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Delfim Moreira

DELFIM MOREIRA DA COSTA RIBEIRO
(51 anos)
Advogado, Político, Presidente e Vice-Presidente do Brasil

☼ Cristina, MG (07/11/1868)
┼ Santa Rita do Sapucaí, MG (01/07/1920)

Delfim Moreira da Costa Ribeiro foi um advogado e político brasileiro. Foi presidente do Brasil por um breve período, entre 15/11/1918 e 28/07/1919. Seu governo foi apelidado de Regência Republicana por tamanha a rapidez em que esteve no cargo e por sua doença não permitir que fosse ele que tomasse as decisões de fato.

Seu pai, Antonio Moreira da Costa Pinto, era português do Porto. Do lado materno, era descendente de famílias brasileiras bem antigas, como a família Moraes de Antas.

Delfim Moreira nasceu na pequena cidade mineira chamada Cristina no dia 07/11/1868.

Estudou no Seminário de Mariana e cursou Direito na Faculdade de Direito de São Paulo, diplomando-se em 1890. Começou sua carreira trabalhando como promotor público nas cidades de Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre, ambas no Estado de Minas Gerais.

Delfim Moreira fazia parte de uma geração de republicanos históricos, foi angariando cargos políticos cada vez maiores. Já em 1894 foi nomeado secretário do interior de Minas Gerais, ocupando o posto até 1902. Foi também governador do estado de Minas Gerais entre 1914 e 1918. Ainda em 1908 chegou à Câmara Federal, mas renunciou preferindo ficar na secretaria do interior.

Após o governo de Wenceslau Brás, integrou a chapa de Rodrigues Alves na disputa eleitoral pela presidência na posição de pleiteante à vice-presidência. Entretanto, nos últimos anos do governo de Wenceslau Brás uma grave epidemia de Gripe Espanhola assolou a população brasileira, aproximadamente 15 mil pessoas morreram no território brasileiro, sendo que um dos infectados foi justamente o candidato à presidência Rodrigues Alves. A chapa de Rodrigues Alves e Delfim Moreira saiu vitoriosa no pleito eleitoral, mas o primeiro acabou falecendo e não desempenhou nada na função de presidente. Em lugar do presidente falecido assumiu o seu vice, Delfim Moreira. Este ficou no cargo até que novas eleições fossem convocadas, pois a constituição da época não permitia que o vice assumisse antes de se passar dois anos do mandato eleitoral.

Assim, Delfim Moreira governou o país entre 15/11/1918 e 28/07/1919, sempre tendo em mente que um novo processo eleitoral encerraria brevemente o mandato. Mesmo assim, desempenhou sua função tomando as ações possíveis. Seu pequeno mandato enfrentou sérios problemas sociais combatendo várias greves gerais no Brasil. Além disso, reformou a administração no Estado do Acre, republicou o Código Civil Brasileiro com correções do texto publicado em 1916 e decretou a intervenção no Estado de Goiás.

Na Conferência de Paz ocorrida em Paris em 1919 foi Delfim Moreira que fez o Brasil ser representado enviando o senador Epitácio Pessoa, o qual era candidato na disputa eleitoral para presidência contra Ruy BarbosaEpitácio Pessoa foi eleito no dia 13/05/1919, enquanto estava ainda em Paris. Quando retornou ao Brasil recebeu de Delfim Moreira o cargo de presidente, levando novamente Delfim Moreira para a vice-presidência.

Durante todo o curto mandato desenvolvendo a função de presidente, Delfim Moreira esteve acometido por uma doença que o deixava desconcentrado e desligado de suas tarefas. Na prática era o ministro Afrânio de Melo Franco quem tomava as decisões do governo. Mais tarde a doença o fez se recolher em Santa Rita do Sapucaí, MG, e por lá acabou falecendo no dia 01/07/1920, sem completar também o mandato de vice-presidente. Então uma nova eleição para preencher o cargo foi convocada e nela saiu vitorioso o senador mineiro Francisco Álvaro Bueno de Paiva.

Delfim Moreira foi homenageado com uma cidade em Minas Gerais que leva o seu nome.

Ministros
  • Agricultura, Indústria e Comércio: Antônio de Pádua Sales
  • Fazenda: Amaro Bezerra Cavalcanti de Albuquerque, João Ribeiro de Oliveira e Sousa
  • Guerra: general-de-brigada Alberto Cardoso de Aguiar
  • Justiça e Negócios Interiores: Amaro Bezerra Cavalcanti de Albuquerque (interino), Urbano Santos da Costa Araújo
  • Marinha: vice-almirante Antônio Coutinho Gomes Pereira
  • Relações Exteriores: Domício da Gama, Augusto Cochrane de Alencar (interino)
  • Viação e Obras Públicas: Afrânio de Melo Franco

Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito

FABRICIANO FELISBERTO CARVALHO DE BRITO
(80 anos)
Comerciante, Farmacêutico, Militar e Político

☼ Antônio Dias, MG (22/08/1840)
┼ Antônio Dias, MG (28/06/1921)

Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito foi um comerciante, farmacêutico, militar e político brasileiro. Nasceu no dia 22/08/1840 na então freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo, hoje município de Antônio Dias, pertencente a Itabira, no interior do estado de Minas Gerais, sendo filho do professor primário Antônio de Britto e de Theresa Umbelina.

Casou-se com Anna Angélica de Carvalho Britto, nascida em 1849, filha de José Antonio Carvalho e Maria Carvalho, e juntos tiveram três filhos: Drº José Tomás de Carvalho, casado com Josefa de Miranda Britto; Drº Manoel Tomás de Carvalho, casado com Elisa Robertina de Albuquerque, e Drº Eusébio Tomás de Carvalho Britto, casado com Ernestina Lage de Britto, dos quais se originaram 21 netos e 38 bisnetos até a data do centenário de Fabriciano, em 22/08/1940.

Trajetória

Felisberto cursou o primário na Escola de Meninos de sua cidade natal, tendo ainda pequeno aprendido o ofício de sapateiro, profissão que exerceu durante sua juventude. Posteriormente atuou como comerciante e farmacêutico, herdando do sogro, José Tomás Pereira, uma casa comercial de gêneros, armarinhos e tecidos. Esse empreendimento modernizou-se a partir das viagens que fez ao Rio de Janeiro, de onde trazia mercadorias variadas e encomendas para a população da localidade.

Anos mais tarde, tornou-se um líder local, passando a exercer, por nomeação, diversos cargos públicos: Escrivão do Cartório de Paz e da Subdelegacia de Polícia em 1862, subdelegado de polícia em 1876, agente dos Correios em 1877 e primeiro suplente de Juiz Municipal para o Distrito de Antônio Dias em 1888.

Fabriciano e Anna Angélica

Fabriciano, depois de ter tido uma pequena fábrica de sapatos (ele também tinha o ofício de sapateiro e trabalhava junto com os seus empregados), estabeleceu-se como negociante. Enquanto ele ficava na loja e fazia sapatos, Anna Angélica dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, costurava calças e camisas para os fregueses e cuidava da cozinha. Era uma abelhinha para trabalhar. Quantas vezes a gente a ouvia dizer, mostrando as mãos: "O que estas mãos sagradas não fazem, quem há de fazer?".

Neste tempo, Antônio Dias era um pequeno arraial, que não deixava de ter os seus atrativos no seu aspecto bucólico. A igreja fora construída pelo bandeirante Antônio Dias, que morreu e foi sepultado na terra a que deu o nome. Existe uma lápide com o nome do fundador e o ano do seu falecimento na porta da igreja, o que representa uma contribuição histórica para a cidade. Em frente, na outra margem, no alto do morro, o Cruzeiro. Embaixo, o rio Piracicaba, em cujas margens se alinhava o casario, formado de casas de estilo aproximado ao colonial simples, com portas e janelas geralmente azuis e com paredes brancas.

Na praça da matriz se encontrava a loja de Fabriciano e do lado esquerdo o rancho que servia para receber as cargas e os arreios da tropa, no tempo em que funcionava a loja. Do lado direito, a casa de moradia, com graciosas janelas e a porta de entrada com a indefectível cancela.

