Cineasta, Roteirista, Produtor e Crítico de Cinema
* São Paulo, SP (1922)
+ São Paulo, SP (1996)
Gervásio Rubem Biáfora foi um cineasta e crítico de cinema brasileiro.
Aos 6 anos iniciou uma coleção de recortes de filmes, que iria formar um importante arquivo, doado em parte ao Curso de Cinema da Faculdade Armando Penteado. Aos 12 anos, mais de uma vez por semana, atravessava as linhas de trem em direção ao bairro do Brás, para ver os cartazes de cinema e fazer suas anotações.
Ingressou na imprensa em 1937. Crítico de cinema em atividade desde 1940, fez parte da primeira grande geração de críticos paulistanos, ao lado de Paulo Emílio Sales Gomes, Almeida Salles, B.J. Duarte, Afrânio Zuccolotto, Carlos Ortiz e Flávio Tambellini.
Escreveu para as publicações Platéia, O Dia, Revista Inteligência e Jornal de São Paulo. Fundou o Clube de Cinema de São Paulo em 1946, que mais tarde iria se transformar na Cinemateca Brasileira.
Em 1948 assumiu a coluna de cinema na Folha da Noite e empreendeu suas primeiras experiências em 16 mm. Em 1950, com José Júlio Spiewak, organizou o Grupo de Cinema Orson Welles.
Transferiu-se em 1953 para O Estado de S.Paulo, onde permaneceu por cerca de 30 anos (1982). Apoiou a tentativa do cinema industrial paulista e até algumas chanchadas cariocas. Inimigo ferrenho do Cinema Novo, apostou suas fichas na produção da Boca do Lixo.
Grande é o número de seus discípulos: Jacob Timoner, Walter George Durst, Walter Hugo Khouri, Carlos M. Motta, José Júlio Spiewak, Maurício Rittner, Alfredo Sternheim, Rubens Ewald Filho, Astolfo Araújo, Rubens Stoppa e Juan Bajon.
No período da Guerra Fria, foi acusado de americanófilo e de direitista com Antônio Moniz Viana, crítico do jornal carioca Correio da Manhã. Acusações injustas em função do domínio absoluto da produção americana na época, com mais de 300 filmes anuais, além de um competente sistema de distribuição internacional de seus produtos.
No ano de 1954 escreveu e dirigiu seriados de ficção científica e teleteatros na TV Record.
Em 1955 colaborou anonimamente no roteiro do longa "Sob o Céu da Bahia" de Ernesto Remani. Depois, nos estúdios da Vera Cruz, dirigiu o último filme da Brasil Filme, de produção de Flávio Tambellini, "Ravina", drama de época, com os protagonistas Eliane Lage e Mário Sérgio, duas estrelas remanescentes do estúdio paulista.
Em 1964, com o roteiro "O Monstro", tenta a realização de seu segundo longa.
Em 1966 fundou a Data Cinematográfica, quando dirigiu o curta colorido "Mário Gruber", retratando o pintor paulista. Produziu, escreveu e dirigiu "O Quarto", drama ambientado no centro da capital paulista, que mostra a triste vida cotidiana de pequeno funcionário de repartição pública.
Em 1970 é roteirista de "As Gatinhas", de Astolfo Araújo, que assina com o pseudônimo de Otto Leme. No ano seguinte também produziu "As Noites de Iemanjá", de Maurício Capovilla, e "Fora das Grades" de Astolfo Araújo. Foi o produtor, diretor e roteirista de "A Casa das Tentações", retrato da decadência da família tradicional.
Em 1978, colaborou outra vez, anonimamente, no roteiro do filme "Alucinada Pelo Desejo", único filme dirigido pelo seu ator predileto, Sérgio Hingst.
Rubem Biáfora morreu aos 74 anos vítima de um Acidente Cardiovascular.
Fonte: Enciclopédia do Cinema Brasileiro (Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe Miranda - Pag. 58)
Autodidata, Lima Barreto iniciou no cinema nacional na década de 1940 filmando curta-metragens como "O Caçador de Bromélias" e "Fazenda Velha".
"Comecei no cinema carregando tripé para o velho Del Picchia. Depois tomei emprestada uma câmera Kinamo, cavei 25 metros de negativo... e descobri meu mundo - sempre cheio de beleza"
A primeira tentativa de filme sério de Victor Lima Barreto foi "Como Se Faz Um Jornal", para O Estado de S.Paulo. Nos anos 40, fez fotografias de reportagem, foi redator da Rádio Tupi e trabalhou para o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) de São Paulo, realizando cinejornais e documentários. É dessa época "Fazenda Velha" (1944).
"Seu Bilhete, Por Favor" e "A Carta de 46" - ambos de 1946 - passaram inteiramente despercebidos pela crítica; que no entanto ressalta, além de "Fazenda Velha", as qualidades de "Caçador de Bromélias" (1946), feito para o Serviço Nacional da Malária.
Lima Barreto ingressou na Companhia Cinematográfica Vera Cruz em 1950, a convite de Alberto Cavalcanti. Seu primeiro filme para a produtora foi o documentário de curta-metragem "Painel" (1950), tendo como tema o painel sobre "Tiradentes" de Cândido Portinari, lançado junto com o primeiro longa-metragem da Vera Cruz, "Caiçara".
No ano seguinte, dirigiu "Santuário" (1951), sobre os profetas do Aleijadinho em Congonhas do Campo, MG. A premiação do filme no II Festival de Veneza de Filmes Científicos e Documentários, em agosto de 1951, abria-lhe a possibilidade de realização de um primeiro longa-metragem. A Vera Cruz, porém, relutava em aprovar o projeto de "O Canganceiro" (1953), no qual se empenhava o realizador desde a sua entrada na companhia.
Anunciada em setembro de 1951, a produção só iniciou no ano seguinte. Lima Barreto visitou a Bahia, pesquisando o cangaço, mas as locações foram realizadas em Vargem Grande do Sul, no interior de São Paulo. A filmagem, turbulenta e demorada, se arrastou por nove meses, e era de longe a mais cara que o cinema brasileiro conhecia até então. Finalmente concluído no final do ano, o filme foi lançado em janeiro de 1953, encabeçando um circuito de 24 salas em São Paulo, e pouco mais tarde em circuito nacional. Em cartaz durante seis semanas consecutivas, em dezenas de cinemas com casas lotadas, "O Cangaceiro", com Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro e Vanja Orico, alcançou o maior número de espectadores que já obteve o cinema brasileiro em toda a sua história, e logo em seguida bateu o recorde absoluto de rendimento de quaisquer filmes, nacionais ou estrangeiros, até então exibidos no mercado brasileiro.
Apresentado em abril no Festival de Cannes, o filme chamou a atenção da crítica internacional e conquistou dois prêmios: o melhor filme de aventura e menção especial para a música. Meses depois, foi ainda o melhor filme do Festival de Edimburgo. Era a consagração - para Lima Barreto e para a Vera Cruz -, que, no entanto, chegava tarde para a produtora afogada em dívidas. Meses depois a Vera Cruz vendeu os direitos do filme à Columbia Pictures, que o distribuiu durante anos por todo o mercado internacional, com enormes rendimentos. Com essa obra, surgiu um novo gênero cinematográfico muito utilizado depois, o "cangaço".
Em setembro de 1953, Lima Barreto viajou pelo Nordeste, da Bahia ao Ceará, em busca de locações para o seu novo projeto: "O Sertanejo". Abordando temas ligados à figura de Antônio Conselheiro, ao contrário de "O Cangaceiro", o filme desta vez seria rodado no interior baiano. Previstas para o final do ano de 1953, as filmagens foram sendo sucessivamente proteladas e sequer iniciaram. Mais complexo, mais ambicioso e muito mais caro que o anterior, a Vera Cruz não tinha condições de produzir o filme. Em guerra aberta contra o que considerava um boicote da companhia, o diretor buscou outros produtores, fez campanhas pelos jornais, anunciou novos projetos - mas não desistiu de "O Sertanejo". Uma leitura pública do roteiro, feita por ele próprio, causou enorme e duradoura impressão.
