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Gilberto Mendes

GILBERTO AMBRÓSIO GARCIA MENDES
(93 anos)
Compositor, Regente Orquestral, Professor e Jornalista

☼ Santos, SP (13/10/1922)
┼ Santos, SP (01/01/2016)

Gilberto Ambrósio Garcia Mendes foi um compositor, regente orquestral, professor e jornalista brasileiro. Iniciou seus estudos de música aos 18 anos, no Conservatório Musical de Santos, com Savino de Benedictis e Antonieta Rudge. Praticamente autodidata em composição, compôs sob orientação de Cláudio Santoro e Olivier Toni, e frequentou o Ferienkurse Fuer Neue Musik de Darmstadt, Alemanha, em 1962 e 1968.

Entre 1945 e 1963, foi membro do Partido Comunista Brasileiro e deixou também sua marca na história social da música.

Em 1997, musicou o poema "O Anjo Esquerdo da História", de Haroldo de Campos, que fala sobre os 19 sem-terra assassinados em Eldorado dos Carajás, no Pará, no dia 17/04/1996, data que se tornou o Dia Mundial da Luta Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Já em "Vila Socó, Meu Amor", Gilberto Mendes homenageia os 93 mortos no incêndio da favela Vila Socó, de Cubatão, em 1984. Ele escreveu a música dias após a catástrofe:

"Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó!"

Um dos pioneiros da música concreta no Brasil, foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, publicado pela revista de arte de vanguarda Invenção, de 1963. Foi porta-voz da poesia concreta paulista, do grupo Noigandres. Como consequência dessa tomada de posição, tornou-se um dos pioneiros no Brasil no campo da música concreta, da música aleatória, da música serial integral, mixed média, experimentando ainda novos grafismos, novos materiais sonoros e a incorporação da ação musical à composição, com a criação do teatro musical, do Happening.

Professor universitário, conferencista, colaborador das principais revistas e jornais brasileiros, Gilberto Mendes foi fundador, em 1962, diretor artístico e programador do Festival Música Nova de Santos, o mais antigo em seu gênero em toda a América. Como professor convidado e Composer In Residence, deu aulas Universidade de Wisconsin-Milwauke, nos Estados Unidos, na qualidade de University Artist 78/79 e Tinker Visiting Professor.

Gilberto Mendes era doutor pela Universidade de São Paulo, onde deu aulas no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes até se aposentar.

Prêmios e Honrarias

No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, foi também diversos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, pela sua obra "Santos Football Music", além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal O Estado de S. Paulo. Também recebeu a Bolsa Vitae, o Prêmio Sérgio Mota Hors Concours 2003 e o título de Cidadão Emérito da Cidade de Santos, dado pela Câmara Municipal de Vereadores.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Gilberto Mendes era membro honorário da Academia Brasileira de Música e do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México.

Verbetes com seu nome constam das principais enciclopédias e dicionários mundiais, como o Grove em inglês, o Rieman alemão, o Dictionary Of Contemporarry Music, de John Vinton e vários outros.

Morte

Gilberto Mendes morreu em 01/01/2016, aos 93 anos. Ele estava internado desde a véspera do Natal, 24/12/2015, na Unidade de Tratamento Intensivo (UIT) da Santa Casa de Santos devido a problemas respiratórios. Sofria de asma e teve uma crise, segundo o escritor Flávio Viegas Amoreira. Morreu às 18h40min, por falência múltipla de órgãos.

Gilberto Mendes era casado há 40 anos com Eliane Ghigonetto e tinha três filhos, um deles já falecido.

Obra

Sua obra já foi tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e Estados Unidos.

Destacam-se, dentre as peças para orquestra:

  • Santos Football Music
  • Concerto para Piano e Orquestra

Para Grupos Instrumentais:

  • Saudades do Parque Balneário Hotel
  • Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamoura
  • Longhorn Trio
  • Rimsky

Para Coro:

  • Beba Coca-Cola
  • Ashmatour
  • O Anjo Esquerdo da História
  • Vila Socó Meu Amor

Escreveu também inúmeras peças para piano e canções. Seu livro "Uma Odisséia Musical" foi publicado pela Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP).

Fonte: Wikipédia

Edmundo Peruzzi

EDMUNDO PERUZZI
(57 anos)
Regente, Arranjador, Instrumentista e Compositor

* Santos, SP (29/06/1918)
+ Santos, SP (03/11/1975)

Edmundo Peruzzi iniciou sua formação musical no Conservatório Musical de Santos, onde estudou sob a orientação de Sabino de Benedictis. Foi também integrante da Banda do Corpo de Bombeiros de Santos.

Em 1932, aos 14 anos de idade iniciou a carreira artística e apresentava-se como trombonista em espetáculos circenses. Em 1935, trocou o trombone pela flauta.

Em 1945, fundou Peruzzi e Sua Orquestra, passando a atuar em programas da Rádio Gazeta de São Paulo e apresentando-se em bailes realizados nos arredores da capital paulista. Gravou com sua orquestra seu primeiro disco, pela Continental, interpretando o choro "Perigoso" (Ernesto Nazareth) e a valsa "Em Pleno Estio" (R. Firpo). Gravou também com sua orquestra, com vocal de Armando Castro o samba boogie "Dança do Boogie-Woogie" (Carlos Armando) e o samba "Não Tenho Lar" (Carlos Armando e Orlando Barros). Gravou ainda, com um quarteto de saxofones o choro "Dedicação" (Orlando Costa, o Cipó).

Em 1948, a orquestra apresentou-se na Rádio Tupi de São Paulo.

Em 1951, contratado pela Rádio Mayrink Veiga, transferiu-se para o Rio de Janeiro, lá permanecendo por 10 anos e atuando à frente de várias orquestras radiofônicas. No mesmo ano, assinou com o selo Elite Special e lançou com sua orquestra os mambos "Italianinho" (Willy Franck e Gilberto Gagliardi) e "Caruaru" (Edmundo Peruzzi e Claribalte Passos). Ainda no mesmo ano, acompanhou com sua orquestra a cantora Neide Fraga e o grupo vocal Demônios da Garoa na gravação da marcha "Quando Chega o Natal" (Sereno) e do samba "Reveillon" (Francisco Ávila).

Em 1952 gravou os frevos "Frevo a Jato" (Lourival Oliveira) e "Estou Queimado" (Levino Ferreira).

Em 1953, com sua orquestra se apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro executando o "Moto Perpétuo" (Paganini) em ritmo de samba.

Em 1954, gravou com sua orquestra na Columbia o "Baião na África" (Edmundo Peruzzi e Avarese) e a barcarola "Rema, Rema" (Edmundo Peruzzi e Onízio Andrade Filho).

Edmundo Peruzzi  foi diretor da gravadora Discobras durante o período de 1957 a 1958.

Em 1958 lançou com sua orquestra de danças pela Polydor o samba rock "Rock Sambando" (Carlos Armando e Aires Viana) e o samba "Agora é Cinzas" (Bide e Marçal). Também na Polydor acompanhou a cantora Dalva de Andrade na gravação do mambo "No Azul Pintado de Azul" (Modugno e Migliacci), com versão de David Nasser e do bolero "Nunca Pensei" (José Batista e José Ribamar). Lançou pela Discobras o LP "Violinos e Teleco Teco".

Em 1959, fez a primeira das várias trilhas sonoras que compôs, para o filme "Depois do Carnaval", de Wilson Silva.

Em 1963, fez a trilha para o filme "O Cabeleira", de Milton Amaral. Fez a coordenação artística, orquestração e a regência da orquestra para o LP "As Grandes Escolas de Samba Com Orquestra e Coro", com gravações dos sambas enredo "Chica da Silva", "Rio dos Vice Reis", "Mestre Valentim", "Relíquias da Bahia", "Palmares", "Tristeza no Carnaval", "Mauá e Suas Realizações", "Vem do Morro" e "Toda Prosa".

