Nascido na capital pernambucana e quinto de quatorze irmãos,
Nelson Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista
Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu estabelecer-se na então capital federal em julho de 1916, empregando-se no jornal
Correio da Manhã, de propriedade de
Edmundo Bittencourt.
Segundo o próprio
Nelson Rodrigues em suas memórias, seu grande laboratório e inspiração foi a infância vivida na Zona Norte da cidade. Dos anos passados numa casa simples na Rua Alegre, 135, atual Rua Almirante João Cândido Brasil, no bairro de Aldeia Campista, saíram para suas crônicas e peças teatrais as situações provocadas pela moral vigente na classe média dos primeiros anos do século XX e suas tensões morais e materiais.
Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade do garoto
Nelson Rodrigues. Retraído, era um leitor compulsivo de livros românticos do século XIX. Nesta época ocorreu também para
Nelson Rodrigues a descoberta do futebol, uma paixão que conservaria por toda a vida e que lhe marcaria o estilo literário.
Na década de 1920,
Mário Rodrigues fundou o jornal
A Manhã, após romper com
Edmundo Bittencourt. Seria no jornal do pai que
Nelson Rodrigues começaria sua carreira jornalística, na seção de polícia, com apenas 13 anos de idade. Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico, que utilizaria muitas das histórias reais que cobria em suas crônicas futuras. Neste período a família
Rodrigues conseguiria atingir uma situação financeira confortável, mudando-se para o bairro de Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca.
Apesar da bonança,
Mário Rodrigues perderia o controle acionário de
A Manhã para o sócio. Mas, em 1928, com o providencial auxílio financeiro do vice-presidente
Fernando de Melo Viana,
Mário Rodrigues fundou o diário
Crítica.
Como cronista esportivo,
Nelson Rodrigues escreveu textos antológicos sobre o
Fluminense Football Club, clube para o qual torcia fervorosamente. A maioria dos textos eram publicados no
Jornal dos Sports. Junto com seu irmão, o jornalista
Mário Filho,
Nelson Rodrigues foi fundamental para que os Fla-Flu tivessem conquistado o prestígio que conquistaram e se tornassem grandes clássicos do futebol brasileiro.
Nelson Rodrigues criava e evocava personagens fictícios como
Gravatinha e
Sobrenatural de Almeida para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração.
Nelson Rodrigues seguiu os seus irmãos
Mílton,
Mário Filho e
Roberto Rodrigues integrando a redação do novo jornal. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto
Mário Filho cuidava dos esportes e
Roberto Rodrigues, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações.
Crítica era um sucesso de vendas, misturando uma cobertura política apaixonada com o relato sensacionalista de crimes. Mas o jornal existiria por pouco tempo.
Em 26/12/1929, a primeira página de
Crítica trouxe o relato da separação do casal
Sylvia Serafim e
João Thibau Jr. ilustrada por
Roberto Rodrigues e assinada pelo repórter
Orestes Barbosa, e a matéria provocou uma tragédia.
Sylvia Serafim, a esposa que se desquitara do marido e cujo nome fora exposto na reportagem invadiu a redação de
Crítica e atirou em
Roberto Rodrigues com uma arma comprada naquele dia.
Nelson Rodrigues testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois.
Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu poucos meses depois.
Sylvia Serafim, apoiada pelas sufragistas e por boa parte da imprensa concorrente de
Crítica, foi absolvida do crime. Finalmente, durante a Revolução de 30, a gráfica e a redação de
Crítica foram empastelados e o jornal deixou de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento, a família
Rodrigues mergulhou em decadência financeira.
Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com o novo regime, os
Rodrigues demorariam anos para se recuperarem dos prejuízos causados pela tuberculose.