Em junho de 1954, já nos estertores, a Vera Cruz produziu "São Paulo em Festa", documentário de longa-metragem sobre os festejos do IV Centenário de São Paulo, dirigido por Lima Barreto. Foi o último filme da companhia - e seria o único longa-metragem do diretor nos próximos seis anos.
Falida a Vera Cruz, Lima Barreto realizou três documentários: "Arte Cabocla" (1955), premiado com um Saci, "O Livro" (1957) e "O Café" (1959); o último - e eventuais outros que não deixaram rastros - são filmes institucionais de encomenda.
Iniciou uma coluna para o jornal O Dia. Escrevia contos, novelas, argumentos e roteiros, ensaiou uma história do cinema em São Paulo - e continuou procurando produção para "O Sertanejo".
Durante as Filmagens de "O Cangaceiro"
Em dezembro 1957, anunciou a realização de "A Primeira Missa" - que iniciou em março de 1960. Fartamente divulgado pela imprensa, e ansiosamente aguardado, o novo filme de Lima Barreto decepcionou. "A Primeira Missa", baseado num conto de Nair Lacerda, "Nhá Colaquinha Cheia de Graça", com locações em Jambeiro, no estado de São Paulo, é uma crônica interiorana, centrada na história de um menino que se torna padre. Apresentado no Festival de Cannes de 1961, o filme foi praticamente ignorado - quando não tratado com frieza ou ironia. No Brasil, não fez boa carreira: exaltado pelas associações católica de cultura cinematográfica e recebido com simpatia por parte da crítica, ainda assim não foi o que se esperava do "laureado diretor" de "O Cangaceiro".
Nos anos 60, Lima Barreto filmou um documentário de média-metragem, "Psicodiagnóstico Miocinético" (1962). Publicou dois livros, "Lima Barreto Conta Histórias" (1961) e "Quelé do Pajeú" (1965). Continuou a anunciar novos projetos - cada vez mais caros e mais ambiciosos - e periodicamente retomou os antigos, acalentados desde os tempos da Vera Cruz. São na maior parte adaptações de romances brasileiros famosos, ou grandes temas épicos ligados à história do Brasil: "A Retirada da Laguna", "Plácido de Castro", "O Alienista", "Nos Idos de Sorocaba", "Cântico da Terra", "Pau Brasil", entre muitos outros. Os preferidos - aos quais voltava sempre - são "Quelé do Pajeú" e "O Sertanejo", que deveriam compor, junto com "O Cangaceiro", a sua "Trilogia do Nordeste".
No final dos anos 60, dois de seus roteiros - "Inocência" e "Um Certo Capitão Rodrigo" - recebem o prêmio do Instituto Nacional do Livro de melhor adaptação cinematográfica de obra literária, respectivamente em 1968 e 1969.
Oito anos depois, pobre e doente, morando numa casa de cômodos semidestruída na Bela Vista, Lima Barreto ainda tinha forças para mais uma vez anunciar a filmagem de "Inocência". Embora não por ele, "Quelé do Pajeú" e "Inocência" foram afinal filmados, o primeiro por Anselmo Duarte e o segundo por Walter Lima Jr.
Lima Barreto foi casado com a atriz Araçary de Oliveira e depois do divórcio passou a viver só e amigo da boemia. Morreu pobre e esquecido, vítima de um infarto, em um asilo para velhos na cidade de Campinas, aos 76 anos de idade.
Filmografia
1935 - O Carnaval Paulista de 1936 (Documentário - Co-diretor)
1944 - Na Piscina (Documentário - Diretor)
1944 - Fazenda Velha (Documentário - Diretor e Diretor de Fotografia)
1945 - Comício da UDN no estádio do Pacaembú (Documentário - Diretor)
1946 - O Quartzo (Documentário - Diretor)
1946 - O Cofre (Documentário - Diretor)
1946 - O Disco (Documentário - Diretor)
1946 - Seu Bilhete, Por Favor (Documentário - Diretor)
1946 - Caçador de Bromélias (Documentário - Diretor e Diretor de Fotografia)
1946 - A Carta de 46 (Documentário - Diretor)
1950 - Como Se Faz Um Jornal (Documentário - Diretor)
1950 - Painel (Documentário - Diretor)
1951- Santuário (Documentário - Diretor e Produtor)
1951- Terra é Sempre Terra (Ator)
1952 - Tico-Tico No Fubá (Ator)
1952 - O Cangaceiro (Diretor, Roteirista e Ator)
1953 - Sinhá Moça (Ator)
1954 - A Industrialização do Leite em São Paulo (Documentário - Diretor)
1954 - São Paulo em Festa (Documentário - Diretor e Roteirista)
1955 - Guarujá (Documentário - Diretor)
1955 - Arte Cabocla (Documentário - Diretor)
1957 - O Livro (Documentário - Diretor)
1959 - O Café (Documentário - Diretor e Produtor)
1960 - A Primeira Missa (Diretor, Roteirista e Ator)
Zózimo Bulbul foi um ator, cineasta e roteirista brasileiro. Primeiro ator negro a protagonizar uma novela na televisão brasileira, "Vidas Em Conflito" (1969) na extinta TV Excelsior, onde foi par romântico de Leila Diniz. O escândalo do par fez com que a censura da ditadura militar vetasse a novela. Aproveitando-se da polêmica, o estilista Dener Pamplona convidou Zózimo para desfilar, tornando-o o primeiro modelo de uma grande grife brasileira.
"Fui capa de revista, um sucesso! Só que não me conformaria em ser um ator vazio."
(Zózimo Bulbul)
Sua carreira começou nas peças do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) e se encorpou no cinema, no qual se tornou um dos maiores expoentes da cultura afro-brasileira, como fazia questão de ressaltar, nas décadas de 1960 e 70.
No cinema, estreou em 1962 em um dos episódios do filme "Cinco Vezes Favela", um dos no marcos do Cinema Novo. Ao longo de 50 anos de carreira, Zózimo Bulbul atuou em mais de 30 filmes, incluindo clássicos como "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, "Compasso de Espera" (1973), de Antunes Filho e "Grande Sertão" (1965), de Geraldo Santos Pereira.
Chacrinhachamava o ator Zózimo Bulbul de "O negro mais bonito do Brasil".
Em 1974, estreou como diretor com o curta em preto e branco "Alma no Olho", uma reflexão da identidade negra por meio da linguagem corporal. Zózimo aproveitou os negativos que sobraram do filme de Antunes Filho para rodar seu curta-metragem. Os integrantes da censura achavam que a obra tinha tom "subversivo" e o chamaram para depor. Perguntaram sob ordem de quem ele havia feito filme tão sofisticado, imaginando que chegariam a uma complexa mente comunista. "Sob ordens do amigo e poeta Vinicius de Moraes", respondeu Zózimo.
Seu filme mais conhecido, no entanto, é um documentário de 1988 intitulado "Abolição", com entrevistas de personalidades sobre o centenário da abolição.
Foi o fundador do Centro Afro Carioca de Cinema. Realizou três curtas, cinco medias e um longa-metragem, todos com foco na cultura afro descendente e na luta contra as desigualdades.
Em 2010, a convite do governo do Senegal, Zózimo fez o média-metragem "Renascimento Africano", que mostra o país nas comemorações dos 50 anos de independência deste país.
Em novembro de 2012, o ator foi homenageado pelos 50 anos de carreira no 6º Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, evento que foi criado por ele.
Uma das últimas entrevistas que concedeu foi para o documentário em produção do cineasta americano Spike Lee. Em novembro de 2012, comentou como transcorreu a conversa.
"Tinha morado em Nova York quando a ditadura apertou por aqui. Fiz muitos contatos, que sempre me ajudaram na organização dos festivais de cinema. Spike esteve no Brasil e o único cineasta brasileiro que quis entrevistar foi a mim. Porque ele sabia do meu comprometimento com os irmãos africanos e em fazer com que o cinema seja ferramenta de luta."
Zózimo Bulbul já estava enfraquecido pelo câncer que enfrentava havia alguns anos. Falava com dificuldade. Estava muito atento ao noticiário e enalteceu a figura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na condução do julgamento do mensalão.
