringá", que daria nome posteriormente à cidade do norte do Paraná.

Aos 16 anos iniciou sua carreira artística fazendo arranjos para a banda da cidade de Ingá. E tocando clarinete, quando necessário. Sua fama como clarinetista se espalhou e em 1936 foi convidado para integrar como primeiro clarinetista a banda da Polícia de João Pessoa. Mudou-se então para a capital paraibana, onde durante um ano tocou na banda da Polícia.

Em 1937, o governo da Paraíba fez uma série de contratações para a recém-inaugurada PRI-4, a emissora oficial, inclusive uma orquestra inteira, a Orquestra Tabajara, que já existia animando diversos bailes na região. Nessa época, entretanto, vários de seus componentes tiveram de deixá-la, pois foram convocados para o serviço militar. O maestro Luna Freire teve então de contratar músicos no Recife e convidou Severino Araújo para juntar-se à mesma como primeiro clarinetista.

Em 1938, o regente e pianista Luna Freire faleceu repentinamente e a direção da rádio resolveu convidar Severino Araújo para assumir a orquestra. Impôs como condição para assumir a orquestra a contratação de mais um trombone, um saxofone e um trompete. Chamou então, os irmãos Manuel e Jaime, além de um ex-colega da banda da Polícia de João Pessoa. Até deixar a Paraíba, a orquestra era composta de três trompetes, três trombones e quatro saxofones, além do ritmo com quatro elementos. Mais tarde entrariam na orquestra seus dois outros irmãos.

Em 1943, foi convocado para o Exército, indo servir durante um ano, no 15º R.I. num lugar chamado Aldeia, no interior de Pernambuco. Nessa época, compôs seu famoso "Um Chorinho em Aldeia", que se tornaria seu primeiro sucesso popular.

Em 1944, recebeu, através do ex-colega Porfírio Costa, convites para trabalhar profissionalmente na capital do país. Os convites eram do Cassino Copacabana e da Rádio Tupi. Aceitou o convite da Rádio Tupi e embarcou para o Rio de Janeiro. Nesse período foi contratado pela Gravadora Continental onde gravou seus primeiros discos, ainda em outubro de 1944. No primeiro, dirigindo uma orquestra de estúdio, acompanhou o cantor Déo no frevo "Vou Pra Pernambuco" e no samba "Vaidade de Mulher". No segundo, apenas com orquestra, gravou os frevos "Chegou a Minha Vez" e "Pitiguary". No terceiro, fez o acompanhamento orquestral para o cantor Jorge Tavares no samba "Apareça Quem Disse" e no frevo "Regina".

Ainda em fins de 1944, apresentou na Rádio Tupi com a Orquestra Marajoara o choro "Chorinho em Aldeia", com magistral interpretação de clarinete. Essa transmissão ocorreu num domingo e foi gravada em acetato pela emissora. Já na segunda-feira inúmeros telefonemas pediam para que a rádio reprisasse a gravação.

Em 1945, obteve um grande sucesso e que se tornou um clássico da Música Popular Brasileira, o choro "Espinha de Bacalhau" de sua autoria gravado com a Orquestra Tabajara, que no mesmo ano chegou ao Rio de Janeiro também contratada pela Rádio Tupi.

Em 1946 gravou, entre outras, os choros "Brejeiro" (Ernesto Nazareth), "Sonoroso" (K-Ximbinho), "Molengo" (Severino Araújo) e a marcha "Cidade Maravilhosa" (André Filho), em ritmo de samba.

Em 1947, gravou, entre outras composições, os choros "Malicioso" (Geraldo Medeiros), "Um Chorinho Para Clarinete" (Severino Araújo), o frevo "A Mamata é Boa" (Jones Johnson) e o frevo-canção "Voando Pra Recife" (Jonas Cordeiro).

Em 1949, gravou com Claudionor Cruz no vocal o choro "Cintilante" (Claudionor Cruz e José de Freitas). Gravou ainda no mesmo ano, de Noel Rosa e Vadico o samba "Feitiço da Vila", além de diversos frevos, entre os quais "Januário no Frevo" (Jonas Cordeiro), "O Macobeba Vem Aí" (Levino Ferreira) e "Zé Carioca no Frevo" (Geraldo Medeiros).