Ajudado por
Mário Filho, amigo de
Roberto Marinho,
Nelson Rodrigues passa a trabalhar no jornal
O Globo, sem salário. Apenas em 1932 é que
Nelson Rodrigues seria efetivado como repórter no jornal. Pouco tempo depois,
Nelson Rodrigues descobriu-se tuberculoso. Para tratar-se, retirou-se do Rio de Janeiro e passou longas temporadas em um sanatório na cidade de Campos do Jordão. Seu tratamento foi custeado por
Roberto Marinho, que conquistou a gratidão de
Nelson Rodrigues pelo resto de sua vida. Recuperado,
Nelson Rodrigues voltou ao Rio de Janeiro e assumiu a seção cultural de
O Globo, fazendo a crítica de ópera.
Em 1940 casou-se com
Elza Bretanha, sua colega de redação.
A partir da década de 1940,
Nelson Rodrigues dividiu-se entre o emprego em
O Globo e a elaboração de peças teatrais.
Em 1941 escreveu
"A Mulher Sem Pecado", que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assinou a revolucionária
"Vestido de Noiva", peça dirigida por
Zbigniew Ziembinski e que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso.
O teatrólogo
Nelson Rodrigues seria o criador de uma sintaxe toda particular e inédita nos palcos brasileiros. Seus personagens trouxeram para a ribalta expressões tipicamente cariocas e gírias da época, como
"batata!" e
"você é cacete, mesmo!".
"Vestido de Noiva" é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro.
Em 1945 abandonou
O Globo e passou a trabalhar nos
Diários Associados. Em
O Jornal, um dos veículos de propriedade de
Assis Chateaubriand, começou a escrever seu primeiro folhetim,
"Meu Destino é Pecar", assinado pelo pseudônimo
Susana Flag. O sucesso do folhetim alavancou as vendas de
O Jornal e estimulou
Nelson Rodrigues a escrever sua terceira peça,
"Álbum de Família".
Em fevereiro de 1946, o texto da peça foi submetido à Censura Federal e proibido.
"Álbum de Família" só seria liberada em 1965.
Em abril de 1948 estreou
"Anjo Negro", peça que possibilitou a
Nelson Rodrigues adquirir uma casa no bairro do Andaraí, e em 1949 ele lançou
"Doroteia".
Em 1950 passou a trabalhar no jornal de
Samuel Wainer, o
Última Hora. No jornal,
Nelson Rodrigues começou a escrever as crônicas de
"A Vida Como Ela É", seu maior sucesso jornalístico.
Na década seguinte,
Nelson Rodrigues passou a trabalhar na recém-fundada
TV Globo, participando da bancada da
"Grande Resenha Esportiva Facit", a primeira
mesa-redonda sobre futebol da televisão brasileira e, em 1967, passou a publicar suas memórias no mesmo jornal
Correio da Manhã onde seu pai trabalhou cinquenta anos antes.
Nos anos 70, consagrado como jornalista e teatrólogo, a saúde de
Nelson Rodrigues começou a decair, por causa de problemas gastroenterológicos e cardíacos de que era portador. O período coincidiu com os anos da Ditadura Militar, que
Nelson Rodrigues sempre apoiou. Entretanto, seu filho
Nelson Rodrigues Filho tornou-se guerrilheiro e se passou para a clandestinidade. Neste período também aconteceu o fim de seu casamento com
Elza Bretanha e o início do relacionamento com
Lúcia Cruz Lima, com quem teria uma filha,
Daniela, nascida com problemas mentais. Depois do término do relacionamento com
Lúcia,
Nelson Rodrigues ainda manteria um rápido casamento com sua secretária
Helena Maria, antes de reatar seu casamento com
Elza Bretanha.
Nelson Rodrigues faleceu numa manhã de domingo, 21/12/1980, aos 68 anos de idade, vítima de complicações cardíacas e respiratórias. Foi enterrado no
Cemitério São João Batista, em Botafogo.
No fim da tarde daquele mesmo dia ele faria treze pontos na Loteria Esportiva, num
"bolão" com seu irmão
Augusto e alguns amigos de
O Globo.
Dois meses depois,
Elza Bretanha atendia ao pedido do marido - de, ainda em vida, gravar o seu nome ao lado do dele na lápide de seu túmulo, sob a inscrição:
"Unidos para além da vida e da morte. E é só".
Fonte: Wikipédia