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Barão do Rio Branco

JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS JÚNIOR
(66 anos)
Diplomata, Advogado, Geógrafo e Historiador

* Rio de Janeiro, RJ (20/04/1845)
+ Rio de Janeiro, RJ (10/02/1912)

Filho de José Maria da Silva ParanhosVisconde do Rio BrancoBarão do Rio Branco é o patrono da diplomacia brasileira e uma das figuras mais importantes da história do Brasil.

Cursou o Colégio Pedro II, em 1862, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, porém transferiu-se no último ano para a Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1866. e logo em seguida viajou pela Europa.

Iniciou-se nas letras em 1863, nas páginas da revista Popular, com uma biografia de Luís Barroso Pereira, comandante da fragata Imperatriz. Posteriormente, em 1866, na revista l'Illustration, desenhou e escreveu sobre a Guerra do Paraguai, defendendo o ponto de vista do Brasil.

Em 1868, substituiu por três meses Joaquim Manuel de Macedo como professor na cadeira de Corografia e História do Brasil, no Colégio Dom Pedro II.

Em 1869, foi nomeado promotor público de Nova Friburgo. No mesmo ano acompanhou, como secretário da Missão Especial, o Visconde do Rio Branco ao Rio da Prata e ao Paraguai. No mesmo caráter se manteve, em 1870 e 1871, nas negociações de paz entre os membros da Tríplice Aliança e o Paraguai.

Regressando ao Rio de Janeiro, dedicou-se ao jornalismo. Foi dirigir o jornal A Nação, juntamente com Gusmão Lobo, tendo colaborado, a partir de 1891, no Jornal do Brasil. Em maio de 1876, Rio Branco deixava o jornalismo para aceitar o cargo de cônsul-geral do Brasil em Liverpool.


A Diplomacia

Cônsul-geral em Liverpool a partir de 1876, foi ministro acreditado na Alemanha em 1900, assumindo o Ministério das Relações Exteriores, de 03/12/1902 até sua morte, em 1912. Ocupou o cargo ao longo do mandato de quatro presidentes da república - governos de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca - configurando-se uma unanimidade nacional em sua época.

Em 1884, recebeu a comissão de delegado à Exposição Internacional de São Petersburgo e, depois de proclamada a República, foi nomeado, em 1891, em substituição do conselheiro Antonio Prado, superintendente geral na Europa da emigração para o Brasil, cargo que exerceu até 1893.

Durante a estadia na Europa, produziu várias obras: redigiu uma memória sobre o Brasil para a Exposição de São Petersburgo; para o Le Brésil, de Sant'Anna Nery, escreveu "Esquisse de l'Histoire du Brésil"; apresentou contribuições para a Grande Encyclopédie, de Levasseur, na parte relativa ao Brasil.

Recebeu o título de Barão do Rio Branco às vésperas do fim do período imperial, mas continuou a utilizar o título "Rio Branco" em sua assinatura mesmo após a proclamação da república, em 1889. Isso se deu por ser um monarquista convicto e para homenagear seu falecido pai, o senador e diplomata José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco.

Questões Internacionais

Sua maior contribuição ao país foi a consolidação das fronteiras brasileiras, em especial por meio de processos de arbitramento ou de negociações bilaterais, dos quais se destacam três questões de fronteiras:

Amapá: Obteve uma vitória sobre a França sobre a fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, causa ganha pelo Brasil em 1900 em uma arbitragem do governo suíço. A fronteira foi definida no Rio Oiapoque.

Palmas: Em 1895, havia já conseguido assegurar para o Brasil boa parte do território dos estados de Santa Catarina e Paraná, em litígio contra a Argentina no que ficou conhecido como a Questão de Palmas. Essa primeira arbitragem foi decidida pelo presidente norte-americano Grover Cleveland, e teve como opositor pelo lado da Argentina Estanislau Zeballos, que mais tarde se tornou ministro do exterior argentino e durante muito tempo acusou Rio Branco de perseguir uma política imperialista.

Acre: Foi o prestígio obtido nesses dois casos que fez com que Rodrigues Alves escolhesse Rio Branco para o posto máximo da diplomacia em 1902, quando o Brasil estava justamente envolvido em uma questão de fronteiras, desta vez com a Bolívia.

Esta tentava arrendar uma parte do seu território a um consórcio empresarial anglo-americano. A terra não era reclamada pelo Brasil, mas era ocupada quase que integralmente por colonos brasileiros, que liderados por Plácido de Castro resistiam às tentativas bolivianas de expulsá-los, episódio que ficou conhecido como Revolução Acreana.

Em 1903, assinou com a Bolívia o Tratado de Petrópolis, pondo fim ao conflito dos dois países em relação ao território do Acre, que passou a pertencer ao Brasil mediante compensação econômica e pequenas concessões territoriais. Esta é a mais conhecida obra diplomática de Rio Branco, cujo nome foi dado à capital daquele território, hoje Estado.


Outros Sucessos e Reconhecimento

Negociou com o Uruguai o condomínio sobre o Rio Jaguarão e a Lagoa Mirim, essencialmente uma concessão voluntária do Brasil a um vizinho que necessitava daqueles canais. Por essa razão, foi homenageado pelo governo do Uruguai, sendo conferido seu nome à antiga Pueblo Artigas, hoje cidade de Rio Branco, no departamento de Cerro Largo, vizinha da brasileira Jaguarão.

O município de Paranhos, MS, localizado na fronteira com o Paraguai foi batizado em sua homenagem.

Em 1908, então no Rio de Janeiro, convidou o engenheiro Augusto Ferreira Ramos a projetar um sistema teleférico que facilitasse o acesso ao cume do morro da Urca, conhecido mundialmente como o bondinho do Pão de Açúcar.

Em 1909, seu nome foi sugerido para a sucessão presidencial do ano seguinte. Rio Branco preferiu declinar de qualquer candidatura que não fosse de unanimidade nacional.

Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1907 - 1912) e escreveu dois livros.
Seu filho, Paulo do Rio Branco, foi um proeminente jogador de rugby do Brasil na França.

Argentina e Amapá

Em 1893, Floriano Peixoto escolheu Rio Branco para substituir o Barão Aguiar de Andrade, falecido no desempenho da missão encarregada de defender os direitos do Brasil aos territórios das Missões. A questão, nos últimos dias do Império, fora submetida ao arbitramento do presidente Cleveland, dos Estados Unidos, como resultado do tratado de 07/09/1889, concluído com a Argentina.

