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José Kairala

KAIRALA JOSÉ KAIRALA
(39 anos)
Comerciante e Político

☼ Manaus, AM (01/02/1924)
┼ Brasília, DF (04/12/1963)


Kairala José Kairala foi um comerciante e político brasileiro, nascido em Manaus, AM, no dia 01/02/1924, senador pelo Acre em 1963. Era filho de José Kairala e Carolina Moussuly Kairala. Foi assassinado no exercício do mandato, dentro do prédio do Senado Federal, vítima de uma bala perdida disparada pelo também senador Arnon de Mello.

Após trabalhar como comerciante, Kairala José Kairala, elegeu-se em outubro de 1962, suplente do senador pelo Acre José Guiomard, na legenda do Partido Social Democrático (PSD). Devido a licença solicitada por Guiomard, assumiu uma cadeira no Senado no dia 06/07/1963.

Sua última sessão como senador aconteceu em 04/12/1963, quando Arnon de Mello ocupava a tribuna para rebater acusações que lhe foram desferidas seu inimigo político, Silvestre Péricles de Góis Monteiro. Silvestre Péricles interrompeu o discurso, bradando novas injúrias e avançando sobre Arnon de Mello, que sacou a arma e disparou contra o adversário, que saiu ileso.


Sentado à primeira fila, porém, José Kairala foi atingido no estômago por um dos três tiros disparados. Os dois senadores foram dominados e aprisionados, ilesos, mas José Kairala, sentado no plenário, havia sido atingido. Removido para o Hospital Distrital de Brasília, faleceu algumas horas mais tarde. Apesar de presos em flagrante após o crime, os senadores alagoanos acabaram isentos de punição.

José Kairala era casado com Creusa Kairala, com quem teve quatro filhos, o último dos quais só nasceu após sua morte.

Por conta do acontecido sua família retornou ao Acre e a seguir foi para Minas Gerais até fixar-se no Distrito Federal em 1977, e nesse período sua esposa trabalhou como lavadeira e babá após a viuvez.

Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito

FABRICIANO FELISBERTO CARVALHO DE BRITO
(80 anos)
Comerciante, Farmacêutico, Militar e Político

☼ Antônio Dias, MG (22/08/1840)
┼ Antônio Dias, MG (28/06/1921)

Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito foi um comerciante, farmacêutico, militar e político brasileiro. Nasceu no dia 22/08/1840 na então freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo, hoje município de Antônio Dias, pertencente a Itabira, no interior do estado de Minas Gerais, sendo filho do professor primário Antônio de Britto e de Theresa Umbelina.

Casou-se com Anna Angélica de Carvalho Britto, nascida em 1849, filha de José Antonio Carvalho e Maria Carvalho, e juntos tiveram três filhos: Drº José Tomás de Carvalho, casado com Josefa de Miranda Britto; Drº Manoel Tomás de Carvalho, casado com Elisa Robertina de Albuquerque, e Drº Eusébio Tomás de Carvalho Britto, casado com Ernestina Lage de Britto, dos quais se originaram 21 netos e 38 bisnetos até a data do centenário de Fabriciano, em 22/08/1940.

Trajetória

Felisberto cursou o primário na Escola de Meninos de sua cidade natal, tendo ainda pequeno aprendido o ofício de sapateiro, profissão que exerceu durante sua juventude. Posteriormente atuou como comerciante e farmacêutico, herdando do sogro, José Tomás Pereira, uma casa comercial de gêneros, armarinhos e tecidos. Esse empreendimento modernizou-se a partir das viagens que fez ao Rio de Janeiro, de onde trazia mercadorias variadas e encomendas para a população da localidade.

Anos mais tarde, tornou-se um líder local, passando a exercer, por nomeação, diversos cargos públicos: Escrivão do Cartório de Paz e da Subdelegacia de Polícia em 1862, subdelegado de polícia em 1876, agente dos Correios em 1877 e primeiro suplente de Juiz Municipal para o Distrito de Antônio Dias em 1888.

Fabriciano e Anna Angélica

Fabriciano, depois de ter tido uma pequena fábrica de sapatos (ele também tinha o ofício de sapateiro e trabalhava junto com os seus empregados), estabeleceu-se como negociante. Enquanto ele ficava na loja e fazia sapatos, Anna Angélica dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, costurava calças e camisas para os fregueses e cuidava da cozinha. Era uma abelhinha para trabalhar. Quantas vezes a gente a ouvia dizer, mostrando as mãos: "O que estas mãos sagradas não fazem, quem há de fazer?".

Neste tempo, Antônio Dias era um pequeno arraial, que não deixava de ter os seus atrativos no seu aspecto bucólico. A igreja fora construída pelo bandeirante Antônio Dias, que morreu e foi sepultado na terra a que deu o nome. Existe uma lápide com o nome do fundador e o ano do seu falecimento na porta da igreja, o que representa uma contribuição histórica para a cidade. Em frente, na outra margem, no alto do morro, o Cruzeiro. Embaixo, o rio Piracicaba, em cujas margens se alinhava o casario, formado de casas de estilo aproximado ao colonial simples, com portas e janelas geralmente azuis e com paredes brancas.

Na praça da matriz se encontrava a loja de Fabriciano e do lado esquerdo o rancho que servia para receber as cargas e os arreios da tropa, no tempo em que funcionava a loja. Do lado direito, a casa de moradia, com graciosas janelas e a porta de entrada com a indefectível cancela.

Neste tempo, a população devia ser de 1.500 a 2.000 habitantes. As ruas eram assim denominadas: Rua de Baixo, Rua de Cima, Bonfim, Sítio, Beco da Ponte. Tudo simples, respirando paz. Distrações não havia ou a custo encontradas nas banalidades do dia-a-dia. Por exemplo, se os que chegavam a cavalo, despertavam os que estavam tranquilos em casa, com o tropel nas pedras da rua, de todas as janelas surgia gente curiosa para saber quem era e logo a notícia corria. Sabe quem está na terra? Se era gente de fora, hospedada na casa de Fabriciano, logo logo, aparecia gente para conversar, para saber novidades ou para contá-las. Uma delas era Andrelina de Castro, filha de Joaquim Tito, o sapateiro auxiliar de Coronel Fabriciano, afilhada da casa da qual participava da intimidade, passando lá diariamente, várias horas. Ao chegar ia logo dizendo: "Louvado seja Cristo, meu padrinho ou... minha madrinha".

Era uma mulher de inteligência rara. Estudou as primeiras letras e através da leitura de jornais e de um outro livro que lhe caía nas mãos, chegou a adquirir uma cultura invulgar. Sabia opinar a propósito de tudo, dos fatos corriqueiros da terra à política, que ela conhecia como ninguém. Era muito alta, dentes bons lhe enfeitavam o riso franco. Não era bonita. Quando se empolgava e defendia seus pontos de vista, levantava-se da cadeira e andava de um lado para outro, gesticulando e falando em tom de oratória. Conhecia História Geral e Religião.

Os Filhos de Fabriciano

Além do filho doutor, Manoel Tomás, que ia casar com a filha do Juiz de Direito em Itabira, e de Eusébio, Fabriciano e Anna Angélica tinham também José Tomás, o filho mais velho, que ia ser padre, tendo estudado durante seis anos no Seminário de Mariana, chegando a iniciar-se na Teologia, já no seminário maior. Era muito estudioso e conhecia latim como qualquer bom latinista. Tinha sempre um caso de seminário para contar e repetidamente citava frases latinas. As férias, passava-as em Antônio Dias, vestido de batina e dando sua mão a beijar a todos que dele se aproximassem, sobretudo as mocinhas. Mas não era por saliência, tinha mesmo gosto na vocação. Ajudava o vigário nas funções religiosas, contava o Tantum Ergo nas bençãos do Santíssimo, rezava o terço com Fabriciano e Anna Angélica.

Mas foi uma pena. Vocação se não é bem cultivada, se arrefece e se perde. José Tomás foi influenciado pelo irmão que estudava Direito e que o levou para São Paulo para entrar na Faculdade do Largo São Francisco. José Tomás hospedou-se na república dos estudantes, onde morava seu irmão. Foi o desastre: a estudantada, influenciada pelo positivismo quis atrair também José Tomás para as idéias contistas, desviando-o da vocação. Ele desistiu de ser padre, mas também não se sentiu bem no meio da mocidade sem religião. Voltou à casa dos pais, na pacata Antônio Dias.

Os Estudos dos Filhos e as "Chorosas" Partidas

Chegou o tempo de seguirem para os estudos os filhos de Fabriciano e Anna Angélica. Enquanto se preparavam para partir, Anna Angélica, muito chorosa, dizia: "Eu preferia que Inhô (Fabriciano) fosse pobre para eu não ter de separar-me de meus filhos...".