Em 1951, gravou os frevos "Tá Esquentando" (Zumba), "Último Dia" (Levino Ferreira) e o frevo-canção "É Frevo, Meu Bem" (Capiba), com vocal de Carmélia Alves. No mesmo ano, apresentou-se com enorme sucesso juntamente com a orquestra americana de Tommy Dorsey nas festividades de inauguração da TV Tupi.

Em 1952, gravou de sua autoria os choros "Saxomaníaco", "Mirando-te", "Um chorinho em Cabo Frio" e o baião "Baião Pra maluco". No mesmo ano, viajou com sua orquestra para Paris acompanhado do vocalista Jamelão para fazer uma apresentação de carnaval. O sucesso foi tão grande que acabaram ficando um ano em Paris. 

Em 1954, gravou de Capiba, com vocal de Carmélia Alves, o frevo-canção "Vamos Pra Casa de Noca?", os frevos "Gracinha no Frevo" (Levino Ferreira) e "Centenário" (Geraldo Medeiros). Nesse ano, encerrou-se o contrato com a Tupi e a orquestra saiu em excursão pelos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Retornaram ao Rio no meio do ano e em novembro partiu em nova excursão desta vez aos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em 1955, saiu com sua orquestra em excursão a Montevidéu onde permaneceram por 40 dias. No mesmo ano, foram contratados pela Rádio Mayrink Veiga, onde a orquestra permaneceu por quatro anos. Nesse período gravou o LP "A Tabajara no Frevo", com uma coletânea de frevos. Ainda em 1955, foi escolhido pelo crítico Silvio Túlio Cardoso, através da coluna "Discos Populares" escrita por ele para o jornal O Globo, como o "regente da melhor orquestrar do ano", recebendo como prêmio um "disco de ouro" entregue em cerimônia no Golden Room do Copacabana Palace.

Em 1959, gravou o samba "A Felicidade" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Em 1961, gravou o LP "Recife 400 Anos", com diversas composições em homenagem à capital pernambucana, entre as quais "400 Anos de Glórias" de sua autoria, "Recife, Capital do Frevo" (Geraldo Medeiros), "Diabo Solto" (Levino Ferreira) e "Homenagem a Recife" (Geraldo Medeiros e F. Corrêa da Silva). No mesmo período, gravou o LP "12 Ritmos Brasileiros" no qual sua orquestra interpretou samba, baião, marchinha, toada, maxixe, marcha de rancho, capoeira, samba-canção, coro, maracatu, cateretê e frevo.

Em 1962, foi contratado com sua orquestra pela Rádio Nacional onde permaneceu por dois anos. Pouco depois assinou contrato com a TV Rio, com uma nova formação da orquestra, incluindo então os trompetes de Hamilton, Geraldo e Mozart, os trombones de Manuel Araújo, Edson Maciel, Zanata e Tião, os saxofones de Jaime Araújo, Odilon, Hélio Marinho, Jaime Ribeiro e Genaldo, e os percussionistas Oscar, Gabriel, Plínio, Chiquinho, Elias e Freitas.

Em 1967, lançou pela CBS o LP "A Tabajara No Hit Parade" com diversos sucessos daquele momento entre os quais "Eu Te Darei o Céu" (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), "Namoradinha De Um Amigo Meu" ( Roberto Carlos), "O Chorão" (Luiz Keller e Edson Mello), entre outras, além de composições estrangeiras.

Em 1968, ao terminar o contrato com a TV Rio, resolveu aposentar-se após 35 anos de trabalho. Mas a aposentadoria não foi definitiva pois prosseguiu fazendo bailes e shows.

Em 1975, a Continental lançou o LP "Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara", fazendo um apanhado da carreira do maestro e de sua orquestra em 12 gravações. No mesmo ano, a Odeon lançou o LP "Severino Araújo e Orquestra Tabajara" dentro da série Depoimento em seu volume 1, trazendo regravações de antigos sucessos e novas gravações como "Se Não For Por Amor" (Benito di Paula), "Dente Por Dente" (Martinho da Vila) e "Fogo Sobre Terra" (Toquinho e Vinicius de Moraes).

Em 1976, apresentou-se com sua orquestra no espetáculo "Seis e Meia" no Teatro João Caetano no Rio de Janeiro. Em 1977, a Continental lançou o LP "A Tabajara de Severino Araújo" trazendo regravações de antigos sucessos, além de novas gravações como a do choro "Tico-Tico No Fubá" (Zequinha de Abreu).