Rio Branco, encarregado de advogar os pontos de vista brasileiros, apresentou ao presidente Cleveland uma exposição, acompanhada de valiosa documentação, reunida em seis volumes, A questão de limites entre o Brasil e a Argentina, obra que muito contribuiu para o laudo arbitral de 05/02/1895, inteiramente favorável às pretensões brasileiras.

Em 1898, foi encarregado de resolver outro importante assunto diplomático: a questão do Amapá. O tratado de 10/04/1897 escolheu para árbitro da questão o presidente da Suíça. Rio Branco vinha estudando a questão do Amapá desde 1895. Ao chegar a Berna, apresentou uma memória de sete volumes. A sentença arbitral, de 01/12/1900, foi favorável ao Brasil, e o nome de Rio Branco foi colocado em plano de superioridade em relação a qualquer outro político ou estadista brasileiro da época.

Ministro das Relações Exteriores

Em 31/12/1900 foi nomeado ministro plenipotenciário em Berlim. Em 1902 foi convidado pelo presidente Rodrigues Alves a assumir a pasta das Relações Exteriores, na qual permaneceu até a morte, em 1912.

Logo no início de sua gestão, defrontou-se com a questão do Acre, território fronteiriço que a Bolívia pretendia ocupar, solucionando-a pelo Tratado de Petrópolis. A seguir, encetou negociações com outros países limítrofes, cujas fronteiras com o Brasil suscitavam questões litigiosas. Seu empenho encerrou as velhas disputas que o Brasil mantinha com quase todos os países da América do Sul.

Em 1901, apesar dos esforços e do valor intelectual do plenipotenciário brasileiro, Joaquim Nabuco, a questão da Guiana Inglesa foi resolvida, por laudo do árbitro Victor Emanuel, rei da Itália, contra o Brasil. Rio Branco, no entanto, soube entender os motivos do laudo que despojava o Brasil de uma parte do seu território e deu a Joaquim Nabuco a compensação de nomeá-lo embaixador do Brasil em Washington.

Definindo O Contorno Do Território Brasileiro

Veio, depois, uma série de tratados memoráveis: em 1904, com o Equador; em 1906, com a Guiana Holandesa; em 1907, com a Colômbia; em 1904 e 1909, com o Peru; em 1910, com a Argentina. Ficavam definidos, de um modo geral, os contornos do território brasileiro, assim como, com pequenas alterações, ainda hoje subsistem.

Além da solução dos problemas de fronteira, Rio Branco lançou as bases de uma nova política internacional, adaptada às necessidades do Brasil moderno. Foi, nesse sentido, um devotado pan-americanista, preparando o terreno para uma aproximação mais estreita com as repúblicas hispano-americanas e acentuando a tradição de amizade e cooperação com os Estados Unidos.


Últimos Dias

Sofrendo de problemas renais, pediu demissão de seu cargo, o que foi negado pelo presidente Hermes da Fonseca.

Em seus últimos instantes de vida, lamentou o bombardeio da capital baiana, Salvador, motivado por uma crise política e ocorrido em 10/01/1912.

Sua morte, durante o carnaval de 1912, alterou o calendário da festa popular naquele ano, dado o luto oficial e as intensas homenagens que lhe renderam na cidade do Rio de Janeiro.

"Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam ansiosa da saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a intempérie  dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à Pátria, e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil, alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao seu direito. (...)"
(Gazeta de Notícias, 11 de fevereiro de 1912)

Por ajudar na consolidação do território nacional sempre buscando soluções pacíficas para os conflitos com os vizinhos do Brasil o Barão do Rio Branco é considerado o patrono da diplomacia brasileira.

Seu corpo foi sepultado no jazigo de seu pai, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

Representações Na Cultura

O Barão do Rio Branco já foi retratado como personagem no cinema, interpretado por J. Silveira no filme "A Vida do Barão do Rio Branco" (1912). Também teve sua efígie impressa nas notas de 5 mil réis de 1913 e 1924, Cr$ 5 (cinco cruzeiros) de 1950, nas de Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros) de 1978 - por este fato, a gíria popular brasileira incorporou o termo "barão" como sinônimo de "mil" - e cunhado no verso das moedas de 50 centavos em circulação atualmente no Brasil. Até mesmo a quantia de mil reais é designada como "um barão".

Academia Brasileira de Letras e Homenagens

Foi o segundo ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 01/10/1898, na sucessão de João Manuel Pereira da Silva.

Atualmente, também há referência a seu famoso título de nobreza no nome do notório Instituto Rio Branco, instituição de ensino superior subordinada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) que forma diplomatas de carreira.

Fundado em 1945 como parte da comemoração do centenário de nascimento do Barão do Rio Branco, o Instituto Rio Branco (IRBr) localiza-se em Brasília atrás do Palácio do Itamaraty.

Seu título é também atribuído ao nome do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, localizado na cidade de Urussanga, Estado de Santa Catarina, à cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre à Avenida Rio Branco, uma das principais vias urbanas do centro da cidade do Rio de Janeiro, capital, e a Rua Barão do Rio Branco em Curitiba, no Paraná.


Bertha Becker

BERTHA KOIFFMAN BECKER
(82 anos)
Geógrafa, Professora e Pesquisadora

* Rio de Janeiro, RJ (07/11/1930)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/07/2013)

Bertha Koiffmann Becker foi uma geógrafa brasileira. Graduou-se em Geografia e História pela Universidade do Brasil em 1952, foi Docente Livre-Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1970). Realizou pós-doutorado no Massachusetts Institute Of Technology - Department Of Urban Studies And Planning (1986). Foi professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Laboratório de Gestão do Território - LAGET/UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Ciências e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lyon III. Havendo sido agraciada com as medalhas David Livingstone Centenary Medal da American Geographical Society e Carlos Chagas Filho de Mérito Científico da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Foi consultora ad hoc de várias instituições científicas e membro de conselho editorial de editoras nacionais e internacionais. Coordenou diversos projetos de pesquisa e participou da elaboração de políticas públicas nos Ministérios de Ciência e Tecnologia, da Integração Nacional e do Meio Ambiente. Seu foco principal de pesquisa foi a Geografia Política da Amazônia e do Brasil. Autora de uma extensa produção sobre a geografia política da Amazônia e do meio-ambiente.