Neste tempo, a população devia ser de 1.500 a 2.000 habitantes. As ruas eram assim denominadas: Rua de Baixo, Rua de Cima, Bonfim, Sítio, Beco da Ponte. Tudo simples, respirando paz. Distrações não havia ou a custo encontradas nas banalidades do dia-a-dia. Por exemplo, se os que chegavam a cavalo, despertavam os que estavam tranquilos em casa, com o tropel nas pedras da rua, de todas as janelas surgia gente curiosa para saber quem era e logo a notícia corria. Sabe quem está na terra? Se era gente de fora, hospedada na casa de Fabriciano, logo logo, aparecia gente para conversar, para saber novidades ou para contá-las. Uma delas era Andrelina de Castro, filha de Joaquim Tito, o sapateiro auxiliar de Coronel Fabriciano, afilhada da casa da qual participava da intimidade, passando lá diariamente, várias horas. Ao chegar ia logo dizendo: "Louvado seja Cristo, meu padrinho ou... minha madrinha".

Era uma mulher de inteligência rara. Estudou as primeiras letras e através da leitura de jornais e de um outro livro que lhe caía nas mãos, chegou a adquirir uma cultura invulgar. Sabia opinar a propósito de tudo, dos fatos corriqueiros da terra à política, que ela conhecia como ninguém. Era muito alta, dentes bons lhe enfeitavam o riso franco. Não era bonita. Quando se empolgava e defendia seus pontos de vista, levantava-se da cadeira e andava de um lado para outro, gesticulando e falando em tom de oratória. Conhecia História Geral e Religião.

Os Filhos de Fabriciano

Além do filho doutor, Manoel Tomás, que ia casar com a filha do Juiz de Direito em Itabira, e de Eusébio, Fabriciano e Anna Angélica tinham também José Tomás, o filho mais velho, que ia ser padre, tendo estudado durante seis anos no Seminário de Mariana, chegando a iniciar-se na Teologia, já no seminário maior. Era muito estudioso e conhecia latim como qualquer bom latinista. Tinha sempre um caso de seminário para contar e repetidamente citava frases latinas. As férias, passava-as em Antônio Dias, vestido de batina e dando sua mão a beijar a todos que dele se aproximassem, sobretudo as mocinhas. Mas não era por saliência, tinha mesmo gosto na vocação. Ajudava o vigário nas funções religiosas, contava o Tantum Ergo nas bençãos do Santíssimo, rezava o terço com Fabriciano e Anna Angélica.

Mas foi uma pena. Vocação se não é bem cultivada, se arrefece e se perde. José Tomás foi influenciado pelo irmão que estudava Direito e que o levou para São Paulo para entrar na Faculdade do Largo São Francisco. José Tomás hospedou-se na república dos estudantes, onde morava seu irmão. Foi o desastre: a estudantada, influenciada pelo positivismo quis atrair também José Tomás para as idéias contistas, desviando-o da vocação. Ele desistiu de ser padre, mas também não se sentiu bem no meio da mocidade sem religião. Voltou à casa dos pais, na pacata Antônio Dias.

Os Estudos dos Filhos e as "Chorosas" Partidas

Chegou o tempo de seguirem para os estudos os filhos de Fabriciano e Anna Angélica. Enquanto se preparavam para partir, Anna Angélica, muito chorosa, dizia: "Eu preferia que Inhô (Fabriciano) fosse pobre para eu não ter de separar-me de meus filhos...".

Coitadinha, de fato naquele tempo a separação dos filhos era muito penosa, pois não havia meios de comunicação que diminuíssem as distâncias, facilitando um encontro mais frequente com eles.

José Tomás (Juca), o mais velho, seguiu para Mariana, MG, para o famoso seminário onde pontificavam padres lazaritas de muito saber, sob a jurisdição de bispos como Dom Benevides, Dom Viçoso, Dom Silvério.

Manoel Tomás e Eusébio, o mais novo, continuaram os estudos iniciados em Itabira, com Mestre Emílio, na capital de Minas, ou seja, Ouro Preto, antiga Vila Rica.

Eusébio optou pela carreira de farmacêutico e tão logo se formou iniciou-se na vida prática, casando-se em seguida com uma linda moça de olhos azuis, cabelos louros e tez muita alva. Chamava-se Ernestina, pertencia à família Lage e era conhecida pelo apelido de Netinha. Eusébio era apaixonado pela noiva e muito romântico. Prova-se uma fotografia em que ele com um retrato de Netinha sobre uma mesa se deixou fotografar numa atitude embevecida de enamorado.

O casal formou uma bela família de oito filhos, três homens e cinco mulheres. Todos estudaram e se formaram, casaram e constituíram família. As bonitas filhas Ceci e Zuleika permaneceram solteiras, apesar de muito assediadas por bons partidos. Acompanharam os pais com muita dedicação e exerceram com proficiência funções na Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais.

Assim que formou, Eusébio Tomás estabeleceu-se em Antônio Dias, com uma farmácia e fazia as vezes de médico, pois naquele tempo não os havia no lugar.

Construiu sua casa num terreno pegado ao de seu pai e todo seus filhos nasceram lá. A casa era de um estilo aproximado ao normando, grande e confortável.

Mudando-se para Belo Horizonte, fez mais tarde, depois dos 40 anos, o curso de Direito, ingressando na política e, atuando como deputado, prestou muitos serviços a zona que o elegeu. Em suma, tinha um grande prestígio em todo o Vale do Rio Doce, notadamente em Itabira, Antônio Dias, Sant’Ana de Ferros, São José da Lagoa, hoje Nova Era, São Domingos do Prata e outros.

Além de político, era pessoa de fino trato, sabendo relacionar-se com todos, com os compadres e com os humildes, adquirindo assim, além do prestígio, uma amizade singular em toda zona. Quando voltava a Antônio Dias, em visita aos pais e possivelmente para politicar, as visitas que recebia eram ininterruptas. Vinha gente de todo o município, a casa ficava repleta e Sá Donana (apelido da mãe de Eusébio, Anna Angélica) era inexcedível, atendendo a todos com cafezinho e com palavras amáveis, servindo mesmo refeição para aqueles que moravam longe ou eram pessoas ligadas por uma maior amizade ou pelo compadresco.

Assim é que Antônio Dias foi adquirindo foros de uma cidade tradicional, berço de pessoas ilustres, conservando, entretanto, o cunho de vida simples, de comunidade familiar, em que todos se conheciam e se tratavam sem etiquetas: ao contrário, não se dava senhoria para quase ninguém e havia um entrelaçamento de relações entre os mais afortunados e os de condições humildes ou mesmo pobres. Era a igualdade absoluta o que tornava a vila e mais tarde, a cidade, uma comunidade "suigeneris", onde todos se sentiam bem, inclusive os forasteiros, aqueles que por uma razão particular, ali se estabeleciam. "Muitos deles criavam raiz na terra e não mais se desligavam dela e do convívio de seu povo acolhedor", relatou Maria Cecília Maurício da Rocha, sobrinha de Eusébio e filha de José Tomás

O Título de Coronel

No dia 25/08/1888, aos 48 anos, através do apoio de amigos e do Partido Conservador, recebeu de sua majestade Dom Pedro II, o título de tenente-coronel da Guarda Nacional para a região da comarca de Piracicaba. O título de coronel, dado a civis no Brasil surgiu com a criação da Guarda Nacional, em 1832, por Diogo Antônio Feijó, também conhecido como Regente Feijó ou Padre Feijó.

O agraciado com o título teria a função de reunir milícias em casos de situação premente da ordem e da defesa nacional. O coronel era geralmente um grande proprietário de terras, poderoso chefe político que se impunha sobre a população na sua área de atuação. No entanto, coronel Fabriciano que era na verdade, tenente-coronel, nem teve tempo para exercer o cargo em sua plenitude, uma vez que recebeu o título um ano antes do fim do Império.

Coronel Fabriciano Felisberto de Britto impunha-se pela sua capacidade de liderança e trabalho. Preocupado com as questões sociais de seu tempo, buscou com o seu prestígio realizar obras que promovessem o bem-estar da população da cidade de Antônio Dias.

Além da luta pela emancipação, destacam-se como seus feitos a construção do primeiro grupo escolar do Baixo Piracicaba, o segundo de Minas Gerais, em 1909; Instalação de linha do telégrafo em 1920; Fundação da Santa Casa de Misericórdia da qual foi provedor até sua morte em 1920.