Coitadinha, de fato naquele tempo a separação dos filhos era muito penosa, pois não havia meios de comunicação que diminuíssem as distâncias, facilitando um encontro mais frequente com eles.

José Tomás (Juca), o mais velho, seguiu para Mariana, MG, para o famoso seminário onde pontificavam padres lazaritas de muito saber, sob a jurisdição de bispos como Dom Benevides, Dom Viçoso, Dom Silvério.

Manoel Tomás e Eusébio, o mais novo, continuaram os estudos iniciados em Itabira, com Mestre Emílio, na capital de Minas, ou seja, Ouro Preto, antiga Vila Rica.

Eusébio optou pela carreira de farmacêutico e tão logo se formou iniciou-se na vida prática, casando-se em seguida com uma linda moça de olhos azuis, cabelos louros e tez muita alva. Chamava-se Ernestina, pertencia à família Lage e era conhecida pelo apelido de Netinha. Eusébio era apaixonado pela noiva e muito romântico. Prova-se uma fotografia em que ele com um retrato de Netinha sobre uma mesa se deixou fotografar numa atitude embevecida de enamorado.

O casal formou uma bela família de oito filhos, três homens e cinco mulheres. Todos estudaram e se formaram, casaram e constituíram família. As bonitas filhas Ceci e Zuleika permaneceram solteiras, apesar de muito assediadas por bons partidos. Acompanharam os pais com muita dedicação e exerceram com proficiência funções na Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais.

Assim que formou, Eusébio Tomás estabeleceu-se em Antônio Dias, com uma farmácia e fazia as vezes de médico, pois naquele tempo não os havia no lugar.

Construiu sua casa num terreno pegado ao de seu pai e todo seus filhos nasceram lá. A casa era de um estilo aproximado ao normando, grande e confortável.

Mudando-se para Belo Horizonte, fez mais tarde, depois dos 40 anos, o curso de Direito, ingressando na política e, atuando como deputado, prestou muitos serviços a zona que o elegeu. Em suma, tinha um grande prestígio em todo o Vale do Rio Doce, notadamente em Itabira, Antônio Dias, Sant’Ana de Ferros, São José da Lagoa, hoje Nova Era, São Domingos do Prata e outros.

Além de político, era pessoa de fino trato, sabendo relacionar-se com todos, com os compadres e com os humildes, adquirindo assim, além do prestígio, uma amizade singular em toda zona. Quando voltava a Antônio Dias, em visita aos pais e possivelmente para politicar, as visitas que recebia eram ininterruptas. Vinha gente de todo o município, a casa ficava repleta e Sá Donana (apelido da mãe de Eusébio, Anna Angélica) era inexcedível, atendendo a todos com cafezinho e com palavras amáveis, servindo mesmo refeição para aqueles que moravam longe ou eram pessoas ligadas por uma maior amizade ou pelo compadresco.

Assim é que Antônio Dias foi adquirindo foros de uma cidade tradicional, berço de pessoas ilustres, conservando, entretanto, o cunho de vida simples, de comunidade familiar, em que todos se conheciam e se tratavam sem etiquetas: ao contrário, não se dava senhoria para quase ninguém e havia um entrelaçamento de relações entre os mais afortunados e os de condições humildes ou mesmo pobres. Era a igualdade absoluta o que tornava a vila e mais tarde, a cidade, uma comunidade "suigeneris", onde todos se sentiam bem, inclusive os forasteiros, aqueles que por uma razão particular, ali se estabeleciam. "Muitos deles criavam raiz na terra e não mais se desligavam dela e do convívio de seu povo acolhedor", relatou Maria Cecília Maurício da Rocha, sobrinha de Eusébio e filha de José Tomás

O Título de Coronel

No dia 25/08/1888, aos 48 anos, através do apoio de amigos e do Partido Conservador, recebeu de sua majestade Dom Pedro II, o título de tenente-coronel da Guarda Nacional para a região da comarca de Piracicaba. O título de coronel, dado a civis no Brasil surgiu com a criação da Guarda Nacional, em 1832, por Diogo Antônio Feijó, também conhecido como Regente Feijó ou Padre Feijó.

O agraciado com o título teria a função de reunir milícias em casos de situação premente da ordem e da defesa nacional. O coronel era geralmente um grande proprietário de terras, poderoso chefe político que se impunha sobre a população na sua área de atuação. No entanto, coronel Fabriciano que era na verdade, tenente-coronel, nem teve tempo para exercer o cargo em sua plenitude, uma vez que recebeu o título um ano antes do fim do Império.

Coronel Fabriciano Felisberto de Britto impunha-se pela sua capacidade de liderança e trabalho. Preocupado com as questões sociais de seu tempo, buscou com o seu prestígio realizar obras que promovessem o bem-estar da população da cidade de Antônio Dias.

Além da luta pela emancipação, destacam-se como seus feitos a construção do primeiro grupo escolar do Baixo Piracicaba, o segundo de Minas Gerais, em 1909; Instalação de linha do telégrafo em 1920; Fundação da Santa Casa de Misericórdia da qual foi provedor até sua morte em 1920.

Por intermédio de seu filho, Eusébio Tomás de Carvalho Britto, deputado e membro da comissão responsável pela divisão administrativa de Minas Gerais, foi um dos responsáveis pela criação da Vila de Antônio Dias, em 1911, e do Distrito de Melo Viana em 1923, sendo este mais tarde batizado de coronel Fabriciano em sua referência e emancipado em 1948.

Além da criação de um Grupo Escolar, necessária para que fosse Antônio Dias fosse instalada, Fabriciano coordenou a construção do primeiro hospital e deu início às obras da Igreja Matriz.

Homenagens

No dia 17/04/1909, foi instalada em Antônio Dias a escola que leva desde então o nome do tenente-coronel. Pelo decreto-lei estadual nº 88, de 30/03/1938, o então distrito antoniodiense Melo Viana foi batizado com o nome de Coronel Fabriciano, emancipando-se em 27/12/1948. A carta-patente da nomeação de Fabriciano Felisberto de Britto a tenente-coronel da Guarda Nacional, assinada pelo imperador Dom Pedro II em 1888, foi tombada como patrimônio cultural fabricianense através do decreto municipal nº 1.033, de 31/03/1997.

Falecimentos

Fabriciano Felisberto veio a falecer no dia 28/06/1921 e a esposa Anna Angélica de Carvalho Britto, dia 21/05/1936. O casal encontra-se sepultado na Capela São Geraldo, em Antônio Dias, MG, construída pelo coronel para mausoléu da família.

Após a reforma da capela, em meados da década de 1970, seus restos mortais, juntamente com os de sua esposa, foram transladados para o interior do templo.

Curiosidades Sobre Coronel Fabriciano Felisberto


  • Fabriciano antes de tornar-se um próspero e influente comerciante, teve uma modesta fábrica de sapatos, onde executava o ofício de sapateiro e trabalhava junto com seus empregados na cidade de Antônio Dias, ou melhor, Antônio Dias Abaixo.
  • Fabriciano era um homem muito religioso era um dever sagrado seu rezar o terço com a família todas as noites às 21:00 hs e de hábitos simples e rígido.
  • Depois da ladainha em latim servia leite quente com biscoitos, servido pela esposa e se recolhia. Era um apaixonado leitor de jornais que chegavam à antiga vila de Antônio Dias Abaixo duas vezes por semana.
  • Almoçava sempre às 09:00 hs da manhã; fazia a siesta deitado num banco da varanda; continuava a ler; atendia todos os pedidos; tratava dos assuntos políticos; e dava suas voltas conversando com conhecidos.
  • Filho de um professor, José Antônio de Britto, quando jovem Fabriciano fez promessa de nunca mais pegar em baralho, depois de perder no carteado 14 mil réis, uma vultosa quantia para a época. Sua esposa, Anna Angélica, dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, e costurava calças e camisas para os fregueses.
  • A Loja Grande era o nome do comércio de Fabriciano e, segundo anúncio publicado em 1903 no Correio de Itabira, possuía "um completo e variado sortimento de fazendas, ferragens, armarinho, roupas feitas, calçados, chapeos (sic) de sol e de cabeça, molhados, louças, kerozene (sic) e muito outros artigos".
  • Nesse tempo, o homem mais rico e poderoso da antiga vila de Antônio Dias Abaixo, o coronel Manoel de Barros de Araújo Silveira, viria a ter grande influência na vida de Fabriciano.
  • Sua segunda esposa, após a morte de Clara de Ataíde Barros (que morreu bem nova), foi Maria Tomásia de Carvalho, irmã de Anna Angélica. Assim, ao tornar-se concunhado de Fabriciano, cresceu um forte laço de amizade entre os dois.
  • Foi o coronel Manoel de Barros, que tinha sido deputado da província mineira durante o Império, que emprestou dinheiro para Fabriciano comprar sua primeira escrava, Luisa. Sabe-se, também, que a casa de Fabriciano, que ficava à direita da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, era um ponto de venda de leite. Segundo a autora, as vacas do avô "não primavam pela robustez".
  • A medição de cada garrafa, vendida ao preço de cem réis, era feita pelo próprio Fabriciano, que não suportava retardatários, já após tal obrigação, era absorvido pela leitura dos jornais.
  • A propósito da promessa de Fabriciano (que comprou o título de coronel da Guarda Nacional, hábito comum na época) de nunca mais pegar em baralho e que tal fato marcou a personalidade do futuro chefe político, tornando-o mais rígido na educação dos filhos. Certa noite, notando as ausências de José Tomás e Eusébio (já casados) saiu à procura deles e os encontrou na mesa de baralho. Irritado, esbravejou: "Isto são horas de pais de família estar na rua jogando?". Sem dizer nada, os dois saíram acompanhando o pai. Detalhe: eram dez horas da noite.