Bertha Becker iniciou a carreira na década de 1950, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde deu aulas por 40 anos, tornando-se professora emérita. No Instituto Rio Branco, lecionou por quase 20 anos. Acumulou títulos de prestígio, como doutora honoris causa pela Universidade de Lyon III, na França, e era integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Por mais de 40 anos, Bertha Becker se aprofundou nos estudos sobre os conflitos fundiários nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, com foco na Amazônia. Ao longo desse período, estudou e pesquisou in loco a geografia humana e política da região, tornando-se uma autoridade internacional no assunto. Por isso, era sempre requisitada por órgãos do governo, como o Itamaraty e a Secretaria de Assuntos Estratégicos, além de dar conferências nas principais associações internacionais. Sua contribuição foi essencial para o desenvolvimento do plano estratégico da Amazônia, hoje em implantação no Brasil.


Para a companheira de pesquisa e amiga, a geógrafa Ima VieiraBertha Becker deixou um legado enorme. "O que ela fez é muito importante e teve repercussão internacional. Participou de reuniões científicas que deram origem a importantes ações políticas para o Brasil como, por exemplo, a Rio Mais 20 e ECO 92" - disse Ima Vieira, pesquisadora do Museu Goeldi, em Belém.

A geógrafa estudou a fronteira móvel da agropecuária no Brasil desde a década de 60. Começou com o crescimento da pecuária no Rio de Janeiro e São Paulo, depois em Goiás na década de 70 e, a partir daí desenvolveu suas pesquisas de campo principalmente na Amazônia.

"As pessoas pensam que isso é novo, mas não é, a expansão das fronteiras da pecuária na direção da Amazônia tem 50 anos."
(Declarou recentemente Bertha)

Bertha era, desde os anos 90, membro do conselho diretor da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, da qual era também associada emérita.

"Sua dedicação para a instituição era total, profunda, como tudo o que ela fazia. Bertha foi uma cidadã 24×7, além de uma das pessoas mais inteligentes que já conheci na vida. Uma inteligência que a levava sempre a farejar as mudanças antes que elas se revelassem. A sociedade brasileira recebe uma herança ímpar e um desafio para décadas: decifrar e desdobrar o patrimônio de sabedoria que ela construiu."
(Roberto Smeraldi)

A geógrafa publicou diversos livros, sendo o mais recente "A Urbe Amazônica - A Floresta e a Cidade", finalizado há alguns meses.

Bertha deixou três filhos, Beatriz, Paulo e Lídia, e oito netos.


Morte

A geógrafa, professora, pesquisadora e o maior nome da geografia internacional em estudos sobre a Amazônia, Bertha Koiffmann Becker, de 82 anos, morreu no sábado, 13/07/2013, às 16:30 hs, por complicações decorrentes de um câncer de pulmão, após quatro anos lutando contra a doença.

Além de familiares e amigos, autoridades fizeram as últimas homenagens a pesquisadora, em uma cerimônia na Chevra Kadisha. Seu corpo foi enterrado no Cemitério de Vilar dos Teles, em Belford Roxo.


Publicações

  • Dimensões Humanas da Biodiversidade - O Desafio de Novas Relações Sociais (Co-autoria de Irene Garay)
  • Migrações Internas no Brasil - Reflexo da Organização do Espaço Desequilibrada
  • Tecnologia e Gestão do Território (Bertha Becker et al.)
  • Amazônia Geopolítica Na Virada do III Milênio (2004)
  • Um Futuro Para Amazônia (Co-autoria de Claudio Stenner)
  • Dilemas e Desafios do Desenvolvimento Sustentável (Bertha Becker, Ignacy Sachs e Cristovam Buarque)
  • Becker, Bertha K. Geopolítica da Amazônia

Indicação: Miguel Sampaio

Milton Santos

MILTON ALMEIDA DOS SANTOS
(75 anos)
Geógrafo e Professor

* Brotas de Macaúbas, BA (03/05/1926)
+ São Paulo, SP (24/06/2001)

Milton Almeida dos Santos foi um geógrafo brasileiro. Apesar de ter se graduado em Direito, Milton Santos destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970.

Nasceu no município baiano de Brotas de Macaúbas em 03/05/1926. Ainda criança, migrou com sua família para outras cidades baianas, como Ubaitaba, Alcobaça e, posteriormente, Salvador. Em Alcobaça, com os pais e os avós maternos, todos professores primários, foi alfabetizado e aprendeu álgebra e a falar francês.

Aos 13 anos, Milton Santos dava aulas de matemática no ginásio em que estudava, o Instituto Baiano de Ensino. Aos 15 anos passou a lecionar Geografia e, aos 18, prestou vestibular para Direito em Salvador. Enquanto estudante secundário e universitário marcou presença na militância política de esquerda.

Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto que fez concurso para professor catedrático no Colégio Municipal de Ilhéus. Nesta cidade, além do magistério desenvolveu atividade jornalística, estreitando sua amizade com políticos de esquerda. Nesta época, escreveu o livro "Zona do Cacau", posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da Escola Regional Francesa.

Em 1958, concluiu seu doutorado na Universidade de Estrasburgo, na fronteira da França com a Alemanha. Ao regressar ao Brasil, criou o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, mantendo intercâmbio com os mestres franceses. Após seu doutorado, teve presença marcante na vida acadêmica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador. Em 1961, o presidente Jânio Quadros o nomeia para a subchefia do Gabinete Civil, tendo viajado a Cuba com a comitiva presidencial, o que lhe valeu registro nos órgãos de segurança nacional após o golpe de 1964.


Exílio

Em função de suas atividades políticas junto à esquerda, Milton Santos foi perseguido pelos órgãos de repressão da ditadura militar. Seus aliados e importantes políticos intervieram junto às autoridades militares para negociar sua saída do país, após ter cumprido meio ano de prisão domiciliar. Milton Santos achou que ficaria fora do país por 6 meses, mas acabou ficando 13 anos. Começou seu exílio em Toulouse, passando por Bordeaux, até finalmente chegar em Paris em 1968, onde lecionou na Sorbonne, tendo sido diretor de pesquisas de planejamento urbano no prestigiado Iedes.

Permaneceu em Paris até 1971, quando se mudou para o Canadá. Trabalhou na Universidade de Toronto. Foi para os Estados Unidos, com um convite para ser pesquisador no Massachusetts Institute Of Technology (MIT), onde trabalhou com Noam Chomsky. No MIT trabalhou em sua grande obra "O Espaço Dividido".