"Que maravilha de atuação. Impôs-se com rigor e inteligência como não se via há muito."
Zózimo Bulbul trabalhou até novembro de 2012.
Morte
Zózimo Bulbul sofreu um infarto às 9h50 de quinta-feira, 24/01/2013, aos 75 anos. Zózimo estava seu apartamento, na praia do Flamengo, ao lado da mulher, Biza Vianna com que era casado havia 30 anos. Ele lutava desde junho de 2012 contra um câncer no colo do intestino.
O velório começou às 17h00 de quinta-feira, 24/01/2013, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. O enterro ocorreu às 12h00 de sexta-feira, 25/01/2013, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária da cidade.
"É um sentimento horrível, horroroso, mas o que existe agora é um grande alívio, pois ele estava sofrendo muito. Tenho a certeza de que ele lutou muito, o tempo todo, e se orgulhava muito de todas as coisas que conquistou em vida. É um guerreiro, um rei africano."
(Biza Vianna, viúva de Zózimo)
Comentários e Notas de Pesar
"Minha ficha ainda não caiu. Por enquanto ainda estou reagindo de uma maneira prática a tudo isso. Mas é muito doloroso perder o Zózimo desta maneira. Ele tinha uma força de viver muito grande. Acho que é exatamente isso que está unindo as pessoas neste momento."
(Monalisa Alves, que trabalhava com o diretor no Centro Afrocarioca de Cinema há três anos)
"Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez."
(Marta Suplicy - Ministra da Cultura)
"Foi contando a história dele que comecei a dirigir. Meu primeiro trabalho no Canal Brasil foi um 'Retratos Brasileiros' sobre ele. Descobri-lo como o primeiro negro protagonista masculino de uma telenovela no Brasil e tantas outras coisas me revelou um novo mundo"
(Lázaro Ramos)
"O povo brasileiro tem avançado muito nessa caminhada para construir a igualdade de oportunidades entre negros e não negros, e o Zózimo é um dos protagonistas que vêm de longe lutando contra o racismo e em prol da igualdade. Por isso eu digo que o Brasil ficou hoje menos afro-brasileiro, com uma dor intensa. Mas as futuras gerações conhecerão o trabalho de Zózimo, a riqueza de sua obra e de sua militância."
(Eloi Ferreira de Araujo - Presidente da Fundação Cultural Palmares)
"Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."
(Jefferson De - Diretor de "Bróderr" e "5x Favela")
"Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele."
(Cacá Diegues)
O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas divulgou nota lamentando a morte do ator e cineasta, um dos contemplados em 2011 na última edição do Prêmio Camélia da Liberdade, concedido pela entidade.
De acordo com a nota, Zózimo Bulbul manifestou grande emoção pelo reconhecimento de seu trabalho de luta contra o preconceito.
Diretor, Roteirista, Cenógrafo, Engenheiro de Som, Montador e Produtor
* Rio de Janeiro, RJ (06/02/1897)
+ Paris, França (23/08/1982)
Alberto Cavalcanti foi um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos. É também o diretor nacional mais conhecido no exterior. Durante 60 anos, o cineasta dirigiu e produziu mais de 120 filmes em países como França, Inglaterra, Itália e Alemanha. Trabalhou também nos Estados Unidos e em Israel. Em Paris, na década de 1920, ele viveu e participou dos Movimentos de Vanguarda que transformaram as artes para sempre.
Alberto Cavalcanti foi um dos principais precursores do Realismo e do Naturalismo no cinema. Fez uma obra política, preocupada com abordagens de cunho social. Denunciou injustiças, desigualdades, desilusões e as frustrações do ser humano. No Brasil, Alberto Cavalcanti realizou apenas seis filmes: três como diretor e três como produtor. Trabalhou nos estúdios da Vera Cruz, na segunda metade da década de 1940 e foi decisivo para a profissionalização e para o salto qualitativo que o cinema nacional deu a partir de então.
A trajetória de Alberto Cavalcanti se entrelaça com a própria história do cinema. Artista e artesão apaixonado, fez de tudo: foi cenógrafo, engenheiro de som, roteirista, montador, diretor e produtor, acompanhando as grandes rupturas representadas pela passagem do filme mudo ao sonoro e do filme em preto e branco ao colorido. Grande experimentador, utilizou sem preconceitos quase todas as tecnologias fílmicas. Trabalhou ainda na televisão e no teatro e deu aulas na Universidade da Califórnia.
Carioca de família pernambucana, Alberto Cavalcanti iniciou sua carreira em Paris, onde se especializou em cenografia, depois de estudar Belas Artes e Arquitetura na Suíça. Após trabalhar com Marcel L’Herbier e Louis Delluc, dirigiu seu primeiro filme em 1926, ao qual se seguiram dezenas de curtas-metragens.
Com o advento do cinema falado foi contratado pela Paramount e realizou versões sonoras, em francês e português, de 21 filmes produzidos em Hollywood. Suas teorias inovadoras sobre a função de ruídos e palavras na narrativa cinematográfica atraíram a atenção de produtores ingleses.
Alberto Cavalcanti mudou-se para Londres em 1934, onde ajudou a desenvolver o documentário moderno. Durante a guerra, especializou-se em longas de ficção, incluindo um clássico do horror, "Na Solidão da Noite", e uma adaptação do romance Nicholas Nickleby, de Charles Dickens. Voltou ao Brasil no final dos anos 40, após ter trabalhado em 10 países europeus durante 36 anos.
Em 1949, já no Brasil, participou da criação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, SP, fundamental para que o cinema nacional desse um salto de qualidade técnica, sendo convidado a tornar-se o produtor-geral da empresa. Em novembro do mesmo ano, foi à Europa e contratou vários técnicos para virem trabalhar na companhia. Depois de supervisionar a produção de dezenas de longas, como "Caiçara" (1950) e "Terra é Sempre Terra" (1951) e produziu, até o meio, "Ângela" (1951). Ficou descontente por não poder falar como gostaria de temáticas brasileiras.
Fora dos estúdios da Vera Cruz, dedicou-se à elaboração de um anteprojeto para o Instituto Nacional de Cinema, a pedido do então presidente Getúlio Vargas.
Na Cinematográfica Maristela, em São Paulo, o cineasta dirigiu "Simão, o Caolho" (1952). No final do ano de 1952, Alberto Cavalcanti e mais um grupo de capitalistas compram a Cinematográfica Maristela, a qual muda de nome para Kino Filmes e passa a ter como diretor-geral, Alberto Cavalcanti. Ainda em 1952, escreveu o livro "Filme e Realidade". Criticado por sua ideologia de esquerda e inconformado com o marasmo da vida cultural brasileira, voltou à Europa onde dirigiu "O Senhor Puntilla e Seu Criado Matti", adaptação da peça de Bertolt Brecht.
Na Kino Filmes, ele realizou as obras "O Canto do Mar" (1953), refilmagem, no Recife, do europeu "En Rade" (1927), e "Mulher de Verdade" (1954), dois grandes fracassos. Por não ter como continuar pagando as prestações, a Kino Filmes foi devolvida aos antigos proprietários em 1954.
Com o fim da Kino Filmes, Alberto Cavalcanti foi trabalhar na TV Record e depois estreou, no Brasil, como diretor teatral. Em dezembro de 1954, Alberto Cavalcanti partiu para a Europa, contratado por um estúdio austríaco. Alberto Cavalcanti tinha orgulho de só haver produzido filmes de cunho social. Trabalhou ainda na Itália e na Áustria, concluindo sua carreira na televisão francesa, nos anos 70. Morreu em Paris, em 1982.