Em 1964 realizou excursão para a Argentina.

Em 1967, apresentou-se no Paraguai.

Em 1968, fez a trilha sonora para "Traficante do Crime", filme de Mário Latini.

Em 1970, esteve no Peru onde realizou apresentações e fez arranjos para a orquestra do peruano Augusto Valderrama. Lançou ainda, pela Rosicler, o LP "Transa Junina".

Como arranjador, realizou gravações para artistas como Orlando Silva, Miltinho, Wilson Simonal, Clara Nunes e outros.

Discografia

  • 1970 - Transa Tunina (Rosicler, LP)
  • 1958 - Rock Sambando / Agora é Cinza (Polydor, 78)
  • 1958 - Violinos e Teleco Teco (Discobras, LP)
  • 1954 - Baião na África / Rema, Rema (Columbia, 78)
  • 1952 - Frevo a Jato / Estou Queimado (Elite Special, 78)
  • 1952 - Carioca / Aparecida (Elite Special, 78)
  • 1951 - Italianinho / Caruaru (Elite Special, 78)
  • 1945 - Perigoso / Em Pleno Estio (Continental, 78)
  • 1945 - Dança do Boogie-Woogie / Não Tenho Lar (Continental, 78)
  • 1945 - Dedicação / Pracinha (Continental, 78)

Indicação: Miguel Sampaio

Alberto Nepomuceno


ALBERTO NEPOMUCENO
(56 anos)
Compositor, Pianista, Organista e Regente

* Fortaleza, CE (06/07/1864)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/10/1920)

Alberto Nepomuceno foi um compositor, pianista, organista e regente brasileiro. Considerado o "pai" do nacionalismo na música erudita brasileira, deixou inacabada a ópera "O Garatuja", baseada na obra de mesmo nome de José de Alencar. Escreveu duas óperas completas, "Artemis" e "Abul", ambas sem temática nacionalista. Pesquisas recentes mostram que Alberto Nepomuceno compôs obras de caráter modernista, chegando a experimentar com a politonalidade nas Variações para piano, "Opus 29".

Filho de Vítor Augusto Nepomuceno e Maria Virgínia de Oliveira Paiva, foi iniciado nos estudos musicais por seu pai, que era violinista, professor, mestre da banda e organista da Catedral de Fortaleza. Em 1872 transferiu-se com a família para Recife, onde começou a estudar piano e violino.

Responsável pelo sustento da mãe e irmã após a morte de seu pai, em 1880, Alberto Nepomuceno empregou-se como tipógrafo e passou a ministrar aulas particulares de música, ficando impossibilitado de prosseguir seus estudos no curso de humanidades. Apesar do pouco tempo que lhe sobrava, conseguiu dar continuidade aos seus estudos musicais com o maestro Euclides Fonseca.

Durante sua juventude, manteve amizade com alunos e mestres da Faculdade de Direito do Recife, como Alfredo Pinto, Clóvis Bevilaqua e Farias Brito. A Faculdade, nessa época, era um grande centro intelectual do país e por lá fervilhavam idéias e análises sociais de vanguarda, como os estudos sociológicos de Manuel Bonfim e Tobias Barreto, além das teorias darwinistas e spenceristas de Sílvio Romero. Foi Tobias Barreto quem despertou em Alberto Nepomuceno o interesse pelos estudos da língua alemã e da filosofia, dando-lhe aulas de ambas as disciplinas.

Tornou-se um defensor atuante das causas republicana e abolicionista no Nordeste, participando de diversas campanhas. Entretanto, não descuidou de suas atividades como músico, assumindo, aos dezoito anos, a direção dos concertos do Clube Carlos Gomes de Recife. Atuou também como violinista na estréia da ópera "Leonor", de Euclides Fonseca, no Teatro Santa Isabel.

De volta ao Ceará com a família, ligou-se a João Brígido e João Cordeiro, defensores do Movimento Abolicionista, passando a colaborar em diversos jornais ligados à causa. Devido às suas atividades políticas, seu pedido de custeio ao governo imperial para estudar na Europa foi indeferido.


Sociedade da Corte

Em 1885, Alberto Nepomuceno mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar na residência da família dos artistas plásticos Rodolfo Bernardelli e Henrique Bernardelli. Deu continuidade aos seus estudos de piano no Clube Beethoven, onde se apresentou ao lado de Arthur Napoleão. Pouco tempo depois, foi nomeado professor de piano do clube, que tinha em seu quadro funcional, como bibliotecário, Machado de Assis.

A capital do império, neste período, vivia um momento de grande efervescência social, política e cultural. No âmbito social, ocorria um vertiginoso crescimento populacional com o aumento do fluxo migratório em busca de trabalho. No plano político, sucediam-se os ataques das campanhas abolicionista e republicana à monarquia. No campo literário, os movimentos romântico, simbolista e naturalista, em voga na Europa, influenciavam diversos escritores brasileiros, como Olavo BilacMachado de AssisAluísio de Azevedo e Coelho Neto.

O grande interesse de Alberto Nepomuceno pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa, aproximou-o de alguns dos mais importantes autores da época, surgindo, da parceria com poetas e escritores, várias composições como: "Ártemis" (1898), com texto de Coelho Neto, "Coração Triste" (1899), com Machado de Assis, "Numa Concha" (1913), com Olavo Bilac.

No ano anterior à abolição da escravatura, compôs "Dança de Negros" (1887), uma das primeiras composições que utilizou motivos étnicos brasileiros. A primeira audição dessa obra, que mais tarde se tornou "Batuque", da Série Brasileira, foi apresentada pelo autor no Ceará. Outras peças foram compostas na mesma época, como "Mazurca", "Une Fleur", "Ave Maria" e "Marcha Fúnebre".

Apesar de ser visto com desconfiança pela família imperial, devido às suas posições políticas, Alberto Nepomuceno, pela sua importância no cenário musical brasileiro, chegou a ser convidado pela Princesa Isabel para tomar chá no Paço Imperial.


Europa

Alberto Nepomuceno viajou para a Europa na companhia de seus grandes amigos, os irmãos Henrique Bernardelli e Rodolfo Bernardelli, em agosto de 1888, com o objetivo de ampliar sua formação musical.

Em Roma, matriculou-se no Liceo Musicale Santa Cecilia, na classe de Harmonia, de Eugenio Terziani, e na de piano, de Giovanni Sgambati. Depois, com a morte de Eugenio Terziani, prosseguiu os estudos com Cesare De Sanctis.

Em 1890 partiu para Berlim, onde aperfeiçoou seu domínio da língua alemã e ingressou na Academia Meister Schulle, tornando-se aluno de composição de Heinrich von Herzogenberg, grande amigo de Brahms. Durante suas férias, chegou a assistir em Viena a concertos de Brahms e de Hans von Bülow. Transferiu-se depois para o Conservatório Stern de Berlim, onde, durante dois anos, cursou as aulas de composição e órgão com o professor Arnó Kleffel, e de piano, com H. Ehrlich.

Alberto Nepomuceno e sua futura esposa tiveram aulas também com o famoso Theodor Lechetitzky, em cuja sala de aula conheceu a pianista norueguesa Walborg Bang, com quem se casou em 1893. Ela era aluna de Edvard Grieg, o mais importante compositor norueguês da época, representante máximo do nacionalismo romântico.

