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Luiz Carlos Vinhas

LUIZ CARLOS PARGA RODRIGUES VINHAS
(61 anos)
Compositor e Pianista

☼ Rio de Janeiro, RJ (19/05/1940)
┼ Rio de Janeiro, RJ (22/08/2001)

Luiz Carlos Vinhas começou a tocar piano aos quatro anos de idade. Estudou piano clássico até os oito. Em 1957, participava como pianista de reuniões que marcaram o surgimento da bossa nova.

Iniciou sua carreira artística em 1958, apresentando-se em pocket shows de bossa nova, realizados no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro. Participou, nessa época, da gravação de "O Barquinho", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli

Formou, juntamente com Tião Neto (baixo) e Edison Machado (bateria), um dos primeiros conjuntos instrumentais da bossa nova, o Bossa Três. Com o grupo, viajou para os Estados Unidos em 1962, apresentando-se no programa de Ed Sullivan e gravando três LPs, lançados pela Audio Fidelity em New York. Voltou ao Brasil dois anos depois.

Em 1966, com a nova formação do Bossa Três, constituída por Otávio Baily (baixo) e Ronie Mesquita (bateria), e a participação dos cantores Pery Ribeiro e Leny Andrade, montou o Gemini V. Atuou, com o grupo, em gravações e shows no Brasil e no exterior, destacando-se a bem sucedida temporada de três anos no México.

Em 1968, gravou seu primeiro LP solo, "O Som Psicodélico de Luiz Carlos Vinhas", lançado pela gravadora CBS.

Atuou como pianista em discos de Elis Regina, Maria Bethânia, Wilson Simonal, Jorge BenjorQuarteto em Cy, entre outros.


Gravou, ainda, "Luiz Carlos Vinhas no Flag", "Luiz Carlos Vinhas", "Baila Com Vinhas", "O Piano Mágico de Luiz Carlos Vinhas", "Piano Maravilhoso" e "Vinhas e Bossa Nova".

Entre 1969 e 1971, atuou como pianista do Flag, no Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de acompanhar artistas internacionais, como Sarah Vaughan, Ella FitzgeraldGeorge Benson, entre outros.

A partir de 1971, apresentou-se em outras casas noturnas cariocas e paulistas, como Macksoud Plaza, Vogue, Privê, Chico's Bar, entre outras. Realizou, no Rio Palace, shows de abertura em espetáculos de artistas internacionais como Frank Sinatra, Julio Iglesias e Barry White.

Em 1994, apresentou-se em temporada de seis meses no Vinicius Bar, no Rio de Janeiro, tocando e contando as histórias da bossa nova, no show "Noites Cariocas". O espetáculo, recomendado pelo jornal New York Times aos turistas norte-americanos como um dos melhores programas do verão carioca daquele ano, gerou o CD "Vinhas e Bossa Nova".

No ano seguinte, foi convidado para uma temporada de apresentações na Itália, onde morou durante um ano.

Em 1996, participou da coletânea "Tempo de Bossa Nova", lançada pela revista Caras.

No ano seguinte, em homenagem à sua escola de samba, lançou o CD "Piano na Mangueira", interpretando obras dos compositores da Mangueira.

Em 2000, apresentou-se com a cantora Wanda Sá no Vinicius Bar, no Rio de Janeiro. Ao lado de Tião Neto (baixo) e João Cortez (bateria), gravou, com Wanda Sá o CD "Wanda Sá & Bossa Três", registrando canções como "Errinho à Toa" (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), "Brisa do Mar" (João Donato e Abel Silva), "Canção Que Morre no Ar" (Carlos LyraRonaldo Bôscoli), "Zanga Zangada" (Edu Lobo e Ronaldo Bastos), entre outras, além de "In The Moonlight" (John Williams e A&M Bergman). O disco teve show de lançamento no Bar do Tom, no Rio de Janeiro.

Morte

Luiz Carlos Vinhas morreu às 10:00 hs de quarta-feira, 22/08/2001, aos 61 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde o sábado, 18/08/2001, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.

Luiz Carlos Vinhas foi internado depois de ter sofrido uma parada cardiorrespiratória em consequência de uma cirurgia reparadora feita no abdome, na região dos olhos e do pescoço, realizada no sábado, na Clínica Interplástica, também em Botafogo, Rio de Janeiro.

Os médicos disseram acreditar que o fígado não metabolizou os anestésicos aplicados para realizar as operações, que voltaram ao organismo. Na segunda-feira, dia 20/08/201, os exames comprovaram a morte cerebral do músico.

Luiz Carlos Vinhas tinha um filho e foi casado duas vezes.


Discografia

  • 2000 - Wanda Sá & Bossa Três (Abril Music, CD)
  • 1998 - Bossa Nova: O Amor, o Sorriso e a Flor (Castle Brasil, CD)
  • 1997 - Piano na Mangueira (CID, CD)
  • 1997 - Nouvelle Vibe (Japão, CD)
  • 1996 - Tempo de Bossa Nova (Edição da Revista Caras, CD)
  • 1995 - Bossa Nova: História, Som e Imagem (Ventura Music, CD)
  • 1994 - Vinhas e Bossa Nova (CID, CD)
  • 1994 - Forma: A Grande Música Brasileira (CD)
  • 1989 - Piano Maravilhoso (Som Livre, LP)
  • 1986 - O Piano Mágico de Luiz Carlos Vinhas (Som Livre, LP)
  • 1982 - Baila Com Vinhas (Polygram, LP)
  • 1979 - Wilson Simonal (RCA, LP)
  • 1977 - Luiz Carlos Vinhas (Odeon, LP)
  • 1970 - Luiz Carlos Vinhas no Flag (Odeon, LP)
  • 1970 - Chovendo na Roseira (Tapecar)
  • 1969 - Maria Bethânia (Odeon, LP)
  • 1968 - O Som Psicodélico de Luiz Carlos Vinhas (CBS, LP)
  • 1968 - Elis Regina (Philips, LP)
  • 1967 - Gemini 5 no México (Odeon, LP)
  • 1966 - Bossa Três (Odeon, LP)
  • 1966 - Gemini 5 (Odeon)
  • 1965 - Bossa Três em Forma (Forma, LP)
  • 1964 - Wilson Simonal (Odeon, LP)
  • 1964 - Jorge Ben (Philips, LP)
  • 1964 - Quarteto em Cy (Forma, LP)
  • 1964 - Meirelles e o Copa 5 (Philips, LP)
  • 1964 - Novas Estruturas (Forma, LP)
  • 1962 - Bossa Três e Lennie Dale (Elenco, LP)
  • 1962 - Bossa Três (Audio Fidelity, LP)
  • 1962 - Bossa Três & Jo Basile (Audio Fidelity, LP)
  • 1962 - Bossa Três e Seus Amigos (Audio Fidelity, LP)
  • 1958 - O Barquinho

Indicação: Miguel Sampaio

Waldir Calmon

WALDIR CALMON GOMES
(63 anos)
Compositor e Pianista

* Rio Novo, MG (30/01/1919)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1982)

Waldir Calmon Gomes foi um pianista e compositor brasileiro de grande sucesso nos anos 50. Gravou dezenas de discos, entre eles, a famosa série "Feito Para Dançar" e a música tema do extinto Canal 100, "Na Cadência do Samba (Que Bonito É)". Também gravou com Ângela Maria o disco "Quando Os Astros Se Encontram", em 1958. Neste LP, encontra-se o maior sucesso da sapoti: "Babalu".

Waldir Calmon criou um estilo imitado por muitos pianistas que o sucederam.

No ano de 1941 já como Waldir Calmon fez sua primeira gravação acompanhando Ataulfo Alves em "Leva Meu Samba".

Depois formou o grupo Gentleman da Melodia e circulou por teatros e cassinos do Rio e São Paulo. Foi nessa época que começou a tocar o primeiro solovox, um pequeno teclado incorporado ao piano, precursor dos sintetizadores, trazido para o Brasil, popularizando o instrumento.