Nos anos 80, apresentou-se com enorme sucesso com sua orquestra na "Domingueira Voadora", série de bailes dominicais realizados na casa de espetáculos Circo Voador na bairro da Lapa no Rio de Janeiro. Em 1991, lançou pela Fama o LP "Anos Dourados", onde estão presentes diversos clássicos das Big Bands dos anos 1930 e 1940.

A orquestra continuou com o maestro Severino Araújo à frente durante os anos 90 fazendo shows e realizando gravações num verdadeiro recorde de longevidade. Lançou mais de 100 discos entre 78rpm e LPs. O maestro teve sua biografia escrita pela jornalista Beatriz Coelho Silva. Em 1997, completou 80 anos de idade ainda à frente da Orquestra Tabajara.

Em 2000, regeu a Orquestra Tabajara no acompanhamento do cantor Jamelão no CD "Por Força Do Hábito". No mesmo ano, completou 60 anos à frente da Orquestra Tabajara revivendo a "Domingueira Voadora", então na Fundição Progresso, centro cultural no bairro da Lapa no Rio de Janeiro. Lançou também mais um CD da orquestra com músicas de Carlos Gomes e Chiquinha Gonzaga, entre outros.

Em 2003, no aniversário de 70 anos da Orquestra Tabajara regeu o baile de número 13.644 da orquestra. Em 2004, com a reabertura do Circo Voador voltou a reger a Orquestra Tabajara no tradiconal baile da "Domingueira Voadora". Em 2005, regeu a Orquestra Tabajara no show de fechamento da série "Orquestras Populares Brasileiras" no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.


Morte

Severino Araújo morreu no dia 3 de Agosto de 2012, aos 95 anos, vítima de Falência Múltipla dos Órgãos ocorrida em decorrência de uma Infecção Urinária. Diabético, ele estava internado desde 20 de julho no Hospital Ipanema Plus, na zona sul do Rio de Janeiro. O enterro ocorreu na tarde de sábado (04/08/2012) no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB

Carlos Gomes

ANTÔNIO CARLOS GOMES
(60 anos)
Pianista, Compositor e Maestro

* Campinas, SP (11/07/1836)
+ Belém, PA (16/09/1896)

Foi o mais importante compositor de ópera brasileiro. Destacou-se pelo estilo romântico, com o qual obteve carreira de destaque na Europa. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas no Teatro alla Scala. É o autor da ópera O Guarani.

Carlos Gomes nasceu em Campinas e ficou conhecido por Nhô Tonico, nome com que assinava, até, suas dedicatórias. Nasceu numa segunda-feira numa humilde casa da Rua da Matriz Nova, na "Cidade das Andorinhas". Foram seus pais Manuel José Gomes (Maneco Músico) e Fabiana Jaguari Gomes.

A vida de Antônio Carlos Gomes foi, sempre, marcada pela dor. Muito criança ainda, perdeu a mãe, tragicamente, assassinada aos vinte e oito anos. Seu pai vivia em dificuldades, com diversos filhos para sustentar. Com eles, formou uma banda musical, onde Carlos Gomes iniciou seus passos artísticos. Desde cedo, revelou seus pendores musicais, incentivado pelo pai e depois por seu irmão, José Pedro de Sant'Ana Gomes, fiel companheiro das horas amargas.

É na banda do pai, que mais tarde Carlos Gomes viria a substituir, que ele vai fazer, em conjunto com seus irmãos, as primeiras apresentações em bailes e em concertos. Nessa época, Antônio Carlos Gomes alternava o tempo entre o trabalho numa alfaiataria costurando calças e paletós, e o aperfeiçoamento dos seus estudos musicais.

Aos quinze anos de idade, compõe valsas, quadrilhas e polcas. Aos dezoito anos, em 1854, compõe a primeira missa, Missa de São Sebastião, dedicada ao pai e repleta de misticismo. Na execução cantou alguns solos. A emoção que lhe embargava a voz comoveu a todos os presentes, especialmente ao irmão mais velho, que lhe previa os triunfos. Em 1857, compõe a modinha Suspiro d'Alma com versos do poeta romântico português Almeida Garrett.