Após seu casamento, foi morar na casa de Edvard Grieg em Bergen. Esta amizade foi fundamental para que Alberto Nepomuceno elaborasse um ideal nacionalista e, sobretudo, se definisse por uma obra atenta à riqueza cultural brasileira.

Após realizar as provas finais do Conservatório Stern (1894), regendo a Filarmônica de Berlim com duas obras suas, Scherzo Für Grosses Orcherter e Suíte Antiga, inscreveu-se na Schola Cantorum, em Paris, a fim de aprimorar-se nos estudos de órgão com o professor Alexandre Guilmant. Nessa época, conheceu Camille Saint-Saëns, Charles Bordes, Vincent D'Indy e outros.

Assistiu à estréia mundial de "Prélude à L'après-midi D'un Faune", de Claude Debussy, obra que Alberto Nepomuceno foi o primeiro a apresentar no Brasil, em 1908, nas festas do Centenário da Abertura dos Portos. A convite de Charles Chabault, catedrático de grego na Sorbonne, escreveu a música incidental para a tragédia Electra.

Em 1900 marcou uma entrevista com o diretor da Ópera de Viena, Gustav Mahler, para negociar a apresentação de sua ópera "Ártemis", porém, adoeceu gravemente, indo se recuperar em Bergen, na casa de seu amigo Edvard Grieg.

Em 1910, financiado pelo governo brasileiro, realizou diversos concertos com músicas de compositores nacionais em Bruxelas, Genebra e Paris. Durante a excursão, visitou Debussy em sua residência em Neuilly-sur-Seine, sendo presenteado com uma partitura autografada de "Pelléas et Mélisande".


Nacionalismo

No dia 04/08/1895, Alberto Nepomuceno realizou um concerto histórico, marcando o início de uma campanha que lhe rendeu muitas críticas e censuras. Apresentou pela primeira vez, no Instituto Nacional de Música, uma série de canções em português, de sua autoria. Estava deflagrada a guerra pela nacionalização da música erudita brasileira. O concerto atingia diretamente aqueles que afirmavam que a língua portuguesa era inadequada para o bel canto. A polêmica tomou conta da imprensa e Alberto Nepomuceno travou uma verdadeira batalha contra o crítico Oscar Guanabarino, defensor ardoroso do canto em italiano, afirmando: "Não tem pátria um povo que não canta em sua língua".

A luta pela nacionalização da música erudita foi ampliada com o início de suas atividades na Associação de Concertos Populares, que dirigiu por dez anos, de 1896 a 1906, promovendo o reconhecimento de compositores brasileiros.

A pedido de Visconde de Taunay, restaurou diversas obras do compositor Padre José Maurício Nunes Garcia e apoiou compositores populares como Catulo da Paixão Cearense.

A sua coletânea de doze canções em português foi lançada em 1904 e editada pela Vieira Machado & Moreira de Sá. "O Garatuja", comédia lírica em três atos, baseada na obra homônima de José de Alencar, é considerada a primeira ópera verdadeiramente brasileira no tocante à música, ambientação e utilização da língua portuguesa. Os ritmos populares também estão presentes nesta obra, como a habanera, o tango, a marcação sincopada do maxixe, o lundu e ritmos característicos dos compositores populares do século XIX, como Xisto Bahia, além das polcas de Callado e Chiquinha Gonzaga.

Em 1907 iniciou a reforma do "Hino Nacional Brasileiro", tanto na forma de execução quanto na letra de Osório Duque Estrada. No ano seguinte, a realização do concerto de violão do compositor popular Catulo da Paixão Cearense, no Instituto Nacional de Música, promovido por Alberto Nepomuceno, causou grande revolta nos críticos mais ortodoxos, que consideraram o acontecimento "um acinte àquele templo da arte".

Ainda como incentivador dos talentos nacionais, atuou junto a Sampaio Araújo para editar as obras de um controvertido compositor que surgia na época: Heitor Villa-Lobos. Alberto Nepomuceno chegou a exigir que as edições de suas obras, distribuídas pela Casa Arthur Napoleão, contivessem, na contra-capa, alguma partitura do jovem Villa-Lobos. Executou várias obras do jovem compositor em concertos com orquestras que regeu, e deixou-lhe como herança uma coleção de cerca de 80 canções populares, catalogadas e analisadas.


O Instituto Nacional de Música

Alberto Nepomuceno iniciou suas atividades no Instituto Nacional de Música como professor de órgão em 1894. Após a morte de Leopoldo Miguez, em 1902, foi nomeado diretor. Devido a inúmeras pressões e divergências de ordem política e administrativa, pediu exoneração no ano seguinte. No entanto, como importante referência da música erudita local, foi designado pelo próprio Instituto para recepcionar Saint-Saëns em sua vinda ao país.

Em 1906 reassumiu o cargo de diretor após o pedido de demissão de Henrique Oswald. Em sua segunda gestão, elaborou uma série de projetos visando à institucionalização da música erudita brasileira.

Um dos primeiros projetos iniciados por Alberto Nepomuceno foi a reforma do "Hino Nacional Brasileiro" e a regulamentação de sua execução pública. Mandou colocar no Instituto uma lápide em homenagem a Francisco Manuel da Silva, com a seguinte inscrição:

"Ao fundador do Conservatório e autor do Hino de sua pátria"

Foi nomeado também diretor musical e regente principal dos Concertos Sinfônicos da Exposição Nacional da Praia Vermelha, em comemoração ao Centenário da Abertura dos Portos. Nestes concertos, apresentou pela primeira vez ao público brasileiro os autores europeus contemporâneos Debussy, Roussel, Glazunow e Rimsky-Korsakov, além dos brasileiros Carlos Gomes, Barroso Neto, Leopoldo Miguez e Henrique Oswald.

Em 1909, enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional com o intuito de criar uma Orquestra Sinfônica subvencionada pelo governo. Como diretor do Instituto, recepcionou, junto com Ruy Barbosa e Roberto Gomes, o pianista Paderewsky em sua visita ao Brasil.

Em 1913 regeu, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o grande Festival Wagner, tendo como solista o tenor Karl Jorn, de Bayreuth.

Responsável pela tradução do "Tratado de Harmonia" de Schoenberg, Alberto Nepomuceno tentou, em 1916, implantá-lo no Instituto, mas encontrou forte oposição do corpo docente. Sentindo crescer as pressões contrárias da academia a seus projetos, pediu demissão no mesmo ano.

Separado de Walborg Bang e com sérias dificuldades financeiras, foi morar com Frederico Nascimento em Santa Teresa. Seu último concerto no Teatro Municipal aconteceu em 1917.

Muito doente e enfraquecido, faleceu em 16/10/1920, aos 56 anos de idade. Segundo depoimento de seu grande amigo Otávio Bevilacqua, o compositor começou a cantar ao perceber a proximidade da morte: "... cantou noite adentro até o último suspiro em pleno dia" (Trevisan, João Silvério. Ana em Veneza. Rio de Janeiro: Record, 1998).