Na década de 50 gravou vários discos "Ritmos Melódicos", no selo Discos Rádio, "Para Ouvir Amando", "Chá Dançante" e "Feito para Dançar", na gravadora Copacabana. Waldir Calmon foi o pioneiro a gravar sucessos dançantes em faixas únicas, ininterruptas, adequados a animar festas, eternizando nos acetatos o som que produzia nas boates de então.


Em 1955 abriu sua própria casa noturna, a popular Arpège, no Leme, Rio de Janeiro, que funcionou até 1967 e onde atuaram João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, além de Chico Buarque, que fez um de seus primeiros shows, em 1966, ao lado de Odete Lara e MPB-4.

Seu conjunto era formado nessa época por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo) e o próprio Waldir Calmon, ao piano e solovox.

Entre 1970 e o começo de 1977, atuou com sua orquestra de baile no Canecão, no Rio de Janeiro, antes e depois do show principal.

Nos últimos anos de carreira, passou a tocar também sintetizadores.

Casou-se com a também artista Marta Kelly, que adotou o nome Marta Calmon após o casamento. Com o nascimento da primeira filha, em 1963, esta abandonou a carreira para dedicar-se apenas ao casamento.

Waldir Calmon morreu em 11/04/1982 vítima de um infarto do miocárdio. Dois anos após, sua viúva voltou à cena artística, cantando e administrando a Orquestra Waldir Calmon.

Discografia
  • Série Feito Para Dançar (Volumes 1 ao 12)
  • Série Novo Feito Para Dançar (Letras A a E)
  • Série Chá Dançante (Volumes 1 ao 3)
  • Série Mambos (Volumes 1 e 2)
  • Série Para Ouvir Amando (Volumes 1 e 2)
  • Série Ritmos Melódicos (Volumes 1 e 3)
  • Série Uma Noite no Arpége (Volumes 1 ao 3)
  • Sonhos e Melodias
  • Boleros
  • Samba, Alegria do Brasil
  • Rosita Gonzales Com Waldir Calmon
  • Hit Parade
  • O Sucesso, Hoje
  • Lembranças de Paris
  • Ritmos do Caribe
  • Quando os Astros Se Encontram - Waldir Calmon e Ângela Maria
  • Ritmos S. Simon
  • Romance Sin Palabras
  • E o Espetáculo Continua
  • Clássicos Para Dançar
  • Nos Requebros do Samba
  • Músicas de Herivelto Martins
  • Waldir Calmon e Seus Multisons
  • Discoteque - Feito Para Dançar
  • Waldir Calmon - Feito Para Dançar, de 1980

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Lincoln Olivetti

LINCOLN OLIVETTI
(60 anos)
Maestro, Instrumentista, Arranjador, Compositor e Produtor Musical

* Nilópolis, RJ (17/04/1954)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/01/2015)

Lincoln Olivetti foi um músico brasileiro que ficou conhecido pela parceria com o guitarrista Robson Jorge. Instrumentista, arranjador, compositor e produtor musical, Lincoln Olivetti iniciou na música ainda menino. Com 13 anos, já se apresentava em bailes do subúrbio com seu conjunto.

Cursou as faculdades de música e engenharia eletrônica, mas não as concluiu. Em meados da década de 70, conheceu Robson Jorge, com quem viria a manter uma grande parceria musical.

Lincoln Olivetti fez arranjos para numerosos artistas como Gal Costa, Gilberto Gil, Tim Maia, Jorge Ben, Rita Lee, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ângela Rô Rô, Zizi Possi, Fagner, Wando e Joanna, o que lhe rendeu fama e dinheiro, mas também críticas quanto a uma certa "pasteurização" da Música Popular Brasileira. Trabalhou também com os cantores Antônio Marcos e Vanusa.

Em 1982, lançou, com Robson Jorge, o LP "Robson Jorge e Lincoln Olivetti", registrando a parceria nas faixas "Jorgea Corisco", "No Bom Sentido", "Aleluia", "Pret-à-Porter", "Squash", "Fã Sustenido", "Zé Piolho", "Ginga" e "Alegrias", e "Eva" (Lincoln Olivetti e Ronaldo), incluindo também "Raton" (Contesini) e "Baila Comigo" (Roberto de Carvalho e Rita Lee).

Foi apelidado de "O Feiticeiro dos Estúdios" e "O Mago do Pop".


Na década de 90, viveu um período de ostracismo, do qual saiu ao produzir discos para Lulu Santos e Ed Motta.

Em 2003 foi responsável pelos arranjos do CD "Acústico Jorge Benjor".

Lincoln Olivetti fez o arranjo da abertura do programa "Fantástico", em 1973. Participou de trilhas sonoras de várias novelas, entre elas, "Baila Comigo" (1981).

Constam da relação dos intérpretes de suas canções vários artistas, como Tim Maia, Robertinho de RecifeRoberto Carlos, Fernanda Abreu, Xuxa, Ronnie Von, Cláudia Telles, Peninha, Fafá de Belém, Sérgio Reis, Chitãozinho & Xororó, Celebrare, Lafayette, Banda Black Rio, Vanusa, Patrícia Marx, KarametadeAntônio Marcos, Márcio Montarroyos, Fat Family, Roupa Nova, Sandra de Sá, Jane DubocAngélica, Sandy & Júnior, Adriana, Pedro Mariano, Diana Pequeno, Rosana, entre outros tantos.

Lulu Santos tem em um quadro o arranjo que Lincoln Olivetti fez para uma de seus maiores sucessos e que foi tema de "Malhação".

"Ele fazia a música soar como precisava para ficar o melhor que ela podia ficar", afirmou Lulu Santos. É dele também parte do arranjo de uma canção feita para as Olimpíadas Rio 2016.

Morte

Lincoln Olivetti morreu na noite de terça-feira, 13/01/2015. Ele sofreu um infarto fulminante, no estúdio que mantinha em casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Lincoln Olivetti tinha 60 anos e morreu fazendo o que mais gostava.

Ele passou a vida dentro de estúdios como o de Copacabana. Lá ele tocava piano, fazia arranjos, acompanhava gravações e exigia no mínimo trabalhos perfeitos.
Indicação: Miguel Sampaio

Eduardo Souto

EDUARDO SOUTO
(60 anos)
Compositor, Pianista e Maestro

* São Vicente, SP (14/04/1882)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/08/1942)

Eduardo Souto foi um pianista, compositor e maestro brasileiro. Dedicou-se a diversos gêneros, como a valsa, o tango e o samba. Compôs músicas românticas, como o tango "O Despertar da Montanha", "As Quatro Estações", as operetas "Paixão de Artista", "Os Milhões do Senhor Conde", "A Maçã", e outras. Compôs ainda o hino oficial do Botafogo, hino que foi ofuscado pela criação de Lamartine Babo.

Em 1919, compôs sua grande obra, o tango de salão "O Despertar da Montanha", peça típica dos saraus do início do século, que se tornou essencial no repertório pianístico brasileiro.

Em 1920, fundou a Casa Carlos Gomes, situada na Rua Gonçalves Dias, que além de lançar definitivamente o seu nome no meio artístico tornou-se ponto de encontro de grandes compositores da época. Imprimindo, inicialmente, obras quase que exclusivamente de sua autoria, a impressão da Casa Carlos Gomes passou posteriormente a abranger outros compositores de música de salão. Ainda em 1920, fez a programação musical e organizou as orquestras que tomaram parte da recepções ao Rei da Bélgica em sua visita ao Brasil.