Dos Estados Unidos viajou para a Venezuela, onde atuou como diretor de pesquisa sobre planejamento da urbanização do país para um programa da Organização das Nações Unidas (ONU). Neste país manteve contato com técnicos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Estes contatos facilitaram sua contratação pela Faculdade de Engenharia de Lima, onde foi contratado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para elaborar um trabalho sobre pobreza urbana na América Latina.

Posteriormente, foi convidado para lecionar no University College de Londres, mas o convite ficou apenas na tentativa, já que lhe impuseram dificuldades raciais. Regressou a Paris, mas foi chamado de volta à Venezuela, onde lecionou na Faculdade de Economia da Universidade Central. Seguiu, posteriormente para Tanzânia, onde organizou a pós-graduação em Geografia da Universidade de Dar es Salaam. Permaneceu por dois anos no país, quando recebeu o primeiro convite de uma universidade brasileira, a Universidade de Campinas. Antes disso, regressou à Venezuela, passando antes pela Universidade de Colúmbia de Nova York.


Retorno ao Brasil

No final de 1976, houve contatos para a contratação de Milton Santos pela universidade brasileira, mas não havia segurança na área política e o contato fracassou. Em 1977, Milton Santos tentou inscrever-se na Universidade da Bahia, mas, por artimanhas político-administrativas, sua inscrição foi cancelada.

Ao regressar da Universidade de Colúmbia iria para a Nigéria, mas recusou o convite para aceitar um posto como Consultor de Planejamento do estado de São Paulo e na Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa). Esse peregrinar lhe custou muito, mas sua volta representou um enorme esforço de muitos geógrafos, destacando-se Armen Mamigonian, Maria do Carmo Galvão, Bertha Becker e Maria Adélia de Souza. Quanto ao seu regresso, Milton tinha um grande papel nas mudanças estruturais do ensino e da pesquisa em geografia no Brasil.

Após seu regresso ao Brasil, lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) até 1983. Em 1984 foi contratado como professor titular pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), onde permaneceu mesmo após sua aposentadoria. Também lecionou geografia na Universidade Católica de Salvador.


Morte

O professor emérito da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo, Milton Santos, morreu às 3:10 hs do dia 24/06/2001, em razão de um Câncer de Próstata. Milton Santos apresentou insuficiência respiratória aguda durante a madrugada. O câncer de Milton Santos foi diagnosticado havia cerca de sete anos.

Milton Santos estava internado no Hospital do Servidor Público Estadual desde o último dia 20/06/2001. Estava internado no 13º andar do hospital, no setor de hematologia.


A Trajetória e o Reconhecimento

Embora pouco conhecido fora do meio acadêmico, Milton Santos alcançou reconhecimento fora do país, tendo recebido, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud (conferido por universidades de 50 países).

Sua obra "O Espaço Dividido", de 1979, é hoje considerado um clássico mundial, onde desenvolve uma teoria sobre o desenvolvimento urbano nos países subdesenvolvidos.

Suas ideias de globalização, esboçadas antes que este conceito ganhasse o mundo, advertia para a possibilidade de gerar o fim da cultura, da produção original do conhecimento - conceitos depois desenvolvidos por outros. "Por Uma Outra Globalização", livro escrito por Milton Santos dois anos antes de morrer, é referência hoje em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Traz uma abordagem crítica sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital, apresentado como um pensamento único. Na visão dele, esse processo, da forma como está configurado, transforma o consumo em ideologia de vida, fazendo de cidadãos meros consumidores, massifica e padroniza a cultura e concentra a riqueza nas mãos de poucos.


Espaço: Abordagem Inovadora

A obra de Milton Santos é inovadora e grandiosa ao abordar o conceito de espaço. De território onde todos se encontram, o espaço, com as novas tecnologias, adquiriu novas características para se tornar um "conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações".

As velhas noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá abranger o planeta inteiro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou possível com o progresso tecnológico. Para contrapor-se à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Milton Santos, a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da globalização.

Estas ideias são expostas principalmente em sua obra "A Natureza do Espaço" (Edusp, 2002).

No conceito de espaço, Milton Santos revela a noção de paisagem, onde sua forma está em objetos naturais correlacionados com objetos fabricados pelo homem. Milton Santos aponta que espaço e paisagem não são conceitos dicotômicos, onde os processos de mudança social, econômico e político da sociedade resultam na transformação do espaço, que concatenado a paisagem se adaptam para as novas necessidades do homem naquele dado período. Milton Santos revela o conceito de paisagem como algo não estanque no espaço, e sim que a cada período histórico altera, renova e adapta para atender os novos paradigmas do modo de produção social.

São ideias apontadas na obra "Pensando o Espaço do Homem", 1982.

Fonte: Wikipédia

Caio Prado Júnior

CAIO DA SILVA PRADO JÚNIOR
(83 anos)
Historiador, Geógrafo, Escritor, Político e Editor

* São Paulo, SP (11/02/1907)
+ São Paulo, SP (23/11/1990)

As suas obras inauguraram, no país, uma tradição historiográfica identificada com o marxismo, buscando uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira.

Caio da Silva Prado Júnior nasceu em São Paulo, em 11 de fevereiro de 1907. Proveniente de uma família de políticos e da sociedade nobre paulista, vários parentes seus exerceram papel de destaque na vida político-econômica de São Paulo, como por exemplo, seu avô Martinho Prado Júnior e seus tios-avô Antônio Prado e Eduardo Prado, sendo que os dois primeiros também possuíram mandatos na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo em 1928, onde mais tarde seria livre-docente de Economia Política.

Como intelectual teve importante atuação política ao longo das décadas de 1930 e 1940, tendo participado das articulações para a Revolução de 1930. Decepcionado com a inconsistência política e ideológica da República Nova, aproximou-se do marxismo e filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1931.

Em 12 de agosto de 1931, em São Paulo, nasceu seu filho com Hermínia F. Cerquilho, Caio Graco, que mais tarde conduziu a Editora Brasiliense, fundada pelo pai em 1943.

Publicou, em 1933, a sua primeira obra, "Evolução Política do Brasil", uma tentativa de interpretação da história política e social do país. Após uma viagem à União Soviética em 1933, à época no governo de Stalin, e a alguns países socialistas, alinhados à União Soviética, publicou "URSS - Um Novo Mundo" (1934), edição apreendida pela censura do governo de Getúlio Vargas, que passaria a combater. Ingressou na Aliança Nacional Libertadora (ALN), a qual presidiu em São Paulo.