Filmografia
1925 - Le Train Sans Yeux
1926 - Rien Que Les Heures
1927 - En Rade
1927 - Yvette
1929 - La Jalousie Du Barbouille (Curta-Metragem)
1929 - La P'tite Lilie (Curta-Metragem)
1929 - Le Capitaine Fracasse
1929 - Le Petit Chaperon Rouge
1929 - Vous Verrez La Semaine Prochaine
1930 - Toute Sa Vie
1930 - A Canção do Berço (Portugal)
1931 - Dans Une Ile Perdue
1931 - Les Vacances Du Diable
1931 - A Mi-Chemin Du Ciel
1932 - En Lisant Le Journal (Curta-Metragem)
1932 - Le Jour Du Frotteur (Curta-Metragem)
1932 - Nous Ne Ferons Jamais Le Cinema (Curta-Metragem)
Paulo César Saraceni nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1933 e, quando garoto, estava mais interessado nos esportes, praticando pólo aquático, natação e até arriscando-se nos gramados dos campos de futebol, chegou inclusive a ingressar no time juvenil do Fluminense na década de 1950.
Porém, os revolucionários anos 1960 estavam se aproximando, assim como a vontade de Sarra, como seus amigos o chamavam, de falar sobre cinema. Ele começou a trabalhar como crítico em 1954, iniciou-se nas artes como assistente de direção de algumas peças teatrais e deu seus primeiros passos no audiovisual ao realizar o curta "Caminhos" (1957), em 16mm.
Em 1960, dirigiu "Arraial do Cabo" e conquistou uma bolsa para estudar no Centro Experimental de Cinematografia em Roma, com o neorrealismo a todo vapor na Itália. Ao entrar em contato com diretores como Bernardo Bertolucci, Marco Bellochio e Guido Cosulich, sabia muito bem o tipo de cinema que queria realizar.
Retornou ao Brasil em 1962, cheio de ideias que estavam alinhadas com as de outros cineastas da época, como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Gustavo Dahl. Juntos, iniciaram o Cinema Novo, repudiando Hollywood, as produções da Atlântida e da Vera Cruz, e propondo uma cinematografia brasileira, de fato, e engajada politicamente. Glauber Rocha declarou certa vez que Paulo César Saraceni, na verdade, é o autor da famosa frase "Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", máxima símbolo do movimento.
A primeira obra de Paulo César Saraceni no Cinema Novo foi "Porto das Caixas" (1962), com roteiro de Lúcio Cardoso, um parceiro com quem ele voltaria a colaborar em 1974, com "A Casa Assassinada", e em 1998, com "O Viajante". Musicados por Tom Jobim, eles formam uma trilogia não-oficial sobre a paixão.
"O Desafio", de 1965, é uma de suas obras mais comemoradas, ao colocar em xeque a própria esquerda política brasileira diante do golpe de estado realizado no ano anterior. Filmado em pouco mais de duas semanas e com baixo orçamento, o cineasta usa a trajetória de um jornalista em crise amorosa e moral para analisar os acontecimentos políticos do país, que só viriam a piorar.
Seu trabalho seguinte, "Capitu" (1968), foi a ousada adaptação do clássico livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis. O filme, no entanto, não foi bem recebido, com severas críticas tanto pela narrativa escolhida, que não conseguiu trazer a ambiguidade típica da obra literária, quanto pela dupla principal de atores: Othon Bastos, como Bentinho, e Isabella, na época esposa do diretor, como Capitu.
Paulo César Saraceni era um apaixonado por samba e carnaval, e abordou o tema quatro vezes em sua filmografia. Em 1973, realizou "Amor, Carnaval e Sonhos", com Leila Diniz no elenco. Em 1988, "Natal da Portela", com Milton Gonçalves e Paulo César Peréio, sobre um lendário bicheiro carioca. Ele também retornou à música por meio de documentários, com "Bahia de Todos os Sambas" (1996) e "Banda de Ipanema - Folia de Albino" (2003).
Além de samba e política, Paulo César Saraceni também gostava de sexo, como demonstrou no longa "Ao Sul do Meu Corpo" (1982), estrelado por sua segunda mulher Ana Maria Nascimento e Silva.
Em 1993, lançou o livro "Por Dentro do Cinema Novo", no qual narra os bastidores do movimento cinematográfico e sua trajetória pessoal. Como Paulo César Saraceni sempre foi conhecido como um grande conquistador de mulheres, as pessoas estavam mais interessadas nos "nomes" do que analisar o conteúdo da obra.
Em 1999, o diretor também provocou algumas risadas no Festival de Miami, onde apresentava "O Viajante". Ao seu lado estava o colega documentarista Silvio Tendler, que levou "Castro Alves". Perguntado por um jornalista sobre o que achava do lançamento de "Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma", que invadia os cinemas do mundo todo na época, Paulo César Saraceni simplesmente respondeu que tinha um pacto com George Lucas: jamais assistiria aos filmes dele e o americano faria o mesmo.
Seu bom-humor também foi visto durante as gravações de seu último filme, "O Gerente", ainda inédito no circuito comercial brasileiro. Para que os atores compreendessem o que ele queria, o próprio diretor, apesar da saúde debilitada, fez questão de ensaiar uma cena de dança, estrelada por Letícia Spiller e Ney Latorraca. Em entrevista à Folha de São Paulo, o produtor Zelito Viana disse que "O Gerente" foi realizado no estilo Cinema Novo, com baixo orçamento. Todos da equipe, inclusive atores, teriam trabalhado com o mesmo salário: "Uma ajuda entre amigos".
Paulo César Saraceni preparava o lançamento do filme quando sofreu um AVC. O cineasta lutou por meses, internado num hospital do Rio de Janeiro, mas não resistiu. Ele deixa a esposa Ana Maria Nascimento e Silva, com quem foi casado por 35 anos.
Morte
O cineasta brasileiro Paulo César Saraceni, morreu no início de sábado, 14/04/2012, no Rio de Janeiro, vítima de Falência Múltipla de Órgãos. Paulo César Saraceni estava internado desde outubro no Hospital Federal da Lagoa, na Zona Sul da cidade, após sofrer um Acidente Vascular Verebral (AVC).
O velório aconteceu no domingo, 15/04/2012, no Parque Lage, no Jardim Botânico, na Zona Sul da cidade das 14:00 hs às 22:00 hs. O corpo foi cremado na segunda-feira, 16/04/2012, às 14:00 hs, no Crematório da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária.
Filmografia
2011 - O Gerente (Direção e Roteiro)
2003 - Banda de Ipanema - Folia de Albino (Direção e Roteiro)
2003 - O General (Interpretação)
1998 - O Viajante (Direção e Roteiro)
1996 - Bahia de Todos os Sambas (Direção)
1988 - Natal da Portela (Direção e Interpretação)
1983 - Quadro a Quadro Newton Cavalcanti
1981 - Ao Sul do Meu Corpo (Direção e Roteiro)
1977 - Anchieta, José do Brasil (Direção, Produção e Roteiro)
1972 - Amor, Carnaval e Sonhos (Direção, Interpretação e Roteiro)
1970 - A Casa Assassinada (Direção, Produção e Roteiro)
1967 - Capitu (Direção, Produção e Roteiro)
1965 - O Desafio (Direção, Produção e Roteiro)
1964 - Integração Racial (Direção)
1962 - Porto das Caixas (Direção e Roteiro)
1960 - Arraial do Cabo (Curta-Metragem) (Direção)
1957 - Caminhos (Curta-metragem)
Premiações
1970 - Candango de Melhor Filme, no Festival de Brasília, por "A Casa Assassinada"
1970 - Candango de Melhor Diretor, no Festival de Brasília, por "A Casa Assassinada"
1998 - Prêmio Especial do Júri, no Festival de Brasília, por "O Viajante"
1967 - Candango de Melhor Roteiro, no Festival de Brasília, por "Capitu"
1998 - Prêmio Especial do Júri, no Festival de Cinema Brasileiro de Miami, por "O Viajante"
1998 - Prêmio FIPRESCI, no Festival de Moscou, por "O Viajante"
Dublador, Locutor, Ator, Apresentador de Telejornal, Produtor, Roteirista e Tradutor
(63 anos)
* São Paulo, SP (12/03/1939)
+ Rio de Janeiro, RJ (19/10/2002)
Neville George trouxe para a publicidade brasileira a locução mais coloquial. Ainda estava longe do considerado coloquial de hoje, mas para a época em que começou a gravar comerciais, sua locução fazia a diferença. Tanto que nos anos 1970 ele gravava muito, mas muito mesmo, os mais diversos produtos. Falava mais baixo, mais macio, adequava mais o tom ao produto, à mensagem. Dono de um timbre muito bonito e elegante, tinha um som ligeiramente anasalado e seus finais de frase eram um pouco alongados o que conferia à sua voz uma personalidade única. Foi uma mudança de referencial.