Em 1921, fez sucesso no carnaval com a chula baiana "Pemberê", gravada pelo cantor Bahiano e pelo Grupo do Moringa na gravadora Odeon. No mesmo ano, Bahiano gravou de sua autoria o choro "Mesmo Assim", a canção carnavalesca "Eu Vou-me Embora" e os cateretês "No Rancho" e "Caboclo Magoado". Ainda no mesmo ano, o Grupo do Moringa gravou os choros "Mesmo Assim" e "Um Baile no Catumbi", o cateretê carnavalesco "Caboclo Magoado" e o cateretê "No Rancho". Em 1921, a Orquestra Passos gravou na Odeon o fox trot "Uma Festa no Japão", a valsa "Nuvens" e o tango "Do Sorriso da Mulheres Nascem as Flores". Vicente Celestino gravou as canções "Paixão de Artista""O Que os Teus Olhos Dizem" e o tango "Saudade". Eduardo Souto compôs em parceria com Norberto Bittencourt "Seu Delfim Tem Que Vortá", música em que faz referência ao presidente Delfim Moreira. No carnaval de 1921 fez sucesso com a marcha "Pois Não" (Eduardo Souto e João da Praia), gravada quase simultaneamente pelo Bahiano e pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

Contribuiu enormemente, através de sua produção, para o desenvolvimento e a fixação do gênero marcha. "Pois Não", além de ter sido pioneira das marchas carnavalescas, foi incluída em 1921 na revista "Gato, Baeta, Carapicu", de Cardoso de Meneses, Bento Moçurunga e Bernardino Vivas, que estreou no Teatro São José, apresentada pela atriz Otília Amorim e pelo ator Álvaro Fonseca à frente de um bloco. Também em 1921, fez a música para a revista "Fogo de Palha", de J. Brito apresentada no Teatro Recreio e cujo grande sucesso foi a "Canção do Pescador", apresentada por Francisco Pezzi. Fez também as música para a burleta "Paixão de Artista", de Soares Júnior e Tapajós Gomes apresentada no Teatro São Pedro, com Vicente Celestino interpretando suas composições.

Por volta de 1922, criou o Grupo Eduardo Souto e gravou na Odeon o maxixe carnavalesco "Não Sei o Que é" e o fox trot "O Carnaval", de sua autoria. No mesmo ano, apresentou-se com o paulista Cornélio Pires, pioneiro da música caipira, na Associação Brasileira de Imprensa, durante as festividades do Centenário da Independência. Ainda nesse mesmo ano, alcançou grande êxito com o cateretê "Eu Só Quero é Beliscar" gravado pelo cantor Bahiano na Odeon.

Em 1923, ao compor o samba à moda paulista "Tatu Subiu No Pau", procurou diversificar seu repertório com uma peça bem ao estilo de Marcelo Tupinambá. Criou então uma obra tipicamente caipira, baseada em motivos folclóricos e que apesar dessa característica apareceu com grande destaque no carnaval. Para tal sucesso contribuíram seus métodos de divulgação que incluíam a execução repetida das músicas nos pianos da Casa Carlos Gomes, com distribuição das letras aos transeuntes, e até a criação de um bloco que frequentava a Festa da Penha. Para fora do Rio de Janeiro, iam os discos de sua orquestra, gravados pela Casa Edison, da qual foi diretor artístico por vários anos. Ainda em 1923, criou a Orquestra Eduardo Souto com a qual gravou na Odeon as marchas carnavalescas "Goiabada", "Tatu Subiu No Pau" e "Só Teu Amor", o cateretê "Piracicaba", o maxixe "Meu Bem", o samba carnavalesco "Espanta Bode", a toada carnavalesca "Só Pra Machucar" e o cateretê carnavalesco "Nego Véio", todas de sua autoria. Ainda nesse mesmo ano, sua música "Tatu Subiu No Pau" deu nome a uma revista dos Irmãos Quintiliano apresentada no Teatro São José. Fez ainda as músicas para a revista "A Maçã", também dos Irmãos Quintiliano e apresentada no Teatro Recreio.

Em 1924, gravou com sua orquestra mais algumas composições de sua autoria, entre as quais, o tango "Sugestão De Um Sorriso", o cateretê "Poeta Do Sertão", a valsa lenta "Viver Dentro De Um Sonho" e o fox trot "Um Festival No Arraial". No mesmo ano, fez com o maestro Assis Pacheco as músicas para a revista "Off-Side", de J. Brito, apresentada no Teatro São José, sendo cantadas por Francisco Alves e Aracy Côrtes. Fez ainda as músicas para a revista "A Folia", dos Irmãos Quintiliano e apresentada no Teatro Lírico sobre a qual o crítico Mário Nunes escreveu:

"O sucesso da revista cabe, em grande parte, à partitura de Eduardo Souto, em que superabundam bonitos números, não havendo revista em que o folclore esteja tão bem representado nas suas melodias dolentes e harmoniosas toadas."


Em 1925, gravou com sua orquestra o fox trot "Não Sei Dizer", a marcha carnavalesca "Pai Adão" e os sambas "Tem Que Havê Combinação", "Se Me Dé De Comê" e "Quem Quiser Ver", de sua autoria. No mesmo ano, a dupla Bahiano e Januário gravou o cateretê carnavalesco "Iaiá-Ioiô", além de outras canções.

Em 1926, Zaíra de Oliveira gravou suas canções "Cantiga""A Margura" e o fado tango "Guitarrada". No mesmo ano, a mesma Zaíra de Oliveira gravou em dueto com Bahiano o cateretê carnavalesco "Eu Só Quero É Conhecer" e a marcha "Quando Me Lembro", parceria com João da Praia. Também no mesmo ano, o cantor Del Nigri registrou na Odeon suas canções "A Despedida" (Eduardo Souto e Bastos Tigre), "O Sabiá" (Eduardo Souto e Goulart de Andrade), "Nunca Mais" (Eduardo Souto e Heitor Modesto) e "Romantismo" (Eduardo Souto e Zito Batista). Escreveu em parceria com o maestro Antônio Lago a música para a revista "Zig Zag", de Bastos Tigre. Fez também as músicas para a revista "Dentro Do Brinquedo", de Carlos Bittencourt, apresentada no Teatro São José.

Em 1927 fez com Bento Moçurunga as músicas para a revista "Boas Falas", de Bastos Tigre.

Em 1929, lançou duas marchinhas sobre o presidente Washington Luís, "É Sim Senhor" e "Seu Doutor", ambas gravadas por Francisco Alves na Odeon.

Em 1930, compôs com Osvaldo Santiago o "Hino a João Pessoa", homenagem ao político paraibano assassinado naquele ano. O hino foi gravado ainda em 1930 por Francisco Alves e em seguida, pela Banda do Regimento Naval. Este hino obteve enorme sucesso porque a Revolução que aconteceu naquele momento levou ao poder partidários de João Pessoa, que foi elevado à condição de mártir do movimento. O disco gravado por Francisco Alves foi lançado em pleno período de euforia dos vitoriosos e vendeu milhares de cópias, tornando-se o grande sucesso do ano.

Em 1931, teve o tango canção "O Despertar Da Montanha" e a barcarola "Praias De Nossa Terra" gravada na Odeon pela Orquestra Colonial. No mesmo ano, sua marcha "Verbo Ser" foi gravada por Francisco Alves e Norma Bruno e seu samba "Tem Moamba", pela Orquestra Copacabana, ambas na Odeon. A Orquestra Copacabana gravou a valsa "Viver... Morrer... Por Um Amor" (Eduardo Souto e Osvaldo Santiago). Compôs ainda com João de Barro a marcha "Batucada", um de seus últimos sucessos, gravada por Mário Reis. No mesmo período, o cantor Jorge Fernandes gravou a canção "Vestido Encarnado" (Eduardo SoutoJoão de Barro) e a valsa "Viver" (Eduardo Souto e Eugênio Fonseca Filho). Participou do elenco do Teatro Cassino Beira-Mar no Rio de Janeiro, juntamente com Ary Barroso, Bando de Tangarás, Elisa Coelho, Carolina Cardoso de Menezes, Luperce Miranda e Artur Nascimento, quando então se realizou o Festival Parlophon.

Eduardo Souto foi o idealizador do Coral Brasileiro, integrado por famosos cantores como Bidu Sayão, Zaíra de Oliveira, Nascimento Silva e outros. Orquestrador de música sinfônica, realizou concertos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foi também diretor artístico da Odeon e da Parlophon.