Em 1934, ano de implantação da Universidade de São Paulo (USP), juntamente com os professores Pierre Deffontaines, Luís Flores de Morais Rego e Rubens Borba de Morais, Caio Prado Júnior participou da fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), primeira entidade científica de caráter nacional.

Em 1942 publicou o clássico "Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia", que deveria ter sido a primeira parte de uma coletânea sobre a evolução histórica brasileira, a partir do período colonial. Entretanto, os demais volumes jamais foram escritos. Neste livro, alcança superar uma prática até então usual na Historiografia brasileira, qual seja, a da anacronia, consistente em se se analisarem os fatos passados sem perder de vista o seu desenlace presente. Caio Prado Júnior, por seu turno, é capaz de analisar os processos históricos a partir do mundo em que se desenvolveram, elaborando o mais completo quadro do Brasil Colônia até então traçado.

Pautando a sua investigação em relatos coetâneos ao período do Brasil Colônia, pinta um retrato sem retoques de um plano geográfico de que se encontram não poucas marcas no Brasil de hoje. O livro "Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia", ao lado de "Casa-Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, e de "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, forma uma tríade inelutável para se alcançar um conhecimento de como funcionam as estruturas sociais do país. Entrementes, em diferenciação a seus pares, Caio Prado Júnior tende a dar as costas a um certo subjetivismo e a um certo tom redentor - apegando-se a evidências e evitando lucubrações simplistas, acaba por elaborar o livro que mais solidamente caracteriza a formação da sociedade brasileira.

Em 1945 foi eleito deputado estadual, como terceiro suplente pelo Partido Comunista Brasileiro e, em 1948 como deputado da Assembleia Nacional Constituinte. Todavia, este último mandato lhe seria cassado em 1948, na sequência do cancelamento do registro do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dirigiu o vespertino A Plateia e, em 1943, juntamente com Arthur Neves e Monteiro Lobato, fundou a Editora Brasiliense, na qual lançou, posteriormente, a Revista Brasiliense, editada entre 1956 e 1964.

Na década de 1950, desenvolveu sua discussão sobre dialética, publicando dois livros: "A Dialética do Conhecimento" (1952) e "Notas Introdutórias à Lógica Dialética" (1959).

Sofreu novas perseguições durante o Regime Militar, após 1964.

Em 1966 foi eleito o Intelectual do Ano, com a conquista do Prêmio Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores, devido à publicação, naquele ano, do polêmico "A Revolução Brasileira", uma análise dos rumos do país após o movimento de 1964.

Caio Prado Júnior faleceu em 23 de novembro de 1990.


As Principais Obras de Caio Prado Júnior

  • 1933 - Evolução Política do Brasil
  • 1934 - URSS - Um Novo Mundo
  • 1942 - Formação do Brasil Contemporâneo
  • 1945 - História Econômica no Brasil
  • 1952 - Dialética do Conhecimento
  • 1953 - Evolução Política do Brasil e Outros Estudos
  • 1954 - Diretrizes Para Uma Política Econômica Brasileira
  • 1957 - Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica
  • 1959 - Introdução à Lógica Dialética (Notas Introdutórias)
  • 1962 - O Mundo do Socialismo
  • 1966 - A Revolução Brasileira
  • 1971 - Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser
  • 1972 - História e Desenvolvimento
  • 1979 - A Questão Agrária no Brasil
  • 1980 - O Que é Liberdade
  • 1981 - O Que é Filosofia
  • 1983 - A Cidade de São Paulo

Fonte: Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino

Agamenon Magalhães

AGAMENON SÉRGIO DE GODOY MAGALHÃES
(59 anos)
Promotor, Geógrafo, Professor e Político

* Serra Talhada, PE (05/11/1893)
+ Recife, PE (24/08/1952)

Agamenon Magalhães foi um promotor de direito, geógrafo, professor de geografia e político. Deputado estadual (1918), federal (1924, 1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e Justiça).

Tetraneto de Agostinho Nunes de Magalhães, e filho do juiz e deputado estadual Sérgio Nunes Magalhães, tornou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Recife (1916), sendo em seguida nomeado para a promotoria da comarca de São Lourenço da Mata. No ano seguinte, casou-se com Antonieta Bezerra Cavalcanti e retornou a Recife, onde fixou residência.

Em 1918, foi eleito deputado estadual com apoio da agremiação governista estadual (Partido Republicano Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal, reeleito quatro anos depois. Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal, aderiu à Aliança Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução, apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido Social Democrático (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se deputado constituinte em 1932.

Aliado Fiel de Vargas

A atuação de Agamenon Magalhães na Constituinte de 1933 foi pautada na defesa do regime parlamentarista, na qual não teve apoio nem do governo nem dos demais parlamentares. Apesar disso, em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do Trabalho, Indústria e Comércio.

Nesse período, deu apoio à criação da Justiça do Trabalho, ampliou a rede de apoio aos trabalhadores urbanos, e utilizou a arregimentação sindical para combater a infiltração comunista no movimento operário, principalmente após a Intentona Comunista de 1935. Para isso, defendeu a intensificação do controle sobre os sindicatos e o aceno com novas leis sociais para os trabalhadores. Em 1937, após a demissão de Vicente Rao, passou a acumular também as funções da pasta da Justiça.

Aliado fiel de Getúlio Vargas, Agamenon Magalhães entrou em choque com o interventor Carlos de Lima Cavalcanti, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938. Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor.

O "Agamenonismo"

Ao voltar ao estado natal, Agamenon Magalhães anunciou que trazia consigo a "emoção do Estado Novo". Misto de populismo social com centralização política, o estilo de governo de Agamenon (por ele chamado de "ruralização") foi marcado pela busca da unidade social e política, apoiada na personalidade pública do interventor.

O governo estadual procurou envolver-se em todos os setores da vida cotidiana, seguindo um ideário tradicionista, autoritário e fortemente católico, que procurou apoiar-se tanto na censura oficial do Departamento de Imprensa e Propaganda, quanto na utilização do jornal oficioso, o Diário da Manhã.

Segundo Michel Zaidan:

"A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela busca desenfreada do 'consenso máximo' na sociedade pernambucana, a partir de uma falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido através de uma feroz repressão aos adversários, críticos, comunistas, prostitutas, afro-brasileiros, vadios e homossexuais."