Obras

Música Dramática


Óperas:
  • 1887-1889 - Porangaba
  • 1894 - Electra (Versão 1894)
  • 1898 - Ártemis
  • 1899-1905 - Abul
  • 1904-1920 - O Garatuja (Inacabada, 1904-1920)
Opereta:
  • 1911 - A Cigarra
Episódio Lírico:
  • 1902 - A Pastoral

Música Orquestral

  • 1887 - Marcha Fúnebre
  • 1887 - Prière
  • 1887 - Suíte da Ópera Porangaba
  • 1887 - Rhapsodie brésilienne
  • 1888 - Série Brasileira (Batuque)
  • 1891 - Série Brasileira (Intermédio)
  • 1892 - Série Brasileira (Alvorada na Serra)
  • 1893 - Scherzo Vivace
  • 1893 - Suíte Antiga
  • 1893 - Sinfonia Em Sol Menor
  • 1893 - Spimlied
  • 1896 - Largo e Ofertório, para órgão e orquestra
  • 1896 - Série Brasileira (A Sesta na Rede)
  • 1902 - Andante Expressivo
  • 1902 - Serenata
  • 1903 - Seis Valsas Humorísticas, para piano e orquestra
  • 1904 - O Garatuja
  • 1906 - Suíte da Ópera Abdul
  • 1908 - Romance e Tarantela, para violoncelo e orquestra
  • 1916 - Iriel (Cena e Dança)

Música de Câmara

Trio:

  • 1916 - Trio, para piano, violino e violoncelo
Quartetos de Cordas:

  • 1889 - Quarteto
  • 1890 - Quarteto nº 1
  • 1890 - Quarteto nº 2
  • 1891 - Quarteto nº 3

Música Instrumental

Para Piano:

  • S.d. - A Brasileira
  • S.d. - Melodia
  • S.d. - Seis Valsas Humorísticas
  • 1887 - Dança de Negros
  • 1887 - Scherzo Fantástico
  • 1887 - Prece
  • 1887 - Mazurca nº 1
  • 1890 - Berceuse
  • 1890 - Ninna Nanna
  • 1890 - Mazurca Em Ré Menor
  • 1891 - Folhas D'álbum 1-6
  • 1891 - Une Fleur (Romance)
  • 1893 - Sonata
  • 1893 - Suíte Antiga (Quatro Movimentos)
  • 1893 - Valse Impromptu
  • 1894 - Diálogo
  • 1894 - Anelo
  • 1894 - Galhofeira
  • 1894 - Valsa
  • 1895 - Líricas nº 1 e 2
  • 1902 - Tema e Variações Em Lá Maior
  • 1902 - Variações Sobre Um Tema Original
  • 1903 - Quatro Peças Infantis
  • 1904 - Devaneio
  • 1904 - Improviso
  • 1906 - Barcarola
  • 1906 - Dança
  • 1906 - Brincando
  • 1906 - Melodia
  • 1907 - Noturno
  • 1908 - Série Brasileira
  • 1908 - Sinfonia Em Sol Menor
  • 1910 - Noturno nº 1
  • 1911 - Valsa da Cigarra
  • 1912 - Noturno nº 2
  • 1916 - Cloche de Noël
Para Órgão:

  • 1893 - Orgelstück (Quatro Peças)
  • 1894 - Prelúdio e Fuga
  • 1895 - Comunhão
  • 1895 - Sonata
  • 1902 - Ofertório
  • 1912 - Prelúdio e Fuga
Duos:

  • 1887 - Mazurca, para violoncelo e piano
  • 1887 - Prece, para violoncelo e piano
  • 1908 - Romance e Tarantela, para violoncelo e piano
  • 1919 - Devaneio, para violino e piano

Música Vocal

Canto e Piano:

  • S.d. - Conselho (Antigas modinhas brasileiras)
  • S.d. - Morta (Trovas do norte)
  • S.d. - A Grinalda
  • S.d. - Amo-te Muito
  • S.d. - Cantiga Triste
  • S.d. - Cantigas
  • S.d. - Canto Nupcial
  • 1888 - Perchè
  • 1888 - Rispondi
  • 1889 - Serenata Di Un Moro
  • 1889 - Tanto Gentile Tanto Onesta Pare
  • 1893 - Blomma
  • 1893 - Dromd Lycka
  • 1893 - Der Wunde Ritter
  • 1894 - Ora, Dize-me a Verdade
  • 1894 - Désirs Divers
  • 1894 - Einklang
  • 1894 - Sehnsucht Vergessen
  • 1894 - Gedichte
  • 1894 - Herbst
  • 1894 - Oraison
  • 1894 - Wiegen Sie Sauft
  • 1894 - Moreninha
  • 1894 - Moreninha (Medroso de Amor)
  • 1894 - Madrigal
  • 1894 - Mater Dolorosa
  • 1894 - Desterro
  • 1895 - Au Jardin Des Reves
  • 1895 - Les Yeux Élus
  • 1895 - La Chanson de Gélisette
  • 1895 - La Chanson Du Silence (Il Flotte Dans L'air)
  • 1895 - Le Miroir D'or
  • 1896 - Cativeiro
  • 1897 - Cantos da Sulamita
  • 1902 - Canção do Amor
  • 1902 - Sonhei
  • 1902 - Oração ao Diabo
  • 1903 - Coração Triste
  • 1904 - O Sono
  • 1905 - Trovas Alegres
  • 1905 - Trovas Tristes
  • 1906 - Hidrófana
  • 1906 - Saudade
  • 1911 - Aime-moi
  • 1911 - Razão e Amor
  • 1912 - Ocaso
  • 1914 - Candura
  • 1914 - Numa Concha
  • 1914 - Olha-me
  • 1915 - Canção da Ausência
  • 1915 - Luz e Névoa
  • 1917 - Canção do Rio
  • 1920 - Jangada
Canto e Orquestra:

  • S.d. - Amanhece
  • S.d. - Xácara
  • S.d. - Trovas nº 1
  • S.d. - Trovas nº 2
  • S.d. - Dolor Supremus
  • S.d. - Oração ao Diabo
  • S.d. - Sempre
  • S.d. - Anoitece
  • S.d. - Cantigas (A Guitarra)
  • S.d. - Dor Sem Consolo
  • S.d. - A Despedida
  • 1894 - Medroso de Amor (Moreninha)
  • 1894 - Tu És o Sol
  • 1897 - Epitalâmio (Enfim)
  • 1906 - Canção
  • 1902 - Cantilena
  • 1903 - Coração Indeciso
  • 1903 - Filomela
  • 1904 - Soneto
  • 1906 - Turquesa
  • 1913 - Nossa Velhice
  • 1917 - Le Miracle de la Semence
Coro:

  • S.d. - Baile na Flor, para coro feminino
  • S.d. - Tambores e Cornetas
  • 1890 - Hino à Proclamação da República
  • 1896 - Hino ao Trabalho
  • 1896 - As Uiaras, para coro feminino
  • 1903 - Canção do Norte (Hino ao Ceará), para coro misto
  • 1909 - Hino às Árvores
  • 1914 - Hino à Escola Normal
  • 1914 - Oração à Pátria
  • 1915 - Hino à Alsácia-Lorena
  • 1917 - Ode a Osvaldo Cruz
  • 1918 - Canção do Acre
  • 1919 - Hino à Paz
  • 1919 - Saudação à Bandeira

Música Sacra

  • S.d. - Ave Maria nº 2, para coro feminino a quatro vozes
  • S.d. - Ave Maria n° 3, para canto e órgão
  • S.d. - Ave Maria nº 4, para canto e órgão
  • S.d. - Ingemisco, para canto e piano
  • S.d. - Invocação à Cruz, para coro a duas vozes
  • 1887 - Ave Maria nº 1, para coro feminino
  • 1896 - Canto Fúnebre, para coro a duas vozes
  • 1897 - O Salutaris Hostia nº 2, para canto e piano
  • 1909 - Panis Angelicus, para duas vozes e órgão
  • 1911 - O Salutaris Hostia, para coro a quatro vozes e órgão
  • 1911 - Tantum Ergo, para coro e órgão
  • 1911 - Ecce Panis Angelorum, para duas vozes e órgão
  • 1915 - Missa, para coro a duas vozes e órgão
Fonte: Wikipédia

Astor Silva

ASTOR SILVA
(45 anos)
Instrumentista, Compositor, Arranjador e Regente

* Rio de Janeiro, RJ (10/05/1922)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/02/1968)

Astor Silva foi um instrumentista, compositor, arranjador e regente de música popular brasileira. Nasceu no bairro carioca do Rio Comprido, fez seus estudos na Escola João Alfredo, situada em Vila Isabel.