Por intermédio de seu filho, Eusébio Tomás de Carvalho Britto, deputado e membro da comissão responsável pela divisão administrativa de Minas Gerais, foi um dos responsáveis pela criação da Vila de Antônio Dias, em 1911, e do Distrito de Melo Viana em 1923, sendo este mais tarde batizado de coronel Fabriciano em sua referência e emancipado em 1948.

Além da criação de um Grupo Escolar, necessária para que fosse Antônio Dias fosse instalada, Fabriciano coordenou a construção do primeiro hospital e deu início às obras da Igreja Matriz.

Homenagens

No dia 17/04/1909, foi instalada em Antônio Dias a escola que leva desde então o nome do tenente-coronel. Pelo decreto-lei estadual nº 88, de 30/03/1938, o então distrito antoniodiense Melo Viana foi batizado com o nome de Coronel Fabriciano, emancipando-se em 27/12/1948. A carta-patente da nomeação de Fabriciano Felisberto de Britto a tenente-coronel da Guarda Nacional, assinada pelo imperador Dom Pedro II em 1888, foi tombada como patrimônio cultural fabricianense através do decreto municipal nº 1.033, de 31/03/1997.

Falecimentos

Fabriciano Felisberto veio a falecer no dia 28/06/1921 e a esposa Anna Angélica de Carvalho Britto, dia 21/05/1936. O casal encontra-se sepultado na Capela São Geraldo, em Antônio Dias, MG, construída pelo coronel para mausoléu da família.

Após a reforma da capela, em meados da década de 1970, seus restos mortais, juntamente com os de sua esposa, foram transladados para o interior do templo.

Curiosidades Sobre Coronel Fabriciano Felisberto


  • Fabriciano antes de tornar-se um próspero e influente comerciante, teve uma modesta fábrica de sapatos, onde executava o ofício de sapateiro e trabalhava junto com seus empregados na cidade de Antônio Dias, ou melhor, Antônio Dias Abaixo.
  • Fabriciano era um homem muito religioso era um dever sagrado seu rezar o terço com a família todas as noites às 21:00 hs e de hábitos simples e rígido.
  • Depois da ladainha em latim servia leite quente com biscoitos, servido pela esposa e se recolhia. Era um apaixonado leitor de jornais que chegavam à antiga vila de Antônio Dias Abaixo duas vezes por semana.
  • Almoçava sempre às 09:00 hs da manhã; fazia a siesta deitado num banco da varanda; continuava a ler; atendia todos os pedidos; tratava dos assuntos políticos; e dava suas voltas conversando com conhecidos.
  • Filho de um professor, José Antônio de Britto, quando jovem Fabriciano fez promessa de nunca mais pegar em baralho, depois de perder no carteado 14 mil réis, uma vultosa quantia para a época. Sua esposa, Anna Angélica, dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, e costurava calças e camisas para os fregueses.
  • A Loja Grande era o nome do comércio de Fabriciano e, segundo anúncio publicado em 1903 no Correio de Itabira, possuía "um completo e variado sortimento de fazendas, ferragens, armarinho, roupas feitas, calçados, chapeos (sic) de sol e de cabeça, molhados, louças, kerozene (sic) e muito outros artigos".
  • Nesse tempo, o homem mais rico e poderoso da antiga vila de Antônio Dias Abaixo, o coronel Manoel de Barros de Araújo Silveira, viria a ter grande influência na vida de Fabriciano.
  • Sua segunda esposa, após a morte de Clara de Ataíde Barros (que morreu bem nova), foi Maria Tomásia de Carvalho, irmã de Anna Angélica. Assim, ao tornar-se concunhado de Fabriciano, cresceu um forte laço de amizade entre os dois.
  • Foi o coronel Manoel de Barros, que tinha sido deputado da província mineira durante o Império, que emprestou dinheiro para Fabriciano comprar sua primeira escrava, Luisa. Sabe-se, também, que a casa de Fabriciano, que ficava à direita da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, era um ponto de venda de leite. Segundo a autora, as vacas do avô "não primavam pela robustez".
  • A medição de cada garrafa, vendida ao preço de cem réis, era feita pelo próprio Fabriciano, que não suportava retardatários, já após tal obrigação, era absorvido pela leitura dos jornais.
  • A propósito da promessa de Fabriciano (que comprou o título de coronel da Guarda Nacional, hábito comum na época) de nunca mais pegar em baralho e que tal fato marcou a personalidade do futuro chefe político, tornando-o mais rígido na educação dos filhos. Certa noite, notando as ausências de José Tomás e Eusébio (já casados) saiu à procura deles e os encontrou na mesa de baralho. Irritado, esbravejou: "Isto são horas de pais de família estar na rua jogando?". Sem dizer nada, os dois saíram acompanhando o pai. Detalhe: eram dez horas da noite.

Evaristo da Veiga

EVARISTO FERREIRA DA VEIGA E BARROS
(37 anos)
Jornalista, Poeta, Livreiro e Político

☼ Rio de Janeiro, RJ (08/10/1799)
┼ Rio de Janeiro, RJ (12/05/1837)

Evaristo Ferreira da Veiga e Barros foi um poeta, jornalista, político e livreiro brasileiro.

Filho de um português mestre-escola, Francisco Luís Saturnino Veiga, chegado ao Brasil aos 13 anos, soldado miliciano na Paróquia de Santa Rita, no Rio de Janeiro, depois nomeado professor régio de primeiras letras na freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Velho.

Francisco passou a professor na Rua do Ouvidor, onde abriu uma loja. Andou por Vila Rica em 1788 e 1789, onde deve ter conhecido alguns dos inconfidentes, pois recopiou as Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, publicadas meio século mais tarde por seu neto Luís Francisco da Veiga.

Francisco Luís Saturnino Veiga casou com uma brasileira, Francisca Xavier de Barros, nascendo três filhos, dos quais Evaristo da Veiga foi o segundo. Teve grande influência sobre seus filhos, sobretudo Evaristo, ótimo estudante que no Rio de Janeiro de Dom João VI aprendeu francês, latim, inglês, cursou aulas de retórica e poética e estudou filosofia. Neste período adquiriu interesse por jornalismo ao visitar as oficinas da Impressão Régia, nos porões do palácio do Conde da Barca.

Quando concluiu os estudos, o pai já abrira uma livraria na Rua da Alfândega e os livros que trazia da Europa tinham em Evaristo da Veiga o primeiro leitor, o mais curioso. Seu projeto frustrado de partir para a Universidade de Coimbra encontrou compensação na livraria do pai.

Poeta

Evaristo da Veiga foi o autor da letra do "Hino à Independência", cuja música se deve a Dom Pedro I. Conta entre os precursores do Romantismo no Brasil.

Em suas poesias mais antigas se sente a influência da escola arcádica e sobretudo de Bocage e datam de 1811, quando tinha 12 anos. Um ano depois, em 1812, celebra os desastres militares dos franceses em Portugal. Aos 14 anos era um poeta português que refletia no Brasil com atraso de 20 anos o movimento da Nova Arcádia em que haviam excedido Bocage, José Agostinho de Macedo, Curvo Semedo.

Em 1817 era súdito fiel de Dom João VI, um luso no Rio de Janeiro: o malogro da Revolução de Pernambuco o encheu de alegria. Seus versos cantaram o casamento de Dom Pedro I com Dona Leopoldina, os anos de Sua Majestade em 13/05/1819, o aniversário da aclamação do rei. Diversas poesias são dedicadas a amigos, uma característica que se manterá: primou sempre nele o sentimento da amizade. Aos vinte anos começaram a aparecer Marílias, Nises, Lílias, Isbelas mas seus sonetos, cantigas e madrigais continuam arcádicos - com ligeira influência dos mineiros.

Em 1821, porém, vivia-se no Rio de Janeiro, o ano do constitucionalismo português, como afirma Oliveira Lima em "O Movimento da Independência". Ninguém podia ficar indiferente. O elemento conservador, receoso de desordens, alimentava esperança de que a chegada das novas instituições não importaria em ruptura com Portugal, pois haveria uma monarquia dual, servindo a coroa como união. Era o pensamento de Evaristo da Veiga, ilusão de que participaram muitos brasileiros. Não tardaram os constitucionalistas de Portugal a demonstrar sua incompreensão das coisas do Brasil e foram aparecendo as resoluções das Cortes que tinham como propósito estabelecer a antiga submissão colonial, embora de outra forma. Foi nesse instante que nele despertou o patriota: um soneto em 17/10/1821 é intitulado "O Brasil". Outro, de fevereiro de 1822, já estigmatizava, a perfídia de Portugal. Daí em diante vibrou com o movimento que se espalhava pelo país.