Gravava vídeos institucionais em português, inglês, espanhol, francês e italiano. Inteligente e culto, usou sua versatilidade para atuar em diversas áreas: locutor, ator, dublador, apresentador de telejornal, produtor, roteirista e tradutor.
Neto por parte de pai de um imigrante inglês, iniciou sua carreira como representante comercial, quando foi descoberto nos estúdios de dublagem, tendo vivido a época de ouro dos estúdios Arte Industrial Cinematográfica (AIC) de São Paulo.
No final dos anos de 1960 Neville George foi para o Rio de Janeiro trabalhar na TV Cinesom, aonde alem de dublador foi narrador da empresa por algum tempo. Além disso, também passou pelas empresas Dublasom Guanabara e Herbert Richers.
No início dos anos de 1970 retornou a São Paulo, a foi dublar no CineCastro, tendo feito na empresa a voz do Coronel Robert E. Hogan interpretado por Bob Crane em "Guerra, Sombra e Água Fresca", entre outros.
Em meados dos anos 70, Neville George se afastou da dublagem e foi trabalhar em um telejornal como apresentador na TV Tupi de São Paulo.
Em 1999 quando a emissora Rede TV! foi inaugurada, Neville George foi chamado para ser o locutor da mesma.
Na dublagem se destacou-se por grandes personagens como a terceira voz de Barney Rubble na série clássica de "Os Flintstones", James T. West interpretado por Robert Conrad na série "James West", Drº Leonard McCoy interpretado por DeForest Kelley na primeira temporada de "Jornada Nas Estrelas", Omir em "Viagem Ao Fundo Do Mar", Drº Doug Phillips interpretado por Robert Colbert em "O Túnel do Tempo", Coronel Hogan em "Guerra, Sombra e Água Fresca", além de ter narrado algumas vezes o desenho animado "A Corrida Maluca" e a abertura de "Além da Imaginação".
Muito novo, com aproximadamente 20 anos, Neville George casou com Ruth Maria e desta união nasceram Adriana e André.
Casou com Siomara Nagy, locutora e dubladora. Aos 40 anos, depois de se separar da Siomara Nagy, Neville George se casou novamente com Maria Cristina e desta união nasceram Fabiana Trebilcock e Manuella.
Neville George lutava contra um Câncer no Pâncreas, e veio a falecer no dia 19 de outubro de 2002, deixando uma marca na dublagem brasileira e deixando o seu trabalho de narração da Rede TV!, aonde era admirado por muitos. Esse é mais um dos grande profissionais da dublagem do nosso país.
Alberto Ruschel nasceu na cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul, no dia 21/02/1918, e foi ainda criança para Porto Alegre, onde ficou até o início da década de 40. Depois transferiu-se para o Rio de Janeiro. E ali começou sua carreira artística.
No Rio de Janeiro tornou-se cantor do conjunto Quitandinha Serenaders e fez sucesso, pois tinha voz bonita e possuía uma aparência bonita também. Foi através do amigo Grande Otelo que chegou ao cinema, estreando em 1947 no filme "Este Mundo É Um Pandeiro". Logo se tornou um galã da Atlântida, fazendo vários filmes com o diretor Watson Macedo.
Foi para São Paulo e participou do início da Companhia Vera Cruz, atuando como microfonista e técnico de som até estrear em 1951 em "Ângela", de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida.
Em 1953 chegou a sua grande oportunidade e como o Teodoro de "O Cangaceiro", até hoje um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, ele se transformou em um astro do cinema, inclusive internacional. Passou a escolher filmes de ação e rodou na Argentina, Estados Unidos e Espanha.
Atuou em mais de trinta filmes e chegou a dirigir um, "Pontal Da Solidão", em 1973. Foi um ator de cinema basicamente e sua única experiência na TV aconteceu em 1979, já no fim da carreira, quando participou de "O Todo-Poderoso" na TV Bandeirantes.
Quando morreu, em 1996, Alberto Ruschel, aos 77 anos, vivia no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. Ele se recuperava de uma cirurgia no coração quando teve uma hemorragia fatal do duodeno.
Cinema
(Ator)
1981 - A Volta de Jerônimo
1979 - Desejo Selvagem
1979 - O Guarani
1979 - Iracema, A Virgem dos Lábios de Mel
1979 - Os Trombadinhas
1975 - O Grande Rodeio
1975 - Intimidade ... Pedro
1974 - A Noiva da Noite
1974 - Pontal da Solidão
1970 - O Palácio dos Anjos
1966 - Riacho do Sangue ... Ponciano
1965 - Luta Nos Pampas
1964 - Aconcagua
1961 - A Morte Comanda o Cangaço ... Raimundo Vieira
1958 - O Capanga
1958 - Matemática Zero, Amor Dez
1957 - Cara de Fogo
1957 - Paixão de Gaúcho
1956 - Ha Pasado Un Hombre
1956 - El Puente Del Diablo
1955 - Orgullo
1955 - Três Garimpeiros ... Alberto Prado
1953 - O Cangaceiro ... Teodoro
1953 - Esquina da Ilusão ... Dante Rossi
1952 - Apassionata ... Luiz Marcos
1952 - Terra é Sempre Terra
1951 - Aí Vem o Barão (Integrante do Quitandinha Serenaders)
1951 - Ângela
1950 - Não é Nada Disso (Quitandinha Serenaders)
1948 - É Com Este Que Eu Vou (Quitandinha Serenaders)
1948 - E o Mundo Se Diverte
1947 - Não Me Digas Adeus (Quitandinha Serenaders)
1947 - Este Mundo é Um Pandeiro (Quitandinha Serenaders)
Cinema
(Produção Executiva - Creditado Como Alberto Miranda)
Ator, Diretor Teatral, Escritor, Crítico e Roteirista
* Rio de Janeiro, RJ (01/01/1952)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/10/2011)
Doutor em Psicologia Social, Bernardo Jablonski também era professor universitário e publicou diversos artigos e livros.
O ator, diretor, roteirista e
professor do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Bernardo Jablonski, morreu na sexta-feira, 28/10/2011,
aos 59 anos. Em fevereiro de 2012, fariam 14 anos que Bernardo Jablonski lutava
contra um câncer na tireoide. Ele estava internado desde o dia 3 de
outubro de 2011, na Clínica São Vicente, na Gávea, Rio de Janeiro.
O velório foi realizado no sábado, 29, no teatro O Tablado, do qual era presidente desde a morte da fundadora, Maria Clara Machado, e onde lecionava.
Professor da PUC desde 1979, Bernardo Jablonski destacou-se como pesquisador
em temas relacionados à família e ao casamento e como roteirista e
escritor dos programas Sai de Baixo, Zorra Total, Sob Nova Direção e O Belo e as Feras. Escreveu livros como Até Que a Vida Nos Separe: A Crise do Casamento Contemporâneo e Psicologia Social.
Como ator, Bernardo Jablonski ficou marcado por Aderbal, marido de Dirce (Mariana Santos), o seu papel por cinco anos no programa Zorra Total, na TV Globo, do qual era também roteirista. Ele atuou também no filme Tropa de Elite, como um professor de Direito.
Em outubro, quando Bernardo Jablonski foi operado e precisou de uma transfusão
de sangue, amigos, alunos e ex-alunos fizeram uma campanha no
Facebook que mobilizou dezenas de doadores.
Foi casado durante 13 anos com a atriz Maria Clara Gueiros, com quem
teve dois filhos.
O desenho, em especial a caricatura, foi o primeiro talento
manifestado pelo menino Adhemar de Almeida Gonzaga a apontar o rumo de sua vida no futuro.