Francisco Félix de Sousa

FRANCISCO FÉLIX DE SOUSA
(94 anos)
Comerciante e Traficante de Escravos

☼ Salvador, BA (04/10/1754)
┼ Uidá, Benim (08/05/1849)

Francisco Félix de Sousa, apelidado de Chachá, foi o maior traficante de escravos brasileiro. Ele foi uma figura histórica controvertida, tanto pelo poder e riqueza que obteve, quanto pelas suas origens, pois era, provavelmente, um mulato ou mestiço indefinido.

Seus descendentes registraram em seu túmulo que ele nasceu em 04/10/1754. Entretanto, outros dizem que ele nasceu em 1771. Certa somente é a data de sua morte, 08/05/1849.

Era filho de um português traficante de escravos e de uma escrava. Aos 17 anos foi alforriado. Entretanto, seus descendentes o retratam atualmente como se fosse muito branco e louro. O mais provável é que tenha sido um mestiço indefinido.

Conforme contado pela sua família, Francisco Félix estabeleceu-se em 1788 no atual Benim. Entretanto, é mais provável que ele tenha se estabelecido definitivamente na África em 1800, depois de várias viagens, a primeira entre 1792 e 1795.

O litoral da baía de Benin e seus arredores era, nesta época, uma das regiões mais densamente povoadas da África e conhecida internacionalmente como "Costa dos Escravos", devido ser este o seu principal produto de exportação. O rei da cidade de Abomey, também chamada de Abomé, localizada no interior, dominava a região da baía de Benim, embora lá houvesse vários fortes de feitorias europeias, entre os quais a já antiga fortaleza portuguesa de São João Baptista de Ajudá, localizada na atual cidade de Uidá.

Pela estrutura econômica do reino de Daomé, o rei era dono de toda a terra e detinha o monopólio de todo o comércio podendo conceder concessões aos comerciantes. Nesta época, praticamente o único produtos exportado era escravos, o que também acontecia nos reinos vizinhos.

Francisco Félix começou a negociar na região atuando como traficante de escravos, a mesma profissão que tinha sido exercida por seu pai. Entretanto, como chegou na África praticamente em estado de miséria, alguns relatos dizem que entrou no negócio de tráfico de escravos levado pelo seu sogro Comalangã, régulo da ilha de Glidji, na localidade de Popó, e pai de sua primeira esposa, Jijibu ou Djidgiabu.

Tudo indica que não teve inicialmente sucesso nos negócios, pois em 1803 empregou-se na Fortaleza de São João Baptista de Ajudá como escrivão e contador.

Em 1804, seu irmão Jacinto José de Sousa partiu do Brasil para assumir o cargo de Comandante desta mesma fortaleza em que ele trabalhava, mas isto foi apenas coincidência.

Em 1805, seu irmão morreu e ele assumiu, sem autorização do governo português, o cargo de 16º Diretor da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, em exercício até 1818 e em definitivo até 1844, e desde 07/09/1822 até esse ano sob a soberania do Império do Brasil.

Depois de algum tempo abandonou a função, pois obteve autorização real para comerciar, incluindo traficar escravos que eram comprados diretamente do rei de Daomé, Adandozan. Os escravos eram pagos com búzios, uma forma de moeda local, ou, como ficou comum depois de certa época, com mercadorias importadas da Europa (tecidos de algodão, veludos, damascos, lãs e sedas, armas de fogo, pólvora, contaria, facas, catanas, manilhas, vasilhame de cobre e latão) ou das Américas (tabaco baiano, cachaça, rum).

Mesmo depois da Independência do Brasil, os produtos manufaturados europeus eram contrabandeados do Brasil, uma vez que a Coroa portuguesa não permitia que tais itens fossem transportados em navios brasileiros.

Quando já estava muito rico, Francisco Félix afrontou o rei Adandozan por não ter recebido os escravos pelos quais pagara adiantadamente com mercadorias. Caiu em desgraça perante o rei e foi preso quando visitava a cidade de Abomei, capital de Daomé. O poder do rei de Daomé sobre os súditos era total: era comum a morte em sacrifícios humanos, a execução de centenas de prisioneiros de guerra ou a venda de milhares como escravos para as Américas. Entretanto, a tradição de sua família conta que o branco era a cor da morte e matar um branco, mesmo um mulato, era tabu. O rei Adandozan ordenou então que Francisco Félix fosse imergido em tonéis de índigo para que ficasse azul-escuro e nunca mais usasse a cor da pele para afrontar o rei.

Planta do forte francês de Ajudá (1747)

Nesta época, conheceu Guapê, um meio-irmão do rei Adandozan, tornou-se seu amigo e, com sua influência, conseguiu ser libertado ou fugiu de Abomei para Popó Pequeno, terra de seu primeiro sogro, Comalangã.

Francisco Félix e Guapê fizeram um pacto vodu de sangue e começaram a conspirar para depor o rei Adandozan. Francisco Félix contrabandeou armas e munições para Guapê que, em 1820, derrubou Adandozan do poder e tornou-se rei de Daomé, assumindo o nome de Guezô.

O rei Guezô concedeu-lhe, em 1821, o cargo de primeiro conselheiro e o título de Chachá. A origem do nome do título é desconhecida. Possivelmente era seu apelido, originado do modo com que Francisco Félix costumava apressar os negócios dizendo "já, já".

Não é correto que o título de Chachá conferisse poderes de vice-rei e "chefe dos brancos". Estes poderes eram conferidos com o título de Yovogan que esteve com um daomeano chamado Dagba durante a maior parte da vida de Francisco Félix em Uidá. Um estrangeiro que chegasse na cidade tinha que falar com o Yovogan antes de se encontrar com o Chachá.

Francisco Félix, como todo traficante rico do reino, tinha o título de "cabeceira" do reino e a obrigação de fornecer soldados armados para o rei. Portanto, suas atividades eram mais comerciais do que políticas.

A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá tinha sido abandonada pelos portugueses. Francisco Félix continuou a comandá-la e, por extensão, governava a cidade de Uidá que se desenvolveu nos seus arredores. A cidade transformou-se em um dos mais ativos entrepostos de embarque de escravos de toda a África para as Américas, principalmente para o Brasil e Cuba.

O rei Guezô concedeu-lhe também o total controle do comércio exterior do reino de Abomé. Atuava como agente do rei, gozando do privilégio real da primeira opção: "os outros comerciantes só podiam transacionar com aquilo que ele não desejava".

Devido ao grande crescimento do tráfico de escravos para o Brasil que ocorria na época, Francisco Félix acumulou uma fortuna gigantesca. Além do virtual monopólio do comércio de escravos sediado em Uidá, também exportava azeite de dendê, noz-cola e outros produtos do reino. Importava tecidos, tabaco, aguardente, armas de fogo, pólvora e utensílios de metal, produtos utilizados no escambo para aquisição de escravos.

Teve vários sócios no Brasil como o banqueiro Pereira Marinho, que recebeu os seus filhos que viajaram para estudar. O Conde de Joinville considerava-o um dos três homens mais ricos de seu tempo.

Depois da Independência do Brasil, ofereceu, em nome do rei Guezô, o protetorado do reino de Daomé e a posse da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá ao imperador Dom Pedro I do Brasil. O acordo não prosperou e, a partir de então, Francisco Félix passou a dizer-se cidadão português, talvez porque isto lhe conferia vantagens jurídicas, oriundas de acordos internacionais, quando seus navios eram apresados pela frota britânica.