Em 16/08/1822, sem ser figura saliente em nenhum acontecimento, escreveu o "Hino Constitucional Brasiliense", o célebre, 'Brava Gente Brasileira / longe vá temor servil'. Compôs sete hinos, no total, entoados por milhares de bocas. O "Brava Gente" recebeu duas músicas, uma do maestro Marcos Portugal, outra do próprio Príncipe Regente Dom Pedro I. E como Evaristo da Veiga era tímido e o príncipe notoriamente melómano, logo se lhe atribuiu a letra. Só mais tarde, em 1833, Evaristo da Veiga reivindicaria a letra e os originais se encontram atualmente na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

O ato da aclamação do imperador lhe inspirou três sonetos - e outros dedicou à Liberdade, à instalação da Assembléia Constituinte, a Lorde Cochrane, à fuga do general Madeira. Mas teria papel obscuro e modesto nos sucessos da Independência. Seu nacionalismo era novo, faltava-lhe paixão, e ademais não tinha posição social, era um rapaz modesto e avesso a turbulências que trabalhava no balcão da livraria do pai. Em 1821, porém, assina com pseudônimo O Estudante Constitucional uma réplica a panfleto anônimo contra o Brasil, intitulado "Carta do Compadre de Belém", impresso em Portugal.

Cedo deixou de ser um espectador desenganado da ação do Imperador. 1823 era o ano da instalação da Constituinte e o de sua dissolução por um golpe de força. Em 30 de maio ele já fala no "despotismo mascarado"... Deixou de fazer sonetos, fez hinos. Ainda publicaria em 1823 "Despedida de Alcino a sua Amada", pois Alcino foi seu nome poético. Mas era poeta bastante medíocre e disso teve convicção antes de que outros lhe dissessem. Sua atividade poética foi esmorecendo, subindo apenas em 1827, ano em que se casou. Sua vocação, logo descobriria estar na política, no serviço público, na imprensa, no parlamento.

Livreiro

Morreu sua mãe em 1823 e o pai, que desejava casar-se de novo, escrupuloso e exato como era, entregou aos filhos a parte que lhes tocava na herança materna. Evaristo da Veiga e João Pedro, seu irmão, abriram então uma livraria. Era empreendimento lucrativo. O país se europeizava e os livros e jornais eram os agentes dessa europeização.

Em 1821 no Diário do Rio de Janeiro havia anúncios de oito lojas de livros. Datam de outubro de 1823 os primeiros anúncios da loja de Evaristo da Veiga, "João Pedro da Veiga & Comp", 14 dias antes de Dom Pedro I dissolver a Assembleia.

Leu tudo que vendia, formou seu pensamento, fixou-se na posição da monarquia constitucional, pois a república lhe parecia um exagero e era moderado por temperamento. Vendendo livros e fazendo cada vez menos versos passou os anos até 1827, quando, economicamente independente, se separou do irmão e estabeleceu livraria própria ao comprar a livraria e tipografia de João Batista Bompard na Rua dos Pescadores, 49.

Em 1827 casou-se com Dona Ideltrudes Maria d'Ascensão, começando nova vida.

Jornalista

Em 21/12/1827 surgiu o primeiro número de seu próprio jornal, logo famoso, o A Aurora Fluminense, que exerceu importante papel na política do Primeiro Reinado por suas tendências anti-lusófilas.

Os fundadores foram um jovem brasileiro cedo falecido, José Apolinário de Morais, o médico francês José Francisco Sigaud e Francisco Crispiano Valdetaro. Evaristo da Veiga resolveu associar-se e passou em pouco tempo de colaborador a redator principal e finalmente único. Assinava seus artigos apenas como Evaristo da Veiga.

A imprensa do Rio de Janeiro era então detestável, pasquineira. A Gazeta do Brasil era favorável ao governo, órgão ministerial, defendendo o Gabinete de 15/01/1827, e quem enviava seus artigos, como depois se descobriria, era Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, oficial do Gabinete Imperial, íntimo e detestável, amigo de Dom Pedro I.

Gazeta do Brasil chamava A Aurora Fluminense de "fedorenta sentina da demagogia e do jacobinismo", a Astréa de João Clemente Vieira Souto, de "insolente e demagógica", O Universal de Ouro Preto, de inspiração de Bernardo Pereira de Vasconcelos, de jacobino e anárquico.

Os fundadores de A Aurora Fluminense queriam linguagem imparcial, guiada pela razão e virtude, e havia para servir à liberdade constitucional um Evaristo da Veiga, imbuído de leituras francesas e inglesas, com o sonho de ver adotadas as instituições que seus autores prediletos preconizavam como indispensáveis à grandeza das nações. Uma quadrinha de versos pífios, composta por Dom Pedro I, foi seu lema:

"Pelo Brasil dar a vida / Manter a Constituição / Sustentar a Independência / É a nossa obrigação"

E foi seu programa o devotamento ao país, o respeito pela sua liberdade, a manutenção de sua Constituição. Os seus temas, no jornal, foram a liberdade constitucional, o sistema representativo, a liberdade de imprensa. Por isso deu apoio ao Gabinete de 20/11/1827. Mas havia assuntos de momento em que tocou, como o descalabro da instrução, a questão do crédito público. Combatia a indiferença em matéria política, sobretudo, a mais funesta de todas as enfermidades morais. Havia a mesma pregação em outros jornais liberais como O Farol, O Astro, de Minas, a Astréa, combatidos pelos jornais corcundas.

Batia-se pela abolição dos morgados, extinção da Intendência de Polícia, da Fisicatura, do Desembargo, da Mesa da Consciência e da Ordem, instituições obsoletas. A oposição dos ministérios excluía escrupulosamente a pessoa do monarca, a quem tratava com deferência e até louvava. Ainda não desesperançados do imperador, os liberais queriam estimulá-lo. O imperador, porém, é que parecia ir-se distanciando do herói brasileiro que fora em 1822 e voltar-se mais para Portugal do que para o Brasil, comenta Octavio Tarquinio de Sousa. A separação entre a corrente nativista liberal e o imperador aumentou sempre, a sessão parlamentar de 1829 seria da maior agitação, o governo sempre acusado. A Aurora Fluminense era o mais autorizado reduto da oposição governamental, e sua popularidade, e a de Evaristo da Veiga, crescia sempre.

Quando do atentado ao jornalista Luís Augusto May, redator da A Malagueta, órgão liberal, repetição do que fora vítima em 1823, sem temor a que lhe sucedesse o mesmo, Evaristo da Veiga condenou-o energicamente e continuou impassível em suas campanhas. Estavam do seu lado a Astréa, a Luz Brasileira, e do lado ministerial, o Diário Fluminense, O Analista, o Courrier du Brésil, o Jornal do Commercio. A federação era moda, havia gente que queria ir até a República. De seu lado não viriam provocações, pois em artigo de 09/12/1829 escreveu:

"Nada de jacobinismos de qualquer cor que ele seja. Nada de excessos. A linha está traçada - é a da Constituição. Tornar prática a Constituição que existe sobre o papel deve ser o esforço dos liberais."

Político

Em 1830, Evaristo da Veiga foi eleito deputado por Minas Gerais, tendo sido reeleito até morrer. Era nome conhecido no Brasil inteiro. Deputado, continuou jornalista e foi sempre livreiro.

Aproximava-se de Bernardo Pereira de Vasconcelos, pela coincidência da posição ideológica. Na nova Câmara abundavam adeptos do liberalismo e para formar a opinião liberal do Brasil ninguém concorrera mais que Evaristo da Veiga, que jamais assinara um artigo sequer, e a Aurora Fluminense, que em 1830 fora aumentada para seis páginas.