Em 1932, conheceu seu último grande sucesso, a marcha rancho "Gegê" (Eduardo Souto e Getúlio Marinho), gravada por Jaime Vogeler na Odeon em novembro do ano anterior. No mesmo ano, Jaime Vogeler gravou o cateretê "Lá No Sertão" (Eduardo Souto e Eustórgio Wanderley) e a reza de malandro "Samba Nosso" (Eduardo Souto, Benoit CertaineFrancisco Alves), as canções "A Saudade" e "A Despedida", ambas parcerias com Bastos Tigre. Teve ainda as marchas "Anatomia" e "Aborrecimentos", parcerias com José Evangelista, gravadas por Castro Barbosa e Jonjoca.

A partir de 1932, com surgimento de uma nova geração de compositores, o nome de Eduardo Souto caiu no esquecimento.

Em 1933, teve o samba "Mandei Buscar", gravado por Leonel Faria, a marcha rancho "Amor, Meu Grande Amor" (Eduardo Souto e Luiz Martins), gravada por João Petra de Barros, as marchas "Modos De Mamar" por Jaime Vogeler e "Terapêutica", por Vitório Lattari.

Em 1953, sua toada-canção "Do Sorriso Das Mulheres Nasceram As Flores", foi regravada em interpretação de cítara Avena de Castro em disco Copacabana.

Em 1958, seu filho, o pianista Nelson Souto, gravou o LP "Nelson Souto Interpreta Eduardo Souto", com músicas suas. Pouco depois, a Sinter lançou o LP "Eduardo Souto Na Interpretação de Mário de Azevedo".

Eduardo Souto Neto, filho de Nelson Souto, passou a se destacar como compositor, pianista e arranjador, a partir de 1970.

Discografia

  • 1959 - Eduardo Souto Na Interpretação de Mário de Azevedo (Sinter, LP)
  • 1958 - Nelson Souto Interpreta Eduardo Souto (Festa, LP)
  • 1925 - Não Sei Dizer (Odeon, 78)
  • 1925 - Iaiá Ioiô (Odeon, 78)
  • 1925 - Pai Adão (Odeon, 78)
  • 1925 - Fais Chorá (Odeon, 78)
  • 1925 - Tem Que Havê Combinação (Odeon, 78)
  • 1925 - Se Me Dé De Comê (Odeon, 78)
  • 1925 - Quem Quiser Ver (Odeon, 78)
  • 1925 - Parati Dançante (Odeon, 78)
  • 1924 - Sonho Oriental (Odeon, 78)
  • 1924 - Jeriquitim (Odeon, 78)
  • 1924 - Sugestão De Um Sorriso (Odeon, 78)
  • 1924 - Viver Dentro De Um Sonho (Odeon, 78)
  • 1924 - Poeta Do Sertão (Odeon, 78)
  • 1924 - Malditos Olhos (Odeon, 78)
  • 1924 - Um Festival No Arraial (Odeon, 78)
  • 1924 - Marulhos (Odeon, 78)
  • 1924 - Mister Câmbio (Odeon, 78)
  • 1924 - Guanabara (Odeon, 78)
  • 1924 - Viradinho (Odeon, 78)
  • 1924 - Monta No Trouxa (Odeon, 78)
  • 1923 - Goiabada (Odeon, 78)
  • 1923 - Tatu Subiu No Pau (Odeon, 78)
  • 1923 - Só Teu Amor (Odeon, 78)
  • 1923 - Piracicaba (Odeon, 78)
  • 1923 - Meu Bem (Odeon, 78)
  • 1923 - Espanta Bode (Odeon, 78)
  • 1923 - Só Pra Machucar (Odeon, 78)
  • 1923 - Nego Véio (Odeon, 78)
  • 1923 - Eu Só Quero Ver (Odeon, 78)
  • 1923 - Não Olhe Assim (Odeon, 78)
  • 1923 - Viola Do Jangadeiro (Odeon, 78)
  • 1922 - Não Sei O Que É (Odeon, 78)
  • 1922 - O Carnaval (Odeon, 78)
  • 1023 - Deu O Fora (Odeon, 78)


Alberto Nepomuceno


ALBERTO NEPOMUCENO
(56 anos)
Compositor, Pianista, Organista e Regente

* Fortaleza, CE (06/07/1864)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/10/1920)

Alberto Nepomuceno foi um compositor, pianista, organista e regente brasileiro. Considerado o "pai" do nacionalismo na música erudita brasileira, deixou inacabada a ópera "O Garatuja", baseada na obra de mesmo nome de José de Alencar. Escreveu duas óperas completas, "Artemis" e "Abul", ambas sem temática nacionalista. Pesquisas recentes mostram que Alberto Nepomuceno compôs obras de caráter modernista, chegando a experimentar com a politonalidade nas Variações para piano, "Opus 29".

Filho de Vítor Augusto Nepomuceno e Maria Virgínia de Oliveira Paiva, foi iniciado nos estudos musicais por seu pai, que era violinista, professor, mestre da banda e organista da Catedral de Fortaleza. Em 1872 transferiu-se com a família para Recife, onde começou a estudar piano e violino.

Responsável pelo sustento da mãe e irmã após a morte de seu pai, em 1880, Alberto Nepomuceno empregou-se como tipógrafo e passou a ministrar aulas particulares de música, ficando impossibilitado de prosseguir seus estudos no curso de humanidades. Apesar do pouco tempo que lhe sobrava, conseguiu dar continuidade aos seus estudos musicais com o maestro Euclides Fonseca.

Durante sua juventude, manteve amizade com alunos e mestres da Faculdade de Direito do Recife, como Alfredo Pinto, Clóvis Bevilaqua e Farias Brito. A Faculdade, nessa época, era um grande centro intelectual do país e por lá fervilhavam idéias e análises sociais de vanguarda, como os estudos sociológicos de Manuel Bonfim e Tobias Barreto, além das teorias darwinistas e spenceristas de Sílvio Romero. Foi Tobias Barreto quem despertou em Alberto Nepomuceno o interesse pelos estudos da língua alemã e da filosofia, dando-lhe aulas de ambas as disciplinas.

Tornou-se um defensor atuante das causas republicana e abolicionista no Nordeste, participando de diversas campanhas. Entretanto, não descuidou de suas atividades como músico, assumindo, aos dezoito anos, a direção dos concertos do Clube Carlos Gomes de Recife. Atuou também como violinista na estréia da ópera "Leonor", de Euclides Fonseca, no Teatro Santa Isabel.

De volta ao Ceará com a família, ligou-se a João Brígido e João Cordeiro, defensores do Movimento Abolicionista, passando a colaborar em diversos jornais ligados à causa. Devido às suas atividades políticas, seu pedido de custeio ao governo imperial para estudar na Europa foi indeferido.


Sociedade da Corte

Em 1885, Alberto Nepomuceno mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar na residência da família dos artistas plásticos Rodolfo Bernardelli e Henrique Bernardelli. Deu continuidade aos seus estudos de piano no Clube Beethoven, onde se apresentou ao lado de Arthur Napoleão. Pouco tempo depois, foi nomeado professor de piano do clube, que tinha em seu quadro funcional, como bibliotecário, Machado de Assis.

A capital do império, neste período, vivia um momento de grande efervescência social, política e cultural. No âmbito social, ocorria um vertiginoso crescimento populacional com o aumento do fluxo migratório em busca de trabalho. No plano político, sucediam-se os ataques das campanhas abolicionista e republicana à monarquia. No campo literário, os movimentos romântico, simbolista e naturalista, em voga na Europa, influenciavam diversos escritores brasileiros, como Olavo BilacMachado de AssisAluísio de Azevedo e Coelho Neto.

O grande interesse de Alberto Nepomuceno pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa, aproximou-o de alguns dos mais importantes autores da época, surgindo, da parceria com poetas e escritores, várias composições como: "Ártemis" (1898), com texto de Coelho Neto, "Coração Triste" (1899), com Machado de Assis, "Numa Concha" (1913), com Olavo Bilac.

No ano anterior à abolição da escravatura, compôs "Dança de Negros" (1887), uma das primeiras composições que utilizou motivos étnicos brasileiros. A primeira audição dessa obra, que mais tarde se tornou "Batuque", da Série Brasileira, foi apresentada pelo autor no Ceará. Outras peças foram compostas na mesma época, como "Mazurca", "Une Fleur", "Ave Maria" e "Marcha Fúnebre".