Em 1912, ele criou o jornal O Colombo, feito à mão, semanal, com os acontecimentos da Rua
Silva Manoel (onde morava então). Muitos exemplares encontram-se no Arquivo Cinédia e
através deles podem-se notar os adiantamentos do menino na caricatura e no jornalismo.
Segundo Adhemar Gonzaga, o jornalzinho fez bastante sucesso e chegou até a ter fotografias,
tiradas por ele mesmo com uma máquina tipo caixão que ganhara de presente. Um número, o
de 14 de fevereiro de 1913, chama a atenção por apresentar caricaturas calcadas em
personagens de filmes das companhias Ambrosio (italiana) e Nordisk Film (dinamarquesa).
A paixão pelo cinema se intensificou e Adhemar Gonzaga criou, nas páginas
de O Colombo, o "Grande Cinematographo Nordisk, da Empresa Adhemar", imitando os
anúncios que já começavam a aparecer nos jornais da cidade com os programas da
Ambrosio, Nordisk Film e Gaumont Film Company.
Em 2 de novembro, o "Cinematographo Nordisk"
anuncia em destaque um filme brasileiro Batalha das Flores. Adhemar Gonzaga apontou
com orgulho este anúncio como evidenciador de seu apoio precoce ao cinema brasileiro. Nesta época, Adhemar Gonzaga começou a enviar caricaturas para as revistas
O Tico-Tico e O Malho. Ele considerava essa fase de intensa produção de caricaturas como o
começo de sua formação cinematográfica. Os desenhos publicados no O Tico-Tico eram
recortados por ele e dispostos em seqüências numa caixa.
Logo ganhou de um tio uma
lanterna-mágica, que não o entusiasmou. Conta ele que um dia descobriu, no antigo Bazar
Francês, uma maquininha movida à manivela, com a qual assistiu a muitos
filmes, dados por João Cruz Jr., dono do Cinema Íris e amigo de seu pai. As amizades do
pai de certa forma também influíram na inclinação de Adhemar Gonzaga para o cinema. João
Antônio, pai de Adhemar, financiou alguns filmes de Labanca, era amigo de Paschoal Segreto, dono da primeira sala fixa de cinema no Rio de Janeiro, e ajudou a sustentar anonimamente
durante anos o cinema de João Cruz Jr., com generosos influxos de capital. Para completar esta
proximidade, por algum tempo, no começo da década de 20, Adhemar Gonzaga trabalhou como
publicista do Cinema Íris, isto é, era o responsável pelos anúncios com os programas exibidos
naquele cinema. Os pais, entretanto, não viam com bons olhos este interesse
absorvente pelo cinema e, para fazê-lo esquecer esta obsessão, destruíram tudo o que
havia colecionado sobre o assunto e o matricularam num colégio interno.
Em março de
1914, Adhemar Gonzaga ingressa no Ginásio Pio Americano, em São Cristóvão. Figuras ilustres passaram pelo Pio Americano, como os irmãos Ciro e
Luiz Aranha, o pintor Di Cavalcanti, Armando, neto de Ruy Barbosa, e Pedro Lima, com quem Adhemar Gonzaga empreenderia, nos anos 20, uma campanha apaixonada em defesa do cinema brasileiro.
A passagem pelo Pio Americano, que se prolongou até 1919, contribuiu para consolidar a
paixão de Adhemar Gonzaga pelo cinema. Ele e os amigos Álvaro Rocha, Pedro Lima, Paulo
Vanderley, Luiz Aranha e Hercolino Cascardo, constituíram por volta de 1917 uma espécie
de clube de fãs de cinema. Freqüentavam regularmente os cinemas Íris e Pátria e
comentavam demoradamente os filmes exibidos. Reuniam-se na casa de Álvaro Rocha, que
tinha uma pequena coleção de filmes, e lá os assistiam.
Certo dia, Adhemar Gonzaga descobriu que seu vizinho na Rua Silva Manoel, João
Stamato, era também entusiasta de cinema e tinha até máquina de filmar.
Passou então a freqüentar assiduamente a sua casa, onde aprendeu certas coisas de
cinema.
Em 1919, Adhemar Gonzaga começou a escrever cartas para a revista Palcos e
Telas. Acabou sendo chamado para escrever para a revista, iniciando a sua colaboração em
fevereiro de 1920. Procurava, segundo ele, "fazer crítica declarada em vez de um
pequeno resumo informativo de filmes", a que se limitavam as publicações nacionais
de um modo geral. Colaborou também em Para Todos, inicialmente mandando comentários,
fornecendo informações e formulando algumas questões sobre cinema para a seção de
cartas.
Em outubro de 1920, recebeu um valioso presente de seu cunhado: uma
câmera tipo caixão, marca Ernemann, de 35mm, e um projetor Ica, trazidos da Alemanha.
Com esta câmera, Adhemar Gonzaga filmou todos os arredores de sua casa e fez uma experiência de
ficção, usando o copeiro Castorino e a empregada Celeste.
Atendendo o desejo dos pais, Adhemar Gonzaga fez os estudos para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Não tinha porém a menor vocação para a Engenharia e
desistiu logo no começo. A aversão aos estudos formais pode ser atribuída, em parte pelo
menos, à paixão de Adhemar Gonzaga pelo cinema. Ele assinava várias revistas especializadas
estrangeiras. Comprava por correspondência todos os livros sobre cinema de que tomava
conhecimento. A biblioteca de Adhemar Gonzaga, hoje no Arquivo Cinédia, ostenta vários livros
sobre a arte do 'photoplay' ou 'screenplay', publicados nos anos 10 e logo adquiridos por
ele. Esses livros revelam sua intenção em aprender cinema - sobretudo, em aprender a
"fazer cinema".
Graças a intercessão de seu padrinho, o comendador Rosário, em
1923, Adhemar Gonzaga ingressou na redação do semanário ilustrado Para Todos. Adhemar Gonzaga foi
submeter-se à chancela de Mário Behring, um dos diretores da revista e redator da seção
cinematográfica, trinta e tantos anos mais velho do que ele e com sólida carreira no
jornalismo carioca.
Mário Behring e Adhemar Gonzaga logo se afinaram e o resultado foi o crescimento
da cobertura cinematográfica, sobretudo em relação ao cinema nacional, a respeito do
qual Adhemar Gonzaga tinha interesse especial, ao contrário de Mário Behring, inicialmente cético
quanto às possibilidades locais. As inúmeras ocupações de Mário Behring fizeram com que a
revista ficasse praticamente nas mão de Adhemar Gonzaga. Ao lado de seu colega Pedro Lima, que
trabalhava em Selecta, iniciou uma campanha sistemática de divulgação e valorização
da produção nacional, sem precedentes.
O crescimento do espaço dedicado ao cinema foi tal que Adhemar Gonzaga, com
o apoio dos editores de Para Todos, idealizou transformar a seção Cinema Para
Todos em revista autônoma. Após cogitar alguns nomes, Adhemar Gonzaga encontrou o nome
definitivo, Cinearte. A revista começou a circular em 3 de março de 1926 e, em pouco
tempo, tornou-se uma campeã de vendas. Cinearte ajudou a implantar no país uma
mentalidade cinematográfica que não existia. Em relação à produção nacional, Cinearte exerceu o importante papel de divulgação sistemática dos filmes e figuras
atuantes no setor, ao mesmo tempo em que procurou melhorar a qualidade de nossos filmes,
apontando suas falhas e indicando o caminho para o seu aperfeiçoamento.
Cinearte é sem dúvida uma ilustração evidente da determinação
de Adhemar Gonzaga em influir na prática cinematográfica nacional. Embora o jornalismo
cinematográfico fosse motivo de satisfação pessoal e profissional, faltava-lhe consumar
o sonho que acalentava desde menino: Dirigir filmes. Curiosamente ele não tinha pressa.
Sua relutância se devia sobretudo à consciência da precariedade técnica do filme
nacional. Estúdios, câmeras, material de laboratório, pessoal técnico qualificado -
tudo era incipiente.