Sem nunca ter saído do Rio de Janeiro, recebeu seu mandato de deputado por Minas Gerais, substituindo Raimundo José da Cunha Matos, que optara pela cadeira de Goiás. Em seu mandato tentou pôr as instituições monárquicas a serviço do grande problema brasileiro - a unidade do vasto país. Cumpria cuidar dos interesses mais vitais do povo, fomentar a indústria, sanear zonas quase inabitáveis, difundir a instrução. Batia-se pelo estreitamento das relações com as demais nações americanas, desconfiando das nações europeias. Sempre assíduo, queria que os assuntos fossem discutidos com calma, nas Comissões, longe do tumulto do plenário. Opunha-se às liberalidades à custa do Tesouro: "Devemos desgostar antes aos afilhados do que à nação", dizia. Falava pouco, sem retórica, indo direto ao assunto sem divagações. Tinha qualidades raras como deputado: senso de proporções, espírito objetivo, modéstia patriótica.

Quando, trabalhado por intrigantes, Dom Pedro I demitiu inopinadamente Barbacena da Fazenda, com os desenvolvimentos que se conhecem, os mais otimistas se foram convencendo de que o Brasil nunca seria um país livre com semelhante Imperador. Precisamente nesse clima caiu como um raio a noticia da revolução de julho de 1830 na França, derrubando Carlos X, e recrudesceu a campanha na imprensa em favor das idéias liberais. Surgiu no Rio de Janeiro o jornal O Repúblico, e nenhum teria papel mais ativo para desencadear a crise. Pregava-se abertamente a Federação, querendo mesmo a Nova Luz uma "Federação Democrática".

Evaristo da Veiga combatia-os e ao mesmo tempo os órgãos absolutistas: o Imparcial, o Diário Fluminense, o Moderador, em posição difícil de equidistância. Mas a agitação popular se alastrava. Dom Pedro I, mal aconselhado, resolveu ir a Minas Gerais, onde foi friamente recebido. Diz Octávio Tarquínio de Sousa que "já se apagara da imaginação popular a figura romântica do príncipe que fora o melhor instrumento da Independência".

Evaristo da Veiga enfrentou com destemor os dias de atentados que precederam o Sete de Abril. Foi ele o autor da representação enérgica de 17/03/1831 na Chácara da Flora, propriedade do padre José Custódio Dias, um verdadeiro ultimato ao imperador. Dom Pedro I, que chefiava em Portugal a campanha constitucionalista, se foi do Brasil distanciando de suas atitudes liberais de 1822 e a ele se foram chegando cada vez mais os portugueses aqui residentes, sendo então abandonado pelos próprios elementos moderados da política brasileira. Já estavam conspirando Evaristo da Veiga, Odorico Mendes, Nicolau de Campos Vergueiro, esforçando-se por conseguir a adesão da tropa.

"O dia 6 de abril seria de fato a verdadeira data revolucionária em que se verificaria a insurreição da tropa e do povo no Campo de Santana; a 7 de abril apenas se completaria a vitória liberal com a abdicação do monarca."

Evaristo da Veiga anuiu ao golpe quando se esgotaram as possibilidades de uma solução menos violenta, como ele próprio declarou num discurso em 12/05/1832 na Câmara. Aderiu para evitar a anarquia, o desmembramento, a desunião das províncias. Evaristo da Veiga correu ao Senado para dar forma legal à nova situação por meio da reunião extraordinária que elegeu a Regência Provisória, o Marquês de Caravelas, Nicolau de Campos Vergueiro, o brigadeiro Francisco de Lima e Silva.

Coube-lhe redigir a proclamação, e o documento, nobre, nacionalizava a independência e pedia não macular a vitória com excessos. Terminava:

"Do dia 7 de abril de 1831 começou a nossa existência nacional; o Brasil será dos brasileiros, e livre!"

Aberta a Câmara a 03 de maio, Evaristo da Veiga foi escolhido para a Comissão de criação da Guarda Nacional, a Força Cidadã, como ele chamava, que teria o importante papel de manter a ordem em todo o período regencial.

Elegeu-se a 17/06/1831 a primeira Regência permanente, sendo escolhidos Francisco de Lima e Silva, Costa Carvalho e João Bráulio Muniz, este representando o Norte. Evaristo da Veiga teve imenso papel na elaboração da lei que a regulou.

A Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional

Ao mesmo tempo, empenhou-se pela criação de um outro instrumento de ordem, de disciplina social, de orientação política, que foi a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, instalada no Rio de Janeiro a 19/05/1831. Inspirava-se em sua congênere paulista e teve por iniciador Antônio Borges da Fonseca, o redator de O Repúblico. Evaristo da Veiga tornou-se seu adepto mais fervoroso e de 1831 a 1835 a Aurora Fluminense, a Tribuna da Câmara e a Sociedade se tornaram seu centro de ação diária.

Foi instrumento de ação dos moderados, e se disse, com algum exagero, que governou o Brasil pelo espaço de quatro anos. Abreu Lima em "História do Brasil" acha que "foi em realidade outro Estado no Estado, porque sua influência era a que predominava no gabinete e nas Câmaras; e sua ação, mais poderosa que a do governo, se estendia por todos os ângulos do Império". O grande elemento de ação da Defensora foram as representações à Câmara, ao governo, publicadas nos jornais do partido moderado desde 01/06/1831.

Evaristo da Veiga vinculou-se também a diversas outras sociedades e agremiações, animando-as, procurando colocá-las sob sua orientação política. Foi um dos fundadores da Sociedade de Instrução Elementar, da Sociedade Amante da Instrução, da Sociedade Filomática do Rio de Janeiro. Sua luta foi incansável, em época propícia aos excessos, pois não era o simplista que acredita no milagre das leis. Joaquim Nabuco dele dirá, em "Um Estadista do Império", que quis exercer no Brasil a ditadura de sua opinião - uma opinião lúcida, desinteressada, de bom senso, serenidade e medida de proporções.

Os Andradas haviam-se logo alistado entre os descontentes, Evaristo da Veiga se tornou alvo de ataques e calúnias. Em julho de 1831 era profunda a divisão dos liberais. Nomeado Feijó para a Justiça, recebeu todo o apoio de Evaristo, na Câmara e pela Aurora Fluminense mas havia grandes embaraços ao governo com a indisciplina militar, a separação entre exaltados e moderados. Evaristo da Veiga era já, por consenso, o chefe do partido moderado. Formigavam apodos: Farroupilhas e jurujubas seriam os exaltados, chimangos ou chapéus redondos os moderados, caramurus os restauradores. Era moço, tinha 32 anos. A Malagueta o achava feio e menoscabava sua profissão de livreiro.

A partir de 1832 os restauradores pareciam mais perigosos do que os exaltados, o Carijó e o Caramuru iniciaram ofensiva contra o governo. Uma grave crise foi a campanha de Feijó para destituir José Bonifácio da tutoria dos filhos do imperador, cujo desfecho se daria com o malogrado golpe de 30/07/1832.

Membro da comissão de resposta à Fala do Trono, Evaristo da Veiga fez um de seus mais longos discursos, quase de improviso, eloquente. Serviu-se também da Aurora Fluminense, enquanto o Carijó obediente a Antônio Carlos o chamava de "sanefa da Pátria, sabugo versicolor da Aurora".

Em julho, a Câmara aprovou a destituição de José Bonifácio de seu posto como tutor, muito comprometido com o facciosismo dos irmãos, mas o Senado não, e Feijó pediu demissão. Os moderados já viam Dom Pedro I de novo sentado no trono. Ficou decidido o golpe de Estado tramado na chácara do padre José Custódio Dias, mas Evaristo da Veiga não teve nenhuma iniciativa, nenhum entusiasmo, não deu seu assentimento nem adesão formal - instava, entretanto, por uma medida salvadora e demonstrou sua solidariedade completa, irrestrita a Feijó. Malogrado o golpe, Feijó e outros ministros saíram do governo e a Regência continuou - o bastão de líder escapou de suas mãos. No novo ministério organizado a 03/08/1832 não havia amigos seus. O Carijó chegou a escrever: "Evaristo está morto".

A Reforma Constitucional e a Eleição de Feijó

A 30/07/1832 a Aurora Fluminense publicou:

"Evaristo é o mesmo homem, deputado livre, jornalista defensor da ordem púbica e homem da classe industriosa, vivendo do seu trabalho. Nunca aspirou nem procurou o poder."