Apesar de ser visto com desconfiança pela família imperial, devido às suas posições políticas, Alberto Nepomuceno, pela sua importância no cenário musical brasileiro, chegou a ser convidado pela Princesa Isabel para tomar chá no Paço Imperial.


Europa

Alberto Nepomuceno viajou para a Europa na companhia de seus grandes amigos, os irmãos Henrique Bernardelli e Rodolfo Bernardelli, em agosto de 1888, com o objetivo de ampliar sua formação musical.

Em Roma, matriculou-se no Liceo Musicale Santa Cecilia, na classe de Harmonia, de Eugenio Terziani, e na de piano, de Giovanni Sgambati. Depois, com a morte de Eugenio Terziani, prosseguiu os estudos com Cesare De Sanctis.

Em 1890 partiu para Berlim, onde aperfeiçoou seu domínio da língua alemã e ingressou na Academia Meister Schulle, tornando-se aluno de composição de Heinrich von Herzogenberg, grande amigo de Brahms. Durante suas férias, chegou a assistir em Viena a concertos de Brahms e de Hans von Bülow. Transferiu-se depois para o Conservatório Stern de Berlim, onde, durante dois anos, cursou as aulas de composição e órgão com o professor Arnó Kleffel, e de piano, com H. Ehrlich.

Alberto Nepomuceno e sua futura esposa tiveram aulas também com o famoso Theodor Lechetitzky, em cuja sala de aula conheceu a pianista norueguesa Walborg Bang, com quem se casou em 1893. Ela era aluna de Edvard Grieg, o mais importante compositor norueguês da época, representante máximo do nacionalismo romântico.

Após seu casamento, foi morar na casa de Edvard Grieg em Bergen. Esta amizade foi fundamental para que Alberto Nepomuceno elaborasse um ideal nacionalista e, sobretudo, se definisse por uma obra atenta à riqueza cultural brasileira.

Após realizar as provas finais do Conservatório Stern (1894), regendo a Filarmônica de Berlim com duas obras suas, Scherzo Für Grosses Orcherter e Suíte Antiga, inscreveu-se na Schola Cantorum, em Paris, a fim de aprimorar-se nos estudos de órgão com o professor Alexandre Guilmant. Nessa época, conheceu Camille Saint-Saëns, Charles Bordes, Vincent D'Indy e outros.

Assistiu à estréia mundial de "Prélude à L'après-midi D'un Faune", de Claude Debussy, obra que Alberto Nepomuceno foi o primeiro a apresentar no Brasil, em 1908, nas festas do Centenário da Abertura dos Portos. A convite de Charles Chabault, catedrático de grego na Sorbonne, escreveu a música incidental para a tragédia Electra.

Em 1900 marcou uma entrevista com o diretor da Ópera de Viena, Gustav Mahler, para negociar a apresentação de sua ópera "Ártemis", porém, adoeceu gravemente, indo se recuperar em Bergen, na casa de seu amigo Edvard Grieg.

Em 1910, financiado pelo governo brasileiro, realizou diversos concertos com músicas de compositores nacionais em Bruxelas, Genebra e Paris. Durante a excursão, visitou Debussy em sua residência em Neuilly-sur-Seine, sendo presenteado com uma partitura autografada de "Pelléas et Mélisande".


Nacionalismo

No dia 04/08/1895, Alberto Nepomuceno realizou um concerto histórico, marcando o início de uma campanha que lhe rendeu muitas críticas e censuras. Apresentou pela primeira vez, no Instituto Nacional de Música, uma série de canções em português, de sua autoria. Estava deflagrada a guerra pela nacionalização da música erudita brasileira. O concerto atingia diretamente aqueles que afirmavam que a língua portuguesa era inadequada para o bel canto. A polêmica tomou conta da imprensa e Alberto Nepomuceno travou uma verdadeira batalha contra o crítico Oscar Guanabarino, defensor ardoroso do canto em italiano, afirmando: "Não tem pátria um povo que não canta em sua língua".

A luta pela nacionalização da música erudita foi ampliada com o início de suas atividades na Associação de Concertos Populares, que dirigiu por dez anos, de 1896 a 1906, promovendo o reconhecimento de compositores brasileiros.

A pedido de Visconde de Taunay, restaurou diversas obras do compositor Padre José Maurício Nunes Garcia e apoiou compositores populares como Catulo da Paixão Cearense.

A sua coletânea de doze canções em português foi lançada em 1904 e editada pela Vieira Machado & Moreira de Sá. "O Garatuja", comédia lírica em três atos, baseada na obra homônima de José de Alencar, é considerada a primeira ópera verdadeiramente brasileira no tocante à música, ambientação e utilização da língua portuguesa. Os ritmos populares também estão presentes nesta obra, como a habanera, o tango, a marcação sincopada do maxixe, o lundu e ritmos característicos dos compositores populares do século XIX, como Xisto Bahia, além das polcas de Callado e Chiquinha Gonzaga.

Em 1907 iniciou a reforma do "Hino Nacional Brasileiro", tanto na forma de execução quanto na letra de Osório Duque Estrada. No ano seguinte, a realização do concerto de violão do compositor popular Catulo da Paixão Cearense, no Instituto Nacional de Música, promovido por Alberto Nepomuceno, causou grande revolta nos críticos mais ortodoxos, que consideraram o acontecimento "um acinte àquele templo da arte".

Ainda como incentivador dos talentos nacionais, atuou junto a Sampaio Araújo para editar as obras de um controvertido compositor que surgia na época: Heitor Villa-Lobos. Alberto Nepomuceno chegou a exigir que as edições de suas obras, distribuídas pela Casa Arthur Napoleão, contivessem, na contra-capa, alguma partitura do jovem Villa-Lobos. Executou várias obras do jovem compositor em concertos com orquestras que regeu, e deixou-lhe como herança uma coleção de cerca de 80 canções populares, catalogadas e analisadas.


O Instituto Nacional de Música

Alberto Nepomuceno iniciou suas atividades no Instituto Nacional de Música como professor de órgão em 1894. Após a morte de Leopoldo Miguez, em 1902, foi nomeado diretor. Devido a inúmeras pressões e divergências de ordem política e administrativa, pediu exoneração no ano seguinte. No entanto, como importante referência da música erudita local, foi designado pelo próprio Instituto para recepcionar Saint-Saëns em sua vinda ao país.

Em 1906 reassumiu o cargo de diretor após o pedido de demissão de Henrique Oswald. Em sua segunda gestão, elaborou uma série de projetos visando à institucionalização da música erudita brasileira.

Um dos primeiros projetos iniciados por Alberto Nepomuceno foi a reforma do "Hino Nacional Brasileiro" e a regulamentação de sua execução pública. Mandou colocar no Instituto uma lápide em homenagem a Francisco Manuel da Silva, com a seguinte inscrição:

"Ao fundador do Conservatório e autor do Hino de sua pátria"

Foi nomeado também diretor musical e regente principal dos Concertos Sinfônicos da Exposição Nacional da Praia Vermelha, em comemoração ao Centenário da Abertura dos Portos. Nestes concertos, apresentou pela primeira vez ao público brasileiro os autores europeus contemporâneos Debussy, Roussel, Glazunow e Rimsky-Korsakov, além dos brasileiros Carlos Gomes, Barroso Neto, Leopoldo Miguez e Henrique Oswald.

Em 1909, enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional com o intuito de criar uma Orquestra Sinfônica subvencionada pelo governo. Como diretor do Instituto, recepcionou, junto com Ruy Barbosa e Roberto Gomes, o pianista Paderewsky em sua visita ao Brasil.

Em 1913 regeu, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o grande Festival Wagner, tendo como solista o tenor Karl Jorn, de Bayreuth.

Responsável pela tradução do "Tratado de Harmonia" de Schoenberg, Alberto Nepomuceno tentou, em 1916, implantá-lo no Instituto, mas encontrou forte oposição do corpo docente. Sentindo crescer as pressões contrárias da academia a seus projetos, pediu demissão no mesmo ano.