Ao completar 23 anos, já apresentara vários concertos, com o pai. Moço ainda, lecionava piano e canto, dedicando-se, sempre, com afinco, ao estudo das óperas, demonstrando preferência por Giuseppe Verdi. Era conhecido também em São Paulo, onde realizava, freqüentemente, concertos, e onde compôs o Hino Acadêmico, ainda hoje cantado pela mocidade da Faculdade de Direito. Aqui, recebeu os mais amplos estímulos e todos, sem discrepância, apontavam-lhe o rumo da Corte, em cujo conservatório poderia aperfeiçoar-se. Todavia, Carlos Gomes não podia viajar porque não tinha recursos.

A Primeira Ópera

Em 4 de setembro de 1861, foi cantada, no Teatro da Ópera Nacional, A Noite do Castelo, o primeiro trabalho de fôlego de Antônio Carlos Gomes, baseado na obra de Antônio Feliciano de Castilho. Constituiu uma grande revelação e um êxito sem precedentes, nos meios musicais do país. Carlos Gomes foi levado para casa em triunfo por uma entusiástica multidão, que o aclamava sem cessar. O imperador, também entusiasmado com o sucesso do jovem compositor, agraciou-o com a Imperial Ordem da Rosa.

Carlos Gomes conquistou logo a Corte. Tornou-se uma figura querida e popular. Seus cabelos compridos eram motivo de comentários, e até ele ria das piadas. Certa vez, viu um anúncio, que fora emendado: de "Tônico Para Cabelos", fizeram "Tonico, Apara os Cabelos!". Virou-se para seu inseparável amigo Salvador de Mendonça e disse, sorrindo: Será comigo?

Francisco Manuel costumava dizer, a respeito do jovem musicista: "O que ele é, só a Deus e a si o deve!"

A saudade de sua querida Campinas e de seu velho pai atormentava-lhe o coração. Pensando também na sua amada Ambrosina, com quem namorava, moça da família Correia do Lago, Carlos Gomes escreveu essa jóia que se chama Quem Sabe?, de uma poesia de Bittencourt Sampaio, cujos versos "Tão longe, de mim distante. Onde irá, onde irá teu pensamento!…" ainda são cantados pela nossa geração.

Dois anos depois desse memorável triunfo, Carlos Gomes apresenta sua segunda ópera, Joana de Flandres, com libreto de Salvador de Mendonça, levada à cena em 15 de setembro de 1863.

Como corolário do êxito, na congregação da Academia Imperial de Belas Artes, foi lido um ofício do diretor do Conservatório de Música, comunicando ter sido escolhido o aluno Antônio Carlos Gomes para ir à Europa, às expensas da Empresa de Ópera Lírica Nacional, conforme contrato com o Governo Imperial. Estava, assim, concretizada a velha aspiração do moço campineiro, que, mesmo comovido, ao ir agradecer ao imperador a magnanimidade, ainda se lembrou do seu velho pai e solicitou para este o lugar de mestre da Capela Imperial. Dom Pedro II, enternecido ante aquele gesto de amor filial, acedeu.

Europa

O imperador preferia que Carlos Gomes fosse para a Alemanha, onde pontificava o grande Richard Wagner, mas a imperatriz, Dona Teresa Cristina, napolitana, sugeriu-lhe a Itália.

A 8 de novembro de 1863, o estudante partiu, a bordo do navio inglês Paraná, entre calorosos aplausos dos amigos e admiradores, que se comprimiam no cais. Levava consigo recomendações de Dom Pedro II para o rei Fernando II, de Portugal, pedindo que apresentasse Carlos Gomes ao diretor do Conservatório de Milão, Lauro Rossi. O jovem compositor passou por Paris, onde assistiu a alguns espetáculos líricos, mas seguiu logo para Milão.

Lauro Rossi, encantado com o talento do jovem aluno, passou a protegê-lo e a recomendá-lo aos amigos. Em 1866, Carlos Gomes recebia o diploma de mestre e compositor e os maiores elogios de todos os críticos e professores. A partir dessa data, passou a compor. Sua primeira peça musicada foi Se Sa Minga, em dialeto milanês, com libreto de Antonio Scalvini, estreada, em 1 de janeiro de 1867, no Teatro Fossetti. Um ano depois, surgia Nella Luna, com libreto do mesmo autor, levada à cena no Teatro Carcano.

Carlos Gomes já gozava de merecido renome na cidade de Milão, grande centro artístico, mas continuava saudoso da pátria e procurava um argumento que o projetasse definitivamente.