Quando os ex-escravos alforriados no Brasil ou seus descendentes voltavam para o Benim, encontravam em Francisco Félix um ponto de referência da cultura afro-brasileira na região. Ao mesmo tempo, Francisco Félix agia como um protetor local daqueles que, contraditoriamente, poderiam ter sido enviados por ele como escravos para o Brasil. Assim, em torno da rica residência do traficante de escravos formou-se um bairro de Agudás, descendentes de escravos do Brasil que retornaram para África, atualmente chamado Brasil, em francês, Brésil, em língua fon, Blezin.

Por volta de 1845, Francisco Félix estava arruinado e devendo dinheiro ao rei. A causa mais provável do seu declínio foram os enormes prejuízos que a frota britânica causava ao passar a apreender seus navios negreiros. Com seu empobrecimento, o rei Guezô deixou de considerá-lo como o único agente real para o comércio exterior, mas ainda o manteve como um funcionário coletor de taxas por escravo exportado e emprestava dinheiro para ele. Nesse mesmo ano foi o 2º Governador da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá até à sua morte a 08/05/1849.

Seus descendentes contam que morreu com 94 anos. Deixou viúvas 53 mulheres, mais de 80 filhos do sexo masculino e 2 mil escravos. O rei Guezô concedeu-lhe um funeral de grande chefe daomeano, no qual, apesar dos protestos de seus filhos, houve até a oferenda de sacrifícios humanos, honra conferida somente aos enterros reais.

Francisco Félix de Sousa foi enterrado no mesmo quarto onde dormia e seu túmulo é até hoje reverenciado pelos seus descendentes e pelos Agudás.

Alguns de seus filhos mais velhos estudaram no Brasil, alguns dos mais novos em Portugal. Depois de uma disputa feroz entre os três filhos mais ricos, um deles, Isidoro Félix de Sousa, foi escolhido pelo rei Guezô para sucedê-lo com o título de Chachá II, que então passou a ser hereditário, o qual em 1851 foi o 26º Governador Subalterno da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, cargo que ocupou até 08/05/1858 tendo, nesse mesmo ano, seu filho Francisco Félix de Sousa, Chachá III, sido nomeado 29º Governador.

Os seus descentes, a família Souza, têm até hoje uma grande importância política e social em Benim, sendo líderes da comunidade de Agudás. Também podem ser encontrados descendentes em toda a região do centro-oeste africano, especialmente no país vizinho Togo. Um descendente direto, Honoré Feliciano Julião Francisco de Souza, é o oitavo Chachá, um título de nobreza sem poder político, mas que confere grande prestígio social.

Nos dias de festas da comunidade dos Agudás, Chachá VIII comparece paramentado com vestes reais e acompanhado de nobres e rainhas locais. Cada novo Chachá assume o título com uma visita obrigatória ao rei de Daomé, hoje sem poder político, mas ainda reverenciado como líder religioso. Nesta visita são reforçados os antigos laços de união entre a família Souza e a família real do Daomé.

Fortaleza de Ajudá, Benim
Fortaleza de São João Baptista de Ajudá

A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, também conhecida como Feitoria de Ajudá ou simplesmente Ajudá, localiza-se na cidade de Uidá, na costa ocidental africana, atual República de Benim.

As costas da Mina e a da Guiné foram percorridas por navegadores portugueses desde o século XV, que, com o tempo, aí passaram a desenvolver importante comércio, principalmente de escravos africanos. É desse período que data a ascensão do antigo reino de Daomé e a importância de sua capital, Abomei, ou Abomé.

Ao final do século XVIII, o rei Dom Pedro II de Portugal (1667-1705) determinou ao Governador de São Tomé e Príncipe, Jacinto de Figueiredo e Abreu, erguer uma fortificação na povoação de Ouidah, para proteger os embarques de escravos (1680 ou 1681). Posteriormente abandonado em data incerta, foi sucedido entre 1721 e 1730 por uma nova estrutura, com as obras a cargo do comerciante brasileiro de escravos José de Torres. Sob a invocação de São João Baptista, a construção do forte de Ouidah (Ajudá) foi financiada por capitais levantados pelos comerciantes da capitania da Bahia, mediante a cobrança de um imposto sobre os escravos africanos desembarcados na cidade de Salvador.

Concluído, funcionou como centro comercial para a região, trocando tabaco, búzios e aguardente brasileiros, e mais tarde, quando o esquema do tráfico se alterou, oferecendo produtos manufaturados europeus, contrabandeados do Brasil, uma vez que a Coroa portuguesa não permitia que tais itens fossem transportados em navios provenientes do Brasil.

Bartholomew Roberts captura embarcações no porto de Ajudá (1722)
Em janeiro de 1722 o pirata Bartholomew Roberts, "Black Bart", penetrou no seu porto e capturou todas as onze embarcações ali fundeadas.

No final do século XIX a costa ocidental africana foi ocupada pelos ingleses, que ali estabeleceram importantes entrepostos, que passaram a ser defendidos pelas guarnições das fortificações antes pertencentes a Portugal, entre as quais a Fortaleza de São João Baptista de Ajudá.

Em 1911, após a Proclamação da República Portuguesa, o novo governo mandou retirar permanentemente a guarnição militar destacada para a Fortaleza de São João Baptista, substituindo-a pela presença de dois funcionários coloniais.

O Daomé tornou-se uma colônia francesa a partir de 1892, obtendo independência em 01/08/1960, quando se transformou em República do Benim. No ano seguinte, tropas do Benim invadiram Ouidah, então uma dependência da colônia portuguesa de São Tomé e Príncipe, intimando os ocupantes portugueses do forte a abandoná-lo até 31/07/1961. Sem condições para oferecer resistência, o governo de Oliveira Salazar ordenou ao último residente da praça que a incendiasse antes de a abandonar, o que foi cumprido na data-limite.

Em 1965 foi promovido o encerramento simbólico da fortaleza pelas autoridades do Daomé, vindo as suas dependências a sediar o Museu de História de Ouidah, sob administração da República do Benim (1967).

A anexação foi reconhecida por Portugal em 1985, tendo os trabalhos de recuperação e restauro sido desenvolvidos em 1987, com orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian.

A grande descendência deixada por um dos escrivães da fortaleza no século XIX, Francisco Félix de Sousa, inspirou um romance do escritor britânico Bruce Chatwin intitulado "O Vice Rei de Ajudá". Espalhados atualmente por toda a África, os De Sousa têm dado várias figuras de destaque ao Benim. Uma das grandes avenidas de Cotonou, a capital econômica, chama-se Avenida Monsenhor De Sousa.

Trivia
  • Francisco Félix de Sousa foi personagem do romance "O Vice-Rei de Uidá", de Bruce Chatwin, que propagou, falsamente, que ele fora um vice-rei;
  • Foi tema do romance "O Último Negreiro" de Miguel Real;
  • Inspirou o personagem do filme "Cobra Verde" de Werner Herzog;
  • Foi tema de um documentário de Joana Cunha Ferreira, "Filmes do Tejo, Portugal", que se debruça essencialmente sobre a forma como sua memória é ainda vivida por seus descendentes em Benim;
  • É personagem do romance "Escravos", do togolense Kangni Alem, traduzido para o português e publicado em 2011.

Fonte: Wikipédia

Alberto Pittigliani

ALBERTO PITTIIGLIIANI
(85 anos)
Empresário, Comerciante, Industrial e Financista

* Imbituba, SC (16/04/1918)
+ Rio de Janeiro, RJ (02/08/2003)

Alberto Pittigliani, em 1954, adquiriu a gravadora Sinter, que transformou em uma das maiores do país, a Companhia Brasileira de Discos, vendendo-a quatro anos depois para a Philips, que o conservou na presidência até 1966. Sob sua direção, a gravadora obteve sucesso com o surgimento da Bossa Nova e foram lançados artistas como Elis Regina e Jorge Ben, hoje Jorge Benjor.

Alberto Pittigliani sempre incentivou a gravação de autores da Música Popular Brasileira, inclusive os da Velha Guarda, como Lamartine Babo, Pixinguinha, Ary Barroso, Ataulfo Alves, entre outros.

Além de gravar também com intérpretes brasileiros que viriam a se tornar grandes nomes do cenário internacional, teve participação direta na gravação e divulgação da música erudita nacional, produzindo discos de música clássica, de autores como Villa-Lobos, Radamés Gnattali, Cláudio Santoro, entre outros.

Alberto Pittigliani, Teresinha Morango e os filhos Alberto Jr e Andréa.
Pioneiro na modernização da indústria fonográfica nacional, foi o primeiro a lançar o disco Long-Play (LP) e a montar, em São Paulo, uma fábrica de fitas minicassete. Foi o fundador e o primeiro presidente da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD).

Deixando o mundo do disco, foi um empresário de grande sucesso, tendo sido dono da fábrica de bebida Seagrams, que lançou no Brasil o Campari, e fundador da Tibrás, fábrica de titânio localizada na Bahia.