Separado de Walborg Bang e com sérias dificuldades financeiras, foi morar com Frederico Nascimento em Santa Teresa. Seu último concerto no Teatro Municipal aconteceu em 1917.

Muito doente e enfraquecido, faleceu em 16/10/1920, aos 56 anos de idade. Segundo depoimento de seu grande amigo Otávio Bevilacqua, o compositor começou a cantar ao perceber a proximidade da morte: "... cantou noite adentro até o último suspiro em pleno dia" (Trevisan, João Silvério. Ana em Veneza. Rio de Janeiro: Record, 1998).


Obras

Música Dramática


Óperas:
  • 1887-1889 - Porangaba
  • 1894 - Electra (Versão 1894)
  • 1898 - Ártemis
  • 1899-1905 - Abul
  • 1904-1920 - O Garatuja (Inacabada, 1904-1920)
Opereta:
  • 1911 - A Cigarra
Episódio Lírico:
  • 1902 - A Pastoral

Música Orquestral

  • 1887 - Marcha Fúnebre
  • 1887 - Prière
  • 1887 - Suíte da Ópera Porangaba
  • 1887 - Rhapsodie brésilienne
  • 1888 - Série Brasileira (Batuque)
  • 1891 - Série Brasileira (Intermédio)
  • 1892 - Série Brasileira (Alvorada na Serra)
  • 1893 - Scherzo Vivace
  • 1893 - Suíte Antiga
  • 1893 - Sinfonia Em Sol Menor
  • 1893 - Spimlied
  • 1896 - Largo e Ofertório, para órgão e orquestra
  • 1896 - Série Brasileira (A Sesta na Rede)
  • 1902 - Andante Expressivo
  • 1902 - Serenata
  • 1903 - Seis Valsas Humorísticas, para piano e orquestra
  • 1904 - O Garatuja
  • 1906 - Suíte da Ópera Abdul
  • 1908 - Romance e Tarantela, para violoncelo e orquestra
  • 1916 - Iriel (Cena e Dança)

Música de Câmara

Trio:

  • 1916 - Trio, para piano, violino e violoncelo
Quartetos de Cordas:

  • 1889 - Quarteto
  • 1890 - Quarteto nº 1
  • 1890 - Quarteto nº 2
  • 1891 - Quarteto nº 3

Música Instrumental

Para Piano:

  • S.d. - A Brasileira
  • S.d. - Melodia
  • S.d. - Seis Valsas Humorísticas
  • 1887 - Dança de Negros
  • 1887 - Scherzo Fantástico
  • 1887 - Prece
  • 1887 - Mazurca nº 1
  • 1890 - Berceuse
  • 1890 - Ninna Nanna
  • 1890 - Mazurca Em Ré Menor
  • 1891 - Folhas D'álbum 1-6
  • 1891 - Une Fleur (Romance)
  • 1893 - Sonata
  • 1893 - Suíte Antiga (Quatro Movimentos)
  • 1893 - Valse Impromptu
  • 1894 - Diálogo
  • 1894 - Anelo
  • 1894 - Galhofeira
  • 1894 - Valsa
  • 1895 - Líricas nº 1 e 2
  • 1902 - Tema e Variações Em Lá Maior
  • 1902 - Variações Sobre Um Tema Original
  • 1903 - Quatro Peças Infantis
  • 1904 - Devaneio
  • 1904 - Improviso
  • 1906 - Barcarola
  • 1906 - Dança
  • 1906 - Brincando
  • 1906 - Melodia
  • 1907 - Noturno
  • 1908 - Série Brasileira
  • 1908 - Sinfonia Em Sol Menor
  • 1910 - Noturno nº 1
  • 1911 - Valsa da Cigarra
  • 1912 - Noturno nº 2
  • 1916 - Cloche de Noël
Para Órgão:

  • 1893 - Orgelstück (Quatro Peças)
  • 1894 - Prelúdio e Fuga
  • 1895 - Comunhão
  • 1895 - Sonata
  • 1902 - Ofertório
  • 1912 - Prelúdio e Fuga
Duos:

  • 1887 - Mazurca, para violoncelo e piano
  • 1887 - Prece, para violoncelo e piano
  • 1908 - Romance e Tarantela, para violoncelo e piano
  • 1919 - Devaneio, para violino e piano

Música Vocal

Canto e Piano:

  • S.d. - Conselho (Antigas modinhas brasileiras)
  • S.d. - Morta (Trovas do norte)
  • S.d. - A Grinalda
  • S.d. - Amo-te Muito
  • S.d. - Cantiga Triste
  • S.d. - Cantigas
  • S.d. - Canto Nupcial
  • 1888 - Perchè
  • 1888 - Rispondi
  • 1889 - Serenata Di Un Moro
  • 1889 - Tanto Gentile Tanto Onesta Pare
  • 1893 - Blomma
  • 1893 - Dromd Lycka
  • 1893 - Der Wunde Ritter
  • 1894 - Ora, Dize-me a Verdade
  • 1894 - Désirs Divers
  • 1894 - Einklang
  • 1894 - Sehnsucht Vergessen
  • 1894 - Gedichte
  • 1894 - Herbst
  • 1894 - Oraison
  • 1894 - Wiegen Sie Sauft
  • 1894 - Moreninha
  • 1894 - Moreninha (Medroso de Amor)
  • 1894 - Madrigal
  • 1894 - Mater Dolorosa
  • 1894 - Desterro
  • 1895 - Au Jardin Des Reves
  • 1895 - Les Yeux Élus
  • 1895 - La Chanson de Gélisette
  • 1895 - La Chanson Du Silence (Il Flotte Dans L'air)
  • 1895 - Le Miroir D'or
  • 1896 - Cativeiro
  • 1897 - Cantos da Sulamita
  • 1902 - Canção do Amor
  • 1902 - Sonhei
  • 1902 - Oração ao Diabo
  • 1903 - Coração Triste
  • 1904 - O Sono
  • 1905 - Trovas Alegres
  • 1905 - Trovas Tristes
  • 1906 - Hidrófana
  • 1906 - Saudade
  • 1911 - Aime-moi
  • 1911 - Razão e Amor
  • 1912 - Ocaso
  • 1914 - Candura
  • 1914 - Numa Concha
  • 1914 - Olha-me
  • 1915 - Canção da Ausência
  • 1915 - Luz e Névoa
  • 1917 - Canção do Rio
  • 1920 - Jangada
Canto e Orquestra:

  • S.d. - Amanhece
  • S.d. - Xácara
  • S.d. - Trovas nº 1
  • S.d. - Trovas nº 2
  • S.d. - Dolor Supremus
  • S.d. - Oração ao Diabo
  • S.d. - Sempre
  • S.d. - Anoitece
  • S.d. - Cantigas (A Guitarra)
  • S.d. - Dor Sem Consolo
  • S.d. - A Despedida
  • 1894 - Medroso de Amor (Moreninha)
  • 1894 - Tu És o Sol
  • 1897 - Epitalâmio (Enfim)
  • 1906 - Canção
  • 1902 - Cantilena
  • 1903 - Coração Indeciso
  • 1903 - Filomela
  • 1904 - Soneto
  • 1906 - Turquesa
  • 1913 - Nossa Velhice
  • 1917 - Le Miracle de la Semence
Coro:

  • S.d. - Baile na Flor, para coro feminino
  • S.d. - Tambores e Cornetas
  • 1890 - Hino à Proclamação da República
  • 1896 - Hino ao Trabalho
  • 1896 - As Uiaras, para coro feminino
  • 1903 - Canção do Norte (Hino ao Ceará), para coro misto
  • 1909 - Hino às Árvores
  • 1914 - Hino à Escola Normal
  • 1914 - Oração à Pátria
  • 1915 - Hino à Alsácia-Lorena
  • 1917 - Ode a Osvaldo Cruz
  • 1918 - Canção do Acre
  • 1919 - Hino à Paz
  • 1919 - Saudação à Bandeira