Certa tarde, em 1867, passeando pela Praça do Duomo, ouviu um garoto apregoando: "Il Guarany! Il Guarany! Storia interessante dei selvaggi del Brasile!". Tratava-se de uma péssima tradução do romance de José de Alencar, mas aquilo interessou de súbito o maestro, que comprou o folheto e procurou logo Scalvini, que também se impressionou pela originalidade da história. E, assim, surgiu O Guarani, que apesar de não ser a sua maior nem a melhor obra, foi aquela que o imortalizou. A noite de estréia da nova ópera foi 19 de março de 1870.

Não há quem não conheça os maravilhosos acordes de sua estupenda abertura. A ópera ganhou logo enorme projeção, pois se tratava de música agradável, com sabor bem brasileiro, onde os índios tinham papel de primeiro plano. Foi representada em toda a Europa e na América do Norte.

O grande Giuseppe Verdi, já glorioso e consagrado, teria dito de Carlos Gomes, nessa noite memorável: "Questo giovane comincia dove finisco io!" ("Este jovem começa de onde eu termino!").

E, na noite de 2 de dezembro de 1870, aniversário do imperador Dom Pedro II, em grande gala, foi estreada a ópera no Teatro Lírico Provisório, no Rio de Janeiro.

Os principais trechos foram cantados por amadores da Sociedade Filarmônica. O maestro viveu horas de intensa consagração e emoção. Depois, O Guarani foi levado à cena nos dias 3 e 7 de dezembro, sendo que, nesta última noite, em benefício do autor. Nesta data, o maestro ficou conhecendo André Rebouças. Após o espetáculo, houve uma alegre marche au flambeaux, com música, até ao Largo da Carioca, onde estava hospedado Carlos Gomes, em casa de seu amigo Júlio de Freitas.

Por intermédio de André Rebouças, o compositor foi apresentado ao Ministro do Império, João Alfredo Correia de Oliveira, em sua casa, nas Laranjeiras.

Em 1871, a 1º de janeiro, Carlos Gomes vai a Campinas, visitar seu irmão e protetor José Pedro Santana Gomes. Em 18 de fevereiro, com André Rebouças, despede-se do imperador, em São Cristóvão. E, no dia 23, segue para a Europa novamente.

Outras Óperas, Outros Triunfos

Na Itália, Carlos Gomes casou-se com Adelina Péri, que devotou toda sua vida ao maestro. Desse consórcio, nasceram cinco filhos, muito amados pelo compositor. Todavia, um a um foram morrendo em tenra idade, tendo restado somente Ítala Gomes Vaz de Carvalho, que escreveu um livro, em que honrou a memória do seu glorioso pai. Na península, Carlos Gomes escreveu, a seguir, Fosca, considerada por ele sua melhor obra, Salvator Rosa e Maria Tudor.

Em 1866, recebeu Carlos Gomes, de novo no Brasil, uma justa consagração na Bahia, onde, a pedido do grande pianista português, Arthur Napoleão, compôs o Hino a Camões, para o Quarto Centenário Camoniano, executado simultaneamente ali e na Corte, com grande sucesso.

Carlos Gomes, porém, não mais perseguia somente a glória. Abalado por seguidos e profundos desgostos, doente, desiludido, procurava uma situação que lhe permitisse viver em sua pátria e ser-lhe útil. Seu estado, contudo, era mais grave do que supunha.

De volta à Itália, compôs a grande ópera Lo Schiavo, que entretanto, por vários motivos, não pôde ser representada ali. Foi levada à cena, pela primeira vez, em 27 de setembro de 1887, no Rio de Janeiro, em homenagem à princesa Isabel, A Redentora com esplêndido sucesso.

Os Últimos Anos

Em 3 de fevereiro de 1891, outra vez na Itália, Carlos Gomes estréia, no Scala de Milão, a ópera Condor, com grande êxito, pois, nessa peça, apresentara uma nova forma, muito mais próxima do recitativo moderno.

O mal que o levaria ao túmulo, nessa época, fazia-o sofrer dolorosamente. Todavia, as desilusões, as decepções, a ingratidão de seus compatriotas e as dores físicas ainda não lhe haviam quebrado a resistência. Ainda estava à espera de sua nomeação para o cargo de diretor do Conservatório de Música, no Brasil. Nesse tempo foi proclamada a República, e seu grande amigo e protetor, Dom Pedro II, é exilado, com grande mágoa de Carlos Gomes. Compôs, ainda, Colombo em 1892, poema sinfônico que, incompreendido pelo grande público, não obteve êxito.

