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Ana Cristina Cesar

ANA CRISTINA CRUZ CESAR
(31 anos)
Poetisa e Tradutora

* Rio de Janeiro, RJ (02/06/1952)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/10/1983)

Ana Cristina César era um dos nomes mais representativos de uma nova poesia que se estava produzindo no Brasil a partir dos anos 70, e se afirmando na década seguinte. Foi, segundo Eucanaã Ferraz, "personagem fundamental no ambiente artístico e cultural do Rio de Janeiro nos anos 1970". Segundo Heloisa Buarque de Hollanda, doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "no meio dos poetas marginais era e se comportava como musa, um pouco distante como devem ser a musas".

Ela foi uma poetisa e tradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar, ou Ana C., é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 1970, e tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal.

Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cruz, Ana Cristina nasceu em uma família culta e protestante de classe média. Tinha dois irmãos, Flávio e Filipe.

Antes mesmo de ser alfabetizada, aos 6 anos de idade, ela ditava poemas para sua mãe. Em 1969, Ana Cristina Cesar viajou à Inglaterra em intercâmbio e passou um período em Londres, onde travou contato com a literatura em língua inglesa. Quando regressou ao Brasil, com livros de Emily Dickinson, Sylvia Plath e Katherine Mansfield nas malas, dedicou-se a escrever e a traduzir, entrando para a Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), aos 19 anos.


Ana Cristina começou a publicar poemas e textos de prosa poética na década de 1970 em coletâneas, revistas e jornais alternativos. Seus primeiros livros, "Cenas de Abril" e "Correspondência Completa", foram lançados em edições independentes. As atividades de Ana Cristina  não pararam: pesquisa literária, um mestrado em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra temporada na Inglaterra para um mestrado em tradução literária, na Universidade de Essex, em 1980, e a volta ao Rio de Janeiro, onde publicou "Luvas de Pelica", escrito na Inglaterra. Em suas obras, Ana Cristina Cesar mantém uma fina linha entre o ficcional e o autobiográfico.

Ana Cristina cometeu suicídio aos 31 anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da Rua Tonelero, em Copacabana.

Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, foi o melhor amigo de Ana Cristina Cesar, para quem ela deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles. A família fez a doação mediante a promessa dos escritos ficarem no Rio de Janeiro. Contudo, sabe-se que muitas cartas de Ana Cristina Cesar foram censuradas pela família, principalmente as recebidas do escritor Caio Fernando Abreu.

Ítalo Moriconi escreveu: "Ana Cristina dizia que uma das facetas do seu desbunde fora abandonar a ideia de ser escritora, livrar-se do que ela naquele momento julgava ser sua face herdada, o estigma princesa bem-comportada, alguém marcada para escrever."


Em 1987, ao ser lançado seu livro póstumo "A Seus Pés", o poeta e amigo Armando Freitas Filho escreveu esse texto, sobre a obra e a autora e amiga:

"Olhos azuis, a flor da pele. A Teus Pés (Ana Cristina César) foi escrito na rua e pelo telefone. Num caderno preto, pautado, de capa dura, desses que antigamente, eram usados por pequenas firmas para registro, sempre caligráfico, de suas atividades, do seu 'dever & haver'. Foi escrito com canetas de vários tipos e cores, como se, inconscientemente se desejasse sublinhar e fixar as muitas intenções e nuances, a pegada mais forte ou mais suave de cada texto.
Seu primeiro nome foi 'Meios de Transporte', logo abandonado por ter um segundo sentido demasiadamente explícito. A escolha definitiva me foi comunicada num telefonema extra, de tarde, pois nos falávamos diariamente pela manhã, quando Ana me disse que tinha achado o título, afinal, num poema meu, no último verso.
À princípio achei meio bolero, mas depois fui me acostumando, na medida em que acompanhava literalmente, passo a passo, a feitura do livro. Na época escrevia também o meu, que se chamava '3X4'. Esses 'telefonemas de consulta' eram discussões pormenorizadas sobre os escritos de cada um, quando tudo era visto sem nenhum rigor fetichizado, de colarinho branco, mas sim meio na contramão, a la diable.
Hoje, quando me lembro desse tempo, não poderia dizer, com exatidão, quem telefonava pra quem. Ora um, ora outro. Ou o telefone tocava sozinho numa ligação telepática?
A Teus Pés, também, foi escrito andando, ao meu lado, pelas ruas do Rio, viajando em 'frescões' ou sentado em mesas de chá transitórias. Foi, aliás, na Confeitaria Colombo que ela me levou a versão final, impecavelmente datilografada em máquina elétrica, às vésperas de enviar os originais para a Brasiliense. Sugeri cortes, supressões de alguns textos. Foram aceitos depressa. Fiquei arrependido, liguei à noite e disse que era melhor considerar com mais calma a eliminação deles. Ela disse não. Os originais já tinham sido remetidos. Dois anos depois penitenciei-me incluindo muitos desses poemas em 'Inéditos e Dispersos' (Ana Cristina César).
Agora estou aqui recordando esses pequenos acontecimentos, publicando intimidades delicadas, O telefone telepático, na ponta do trampolim, não bate mais. É uma caixa-preta, for ever. Nunca pensei que na minha vida acontecesse uma coisa tão forte, tão brusca e selvagem, e que uma ausência pudesse ser tão viva."


Principais Obras

Poesia
  • 1982 - A Teus Pés
  • 1985 - Inéditos e Dispersos
  • Novas Seletas (Póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)


Crítica
  • 1980 - Literatura Não é Documento
  • 1999 - Crítica e Tradução


Variados
  • Correspondência Incompleta
  • Escritos no Rio (Póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
  • Escritos em Londres (Póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
  • Antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque


Fonte: Wikipédia

José Fortuna

JOSÉ FORTUNA
(60 anos)
Cantor, Compositor, Autor Teatral, Radialista e Ator

* Itápolis, SP (02/10/1923)
+ São Paulo, SP (10/11/1983)

Zé Fortuna começou a compor ainda criança, quando acompanhava o pai em andanças pela lavoura, escrevendo versos no chão de terra com um pedaço de madeira. Com 11 anos de idade compôs "Quinze a Sete", numa homenagem a seu time de futebol. Profissionalmente compôs sua primeira música no dia 26 de setembro de 1942, com 18 anos.  Sua primeira música gravada foi "Moda das Flores", no dia 04 de abril de 1944, por Raul Torres & Florêncio, e desde então nunca mais parou. Nos próximos quarenta anos ele comporia e gravaria perto de duas mil músicas, algumas com mais de cinquenta regravações.