Por essa época já estudava música e formou um grupo com colegas do colégio que se apresentava em bailes e festas familiares.

Iniciou sua atividade artística como trombonista de danceterias. Por volta de 1940, passou a atuar no Cassino da Urca, e em outros, como os situados em Copacabana e Icaraí.

Em 1946, com o fechamento dos Cassinos, passou a integrar a Orquestra Tabajara, dirigida por Severino Araújo, que realizou excursões pelo Brasil, Argentina, Uruguai, França, e outros países. Ainda como integrante da Orquestra Tabajara, apresentou-se na Rádio Tupi. Posteriormente, transferiu-se para a orquestra do Maestro Carioca que atuava na mesma emissora.

Exibiu-se ainda na boate carioca Night And Day e na TV Rio. Foi diretor musical de diversas gravadoras, e na CBS desempenhou também a função de arranjador-chefe.

No início dos anos 50, formou seu próprio conjunto com o qual atuou na Todamérica fazendo acompanhamentos para Garotos da Lua, Virgínia Lane, Zilá Fonseca, Ademilde Fonseca e Raul Moreno.

Em 1952, seu "Chorinho da Nice" foi gravado na Continental por Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara. Em 1953, gravou com seu conjunto na Todamérica o choro "Pisando Macio" (Astor Silva), e o "Baião Diferente" (Marcos Valentim).

Em 1954 gravou também com seu conjunto o choro "No Melhor Da Festa", e "Baião Lusitano", ambos de sua autoria. Nessa época, passou a dirigir sua própria orquestra e gravou o mambo "Mambomengo", e o samba "Sete Estrelas", de sua autoria. Ainda em 1954, seu choro "Alta Noite" (Astor Silva e Del Loro), foi gravado na Sinter pelo cantor Jamelão. Atuou com sua orquestra na Todamérica e acompanhou, entre outras, a cantora Dóris Monteiro na gravação da "Marcha Do Apartamento", e do samba "Sacrifício Não Se Pede".

Em 1955, gravou com seu conjunto os choros "Chorinho De Boite" e "Sombra e Água Fresca", de sua autoria. Por essa época, atuou com seu conjunto e com sua orquestra na gravadora Continental acompanhando gravações de Moreira da Silva, Nora Ney, Bill Farr e Emilinha Borba.

Entre 1960 e 1963, atuou com seu conjunto e sua orquestra na Columbia. Em 1960, foi um dos responsáveis pelo sucesso do samba "Beija-me" (Roberto Martins e Mário Rossi), gravado por Elza Soares com arranjos seus.

Em 1961, acompanhou com seu conjunto um das primeiras gravações do então iniciante cantor Roberto Carlos num 78 RPM com as músicas "Louco Por Você" e "Não é Por Mim". Acompanhou também gravações de Risadinha e Wanderléa, também em começo de carreira, Cyro Monteiro, Rossini Pinto e Elis Regina, em uma de suas primeiras gravações, com as músicas "A Virgem De Macareña" e "1, 2, 3, Balançou".

Ainda em 1961, gravou com sua orquestra os frevos "Jairo Na Folia" (Francisquinho), "Ao Som Dos Guisos" (Edgar Morais), "A Pisada é Essa" (João Santiago) e "Vai Na Marra" (David Vasconcelos).

Gravou ainda, pelo pequeno selo Ritmos, com seu conjunto, os sambas "Vamos Fazer Um Samba" (Astor Silva e Nelson Trigueiro) e "Agora é Cinza" (Bide e Marçal).

Astor Silva foi um dos principais arranjadores da segunda metade dos anos 1950.

Em 1974, seu "Chorinho De Gafieira" foi regravado por Raul de Barros no LP "Brasil, Trombone", lançado pelo selo Marcus Pereira.


Discografia

  • S/D - Vamos Fazer Um Samba? / Agora é Cinza (Ritmos, 78)
  • 1961 - Jairo Na Folia / Ao Som dos Guisos (Odeon, 78)
  • 1961 - A Pisada é Essa / Vai Na Marra (Odeon, 78)
  • 1955 - Chorinho De Boite / Sombra e Água Fresca (Todamérica, 78)
  • 1954 - No Melhor Da Festa / Baião Lusitano (Todamérica, 78)
  • 1954 - Mambomengo / Sete Estrelas (Todamérica, 78)
  • 1953 - Pisando Macio / Baião Diferente (Todamérica, 78)


Indicação: Miguel Sampaio

Zequinha de Abreu

JOSÉ GOMES DE ABREU
(54 anos)
Compositor, Instrumentista e Regente

☼ Santa Rita do Passa Quatro, SP (19/09/1880)
┼ São Paulo, SP (22/01/1935)

José Gomes de Abreu, mais conhecido como Zequinha de Abreu, foi um músico, compositor e instrumentista brasileiro. Zequinha de Abreu tocava flauta, clarinete e requinta. Um dos maiores compositores de choros, é autor do famoso choro "Tico-Tico no Fubá" que foi muito divulgado no exterior nos anos 40 por Carmen Miranda. É pouco provável que a similaridade desta melodia com uma no primeiro movimento do "Concerto Para Piano Op.15" de Beethoven seja mera coincidência. Zequinha Abreu foi organizador e regente de orquestras e bandas no interior paulista.

Zequinha de Abreu era o mais velho dos oito filhos do boticário José Alacrino Ramiro de Abreu e Justina Gomes Leitão. Sua mãe ansiava para que ele seguisse a carreira de padre e o pai desejava que se formasse em medicina. Mas aos seis anos de idade, ele já mostrava que tinha vocação para a música, tirando melodias da flauta. Ainda durante o curso primário organizou uma banda na escola, da qual ele mesmo era o regente. Com 10 anos, já tocava requinta, flauta e clarineta na banda e ensaiava suas primeiras composições.

Zequinha de Abreu estudou em Santa Rita do Passa Quatro e no Colégio São Luís de Itu.

Em 1894 foi para o Seminário Episcopal de São Paulo, onde aprendeu harmonia. Aos 17 anos voltou para sua cidade natal e fundou sua própria orquestra visando se apresentar em saraus, bailes, aniversários, casamentos, serestas e em cinemas, acompanhando os filmes mudos. Nessa época, fez suas primeiras composições conhecidas, como "Flor da Estrada" e "Bafo de Onça".

Aos 18 anos contraiu matrimônio com Durvalina Brasil, que tinha apenas 14 anos de idade. O casal morou por alguns meses no distrito de Santa Cruz da Estrela, atual Jacerandi, próximo a Santa Rita do Passa Quatro, no Estado de São Paulo. Cuidavam de uma farmácia e de uma classe de ensino primário. De volta à Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha de Abreu coordenou o trabalho da orquestra com os cargos de secretário da Câmara Municipal e de escrevente da Coletoria Estadual.

A exemplo de seu pai, também teve oito filhos, todos batizados com nomes começados com a letra "D".

No final da década de 1910 compôs de improviso a valsa "Branca", em homenagem a Branca Barreto, filha do chefe da estação ferroviária de sua cidade. Tornou-se um clássico do repertório brasileiro de então.

Em 1917, durante um baile, apresentou um choro e ficou surpreso com a reação entusiasmada dos pares de dança. Batizou a música de "Tico-Tico no Farelo", mas, como já existia um choro com o mesmo nome na época, composto por Américo Jacomino, resolveu colocar "Tico-Tico no Fubá".