O governo Agamenon também combateu o cangaço e realizou obras contra a seca. Seu programa de erradicação dos mocambos (habitações insalubres) teve forte impacto entre as populações pobres, apesar das críticas de Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, seus adversários na intelectualidade.

A "Lei Malaia"

Em janeiro de 1945, Agamenon Magalhães foi novamente chamado por Getúlio Vargas para a pasta da Justiça. Mas desta vez, Getúlio não preparava o fechamento das instituições (como em 1937), e sim a sua democratização.

Como titular da pasta, Agamenon aprovou o novo Código Eleitoral (Lei Agamenon) e convocou as primeiras eleições livres do Brasil, com a autorização para o funcionamento dos partidos políticos e o pleito direto para a presidência da República. No entanto, a tentativa de aprovar uma lei antitruste (chamada de "lei malaia" por seu opositor Assis Chateaubriand, fazendo assim menção ao seu apelido pernambucano, "China Gordo") aumentou as pressões de setores empresariais e militares contra o Governo Vargas.

Em outubro de 1945, Getúlio Vargas acabou sendo deposto, e com ele Agamenon deixou o ministério. O sucessor de Vargas, José Linhares, anunciou o veto à "lei malaia" como uma de suas primeiras medidas.

Líder do PSD

Apesar da deposição de Vargas, Agamenon conseguiu ser eleito para a Câmara dos Deputados e permanecer como uma das principais lideranças nacionais do Partido Social Democrático (PSD), ao qual se filiara. Na Constituinte de 1946, alinhou-se entre os defensores da intervenção estatal na economia.

Mesmo residindo no Rio de Janeiro, Agamenon Magalhães manteve-se como líder inconteste do PSD pernambucano, apesar de sua crescente oposição ao governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, que era do mesmo partido. A cisão deu-se quando Agamenon lançou a candidatura de Barbosa Lima Sobrinho ao governo de Pernambuco. Eurico Gaspar Dutra, por sua vez, apoiou o candidato da UDN, um usineiro apoiado por setores agrários e conservadores. A disputa eleitoral, vencida pelo PSD por pequena margem de votos em janeiro de 1947, foi violenta e contestada vários anos na justiça.

A máquina eleitoral de apoio ao PSD era garantida por uma extensa rede de apoiadores locais, utilizando-se do sistema do coronelismo. Essa rede possibilitou ao partido obter sucessivas vitórias em Pernambuco até 1958 (exceto na capital), derrotando todos os seus adversários. Em 1950, Agamenon lançou sua própria candidatura ao governo de Pernambuco, para suceder a Barbosa Lima Sobrinho.

Desta vez, porém, Agamenon Magalhães não seguiu a orientação de Getúlio Vargas (que naquele ano foi lançado candidato a presidente pelo PTB). Reconciliando-se com Eurico Gaspar Dutra, apoiou o candidato oficial do PSD, Cristiano Machado, enquanto Getúlio Vargas se aliou a João Cleofas de Oliveira, candidato da UDN e que depois seria seu ministro da Agricultura.

O eleitorado do interior (onde se concentrava a máquina do PSD) foi essencial para a nova vitória de Agamenon, eleito governador por 196 mil votos, contra 186 mil de seu adversário.

O Legado

No entanto, a eleição popular de Agamenon Magalhães não significou o pleno retorno do "agamenonismo" ao governo de Pernambuco: seu governo teve fim com sua morte súbita, em 24 de agosto de 1952.

O nacionalismo econômico e a visão social de Agamenon Magalhães marcaram a transição de uma visão agrária e oligárquica para a aliança com setores urbanos e operários (que marcou o conluio PSD/PTB em nível nacional). No entanto, em Pernambuco, o próprio PSD não conseguiu romper com sua formação conservadora. Com Etelvino Lins (sucessor de Agamenon), o partido obteve uma nova vitória nas eleições de 1954 elegendo o general Osvaldo Cordeiro de Farias, mas foi finalmente derrotado em 1958.

Agamenon Magalhães foi tio do deputado federal Sérgio Magalhães Junior, líder da Frente Parlamentar Nacionalista, e do governador Roberto Magalhães Melo.

Fonte: Wikipédia

Marechal Rondon

CÂNDIDO MARIANO DA SILVA RONDON
(92 anos)
Militar, Sertanista, Explorador, Geógrafo e Pacificador

☼ Santo Antônio do Leverger, MT (05/05/1865)
┼ Rio de Janeiro, RJ (19/01/1958)

Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon, foi um militar, sertanista, explorador, geógrafo e pacificador brasileiro.

De origem indígena por parte de seus bisavós maternos (Bororo e Terena) e bisavó paterna (Guará), Cândido Rondon tornou-se órfão precocemente, tendo sido criado pelo tio e, depois de sua morte, transferiu-se para o Rio de Janeiro para ingressar na Escola Militar: além dos estudos serem gratuitos, os alunos da escola recebiam - desde que assentassem praça - soldo de sargento.

Alistou-se no 3º Regimento de Artilharia a Cavalo em 1881. Dentre outros estudos, cursou Matemática e Ciências Físicas e Naturais da Escola Superior de Guerra.

Ainda estudante, teve participação nos movimentos abolicionista e republicano. Foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso. Foi então designado para a comissão de construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás.

O governo republicano tinha preocupação com a região oeste do Brasil, muito isolada dos grandes centros e em regiões de fronteira. Assim decidiu melhorar as comunicações construindo linhas telegráficas para o centro-oeste.

Cândido Rondon cumpriu essa missão abrindo caminhos, desbravando terras, lançando linhas telegráficas, fazendo mapeamentos do terreno e principalmente estabelecendo relações cordiais com os índios.


Manteve contato com muitas tribos indígenas, entre elas os Bororo, Nambikwara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariquemes, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya e Macurape.

Em 1889 Cândido Rondon participou diretamente com Benjamin Constant Botelho de Magalhães das articulações que resultaram na criação da República Brasileira.

Entre 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e o Araguaia, e uma estrada ligando Cuiabá a Goiás.

Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras de Paraguai e Bolívia.

Em 1906 encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia.

Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta mesma época estava sendo construída a Ferrovia Madeira-Mamoré, que junto com o desbravamento e integração telegráfica de Cândido Rondon ajudaram a ocupar a região do atual estado de Rondônia.

Cândido Rondon realizou expedições com a Comissão Rondon, com o objetivo de explorar a região amazônica. Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção Aos Índios e de maio de 1913 a maio de 1914 realizou mais uma expedição, em conjunto com ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt.