Foi com a dominante preocupação de superar esses entraves ao
desenvolvimento do cinema nacional que Adhemar Gonzaga visitou os estúdios americanos, de Nova
York e de Hollywood, em 1927. Apresentando-se como jornalista em busca de entrevistas e
notícias exclusivas, Adhemar Gonzaga aproveitou a viagem para visitar todos os estúdios que o
tempo permitiu, prestando a máxima atenção na estrutura arquitetônica dos palcos de
filmagem, nos procedimentos técnicos, no trabalho dos técnicos, no comportamento dos
diretores. Esta temporada nos estúdios americanos representou para Adhemar Gonzaga um verdadeiro
"curso básico" de prática cinematográfica. Ao visitar o modesto estúdio da
Tec-Art, de Nova
York, ficou confiante quanto às possibilidades do cinema brasileiro.
Adhemar Gonzaga retornou dos EUA em 1927 convencido de que fazer
cinema não era um bicho-de-sete-cabeças. Com engenho e arte se poderia superar as
limitações do meio. Mas a estréia de Adhemar Gonzaga na realização cinematográfica não foi
planejada. Foi de certa forma circunstancial e improvisada. Mas a experiência foi tão
decisiva que assinalou o começo de um gradual reecontro com o seu ideal juvenil de fazer
filmes.
A história começa em 1926, quando é fundado no Rio de Janeiro o Circuito
Nacional dos Exibidores, por iniciativa do italiano Vittorio Verga, que há pouco mais de
dez anos havia emigrado para o Brasil e trabalhado por longo tempo numa agência de
distribuição de filmes estrangeiros. Trabalhando com seu compatriota Paulo Benedetti, Vittorio Verga havia dirigidos dois filmes, A Gigolete (1924) e Dever de
Amar (1925), severamente recriminados pelos críticos Adhemar Gonzaga, de Para
Todos, e Pedro Lima, de Selecta.
O Circuito
Nacional dos Exibidores era uma associação constituída pelos
proprietários de cinemas por assim dizer "independentes", isto é, que não
integravam as cadeias que monopolizavam a exibição dos melhores programas. Uma das
finalidades do Circuito era, através de um fundo constituído pela contribuição
financeira dos cinemas afiliados, produzir seus próprios filmes.
Cinearte apoiou calorosamente a iniciativa, tentando inclusive
orientar Vittorio Verga e os outros diretores do Circuito a respeito da organização e
racionalização da produção, no que Adhemar Gonzaga, Pedro Lima e os outros redatores eram
considerados "doutores". Um certo compromisso foi assumido entre Cinearte e o Circuito
Nacional dos Exibidores. Diante da imobilidade de Vittorio Verga, Adhemar Gonzaga e seus amigos se comprometeram a
apresentar um argumento para servir de base para o primeiro filme do Circuito, que seria
dirigido por Vittorio Verga, ficando os trabalhos técnicos a cargo de Paulo Benedetti. As coisas,
porém, não ocorreram como o previsto. Vittorio Verga não gostou muito da ingerência do grupo de Cinearte e quis dar um rumo ao Circuito
Nacional dos Exibidores que atendesse interesses pessoais. Numa acalorada
reunião da diretoria do Circuito, a que compareceram os redatores da Cinearte, Vittorio Verga deu
por assim dizer "um golpe de estado", negando-se a filmar o argumento proposto
por Cinearte. Profundamente desapontado, Paulo Benedetti deixou a reunião decidido a afastar-se
da produção cinematográfica.
Os redatores de Cinearte não se conformaram e trataram de procurar
o velho fotógrafo, propondo a ele uma produção conjunta. Paulo Benedetti entraria com seu
trabalho e o laboratório, e eles com a realização artística. Acordo firmado,
começaram a preparar a produção de Barro
Humano, em clima de grande euforia. Nascido sob o nome de Mocidade,
o filme teve seu roteiro básico escrito por Paulo Vanderley, mas sofreu muitas
modificações a partir de sugestões coletivas, partidas principalmente de Adhemar
Gonzaga. Cinearte deu ao projeto atenção primordial: tudo passa a girar em torno de Barro
Humano a partir do final de 1927.
De um modo muito natural, Adhemar
Gonzaga escalou-se e foi escalado para
dirigir o filme, respaldado em seu estágio recente nos Estados Unidos. O caráter de filme coletivo
de Barro
Humano não impede que se
identifique bem o papel que Adhemar
Gonzaga exerceu em sua realização. Suas convicções
cinematográficas estão expressas muito nitidamente na forma quase didática com que o
filme apresentava os recursos estéticos e estilísticos que todos admiravam na arte
silenciosa. Sua realização foi uma lição e um exemplo. Uma lição de cinema,
literalmente, e um exemplo a ser seguido, já que tornava um fato concreto o modelo de
cinema que Cinearte defendia.
Sua filmagem demorou muito, cerca de um ano e meio, porque era feita
apenas nos domingos e feriados, dias de folga da equipe e de alguns integrantes do elenco.
Lançado em meados de 1929, Barro
Humano fez
um estrondoso sucesso, que surpreedeu Adhemar
Gonzaga: este se encontrava novamente nos Estados Unidos na
época da estréia e achou que fosse piada a notícia, transmitida a ele por Álvaro
Rocha.
O sucesso de Barro
Humano
encheu Adhemar
Gonzaga de confiança. No segundo semestre de 1929, começou a dirigir um outro
filme, com roteiro seu, Lábios Sem Beijos, produzido e estrelado por Carmen Santos. A equipe de Cinearte começou a preparar ao mesmo tempo seu próximo filme, Saudade, que repetiria o esquema adotado em Barro
Humano: roteiro de Paulo Vanderley, direção de Adhemar
Gonzaga, produção de Pedro
Lima e assistência total de Álvaro Rocha. A filmagem de Lábios Sem Beijos
foi interrompida em janeiro de 1930, após longa paralisação devida a um tombo que
sofrera Carmen Santos semanas antes. O motivo principal foi que Carmen Santos se descobriu
grávida de seu segundo filho.
Saudade também teve vários percalços. As principais
atrizes de Barro
Humano, Gracia Morena e Eva
Schnoor, se recusaram a participar do novo filme. A dificuldade para montar o elenco para
o filme fez com que Adhemar
Gonzaga e seus amigos de Cinearte se decidisem a lançar uma nova
atriz, sem experiência anterior em cinema. No arquivo fotográfico de Cinearte, que
recebia centenas de cartas com fotos de rapazes e moças oferecendo-se para trabalhar no
cinema, encontraram o que precisavam. Era Didi Viana, fotogênica mocinha do interior
paulista.
Em 26 de janeiro de 1930, foram iniciadas as filmagens de Saudade, com algumas tomadas nos terrenos onde seriam construídos os
estúdios da Cinédia, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. A expectativa em torno de Saudade era grande. Adhemar
Gonzaga havia adquirido em sua segunda viagem aos EUA uma
moderna câmera Mitchell, símbolo de suas intenções agora profissionais. Depois de um
início bastante animado, a produção começou a apresentar problemas. Paulo Benedetti não se
adaptou à nova câmara e abandonou o posto. Além disso, as obras de construção do
futuro estúdio da Cinédia e a produção de seu primeiro filme, Lábios Sem Beijos, retomada do mesmo roteiro esrcrito para Carmen Santos mas agora com outro
elenco e sob a direção de Humberto Mauro, tomavam
todo o tempo de Adhemar
Gonzaga.
Com todos estes percalços, as filmagens se prolongaram por três
meses, até abril. Neste mês, Adhemar
Gonzaga demitiu Pedro Lima de Cinearte provocando a
dissolução do grupo e determinando o fim do projeto de Saudade. Como
compensação, Didi Viana foi incluída no elenco de Lábios Sem Beijos,
assumindo o segundo papel. Para dar a Didi Viana o estrelato definitivo, que lhe fora prometido
com Saudade, Adhemar
Gonzaga providenciou um novo argumento, O Preço de Um
Prazer, que ele dirigiria paralelamete à realização do filme de Humberto Mauro. As filmagens se prolongaram até o início
de 1931 e foram interrompidas por razões sentimentais. Tendo se enamorado desde o
primeiro encontro, Adhemar
Gonzaga e Didi Viana decidiram se casar. A família do primeiro condicionou
a sua aprovação ao imediato abandono da carreira artística por Didi Viana, o que ela aceitou.