Alberto Pittigliani foi casado com Augusta Belleti, com quem teve uma filha, Suely Stambowsky, e com Teresinha Morango, Miss Brasil 1957, mãe de Andrea Pittigliani e Alberto Pittigliani Júnior.

Indicação: Miguel Sampaio

Pedro Caetano

PEDRO WALDE CAETANO
(81 anos)
Compositor e Comerciante

* Bananal, SP (01/02/1911)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/07/1992)

Pedro Walde Caetano, ou simplesmente Pedro Caetano foi um compositor, sambista e comerciante brasileiro. Compôs inúmeras marchas, sambas, valsas e choros da chamada "Era do Rádio" da música brasileira. Foi o autor de mais de 400 composições, não fez da música a sua profissão, tendo sido comerciante de sapatos durante a sua vida profissional. Teve como parceiros musicais Claudionor Cruz (o mais constante), Pixinguinha, Noel Rosa, Alcir Pires Vermelho e Walfrido Silva.

Nascido em Bananal, interior paulista, veio com a família para o Rio de Janeiro com apenas 9 anos. Começou a estudar piano nessa época. Apesar de se consagrar como compositor, sempre exerceu a atividade de comerciante de calçados. Escreveu o livro "Meio Século de Música Popular Brasileira - O Que Fiz, o Que Vi", lançado pela Editora Vila Doméstica, do Rio de Janeiro, em 1984.

Aos 22 anos, fez seu primeiro samba de projeção, "Foi Uma Pedra Que Rolou", que foi lançado em 1934 por Silvio Caldas no "Programa Casé", mas somente gravado em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho na Columbia.

Em 1935, teve sua primeira composição gravada, o samba-canção "O Tocador de Violão", parceria com Claudionor Cruz por Augusto Calheiros na gravadora Odeon.

Em 1937, chegou a escrever uma letra para "Carinhoso", a pedido do irmão de Orlando Silva, Edmundo, pois o "Cantor das Multidões" não confiava no sucesso da letra de Braguinha, que iria gravar. Em suas memórias, a considerou "piegas e sem graça", pois a letra dizia: "Na mansidão do teu olhar / meu coração viu passear / uma feliz e meiga bonança"...

Pedro Caetano homenageado pelo Chacrinha
Em 1938, Orlando Silva fez sucesso com a valsa "Caprichos do Destino" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz). Nesse mesmo ano, Aracy de Almeida gravou na RCA Victor o samba "Moreno Faceiro" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz).

Em 1939, fez com Valfrido Silva o samba "Se Você Fosse Minha Rosa" gravado na Odeon pela dupla Joel e Gaúcho, com Joel de Almeida compôs o samba "O Que é Que Tem?" e com Claudionor Cruz o samba "Ela Rasgou Minha Baiana", gravados por Dircinha Batista na mesma gravadora.

Em 1940, fez em parceria com Claudionor Cruz e Wilson Batista o samba-batuque "Senhor do Bonfim Te Enganou" gravado na Odeon por Dircinha Batista e Nuno Roland. Com Alcyr Pires Vermelho compôs a marcha "Amor Perfeito" registrada por Gilberto Alves, com Claudionor Cruz compôs o choro estilizado "A Felicidade Perdeu Seu Endereço", a valsa "Não Creio Na Ventura" gravadas por Orlando Silva, e a marcha "Oh! Rosa" gravada por José Lemos, as três na RCA Victor.

Em 1941, Dircinha Batista gravou o samba "Contemplando" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz).

Em 1942, lançou um de seus grandes êxitos, composto em uma festinha, em homenagem a menina Maria Madalena de Assunção Pereira. Lançada por Cyro Monteiro no programa de César Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga, a música fez sucesso, justamente por trazer o nome inteiro da menina na letra. Tal detalhe impediu, no entanto, que Cyro Monteiro gravasse o samba-choro com sua letra original, pois a censura da época proibia nomes próprios por extenso em letras de música. A solução foi dada pelo radialista César Ladeira, que sugeriu a troca do sobrenome "de Assunção" para "dos Anzóis" e em tom de brincadeira disse: "Se aparecer alguém com esse nome mandem prender, porque isso não é nome que se use!". Assim, em abril de 1942, saiu o disco pela RCA Victor.

Aniversário de 70 anos
Ainda em 1942, Francisco Alves gravou "Sandália de Prata", um samba em parceria com Alcyr Pires Vermelho, pela gravadora Odeon, e que viria a ser revivida muitas décadas depois. Ainda nesse ano, compôs com Joel de Almeida a rancheira "Saudade da Roça" gravada por Joel e Gaúcho, com Claudionor Cruz fez os sambas "Retratinho Dele" e "Tempestade D'alma", gravados por Dircinha Batista, com Alcyr Pires Vermelho, a marcha "Deixai Para Mim as Cabrochinhas" gravado pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa, e com Marino Pinto a marcha "Ela Partiu... (Sabe Moço?)", registrada por Francisco Alves, todas na gravadora Odeon.

Em 1943, Orlando Silva gravou na Odeon a marcha "Orgulho da Minha Terra" (Pedro CaetanoAntônio Almeida e Cyro Monteiro), na RCA Victor o samba "O Vestido Que Eu Te Dei" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho). Com Claudionor Cruz, fez a valsa "Duas Vidas", gravada por Orlando Silva e o samba "É Triste a Gente Querer", gravada por Gilberto Alves, e com Valfrido Silva compôs o "Samba de Casaca" registrado pelos Quatro Ases e Um Coringa. Ainda nesse ano, compôs com Joel de Almeida o maxixe "Quem Foi Que Disse?" e a valsa "Aceite o Convite" gravadas pela dupla Joel e Gaúcho, e teve êxito com a valsa "A Dama de Vermelho", parceria com Alcyr Pires Vermelho e lançada por Francisco Alves.

Em 1944, compôs com Claudionor Cruz um grande sucesso, a marcha de carnaval "Eu Brinco", inspirada na conjuntura da II Grande Guerra, que provocou racionamentos e dificuldades econômicas, a ponto da imprensa temer um carnaval desanimado para aquele ano. A letra dizia: "Com pandeiro ou sem pandeiro, eu brinco, com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco". A expressão caiu nas graças do povo e tornou-se dito popular na época. A marcha foi gravada por Francisco Alves, pela gravadora Odeon. Nesse ano, teve gravados ainda os sambas "Ginga, Ginga, Ginga" (Pedro Caetano e Carlos Barroso) e "Bahia, Rainha da Lenda" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho), pela dupla Joel e Gaúcho, "Quem Gosta de Mim Sou Eu" (Pedro Caetano e Frazão), por Odete Amaral e "A Cubana no Samba" (Pedro Caetano e Valfrido Silva), pelos Quatro Ases e Um Coringa. Ainda em 1944, o samba "Saudades Dela" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho) foi gravado na RCA Victor por Cyro Monteiro e Carlos Galhardo gravou com sucesso o samba "Disse-Me-Disse" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz), também pela RCA Victor.

Em 1945, obteve certo destaque com a marcha "Haja Carnaval ou Não" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz) gravada por Francisco Alves, pela Odeon. Nesse ano, o mesmo Francisco Alves gravou a valsa "E a Noite Continua" (Pedro Caetano, Alcyr Pires Vermelho e Gilberto Alves), o choro "Este Choro e o Meu Pranto" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz). Ainda em 1945 fez com Claudionor Cruz a marcha "Um Pracinha na Itália" gravada por Orlando Silva, e a valsa "O Coração Que Te Quer" registrada por Carlos Galhardo.

Pedro Caetano recebendo título de Cidadão Cachoeirense em 1969
Em 1946, teve os sambas "O Samba Agora Vai" e "Onde é Que Estão os Tamborins?" gravados pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa. O samba "Onde é Que Estão os Tamborins?" foi sucesso no carnaval do ano seguinte tornando-se um clássico.  Na letra, reclama da apatia e da ausência dos sambas de Cartola, ausente dos carnavais daquela escola na época com versos que dizem:

"Mangueira

onde é que estão os tamborins, ó nêga?

Viver somente do cartaz não chega

põe as pastoras na Avenida

Mangueira querida!"

Segundo o autor, o samba nasceu quando voltava do teatro com a mulher, em época próxima do carnaval e estranhou o silêncio na Mangueira:


"Como estávamos perto do carnaval,  estranhei o silêncio e comentei: - Você não acha que já seria hora de a Mangueira estar fervilhando nos ensaios? Dizendo isto fui fazendo a minha crítica mentalmente e esta foi saindo em ritmo de samba de carnaval. O negócio foi tão espontâneo que quando meti a chave na porta, já estava cantando!"