Em setembro de 1913, Cândido Rondon foi atingido por uma flecha envenenada dos índios Nambikwara, sendo salvo pela bandoleira de couro de sua espingarda, ordenou a seus comandados, porém, que não reagissem e batessem em retirada, demonstrando seu princípio de penetrar no sertão somente com a paz.

Em 1914, com a Comissão Rondon, construiu 372 km de linhas e mais cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena (depois Vila de Rondônia e atual Ji-Paraná), Jaru e Ariquemes, na área do atual estado de Rondônia.

Em 01/01/1915, concluiu sua missão com a inauguração da estação telegráfica de Santo Antônio do Madeira.

De 1919 a 1924 foi diretor de engenharia do Exército. Com a Revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder, foi preso.

Em maio de 1956, Juarez Távora escreve:

"Esclareço que o fato de haver oposto restrição quanto à oportunidade do empreendimento (linhas telegráficas) do Marechal Rondon, não significava desapreço pelo conjunto de sua obra sertanista - e aí incluo o nobre esforço de catequese leiga de nossos índios — Rondon foi sem dúvida um pioneiro."

Cândido Rondon cumpriu essa missão abrindo caminhos, desbravando terras, lançando linhas telegráficas, fazendo mapeamentos do terreno e principalmente estabelecendo relações cordiais com os índios. Manteve contato com diversos povos indígenas, porém, sem nunca levar a morte ou o horror dos brancos a eles.

Desbravador do interior do país, foi inspiração para criar o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Teve seu primeiro encontro com os índios, alguns hostis, outros escravos de fazendeiros, quando construía as linhas telegráficas que ligaram Goiás a Mato Grosso.

Apoio a Getúlio Vargas

Tornou-se então colaborador de Getúlio Vargas. Em 1942, pronunciou discurso em apoio de Getúlio Vargas:

"Por este conduzir a bandeira política e administrativa da Marcha para o Oeste, visando ao alargamento do povoamento do sertão e de seu aproveitamento agropecuário com fundamentos econômicos mais sólidos e eficientes. Homenagem pela sua expressão de simpatia para com os indígenas e disposição de ocupar o vazio do território que permanecia despovoado."

Marechal Rondon em contato com índios entre Mato Grosso e Rondônia.
Homenagens

Em 05/05/1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional.

Em 17/02/1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, em 1981 elevado a Estado.

O município de Marechal Cândido Rondon foi criado em 1960.

Em 1957 foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, pelo Explorer's Club, de New York.

Seu rosto foi estampado na nota de mil cruzeiros.

O principal aeroporto de Mato Grosso chama-se Aeroporto Internacional Marechal Rondon, enquanto o Aeroporto de Marechal Cândido Rondon serve à cidade homônima.

O Marechal Rondon é também homenageado nomeando diversos bairros, escolas e logradouros no Brasil, como a Rodovia Marechal Rondon e a Escola Marechal Rondon, em Recife, PE.

O reconhecimento da obra de Rondon extrapolou as fronteiras do Brasil. Teve a glória de ter seu nome escrito em letras de ouro maciço no Livro da Sociedade de Geografia de New York, como o explorador que penetrou mais profundamente em terras tropicais, ao lado de outros imortais como Amundsen e Peary, descobridores dos pólos norte e sul; e Charcot e Byrd, exploradores que mais profundamente penetraram em terras árticas e antárticas.

Marechal Rondon é o Patrono das Telecomunicações no Brasil, e 05 de maio é o Dia Nacional das Comunicações, criado em sua homenagem.

Em 01/07/2015, o Governo Federal determinou a inscrição do nome de Rondon no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Em 1963, o Marechal Rondon foi homenageado com a designação de Patrono da Arma de Comunicações do Exército Brasileiro.

Carreira Militar


  • Segundo-tenente em 4 de janeiro de 1890;
  • Primeiro-tenente, três dias depois, por serviços relevantes à Proclamação da República, no mesmo ato em que o Marechal Deodoro foi promovido a Generalíssimo e Benjamin Constant a General, em 7 de janeiro de 1890;
  • Marechal Honorário (Lei nº 2.409, de 27 de janeiro de 1955) em 5 de maio de 1955.


Positivismo

Sob influência do positivismo, Marechal Rondon fez seu credo:

"Eu Creio:
Que o homem e o mundo são governados por leis naturais.
Que a Ciência integrou o homem ao Universo, alargando a unidade constituída pela mulher, criando, assim, modesta e sublime: simpatia para com todos os seres de quem, como poverello, se sente irmão.
Que a Ciência, estabelecendo a inateidade (sentimento nato) do amor, como a do egoísmo, deu ao homem a posse de si mesmo. E os meios de se transformar e de se aperfeiçoar.
Que a Ciência, a Arte e a Indústria hão de transformar a Terra em Paraíso, para todos os homens, sem distinção de raças, crenças,: nações – banido os espectros da guerra, da miséria, da moléstia.
Que ao lado das forças egoístas – a serem reduzidas a meios de conservar o indivíduo e a espécie – existem no coração do homem: tesouros de amor que a vida em sociedade sublimará cada vez mais.
Nas leis da Sociologia, fundada por Augusto Comte, e por que a missão dos intelectuais é, sobretudo, o preparo das massas humanas: desfavorecidas, para que se elevem, para que se possam incorporar à Sociedade.
Que, sendo, incompatíveis às vezes os interesses da Ordem com os do Progresso, cumpre tudo ser resolvido à luz do Amor.
Que a ordem material deve ser mantida, sobretudo, por causa das mulheres, a melhor parte de todas as pátrias e das crianças, as pátrias do futuro.
Que no estado de ansiedade atual, a solução é deixando o pensamento livre como a respiração, promover a Liga Religiosa,: convergindo todos para o Amor, o Bem Comum, postas de lado as divergências que ficarão em cada um como questões de foro íntimo, sem perturbar a esplêndida unidade – que é a verdadeira felicidade."

Rondon ingressou na Igreja Positivista ao fim de 1898, como major e como ardoroso membro na teoria e na prática positivista.

Fonte: Wikipédia

Euclides da Cunha

EUCLIDES RODRIGUES PIMENTA DA CUNHA
(43 anos)
Escritor, Sociólogo, Repórter Jornalístico, Historiador, Geógrafo, Poeta e Engenheiro

☼ Cantagalo, RJ (20/01/1866)
┼ Rio de Janeiro, RJ (15/08/1909)


Euclides da Cunha nasceu na Fazenda Saudade, em Cantagalo, RJ. Era filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos de idade, Euclides da Cunha passou a viver em casa de parentes em Teresópolis, São Fidélis e no Rio de Janeiro.