Finalmente, após tanto sofrimento, chegou-lhe um convite. Lauro Sodré, então presidente do Pará, pediu-lhe para organizar e dirigir o Conservatório daquele estado. Carlos Gomes volta para a Itália, a fim de pôr em ordem suas coisas, despedir-se dos filhos e reunir elementos para uma obra grandiosa que, apesar de seu estado, sempre mais grave, ainda conseguiu realizar.

Amigos aconselharam-no a fazer uma estação em Salsomaggiore, mas ele desejava partir, quanto antes, para sua pátria. Chegou a Lisboa, por estrada de ferro, e recebeu comovedora homenagem.

A 8 de abril de 1895, nessa mesma cidade, sofre a primeira intervenção cirúrgica na língua, sem resultados animadores. Embarca, no vapor Óbidos, para o Brasil. De passagem por Funchal, tem o prazer de reabraçar seu velho amigo André Rebouças, ali exilado.

Em 14 de maio, foi recebido pelo povo paraense com enternecedoras manifestações de apreço. No entanto os últimos dias de Carlos Gomes em Belém foram de grande sofrimento. Seu mal era muito grave, e os esforços médicos não conseguiam diminuir as dores. Uma única vez ele saiu de casa, quando foi ao Conservatório de Música, que não chegou a dirigir.

No dia 11 de julho, data de seu aniversário, as homenagens tributadas ao compositor davam a medida da afetividade que inspirava. Em vários pontos da cidade ouviam-se os acordes da protofonia de O Guarani, e os jornais alimentavam a dor pública com o relatório constante do agravamento do estado geral do compositor.

Estava montado o cenário onde aconteceria a representação final do pathos do artista genial, do brasileiro ilustre, do consagrado Testa di Leone (cabeça de leão, devido à farta cabeleira), como algumas publicações italianas o chamavam.


Cercado por autoridades e amigos, com o presidente do estado Lauro Sodré à cabeceira, Carlos Gomes morreu às 22 horas e 15 minutos de 16 de setembro de 1896.

Silio Boccanera Junior escreve às 22:35 o boletim:

"Expirou o eminente maestro. Cerrou-lhe os olhos o Dr. Lauro Sodré… A morte de Carlos Gomes foi completamente serena. O arquejar regularíssimo diminuiu a pouco e pouco e o último suspiro esvaiu-se num ofego quase imperceptível. A expressão do rosto é serena."

Nenhum sacerdote visitou Carlos Gomes em sua agonia e nem na hora da morte. Ele não recebeu extrema-unção nem hóstia consagrada talvez porque fosse maçon, mais um gesto incoerente e desumano da Igreja Católica. Num gesto piedoso, o Dr. Pedro Clermont colocou-lhe sobre o peito um crucifixo na hora final.

O atestado de óbito foi firmado pelos Drs. Almeida Pernambuco e Holanda Lima e declarou que o maestro faleceu às 22:20 da noite de 16 de setembro de 1896, na casa nº 59, na Travessa Quintino Bocaiúva, de Cachexia Cancerosa, sob nº 2265, lavrado em 17 de setembro de 1896 às fls. 115 v. e 116 do livro nº 24 do Cartório do Primeiro Ofício de Nascimentos e Óbitos de Belém.

Seu corpo foi embalsamado, fotografado e, em seguida, exposto à visitação pública, cercado de flores e objetos como partituras e instrumentos, bem de acordo com a idealizada "morte bela" do Romantismo.

Descrevendo os cenários da morte, os jornais tratavam com solenidade o acontecimento, destacando o repouso, o sono intérmino, o triunfo silente do grande artista. Diziam os jornais, o maestro não morrera; antes, cruzara os umbrais da Fama!

Dois dias depois do falecimento, o corpo do maestro foi transferido para o Conservatório de Música. O cortejo varou a noite de Belém. Desatrelado das parelhas de animais, o carro funerário era conduzido pelo povo, numa insólita romaria colonial anunciada pelos acordes de O Guarani e iluminado pelas velas e archotes levados no préstito ou dispostos nas varandas das casas.

De 18 a 20 de setembro de 1896, o corpo ficou exposto em câmara ardente nos salões do Conservatório de Música, que se transformou em santuário cívico e espaço para as representações do afeto coletivo pelo compositor, como registram as imagens de época. Em seguida, foi levado para o Cemitério da Soledade, um misto de panteão e cemitério-jardim, onde estavam sepultados heróis da Guerra do Paraguai, como o general Henrique Gurjão, acompanhado por aproximadamente 70 mil pessoas, que levavam andores, quadros, alegorias e guirlandas.