A 13 de setembro, Evaristo exultava com o novo ministério com Vergueiro e Honório Hermeto, e neste tinha Feijó um substituto. Voltavam ao poder os moderados e do malogro do golpe de 30 de julho resultaria a vitória do ideal que o alimentara: houve acordo para reforma constitucional que foi consubstanciada na lei de 12/10/1832. A Câmara cedeu, cedeu o Senado, o Poder Moderador foi mantido, a vitaliciedade do Senado, não prevaleceu o cunho federalista que a Câmara desejava mas o Conselho de Estado foi abolido.

Sofreu um atentado em sua livraria mesmo, a 08/11/1832. Recebeu mais de mil visitantes, desde os regentes, ministros de Estado, senadores, ao povo miúdo. Atentado de um pobre sapateiro a mando de um certo coronel Ornelas, amigo de José Bonifácio. Evaristo da Veiga confessou suspeitar mais do Srº Martim Francisco"cuja alma rancorosa todos conhecem". O certo é que os jornais restauradores, particularmente o Caramuru, tinham seu quinhão de culpa na formação do ambiente de ódios.

Em 1833 recrudesceu a campanha da imprensa, empenhada nas eleições para a legislatura 1834-1837 pois a Câmara tinha poderes para realizar a reforma constitucional. Reapareceram jornais antigos como o Brasileiro, e o Nacional, surgiram novos como o Independente, o Sete de Abril, das simpatias de Bernardo Pereira de Vasconcelos. Mas os moderados já não tinham o prestígio anterior, a campanha caramuru causara impressão - exceto na zona rural. Eram os chamados "eleitores do campo".

Todo o ano 1833 se consumiu na expectativa do retorno do Duque de Bragança. Evaristo da Veiga, convencido de que a trama restauradora era sério perigo, combateu-a, usando a Defensora, e chefiou mesmo a campanha que impediu a volta de Dom Pedro I, sob qualquer título, e clamava pela suspensão de José Bonifácio do lugar de tutor como centro e instrumento dos facciosos. Com sua queda, passou o momento de maior tensão, tudo prometia melhorar.

A 14/06/1833 entrou em discussão o projeto de reforma da Constituição. Discutiu-se inicialmente a quem competia, e a opinião de Evaristo da Veiga - a competência era da Câmara - foi aprovada por enorme maioria. Depois de Bernardo Pereira de Vasconcelos, seu autor, ninguém mais do que Evaristo da Veiga estudou o projeto. Declarou inicialmente que, por seu voto, não se tocaria na Constituição - mas cedia à opinião geral, às aspirações autonomistas das províncias, sem esquecer os interesses superiores da unidade nacional. Foi voto vencido na questão da temporariedade da função de Regente pois a Câmara mostrou-se mais liberal que ele, Limpo de Abreu, Paula Araújo e Vasconcelos, e quase estabeleceu no Brasil uma verdadeira república provisória.

A facilidade com que se votou a reforma tinha explicação no temor à volta de Dom Pedro I. Quando o ex-imperador morreu em 24/09/1834 (a notícia chegou ao Rio de Janeiro em dezembro de 1834), a desagregação dos moderados se processou com rapidez pois nunca houve coesão partidária. Evaristo da Veiga o julgou com serenidade:

"Não foi um príncipe de ordinária medida, existia nele o germe de grandes qualidades, que defeitos lamentáveis e uma viciosa educação sufocaram em parte. (...) Se existimos como corpo de nação livre, se a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemo-lo muito à resolução que tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito de nossa Independência."

A situação política do Brasil dava sinais de persistência de divisão e indisciplina. No Rio Grande do Sul começara a guerra que ia durar dez anos, havia revolução no Pará. A grande questão era a escolha do Regente único, de acordo com o Ato Adicional. O candidato de Evaristo da Veiga foi Feijó, pois dele não via os defeitos e o que temia era a desordem, a anarquia, que prometia a candidatura Holanda Cavalcanti, tido como arrebatado e frenético. Fez a campanha com as mesmas agruras anteriores, destemido, sereno, até que a 07/04/1835 votaram em todo o Brasil os eleitores, que eram 6 mil, cada um com direito a sufragar dois nomes. Com as dificuldades de comunicação, os resultados chegaram morosamente - feita a apuração final a 9 de outubro, Feijó ficou em primeiro lugar (2.826), Holanda Cavalcanti em segundo (2.251). Com maioria na Câmara, o partido holandês tentaria ainda fazer de Dom Januária regente, mas nada conseguiu.

O Fim da Aurora Fluminense

A eleição de Feijó foi a última demonstração do prestígio de Evaristo da Veiga. Estava afastado de Bernardo Pereira de Vasconcelos, Honório Hermeto e Rodrigues Torres. Era combatido pelos caramurus e ainda teve a amargura de desavir-se com Feijó, regente único - por culpa sua, pensavam todos.

Em 30/12/1835 saiu o último número de seu jornal, com oito anos de existência. Recolhia-se a uma vida que desejava tranquila, com as três filhas e a mulher. Mas não se retirou da vida pública, pois em 1836 compareceu normalmente à Câmara. Depois decidiu fechar por uns tempos sua casa na Rua dos Barbonos, hoje Rua Evaristo da Veiga, e em novembro partiu para Campanha, onde vivia um irmão.

Voltou ao Rio de Janeiro em 02/05/1837. Visitou Feijó, foi para cama, presa de violenta febre perniciosa, como diagnosticaram os médicos. Evaristo da Veiga morreu a 12/05/1837, repentinamente, aos 37 anos.

Apreciação

Evaristo da Veiga contribuiu decisivamente para a defesa das instituições públicas, além de trabalhar para o desenvolvimento intelectual e artístico, estimulando jovens escritores.

Segundo Octávio Tarquínio de Sousa:

"Sua influência nos acontecimentos políticos se fez sentir desde o aparecimento da Aurora Fluminense e ninguém mais do que ele concorreu para criar o ambiente liberal que caracterizaria os primeiros anos da Regência. (...) Evaristo não fez mais do que conformar-se com a revolução, aceitá-la como uma fatalidade."

Caixeiro sem ancestrais ilustres, gordo e deselegante, sem a ajuda de poderosos, sem dons de sedução, que nunca esteve em qualquer universidade, sem deixar o Rio de Janeiro, sem mencionar seu nome do jornal que escrevia, foi eleito e reeleito deputado, assumindo papel de guia e conselheiro, sem improvisação, sem imposturas.

Foi jornalista, deputado, político, orientando a opinião do país porque tinha um espírito sério, probidade moral, sinceridade e, sobretudo, uma inteligência lúcida, desapego aos altos cargos, um grande desejo de servir e de ser útil.

Acadêmico

Membro do Instituto Histórico de França e da Arcádia de Roma. Patrono da cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de seu fundador, Ruy Barbosa.

Maçom

Foi iniciado na Maçonaria em 01/06/1832 na Loja Esperança de Nictheroy n° 0003 no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Nereu Ramos

NEREU DE OLIVEIRA RAMOS
(69 anos)
Advogado, Político, Vice-Presidente do Brasil e Presidente do Brasil

☼ Lages, SC (03/09/1888)
┼ São José dos Pinhais, PR (16/06/1958)

Nereu de Oliveira Ramos foi um advogado e político brasileiro. Foi vice-presidente do Brasil, eleito pelo Congresso Nacional, de 1946 a 1951. Foi presidente da República durante dois meses e 21 dias, de 11/11/1955 a 31/01/1956.

Foi o único catarinense que presidiu o Brasil. Contudo, o catarinense Márcio de Souza Mello fez parte da junta militar que governou o país de 31/08/1969 a 30/10/1969.

Nasceu em Lajes, SC, no dia 03/09/1888, filho de Vidal José de Oliveira Ramos, governador de Santa Catarina, de 1910 a 1914, e de Teresa Fiúza Ramos.

Bacharelou-se em Direito em 1909. Em 1911 iniciou sua participação no jornalismo e na política.

Em 1921 fundou o jornal A República e foi um dos organizadores em seu estado da Reação Republicana, movimento de apoio à candidatura de Nilo Peçanha para as eleições presidenciais de março de 1922, vencidas por Artur Bernardes.

No início de 1926, sob a liderança de Antônio Prado, foi fundado o Partido Democrático (PD) de São Paulo, que defendia a adoção do voto secreto e outras medidas destinadas à "moralização" do processo eleitoral. A idéia da criação de um partido nacional com essas características logo teve curso e obteve a adesão de Nereu Ramos, fundador e primeiro presidente, em 1927, do Partido Liberal Catarinense (PLC).