Ainda nesse ano, Gilberto Milfont gravou dois sambas e uma marcha de sua parceria com Claudionor Cruz, "Estão Vendo Aquela Mulher",  "Apelo" e "Quem Tem Dinheiro". O samba "O Que Se Leva Dessa Vida", também seria muito bem sucedido e foi gravado por Cyro Monteiro pela RCA Victor e regravado pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa, pela gravadora Odeon.

Em 1947, teve mais dois sambas gravados pelo Quatro Ases e Um Coringa, "Sopa No Mel", com Sá Róris e "Sambolândia". Com o mesmo grupo Quatro Ases e Um Coringa obteve novo sucesso com o samba "É Com Esse Que Eu Vou", composto numa viagem de trem de Vitória para Belo Horizonte. Anos depois este samba foi relançado e consagrado na interpretação de Elis Regina, em arranjo inovador. Ainda no mesmo ano, Francisco Alves gravou a valsa "Você e a Valsa" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho), e Cyro Monteiro a marcha "Beijo".

Pedro Caetano com Marlene no show "É Com Esse Que Eu Vou"
Em 1948 teve as marchas "Paz com briga" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz), gravada por Albertinho Fortuna e "Beduíno" (Pedro Caetano e Sá Róris) por Castro Barbosa, as duas na gravadora Star.

Em 1949, o Quatro Ases e Um Coringa gravou os sambas "Mulher Carinhosa Demais" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho) e "No Meu Cangote" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz).

Em 1950, Nuno Roland gravou na Todamérica o samba "Em Qualquer Parte do Rio" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho), e Heleninha Costa na gravadora Sinter a batucada "Bonequinha da Holanda" (Pedro Caetano e Clemente Muniz).

Em 1951, os Vocalistas Tropicais gravaram na Odeon a marcha "Quem Tem Amor Não Dorme"Nuno Roland na Todamérica o samba "Tá Bem Quente" (Pedro Caetano e Carlos Barroso).

Em 1952, os Vocalistas Tropicais gravaram a rancheira "Cachoeiro do Itapemirim" (Pedro Caetano e Carlos Barroso) e o samba "Presunçosa" (Pedro Caetano e Clemente Muniz), Elizeth Cardoso o bolero "Amor, Amor" (Pedro Caetano e Portinho), e a dupla Joel e Gaúcho as marchas "Senhor Cabral" (Pedro Caetano e Cláudia Sandoval) e "Mulher Falsa" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz).

Em 1953 fez uma rara parceria com o pianista José Maria de Abreu no samba "Rancor" gravado por Marion e teve as marchas "No Fundo do Copo" (Pedro Caetano e Clemente Muniz) gravada por Nuno Roland e "Tomara Que Caia" (Pedro Caetano e Carlos Barroso) por Bill Farr.

Pedro Caetano na Casa Pedro
Em 1954, fez com Clemente Muniz a marcha "Despedida de Solteiro" e a valsa "Casadinhos" gravadas em dueto por Alcides Gerardi e João Dias e, com Claudionor Cruz, o samba-canção "Falta-me Alguém", gravado por Carlos Augusto na Sinter.

Em 1956 Orlando Silva gravou na Odeon o samba "Dia de Pagamento" (Pedro Caetano Clemente Muniz) e Dalva de Andrade, na Continental lançou o samba-canção "Tudo Nos Falta" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz), e Gilda Valença lançou na Sinter as marchas "Uvas Pretas" e "Quanta Coisa Boa" (Pedro Caetano e Carlos Renato). Ainda nesse ano, a então Miss Brasil Marta Rocha gravou o baião "Rio, Meu Querido" (Pedro Caetano e Carlos Renato) e a marcha "Duas Polegadas a Mais" alusiva a sua derrota no concurso de Miss Universo por ter duas polegadas a mais na cintura, parceria com Alcyr Pires Vermelho e Carlos Renato.

Em 1957, Nora Ney gravou na Continental o samba "Eu e Deus" (Pedro Caetano Evaldo Gouveia) e Jorge Goulart na mesma gravadora lançou a valsa "Rio, Novo Céu" (Pedro Caetano Claudionor Cruz). No mesmo ano, Léo Vaz gravou os sambas "Eu Vou Onde Está o Brasil" e "A Sorte Corta Caminho", parcerias com Alcyr Pires Vermelho.

Em 1961, lançou a marchinha de carnaval "Desta Vez Vamos", uma sátira ao slogan de Ademar de Barros, candidato à presidência da República na época.

Em 1965, em parceria com Alexandre Dias Filho, compôs a marchinha "Todo Mundo Enche", uma sátira ao coronel Américo Fontenelle, então diretor de trânsito do Rio de Janeiro.

Classificou a marcha "Jambete Sensação" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz), em 1968, em concurso de carnaval promovido pela Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara, iniciativa do Museu da Imagem e do Som, através do Conselho Superior de MPB.

Pedro Caetano com Marlene e Luiz Reis (Carnaval 1969)
Em 1969, compôs com Luiz Reis o samba "Olha Leite das Crianças" defendido por Marlene no palco do Maracanãzinho no concurso de carnaval daquele ano obtendo o quarto lugar.

Por volta de 1972, foi lançado com a colaboração do Governo do Estado do Espírito Santo o LP "Canto e Encanto do Espírito Santo", com músicas de sua autoria em homenagem a diversas cidades daquela estado interpretadas por Antônio João, Rose Valentim e Nuno Roland.

Em 1974, recebeu  o título de Cidadão da Guanabara em homenagem prestada em show comemorativo a seus 40 anos de carreira.

Em 1983, o grupo vocal As Gatas gravou sua marcha "Tira a Tranca, Arranca o Trinco (General, General)" e Jacyr da Portela a marcha "É Dose Pra Leão" lançadas no compacto "O Carnaval do Café Nice". Esta última foi regravada pelo grupo Céu da Boca no ano seguinte no LP "Carnaval 84, Liberou Geral".

Em 1984, foi homenageado com o primeiro show montado de sua obra, espetáculo "É Com Esse Que Eu Vou" realizado na Sala Sidney Miller da Funarte na série "Projeto Carnavalesca", com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, que segundo o compositor, "(...) fez do meu repertório uma autêntica Revista Musical. Teatralizando as marchinhas de atualidade política e social, ele fez do show, um espetáculo alegre e muito bem humorado".

Este espetáculo contou com as participações de Marlene e o grupo Céu da Boca, além do próprio compositor, presente ao palco. Neste show, além de seus clássicos, o roteirista incluiria músicas carnavalescas recentes, como "Cineangiocorariografia", uma sátira aos problemas de que era vítima o então presidente da República João Figueiredo.

Autor de grandes clássicos da Música Popular Brasileira como "Sandália de Prata", "Eu Brinco", "Botões de Laranjeira", "É Com Esse Que Eu Vou""Onde Estão os Tamborins", entre outras, foi homenageado por ocasião do centenário de seu nascimento em evento realizado no Instituto Cultural Cravo Albin com uma exposição, show comemorativo e placa no Mural da Fama do Instituto.

Pedro Caetano morreu aos 81 anos, no dia 27/07/1992 na cidade do Rio de Janeiro.


Barão de Mauá

IRINEO EVANGELISTA DE SOUZA
(75 anos)
Comerciante, Armador, Industrial e Banqueiro

* Arroio Grande, RS (28/12/1813)
+ Petrópolis, RJ (21/10/1889)

Irineo Evangelista de Souza, Barão e Visconde com grandeza de Mauá, foi um comerciante, armador, industrial e banqueiro brasileiro. Ao longo de sua vida foi merecedor, por contribuição à industrialização do Brasil no período do Império (1822-1889), dos títulos nobiliárquicos primeiro de Barão (1854) e depois de Visconde de Mauá (1874).

Foi pioneiro em várias áreas da economia do Brasil. Dentre as suas maiores realizações encontra-se a implantação da primeira fundição de ferro e estaleiro no país, a construção da primeira ferrovia brasileira, a Estrada de Ferro Mauá, no atual estado do Rio de Janeiro, o início da exploração do rio Amazonas e afluentes, bem como o Guaíba e afluentes, no Rio Grande do Sul, com barcos a vapor, a instalação da iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro, a criação do primeiro Banco do Brasil, e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa.

Primeiro como Barão, título recebido após construir a primeira estrada de ferro da América do Sul, e vinte anos depois, Visconde de Mauá, Irineo Evangelista de Sousa é o principal representante dos primórdios do capitalismo na América do Sul, ao incorporar e adotar, no Brasil, ainda no período do Império brasileiro (1822-1889), em suas empresas, os recursos e maquinários aplicados na Europa e nos Estados Unidos no período da Revolução Industrial do século XIX.