Um de seus maiores sucessos foi a versão da guarânia "Índia", composta há sessenta anos, do outro lado de "Meu Primeiro Amor", também versão de José Fortuna, gravados originalmente por Cascatinha & Inhana, no ano de 1952, músicas que chegaram a vender na ocasião mais de um milhão de cópias.

Casa onde José Fortuna nasceu no Bairro da Aldeia em Itápolis, SP
Estas duas composições foram regravadas por dezenas de duplas sertanejas, como também por intérpretes da música popular brasileira, como por exemplo, Agnaldo Timóteo, Ângela Maria, Nara Leão, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, que regravou "Índia", nome dado a um de seus shows no Canecão, Rio de Janeiro. A obra foi tema da novela da Rede Globo "Alma Gêmea" (2005), de Walcir Carrasco, na interpretação de Roberto Carlos.

"Meu Primeiro Amor", a versão para "Lejania", composta no mesmo ano para o outro lado de "Índia", e também muito regravada, foi relançada nos últimos anos pelos intérpretes Joana e Fagner. Uma curiosidade é que "Índia", foi a responsável pela introdução da guarânia como estilo musical no Brasil, posto que até então tal gênero musical era desconhecido por aqui, não possuindo mercado propício para a sua expansão, e assim sendo, após o enorme sucesso gravado por Cascatinha & Inhana, intensificou-se o intercâmbio cultural entre Brasil e Paraguai. Estas duas guarânias, bem como outras de autoria de José Fortuna, tais como, "Anahy", "Solidão", "Minha Terra Distante", "Vai Com Deus", entre outras, geraram inúmeras regravações, inclusive no exterior.

Entretanto, José Fortuna não foi na sua essência, um compositor de guarânias somente, mas sim de uma grande versatilidade de estilos musicais. Outros de seus grandes sucessos foram as músicas "Lembrança", "Paineira Velha", "Berrante de Ouro", "Cheiro de Relva", "Terra Tombada", "O Selo de Sangue", "Rosto Molhado", "Vinte e Quatro Horas de Amor", "Esteio de Aroeira", "A Mão do Tempo", "O Ipê e o Prisioneiro", "O Vai e Vem do Carreiro", entre outras, todas com várias regravações.

Durante todo este tempo, e paralelamente às suas atividades como compositor, José Fortuna manteve um trio, do qual pertencia também seu irmão Euclides Fortuna, o Pitangueira, formando com Zé do Fole o trio Os Maracanãs. Eles gravaram mais de quarenta LPs e dezenas de discos ainda em 78 rotações, como também muitos compactos com músicas de José Fortuna. Apresentaram-se em todas as emissoras da capital e do interior. Curiosamente foi o trio Os Maracanãs que inaugurou o canal 5, hoje Rede Globo de Televisão, no ano de 1950.


Além de compositor, José Fortuna foi também autor e escritor de 42 peças de teatro, tais como "O Punhal da Vingança", "O Selo de Sangue", "Voz de Criança", "Lenda da Valsa dos Noivos", "Crime de Amor", "Os Valentes Também Amam", "Coração de Homem", entre outras peças,  percorrendo todo o Brasil, e algumas cidades da América do Sul, com a Companhia Teatral Maracanã. Também atuava como ator de destaque em todas as suas criações teatrais, e a Companhia Teatral Maracanã acabou por receber inúmeros prêmios e troféus, tornando-se assim conhecidos dentro do universo da música sertaneja como "Os Reis do Teatro".

Em meio a todas essas atividades, publicou também 40 livretos com as letras de suas obras musicais e dezenas de estórias completas, todas em verso, a chamada Literatura de Cordel.

Após o encerramento das atividades com a Companhia Teatral Maracanã, por volta de 1975, passou então a se dedicar com maior afinco à composição. Foi a época dos grandes Festivais de Música Sertaneja promovidos pela Rádio Record, em que ele começou a trabalhar em parceria com Carlos Cezar.

Participou então seguidamente de mais de 20 Festivais, obtendo sempre as primeiras colocações, principalmente na Capital, onde nos anos de 1979, 1980 e 1981 venceu-os consecutivamente. Em um deles, no ano de 1979, obteve os três primeiros lugares com as músicas: "Riozinho" (1º lugar), "Berrante de Ouro" (2º lugar) e "Brasil Viola" (3º lugar).

Ainda em 1979, a Secretaria do Trabalho do Estado de São Paulo, oficializou "O Hino do Trabalhador Brasileiro", de José Fortuna e Carlos Cezar.

"Berrante de Ouro", por exemplo já tem mais de setenta regravações. Isto tudo ocorreu em meio a festivais onde participavam mais de 13.600 concorrentes, durante um período de seis meses, com eliminatórias em todas as Capitais e grandes cidades brasileiras.

Em 1981, também no Festival da Rádio Record, concorrendo com mais de dez mil composições, obteve o primeiro lugar com a música "O Vai e Vem do Carneiro", além de ganhar, juntamente com Carlos Cezar, os troféus de melhor letra, melodia, orquestração, interpretação e arranjo.

Zé Fortuna & Pitangueira
No âmbito da música sertaneja pode-se afirmar que não há um intérprete que não tenha gravado obras de José Fortuna, desde Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, João Paulo & Daniel, Milionário & José Rico, Tião Carreiro & Pardinho, Tonico & Tinoco, estes inclusive gravaram um LP com doze faixas só com obras de José Fortuna, homenageando o compositor, Sérgio Reis, Roberta Miranda, Cezar & Paulinho, Mococa & Paraíso, enfim, todos os intérpretes do gênero sertanejo, têm com certeza em seu repertório passado ou recente, obras musicais de José Fortuna.

Um fato curioso acontecido em sua vida, foi quando da inauguração da cidade de Brasília, ocasião em que José Fortuna teve o prazer de receber das mãos do então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, um cartão de congratulações e mérito por sua composição "Sob o Céu de Brasília", tida como o Hino Inaugural de Brasília.

O Rádio também foi outra de suas grandes paixões. Foi radialista durante toda a sua vida artística, e apresentou o "Programa José Fortuna" em quase todas as rádios da capital: TupiPiratiningaGazetaJornalRecordNove de JulhoSão PauloCometaNacionalDifusoraGloboMorada do Sol, entre outras.

Ao longo de sua vida, teve o prazer de receber inúmeros troféus, títulos e congratulações, destacando-se dentre estes:

  • Título de Cidadão Osasquense
  • Cartão de Prata e a Medalha Anchieta por iniciativa da Câmara Municipal do Estado de São Paulo
  • Título de Cidadão Paulistano
  • A Sala José Fortuna no Museu de sua cidade natal, Itápolis
  • A Avenida José Fortuna na sua cidade natal, Itápolis, inaugurada por ele apenas vinte dias antes do seu falecimento.