Em 1883 ingressou no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin Constant Botelho de Magalhães, que muito influenciou sua formação introduzindo-lhe à filosofia positivista.

Em 1885, ingressou na Escola Politécnica e, no ano seguinte, na Escola Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontra Benjamin Constant como professor.

Cadete Republicano

Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides da Cunha negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina e em 1888, desligou-se do Exército.

Euclides da Cunha participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de São Paulo.

Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais.

Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República.

Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Ludgero Prestes
Ciclo de Canudos

Durante a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides da Cunha escreveu dois artigos intitulados "A Nossa Vendeia" que lhe valeram um convite do jornal O Estado de São Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior.

Em Canudos, Euclides da Cunha adotou um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta de Campo. Fraco e doente, o menino foi trazido para São Paulo, onde Euclides da Cunha o entregou a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino foi rebatizado de Ludgero Prestes.

Livro Vingador

Euclides da Cunha deixou Canudos quatro dias antes do final da guerra, não chegando a presenciar o desenlace final. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar "Os Sertões: Campanha de Canudos" (1902). Os Sertões foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides da Cunha se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma ponte metálica.

O livro trata da Campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. Nesta obra, ele rompe por completo com suas idéias anteriores e pré-concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da monarquia, comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha.

Euclides da Cunha se tornou internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeram vagas para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

Divide-se em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Nelas Euclides da Cunha analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro.

Euclides da Cunha em Canudos (Tela de Edmundo Migliaccio)
Ciclo Amazônico

Em agosto de 1904, Euclides a Cunha foi nomeado chefe da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e o Peru. Esta experiência resultou em sua obra póstuma "À Margem da História", onde denunciou a exploração dos seringueiros na floresta.

Ele partiu de Manaus para as nascentes do Rio Purus, chegando adoentado em agosto de 1905. Dando continuidade aos estudos de limites, Euclides da Cunha escreveu o ensaio "Peru Versus Bolívia", publicado em 1907.

Escreveu, também durante esta viagem, o texto "Judas-Ahsverus", considerado um dos textos mais filosófica e poeticamente aprofundados de sua autoria.

Após retornar da Amazônia, Euclides da Cunha proferiu a conferência "Castro Alves e Seu Tempo", prefaciou os livros "Inferno Verde", de Alberto Rangel, e "Poemas e Canções", de Vicente de Carvalho.

Concurso de Lógica

Visando a uma vida mais estável, o que se mostrava impossível na carreira de engenheiro, Euclides da Cunha prestou concurso para assumir a Cadeira de Lógica do Colégio Pedro II. O filósofo Raimundo de Farias Brito foi o primeiro colocado, mas a lei previa que o presidente da república escolheria o catedrático entre os dois primeiros. Graças à intercessão de amigos, Euclides da Cunha foi nomeado. Depois de sua morte, Farias Brito acabaria ocupando a cátedra em questão.

Academia Brasileira de Letras

Foi eleito em 21/09/1903 para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na sucessão de Valentim Magalhães, e recebido em 18/12/1906 pelo acadêmico Sílvio Romero.

A "Tragédia da Piedade"

Sua esposa, Ana Emília Ribeiro, tornou-se amante de um jovem tenente, 17 anos mais novo do que ela, chamado Dilermando de Assis. Ainda casada com Euclides da Cunha, teve dois filhos de Dilermando de Assis, um deles morreu ainda bebê. O outro filho era chamado por Euclides de "a espiga de milho no meio do cafezal", por ser o único louro numa família de morenos. Aparentemente, Euclides da Cunha aceitou como seu esse menino louro.

A traição de Ana Emília Ribeiro desencadeou uma tragédia em 1909, quando Euclides da Cunha teria entrado na casa de Dilermando de Assis, armado, dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando de Assis reagiu e matou-o.

Foi julgado pela justiça militar e absolvido. Entretanto, até hoje o episódio permanece em discussão. Dilermando de Assis casou-se com Ana Emília Ribeiro e o casamento durou 15 anos.

O corpo de Euclides da Cunha foi velado na Academia Brasileira de Letras. O médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o atestado de óbito, mais tarde ocuparia sua cadeira na Academia Brasileira de Letras.

O corpo de Euclides da Cunha exposto numa sala da Academia Brasileira de Letras
Versões

As versões sobre o desfecho da história abrigam diferentes hipóteses. A mais comedida defende que o escritor tenha sido vítima de uma emboscada, quando apenas queria resgatar seus filhos do ambiente libertino construído por Ana Emília Ribeiro e Dilermando de Assis.

A mais exasperante é a de que, movido pela humilhação da traição, Euclides da Cunha, em defesa de sua honra, partira disposto a matar seu rival e vingar-se de Ana Emília Ribeiro.

Exímio atirador, Dilermando de Assis justificou seu ato como legítima defesa, alegando que Euclides da Cunha agiu de forma premeditada, ao seguir armado à sua procura. Aos olhos da Justiça, o gesto de Dilermando de Assis foi leal, tanto que foi absolvido pelo júri popular.


Semana Euclidiana e Euclidianismo em Cantagalo

A cidade de São José do Rio Pardo, no Estado de São Paulo, realiza todos os anos, entre 9 e 15 de agosto, a Semana Euclidiana, em memória do escritor que ali vivia quando escreveu sua obra-prima "Os Sertões". São José do Rio Pardo tornou-se uma cidade turística conhecida como O Berço de Os Sertões.

Também em São Carlos, SP, celebra-se todos os anos, uma Semana Euclidiana, em homenagem ao escritor que morou na cidade entre 1901 e meados de 1903, ali terminando seu trabalho "Os Sertões" e o publicando em 1902.

A cidade de Cantagalo, berço natal de Euclides da Cunha, também mantém viva a memória do escritor, através de eventos e um museu dedicado a Euclides da Cunha e suas obras.

Em 2009, ano do centenário de sua morte, a cidade de Cantagalo realizou o Seminário Internacional 100 Anos Sem Euclides. Na cidade, o Grupo Euclidiano de Atividades Culturais (GEAC) é o difusor do movimento.

Fonte: Wikipédia