Numa Belém cujos círculos letrados eram fortemente influenciados pelo positivismo, o cortejo fúnebre tornou-se uma verdadeira procissão cívica, em grande parte por iniciativa também do governo do Pará, que instrumentalizou a morte de Carlos Gomes.

O maestro porém, não foi sepultado em Belém. A pedido do presidente do estado de São Paulo, Campos Sales, o compositor foi levado para lá, com honras e transporte militares, a bordo do vapor Itaipu. Antes, na setecentista Catedral da Sé no Pará, foi celebrada uma missa de réquiem entoando-se uma elegia a Carlos Gomes. Seu ataúde dominava o centro de um monumento funerário de quatorze metros de altura, em um catafalco encomendado por Lauro Sodré.

O culto aos grandes homens dava forma à religião cívica do positivismo e exaltava os nomes reconhecidos pela humanidade. Ao final das cerimônias litúrgicas e ao deixar o Porto de Belém rumo a Santos, o Itaipu não transportava apenas os restos de Carlos Gomes. Também conduzia o corpo de um mito que alimentara a imaginação de um Brasil singular até mesmo em suas representações.

Diante de seu estado, pouco antes de morrer o governo de São Paulo autorizou uma pensão mensal de dois contos de réis, enquanto ele vivesse e, por sua morte, de quinhentos mil réis, aos seus filhos, até completarem a idade de 25 anos. Nessa ocasião, existiam somente dois filhos do glorioso maestro.

Dias antes de sua morte, Carlos Gomes diria, fatalista: "Qual, o mano Juca não chega… eu sou mesmo o mais caipora dos caipiras…"

Os gloriosos despojos do maestro, se encontram hoje no magnífico monumento-túmulo, em Campinas, sua terra natal, na Praça Antônio Pompeu. A duas quadras dali está o Museu Carlos Gomes, que reúne objetos e partituras do compositor.

Em 1936, em todo o país, foi comemorado o centenário de seu nascimento, com grandes solenidades.

Epílogo

Carlos Gomes faz jus também ao nosso reconhecimento pelo seu grande espírito de brasilidade, que sempre conservou, mesmo no estrangeiro. Quando da estréia O Guarani, em Milão, o famoso tenor italiano Villani, escolhido para o papel de Peri, criou um problema: ele usava barbas, e recusava-se a raspá-las. Carlos Gomes protestou: "Onde se vira índio brasileiro barbado?" mas, afinal, tudo se acomodou. O tenor era um dos grandes cartazes da época e não podia ser dispensado. Assim, acabou cantando, após disfarçar os pelos, com pomadas e outros ingredientes. A procura de instrumentos indígenas foi outro tormento para o maestro. Em certos trechos de música bárbara e nativa, eram necessários borés, tembis, maracás ou inúbias. Andou por toda a Itália, mas não os encontrou, e foi preciso mandar fazê-los, sob sua direção, numa afamada fábrica de órgãos, em Bérgamo.

Representações na Cultura

Carlos Gomes já foi retratado como personagem na televisão, interpretado por Paulo Betti na minissérie Chiquinha Gonzaga (1999).

Teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) de 1990 e em moedas de trezentos réis que foram emitidas em 1936 e 1937.

O livro Carlos Gomes - Documentos Comentados (2007) de Marcus Góes, da Algol Editora, traz documentos históricos de Carlos Gomes e cartas.

Livro Homenagem a Memoria de Carlos Gomes, organizado pela Academia de Amadores da Música de Lisboa, pela Editora Cia Nacional em 1897.

Óperas

  • 1861 - A Noite do Castelo(Rio de Janeiro)
  • 1863 - Joanna de Flandres (Rio de Janeiro)
  • 1870 - O Guarani (Milão)
  • 1873 - Fosca (Milão)
  • 1874 - Salvador Rosa (Genova)
  • 1879 - Maria Tudor (Milão)
  • 1889 - O Escravo (Rio de Janeiro)
  • 1891 - Condor (Milão)
  • 1892 - Colombo (Rio de Janeiro)
  • Minha Campinas

Fonte: Wikipédia e Blog Maestro Carlos Gomes