Outras cidades que o homenagearam, dando o seu nome à algumas praças e ruas são: São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Guarulhos, São Paulo, São Miguel Paulista, Osasco, Blumenau em Santa Catarina, São Carlos, Mogi das Cruzes e Mogi-Mirim.

A última foto de José Fortuna
Morte

José Fortuna faleceu no dia 10 de novembro de 1983, em sua casa, na cidade de São Paulo, vítima da Doença de Chagas que o acompanhou durante toda a sua vida, deixando sua esposa Durvalina e suas duas filhas Iara e Marlene. Está sepultado no Cemitério do Morumbi, São Paulo, e em sua campa há uma estrofe de um poema seu musicado, que se intitula "O Silêncio do Berranteiro":

"Aqui estou meus velhos companheiros
Olhem pra cima, pra me ver passando
Em meu cavalo, Raio de Luar
Pelo estradão de estrelas galopando
O meu berrante hoje são trombetas
Que os anjos tocam chamando a boiada
De nuvens brancas no sertão do espaço
Vindo ao curral azul da madrugada"

José Fortuna deixou inéditas perto de novecentas obras musicais, que foram sendo musicadas e gravadas por seus diversos parceiros, dentre estes destacando-se com maior afinco Paraíso, co-autor juntamente com José Fortuna de inúmeras obras musicais, tais como "O Ipê e o Prisioneiro", "Avenida Boiadeira", "Atalho" e "Raízes do Amor", sendo também o responsável pela administração de todo o repertório atual de José Fortuna.

Fonte: José Fortuna Site Oficial
Indicação: Miguel Sampaio

Tia Amélia

AMÉLIA BRANDÃO NERY
(86 anos)
Compositora e Pianista

* Jaboatão, PE (25/05/1897)
+ Goiânia, GO (18/10/1983)

Nascida em Jaboatão, PE, em 25 de maio de 1897, começou a ter contato com o piano aos 4 anos de idade. Seu pai era maestro da banda da cidade de Jaboatão, e também clarinetista e solista de violão. Sua mãe tocava piano. Aos seis anos, Amélia começou a estudar música, mas, seu pai exigiu-lhe que se dedicasse aos clássicos. Com doze anos, ela compôs sua primeira música, a valsa "Gratidão".

Com 17 anos, ela se casou e seu esposo a impediu de seguir carreira como pianista, os planos que ela acalentava. Indo morar em uma fazenda nos arredores de Jaboatão, Amélia tocava somente nas festas de amigos. Ela aproveitou para estudar o folclore musical das cercanias da cidade. Com três filhos, e aos 25 anos, ela ficou viúva. Para criá-los, ela abraçou a carreira artística profissionalmente.

A Rádio Clube de Pernambuco a contratou e lá, ela começou a fazer sucesso.

Por volta de 1929, foi ao Rio de Janeiro resolver algumas questões de direitos autorais com a gravadora Odeon. Logo, foi convidada a dar recital no Teatro Lírico, com grande êxito. Era chamada de a coqueluche dos cariocas. Devido a esse sucesso, ainda se apresentou na Rádio Mayrink Veiga, Rádio Sociedade e Rádio Clube do Brasil.

Ao voltar para Recife, continuou na Rádio Clube de Pernambuco e retomou suas pesquisas sobre a música folclórica pelo interior do estado.

Em 1930, vários intérpretes de nossa música popular gravaram composições suas: Elisa Coelho, Vicente Cunha, Elsie Houston, Alda Verona, Jararaca, Stefana de Macedo e Silene Brandão Nery (sua filha).

Voltou ainda ao Rio de Janeiro para algumas apresentações, quando o Itamarati, em 1933, a convidou para excursionar pelas Américas ao lado de sua filha, Silene, para que elas apresentassem composições inspiradas no folclore brasileiro.

Na Venezuela, o governo local a convidou para permanecer dois anos no país estudando o folclore venezuelano. Ela recusou o convite e partiu para os Estados Unidos, onde foi contratada por uma emissora de rádio de Schenactady, apresentando-se durante cinco meses sob o patrocínio da General Eletric.

Apresentou-se em New York e em New Orleans. Em Hollywood, ela e a filha foram convidadas para participar de um filme da RKO Pictures ao lado da orquestra de Rudy Vallée, mas não quis apresentar-se cantando e recusou.

Ela e a filha excursionaram pelo Brasil em 1939. Quando Silene se casou, ela resolveu abandonar a carreira, apresentando-se uma única vez no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, antes de se aposentar.

Foi morar em Marília, interior de São Paulo, e, depois, em Goiânia. Lá, na casa de sua filha, conheceu a cantora Carmélia Alves, que era uma grande admiradora do talento de Amélia. Foi Carmélia Alves quem a convenceu voltar a se apresentar. Depois de 17 anos, ela voltou apresentando-se no Rio de Janeiro e em São Paulo, com um repertório de chorinhos de sua autoria, agora com o nome artístico de Tia Amélia.

Trabalhou na Rádio Nacional, no Clube da Chave e em outros clubes cariocas, e em São Paulo atuou durante três meses na TV Record, TV Tupi e TV Paulista, hoje TV Globo. Viajou, em seguida, para Pernambuco trabalhando na Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Jornal do Comércio, de Recife.


O seu grande sucesso, entretanto, foi o programa "Velhas Estampas", que manteve durante 14 meses na TV Rio, no qual, além de tocar piano e apresentar suas composições, contava histórias dos velhos tempos de sua juventude. A convite da Odeon gravou o LP "Velhas Estampas", interpretando ao piano diversas composições de sua autoria, entre elas os chorinhos "Dois Namorados", "Chora, Coração", "Sem Nome", "Bordões ao Luar" (nome escolhido pelo poeta Vinícius de Moraes), "Sorriso de Bueno" e algumas valsas, acompanhada pela Banda Vila Rica.

Com esse disco, grande sucesso de vendagem, recebeu o prêmio de melhor solista e compositora do ano. Lançou depois novo LP pela Odeon, "Musicas da Vovó no Piano da Titia", e em julho de 1960 foi contratada pela TV Tupi, do Rio de Janeiro, para fazer um retrospecto da época áurea do choro brasileiro, semelhante ao que já fizera no programa "Velhas Estampas".

Tia Amélia fez sua última gravação em 1980, aos 83 anos, pelo selo Marcus Pereira, com o LP "A Benção Tia Amélia", onde interpretava 12 composições inéditas, entre valsas e choros.

Nessa época, o historiador musical José Ramos Tinhorão escreveu sobre ela:

"Assim, quando se ouve o som atual de Tia Amélia, pode-se dizer que é toda a história do piano popular brasileiro que soa em sua interpretação."

Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia, faleceu em Goiânia, GO, em 18 de outubro de 1983, aos 86 anos de idade.


A Casa de Tia Amélia

A casa onde residiu a famosa pianista Amélia Brandão localiza-se no final da Rua Duque de Caxias, em frente a Praça Santos Dumont, próximo aos Correios de Jaboatão Centro e à Primeira Igreja Batista de Jaboatão. Ela é bastante conhecida de todos, pois destaca-se por sua volumetria e arquitetura que indicam ser uma casa bastante antiga. O que poucos sabem é que ela foi residência de umas das artistas mais importantes e conhecidas surgidas em nossa terra: Amélia Brandão.

Apesar da importância que Amélia Brandão teve para a música brasileira, sua antiga residência encontra-se hoje abandonada e correndo sérios riscos de ser demolida. Isso está acontecendo por causa de um impasse jurídico sobre a propriedade da casa que está impedindo que os verdadeiros donos assumam a posse da residência. Enquanto a lenta justiça brasileira não resolve a questão, mais um patrimônio do povo jaboatonense vai desaparecendo.

Para quem quiser conhecer mais, é só consultar o livro "Relembrando Tia Amélia" de Adiuza Vieira Belo disponível no Instituto Histórico de Jaboatão.

Discografia

  • 1980 - A Benção, Tia Amélia
  • 1960 - Cuíca no Choro / Bom dia Radamés Gnattali
  • 1960 - As Músicas da Vovó no Piano da Titia
  • 1959 - Valência / Revoltado
  • 1959 - Velhas Estampas

Marçal de Souza

MARÇAL DE SOUZA
(62 anos)
Líder da Etnia Guarani-Nhandevá, Enfermeiro e Intérprete

* Ponta Porã, MS (24/12/1920)
+ Antônio João, MS (25/11/1983)

Marçal de Souza ou Marçal Tupã-I (Deus Pequeno), por muitos chamado de Marçal Guarani, foi um líder da etnia guarani-nhandevá (que habita o oeste do Brasil, nas fronteiras com Argentina, Bolívia e Paraguai), enfermeiro e intérprete da língua Guarani. Recentemente foi condecorado com a honra de Herói Nacional do Brasil pelo Governo Federal.

Marçal de Souza, foi defensor incansável dos povos nativos da América do Sul e um dos líderes precursores das lutas dos guaranis pela recuperação e pelo reconhecimento de seus territórios ancestrais, onde estão hoje Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, principalmente. Foi também um dos criadores do Movimento Indígena Brasileiro, tendo sido um dos fundadores e participado da primeira diretoria da União das Nações Indígenas (UNI), entidade que congrega indígenas brasileiros, fundada em 1980.

Aos 3 anos mudou-se para a aldeia de Te'ýikue, na cidade de Caarapó. Órfão aos 8 anos, passou a morar na Nhanderoga, nome dado a orfanatos de crianças indígenas, na Missão Caiuá, área indígena de Dourados. Aos 12 anos foi com um casal de missionários para Campo Grande. Conheceu um oficial do Exército que o levou para o Recife, onde realizou trabalho braçal em troca de comida, roupa e estudo.

De volta a Dourados, foi contratado pela Missão Caiuá como professor de crianças órfãs e intérprete de guarani. Em 1959 fez um curso na Organização Mundial de Saúde (OMS) e formou-se atendente de enfermagem, profissão que exerceu até sua morte em 1983.

Desde o início dos anos 70 denunciou a expropriação de terras indígenas, a exploração ilegal de madeira, a escravização de índios e o tráfico de meninas índias. Vítima de perseguições, em 1978 foi expulso de Dourados pela Funai e voltou a morar na aldeia Te'ýikue. Nesse ano, foi novamente transferido pela Funai, vai para a aldeia de Mbarakaju, em Antônio João.


Durante seu trajeto na luta em defesa das questões indígenas Marçal de Souza participou de diversos seminários, congressos e conferencias. Na luta por melhoria nas condições de vida de seu povo.

Em 1980, foi escolhido representante da comunidade indígena para discursar em homenagem ao papa João Paulo II em Manaus na primeira visita do papa ao Brasil. Ele afirmou em discurso ao pontífice. Em seu discurso falou sobre a invasão dos territórios indígenas, disse também, sobre os anseios da comunidade indígena brasileira e pediu para que o papa levasse seu clamor ao mundo:

"Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos… Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história".

Marçal de Souza participou do congresso nos Estados Unidos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do filme "Terra dos Índios".

Por sua rebeldia em denunciar e lutar pelos direitos de seu povo, ganhou diversos inimigos principalmente fazendeiros. No mesmo ano da visita do papa no Brasil, já transferido pela Funai, agora morando na aldeia Pirakuá no município de Antônio João, envolveu-se na luta pela posse de terras na área indígena de Pirakuá, em Bela Vista. A demarcação foi contestada pelo fazendeiro Astúrio Monteiro de Lima e seu filho Líbero Monteiro, que consideram a região parte de sua propriedade que era vizinha a dos índios.

Marçal de Souza foi vitima de perseguição por parte da Funai e ate mesmo por outras lideranças indígenas.

Morte

Após diversas ameaças e agressões, em 1983, Marçal de Souza foi brutalmente assassinado com 5 tiros no rancho de sua casa, na aldeia Campestre. Os acusados do crime, Líbero Monteiro de Lima e Rômulo Gamarra, acabam absolvidos em julgamento realizado somente dez anos depois, em 1993.

Marçal de Souza esta enterrado em Dourados, terra que viveu por bastante tempo e que deixou familiares, seu corpo esta sepultado no Cemitério Santo Antônio de Pádua. A luta de Marçal de Souza alarmou e acendeu a importante valorização e preservação dos povos indígenas.

Marçal de Souza foi um dos vários lideres assassinados na luta pela terra. Pessoa lembrada por Darcy Ribeiro em diversas escritas, foi também membro da igreja presbiteriana, enfermeiro, aculturado, interprete da língua guarani, conhecedor de diversas línguas estrangeiras.

Marçal de Souza já previa seu fim, Um pouco antes da sua morte ele teria dito: "Sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre...".

Margarida Rey


MARGARIDA REY
(61 anos)
Atriz

* Santos, SP (17/01/1922)
+ Rio de Janeiro, RJ (19/11/1983)

Margarida Rey foi uma atriz brasileira, integrante de importantes companhias dos anos 50, que permaneceu ativa nas transformações ocorridas nos anos 60. Dotada de forte personalidade, atingiu grandes desempenhos em papéis dramáticos e trágicos, seus momentos de maior êxito.