Música Sacra

  • S.d. - Ave Maria nº 2, para coro feminino a quatro vozes
  • S.d. - Ave Maria n° 3, para canto e órgão
  • S.d. - Ave Maria nº 4, para canto e órgão
  • S.d. - Ingemisco, para canto e piano
  • S.d. - Invocação à Cruz, para coro a duas vozes
  • 1887 - Ave Maria nº 1, para coro feminino
  • 1896 - Canto Fúnebre, para coro a duas vozes
  • 1897 - O Salutaris Hostia nº 2, para canto e piano
  • 1909 - Panis Angelicus, para duas vozes e órgão
  • 1911 - O Salutaris Hostia, para coro a quatro vozes e órgão
  • 1911 - Tantum Ergo, para coro e órgão
  • 1911 - Ecce Panis Angelorum, para duas vozes e órgão
  • 1915 - Missa, para coro a duas vozes e órgão
Fonte: Wikipédia

Newton Mendonça

NEWTON FERREIRA DE MENDONÇA
(33 anos)
Compositor e Instrumentista

* Rio de Janeiro, RJ (14/02/1927)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/11/1960)

Um dos mais importantes compositores da Bossa Nova, Newton Mendonça é figura obscura da música brasileira. Omissões, erros históricos e a personalidade arredia do pianista fizeram com que ele se mantivesse desconhecido até hoje. Injustiçado historicamente, Newton Mendonça foi um dos grandes responsáveis pelo início da Bossa Nova.

Newton Ferreira de Mendonça foi um pianista, compositor, violinista e gaitista brasileiro. Seu modo de escrever, usando substantivos até então raramente usados em letras de músicas brasileiras, e o modo carinhoso com que se referia à mulher, ao contrário do machismo frequentemente encontrado nas letras, foi fundamental para chamar a atenção das pessoas para a Bossa Nova, especialmente os jovens.

Viveu entre 1933 a 1939 em Porto Alegre, onde estudou violino, e em Aquidauana, MS. Aos 13 anos, iniciou seus estudos de piano clássico.

Em 1942 se juntou ao seu amigo de infância, Antônio Carlos Jobim, com quem compôs várias canções que viriam a se tornar clássicos da Bossa Nova.

Boêmio, passou a maior parte das noites dos anos 50 tocando piano em boates de Copacabana. O primeiro sucesso surgiu com "Foi a Noite", considerado por muitos especialistas como o início da Bossa Nova.

O grande sucesso aconteceu dois anos depois, quando João Gilberto gravou "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Seguiram-se "Meditação", "Caminhos Cruzados", "Discussão" e "Só Saudade".

Anos se passaram e "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só" tornaram-se clássicos, que resistiram ao tempo e até à morte da Bossa Nova. Para muitos, são canções apenas de Tom Jobim. Ninguém jamais se empenhou muito para que o nome de Newton Mendonça saísse das sombras. Até agora...

Com o renascimento nos últimos anos do interesse pela Bossa Nova, as pessoas quiseram saber quem foi Newton Mendonça - quem ele era, por que produziu tão pouco, por que morreu tão jovem. Como poucos de seus contemporâneos podem responder a essas perguntas - e nem todos têm paciência para prestar informações -, fantasiou-se até sobre a possível existência de uma cortina de silêncio ao seu redor. "Por que as pessoas desconversam quando se fala de Newton Mendonça?" - eis uma pergunta que é frequentemente respondida com outra: "É mesmo. Por quê?". Nesse terreno fértil para miragens, até as circunstâncias de sua morte passaram a parecer suspeitas.

Para piorar as coisas, teóricos consagrados, mas preguiçosos como investigadores, radiografaram as ousadias formais de "Desafinado""Samba de Uma Nota Só", e pensaram estar fazendo um grande favor a Newton Mendonça ao reabilitá-lo como o "Primeiro grande letrista da Bossa Nova". Deram de barato que, se Tom Jobim fazia as músicas, Newton Mendonça fazia as letras e, com isso, pincelaram com um verniz acadêmico a curiosa campanha que, não é de hoje, tenta isolar  Newton Mendonça como letrista. Nunca ocorreu a esses teóricos que, por mais improvável, poderia até ter sido o contrário - ou seja, que Newton Mendonça tivesse feito as músicas e Tom Jobim as letras. Ou que poderia ter sido de outro jeito: música e letra, em partes iguais, de Tom Jobim e Newton Mendonça. E que, ao canonizar Newton Mendonça como letrista, poderiam estar sendo injustos para com ele e para com o próprio Tom Jobim.

No fim dos anos 1950, Newton Mendonça não estava fazendo nenhum progresso como pianista da madrugada. Segundo sua carteira profissional, a boate Mocambo lhe pagava seis mil cruzeiros por mês em 1953. Nenhuma fortuna. Pelo último registro na carteira, o da boate Carrousel, em 1958, Newton Mendonça punha no bolso duzentos cruzeiros por noite - que, teoricamente, resultariam nos mesmos seis mil por mês, se eles valessem tanto quanto os de cinco anos antes. E, claro, se nem uma vez ele faltasse ao serviço.

A outra diferença é que, em 1953, Newton Mendonça era um compositor inédito e, em 1958, pelo menos, sua obra começava a respirar fora da boate. Já tinha sido gravado por vários cantores. Sua parceria com Tom Jobim em "Foi a Noite" foi um sucesso com Sylvinha Telles, e, antes de morrer em 1960, ele presenciaria o furor provocado por João Gilberto com "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só".

Mas Newton Mendonça não participou desse furor, nem perifericamente. Por diversos motivos, entre os quais o seu jeito arredio e um piramidal orgulho, não soube capitalizar a sensação da Bossa Nova para melhorar a sua cotação na bolsa da noite e fazer com que lhe pagassem decentemente nas boates - já que insistia em trabalhar nelas. E os direitos autorais, ainda mais naquele tempo, não passavam de um boato. A verdade é que, para Newton Mendonça, nenhuma das suas grandes criações rendeu-lhe dinheiro vivo enquanto ele esteve vivo.

Newton Mendonça era um homem travado e introvertido, que guardava seus diplomas debaixo do colchão e cuja única diversão durante o dia era jogar peteca na praia, um curioso esporte daquele tempo. Era, principalmente, de um atroz ciúme dos amigos e não gostava de estranhos em sua roda.

A Bossa Nova, em 1959, agrediu-o em todas essas frentes. Seu melhor e mais velho amigo, Tom Jobim, sobre quem até então ele exercia uma considerável ascendência, tornara-se uma mini-celebridade. A partir daí, ficou difícil para Newton Mendonça, ao terminar o serviço na boate às 04:00 hs, conseguir que Tom Jobim desafiasse sua mulher Teresa e saísse da cama para encontrá-lo num botequim na Rua Teixeira de Melo, em Ipanema, como acontecera outras vezes. Newton Mendonça já se conformara em dividi-lo com Vinícius de Moraes, de quem também ficou amigo, mas, depois de "Desafinado"Tom Jobim passou a ser propriedade de todo mundo no competitivo mundinho da Bossa Nova. Além do mais, tinha sido Tom Jobim, e não ele, que se tornou o querido da imprensa - como se pudesse ser de outra forma. Mas Newton Mendonça se ressentia, acusando os jornalistas. "Eles só querem saber do Tom", queixava-se para sua mulher Cyrene. Esta depois teria outra explicação: "Newton assustava os repórteres".


Se chegasse a ser entrevistado por um deles, Newton Mendonça provavelmente teria coisas a dizer. Como as que dizia para Cyrene, quando era cobrado por ela a respeito do aperto financeiro em que viviam:

"Não faço música para faxineira cantar varrendo a sala."

Só podia ser uma alusão maldosa à história da empregada que teria levado Tom Jobim a compor a deslumbrante "Chega de Saudade". Mas diria também que isso não diminuía a sua ambição de se ver reconhecido, e que o fazia irritar-se com as brincadeiras de Tom Jobim - como uma que este aprontou, em 1956, na boate Posto 5, onde Newton Mendonça trabalhava. Tom chegou com o jovem repórter José Carlos de Oliveira, tomou o lugar de Newton Mendonça ao piano e disse, com grande seriedade:

"Carlinhos, escute este samba-canção que eu acabei de fazer."