É considerado, pelos registros históricos, como o primeiro grande industrial brasileiro. Foi um dos grandes opositores da escravatura e do tráfico de escravos, entendendo que somente a partir de um comércio livre e trabalhadores libertos e com rendimentos poderia o Brasil alcançar situação de prosperidade. Todavia, somente com a Lei Áurea, de 1888, foi abolida a escravatura no Brasil, assinada pela Princesa Isabel.

Nascido em uma família de proprietários de pequena estância de criação de gado no Rio Grande do Sul, na fronteira com a República do Uruguai, Irineo Evangelista de Sousa ascendeu socialmente pelos seus próprios méritos, estudos e iniciativa, sendo considerado um dos empreendedores mais importantes do Brasil, no século XIX, estando à frente de grandes iniciativas e obras estruturadoras relacionadas ao progresso econômico no Segundo Reinado. De início incompreendido e contestado por uma sociedade rural e escravocrata, hoje é considerado o símbolo dos empreendedores capitalistas brasileiros do século XIX.

Foi precursor, no Brasil, do liberalismo econômico, defensor da abolição da escravatura, da valorização da mão-de-obra e do investimento em tecnologia. No auge da sua carreira (1860), controlava dezessete empresas localizadas em seis países (Brasil, Uruguai, Argentina, Inglaterra, França e Estados Unidos). No balanço consolidado das suas empresas em 1867, os seus ativos foram estimados em 155 mil contos de réis (155 milhões de Libras Esterlinas), enquanto o orçamento do Império, no mesmo ano, contabilizava 97 mil contos de réis (97 milhões de Libras Esterlinas). Sua biografia ficou conhecida, principalmente, pela exposição de motivos que apresentou aos credores e ao público ao ter a falência do seu banco, a Casa Mauá & Cia., decretada em 1878.

Litografia por Sisson (1861)
A Infância e a Juventude

Natural da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, à época distrito de Jaguarão, na então Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, atual Rio Grande do Sul, era filho de João Evangelista de Ávila e Sousa e de Mariana de Jesus Batista de Carvalho, sendo neto paterno do fundador da freguesia, Manuel Jerônimo de Sousa.

Aos cinco anos de idade, em 1818, Irineo ficou órfão de pai, assassinado por ladrões de gado. Em 1821, sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, casou-se com João Jesus. Todavia, como o novo esposo não desejava conviver com os filhos do primeiro casamento da viúva, a filha mais velha, Guilhermina, foi obrigada a casar com apenas doze anos de idade. E Irineo, aos oito anos, foi entregue para a guarda de um tio, Manuel José de Carvalho.

Nesse período inicial de guarda com seu tio, Manuel José de Carvalho, no interior de São Paulo, Irineo foi alfabetizado. Aos nove anos de idade, Irineo seguiu com outro tio, José Batista de Carvalho, comandante de embarcação da marinha mercante, que transportava em seu navio couros e charque do porto do Rio Grande para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil.

No Rio de Janeiro, em estabelecimento comercial situado na Praça do Comércio, Irineo foi empregado, por indicação do tio, aos nove anos de idade, e ali se ocupou como caixeiro do armazém, das sete horas da manhã às dez da noite, a troco de moradia e comida. Aos onze anos foi trabalhar no comércio do português Antônio Pereira de Almeida, onde se vendiam desde produtos agrícolas até escravos - essa última, a maior fonte de renda do comerciante, de quem se tornou empregado de confiança, vindo a ser promovido, em 1828, a guarda-livros.

Diante da falência do comerciante, na crise do Primeiro Reinado (1822-1831) do Império do Brasil (1822-1889), liquidou as dívidas do patrão. Por recomendação do antigo empregador, foi admitido na empresa de importação do escocês Richard Carruthers em 1830, onde aprendeu inglês, contabilidade e aperfeiçoou a arte de comerciar.

Aos 23 anos tornou-se gerente e, logo depois, sócio da empresa. Richard Carruthers, percebendo o potencial de Irineo, iniciou-o na maçonaria (Rito de York), cujos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade tiveram influência direta na postura do Barão. Quando Richard Carruthers retornou para o Reino Unido, em 1839, Irineo assumiu os negócios da empresa. Adquiriu uma chácara em Santa Teresa onde foi residir e auxiliou conterrâneos envolvidos na Revolução Farroupilha a escapar de prisões no Rio de Janeiro.

Sua esposa, Maria Joaquina de Sousa (1861)
A Família e Descendentes

Em 1839, mandou buscar sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, já viúva, e sua única irmã, Guilhermina de Sousa Machado, que residiam no Rio Grande do Sul. Junto com elas, chegou ao Rio de Janeiro a sua sobrinha, Maria Joaquina de Sousa Machado, a May (apelido dado em referência ao mês de aniversário da mesma, "maio" em inglês), por quem Irineo se apaixonou e desposou em 1841.

Do casamento com sua sobrinha Maria Joaquina de Sousa Machado, Irineo teve ao todo dezoito filhos, sendo que onze nasceram com vida: Lísia (1842-1855), Irineo (1843-1849), Irineo Evangelista (1851-1915), Henrique (1852-1929), Artur (1853-1874), Maria Carolina (1854-1941), Ricardo (1856-1884), Lísia Ricardina (1860-1890), Hermínia (1862-1868), Irene (1865-1895) e Alice (1867-1869). Dos onze filhos nascidos vivos, sete atingiram a maioridade e apenas cinco sobreviveram após a morte do pai, em 1889. A morte prematura da maioria dos filhos, devido a doenças, era atribuída à proximidade do grau de parentesco entre Irineo e sua esposa, e dos problemas genéticos desse fato decorrentes.

Barão de Mauá em gravura de 1884
O Industrial

Uma viagem de negócios que fez à Inglaterra, em busca de recursos em 1840, permitiu a Irineo conhecer fábricas, fundições de ferro e o mundo dos empreendimentos capitalistas, convencendo-o de que o Brasil deveria trilhar o caminho da industrialização. A Inglaterra fora o cerne da Revolução Industrial, e o Brasil ainda era um país de produção rural. Ao retornar, diante da decretação da chamada Tarifa Alves Branco em 1844 e da alta dos preços do café no mercado internacional no período, decidiu tornar-se um industrial.

Tendo obtido junto ao governo imperial brasileiro a concessão do fornecimento de tubos de ferro para a canalização do Rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro em 1845, liquidou os interesses da Casa Carruthers e, no ano seguinte, adquiriu uma pequena fundição situada na Ponta da Areia, em Niterói, na então Província do Rio de Janeiro. Imprimindo-lhe nova dinâmica empresarial, transformou-a em um estaleiro de construções navais, dando início à indústria naval brasileira. No ano seguinte, o Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta da Areia já multiplicara por quatro o seu patrimônio inicial, tornando-se o maior empreendimento industrial do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, além de artilharia, postes para iluminação e canos de ferro para águas e gás. Deste complexo saíram mais de setenta e dois navios em onze anos, entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas nas intervenções platinas e as embarcações para o tráfego no rio Amazonas. Em 1849 construiu o maior navio mercante até então construído no país, o Serpente, um navio negreiro rápido, encomendado por Manuel Pinto da Fonseca, que depois de realizar uma única viagem de tráfico de escravos à África, foi vendido à Marinha do Brasil e rebatizado Golfinho.

O estaleiro, na Ponta da Areia, Niterói, Rio de janeiro, foi destruído por um incêndio em 1857 e reconstruído três anos mais tarde. Nos seus onze primeiros anos, antes do incêndio, havia fabricado 72 navios, dentre os a vapor e à vela. Acabou-se de vez quando a lei de 1860 isentou de direitos a entrada de navios construídos fora do país. Isso conduziu a empresa à falência.

Na época, o tráfico de escravos gerava muito dinheiro. Porém, Irineo utilizou os recursos usados para a compra de africanos para financiar suas ideias promissoras.


O Banqueiro

Com a extinção do tráfico negreiro, a partir da Lei Eusébio de Queirós (1850), os capitais até então empregados no comércio de escravos passaram a ser investidos na industrialização. Aproveitando essa oportunidade, Irineo passou a se dividir entre as atividades de industrial e banqueiro, tendo acumulado fortuna aos quarenta anos de idade.