Em 1932 foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de Santa Catarina, onde passou a lecionar direito constitucional e teoria do Estado. Na Constituinte, reunida a partir de novembro de 1933, foi um dos 26 deputados integrantes da Comissão Constitucional encarregada de examinar o anteprojeto de Constituição preparado pelo Governo Provisório, e as emendas a ele apresentadas.

Em 01/05/1935 assumiu o cargo de governador do estado, dando início a um período de dez anos em que esteve à frente do governo de Santa Catarina. Sua administração teve dois aspectos especialmente relevantes. O primeiro foi sua obra viária que, na época, dotou Santa Catarina das melhores e mais bem conservadas rodovias do país. O outro, no plano político, foi o dos conflitos com ponderáveis parcelas da colônia alemã, simpatizantes do nazismo e do integralismo. Além disso instalou diversos postos de saúde nos municípios e construiu o edifício do Departamento de Saúde Pública.

Em 1945, Nereu Ramos passou o seu cargo para Luís Gallotti, procurador da República.

Em 12/03/1951, Nereu Ramos foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, passando a ser o segundo nome na linha de sucessão do presidente da República.

Em 21/08/1954, Café Filho entrevistou-se com Getúlio Vargas e lhe propôs, sem êxito, que ambos renunciassem, passando o governo a Nereu Ramos, que exercia seu segundo mandato na presidência da Câmara. Pouco depois, Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Nessa ocasião, Nereu Ramos estava em Santa Catarina e diante da notícia do suicídio de Getúlio Vargas retornou ao Rio de Janeiro. Segundo Café Filho, a filha de Getúlio Vargas, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, repeliu "com expressões ríspidas" as manifestações de pesar feitas por Nereu Ramos durante o velório do ex-presidente.

Em novembro de 1954, o diretório nacional do Partido Social Democrático (PSD) indicou o nome de Juscelino Kubitschek para concorrer à presidência da República nas eleições marcadas para 03/10/1955.

O comunista Carlos Marighella conversa com Nereu Ramos, deputado pelo PSD
Em janeiro de 1955 Café Filho viajou à Bolívia para inaugurar a ferrovia Corumbá-Santa Cruz de la Sierra e Nereu Ramos assumiu interinamente, pela segunda vez, a presidência da República. Na nova legislatura, iniciada em 01/02/1955, foi eleito vice-presidente do Senado, voltando a ser o segundo na ordem de sucessão presidencial.

Realizadas as eleições, Juscelino Kubitschek e João Goulart venceram. Logo após a proclamação dos resultados teve início uma crise política de âmbito nacional, pois a União Democrática Nacional (UDN) deflagrou uma campanha contra a posse do presidente e do vice-presidente eleitos, sob a alegação de que não haviam obtido a maioria absoluta dos votos. Dois dias depois, um distúrbio cardíaco forçou a internação do presidente Café Filho no Hospital dos Servidores do Estado e, em 8 de novembro, a passagem do seu cargo ao presidente da Câmara, Carlos Luz.

Em 12/11/1955, Nereu Ramos visitou Café Filho no hospital, manifestando a intenção de transmitir-lhe a chefia do governo tão logo se verificasse seu restabelecimento, posição que reiterou três dias depois. No dia 20/11/1955, porém, o ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott entrevistou-se com Café Filho e lhe comunicou que, na opinião do esquema militar vitorioso, sua volta à presidência não seria conveniente. Café Filho insistiu em reassumir o cargo, mas no dia 21/11/1955 o Congresso aprovou seu impedimento. O ex-presidente ficou então confinado em seu apartamento em Copacabana, cercado por tropas e blindados do Exército.

Em 01/01/1956, a vigência do estado de sítio foi prorrogada até 26/02/1956. No dia 31/01/1956, Nereu Ramos passou o governo a Juscelino Kubitschek, de quem se tornou, na mesma data, ministro da Justiça. Em fins de maio desse ano, delegou ao Exército a tarefa de reprimir as manifestações populares desencadeadas na capital federal contra o aumento das tarifas dos bondes. A cidade foi então ocupada por tropas e, durante o cerco efetuado à sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), na praia do Flamengo, houve espancamento de parlamentares, notadamente Adauto Lúcio Cardoso, da UDN. Esses fatos provocaram o comparecimento de Nereu Ramos à Câmara em junho, para prestar esclarecimentos. 


Nesse mês de junho, com o objetivo de aperfeiçoar a Carta de 1946, nomeou uma comissão especial de juristas encarregada de estudar uma reforma constitucional. Entretanto, seus esforços nesse sentido foram frustrados, o que o levou a pedir exoneração do Ministério da Justiça em 04/11/1957, sendo substituído por Eurico Sales.

Entre 03/10/1956 e 04/11/1956, Nereu Ramos acumulou interinamente o cargo de ministro da Educação e reassumiu, então, sua cadeira no Senado.

Nereu Ramos casou-se com Beatriz Pederneiras Ramos, com quem teve quatro filhos. 

Nereu Ramos faleceu em 16/06/1958, em pleno exercício do mandato, em desastre aéreo. O avião, um Convair CV-440 de matrícula PP-CEP da Cruzeiro do Sul, procedente de Florianópolis, SC, acidentou-se durante o pouso em São José dos Pinhais, PR, vitimando 18 dos 24 ocupantes.

Também faleceram no acidente os políticos catarinenses Jorge Lacerda, governador de Santa Catarina na ocasião, e Leoberto Leal, então deputado federal por Santa Catarina.

Nereu Ramos foi sepultado no Rio de Janeiro. Seus restos mortais foram depois transladados para Lages, SC, sua cidade natal, sendo resguardados no Memorial Nereu Ramos, juntamente com um acervo de documentos e fotografias, e também partes do avião acidentado.

Café Filho

JOÃO AUGUSTO FERNANDES CAMPOS CAFÉ FILHO
(71 anos)
Advogado, Jornalista, Político e Presidente do Brasil

☼ Natal, RN (03/02/1899)
┼ Rio de Janeiro, RJ (20/02/1970)

João Augusto Fernandes Campos Café Filho foi um advogado e político brasileiro, sendo presidente do Brasil entre 24/08/1954 e 08/11/1955, quando foi deposto. Foi o único potiguar e o primeiro protestante a ocupar a presidência da República do Brasil.

Café Filho nasceu em Natal, RN no dia 03/02/1899, filho de João Fernandes Campos Café e de Florência Amélia Campos Café. Mudou-se para Recife em 1917, passando a trabalhar como comerciário para custear os estudos na Academia de Ciências Jurídicas e Comerciais. Retornou a Natal sem concluir seus estudos superiores mas, mesmo assim, baseado na sua experiência prática junto aos tribunais, prestou concurso para advogado do Tribunal de Justiça, obtendo êxito.

A atividade regular de Café Filho no campo do jornalismo começou em 1921, quando fundou o Jornal do Norte, impresso nas oficinas de A Opinião, órgão oposicionista. Disputou, sem êxito, uma cadeira de vereador em Natal no ano de 1923. Mudou-se para Recife em 1925, tornando-se diretor do jornal A Noite, onde passou a escrever reportagens e propaganda política. Viajou para a Bahia e, durante o ano de 1927, viveu nas cidades de Campo Formoso e ltabuna.

Mudou-se para o Rio de Janeiro no início de 1929, tornando-se redator do jornal A Manhã. Durante a Revolução de 1930 Café Filho transferiu-se para o Rio Grande do Norte, onde foi nomeado chefe de polícia.

Fundou em abril de 1933 o Partido Social Nacionalista (PSN) do Rio Grande do Norte, organizado para concorrer às eleições de maio seguinte para a Assembléia Nacional Constituinte. Afastado da chefia de polícia, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como inspetor no Ministério do Trabalho até julho de 1934.

GetulioVargas e Café Filho
Com o fim dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte e a fixação da data de 14 de outubro para a realização de eleições para a Câmara Federal e as assembleias constituintes estaduais, Café Filho retornou ao Rio Grande do Norte e foi eleito deputado federal para a legislatura iniciada em 03/05/1935.

Com o desgaste do Estado Novo, Getúlio Vargas adotou no início desse ano uma estratégia reformista que visava garantir para o próprio governo o controle da transição em curso na política nacional. Decidido a concorrer ao parlamento em dezembro, Café Filho viajou para o Rio Grande do Norte a fim de reagrupar seus antigos correligionários em uma nova agremiação.