Apesar da boa acolhida, o choro só seria gravado quatorze anos depois, pela Orquestra Colbaz, dirigida pelo maestro Gaó. Interpretada por dezenas de artistas, tornou-se um dos maiores sucessos da música brasileira no século 20, inclusive no exterior.

Zequinha de Abreu mudou-se para a capital paulista em setembro de 1920, logo após o falecimento do pai. Em São Paulo, seu ritmo de trabalho aumentou. Ele se apresentava no Bar Viaduto, na Confeitaria Seleta, em clubes, cabarés, dancings e festas. Seu piano, conjuntos e músicas eram muito requisitados. Incansável, ainda dava aulas de piano e aproveitava para vender as partituras de suas músicas nas casas que frequentava.

Trabalhava também na Casa Beethoven, atraindo fregueses e curiosos que passavam na Rua Direita. Mostrava no piano os últimos lançamentos musicais. Foi lá que conheceu Vicente Vitale, com quem iniciaria uma grande amizade e uma ligação importante. Os irmãos Vitale iniciavam uma editora musical que iria lançar vários de seus sucessos. Além disso, ofereceram a Zequinha de Abreu um contrato de exclusividade, com a obrigação de entregar uma música nova a cada mês, em troca de um ordenado fixo.

Suas músicas foram gravadas inclusive por Lúcio Alves, que cantou "Pé de Elefante" e "Rosa Desfolhada" (Zequinha de AbreuDino Castelo), "Aurora" (Zequinha de Abreu e Salvador Morais) e "Amor Imortal" (Zequinha de Abreu e Braguinha).

Zequinha de Abreu não possuía ambição e sempre ajudava os amigos necessitados. Falava pouco, mas sorria bastante. Na boemia, fazia-se acompanhar dos filhos Durval e Dermeval, improvisando ao piano canções durante horas, com a cervejinha do lado. "Escrevia música tão depressa como qualquer pessoa que sabia escrever ligeiro." - dizia Hermes Vieira, seu amigo e letrista, que usava o pseudônimo de Naro Demóstenes.

Dois anos antes de morrer, fundou a Banda Zequinha de Abreu.

Dezessete anos após sua morte, os cineastas Fernando de Barros, Adolfo Celi e a Companhia Vera Cruz homenagearam o compositor com o filme "Tico-Tico no Fubá" (1952) com Anselmo Duarte e Tônha Carrero nos principais papéis.

Camargo Guarnieri

MOZART CAMARGO GUARNIERI
(85 anos)
Compositor e Regente

* Tietê, SP (01/02/1907)
+ São Paulo, SP (13/01/1993)

Seu pai era um imigrante italiano e sua mãe vinha de uma tradicional família paulista. O pai, Miguel Guarnieri, era barbeiro e músico, e tocava flauta. A mãe, Gécia Camargo, tocava piano. O pequeno Mozart aprendeu música em casa.

Teve aulas de piano a partir dos dez anos de idade com Virgínio Dias. Para este professor dedicou sua primeira composição, a valsa "Sonho de Artista" (1918). A obra foi desdenhada pelo professor, mas seu pai julgou que a obra era fruto de promissor talento, pagando sua publicação em 1920.

Em 1923, Miguel Guarnieri decidiu mudar-se com a família para São Paulo a fim de proporcionar melhores condições de estudo da música ao filho. Sendo uma família de poucos recursos financeiros, Guarnieri trabalhou junto com o pai na barbearia e trabalhou como pianista.

Até 1925 manteve vários empregos, tocando em cinemas, lojas de partitura e casas de baile da cidade. Estudou piano com Ernani Braga. Em 1925 seu pai obteve melhor emprego, o que permitiu a Guarnieri reduzir sua carga de trabalho e dedicar-se mais ao estudo da música. Passou a ter aulas de piano com Antônio de Sá Pereira, e, alguns anos depois, começou também a estudar harmonia, contraponto, orquestração e composição com o maestro Lamberto Baldi, recém chegado da Itália.

Em 1928 foi apresentado a Mário de Andrade, a quem mostrou suas obras recém compostas "Canção Sertaneja" e "Dança Brasileira". O escritor modernista tornou-se seu mestre intelectual. Guarnieri passou a frequentar a casa de Mário de Andrade, com quem discutia estética, ouvia obras musicais e tomava livros emprestados.

Tendo cursado até então apenas dois anos do curso primário, o contato com o escritor foi muito importante para a formação intelectual de Guarnieri. O contato entre ambos tornou-se uma grande amizade e também uma parceria artística. Muitas das canções escritas por Camargo Guarnieri foram sobre textos de Mário de Andrade, incluindo a ópera "Pedro Malazarte". Exercendo atividade como crítico musical na imprensa, Mário de Andrade foi um dos principais responsáveis pela aceitação e pela divulgação da obra de Camargo Guarnieri.

Profissionalização
O Modernismo e a Era Vargas
(1935-1950)

Em 1935 a prefeitura de São Paulo criou o Departamento de Cultura, cujo primeiro diretor, Mário de Andrade, convidou Guarnieri como regente do Coral Paulistano. Este deveria ser um conjunto de câmera, pois o município também iria manter o Coral Lírico para dedicar-se ao repertório operístico. O Coral Paulistano tinha também como objetivo fomentar o canto em língua nacional, e Camargo Guarnieri compôs para ele diversas obras corais. Foi também no Departamento de Cultura que Guarnieri passou a reger a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, e o trabalho nesta instituição pública foi sua principal atividade profissional ao longo de toda a década de 1940.

Em 1938 o compositor foi selecionado em concurso pela Comissão do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, recebendo uma bolsa de estudos de dois anos, renovável por mais um, para estudar em Paris. Na capital francesa teve aulas de contraponto, harmonia, orquestração e composição com Charles Koechlin, e de regência com François Rühlmann. Além das aulas, realizou concertos, a travou conhecimento com Nádia Boulanger, figura central da chamada escola neo-clássica. A temporada parisiense foi abortada prematuramente por causa de vários fatores, entre eles a instabilidade financeira sofrida pelo compositor quando mudanças políticas no município de São Paulo levaram à perda de uma bolsa complementar, e também a eclosão da guerra e a iminência da ocupação alemã.

Em retorno a São Paulo, em 1939, Guarnieri manteve-se de forma incerta, terminando por ocupar outras funções no Departamento de Cultura, visto que seu cargo de regente tivesse sido ocupado quando de sua ausência. Mário de Andrade já não estava na direção do Departamento de Cultura, e vivia no Rio de Janeiro. Outros intelectuais passam apoiar e divulgar a música de Guarnieri, especialmente Luís Heitor Correia de Azevedo.

Em 1942, por influência direta de Luís Heitor, que trabalhava como representante brasileiro na instituição, Guarnieri é convidado a visitar os Estados Unidos como bolsista da União Panamericana. Sua primeira estada lá durou 6 meses, entre outubro de 1942 e março de 1943. Na ocasião Guarnieri realizou importantes contatos e promoveu sua música em concertos. A partir de então, passaria a contar com espaço constante no meio musical norte-americano, onde sua música foi muitas vezes executada em concerto, editada em partitura e gravada em disco.

Em 1944, recebeu vários prêmios nos Estados Unidos que lhe conferiram notoriedade. Classificou-se em segundo lugar em um concurso realizado em Detroit para eleger a Sinfonia das Américas.

Em 1950, Camargo Guarnieri publica a Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil, na qual condena a Técnica Dodecafônica de composição. A carta faz referências veladas a Hans-Joachim Koellreutter, líder do grupo Música Viva.