Margarida Rey estreou em "A Rainha Morta", de Henry de Montherland, uma direção de Ziembinski para "Os Comediantes", em 1946. No mesmo ano, esteve em um grande sucesso intitulado "Desejo", de Eugene O'Neill. Voltou em "Terras Do Sem Fim", adaptação de Graça Mello para o romance de Jorge Amado, em 1947.

Junto a "Os Artistas Unidos", a atriz participou de dois grandes espetáculos: "Medéia", de Eurípides, e "Uma Rua Chamada Pecado", de Tennessee Williams, ambos dirigidos por Ziembinski, com Henriette Morineau à frente do elenco, em 1948.

Em São Paulo, surgiu ao lado de Madalena Nicol, em "O Homem, A Besta E A Virtude", de Luigi Pirandello, em 1951. Contracenando com Nicette Bruno em "De Amor Também Se Morre", em 1952, e, com a Companhia de Delmiro Gonçalves, esteve em duas realizações cheias de ressonâncias: "A Falecida Mrs. Black", de Dinner e Morunr, e "A Ilha Das Cabras", de Ugo Betti, encenações de Rubens Petrilli de Aragão, que lhe deram dois prêmios Saci consecutivos.

Em 1954, Margarida Rey foi contratada pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) onde fez "Negócios De Estado" e "Cândida", em 1954, e "Santa Marta Fabril S.A.", em 1955.


Saiu do Teatro Brasileiro de Comédia para retornar ao Rio de Janeiro, na Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), atuando com destaque nas principais montagens da empresa, como "Otelo" de William Shakespeare, "A Viúva Astuciosa" de Carlo Goldoni, "Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Jean-Paul Sartre, todas em 1956, com novas premiações. "Natal Na Praça" de Henri Ghéon, em 1960, "Calúnia" de Lillian Hellmann, "Seis Personagens À Procura De Um Autor" de Luigi Pirandello"Esses Maridos" e "O Castelo Da Suécia" de Françoise Sagan, "Arsênico e Alfazema" de Joseph Kesselring, em 1961.

Em São Paulo, na Companhia Nicette Bruno, interpretou "Oito Mulheres", de Robert Thomas, com direção de Luís de Lima, em 1963. Voltou ao gênero trágico, em 1965, na montagem de "Electra", de Sófocles, ao lado de Glauce Rocha, com o diretor Antônio Abujamra à frente do Grupo Decisão.

Em 1966, Margarida Rey esteve em "Os Físicos", de Dürrenmatt, novamente com Ziembinski e, no ano seguinte, na montagem de "Édipo Rei", direção de Flávio Rangel para a companhia de Paulo Autran. Em 1968, participou de "O Burguês Fidalgo", de Molière, direção de Ademar Guerra para o mesmo conjunto.

Em 1974, ressurgiu ao lado de Miriam Mehler em "Bonitinha, Mas Ordinária", de Nelson Rodrigues, uma encenação de Antunes Filho.

Margarida Rey "Os Inconfidentes"
Sua interpretação em "A Ilha Das Cabras" motivou o crítico Décio de Almeida Prado a comentar:

"Margarida Rey tem no drama de Ugo Betti o maior desempenho de sua carreira. Embora contracenando com três bons atores, esmaga-os com sua sobriedade, a sua força autêntica e profunda, a sua impecável dignidade, a sua noção de medida que é calor e não frieza. Margarida sempre foi uma excelente atriz mas ascende agora ao rol, muitíssimo restrito, das grandes atrizes. A sua preocupação, durante muito tempo, será a de manter e não de ultrapassar o nível deste seu desempenho."

Também atuou na televisão e no cinema.

No cinema, estreou em "Alegria De Viver" (1958). Em 1962, protagonizou o filme "Porto Das Caixas" (1962). Depois, interpretou a rainha Maria I de Portugal no filme "Os Inconfidentes" (1972).

Na televisão, Margarida Rey esteve nas novelas "Nenhum Homem É Deus" (1969), "Super Plá" (1969), "Bandeira 2" (1971), "O Bofe" (1972), "O Bem-Amado" (1973), onde interpretou a irmã do personagem Zeca Diabo, "Anjo Mau" (1976) e "Sem Lenço, Sem Documento" (1977).

Margarida Rey faleceu no Rio de Janeiro, aos 61 anos de idade, vítima de um Edema Pulmonar.

Fonte: Wikipédia

Yolanda Penteado

YOLANDA DE ATALIBA NOGUEIRA PENTEADO
(80 anos)
Fazendeira e Mecenas 

* Leme, SP (06/01/1903)
+ Stanford, Estados Unidos (14/08/1983)

Yolanda de Ataliba Nogueira Penteado era membro de umas das famílias mais tradicionais da aristocracia brasileira, filha de Juvenal Leite Penteado e de Guiomar de Ataliba Nogueira, descendendo por seu pai de João Corrêa Penteado e Izabel Paes de Barros.

Nasceu na riquíssima Fazenda Empyreo, no município de Leme, São Paulo, sendo fazendeira sensível aos rumos da produção rural no Brasil, e amante e incentivadora das artes, mulher pioneira e grande colecionadora. Também costumava frequentar a famosa casa do senador José de Freitas Valle, o senhor da Villa Kyrial, no bairro de Vila Mariana em São Paulo, o salão cultural mais importante da capital paulista, no início do século XX, sendo um dos idealizadores da Semana da Arte Moderna, em 1922, onde abrigou grandes nomes da arte, como Lasar Segall, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Sarah Bernhardt e tantos outros.

Sobrinha de Olívia Guedes Penteado, "Baronesa do Café" e também grande patronesse das artes de São Paulo, na década de 1920, teve um rápido relacionamento afetivo com o aviador e patrono da Aeronáutica Alberto Santos Dumont no fim de sua adolescência. Aos 16 anos conhece Assis Chateaubriand, um jovem jornalista de 27 anos, com quem estabelece uma amizade duradoura e que abusada, mas carinhosamente, a chamava de a "caipirinha de Leme", justo a ela, uma aristocrata refinada.

Yolanda Penteado e Ciccillo exibem óleo de G. De Chirico - (Banco de Dados: Folhapress)
Em 1921 casou-se com com Jayme da Silva Telles, amigo de sua família, de quem se desquitou após 13 anos, causando polêmica em São Paulo, e, em 1943, casou-se no México (ou "mexicou", como se dizia na ocasião, pois não era uma união válida no Brasil), com o ítalo-brasileiro Francisco Matarazzo Sobrinho, conhecido como Ciccillo, uma pessoa muito rica e influente na época.