Entre os investimentos que realizou, além do estaleiro e fundição na Ponta da Areia, destacam-se:

  • O projeto de iluminação a gás da cidade do Rio de Janeiro, cuja concessão de exploração obteve por vinte anos. Pelo contrato, o empresário comprometia-se a substituir 21 milhas de lampiões a óleo de baleia por outros, novos, de sua fabricação, erguendo uma fábrica de gás nos limites da cidade. Os investidores só começaram a subscrever as ações da Companhia de Iluminação a Gás quando os primeiros lampiões, no centro da cidade, foram acesos, surpreendendo a população em 25 de março de 1854. Posteriormente, premido por dificuldades financeiras, Irineo cedeu os seus direitos de exploração a uma empresa de capital britânico, mediante 1,2 milhão de libras esterlinas e de ações no valor de 3.600 contos de réis.
  • A organização da Companhia de Navegação do Amazonas em 1852, com embarcações a vapor fabricadas no estaleiro da Ponta da Areia. Posteriormente, em 1866, o Império concedeu a liberdade de navegação do rio Amazonas a todas as nações, levando Irineo a desistir do empreendimento, transferindo os seus interesses a uma empresa de capital britânico.
  • A construção de um trecho de 14 quilômetros de linha férrea entre o Porto de Mauá, na baía de Guanabara, e a Estação de Fragoso, na raiz da Serra da Estrela, em Petrópolis, na então Província do Rio de Janeiro, a primeira no Brasil. No dia da inauguração, 30 de abril de 1854, na presença do imperador e de autoridades, a locomotiva, posteriormente apelidada de Baronesa (em homenagem à esposa de Mauá), percorreu em 23 minutos o percurso. Na mesma data, em reconhecimento, o empresário recebeu o título de Barão de Mauá. Este seria o primeiro trecho de um projeto maior, visando a comunicar a região cafeicultora do vale do rio Paraíba e de Minas Gerais ao porto do Rio de Janeiro. Em 1873 pela Estrada União e Indústria, a primeira estrada pavimentada no país, chegavam as primeiras cargas de Minas Gerais para a Estrada de Ferro Dom Pedro II, depois Estrada de Ferro Central do Brasil, empreendimento estatal inaugurado em 1858, que oferecia fretes mais baixos. Em 1882, vencidas as dificuldades técnicas da serra, os trilhos chegavam a Petrópolis.
  • O estabelecimento de uma companhia de bondes puxados por burros na cidade do Rio de Janeiro, cujo contrato para exploração Barão de Mauá adquiriu em 1862, mas cujos direitos, devido a necessidades de caixa, foram cedidos à empresa de capital norte-americano Botanical Garden’s Railroad (1866), que inaugurou a primeira linha de bondes em 1868, organizando uma lucrativa rede de transportes.
  • A participação, como acionista, no empreendimento da Recife & São Francisco Railway Company, a segunda do Brasil, em sociedade com capitalistas ingleses e de cafeicultores paulistas, destinada a escoar a safra de açúcar da região.
  • Participação, como acionista, na Ferrovia Dom Pedro II, mesmo tendo consciência que, pelo seu traçado, essa rodovia tiraria toda a competitividade da Rio-Petrópolis.
  • A participação, como empreendedor, na São Paulo Railway, depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, empreendimento totalmente custeado por ele, sendo a quinta ferrovia do país, em 16 de fevereiro de 1867.
  • O assentamento do cabo submarino, em 1874.

Em 1852, o Irineo fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Paris e Nova York. No Uruguai, fundou em 1857 o Banco Mauá Y Cia., sendo o primeiro estabelecimento bancário daquele país, inclusive com autorização de emitir papel-moeda, sendo que tal banco abriu filial em Buenos Aires, tendo sido citado por Jules Verne como um dos principais bancos da América do Sul.

Mauá em 1885, aos 72 anos de idade
Política e Decadência

De ideias políticas de caráter liberal e defensor do abolicionismo, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões platinas em 1850. Contrário à Guerra do Paraguai, foi deputado pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas (1856, 1859-1860, 1861-1864, 1864-1866 e 1872-1875), tendo renunciado ao mandato em 1873 para melhor cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária que se iniciara em 1864.

Teve influência política no Uruguai desde 1850, quando a pedido do amigo Paulino José Soares de Sousa, Visconde do Uruguai e então Ministro dos Estrangeiros, ajudou financeiramente os liberais sitiados em Montevidéu. Lá suas ações passaram a receber favores ou revezes, de acordo com o domínio de blancos ou colorados.

No Brasil, mesmo eleito pelo Partido Liberal, apoiou o gabinete de seu amigo Visconde do Rio Branco (1871-1875).

A combinação das suas ideias, juntamente com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou-o alvo das intrigas dos conservadores. As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram abalados pela legislação que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens (Tarifa Silva Ferraz, 1860). Com a falência do Banco Mauá em 1875, pediu moratória por três anos, sendo obrigado a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e ainda os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.

Doente, minado pelo diabetes, após liquidar as suas dívidas, encerrou um capítulo da sua vida empresarial. Com o pouco que lhe restou e o auxílio de familiares, dedicou-se à corretagem de café até falecer, aos 76 anos de idade, em sua residência na cidade de Petrópolis poucas semanas antes da queda do Império.

Seu corpo foi trazido à corte de trem, pela mesma estrada de ferro que construíra anos antes, e sepultado no mausoléu de sua família, no Cemitério de São Francisco de Paula, no bairro do Catumbi.


A Visão Empresarial de Mauá

Convivendo em uma sociedade rural e escravocrata, o contato com a mentalidade empresarial britânica que, nos meados do século XIX, gestava a segunda fase da Revolução Industrial, foi determinante para a formação do pensamento de Barão de Mauá.

O seu estilo liberal de administrar era personalíssimo para o Brasil, país acostumado à forte centralização monárquica que o Poder Moderador, expresso na Constituição de 1824, havia reafirmado. Sua característica principal, em qualquer setor econômico que atuou, foi o pioneirismo.

Com menos de trinta anos, já possuía fortuna que, segundo ele próprio, "assegurava-lhe a mais completa independência".

Os seus primeiros passos como empresário foram marcados pela ousadia de projeto, apostando no emprego à tecnologia de ponta. Em toda a sua carreira preocupou-se com a correta gestão de recursos, marcada por uma administração descentralizada, onde a responsabilidade de cada indivíduo na cadeia de comando era valorizada. A sua política salarial expressava, em si própria, um investimento nos talentos de seus empregados, tendo sido pioneiro, no país, na distribuição de lucros da empresa aos funcionários. Em complemento, incentivava os seus colaboradores mais próximos a montar empresas e a fazer negócios por conta própria. O nível de gerência era contemplado com créditos e apoio logístico para operar os empreendimentos, o que combinado com a autonomia administrativa e com a participação nos lucros, permitia fazer face à maioria das dificuldades.

Desse modo, Barão de Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Brasil e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambas empreendimentos estatais. Chegou a controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna em 1867, atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis. Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias de hoje.

Barão de Mauá também foi muito conhecido por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites políticas do Império, o que se ressentiu indiretamente nos seus interesses comerciais. Com o passar dos anos, Barão de Mauá foi se afundando em dívidas, pois sempre que não conseguia recursos, fosse através de subscrições, ou através do apoio financeiro do governo, lançava mão das reservas de sua base de operações: o Banco Mauá & Cia.


Homenagens

No dia 1 de maio de 1910 a prefeitura do então Distrito Federal inaugurou um monumento público em homenagem a Barão de Mauá. Uma estátua em bronze do Visconde em tamanho natural sob uma coluna de granito de cerca de oito metros de altura, de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli, foi colocada no centro da Praça Mauá, próximo ao cais do porto carioca.

No dia 1 de junho 1914 Foi fundada a Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá no bairro de Marechal Hermes, Rio de Janeiro. Hoje faz parte da Fundação de Apoio à Escola Técnica denominada FAETEC.

Em 1926 foi inaugurado o prédio da Estação Barão de Mauá, início da Estrada de Ferro Leopoldina, hoje abandonada.

Em 1936, a Casa da Moeda do Brasil lançou uma moeda de cupro-níquel comemorativa de 200 réis, série "Brasileiros Ilustres", com a efígie de Barão de Mauá no verso e da locomotiva Baronesa no anverso, com reedições em 1937 e 1938.

Em 1954, os Correios brasileiros emitiram selo com o desenho da Baronesa.

Diversas escolas de samba desenvolveram enredos referindo Irineo Evangelista de Sousa. No carnaval do Rio de Janeiro, em 1963 a Portela com o enredo "Barão de Mauá e Suas Realizações", ficou em 4º lugar no Grupo Especial, e, em 2012, a Acadêmicos do Cubango, com o enredo "Barão de Mauá - Sonho de um Brasil Moderno" obteve o 4º lugar no Grupo Acesso A. Na terra natal do personagem, a Escola de Samba Unidos da São Gabriel homenageou-o em 1992 com o enredo "O Apito do Trem", vindo a ser campeã naquele ano.

Representações na Cultura

Irineo Evangelista de Sousa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão brasileiras, interpretado por Paulo Betti e Jorge Neves no filme "Mauá - O Imperador e o Rei" (1999) e Gracindo Júnior na minissérie "Chiquinha Gonzaga" (2002).

Fonte: Wikipédia