Uma Referência na Cultura Brasileira
(Década de 1950 em Diante)

Após a publicação da polêmica Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil, Guarnieri já se torna uma referência cultural importante. O documento marca a passagem de Guarnieri da fase de compositor jovem, que se afirma junto com o Modernismo, para nome de referência na cultura musical brasileira, ao lado de Villa-Lobos e Francisco Mignone.

Testemunha deste novo papel é a organização do livro "150 Anos de Música no Brasil" (1800-1950) escrito por Luís Heitor, e publicado pela Editora José Olímpio. O livro se tornou a principal referência de História da Música no Brasil, e dedicou um capítulo exclusivo a Guarnieri.

A década de 50 também marca o início do que vai ficar conhecido como Escola Paulista, com Camargo Guarnieri tornando-se um dos principais professores de composição no país. Entre seus alunos destacaram-se os nomes de Osvaldo Lacerda, Lina Pires de Campos, Marlos Nobre, Almeida Prado.

Entre janeiro de 1956 e janeiro de 1961 o compositor exerceu o cargo de Assessor Artístico-Musical do Ministério da Educação, durante a gestão de Clóvis Salgado, no governo de Juscelino Kubitschek.

Sua reputação internacional continuou crescente, sendo sempre executado nos Estados Unidos. Foi também muitas vezes convidado a participar de juris internacionais em concursos.

Em 1975 assumiu a direção da recém-criada Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP), cargo que exerceu até o fim da vida.

Obra


Na Cultura

A obra musical de Camargo Guarnieri é formada por mais de 700 obras e é provavelmente o segundo compositor brasileiro mais executado no mundo, superado apenas por Villa-Lobos. Pouco antes de sua morte recebeu o Prêmio Gabriela Mistral, sob o título de Maior Compositor das Américas.

O acervo pessoal de Camargo Guarnieri (correspondência pessoal, partituras, discos, recorte de jornal, etc.) está depositado no arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP (IEB-USP), e consiste no principal arquivo para pesquisa sobre o compositor.

Camargo Guarnieri morreu vítima de câncer.

Fonte: Wikipédia

Custódio Mesquita

CUSTÓDIO MESQUITA DE PINHEIRO
(34 anos)
Compositor, Pianista e Regente

* Rio de Janeiro, RJ (25/04/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/03/1945)

Custódio Mesquita Pinheiro, filho de família com posses, o segundo de uma série de três irmãos, nasceu no Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1910.

Não quis seguir carreira universitária, e desde menino sua paixão era a música, revelando-se um exímio baterista. Conheceu o piano, e com a ajuda de bons professores tornou-se um excelente pianista, capaz de executar Ernesto Nazareth com perfeição, e muitas vezes dava canja no rancho carnavalesco Ameno Resedá, recebendo demorados aplausos dos dançarinos.

Ingressou na Escola Nacional de Música, onde aprimorou seus dotes musicais e se diplomou regente. Para resgatar seu orgulho e amor-próprio feridos num episódio anterior, compareceu ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro levando seu diploma de regente, pois antes sua batuta fora recusada pelos músicos e professores da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal por não ser diplomado. Graças a esse feito, Custódio Mesquita tornou-se bem aceito, vindo a exercer o papel de mediador entre os músicos e a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) por longos anos.

Aos 24 anos era bonito, alto, elegante, vaidoso, e vestia-se bem, com finas camisas de cambraia e terno de linho S-120, o chique da época. Amante da vida noturna, aos primeiros sinais da palidez e fraqueza provocadas pela vida boêmia que levava, procurou escudar-se numa alimentação constante (comia e beliscava a noite inteira), mas jamais renegou a vida boêmia que o satisfazia.

Suas composições iniciais datam de 1930, e sua primeira gravação, o fox-canção "Dormindo na Rua" (1932). Seu primeiro parceiro foi Noel Rosa, e numa única música "Prazer em Conhecê-lo".

Tocando piano em uma escola de dança conheceu Floriano Faissal, e após breve passagem por São Paulo, Custódio Mesquita iniciou sua carreira de sucessos.

"Se a Lua Contasse", na voz de Aurora Miranda, alavancou sua carreira quando foi cantada por Ramon Novarro, o primeiro astro de Hollywood a visitar o Brasil, isso em 1934.

Levado para o teatro por Mário Lago, ali Custódio Mesquita encontrou o seu ambiente musicando peças teatrais que também foram as portas para o sucesso e lançamento no meio teatral de muitos nomes, entre os quais Deise Lúcidi e Natália Thimberg.

Em parceria com Mário Lago, em 1938, as composições antológicas, "Nada Além" e "Enquanto Houver Saudade", na voz de Orlando Silva, passaram a ser ouvidas em todo o Brasil.

A grande inspiração musical de Custódio Mesquita jorrava abundantemente e dentre as parcerias famosas pode-se enumerar "Velho Realejo, Mulher" (Custódio MesquitaSadi Cabral), "Quem É?" (Custódio Mesquita e Joracy Camargo), "Casa de Caboclo" (Custódio Mesquita e Luiz Peixoto), Naná (Custódio Mesquita e Geysa Bôscoli), "Mãe Maria, Algodão, Linda Judia" (Custódio Mesquita e David Nasser), "Preto Velho" (Custódio Mesquita e Jorge Faraj), "Cansei de Sofrer" (Custódio Mesquita e Orestes Barbosa), "Flauta, Cavaquinho e Violão" (Custódio Mesquita e Orestes Barbosa). Esses foram apenas alguns de seus inúmeros sucessos cantados por Carmen Miranda, Carlos Galhardo e Orlando Silva, as vozes da época..

Evaldo Ruy foi o seu maior parceiro e dessa dupla saíram obras-primas da música romântica, as inesquecíveis melodias: "Como os Rios Que Correm Pro Mar", "Feitiçaria", "Gira... Gira... Gira...", "Nossa Comédia", "Noturno", "Promessa", "Rosa de Maio", "Valsa do Meu Subúrbio" e "Saia do Caminho".

Considerada um de seus maiores sucessos, "Saia do Caminho" foi lançada um ano após sua morte e gravada inicialmente por Dalva de Oliveira, foi regravada em várias interpretações de Ângela Maria, Gal Costa, Nana Caymmi e Miúcha. A composição "Mulher" (Custódio Mesquita e Sadi Cabral) já foi trilha sonora de dois filmes e tema de abertura do seriado "Mulher", da Rede Globo.

A época de 1937 a 1945 foi da mais intensa produtividade, mas não há registro do número exato de composições assinadas por Custódio Mesquita, estimando-se em cerca de duzentas músicas.

Suas incursões pelo cinema, graças ao tipo de galã, ficaram marcadas no papel principal do filme "Moleque Tião", onde atuou com Grande Otelo, e no teatro no papel de Dom Pedro I, ao lado de Jaime Costa na peça "Carlota Joaquina", de Magalhães Júnior.

Também marcou presença como autor teatral, escrevendo cerca de 30 peças, como "Mamãe eu Quero e Rumo ao Sucesso".

O excesso de trabalho, boêmia, mulheres e medicamentos resultaram na doença hepática que o levou em 13 de março de 1945, precocemente, aos 34 anos de idade.

Após sua morte, ao longo dos anos, entre algumas das homenagens que lhe foram prestadas, foi tema do desfile do Império da Tijuca, em 1985, com o título "Se a Lua Contasse - Vida e Obra de Custódio Mesquita".

Chiquinha Gonzaga

FRANCISCA EDWIGES NEVES GONZAGA
(87 anos)
Compositora, Pianista e Regente

* Rio de Janeiro, RJ (17/10/1847)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/02/1935)

Foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca "Ô Abre Alas (1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. No Passeio Público do Rio de Janeiro, há uma Herma em sua homenagem, obra do escultor Hoonório Peçanha.