Não tiveram filhos, pois Yolanda Penteado tinha "útero infantil", e jamais poderia engravidar. Era extremamente ligada aos sobrinhos, especialmente à sobrinha Marilu Pujol Penteado Novaes, filha de Juvenal Penteado e Odila Pujol Penteado, que se casou com Otávio Novaes, filho da renomada pianista Guiomar Novaes. Marilu faleceu em desastre automobilístico aos 27 anos, exatamente quando se dirigia à Fazenda Empyreo

O casamento com Ciccillo Matarazzo, em 1947, dá início a seu envolvimento com as artes plásticas, gosto que compartilha com Assis Chateaubriand, que nesse ano inaugura o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em área na sede de seus Diários Associados.

Yolanda Penteado testando um invento de seu amigo Santos Dumont
Numa temporada em Davos, na Suíça, para recuperação da saúde de seu marido, ele e Yolanda Penteado conhecem o pintor Alberto Magnelli, que os assessora na aquisição da coleção de arte que iria formar o acervo inicial do Museu de Arte Moderna de São Paulo, fundado pelo casal em 1948. Na Itália adquirem o "Auto-Retrato", de Modigliani, e "O Cavalo", de Marino Marini.  

Inspirada nos moldes da Bienal de Veneza, a 1ª Bienal Internacional de São Paulo foi inaugurada em 20 de outubro de 1951, organizada por Yolanda Penteado e Ciccillo Matarazzo, com 1.800 obras e 21 países e, na 2ª Bienal, em dezembro de 1953, trouxeram de Nova York, onde estava guardada esperando o fim da ditadura de Franco para seu retorno a Espanha, a obra "Guernica", de Pablo Picasso, como presente à cidade de São Paulo, nos seus 400 anos, comemorados em 25 de janeiro de 1954.

Teve importante papel no estabelecimento do Museu de Arte Moderna de São Paulo e das Bienais, inclusive doando sua coleção particular e generosos recursos ao Museu de Arte Contemporânea da USP e colaborou com Assis Chateaubriand no Museu de Arte de São Paulo e na implantação dos Museus Regionais (Olinda, Campina Grande e Feira de Santana).

Médici abraçando Yolanda Penteado, em 1971 (Fonte: Estadão)
Yolanda Penteado ajudou na organização da 5ª Bienal, em 1959, com destaque para 30 telas de Vincent van Gogh. Em 1961, desligou-se da bienal e se separou de Ciccillo Matarazzo, com quem viveu por 14 anos.

Em 1962 a Bienal Internacional de São Paulo se dissocia do MAM/SP, com a criação da Fundação Bienal, e o patrimônio do museu foi transferido para a Universidade de São Paulo, dando origem ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).

Em 1975 Yolanda Penteado escreveu sua biografia, intitulada "Tudo Em Cor-de-Rosa", com prefácio de Sérgio Buarque de Holanda.

Não foram poucas as marcas profundas deixadas por Yolanda Penteado, assim como abundam os episódios com personalidades e mesmo de sua vida pessoal, tal como a separação de Ciccillo Matarazzo ou a venda da Fazenda Empyreo, ao senador Pedro Piva, e a tristeza da área que restou dela, cortada pela rodovia.

A lendária Fazenda Empyreo, hoje propriedade da família Piva, no município de Leme, interior de São Paulo, tinha escritura em nome de Yolanda Penteado. Não era de marido nenhum, era dela.

Yolanda Penteado morreu vítima de câncer em 1983.


Minissérie é Inspirada em Yolanda Penteado

A minissérie "Um Só Coração", de Maria Adelaide Amaral, conta a história de São Paulo por meio de Yolanda Penteado. O papel de Yolanda Penteado foi de Ana Paula Arósio. Já o papel de Guiomarita, irmã de Yolanda Penteado, foi da estreante Gabriela Hess, de 28 anos, descendente direta de Yolanda Penteado. Guiomarita era sua bisavó na vida real.

Blecaute

OTÁVIO HENRIQUE DE OLIVEIRA
(63 anos)
Cantor e Compositor

*  Espírito Santo do Pinhal, SP (05/12/1919)
+  Rio de Janeiro, RJ (09/02/1983)

O mais carioca dos paulistas, como ele mesmo se dizia, durante quase 40 anos, ajudou a animar, com seu sorriso muito branco, a voz e a ginga de corpo, a maior festa popular brasileira. Era a figura ilustre que abria o Carnaval carioca, sábado de manhã, na Cinelândia: "Eu não gosto de carnaval. Eu sou o Carnaval".

Era também conhecido pela alcunha de "General da Banda", devido a seu maior sucesso.

Em 1925, aos seis anos, órfão de pai e mãe, foi para São Paulo. Teve uma infância difícil em São Paulo. Foi engraxate, entregador de jornais, biscateiro.

Em 1933, participou do programa de calouros "A Peneira de Ouro", na Rádio Tupi. Em 1941, já cantava na Rádio Difusora, adotando o nome artístico, sugerido por Capitão Furtado, de Black-Out, aportuguesado para Blecaute, devido a sua etnia negra.

Em 1942, contratado pela Rádio Tamoio, foi para o Rio de Janeiro. Lá apresentou-se também na Rádio Mauá e na Rádio Nacional.

Em 1944 participou, como cantor, do filme "Tristezas Não Pagam Dívidas" e gravou o primeiro disco, "Eu Agora Sou Casado".

O Carnaval de 1949 trouxe os grandes sucessos "O Pedreiro Valdemar" (Wilson Batista e Roberto Martins) e "General da Banda" (Tancredo Silva, Sátiro de Melo e José Alcides), que lhe valeria a alcunha que carregaria para o resto da vida.

Em 1954, faria participações nos filmes "Malandros em Quarta Dimensão", de Luiz de Barros, e "O Rei do Movimento", de Victor Lima e Hélio Barroso.

Morte

Blecaute morreu aos 63 anos de idade às 12:45 hs do dia 09/02/1983, após uma prolongada doença. Ele estava internado no Hospital Cardoso Fontes em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Foi enterrado mo Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Blecaute estava afastado do mundo artístico por conta de sua saúde se encontrar debilitada. Ele sofria de Hipertensão Arterial e, segundo os médicos do Hospital Cardoso Fontes, onde estava internado, originou outros males. No atestado de óbito constam como causas da morte, além da  Hipertensão Arterial, Choque Cardiogênito, Cardiopatia Hipertensiva, Insuficiência Renal Crônica e Hemorragia Subaracnóide.

Blecaute viveu os últimos anos em sérias dificuldades financeiras, com saúde extremamente debilitada. "Tudo isso é assim mesmo", dizia conformado. Um anos antes de morrer, artistas realizaram um show beneficente. Sabia que não realizaria mais o antigo sonho que nutriu a vida inteira: um LP reunindo todos os seus sucessos de carnaval.