Suspeito de realizar manobras continuístas, Getúlio Vargas foi deposto por um golpe militar em 29/10/1945. José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu temporariamente a chefia do governo e as eleições de 2 de dezembro foram mantidas, resultando na vitória de Eurico Gaspar Dutra. O Partido Republicano Progressista (PRP) teve um desempenho muito fraco, elegendo apenas Café Filho e Romeu dos Santos Vergal para a Assembléia Nacional Constituinte, que se reuniria a partir de 05/02/1946.

Quando Getúlio Vargas foi reeleito em outubro de 1950, Café Filho obteve a vice-presidência. Além disso, também foi reeleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte.

Em 22/08/1954 um grupo de oficiais da Aeronáutica liderados pelo brigadeiro Eduardo Gomes, lançou um manifesto, assinado também por oficiais do Exército, exigindo a renúncia do presidente que, mesmo assim, manteve sua posição de permanecer no cargo. No dia seguinte Café Filho discursou no Senado comunicando a negativa de Getúlio Vargas em aceitar a renúncia conjunta, e seu pronunciamento foi considerado um rompimento público com o presidente.

Café Filho visita Portugal em 1955 e é recebido pelo Presidente luso António Oliveira Salazar
A situação se agravou com a divulgação, no dia 23/08/1954, de um manifesto assinado por 27 generais exigindo a renúncia de Getúlio Vargas. Na madrugada seguinte, Café Filho deixou clara sua disposição de assumir a presidência, ao mesmo tempo que Getúlio Vargas comunicava a seu ministério a decisão de licenciar-se.

Procurado por jornalistas e líderes políticos, Café Filho mostrou-se disposto a organizar um governo de coalizão nacional caso o presidente se afastasse em caráter definitivo. Nas primeiras horas do dia 24/08/1954, depois de receber um ultimato dos militares para que renunciasse, Getúlio Vargas suicidou-se. A grande mobilização popular então ocorrida desarmou a ofensiva golpista e inviabilizou a intervenção militar direta no governo, garantindo a posse de Café Filho no mesmo dia.

Procurando diminuir o impacto produzido pela divulgação da Carta Testamento de Vargas, Café Filho emitiu logo sua primeira nota oficial, afirmando seu compromisso com a proteção dos humildes, "preocupação máxima do presidente Getúlio Vargas".

No início de 1955 recebeu do ministro da Marinha um documento sigiloso assinado pelos ministros militares e por destacados oficiais das três armas, defendendo que a sucessão presidencial fosse tratada "em um nível de colaboração interpartidária" que resultasse em um candidato único, civil e apoiado pelas forças armadas.

Tratava-se, indiretamente, de uma crítica à candidatura de Juscelino Kubitschek. O presidente apoiou o teor do documento e, diante dos comentários da imprensa sobre sua existência, obteve a aprovação dos signatários para divulgá-lo na íntegra pelo programa veiculado em cadeia radiofônica nacional "A Voz do Brasil". Apesar dessa demonstração da oposição militar à sua candidatura, Juscelino Kubitschek prosseguiu em campanha e seu nome foi homologado pela convenção nacional do Partido Social Democrático (PSD) em 10/02/1955.

Juscelino Kubitschek foi eleito e, com a divulgação dos resultados oficiais do pleito, a União Democrática Nacional (UDN) deflagrou uma campanha contra a posse dos candidatos eleitos, voltando a sustentar a tese da necessidade de maioria absoluta. Os setores mais extremados do partido, liderados por Carlos Lacerda, intensificaram sua pregação favorável à deflagração de um golpe militar. Entretanto, Café Filho e o general Henrique Teixeira Lott reafirmaram seu compromisso com a legalidade.

Café Filho, Getulio Vargas e Bento Munhoz da Rocha
Na manhã do dia 03/11/1955 Café Filho foi internado no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, acometido de um distúrbio cardiovascular que forçou seu afastamento das atividades políticas. No decorrer do dia 11/11/1955 o Congresso Nacional, reunido em sessão extraordinária, aprovou o impedimento de Carlos Luz para assumir o cargo, empossando Nereu Ramos, vice-presidente do Senado em exercício, na presidência da República.

No dia 13/11/1955, Nereu Ramos visitou Café Filho no hospital, afirmando que permaneceria no governo apenas até sua recuperação. Entretanto, Henrique Teixeira Lott e outros generais decidiram vetar o retorno do presidente por considerá-lo suspeito de envolvimento na conspiração contra a posse dos candidatos eleitos. Mesmo assim, no dia 21/11/1955 Café Filho enviou a Nereu Ramos e aos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF) uma declaração de que pretendia reassumir imediatamente seu cargo, o que provocou nova movimentação de tropas fiéis a Henrique Teixeira Lott em direção ao Palácio do Catete e a outros pontos da capital. Café Filho dirigiu-se então à sua residência, também cercada por forte aparato militar, que incluía grande número de veículos blindados.

Na madrugada de 22/11/1955, o Congresso aprovou o impedimento de Café Filho, confirmando Nereu Ramos como presidente até a posse de Juscelino Kubitschek em janeiro seguinte. Em 14/12/1955 essa decisão foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que recusou o mandado de segurança impetrado por Prado Kelly em favor da posse de Café Filho.

Afastado da presidência, trabalhou entre 1957 e 1959 em uma empresa imobiliária no Rio de Janeiro.

Em 1961, foi nomeado pelo governador Carlos Lacerda ministro do Tribunal de Contas do Estado da Guanabara, onde permaneceu até aposentar-se em 1969.

Café Filho casou-se com Jandira Fernandes de Oliveira Café, com quem teve um filho.

Café Filho faleceu no Rio de Janeiro no dia 20/02/1970.

Francisco Morato

FRANCISCO ANTÔNIO DE ALMEIDA MORATO
(79 anos)
Advogado, Jurista e Político

☼ Piracicaba, SP (17/10/1868)
┼ São Paulo, SP (12/05/1948)

Francisco Antônio de Almeida Morato foi um advogado, jurista e político brasileiro. Foi promotor público e fundador da Ordem dos Advogados de São Paulo, a qual presidiu de 1916 a 1922 e de 1925 a 1927. Foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e professor da Faculdade de Direito de São Paulo, da qual foi diretor entre 1935 e 1938.

Na política foi deputado federal pelo estado de São Paulo em 1930 e secretário da Justiça e Negócios do Interior durante a interventoria de Macedo Soares.

Estudou Humanidades no Colégio Moretzsohn, prestando exames preparatórios no Curso Anexo da Faculdade de Direito de São Paulo, na qual matriculou-se em 1884, recebendo o grau de bacharel em 1888.

Em sua terra natal exerceu a profissão de advogado, ocupando também os cargos de promotor público, vereador, inspetor escolar e provedor da Santa Casa de Misericórdia.

Transferindo-se para São Paulo, foi um dos fundadores da Ordem dos Advogados de São Paulo, tendo sido eleito seu primeiro presidente, função que ocupou de 1916 a 1922 e de 1925 a 1927.

Aprovado em concurso, foi nomeado professor substituto da sétima seção da Faculdade de Direito de São Paulo, em 1917. Em novembro de 1918, tomou posse da cadeira e recebeu o grau de doutor. Em outubro de 1922, assumiu a cátedra de Prática do Processo Civil e Comercial.


Como advogado, ganhou fama por um caso constantemente lembrado: Conseguiu a absolvição de José de Almeida Sampaio, assassino de Almeida Júnior em frente ao Hotel Central, em 1899.

Na órbita política, foi fundador do Partido Democrático, eleito deputado federal em 1927, tendo sido um dos organizadores da Frente Única de 1932, com destacado papel no Movimento Constitucionalista.

Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e presidente do Tribunal de Ética Profissional. Jubilado na cadeira de Direito Judiciário Civil, foi-lhe conferido o título de professor emérito.

Após a Revolução, no período de 1932-1933 esteve exilado na França e em Portugal.

No período de 1935 a 1938, foi diretor da Faculdade de Direito de São Paulo.

Recusou a presidência do Estado, aceitando porém o cargo de secretário da Justiça e Negócios do Interior na interventoria Macedo Soares.

Fonte: Wikipédia