Era filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves de Lima, uma mulata muito humilde, com quem, apesar de opiniões contrárias da família, casou-se após o nascimento da menina Francisca. Chiquinha Gonzaga foi educada numa família de pretensões aristocráticas (seu padrinho era Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias). Ela conviveu bastante com a rígida família do seu pai. Fez seus estudos normais com o Cônego Trindade, um dos melhores professores da época, e musicais com o Maestro Lobo, um fenômeno da música. Desde cedo, frequentava rodas de Lundu, Umbigada e outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos.

Inicia, aos 11 anos, sua carreira de compositora com uma música natalina, "Canção dos Pastores". Aos 16 anos, por imposição da família do pai, casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Imperial brasileira e logo engravidou. Não suportando a reclusão do navio onde o marido servia, (já que ele passava mais tempo trabalhando no navio do que com ela) e as ordens para que não se envolvesse com a música, além das humilhações que sofria e o descaso dele com seu sonho, Chiquinha, após anos de casada, separou-se, o que foi um escândalo na época.

Leva consigo somente o filho mais velho, João Gualberto. O marido, no entanto, não permitiu que Chiquinha cuidasse dos filhos mais novos: Sua outra filha, Maria do Patrocínio e do filho, o menino Hilário, ambos frutos daquele matrimônio. Ela lutou muito para ter os 3 filhos juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação obrigatória dos 2 filhos imposta pelo marido e pela sociedade preconceituosa daquela época, que impunha duras punições à mulher que se separava do marido.

Anos depois, em 1867, reencontrou seu grande amor do passado, um namorado de juventude, o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha: Alice Maria. Viveu muitos anos com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se dele, e mais uma vez perde uma filha. João Batista não deixou que Chiquinha criasse Alice, ficando com a guarda da filha. Apesar disso tudo, Chiquinha foi muito presente na vida de todos os seus quatro filhos, mesmo só criando um deles. Ela sempre estava acompanhando a vida deles e tendo contato.

Ela, então, passa a viver como musicista independente, tocando piano em lojas de instrumentos musicais. Deu aulas de piano para sustentar o filho João Gualberto e mantê-lo junto de si, sofrendo preconceito por criar seu filho sozinha. Passando a dedicar-se inteiramente a música, onde obteve grande sucesso, sua carreira aumentou e ela ficou muito famosa, tornando-se também compositora de Polcas, Valsas, Tangos e cançonetas. Antes, porém, uniu-se a um grupo de músicos de choro, que incluía ainda o compositor Joaquim Antônio da Silva Callado, apresentando-se em festas.

Aos 52 anos, após muitas décadas sozinha, mas vivendo feliz com os filhos e a música, conheceu João Batista Fernandes Lage, um jovem cheio de vida e talentoso aprendiz de musicista, por quem se apaixonou. Ele também se apaixonou perdidamente por essa mulher madura que tinha muito a ensinar-lhe sobre música e sobre a vida. A diferença de idade era muito grande e causaria mais preconceito e sofrimento na vida de Chiquinha, caso alguém soubesse do namoro. Ela tinha 52 anos e João Batista, apenas 16. Temendo o preconceito, faz que ela fingisse que o adotou como filho, para viver esse grande amor. Esta decisão foi tomada para evitar escândalos em respeito aos seus filhos e à relação de amor pura que mantinha com João Batista, da qual pouquíssimas pessoas na época entenderiam, além de afetar sua brilhante carreira. Por essa razão também, Chiquinha e João Batista Lage, ou Joãozinho, como carinhosamente o chamava, mudaram-se para Lisboa, em Portugal, e foram viver felizes morando juntos por alguns anos longe do falatório da gente do Rio de Janeiro. Os filhos de Chiquinha, no começo, não aceitaram o romance da mãe, mas depois viram com naturalidade. Fernandes Lage aprendeu muito com Chiquinha sobre a música e a vida. Eles retornaram ao Brasil sem levantar suspeitas nenhuma de viverem como marido e mulher. Chiquinha nunca assumiu de fato seu romance, tendo sido descoberto após a sua morte, através de cartas e fotos do casal. Ela morreu ao lado de João Batista Lage, seu grande amigo, parceiro e fiel companheiro, seu grande amor, em 1935, quando começava o Carnaval.

Carreira

A necessidade de adaptar o som do piano ao gosto popular valeu a glória de tornar-se a primeira compositora popular do Brasil. O sucesso começou em 1877, com a polca "Atraente". A partir da repercussão de sua primeira composição impressa, resolveu lançar-se no teatro de variedades e revista. Estreou compondo a trilha da opereta de costumes "A Corte na Roça", de 1885. Em 1911, estreia seu maior sucesso no teatro, a opereta "Forrobodó", que chegou a 1500 apresentações seguidas após a estreia - até hoje o maior desempenho de uma peça deste gênero no Brasil.

Em 1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça "Maria". Foi criadora da célebre partitura da opereta "A Jurity", de Viriato Correia.

Por volta de 1900 conhece a irreverente artista Nair de Tefé von Hoonholtz, a primeira caricaturista mulher do mundo, uma moça boêmia, embora de família nobre, da qual se torna grande amiga. Chiquinha viaja pela Europa entre 1902 e 1910, tornando-se especialmente conhecida em Portugal, onde escreve músicas para diversos autores. Logo após o seu retorno do continente europeu, sua amiga Nair de Tefé casa-se com o então presidente da República Hermes da Fonseca, tornando-se primeira-dama do Brasil.

Chiquinha é convidada pela amiga para alguns saraus no Palácio do Catete, a então morada presidencial, mesmo sob a contrariedade notavelmente imposta pela família de Nair.

Certa vez, em 1914, num recital de lançamento do "Corta Jaca", no palácio presidencial, a própria primeira-dama do país, Nair de Tefé von Hoonholtz, acompanhou Chiquinha no violão, e empunhou o instrumento, tocando um Maxixe composto pela maestrina. O que foi considerado um escândalo para a época. Foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças vulgares, segundo a concepção da elite social aristocrática. Levar para o Palácio do Governo a música popular brasileira foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos.

Após o término do mandato presidencial, Hermes da Fonseca e Nair de Tefé mudaram-se para a França, onde permaneceram por um bom tempo. Em decorrência desse afastamento, Chiquinha e Nair acabam por perder contato.

Chiquinha participou ativamente da campanha abolicionista, por conta da revolta que sentia por seus ancestrais maternos terem sido escravos e sofrido muito, e da proclamação da república do Brasil. Também foi a fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Ao todo, compôs músicas para 77 peças teatrais, tendo sido autora de cerca de duas mil composições em gêneros variados: Valsas, Polcas, Tangos, Lundus, Maxixes, Fados, Quadrilhas, Muzurcas, Choros e Serenatas.

Representações na Cultura

Chiquinha Gonzaga já foi retratada como personagem no cinema e na televisão. Dirigida por Jayme Monjardim, na minissérie Chiquinha Gonzaga (1999), na TV Globo, foi interpretada por Regina Duarte e Gabriela Duarte. No cinema, foi interpretada por Bete Mendes, no filme "Brasília 18%" (2006), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, e por Malu Galli, no filme "O Xangô de Baker Street", baseado no livro homônimo de Jô Soares.

A compositora também foi homenageada no carnaval carioca, no ano de 1985, com o enredo Abram alas que eu quero passar pela escola de samba Mamgueira, que obteve a sétima colocação. E em 1997, com enredo "Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar..." pela Imperatriz Leopoldinense. A atriz Rosamaria Murtinho, que vivia a artista no teatro, representou-a no desfile, a escola obteve a sexta colocação.

Fonte: Wikipédia