E tocou "Foi a Noite" (Tom Jobim e Newton Mendonça). Ronaldo Bôscoli, que estava presente e conhecia a música, fez força para não rir, mas Newton Mendonça não achou graça. Isso pode ter-se tornado uma prática perversa entre os dois parceiros. Poucos anos depois, em 1959, Newton Mendonça cruzou com Tito Madi no Beco das Garrafas e o fez entrar no Ma Griffe, onde estava agora trabalhando.

"Tito, olha só o que eu acabei de compor", disse Newton Mendonça.

Sentou-se ao piano e tocou-lhe um samba revolucionário. Tito Madi ficou quase estatelado. Não podia adivinhar, mas acabar de ouvir, em primeira mão, "Samba de Uma Nota Só" - melodia, harmonia e ritmo. Ainda sem letra.

Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram "Samba de Uma Nota Só" em fins de 1959 e também no apartamento de Newton Mendonça. Só que, dessa vez, a sério, sem o espírito de fuzarca que presidiu a confecção de "Desafinado". Mesmo assim, não resistiram a uma pequena provocação a Ary Barroso, ao começar a letra com o verso "Eis aqui este sambinha / Feito numa nota só".

Ary Barroso, que acreditava nos ufanismos nacionalistas que escrevia, foi talvez o único grande compositor brasileiro da velha guarda que nunca flertou com ritmos estrangeiros. Em seus programas de calouros, defendia com unhas e alguns dentes a sacralidade do samba e ficava um tigre quando algum desavisado anunciava que iria cantar "um sambinha" - às vezes dele próprio, Ary Barroso. Tanto Tom Jobim quanto Newton Mendonça o admiravam, mas ressentiam-se das espetadas que o homem de "Risque" e "Aquarela do Brasil" distribuía contra a Bossa Nova nas mesas da Fiorentina. Não que quisessem desafiá-lo. Ao contrário: ao minimizar o que tinham feito, classificando o seu próprio samba de "um sambinha", pensavam até em cativá-lo - e neutralizá-lo.

Quando "Samba de Uma Nota Só" foi gravado por João Gilberto em abril de 1960, a Bossa Nova já tinha se tornado a mania nacional, mas isso não alterou o estilo de vida de Newton Mendonça. Seu nome ficou relativamente conhecido no selo dos discos - apesar de ter virado Milton em "Desafinado" -, mas sua figura continuava tão na sombra quanto nos tempos de "Foi a Noite".

"Desafinado" tocava agora em todas as rádios, mas Newton Mendonça não estava vivendo à altura dessa glória. O Ma Griffe era um puteiro e ainda lhe pagava mal. Tudo poderia ter sido diferente se ele não tivesse sofrido o seu primeiro infarto, em maio de 1959. Na véspera daquele dia, ao voltar de manhã para casa, queixou-se de dores no braço e de dormência nas mãos.

"Ontem toquei por honra da firma", disse para Cyrene.

Não foi o primeiro aviso e ele sabia que vinha de uma família de cardíacos, como seu pai e sua irmã. Mas esses pequenos sustos não impediram que Newton Mendonça continuasse disputando bárbaras maratonas alcoólicas com sua turma em Ipanema. Certa tarde, depois de drenar o estoque de conhaque Georges Aubert que tinha em casa, mandou sua empregada comprar mais uma garrafa no mercadinho. A moça voltou com a informação:

"Eles disseram que não têm nenhum João Gilberto para vender."

Era natural que ela se atrapalhasse: João Gilberto era no nome que mais se ouvia naquela casa. Depois do serviço na boate, Newton Mendonça ia para a casa de alguém, bebia o resto, fumava o penúltimo cigarro dos seus quatro maços diários de Lincoln e desabava num sofá. Estava tratando seu coração como se este fosse uma punching-ball.

Newton Mendonça não desapontou os evidentes sintomas e teve um infarto, à saída do trabalho no Ma Griffe. Foi atendido no pronto-socorro que existia na Praça do Lido e, no dia seguinte, internado no próprio Hospital dos Servidores. Ficou 21 dias no hospital. Ao sair, os médicos passaram-lhe uma receita que ele achou excessiva: tinha de cortar de vez o cigarro, a bebida, a peteca na praia, moderar o sexo e ficar seis meses sem trabalhar.

Newton Mendonça cumpriu aproximadamente a primeira exigência - e transgrediu com fervor religioso as demais. Menos de dois meses pós-infarto, voltou a tocar na noite, novamente na boate Carrousel, elegeu o Veloso, na Rua Montenegro, como seu bar de parada obrigatória a caminho do serviço ou de qualquer lugar, e continuou a jogar peteca, agora clandestinamente, no Posto 6. A ideia de ver o maduro compositor de "Meditação" sendo obrigado a jogar peteca às escondidas é tristíssima, mas foi o que aconteceu.

Quanto ao sexo, Newton Mendonça foi tudo menos salomônico. Aceitou o conselho médico de que ele e Cyrene dormissem em quartos separados, para poupar o coração de sobressaltos. Mas não o poupou de palpitações intensas nos casos avulsos - reais ou imaginários - que passou a ter fora de casa. Suas colegas de trabalho eram as profissionais da noite, o que lhe abria o chamado leque de opções para quando queria se distrair. Mas o que provavelmente o sobrecarregou de emoções foi sua capacidade de fantasiar paixões, como a que alimentou pela sambista Francineth e principalmente pela cantorinha de rock Sônia Delfino, que comandava o programa "Alô, Brotos!" na TV Tupi. Aos 17 anos, rival de Celly Campello e, segundo ela própria, virgem, Sônia Delfino era a boneca mais cobiçada do meio musical - e sabia disso. Cyrene suspeitava de que os dois tivesse um caso, o que Newton Mendonça nem confirmava nem desmentia. Sônia Delfino diria depois que admirava muito Newton Mendonça, "à distância", mas sempre negou que os dois tivessem um caso.

Por via das dúvidas, Cyrene achou melhor levar Newton Mendonça para longe de Ipanema. Foram morar num sobrado na Rua Torres Homem, em Vila Isabel, onde ela pensava mantê-lo relativamente a salvo das tentações. O que aconteceu é que eles se isolaram e isso não fez bem a Newton Mendonça. Os únicos amigos que se animavam a ir vê-lo na distante Zona Norte eram Tom Jobim e um jovem chamado Cariê, Carlos Alberto Lindenbergh, depois homem de televisão no Espírito Santo. Mas, como continuava trabalhando no Beco do Joga-a-Chave-Meu-AmorNewton Mendonça fazia regularmente a sua vida social em Copacabana e voltava cada vez mais tarde para casa - tomando antes o cuidado de comprar alguns bombons, para adoçar Cyrene.

Numa terça-feira, 22/11/1960, Newton Mendonça saiu numa tarde chuvosa para encontrar amigos no Ponto dos Músicos, no centro da cidade. Não iria trabalhar aquela noite. Quando voltou, de madrugada, Cyrene já tinha se deitado. Ela o ouviu acertar a custo a chave na fechadura e imaginou que estivesse bêbado. Levantou-se e foi encontrá-lo na sala. Os vapores em Newton Mendonça podiam realmente ser sentidos à distância, mas ele estava também branco como gesso e com a mão no peito. Tinha conseguido colocar os bombons sobre o piano e tentava pendurar nele o guarda-chuva, que caiu. Havia uma poltrona por perto e ele se jogou nela, com um gemido profundo. Cyrene viu ali um novo infarto e saiu correndo para chamar um médico que morava no andar de cima. Quando este chegou, Newton Mendonça já estava morto.

Newton Mendonça foi o vencedor do I Festival da TV Record, no dia 03/12/1960, com a música "Canção do Pescador". O prêmio foi entregue, dias depois, à sua esposa, Dona CyreneNewton Mendonça, compositor e letrista de grande talento, faleceu sem ter podido colher os frutos de sua parceria com Tom Jobim.

Indicação: Miguel Sampaio