Discografia

  • 1944 - Minha Tereza / Eu Agora Sou Casado
  • 1947 - Opa.. Opa… / Dona Maria
  • 1948 - O Biriba Esteve Aqui / Carioca Bonita
  • 1948 - Chegou a Bonitona / Zing-zing-bum
  • 1948 - Vote! Que Mulher Bonita! / Que Samba Bom
  • 1948 - Pedreiro Waldemar / Desce, Favela
  • 1949 - Moreninha, Moreninha / Meu Guarda-Chuva
  • 1949 - Oito Mulheres / Baiana Tereza
  • 1949 - Rei Zulu / O Presidente Chegou
  • 1949 - General da Banda / Marcha do "O"
  • 1949 - Leilão de Ali Babá / Salve Mangueira
  • 1950 - Ave-Maria / Rosinha, Vem Cá
  • 1950 - Joãozinho Boa-Pinta / Meu Doce de Côco
  • 1951 - Ai Cachaça / Papai Adão
  • 1951 - Borocochô / Onda Vai, Onda Vem
  • 1951 - Dia dos Namorados / O Delegado Quer Prender o Antônio
  • 1951 - Mambo no Samba / Fã Número 1
  • 1951 - Sujeito Sem Jeito / Televisão
  • 1951 - Borboleta Dourada / Que Coisa Boa!
  • 1951 - Maria Candelária / Não Dou Cartaz
  • 1952 - Santo Antônio Não Gosta
  • 1952 - Pedido à São João / Calvário do Amor
  • 1953 - Dona Cegonha / Rico Vai na Chuva
  • 1953 - A Banca do Guarda / Não Agüento Essa Mulher
  • 1953 - Santo Antonio Sabe / Tim Tim o Lá Lá
  • 1953 - A Dor Que Mais Dói / Primeiro Eu
  • 1953 - Escravo da Obrigação / Papagaio Falador
  • 1953 - Ai Meu Senhor / Piada de Salão
  • 1954 - Marina Sapeca / Primeira Valsa
  • 1954 - Caridade / Cabrocha
  • 1954 - Batuque dos Meninos / Samambaia Pegou Fogo
  • 1955 - Lágrimas / Maria Escandalosa
  • 1955 - Napoleão Boa Boca / Velha Guarda
  • 1955 - Quem Será? / Agarradinho
  • 1955 - Torcedor do Mengo
  • 1955 - Minha Senhora / Ingrata Rosinha
  • 1955 - Linguagem do Povo / Use a Cabeça
  • 1955 - Natal das Crianças / Noiva Querida
  • 1956 - Ressurreição / Marcha das Fãs
  • 1956 - Mulher é Aquela / Maria Champanhota
  • 1956 - Vou-me Embora Sá Dona / A Vez do Bobo
  • 1956 - Baião de Minas Gerais / A Mulher do Palhaço
  • 1956 - Mambo Bacana / Carla
  • 1957 - Aquele Amor / Lavadeira
  • 1957 - Inventor da Mulata / Meu Coração Soluçou
  • 1957 - Ambição / Lá Vem Ela
  • 1957 - Mambo Carioca / Triste Recordação
  • 1957 - Canção da Mamãe
  • 1957 - Se Papai Fosse Eleito / História de Sempre
  • 1957 - Decisão Amarga / Rei dos Reis
  • 1958 - Tô de Prontidão / Serenou, Serenou
  • 1958 - Chora, Doutor / Volta Redonda
  • 1958 - Está Chegando o General / Rebola Feola
  • 1959 - Um Romance em Brasília / Samba do Play-Boy
  • 1959 - Natal de Jesus / Feliz Ano Novo
  • 1959 - É Pra Todo Muno Cantar
  • 1960 - Banho Diferente / A Sogra Vem Aí
  • 1960 - Sem Mulata é Fogo / Balançou, Balançou
  • 1960 - Rosa Errante / Quero Morrer no Rio
  • 1961 - Samba da Cor
  • 1961 - Acabou a Sopa / Direitos Iguais
  • 1961 - Mulher Toda Hora / A Casa Oficial
  • 1961 - Maria Brasília
  • 1962 - Na Boca do Povo
  • 1968 - Carnavália - Museu da Imagem e do som LP
  • 1993 - Carnaval - Sua História e Sua Glória, Vol. 9
  • 1994 - Carnaval - Sua História e Sua Glória, Vol. 11

Fonte: Wikipédia

Humberto Mauro

HUMBERTO MAURO
(86 anos)
Cineasta

* Volta Grande, MG (30/04/1897)
+ Volta Grande, MG (05/11/1983)

Humberto Mauro foi um dos pioneiros do cinema brasileiro. Fez filmes entre 1925 e 1974 sempre com temas brasileiros.

Filho de Gaetano Mauro, imigrante italiano, e de Teresa Duarte, mineira culta e poliglota, ele nasceu na Zona da Mata mineira dois anos depois da histórica sessão cinematográfica promovida pelos irmãos Lumière, em Paris. Quando criança, mudou-se com a família para Cataguases.


O Começo: O Ciclo de Cataguases

Desde cedo se dedicou à música, tocando o violino e o bandolim. Interessado também em mecânica, ingressou no curso de engenharia em Belo Horizonte, que abandonou um anos depois para voltar a Cataguases. Como as linhas de transmissão de eletricidade chegavam à região, trabalhou na instalação de energia elétrica nas fazendas.

Foi para o Rio de Janeiro em 1916, onde trabalhou como eletricista, retornando a Cataguases em 1920. Neste mesmo ano casou com Maria Vilela de Almeida (Dona Bebê), com quem permaneceu casado pelo resto da vida.

Em 1923, passou a se interessar por fotografia. Adquiriu uma câmera Kodak de Pedro Comello, pai da atriz Eva Nill, imigrante italiano a quem convenceu a se instalar em Cataguases como fotógrafo e de quem se tornaria amigo inseparável. Ambos compartilhavam de uma paixão pelo cinema, principalmente pelos filmes americanos de aventura. Admirava D.W. Griffith e King Vidor.

Em 1925, Humberto Mauro e Pedro Comello compraram uma câmara cinematográfica de 9,5 mm, marca Pathé, com a qual Humberto Mauro filmou um curta-metragem cômico de apenas 5 minutos de duração. Mostraram esse filme a comerciantes locais, tentando convencê-los a investir numa companhia produtora de filmes em Cataguases. Com o apoio financeiro de Homero Domingues compraram uma câmara de 35 mm e centenas de metros de filme. Mas o filme que resolveram fazer ficou inacabado.