Após alguns anos, o casal se separou.
A fundação da Cinédia decorre naturalmente do êxito de Barro
Humano. Ela é, portanto, o "point of
no return" de uma sucessão de acontecimentos e decisões originadas na trincheira
jornalística, crítica e rematada sem maiores saltos numa espécie de tomada de poder na
cena cinematográfica nacional, empreendida pelo grupo de Cinearte. A Cinédia é a
evidência de um desejo: o desejo de criar no Brasil uma indústria de cinema espelhada
no modelo hegemônico hollywoodiano e de uma circunstância histórica favorável. O
som, que pôs em risco o domínio americano do mercado nacional, o nacionalismo
empreendedor da juventude visionária e idealista - muita coisa se deve ter em conta para
entender o surgimento da Cinédia em 1930.
Em seu primeiro momento, a Cinédia é a concretização do projeto
industrial do grupo de Cinearte. Graças ao adiantamento de sua parte na herança do pai, Adhemar
Gonzaga adquiriu, em dezembro de 1929, um tereno de 9.000 metros
quadrados na Rua Abílio, atual General Almério de Moura, em São
Cristóvão. Em 16 de março de 1930, alguns
jornais estamparam a notícia da fundação da Produções Cinearte, nome que recebeu o
braço produtor do grupo. O estúdio em construção se chamaria Cinearte Studio. O
rompimento com Pedro Lima levou a dissolução da Produções Cinearte, ocorrida em maio.
A construção da Cinédia, que significa "Cinema em Dia",
foi obra de muitos anos e sua história é longa e complexa demais para ser resumida. De
qualquer maneira, pode-se adiantar que seu objetivo maior - ser um complexo produtor
permanetemente ativo e destinado a realizar filmes de qualidade e comercialmente
rentáveis - só foi parcialmente alcançado. Para transformar o estúdio num centro de
produção auto-suficiente e bem-equipado, foram necessários mais de dez anos, devidos
sobretudo às dificuldades de importação dos equipamentos e insumos básicos para a
atividade cinematográfica. Por outro lado, a Cinédia surge no delicado período de
transição para o cinema sonoro, que trouxe profundas modificações na produção, na
exibição e na própria linguagem dos filmes. Não se pode exigir muito dos filmes da Cinédia realizados neste período - década de 30 - em relação ao aspecto técnico, já
que a política cambial e a lei de remessa de lucros praticadas pelo governo oneravam
pesadamente os produtores.
Por ter nascido para sustentar um projeto industrial, a Cinédia se
tornou vulnerável aos imperativos econômicos. Em seus primeiros anos, apenas três
filmes foram completados: Lábios Sem Beijos (1930), Mulher (1931)
e Ganga Bruta (1933). Este último, mal
recebido por público e crítica, serviu para Adhemar
Gonzaga como uma espécie de lição: para
viabilizar um negócio tão caro como o cinema é preciso conquistar o mercado. Conquistar
o mercado é conhecer as aspirações do público e fornecer-lhes o que ele anseia
assistir. Esta constatação levou Adhemar
Gonzaga a se desviar um pouco da sua estratégia
inicial de filmes grandiosos, artisticamente ambiciosos, e associar-se ao produtor
norte-americano Wallace Downey, que havia forjado em São Paulo a fórmula ideal para que
o cinema feito no Brasil conquistasse seu próprio público: a comédia musical ou
chanchada. Num mecado dominado pelo filme americano, a única chance de ter um lugar ao
sol era oferecer um produto de que este não dispunha: nossos cantores, verdadeiros
ídolos nacionais.
A parceria com Wallace Downey resultou em três filmes: Alô, Alô, Brasil e Estudantes (ambos de 1935), e Alô, Alô, Carnaval
(1936), o primeiro grande sucesso da Cinédia, os dois primeiros dirigidos por Wallace Downey e o
terceiro por Adhemar
Gonzaga. Até o fim da primeira fase da Cinédia, Adhemar
Gonzaga procurou conciliar
as necessidades de mercado aos anseios estéticos que sempre o nortearam. Curiosamente, Adhemar
Gonzaga só realizou um único projeto pessoal em toda
a primeira fase da Cinédia - é verdade que tentou vários, mas sempre desistia de
levá-los a termo pelos mais diversos motivos. Trata-se de Romance Proibido,
de longuíssima e acidentada realização: iniciado em 1939, só foi concluído e lançado
cinco anos depois.
Romance Proibido é um reencontro com Barro Humano, para sempre o paradigma de cinema
que nortearia a imaginação criadora de Adhemar
Gonzaga. Sua origem de certa forma se liga a um
certo clima de euforia vivido por Adhemar
Gonzaga, com reflexos na Cinédia e em Cinearte, no ano
de 1938. A primeira década de Barro Humano
foi efusivamente comemorada e sua evocação dá a Adhemar
Gonzaga a esperança de retomar o
ímpeto realizador que tinha quando dirigiu o filme. A confiança em um novo começo leva Adhemar
Gonzaga a convidar o galã de Barro Humano, Carlos
Modesto, e sua esposa, Eva Schnoor, para protagonizarem o novo filme. Adhemar
Gonzaga acreditou
piamente na anuência de Carlos
Modesto. Mas o ator enviou a Adhemar uma carta polida recusando o
convite.
Em Romance Proibido se reflete também, de forma muito
nítida, a adesão de Adhemar
Gonzaga a alguns ideais getulistas, especialmente o nacionalismo
cívico. Imaginou, por exemplo, uma cena em que uma professorinha de interior, em vez de
giz e quadro negro, usa um projetor para dar aula. Era sua confiança no progresso do
país e no papel que o cinema tinha a exercer neste sentido. Romance Proibido
sofreu duramente os efeitos da recessão que atingiu o país durante a Segunda Guerra Mundial.
A escassez de material químico para a revelação de filmes durou de 1942 a 1945 e
contribuiu decisivamente para a prolongada filmagem. No começo da década de 40, a Cinédia atravessou grave crise financeira: o mercado se retraíra, os custos de
produção aumentaram, os mecanismos de distribuição ergueram mais resistência ao filme
brasileiro e as agências regionais e proprietários de cinemas fraudavam abertamente
borderôs e livros-caixa. A crise chegou ao auge em 1941, quando Adhemar
Gonzaga foi aobrigado a
paralisar as atividades da Cinédia.
Em 1946, Adhemar
Gonzaga produziu O Ébrio, dirigido por Gilda de Abreu, que se tornou o maior sucesso da história
da Cinédia. Um panorama promissor se abriu para a Cinédia, mas o filme seguinte de Gilda de Abreu, Um Pinguinho de Gente (1949), produção caríssima que não conseguiu
conquistar o público, acabou acirrando a crise financeira da Cinédia. Em 1951, Adhemar
Gonzaga
foi obrigado a fechar os estúdios de São Cristóvão.
Em 1952, mudou-se para São Paulo, onde permaneceu até 1955. Chegou a
examinar alguns terrenos, pensando em transferir a Cinédia para a cidade. Mas os
insucessos da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, Multifilmes e Maristela o desanimaram e
ele decidiu retornar ao Rio de Janeiro. Em São Paulo, realizou um filme, Carnaval em Lá Maior (1955), na Companhia Cinematográfica Maristela.
Em 1956, adquiriu um terreno em Jacarepaguá e começou a construir os
novos estúdios da Cinédia, destinados à locação para terceiros. A produção própria
cessa pois a nova Cinédia não dispunha de laboratório, equipamentos e pessoal destinados à
produção cinematográfica.
Em 1969, dirigiu seu último filme de longa-metragem, Salário
Mínimo, lançado no ano seguinte. Dedicou-se então a outras atividades:
organização de seus arquivos, recuperação e restauração de seus filmes, algumas
pesquisas sobre a história do cinema brasileiro e ao jornalismo, área em que assinou uma
coluna no jornal O Dia.