Ainda em 1925, com a participação do negociante Agenor Cortes de Barros, fundaram em Cataguases a Phebo Sul América. Em 1926 realizam "Na Primavera da Vida" e em seguida "Thesouro Perdido", um filme nos moldes dos filmes de aventura americanos, com muitas e complicadas cenas de ação. Foi premiado como o melhor filme brasileiro de 1927. Este filme contou com a única participação nas telas da mulher de Humberto Mauro, com o nome artístico de Lola Lys.

Com o sucesso de "Thesouro Perdido", Humberto Mauro pôde ampliar sua produtora, rebatizada de Phebo Brasil, e desenvolver filmes de acordo com sua visão pessoal. Seu trabalho seguinte, "Brasa Dormida", é uma bem sucedida mistura de aventura e romance, com excelente aproveitamento dos cenários naturais, em que não falta uma excitante, para os padrões da época, cena erótica. Lançada em 1929, foi distribuída para todo o país.

Seu longa-metragem seguinte, seu último para a  Phebo Brasil, "Sangue Mineiro" é considerado sua obra-prima em Cataguases. Lançado em julho de 1929, percorreu todo o país com sucesso de crítica e público. Aqui ele deixa de lado a aventura e faz um filme intimista, em que os únicos conflitos são os do coração.

Humberto Mauro manteve estreitas ligações com poetas e escritores modernistas da época, especialmente com os integrante do chamado Movimento Verde. Criado em Cataguases após a Semana de Arte Moderna de 1922, tinha como integrantes Rosário Fusco, Francisco Inácio Peixoto, Ascânio Lopes e Guilhermino César, dentre outros, que eram responsáveis pela edição da Revista Verde, um dos marcos da literatura modernista brasileira.

Humberto Mauro e Ronaldo Werneck (1975)
Cinédia

Com o surgimento da Cinédia, em 1929 ele vai para o Rio de Janeiro e começa a trabalhar com Adhemar Gonzaga, dirigindo as primeiras produções do estúdio, "Barro Humano" e "Lábios Sem Beijos", mostrando domínio na técnica do cinema falado.

O sucesso desses filmes tornou a Cinédia o estúdio mais importante da época. Em 1931 foi lançado "Mulher", na qual Humberto Mauro atuou como câmera, cabendo a direção a Octavio Gabus Mendes. Seu filme seguinte, "Ganga Bruta", teve dificuldades na sua realização que se prolongou de 1931 a 1933. Era um filme de estrutura narrativa revolucionária para a época, com flashbacks e cortes rápidos.

Depois de dirigir a "Voz do Carnaval" (1933), seu primeiro musical, troca a Cinédia pela Brasil Vita Filmes (1934), um estúdio fundado pela atriz Carmen Santos, estrela de vários filmes de Humberto Mauro. Na nova casa, fez "Favela dos Meus Amores" (1935) e "Cidade Mulher" (1936).

Instituto Nacional do Cinema Educativo

A convite de Edgar Roquette-Pinto, Humberto Mauro se junta ao Instituto Nacional do Cinema Educativo, onde por décadas realizou documentários sobre temas tão variados como astronomia, agricultura e música.

Enquanto trabalhou no Instituto Nacional do Cinema Educativo, Humberto Mauro dirigiu apenas três longas metragens: "Descobrimento do Brasil" (1937), com música de Villa-Lobos, "Argila" (1940) e "Canto da Saudade" (1952), onde também trabalha como ator, num papel secundário.

Afastado do cinema desde 1974, quando fez o curta-metragem "Carro de Bois", passou a viver em seu sítio Rancho Alegre, em Volta Grande, onde morreu, aos 86 anos, quase que completamente cego, após uma forte pneumonia.

Humberto Mauro é autor do mais significativo ciclo regional do cinema brasileiro, iniciado em 1926 com "Na Primavera da Vida". Durante seus últimos anos de vida, Humberto Mauro foi a inspiração principal da geração do Cinema Novo. Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha eram seus admiradores declarados.

Mesmo sem dirigir, deu colaboração informal a cineastas como o próprio  Nelson Pereira, para quem escreveu os diálogos em tupi-guarani de "Como era Gostoso o Meu Francês", Paulo César Saraceni e Alex Vianny.

Apesar de não ter feito carreira internacional, devido às limitações da época, foi homenageado no Festival de Cannes como um dos cineastas mais importantes do século XX.

Em 1936 a carreira de Humberto Mauro sofreu mudança, ele se rendeu ao documentário. A pedido do então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, o professor Edgar Roquette-Pinto criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo e convidou Humberto Mauro. Filmou mais de 300 documentários de curta, entre 1936 e 1964: "Dia da Pátria", "Lição de Taxidermia", "Vacina Contra Raiva", "A Velha a Fiar" e "Higiene Doméstica", e, a série "As Brasilianas", na qual registrou exibições de músicas folclóricas.

Fonte: Wikipédia

Gilberto Lima

GILBERTO LIMA
(40 anos)
Radialista e Locutor

* Varginha, MG (23/12/1942)
+ Rio de Janeiro, RJ (17/08/1983)

Gilberto Lima iniciou a carreira numa emissora de sua cidade, a Sociedade Rádio Clube de Varginha no programa infantil chamado "Petizada Alegre" que também revelou outro talento bastante conhecido, o cantor Sílvio Brito. Além da apresentação do programa ele fazia locução de vários comerciais dos patrocinadores: Palácio do Lar, Café Dubom, Pastifício Santa Maria e Macarrão Cristal.

Ainda jovem foi para São Paulo e conseguiu ser contratado pela Rádio Piratininga. Nessa época, existe um fato curioso a ser relatado: Ele gravou um compacto com duas faixas em 1976 pela gravadora Continental mas desistiu da carreira de cantor. As duas músicas são "Dê-me Um Beijo" e "Você é Demaisss".

Foi para São Paulo contratado pela Rádio Globo do Rio de Janeiro em 15/11/1978 para cobrir férias dos comunicadores, até que conseguiu o seu próprio programa.

Gilberto Lima trabalhou com Sílvio Santos na Rádio Nacional. Em 1977, tornou-se narrador do programa de TV "Fantástico", da Rede Globo.

Foi casado com a cantora Bárbara Martins.

Sílvio Santos e Gilberto Lima
Morte

Gilberto Lima era epiléptico e morava sozinho em um apartamento próximo a Rádio Globo no Rio de Janeiro. E como ele não chegava ao local de trabalho, todo mundo desesperado começou a procura-lo. Logo depois tiveram a notícia que Gilberto Lima havia falecido vítima de asfixia. Estava dormindo e teve uma convulsão. Morreu em 17/08/1983 no auge da carreira aos 40 anos de idade.